Pequenas Mentiras



Capítulo três – Pequenas Mentiras




A porta da sala rangeu.

A masmorra escura e vazia parecia bastante sinistra. Entrou, com passos lentos que fizeram barulhos metálicos. O fogo de algumas tochas laterais tremeluziam sem parar, dando um toque macabro ao lugar, o qual na verdade apreciava. Mais algumas passadas e encostou-se em frente a uma mesa qualquer, analisando as paredes de pedra com cuidado.

A sua cabeça ainda xingava alto o professor Snape, que com certeza era o responsável por aquilo. Essa era a prova irrefutável que o mestre de Poções estava ficando caduco. Uma risadinha escapou-lhe. Onde ele estava com a cabeça para pôr Draco Malfoy como seu ‘substituto’, nem mesmo por um dia? Draco esperava que a garota que viria essa noite não fosse desagradável.

Ele procurou no bolso interior da capa escolar o pergaminho que Snape havia prescrito, sobre as poções que a aluna deveria fazer. A julgar pelo grau de dificuldade da poção, ela deveria ser provavelmente do quinto ano. Draco logo lembrou-se que a aluna em questão era da Grifinória e ele estava meramente satisfeito por isso. Tinha permissão para tirar pontos dela se fosse preciso, o que ele faria com o maior prazer.

A porta abriu-se novamente, desta vez com um pouco de violência e rapidez. Ele desencostou-se da mesa, elevando o queixo significativamente e mantendo a pose e o seu sorriso sarcástico mais característico. A surpresa, no entanto, foi grande.

Gina Weasley parou de repente, à meio caminho de Draco, parecendo confusa. Ele tentou parecer zombeteiro ao cumprimentá-la.


- Olá, Weasley.

As sobrancelhas de Gina arquearam visivelmente e a boca dela abriu-se momentaneamente. Então ela analisou Draco, fechou sua boca e deu meia volta, deixando a sala em seguida.


- Weasley!

Gina estava fechando a porta quando Draco parou-a. Ela olhou com desprezo para a mão dele que estava segurando seu cotovelo e crispou os lábios.


- Você quer me soltar?


- Você quer entrar na sala?

Ela puxou seu braço com força, pegando alguns dos poucos livros que haviam caído no chão. Quando levantou-se, percebeu que ele ainda a encarava inquiridoramente.


- Onde está o professor Snape?

Por dentro, Draco chamou-a vividamente de insolente. O tom dela era exigente e ele preferiu não responder diretamente, somente para deixá-la irritada. Ao invés, abriu a porta e acenou, como se estivesse cuidando de um cachorrinho.


- Entre, Weasley, e eu explico. Aliás, – ele pensou melhor – não entre se não quiser e assim eu não terei que dar aula para você.

Antes de esperar por uma reação dela, ele mesmo entrou, quase fechando a porta na cara dela, o que teria sido realmente gratificante na opinião dele. Draco pegou o pergaminho que havia deixado em cima da mesa e quando estava virando-se para deixar a sala, viu que Gina havia entrado.


- Como assim, dar aula para mim? – repetiu a ruiva, com um tom de repulsa.

Ele parou e ela também, numa distância considerável e segura.


- O que você acha? – indagou Draco, numa voz horrível – Professor Snape estava muito ocupado para perder seu tempo dando-lhe aulas, garota.

Gina fez algum som que denotava nojo. O dia estava saindo pior que o normal para ela, e encontrar Draco Malfoy na sala de Poções havia sido a gota d’água, certamente. Recordar-se que havia sido ele quem havia levado-a para a Ala trazia um pouco de enjôo e algum outro sentimento que ela preferiu não reconhecer.


- Oh, e ao invés ele mandou você para ficar aqui? Comigo?


- Sabe, Weasley, eu também não estou muito felizinho, mas você não me vê reclamando por aí, vê?


- Pouco me importa se você reclama ou não, Malfoy---

Ele estava prestes a responder a ela, quando a porta abriu-se mais uma vez. Eles não viraram-se imediatamente, porém o bufo de surpresa de Joanne Cronwel chamou a atenção de ambos. Assim que acostumou-se com a visão que estava tendo, Joanne pareceu um tanto chateada com a presença de Gina ali e vice-versa. A loira ignorou Gina totalmente, perguntando imediatamente a Draco:


- O que ela está fazendo aqui?


