Capítulo 2 - A Concha Quebrada

Capítulo 2 - A Concha Quebrada



Autor: Occasus

Nome Original: Cannon In D

Tradução: Ameria A. Black

Betagem: Anna Malfoy

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Severus retornou no dia seguinte como prometido. Dessa vez Harry estava esperando no chão onde eles haviam pintado antes. Severus deu outro sorriso para Hermione antes de ir até o garoto.

“Olá, Harry”, ele disse gentilmente. “Estou feliz em ver que você está aqui novamente. E eu gostei de pintar com você ontem”. Não houve resposta. Ele percebeu que o garoto sentia medo de se decepcionar, de ser rejeitado, e sabia que demoraria um longo tempo para que ele saísse de sua concha. Ontem havia sido uma exceção, que ele não esperava que durasse muito tempo.

Ele preparou as tintas e as dispôs pelo chão. “Você quer pintar novamente?” Ele perguntou. Ele observou enquanto a testa de Harry se enrugava de concentração. Então após alguns longos momentos, o garoto deu um aceno quase imperceptível com a cabeça.

“Não?”, Severus perguntou espantado. “Bem, você gostaria que eu descrevesse as cores enquanto pinto?”

Silêncio e então uma piscada lenta.

Severus percebeu que os maravilhosos olhos verdes possuíam uma marca em forma de X cada um. Pareciam cicatrizes. Ele se perguntou como o garoto ficara cego.

Apanhando um pincel, ele o mergulhou na palheta de marrom e começou a traçar o contorno de uma árvore. “Eu estou usando marrom agora”, ele disse ao garoto com uma voz calmante. Ele estava trabalhando de costas para Harry. O garoto permaneceu sentado, em um silêncio enlevado, enquanto Severus falava com ele. “Você se lembra de quando eu lhe falei sobre o marrom?”. Dessa vez ele não parou à espera de uma resposta. “Bem, eu estou pintando o tronco da árvore de marrom. Eu estou usando tons diferentes para dar uma aparência mais viva”.

Harry se moveu rapidamente para mais perto de Severus. Ele observou o garoto por um momento e então foi subitamente atingido por uma idéia. Ele virou-se para Harry e apanhou um pincel grosso. “Harry, você gostaria que eu o guiasse para que você pinte essa parte da árvore?”.

Harry parou por um momento, a testa enrugada e os lábios levemente franzidos. Lentamente, ele esticou a mão, a palma para cima e piscou lentamente. Severus sentiu um sentimento de pressa atingi-lo enquanto ele punha o pincel nas mãos de Harry.

“Vamos trabalhar em algo verde”, ele disse suavemente. “Como as folhas. Verde é a minha cor favorita, você sabe”. Ele ajudou Harry a mergulhar o pincel na tinta verde e pôs o garoto de pé.

Com uma mão cuidadosa, ele guiou Harry pelo traço de carvão. O jovem deixou uma respiração lenta escapar enquanto ele sentia sua mão percorrendo a parede. Severus se moveu para mais perto do garoto, imaginando quando tempo se passara desde o último contato desse tipo que ele tivera... Se é que ele tivera.

“Harry”, Severus disse delicadamente ao garoto enquanto guiava sua mão ao longo das folhas, “você está indo bem. O verde está ficando muito bom”. Ele parou por um momento para molhar novamente o pincel. “Você sabia que seus olhos são verdes, Harry? Eles são tão magníficos”. Severus não sabia de onde essas palavras vinham. Tudo o que ele sabia era que estava tentando, com todo o seu ser, alcançar o garoto.

Harry enrijeceu por um momento e parou de pintar. Severus prendeu a respiração; com medo de que tivesse regredido em seu progresso com o garoto. “Harry, eu sinto muito. Eu não queria te chatear”, ele disse em um quase sussurro, mantendo-se o mais próximo possível do garoto.

Harry ficou parado por um instante. Então, ele deixou o pincel cair no chão. O barulho da madeira nos ladrilhos era quase ensurdecedor para Severus. Ele assistiu enquanto o pincel rolava alguns centímetros. Agora ele conseguira. O garoto nunca mais confiaria nele.

Harry interrompeu os pensamentos de Severus, virando-se lentamente. Ele fixou seu olhar logo acima do ombro esquerdo de Severus. Ele começou a subir sua mão em um movimento agonizantemente lento. Docemente, o garoto pousou sua mão colorida na bochecha de Severus. O homem mais velho prendeu a respiração, com medo de quebrar o contato. A boca de Harry estava se torcendo levemente nos cantos, como se ele quisesse sorrir, mas tivesse se esquecido como.

