Voltando Á Rotina



Gina dobrou na primeira prateleira de livros que viu. Como a anterior, estava bastante escura, mas ela não se importava. Encostou a cabeça na estante, pousando os dedos nos lábios.

Não conseguia acreditar no que havia acabado de acontecer. Suas mãos estavam suadas e sua respiração acelerada. Ela ainda podia sentir o gosto gélido da boca do garoto.

"Merlin, Merlin, Merlin." Pensou, vagarosamente "Eu nem vi o rosto do garoto! Nem sei o nome dele! E se ele for feio?" Gina parou um pouco, fazendo uma careta "Beijando daquele jeito, ele não pode ser um trasgo. Seria o maior pecado de todos..."

Estivera tão ocupada em esconder seu choro que não tentara ver a face dele. E a voz ela definitivamente não conhecia - era grave e hesitante. Mas não havia mais nada da qual ela pudesse se lembrar. A única coisa que conseguia se recordar era do beijo. Gina apertou mais os olhos. Isso era estupidez. Suspirando, virou-se para a prateleira e pegou o primeiro livro que viu, fingindo que ia estudar, porque não podia simplesmente ficar pensando nisso o dia todo. Assim que sentou-se na mesa onde estavam suas coisas, avistou uma página de seus livros onde Dino havia escrito uma vez: "D e G". Quando viu aquilo, percebeu que não se sentia mais tão culpada assim. Não fora nada premeditado. E ela não estava mais namorando Dino Thomas, decididamente.

- A carne é fraca... - sussurrou uma voz em sua mente.

Gina debruçou-se sobre a mesa, escondendo o rosto entre os braços. Ouviu inúmeras vezes a voz de Dino repetir a mesma frase, seguidamente.

"Eu preciso voltar a estudar", decidiu.

Porém ela não conseguia se concentrar, e nada entrava na sua cabeça. Por mais que tentasse e se esforçasse, era impossível.

"É lógico, eu nunca mais vou deixar um coisa desse tipo acontecer."

Fora simplesmente loucura. Terminara seu namoro e dez minutos depois estava sendo beijada na biblioteca, por um garoto o qual ela não sabia nada. Aquilo lhe renderia boas hipóteses e a deixaria muito tempo pensando, com certeza.

*

Draco levantou-se, bufando. Ele não poderia Ter beijado quem ele achava que tinha beijado, podia? Simplesmente parecia impossível. Começou a andar de um lado para o outro, sentindo-se o maior dos imbecis. Ele nunca sentira-se assim, e podia dizer que não era a melhor das sensações.

O que mais o atordoava não era apenas não conhecer a garota, mas era porque ela fizera algo despertar nele. Algo que nenhuma outra garota conseguira fazer. Ele sentira alguma coisa diferente dentro de si quando beijou-a. Essa, sim, era uma ótima sensação. Saiu da escuridão e ficou num lugar mais iluminado, pondo os idéias no lugar.

- Draco, onde você esteve?

Ele quase poderia Ter pulado de susto, porém, ao invés, apenas moveu o rosto para o lado e viu Pansy parada, olhando-o interrogativamente.

- Caso você não saiba, estamos na biblioteca.

Pansy revirou os olhos e avançou até ele. Inconscientemente ele deu passos para trás, até perceber que Pansy o havia encurralado. Era uma cena ridícula, pensou ele.

- Eu estava atrás de você.

- Eu sei.

- E por que você estava se escondendo?

- Eu não estava me escondendo.

Pansy riu ironicamente.

- Você está na biblioteca, Draco! Desde quando você vem à biblioteca num Sábado?

- Você não me conhece tão bem como pensa. - disse, desviando-se dela, que tentara beijá-lo.

Ela fez um movimento rápido, segurando seu braço.

- Ah, conheço sim.

- É?

- É.

- Então você já deve Ter percebido o porquê d'eu estar "me escondendo".

Pansy fez pareceu confusa e afrouxou o aperto.

- Eu não sei, mas eu acho que nós precisamos---

Draco segurou a outra mão dela, que anteriormente estivera passeando livremente pelo seu abdômen. Ele não achava que ali era o local correto para dizer o que já vinha martelando sua cabeça há tempos, entretanto Draco não queria adiar isso. Pansy tinha que encarar a realidade - eles não eram o melhor casal do mundo.