“Abordagem errada, Cronwel.”

Joanne andava mostrando sinais de ciúmes, ultimamente. Isso deixava Draco visivelmente aborrecido, entretanto esse não era o momento certo para discutir as coisas. Joanne parecia estar esperando uma resposta de Draco, mas quem falou foi Gina.


- A pergunta certa seria o que você está fazendo aqui, porque eu estou tendo aula de Poções.

Joanne fez um enorme bico, olhando de Draco para Gina e dela de volta para ele.


- Ah, é? E cadê o caldeirão, ou os ingredientes, ou---


- Não interessa, Cronwel. Para início de conversa, você nem deveria estar aqui.

Aquilo não era integralmente mentira. Draco não lembrava-se de Ter falado nada a Joanne sobre a aula com Gina, até porque ele fora avisado há pouco tempo. Mesmo assim, seu encontro com ela em alguma Torre escondida era apenas horas mais tarde.


- Olha aqui, Weasley---


- Chega.

As duas pararam de imediato. Para muita pessoas tornarem-se ameaçadoras, é preciso que elas gritem ou façam algo parecido – Draco só precisava diminuir o tom de voz. Joanne bateu o pé no chão e Gina suspirou, cansada.


- O que você está fazendo aqui, Cronwel?

Joanne deu um longo olhar a Gina, como se não quisesse explicar-se na frente dela. Relutante, disse:


- Bem, uma pessoa me contou que você estaria aqui e como nós íamos nos ver mais tarde, eu não vi problema em---

Em resposta, Draco pegou-a o mais gentilmente que pôde pelo braço, levando-a até um canto da sala, um pouco longe de Gina, que mexia em sua mochila quietamente.


- Eu não estou brincando aqui, Cronwel, então eu acho melhor você fazer o que combinamos e só aparecer na Torre no horário certo.

Ela fitou Draco de um modo fumegante e depois direcionou o mesmo olhar a Gina, como se ela fosse a culpada por isso tudo.


- Quanto tempo você vai ficar aqui, sozinho com a Weasley?


- Eu também gostaria de saber, mas garanto que não vai ser a noite toda.

Joanne empurrou uma mecha de seu cabelo para trás da orelha, empinando o queixo de um jeito bastante familiar a Draco. Qualquer um poderia dizer que com sua pose auto-suficiente e sua personalidade detestável, ela parecia uma legítima Malfoy.


- Argh, tudo bem. Eu vou embora.

A loira ia passando por ele quando pareceu lembrar-se de uma coisa. Deu um passo para trás e trocou um rápido olhar com Draco antes de beijá-lo, certificando-se que Gina estava a assistir a cena que se descortinava. Gina rolou os olhos para o teto, virando-se de costas por se recusar a presenciar o agarramento dos dois.


- Que nojo.

Joanne desgrudou-se de um Draco surpreendido e viu, com um ponta de exultação, que ele havia gostado. Seus lábios estavam suavemente vermelhos e os cabelos geralmente ordenados estavam em desalinho.


- Até, Draco. Até mais, Weasley.

Gina arfou desconfortavelmente quando a porta fechou-se. Mirou o chão. Draco, com as articulações dos dedos na boca, ficou em silêncio por alguns segundos.


- Então, como vai ser? – vociferou Gina, agora olhando-o – Que raio de aula é essa que nunca começa?

Draco entregou o pergaminho a ela e Gina leu-o. Estava escrito em uma letra rebuscada e apressada que deveria ser do professor. Abaixou o pergaminho, sentando-se numa cadeira próxima. Draco não estava em seu campo de visão e ela gostou de saber disso, porque assim talvez ela pudesse trabalhar em paz. Gina preparou os ingredientes e o caldeirão, preaquecendo-o. Olhou mais uma vez para o pergaminho, notando que apenas dois ingredientes estavam faltando. Ela levantou-se distraidamente e um rápido pensamento sobre o silêncio da sala passou por sua cabeça antes que ela esbarrasse em Draco, que estivera observando-a por cima do ombro.


- Merlin, você pensa que é insubstancial? – ela disse colericamente, ignorando a resposta que ele daria e seguindo até um dos armários empoeirados de Snape.