Severus não podia mais agüentar. Ele estendeu sua mão e cobriu a de Harry, acariciando os dedos de Harry com seu polegar. Todo o seu corpo estava formigando de antecipação e exultação com o movimento de Harry. Era quase o êxtase.

Mas o momento durou pouco. Uma arfada do outro lado do aposento quebrou o contato. Harry se afastou e afundou no chão, pousando as mãos em seu colo.

Severus olhou para o outro lado do aposento e olhou fulminantemente quando viu Hermione parada na porta. “Eu sinto muito!”, ela sussurrou. “Eu estava chocada. Ele nunca fez isso antes, não desde que está aqui”.

Severus assentiu e voltou sua atenção ao jovem no chão. Ele se abaixou e apanhou sua toalha molhada. “Posso limpar suas mãos, Harry?” Ele perguntou gentilmente.

Harry estendeu suas mãos, mais rápido dessa vez, e permitiu o toque. No entanto, quando Severus se moveu para apanhá-las, ele as afastou. Ele se levantou e percorreu o caminho de volta para seu quarto.

Severus começou a guardar suas coisas, se sentindo confuso. “Ele fez o primeiro movimento, por que ele fugiu?”.

Hermione começou a ajudá-lo a guardar suas coisas. “Foi minha culpa, eu suponho. Mas eu acho que Harry está com medo de você”.

As sobrancelhas de Severus se ergueram. “Com medo? Mas por que?”.

“Você foi o único que foi capaz de penetrar suas múltiplas defesas. Você apenas quebrou a primeira, mas isso nunca aconteceu. Harry pode entender tudo o que dizemos, mas você foi à primeira pessoa que ele decidiu realmente ouvir”.

Severus fechou sua sacola. Ele olhou para a parede quase terminada e suspirou. “Eu não estou fazendo meu trabalho muito bem”, ele disse delicadamente.

Hermione fez um gesto de “deixa para lá” com a mão. “Eu não me importo. Se eu soubesse que você era a pessoa que poderia alcançar aquele homem... Eu o teria forçado a largar as pinturas muito tempo antes”.

Severus se inclinou para a mesa mais próxima. “Ele me tocou quando eu comentei sobre seus olhos”, ele confessou. “Eu me pergunto por que”.

“O que você disse exatamente? Porque muitas pessoas já comentaram sobre eles antes e ele nunca reagiu”.

“Eu lhe disse que seus olhos eram verdes... E magníficos”.

Hermione sorriu largamente. “Eu sei porque. Você foi o primeiro que os comentou normalmente, não como se fossem algo que ele perdeu”.

“O que aconteceu com ele?” Severus perguntou após um momento. “Por que ele é assim?”.

Hermione olhou ao redor. “Eu não estou exatamente autorizada a lhe contar... Aqui”.

Severus sorriu e rapidamente anotou seu número de telefone em um pedaço de papel. “Então você não tem escolha à não ser me ligar quando você sair de seu turno hoje à noite”.

Hermione sorriu largamente, “Okay, se bem que eu saio tarde”.

“Eu não durmo muito”, ele disse passando pela porta.

As poucas horas seguintes foram agonizantes para o artista solitário. Ele tomou chá e tentou ler um livro, mas as palavras não conseguiram capturar sua atenção. Ele se descobriu ouvindo seu CD de Vivaldi e andando de um lado para outro. Ainda havia tempo antes que Hermione pudesse ligar e ele tinha que pensar em outra coisa. Ele estava muito distraído para pintar e ainda mais distraído para esculpir.

Finalmente o estojo preto de seu violino capturou seu olhar. Ele foi até o estojo e abriu-o rapidamente. O instrumento estava levemente empoeirado, uma vez que não fora usado por muito tempo. Amavelmente, Severus limpou a poeira, afinou-o gentilmente e começou a preparar o arco. Ele pôs a resina de volta em seu compartimento e pôs o arco sobre as cordas. Ele o deslizou, revelando o som rico que o instrumento continha.

Ele voltou a caminhar de um lado para outro, esperando o chamado da música. O que eventualmente acontecia. Ele tocou sua música favorita, “Canon in D”. Era a música que o atraía ao violino quando criança e era a música que ele sempre tocava para tirá-lo de qualquer vazio em que ele tivesse caído. “Canon in D” era o verdadeiro amor de sua vida.

