Where are you?



Capítulo 1 - Where are you?


“Todos a sua volta sabem, todos a sua volta sentem, mas você insiste em se fechar, insiste em deixar sua dor visível apenas pelos seus olhos. Você é egoísta, agindo como se não soubesse que sua tristeza é contagiosa. Pois ela é, assim como sua alegria. Eu sei o quanto dói, mas mesmo assim você não me deixa te ajudar, não me deixa carregar ao menos uma parte do seu fardo. Você não é só minha consciência, e enquanto você está se perdendo eu estou me perdendo também.”

Os últimos raios de sol entravam pela janela, deixando toda a sala em um tom alaranjado. Harry ergueu os olhos do pergaminho, fixando o olhar em um ponto qualquer na parede. Seus pensamentos estavam muito longe daquele lugar, daquele dia. Lembranças de Hermione passavam em sua mente com um filme, momentos simples como conversas na lareira ou momentos como o baile de inverno no quarto ano. Ela era sua melhor amiga, e agora ele nem sabia onde ela estava.

Quanto tempo fazia desde a última vez que a vira, que falara com ela? Há quanto tempo não tinha notícias? E por que ele passara tanto tempo longe dela, por que ele a esquecera como esquecera aqueles pergaminhos?

Ele já não reconhecia mais aquele menino que escrevera o texto em suas mãos. Aquele Harry estava tão perdido e esquecido quanto tudo que importava para ele. Como ele deixara aquilo acontecer, como ele deixara sua vida se tornar tão vazia?

Não encontrou resposta para as perguntas, ou simplesmente não quis ouvi-las. Mas estava decidido a reverter a situação. Chamou a secretária, e enquanto pedia para que ela descobrisse o paradeiro de Hermione Granger, pegou uma pena e escreveu no pedaço de pergaminho que estava em cima da sua mesa.

“Hermione, onde está você?”

-*-

Já era tarde e o céu estava totalmente escuro quando Harry saiu do ministério. Mas ele não foi para casa, tomando o rumo do Hospital Saint Mungus para doenças e danos mágicos.

Fazia pouco mais de um ano desde a última vez que ele visitara Ron. Ele estava lá há muito tempo, sem nenhum sinal de melhora. Aos poucos, ele começara a receber cada vez menos visitas, e agora até mesmo sua família o visitava esporadicamente, como Harry pode deduzir ao ver um vaso de plantas vazio, vaso esse que no começo vivia repleto de flores que a senhora Weasley trazia da toca.

Ron estava exatamente igual à última vez que o vira. Quando Harry chegou ele estava dormindo, mas a enfermeira o acordou para que pudesse ver a visita. O estado do amigo era deplorável. Há uns cinco anos ele saíra do coma, mas tudo o que ele fazia era ficar com os olhos abertos, olhando para o nada. Ele havia sido atingido por um feitiço das trevas desconhecido, sendo que ninguém sabia a cura para ele. Ron estava internado lá desde então, oco como se tivesse recebido o Beijo de um Dementador.

Harry sentou-se na cadeira ao lado da cama dele. Toda vez que o via uma onda de indignação se espalhava pelo seu corpo. Seu melhor amigo, aquele que passara por tantos perigos e aventuras com ele, aquele que se arriscara tantas vezes era agora nada mais que um vegetal, um corpo com vida mas sem consciência. Pegou a sua mão com lágrimas nos olhos. Ele o abandonara. Harry Potter abandonara seu amigo, aquele que jamais teria feito o mesmo com ele.

Ele ia falar alguma coisa, talvez pedir desculpas, mas as palavras paravam no meio do caminho, presas nos lábios, formando um nó na sua garganta. Tudo o que ele fez foi ficar ali parado, se condenando por não ter corrido atrás dele, por não ter impedido que aquilo acontecesse. As palavras que ouvira mais cedo voltaram a sua mente. E se ele pudesse salvar Ron do seu destino, e se ele pudesse mudar o passado e evitar que o feitiço o atingisse?

Balançou a cabeça, resignado, lembrando-se que aquilo era impossível. Nem um vira-tempo poderia voltar tantos anos, e mesmo se pudesse ainda havia o risco de mudar o passado.

Ficou apenas um pouco mais, mas já estava realmente tarde e ele ainda tinha que trabalhar no dia seguinte.Despediu-se de Ron, e já estava na porta quando se voltou para olhá-lo pela última vez.

Uma promessa surgiu na cabeça dele antes que ele pudesse ponderá-la. Mas era uma promessa impossível de ser realizada.

“Eu vou te tirar daí, Ron.”

-*-

Harry aparatou em casa. Morava sozinho desde que terminara Hogwarts. No começo ele pensara em morar no Largo Grimmauld, na casa herdada de Sirius. Mas quando seus planos de casar e construir uma família com a caçula Weasley se desmancharam ele optara por deixar a casa apenas como quartel general da ordem da fênix, que fora extinta junto com o último comensal preso.