Ela sentiu os olhos de Draco em suas costas, enquanto selecionava meticulosamente os vidrinhos com melhor aparência. Ouviu um barulho que indicava que ele estava arrastando uma carteira, provavelmente para a mesma mesa que Gina, para vê-la fazer a poção. Ao voltar, notou que Draco estava sentado ao lado de sua própria carteira, ajustando uma ampulheta bruxa e com papéis, pena e tinteiro para fazer as devidas anotações sobre tudo.

Um pouco contra sua vontade, ela sentou-se, seu ombro a poucos centímetros do de Draco. Ela mediu os ingredientes cuidadosamente, percebendo que ele a estava analisando. Alguma coisa no modo como ele a encarava estava deixando-a incomodada. Mesmo assim, continuou a despejar um líquido azul-claro no conteúdo que estava dentro do caldeirão


- Você precisa pôr apenas três---


- Eu já pus. – interrompeu Gina, fechando um pequeno vasilhame onde estavam guardadas as patas de tarântula.

Ele estava tentando desconcentrá-la, e ela viu isso. Mas não ia deixar que Draco atrapalhasse o processo. Gina puxou a varinha, ocasionalmente tocando o líquido espesso com ela. Draco havia voltado a escrever e volta e meia estudava a poção de longe.


- O que diabos deveria ser isso? – ele apontou.

Gina olhou-o de rabo de olho, sentindo-se ficar irada.


- A droga da Poção, Malfoy, o que você acha?

Ele se esticou em frente para fazer uma melhor análise da poção, e por conseqüência seu ombro tocou o de Gina, que sentiu um choque passar pelo seu corpo. Draco olhou para dentro do caldeirão e depois para Gina, ainda um tanto próximo dela. Seu olhar zombeteiro fê-la esquecer da sensação anterior momentaneamente.


- Você chama isso de Poção Materializadora?

Ela trincou os dentes, podendo sentir o odor dele perfeitamente.


- Cale a boca, Malfoy. – disse, aproximando-se ameaçadoramente. Que grande vontade de socá-lo.

Ele continuou parado.


- Você realmente é péssima em Poções.


- Guarde suas opiniões para você mesmo.

Draco ajeitou-se, olhando Gina com desdém. Ela alivou-se por ele não estar mais naquela posição, porque aquilo despertara algo dentro dela –- bom ou ruim, ela não saberia dizer -–. Gina não podia negar que Draco era bonito, mas ele era muito diferente dos outros garotos bonitos da escola. E talvez fosse esse ar de mau que ele tinha que chamava tanta atenção das garotas – menos de Gina. Aqueles olhos que despertavam fantasias em outras meninas, emergia medo nela. Ela já vira um olhar frio semelhante, que era muito atraente, e prometera para si que não se deixaria levar pelo charme de nenhum outro adolescente. E de repente perceber que ele havia mexido com ela, estava assustando-a.


- Weasley. – Draco chamou-a duramente – A Poção.

Agilmente Gina terminou sua poção e assim que terminou pôs o líquido arroxeado num frasco pequeno.


- Aqui está. – ela entregou a ele e sentiu brevemente os dedos dele tocarem os seus.

Não deveria ser uma sensação diferente de quando ele havia ido ao campo de Quadribol, mas era. Gina sorriu enviesadamente para Draco, que a olhou desconfiado. Ele estivera escrevendo algo em um pergaminho e parou para examinar rapidamente a poção.


- Adeus. – falou Gina alegremente, enquanto arrumava pacientemente suas coisas.


- Weasley, – iniciou Draco, com a voz carregada de algo que ela podia identificar como escárnio – você adicionou as patas de tarântula?


- Sim. – disse, triunfante – Três delas.

Foi a vez de Draco rir sadicamente.


- Que pena. – ele tirou a varinha – Não serve para nada.

Com um movimento banal, ele fez o líquido desaparecer do frasco. Gina boquibriu-se, estupefata.


- O quê?

De forma lenta e vagarosa, como se Gina fosse uma criança de três anos, Draco informou que eram preciso seis patas da enorme aranha.


- Mas você disse---


- Ah, – meramente exclamou, voltando a escrever – distração minha.

Num gesto infantil, ela puxou o pergaminho onde ele escrevia, fazendo-o borrar o papel. Não pôde evitar. Draco olhou para ela, que amassou o papel e jogou-o, sua expressão irredutível.