Dessa vez, ao tocar, ele sentiu o rosto formigar onde Harry o tocara. O rosto de Harry enevoou sua mente enquanto as notas corriam de seus dedos. Se ele não estivesse enganado, ele estava se apaixonando por aquele homem. E isso era errado. Harry não estava em condições de ser amado por ninguém daquele jeito. Ele precisava de uma âncora, um caminho de volta para o mundo. Não de um amargo e velho artista que não suportava pessoas.

Severus afastou o violino após jurar que iria tocá-lo mais freqüentemente. Tão logo ele fechou as fivelas do estojo, o telefone tocou. Ele correu para seu estúdio e sentou-se em sua escrivaninha para atender.

“Alô”, ele disse.

“Severus? Aqui é Hermione, como vai?”.

“Muito bem. Correu tudo bem com Harry depois que saí?”.

“O mesmo de sempre”, ela disse um pouco tristemente. “Eu sei que não deveria estar esperando tanto tão cedo, mas eu juro que nunca estive tão exultante em toda a minha vida”.Ela respirou profundamente. “Mas eu tenho que te perguntar... Por que? Por que Harry?”.

Severus deu uma risadinha. Ele mesmo não sabia, mas a mulher que cuidara de Harry por nove anos merecia saber alguma coisa. “Ele é lindo”, Severus disse cuidadosamente. “Ele é espantoso e maravilhoso, eu posso sentir isso. Ele pode ter tanto a oferecer e... Ninguém merece viver no escuro, não desse jeito”.

Essa resposta pareceu acalmar Hermione. “Então você quer saber sobre ele?”.

“Sim, por favor”, ele disse educadamente. Severus apoiou seus pés no tampo da escrivaninha e pôs um braço atrás da cabeça.

“Ele era mudo quando veio pela primeira vez de acordo com seus registros. Ele tinha onze anos e foi admitido após ter a custódia renunciada pela família”.

“Por que eles o rejeitariam?”, ele perguntou.

“Eu não sei. Eu não comecei meu trabalho voluntário em Hogwarts até um ano depois. Eu vi o que estava no histórico dele, mas não vi muito mais. Pelo que ouvi, dos médicos e enfermeiras, que estavam ali no começo... Ele nunca falou. Seus pais foram mortos por algum maníaco chamado Tom Riddle”.

“Eu lembro desse caso”, Severus disse subitamente. “Foi noticiado em todo lugar”.Internamente, ele estava gritando. Tom Riddle, deuses, de novo não! Ele não me deixa viver em paz! Eu nunca vou escapar desse maníaco! Mas externamente, Severus estava calmo. Ele tinha que esconder isso; ele tinha que enterrar isso em consideração a Harry.

“Bem, Harry sobreviveu com nada mais que um corte feio na cabeça. Eu não sei se Tom Riddle sabia que Harry estava na casa na época. Ele foi encontrado sob uma pilha de entulho quando Tom Riddle tentou incendiar a casa. Ele fugiu e Harry foi mandado para viver com seus únicos parentes. Quando Harry fez onze anos, Tom Riddle descobriu que Harry o garoto da casa e o seqüestrou. Ele pegou um punhal afiado e cortou os olhos de Harry. Ele cortou dois...”.

“X”, Severus terminou por ela. “Eu vi as cicatrizes”.

“Sim. Isso destruiu qualquer chance do garoto ver novamente. Tom Riddle nunca planejou deixar Harry vivo, mas o garoto era cheio de garra. Mesmo cego, ele conseguiu escapar do homem louco e o apunhalou com seu próprio punhal. Riddle morreu naquela noite e Harry foi encontrado no dia seguinte. Ele não estava fora do hospital por mais de três semanas antes de ser trazido para cá. Ele havia sido espancado e seu nariz foi quebrado duas vezes. Era óbvio que a família abusava dele. Ele já havia mergulhado em seu mundo interno e não emergiu desde então. Ele come quando lhe é dito. Eu descobri que ele gosta de xampu de Orquídeas. Ele prefere a cozinha asiática à inglesa e ele gosta mais de Vivaldi que de Mozart. Mas essas são coisas sutis. Ele nunca me tocou e ele meramente me permite tocá-lo para ajudá-lo a tomar banho e se vestir. É difícil saber o que ele lembra e o que ele não lembra. Sua família insiste que ele era capaz de ler Braille antes de vir e ele até trouxe um livro chamado ‘A”. Fantástica Fábrica de Chocolate’. Mas ele não toca no livro".