- Terminar. É disso que nós precisamos.

Ela pestanejou.

- O-o quê? O que foi que você disse? Não sei se escutei direito.

- Escutou, sim. Eu disse que quero terminar. - falou simplesmente - Eu não gosto realmente de você, Pansy, e você sabe.

A boca dela caiu, mas ela recompôs-se.

- Mas--- Mas---

- Já está decidido, Pansy. - interrompeu.

Draco ia sair, mas a morena segurou-o com força. Quando olhou-a, percebeu que a sombra refletia em seus olhos uma mistura de cólera e irritação.

- Você está pensando que eu sou como aquelas garotas que você usa e depois joga fora, é? Bem, pois eu não sou. - ela continuou, entredentes - Então trate de mudar o modo como fala comigo, entendeu?

Draco dirigiu seu olhar para a mão dela que segurava-o, claramente querendo que ela o soltasse, mas ela demorou a fazê-lo.

- Há outra?

Ele se surpreendeu com a repentina pergunta dela.

- Não.

Pansy olhava para as mãos, o casaco negro que usava escorregando pelo ombro esquerdo.

- E por que você quer terminar?

Draco bufou, passando uma mão pelo rosto.

- Não me faça---

- Repita.

Draco aproximou-se dela perigosamente, percebendo que ela engolia em seco. Pansy olhava-o atentamente.

- Eu não gosto de você.

Os olhos de Pansy viajaram por ele, até pararem na boca de Draco. Ainda focando-os nos lábios do garoto, falou:

- Não é isso, eu sei. Você nunca ligou muito para esse tipo de história...

Ela puxou-o pela gola da camisa e beijou-o. Pansy puxou-o até suas costas encontrarem a estante de livros, fazendo alguns deles caírem com um baque surdo.

- Você não quer isso. Eu não quero isso... Vamos fazer outra coisa que queremos há um tempo. - disse ela, forçando as vestes dele, enquanto sentia a mão fria dele em sua cintura.

Sorrindo interiormente, Pansy beijou o pescoço dele, deixando pequenas manchas avermelhadas por onde passava, sua língua friccionando na pele de Draco lânguida e preguiçosamente. Logo depois, Draco estava afastando o casaco dela e beijando tudo o que podia alcançar.

Não.

Pansy não sabia dizer o que havia acontecido, mas no momento em que voltou a si, Draco já havia saído de cima dela e ajeitava as vestes, parecendo estar com raiva a julgar pelo modo como desamassava sua camisa.

- Eu disse - sussurrou ele, com os dentes trincados - que nós não vamos continuar com isso.

Pansy ajeitou a blusa e o casaco, empertigando-se.

- Eu realmente não estou entendendo por que você quer terminar tudo. - ela tinha o olhar firme.

- Porque eu quero. E quando um não quer, dois não fazem.

- Eu não estou entendendo esse seu corportamento, Draco. Sinceramente, você anda muito estranho e---

- Não comece com o seu discurso. Eu estou dizendo que quero terminar. Eu não vou voltar atrás, Pansy. Acostume-se com isso.

Ele virou-se e, com passos resolutos, deixou a garota sozinha. Ela achava que conhecia Draco, mas esquecera-se que ele não queria relacionamentos sérios. E Pansy já havia deixado claro que pensava de um jeito diferente.

E talvez ele estivesse tendo outro casinho com alguma outra garota. Draco tinha fama em Hogwarts de ser mulherengo. Era verdade, ela sabia. Quem quer que fosse, Pansy não ia deixar ela levar Draco com tanta facilidade.

*

"O que eu não daria para estar no dormitório, agora..."

A noite chuvosa da Segunda-feira seguinte, desde o episódio da biblioteca, não estava ajudando em nada no treino do time de Quadribol da Grifinória. Agora ela estava tentando desenvolver sua posição de artilheira no time. Se a chuva deixasse. No início era apenas uma fina garoa, que meramente deixava-a úmida. Então a chuva foi ficando mais e mais forte, e já estava escharcando-a. Ela poderia muito bem Ter feito um feitiço Aquecedor, mas achava que aquele chuvisco não seria realmente ofensivo. Agora, com os cabelos molhados, e algumas mechas que se desprenderam grudando em seu rosto, Gina desejava vividamente que o treino fosse adiado. Quando finalmente deram-se conta de que estava impossível de ser armar jogadas, eles decidiram voltar ao castelo.