- O que foi que eu fiz para você, hein? – quase gritou.


- Além de ter nascido ? – falou ele friamente. – Quase nada.

Ela estreitou os olhos.


- Eu também não estou saltitante pela aula de Poções com você, Malfoy, mas eu não estou tentando ferrá-lo, estou? Quem vai ficar sem nota sou eu, e tudo por culpa sua!

A expressão dele mostrava que Draco não estava nem um pouco preocupado. Outro assomo de socá-lo atravessou-a.


- Problema seu.


- Não, o problema não é meu. Se você interfere o problema é seu também.


- Não há mais nada que você possa fazer, Weasley. Sua poção já era.

Gina revirou os olhos, desta vez não se importando em praguejar baixo. Ela pôde ouvir uma risadinha dele, e mordeu a própria língua para não mandá-lo para bem longe. Gina pegou sua mochila, que durante a discussão estivera sobre a mesa, e pô-la no ombro, indo em direção a porta.


- Quer saber? Eu não vou fazer porcaria nenhuma. – disse, de costas. Ela abriu a porta e antes de sair, continuou – E você... Vai pro raio que o parta, Malfoy!

E fechou a porta com um estrondo.


- Garota desequilibrada. – Draco comentou para si, voltando a escrever.

*

Gina estava fervilhando de fúria. Assim que bateu a porta, correu pelos corredores, até chegar à segurança do Salão Comunal da Grifinória. O lugar estava apinhado de alunos, mas Gina não se importou pela baderna que os primeiranistas estavam fazendo. Anteriormente, ela quisera largar-se numa das poltronas confortáveis do Salão, porém, pensando melhor, ela preferiu subir ao seu dormitório. Não havia só ela de monitora, e provavelmente sua presença não faria muita diferença no Salão.

Ao chegar no quarto, deu de cara com três de suas colegas que estavam com um treco azul no rosto enquanto conversavam e trançavam os cabelos umas das outras. Gina poderia Ter rido delas se a visão de Joanne debruçada em sua cama, observando-a por cima do livro que lia, não a deixasse tão descomunalmente enraivecida.


- O que foi? Nunca me viu irritada? – perguntou Gina com selvageria, enquanto atirava suas coisas sobre a cama.

Joanne torceu o nariz, voltando ao livro. Gina suspirou e caiu em seus travesseiros de olhos fechados, exausta e ainda com uma ponta de ira, que foi relembrada por Joanne. Como se não bastasse todos os desgostos que Draco Malfoy havia lhe proporcionado em apenas algumas horas e agora ela precisava agir civilizadamente na frente da loira grifinória. Ah, não, se Joanne viesse com alguma ladainha---


- Qual o motivo para que a santa Gina Weasley fique tão aborrecida? – perguntou Joanne, falsamente preocupada.

Com a respiração lenta, as pálpebras de Gina bateram várias vezes antes de abrirem-se totalmente. O maxilar de Gina cerrou-se, mesmo que ela estivesse encarando somente o teto. Uma expressão cínica passou por sua face rapidamente que ela soube que Joanne fitava.


- Nada que interesse a você, Cronwel.

Joanne sentou-se sobre as pernas, abrindo um largo sorriso para Gina e gargalhando logo depois. Com gestos melodramáticos e exageradamente detalhados, Joanne falou:


- Foi Draco quem fez isso com você? – mais risadas sigulares de Joanne – Ah, alguma vez na vida Draco fez alguma coisa que o valha!

Gina sentiu sua face pegar fogo de tanta raiva. Ela sabia que o intuito de Joanne era exatamente esse – deixá-la brava – entretanto era impossível evitar o rubor que aflorava o seu rosto. Tinha certeza que se perdesse o controle sobre si não se responsabilizaria pelo que acontecesse. Joanne também deveria saber disso e talvez estivesse só ignorando a possibilidade.


- Cronwel, cale a sua boca antes que eu mesma faça isso.

Joanne levantou-se na cama, pulando sobre o colchão de forma infantil, como se Gina nunca pudesse alcançá-la. Viu que as outras três garotas haviam diminuído suas conversinhas desagradáveis para assistir o que estaria por vir. Seria um belo espetáculo ver Gina e Joanne brigando, embora elas não soubessem a razão disso tudo.