“Você lê para ele?” Ele perguntou baixinho.

“Não. Eu costumava, mas ele não permitia. Quando eu comecei, tive pena dele. Eu falava com ele assim como você, mas acho que ele percebeu que a razão era pena, e não necessidade de ser seu amigo. Eu acho que ele consegue ler as pessoas, por isso o tocou”.

Severus coçou seu queixo, pensativo. “O que você sugere que eu faça?”.

“O que você tem feito. Só que agora você sabe sua história. Vai ser difícil para você não gostar dele somente por pena?”.

Severus riu. “Eu aprendi a não ter muita pena das pessoas. Eu tive uma vida muito parecida com a dele e eu a odiei”.

“Bom”, ela disse. “Preciso desligar. Eu tenho papéis para preencher e um noivo para dar atenção. Mas foi agradável conversar com você”.

“Obrigado por ter sido tão honesta comigo”.Ele desligou. Okay, ele pensou, eu posso fazer isso. Eu irei alcançar aquele homem e trazê-lo de volta para casa.

Severus acordou cedo e tomou uma ducha. Ele deu uma batidinha no estojo do violino enquanto saía para a rua. O Hospital de Saúde e Comportamento Hogwarts não era assim tão longe e Severus precisava de uma caminhada.

Ele chegou quarenta e cinco minutos mais tarde, revigorado e pronto para ver Harry. Mas Harry ainda não saíra. Ele deu a Rony e Hermione um olhar sombrio enquanto tirava suas coisas da sacola. “Ele normalmente está aqui há essa hora”, ele resmungou.

“Ele não saiu de seu quarto durante o dia todo”, Rony disse delicadamente. “Eu sugiro que você continue a sua rotina como sempre. Se ele não vier para o almoço, eu irei pedir que você o traga”.

Severus assentiu e voltou para seu trabalho. Ele sentiu, pela primeira vez em sua vez, que sua pintura não estava lhe trazendo satisfação. Ele não estava feliz com seu trabalho. Tudo o que ele realmente queria era sentir o toque de Harry novamente ou guiar o garoto para pintar algo tão simples quanto folhas de árvores.

Mas Severus também era um homem de palavra. Ele havia terminado uma parede pela hora em que as bandejas de almoço chegaram. Ele abaixando seus pincéis, ele limpou suas mãos e virou-se para Hermione, que estava preparando a bandeja de Harry.

Severus percebeu que Harry estava sendo servido de frango ao curry com arroz e pimentas. Havia um copo com gelo e uma lata de Coca-Cola, um recipiente de frutas e um pão.

Severus apanhou a bandeja. “Obrigado por me deixar fazer isso”, ele disse gentilmente.

Hermione assentiu. “Sem problemas. Mas eu quero avisá-lo de que ele pode não permitir que você fique. Ele gosta de comer sozinho e se você ficar contra a sua vontade, ele não comerá nada”.

“Como eu vou saber se estou ali contra a vontade dele?”.

Hermione deu de ombros. “Você saberá assim como eu sei”.

Severus deu a ela um sorriso de compreensão. “Eu entendi”, ele disse e lhe deu uma piscadela.

“Bata duas vezes e então entre. A porta vai estar fechada, mas ele não vai responder se você bater”.

Severus assentiu e caminhou pelo corredor até parar em frente à porta de Harry. Equilibrando a bandeja em uma mão, ele deu duas batidas firmes na porta, esperou por um instante e então entrou.

O quarto era muito simples, mas estava bem. Havia uma estante de livros vazia próxima à janela, uma escrivaninha e uma cama contra a parede mais distante. Próximo à janela e à escrivaninha, havia duas poltronas moles e à parede oposta à porta, havia a lareira de Harry.

Harry estava sentado na poltrona mais próxima à janela, enrolado em uma bola. Quando Severus entrou, Harry farejou o ar e virou-se em sua direção bruscamente.

Severus deixou escapar um risinho alto. “Eu vejo que você ainda se lembra do meu cheiro”, ele refletiu. “Eu estou com o seu almoço. Você o quer agora?”.

Não houve resposta.