Antes de irem, Gina fez questão de tomar um banho, porque estava simplesmente imunda. Arrastou uma das artilheiras consigo, para lhe fazer companhia.

- Gina... Olha só. Eu estou bastante cansada, sabe. Eu acho melhor eu encontrar você na Torre, porque senão eu vou acabar dormindo...

- Tá, tudo bem. - respondeu, a voz abafada pelo chuveiro.

Ela ficou bastante tempo no chuveiro, sentindo o vapor da água subir e envolvê-la, deixando-a levemente sonolenta. Era ótimo. Quando finalmente cansou-se do banho, saiu e arrumou-se, o silêncio quebrado apenas pelo barulho da chuva. Gina saiu do vestiário e andou por baixo das arquibancadas para não ser atingida pelas grossas gotas. Sentiu-se aliviada ao pôr os pés no castelo, mesmo ele estando deserto e amedrontador.

Olhava por cima dos ombros o tempo inteiro, para o caso de Filch ou Madame Nor-r-ra aparecerem. Não queria pegar uma detenção - esse ano ela teria N.O.M.'s e uma detenção atrapalharia todo o horário de estudos que ela (para não dizer Hermione) programara.

Lembrar dos testes que faria esse ano fizeram sua cabeça doer momentaneamente. Segundos mais tarde, sentiu algumas manchas negras dançarem em sua visão, e seu lóbulo temporal começou a latejar de repente; sua garganta ficando seca. Gina não tinha a menor idéia de que caminho estava seguindo, porque as imagens à sua frente começaram a ficar turvas e embaçadas. A próxima coisa que ela sentiu foi seu corpo cair no chão, quase sem barulho nenhum.

*

Draco afastou-se da garota, depois de um beijo sensacionalmente longo. Joanne Cronwel era uma grifinória de bastante fôlego, ele não podia negar. A loira não era muito popular entre suas colegas, porque diziam que ela era fofoqueira, o que lá era verdade.

- Eu acho melhor nós voltarmos, antes que alguém nos pegue. - apontou ele.

Joanne olhou no relógio.

- É verdade. - disse, numa lamúria - Está tarde. - ela contorceu a boca em um bico de raiva. - Um último beijo de despedida.

Draco atendeu-a prontamente, mas desta vez não demorou-se muito.

- Ok. A gente se vê por aí. - falou Joanne, saindo da sala onde ambos se encontravam.

Draco viu-a desaparecer e esperou algum tempo, para que ninguém desconfiasse dos dois. Não que os grifinórios fossem realmente se importar se os vissem juntos, mas os sonserinos eram bem diferentes. Saiu da sala, descendo algumas escadas em seguida, perdido nos próprios pensamentos. Até que ele viu algo que o fez parar imediatamente.

No chão, estava caída a mais nova dos sete Weasley. Seus cabelos ruivos molhados estavam espalhados pelo chão e pelo seu rosto, que parecia calmo.
"A Weasley resolveu tirar uma sonequinha, foi?". Ele riu para si mesmo, mas não sabia o que fazer. "E o que ela pensa que estava fazendo andando para cá? A Torre da Grifinória é para o outro lado."

De qualquer maneira, ele não podia simplesmente deixá-la ali. Por que, ele não sabia dizer. Tinha uma antipatia enorme por aquela família e por todos os seus componentes, porém deixar a garota desmaiada no chão, quando podia ser pega por alguém, não lhe parecia bom. Então, esquecendo-se totalmente que possuía uma varinha, foi até ela e abaixou-se, estudando seu rosto antes de tomá-la nos braços.

Gina era incrivelmente leve. Draco estava tentando ao máximo não olhar o corpo delgado dela, mas não pôde evitar. Sua respiração ficou rápida, seu pulso aumentando incrivelmente. Perguntou-se o que faria, ou o que diria, se alguém o pegasse naquela situação. Ele mirou os olhos no rosto dela, passando desde suas pálpebras fechadas até parar na boca. Quanta tentação invadiu-o.

"Draco Malfoy, pare já com isso!", censurou-se "Você não pode pensar coisas desse tipo sobre uma Weasley. Lembre-se que você os odeia."