- Ha ha ha, você, Gina Weasley? Você vai me calar? – a sobrancelha dela subiu, num risinho sarcástico que atingiu Gina do modo como Joanne desejava – Quero ver você conseguir essa proeza, sua---


- Ah, sua filha da mãe!

Joanne não sabia ao certo explicar como aquilo havia acontecido, mas no instante seguinte Gina havia pulado de tal forma sobre sua cama que Joanne acabou caindo duramente sobre o colchão. Então Gina havia praticamente montado em cima dela – houve uma mistura de sons e gritos e uma dor lancinante havia assomado o nariz de Joanne por duas vezes, que sentiu algo quente descer sobre seu rosto – sangue. Ela abriu os olhos, que mal lembrava Ter fechado, e viu Gina preparar-se para acertar-lhe um terceiro soco. Porém, a mão de Mona segurou o pulso dela, puxando-a de cima de Joanne logo depois, com a ajuda de Pamela.


- Me solta! Me solta, Mon!

Joanne recuperou seus sentidos e rapidamente sentou-se, pondo uma mão abaixo do nariz, para analisar o estrago que Gina havia feito. Quando seus dedos vieram banhados em um líquido avermelhado, ela encarou Gina furiosamente. Tentou avançar sobre ela, mas Madison já estava segurando-a.


- Me solta, Wittenberg! – gritou ela, tentando desvencilhar-se das mãos de Madison – Você vai se arrepender por isso. Anda, me solta!

Madison, que não parecia satisfeita com o ocorrido, jogou Joanne no chão.


- Cale a boca, Cronwel, porque você não está numa boa posição para reclamar. Fique na sua e pare de arranjar confusão.

Por trás das costas de Madison, Joanne podia ver que Gina não estava mais oferecendo tanta resistência ao aperto das duas outras garotas.


- Saia da minha frente, porque eu vou espancar aquela vaca Weasley.

Madison desembainhou sua varinha, olhando para Joanne com ameaça. Ela calou-se, fitando o chão e percebendo que o dormitório caía num silêncio quase sepulcral. A risada fraca de Gina ecoou pelo quarto.


- Draco Malfoy. – ela falou, de forma quase saudosa. Todas as garotas direcionaram os olhos para ela, mas Gina estudava o tapete – Draco. – ela disse de forma que irritou Joanne; era quase como se ela tivesse intimidade o suficiente para chamá-lo pelo primeiro nome; como se ele tivesse dado permissão a ela para tanto – Ele não me deixaria assim. Não, ele não fez nada para me aborrecer. – parecia que Gina estava pensando alto, mas Joanne sabia que ela falava diretamente consigo – Nós fizemos outras coisas que certamente nunca me deixariam aborrecida...

Gina levantou o olhar, vendo Joanne estreitar os olhos em fúria. O peito de Joanne subia e descia e Gina sorriu por saber o efeito que causava nela. Oh, ela sempre fora uma ótima atriz e sabia disso. Aproveitando-se da distração de Madison, Joanne avançou na direção de Gina, entretanto logo foi interceptada pelas outras garotas. Gina, ainda sentada na sua cama, sorriu para ela.


- Você é uma vendida, Weasley! Fica dando em cima do meu namorado e---

Ela parou, pois as outras garotas mordiam seus lábios, segurando um risinho. O sangue dela ferveu.


- O que foi, hein? O que foi, Grateberg? – Mona balançou a cabeça negativamente, tentando ficar séria – Ahn, Schneider?

Pamela deu de ombros.


- Nada, Cronwel. Não se pode mais rir, é isso?


- É.

Pamela fez uma careta para ela, andando em sua direção. Mona segurou seu braço em alerta. A atmosfera ali estava horrenda.


- Não é porque você é uma carrancuda incurável, que eu vou deixar de rir das coisas idiotas que você fala.


- Okay, é o bastante! – bradou Madison, fazendo um movimento com as mãos – Acabou, nada mais de brigas!