Severus deixou a bandeja sobre a escrivaninha e se ajoelhou em frente a Harry. “Eu sinto muito sobre ontem”, ele disse. “Eu não queria te assustar ou te deixar desconfortável. Mas eu gostei quando você tocou meu rosto. Foi agradável e eu não tive um contato tão agradável por um longo tempo”.Harry suspirou profundamente e assentiu lenta, mas claramente.

Severus sorriu de orelha a orelha. “Isso me faz sentir muito melhor, Harry”.Ele empurrou a bandeja para perto de Harry e observou o garoto começar a comer muito lentamente. “Hoje eu pintei uma parede inteira”, Severus disse. “Terminei aquela cena que lhe descrevi há algumas semanas. Aquela com o filhote de veado e a clareira”.Severus deu uma pequena risada. “Eu terminei, mas não foi tão divertido assim sem você”.

Harry inclinou sua cabeça para o lado e franziu o cenho para Severus. “Que foi?” Severus disse, divertido. “Não foi mesmo. A noite passada tudo o que eu fiz foi pensar em você. Eu estava pensando que talvez eu pudesse vir à noite e nós poderíamos jantar juntos. Eu tenho um livro novo que estou louco para começar e eu achei que seria mais divertido se lêssemos juntos. Nós poderíamos fazer disso... um ritual noturno se você quiser. Jantar e livro”.

Harry pareceu ponderar por um momento e finalmente assentiu.

“Ótimo”, Severus disse. Ele se levantou e puxou uma das poltronas para mais perto de Harry enquanto ele almoçava. O garoto não teve muito apetite, comendo um terço do que estava em seu prato.

Mas era alguma coisa, e alguma coisa era sempre bom.

Severus ficou com Harry por mais algum tempo antes de decidir que precisava voltar a pintar. “Você gostaria de pintar comigo?” Ele perguntou.

Harry enrugou o nariz levemente. Severus achou a expressão um tanto quanto afetuosa e ele ansiou por correr seu dedo pela bochecha dele. “Hoje não, então?”.

Harry sacudiu levemente a cabeça.

“Okay. Bem, eu voltarei hoje à noite com o livro. É uma novela agradável, sobre um homem que se perde do mundo e precisa lutar por seu lugar na vida. Um pouco deprimente em algumas partes, mas dizem que tem um final feliz. E eu amo um bom livro”.

Harry estendeu sua mão e Severus a tomou gentilmente. Harry deu um aperto gentil em sua mão, ao que o coração de Severus pulou para sua garganta.

“Ah Harry”, ele disse, em um quase sussurro. “Você sabe como fazer meu dia melhor”. Ele acariciou gentilmente a bochecha do garoto e saiu do quarto.

Ele não conseguiu remover o sorriso, que permaneceu enquanto ele continuava sua pintura. Ele completou a segunda parede com desenvoltura e saiu, para ir para casa e tomar uma ducha.

Antes que ele saísse do prédio, uma Hermione alvoroçada o parou. “Eu estava tentando falar com você antes que você saísse”, ela disse rapidamente. “Eu tenho algumas... notícias”.

O coração de Severus despencou. “Sim?”.

“Eu receio que... não poderemos manter você como nosso pintor por muito mais tempo”, ela disse delicadamente.

Ele abaixou os olhos. “Eu sinto por tê-los decepcionado desse jeito. Eu trabalho muito bem normalmente. É só aquele maldito homem ali que toma todos os meus pensamentos”.

Hermione sorriu largamente, “Eu sei”, ela disse. “Essa é a razão pela qual eu tenho permissão para contratá-lo como companheiro de Harry”. A voz dela quase se esganiçou de excitação. “Eu terei de contratar outro pintor para terminar as paredes, mas o conselho nunca esteve tão impressionado com o progresso de Harry”.

Severus absorveu tudo isso. “Então... você quer me pagar para que eu fique com Harry?”.

Hermione assentiu. “Não podemos lhe oferecer muito, mas... eu pensei que você faria isso por Harry”.

“Eu não serei contratado como companheiro dele”, Severus disse firmemente. “Eu irei, no entanto, ficar aqui dia e noite com ele. Mas eu não irei aceitar, de jeito nenhum, dinheiro apenas para ficar na companhia dele”.

Os olhos de Hermione se embaçaram enquanto ela olhava para o sombrio e antes amargo homem. “Surpreendente”, ela disse e tomou a mão dele. “Nós tivemos sorte de encontrá-lo”.

Ele balançou a cabeça. “Não, eu é que tive sorte de encontrá-lo”.

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