Parecia óbvio a todos que assim que a guerra terminasse Harry e Ginny voltariam, se casariam e teriam filhos, colocando o laço na história toda e um “E foram felizes para sempre”. Mas pelo jeito o final de contos de fadas nunca seria destinado a ele. Ginny recusou seus pedidos de casamento, alegando que o que ela sentia por ele passara, junto com os tempos difíceis. A verdade é que Harry não insistira muito, sendo que o final do seu aparente eterno amor foi ela se casando com Dino Thomas e ele se tornando o solteiro mais cobiçado do mundo bruxo.

Tomou um banho quente e demorado, depois se jogou na confortável cama de casal. Aquela cama era freqüentemente ocupada por outra pessoa, mas nenhuma mulher passara mais que dois meses ali. Então essa era a vida de Harry. Quase com 30 anos e ainda solteiro, sem nenhuma previsão para mudar de situação e sem nenhum amigo de verdade. Das coisas que ele planejara para si com aquela idade, ele só tinha o tão almejado emprego como auror. O emprego onde ele poderia proteger as pessoas e salvar algumas vidas. A questão era: Quem salvaria a vida dele?

Antes de dormir, seu pensamento ainda foi até Ron naquela cama de Hospital, e mais uma vez se fixou em Hermione.

Talvez ainda houvesse esperanças.

-*-

Amy Smart trabalhava para Harry Potter há cerca de cinco anos. Ela se alegrava em poder ajudar alguém que fizera tanto por todas as pessoas, e além disso seu patrão era um homem educado, gentil e generoso.

No dia anterior o senhor potter pedira para Amy descobrir onde morava Hermione Granger. Pedidos assim eram comuns, visto que devido seu trabalho ele freqüentemente precisava saber a localização de certos suspeitos ou até mesmo vítimas e informantes. Mas ela sabia pela expressão dele ao pedir o endereço que esse não era o caso. Em sua voz havia um tom de esperança que se tornou evidente naquela manhã.

Harry Potter chegava no departamento perto das 9 horas, e sempre encontrava Amy lá. Naquele dia não foi diferente, mas ela não deixou de notar uma certa expectativa quando ele lhe dissera o habitual ‘Bom Dia’ e lhe sorrira, entrando logo depois na sua sala. O Senhor Potter era um homem bom e Amy detestava ser portadora de notícias evidentemente tão ruins para ele.

Por isso quando ele a chamou na sua sala ela não pode esconder seu pesar. Aparentemente ele não notara, pois lhe perguntou, entusiasmado:

—Encontrou o que eu lhe pedi, Senhora Smart?

Amy desviou o olhar para não ter que ver quando aquele sorriso se desmancharia. E foi com um aperto no coração que respondeu.

—Sim, senhor Potter. Eu...Eu sinto muito, mas a Senhorita Granger faleceu há exatamente um mês, senhor.

Harry a olhou, ainda sem absorver o que ela havia dito. Mas, pouco a pouco, as palavras foram entrando na sua mente. Hermione, morta há um mês. Ele não podia acreditar. Era como se ele não tivesse acordado, mas ainda estivesse em sua cama, sonhando, e quando o despertador tocasse iria para o ministério, onde sua secretária lhe diria onde Hermione estava.

Esperou, mas não acordava. A Senhora Smart continuava na sua frente, o olhando com piedade. Aquela era uma realidade que lê não queria, não podia acreditar. Era como se algo dentro dele quebrasse, e ele estivesse afundando, sem ar para respirar.

—Como? Onde?

Ela obviamente não queria lhe responder, mas se viu obrigada por seu olhar de súplica de desespero.

—Aparentemente... Ela foi encontrada em Hogsmeade. Nenhum sinal de luta, senhor, apenas uma varinha ao lado do corpo, que foi identificada como a dela.

O tom de voz da mulher deixava bem clara sua crença na hipótese de que Hermione se suicidara. Mas Harry não podia crer naquilo. Ela não se mataria. Então ele se lembrou de como ela estava da última vez que a vira, de como a tristeza instalara-se nos olhos dela. E se lembrou de que ela tivera dez anos para encontrar algum motivo para fazê-lo.

Amy saiu da sala, deixando-o para trás em um estado de quebrar o coração. Harry olhou para os papéis em cima da mesa, e leu com pesar sua caligrafia fina no canto de um deles.

“Hermione, onde você está?”

-*-

N/A:

Séculos depois, o primeiro capítulo... O segundo está sem previsão, coitado. ^^ Na verdade eu queria agradecer a todo mundo que comentou a fic... Muito obrigada!!

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