Todas ficaram quietas e aos poucos elas foram voltando aos lugares respectivos onde estavam antes. Mesmo com o rosto cheio de uma pasta azul esquisita, Madison metia medo nas outras. Mas Joanne e Gina continuaram a se encarar fervorosamente, apesar de não fazerem nenhum movimento denotando uma nova briga. Joanne não queria brigar mais com Gina. Seria Draco Malfoy o alvo de sua fúria recente.
*

O barulho que a porta fazia mostrava como ela estava desgastada e como era pouco usada. Melhor ainda. Aquela torre, a mais alta e afastada de todo o castelo, era raramente visitada, mesmo por Filch e a odiosa Madame Nor-r-ra, o que levava muitos casais adolescentes a se encontrarem furtivamente por lá.

Draco não gostava muito dessas torres de Astronomia. Sempre preferia algumas salas de aula que conhecia bem e que sabia que ninguém os incomodaria. As masmorras, por exemplo, eram melhores porque não recebiam essa maldita corrente de ar frio. Porém Joanne fizera absoluta questão que o encontro deles fosse nesse local horrivelmente gélido e congelante. Todas as vezes que Draco expirava, uma névoa densa formava-se à sua frente, dando-o a certeza de que hoje era um dos piores dias para um namoro na Torre de Astronomia. Ele esfregou as mãos enluvadas, bufando de raiva pela terceira vez. Sabia que Joanne estava atrasada e não entendia o motivo para tal, uma vez que fora ela quem insistira para que Draco saísse cedo do Salão Comunal da Sonserina e não se atrasasse de maneira alguma.

A porta de madeira produziu outro grande ruído ao ser aberta novamente. Draco virou-se, extremamente zangado com Joanne. Quando fitou-a, percebeu que ela também parecia brava com algo que ele não poderia dizer o que era. Mas Draco não queria ouvir qualquer coisa, porque já estava irritado o bastante para ficar ouvindo os motivos de Joanne.


- Draco Malfoy. – anunciou Joanne, de um jeito desdenhoso.

Ele revirou os olhos para a loira. Ela adentrou a Torre, apertando o casaco ao redor de si. Sua voz saiu arrastada e um tanto rouca.


- Eu sei o meu nome.

As pontas dos lábios de Joanne se puxaram em um pequeno sorriso irônico e uma única sobrancelha estava enrugada em diversão. Ela deu mais passos em direção a Draco, fazendo-o dar passos para trás, encostando-o na mureta e aproximando sua boca na dele.


- Você sabe o que é perigoso?

Ele soltou uma pequena risadinha que quase não foi notada por Joanne. Draco disse, nos lábios dela:


- Isso é perigoso, Joanne Cronwel.

Draco enlaçou sua cintura, beijando-a vagarosamente em seguida. Joanne subiu suas mão até o tórax de Draco, para afastá-lo de si.


- Não. – respondeu, sorrindo. Repentinamente ela ficou séria, parecendo braba – Perigoso é se agarrar com Gina Weasley, seu cretino!

O rosto dele mostrou uma expressão de clara confusão, a qual Joanne tripudiou, pensando que era apenas parte de algum teatro combinado de ambos. A mão dela subiu até a gola do uniforme, com o intuito de apertá-la para quase matar Draco sufocado. Ele segurou as mãos de Joanne.


- Está louca, grifinória? O que foi, bateu a cabeça enquanto estava dormindo?

Joanne olhou-o com acidez.
- Não finja, Malfoy, porque eu já sei de tudo! Tudo! – disse, para dar ênfase a sua própria certeza – Não adianta esconder nada de mim, porque aquela estúpida ruiva me contou o que aconteceu.
- E o que exatamente ela contou?

Joanne fechou os olhos, como se estivesse segurando-se para não avançar no pescoço de Draco. Ela suspirou para acalmar-se.


- Não se faça de cínico, Draco. A mim você não engana! – gritou – Gina Weasley falou que você e ela... você e ela... andaram fazendo coisas nas masmorras.

Draco encarou duramente e profundamente Joanne. Isso era alguma brincadeira? Se fosse, ele não estava achando a mínima graça.


- É lógico que estávamos fazendo coisas. O que você esperava? – Joanne inchou na frente de Draco, incapaz de saber se havia ouvido direito. Como ele podia dizer o que havia acontecido com essa cara? – Era uma aula de Poções, Cronwel. Grifinória, eu esperava mais dessa sua mente brilhan---


- Pare, Draco! Pare! Eu já sei que vocês estavam se agarrando. Não precisa mais mentir.

O queixo de Draco caiu alguns poucos centímetros e ele logo se recompôs. Empertigou-se, ficando bem maior que Joanne.


- Eu não estou mentindo. Eu não agarraria Gina Weasley. Por que eu faria isso?


- Simplesmente porque ela é um trasgo de saias! Não me diga que não a acha bonita, porque eu já peguei você olhando para ela.

Draco viu-se repentinamente com raiva. Ele não sabia a razão, apenas estava assim. Era como se Joanne tivesse pisado num calo ou cutucado alguma coisa que não deveria ser desperta. Ele segurou o pulso dela que estava no seu peito e disse com ameaça:


- Nunca, eu disse nunca fale isso novamente, entendeu?

Joanne não se intimidou.


- Por quê? É a verdade? Está se incomodando por que?

Ele ficou alguns segundos sem responder, tentando achar algo que desmentisse o que Joanne estava falando. Alguma explicação racional e que acabasse com aquela discussão de uma vez por todas.


- Porque o nome ‘Weasley’ me dá alergias.

Joanne não parecia convencida, mas antes que ela dissesse mais coisas tão perturbadoras e incertas, ele depediu-se dela com rispidez, deixando-a sozinha na Torre fria e andando pelos corredores, perdidos nos próprios pensamentos.

*

O campo estava cheio de estudantes, mesmo sendo a abertura da temporada e sendo primeiro jogo. Na verdade, parecia que era a decisão do Torneio. A quantidade de alunos presentes estava deixando Gina nervosa. Ela não estava tão ansiosa quanto esteve no seu primeiro jogo, mas antes ela estava apenas substituindo Harry.


- Está muito nervosa?

Ela distraidamente olhou para o lado e viu que Harry a estivera observando.


- Não. Por quê? Parece que eu estou?

Ele sorriu.


- Você esteve roendo suas unhas nos últimos cinco minutos. Isso significa alguma coisa?

Gina quase bufou. Ela tinha essa mania horrenda de roer as unhas de vez em quando. Adotara esse hábito ainda quando criança e mesmo com a mãe ralhando-lhe o tempo todo não abandonara esse tique.


- Talvez eu esteja um pouquinho nervosa. – disse, tentando parecer displicente.


- Eu não sei com o quê está preocupada. Você joga muito bem; aposto como vai se sair bem.

Ela deu um sorriso simples a Harry, que retribuiu como melhor pôde. Sabia que ele ainda estava com aquele ar melancólico e talvez nunca o perdesse, pensou. Talvez ele não tivesse oportunidades para tanto. O Quadribol era uma grande distração de tudo.

Minutos depois, o time da Grifinória chegou ao campo, onde a Sonserina já esperava. Gina olhou para as arquibancadas, procurando ninguém. Quando seus olhos voltaram para o time à sua frente, percebeu que Draco a estivera observando. E o jeito como ele a olhava... Parecia poder ver através de seus olhos, deixando-a levemente inquieta. No instante seguinte, quinze vassouras subiram no ar e ela já havia se esquecido disso.

O jogo estava, na medida do possível, normal, a não ser que Gina sentia-se de vez em quando ser estudada por olhos nada discretos. Por um momento ela virou-se a procura de quem estava-a fazendo se sentir desconfortável, mas não encontrou-os. Voltou à partida.


- ... E Grossman faz um belo drible em Bishop, jogando a goles em direção a Weasley, que--- Não! Hathaway não conseguiu interceptar o balaço, que está indo na direção de Gina Weasley...

Gina moveu o rosto para o lado, vendo um pouco tarde demais que um balaço descontrolado vinha ao seu encontro. Antes que ela pudesse fugir dele, o balaço atingiu-a no estômago, em cheio, fazendo-a perder a consciência de onde estava ou do que estava fazendo. Não havia noção de tempo ou espaço; não havia visão ou sequer audição. Somente havia dor. Antes que ela pudesse evitar, um grito de desespero irrompeu de sua própria garganta, enquanto as mãos faziam movimentos débeis, a procura de alguma coisa que não a deixasse cair. Daquela altura, uma queda seria muito grave para si. Gina imaginou o que aconteceria com ela. Muito rapidamente vieram visões à sua mente sobre como ela ficaria depois de atingir qualquer coisa que impedisse sua queda. Sinceramente, não queria morrer tão jovem, numa partida de Quadribol. Talvez se ela fosse um garoto esse seria seu desejo – morrer jogando pelo time da Casa – mas como ela não era, queria sair dali inteira para continuar sua vida. Lembrava-se perfeitamente de ter lido alguns livros sobre o jogo e como alguns jogadores haviam falecido em campo, sempre de uma maneira muito nojenta. Oh, Gina não queria isso para si.

Ela estava sendo jogada, lançada para trás e um pensamento rápido do que ela encontraria atormentou-a. Ela não viu sua vassoura se espatifar no solo do campo, porque assim que suas costas bateram ruidosamente contra uma coluna de madeira de alguma arquibancada, Gina fechou seus olhos firmemente, escorregando velozmente para baixo, atingindo o chão com um estrondo seco. Haviam farpas de madeira em suas costas, ela sabia e sentia, e havia algo escorrendo pela sua coluna – algo quente –, que deveria ser sangue. A pancada que havia levado na cabeça estava deixando-a tonta. Era o primeiro grande acidente que ela sofria jogando Quadribol.

Gina sentiu que os olhos estavam marejados pela batida no lóbulo. Lentamente ela levantou as pálpebras, tentando focar a visão, mas parecia que até seu pequeno movimento no rosto fazia o corpo doer. Ela usou suas mãos, machucadas, para ficar numa posição melhor e enquanto tentava acalmar a si mesma. Num mundo muito distante, ela podia ouvir os passos rápidos do time grifinório, os murmúrios da torcida e o ruído das vassouras sendo esquecidas no chão, de qualquer jeito.


- Deixe-me ajudá-la com isso.

Ela não havia percebido a presença de uma outra pessoa e sentiu-se agradecida ao ver uma varinha amenizar a situação de seu braço, pois Gina não teria forças para retirar a sua própria e fazer o trabalho. Perguntou-se onde estava Madame Pomfrey, que geralmente estava nos jogos para esse tipo de eventualidade. Mas as coisas estavam acontecendo com uma rapidez, que a pessoa mais próxima dela, neste momento era ---


- Harry. – lacrimejou – Faça isso parar, pelo amor de Deus.

Ele levantou seus olhos extremamente verdes.


- Calma, Madame Pomfrey está vindo aí. Veja.

Era verdade, ela estava bem próxima e num segundo passou por Harry e chegou perto de Gina, checando para ver se a garota estava bem.


- Potter, fale para Madame Hooch parar este jogo, por Merlin. Esta garota está péssima e ainda querem continuar com isso?

Não era preciso que isso fosse feito, porque apesar da Sonserina Ter marcado vários pontos enquanto a Grifinória desmontava-se de suas vassouras para ir até Gina, a partida já havia sido encerrada por Madame Hooch. Ela viu Rony vir rapidamente ao seu encontro, com uma expressão de preocupação no rosto. Porém Gina logo desviou os olhos, sentindo sua pele arder, quase cegando sua visão.


- Calma, Weasley, isso vai passar num segundo.

Para distrair-se, Gina mirou o campo de Quadribol, onde os jogadores desciam de suas vassouras, alguns com raiva, outros vindo na direção de Gina e Madame Pomfrey, que havia conjurado uma maca.


- Está se sentindo bem?


- A-hã, Rony. Só... me ajude aqui.

Ele ajudou-a a se levantar, fazendo-a sentar na maca.


- Vamos, Weasley, vamos para a Ala.

A maca flutuou e Gina relaxou mais, tocando a coxa e limpando o pouco sangue que ainda estava presente – e ela não estava sentindo suas costas. Rony e Harry, assim como outros colegas do time e Hermione – que havia alcançado-os rapidamente – estavam ao seu lado, indo junto com ela. Mais por entre as pessoas, por entre os uniformes, ela viu uma figura parada, encostada em uma pilastra de madeira, segurando sua vassoura negra e encarando-a ininterruptamente. Os olhos cinzentos de Draco não piscavam, até apenas uma das pálpebras descer deliberadamente, numa piscadela que deixou-a amedrontada. Ela pestanejou, olhando uma segunda vez para o local.

Mas então ele havia desaparecido.


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N/A> só keria mandar um enorme beijo a todo mundo q tah comentando minhas fics!!!! Xauz, eu tenho q atualizar as outras! Huehuehueuhehuehue.

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