Para a satisfação de Draco, ele chegou na Ala Hospitalar instantes depois. A enfermeira arregalou os olhos ao ver aquela cena bizarra, e as bochechas de Draco tomaram uma tonalidade levemente rosada.

- Sr Malfoy, pode me explicar o que aconteceu com esta garota? - perguntou Pomfrey em seu enorme pijama, seu tom de voz insinuando que ele era o culpado por qualquer coisa que tivesse acontecido com Gina.

- Eu não sei. - tentou explicar, enquanto a colocava num leito desocupado - Eu estava passando por um corredor e ela estava caída no chão, desmaiada.

Madame Pomfrey pigarreou.

- E o que o senhor estava fazendo até essa hora fora da cama?

Draco virou-se para ela, depois de certificar-se discretamente que Gina estava numa posição confortável.

- Isso realmente interessa? - indagou gelidamente.

Ela ergueu as sobrancelhas.

- É, o senhor está certo. Agora, há quanto tempo ela está assim?

- Não sei.

- Sr Malfoy, - iniciou ela, virando-se e andando até seu escritório particular - dê uma olhada nela por enquanto por mim, sim?

"Exatamente o que eu não queria fazer."

Draco sentou-se na ponta do leito ao lado de Gina. Olhou para seus pés, para suas mãos, até que foi inevitável. Gina parecia estar somente adormecida, a não ser pela estranha razão de que ela estava com a maçã do rosto aquosa, e algumas partes de sua roupa estavam realmente úmidas.

Madame Pomfrey voltou momentos depois, examinando Gina. Embrulhou-a em alguns cobertores enormes, dando à ela uma poção para posteriormente pôr algo abaixo das narinas da garota. Virou-se para Draco.

- Então... - começou ela, titubeante - Obrigada por trazê-la até aqui, Malfoy. Ela estava realmente mal.

Agora era ele quem não sabia o que dizer. Então balançou a cabeça, mostrando que havia entendido e saiu da Ala.

*

Estava tendo um sonho muito bom. Com quem, ela não sabia, porque seu rosto não aparecia. Sabia que seu subconsciente estava querendo mostrar-lhe o garoto da biblioteca, entretanto era impossível enxergá-lo. A claridade perfurou sua visão, fazendo-a acordar. Remexeu-se apenas para perceber que não estava na sua tão familiar cama de dormitório. Gina não lembrava do que havia acontecido, mas tinha algo errado. Com dificuldade, levantou as pálpebras somente para notar que estava na Ala Hospitalar.

"O que eu estou fazendo aqui?"

Acostumou os olhos aos raios de sol que entravam no local, porque outrora eles praticamente queimaram suas retinas. A Ala estava vazia e ela era a única que ocupava uma cama, e novamente perguntou-se o porquê.

- Alô?

No momento seguinte, Madame Pomfrey apareceu, parecendo radiante e preocupada ao mesmo tempo.

- Srta Weasley! - ela bateu palminhas - Acordada há quanto tempo?

- Ahn... Acabei de acordar.

- Sente-se melhor, querida?

Gina analisou a pergunta. Em parte, a resposta seria positiva, exceto que suas pernas estavam doendo, sua cabeça pulsando e os pés pareciam Ter sido esmagados. Sentia seu pescoço suado, com o cabelo impregnado nele, dando-a uma sensação de sufocação. Quando abriu a boca para responder, percebeu também que seus lábios estavam rachados e secos e sua língua parecia não poder se mover.

- S-sim.

Madame Pomfrey pareceu duvidar antes de virar-se para trazer uma bandeja com algo para ela comer.

- Não tem se alimentado direito, não?

"De certo modo, ela está certa."

Gina não conseguia pensar direito, e o esforço que ela fizera lhe rendera uma dor no lóbulo frontal. A garota fez uma careta e encolheu os ombros, tentando fazer a dor diminuir.

- Erm... Mais ou menos.

A enfermeira fez uma cara de reprovação.

- Srta Weasley, não deveria brincar com a saúde desse jeito. Esse ano você fará os N.O.M.'s - "Como se eu não soubesse disso!" - e precisará estar bem. Você chegou aqui muito fraca.

Isso fez Gina parar. O copo que estava levando à boca, ficou suspenso no ar.

- Como eu cheguei aqui? Quem me trouxe? E há quanto tempo estou... dormindo ou seja lá o que for?

Madame Pomfrey pareceu segurar o riso.

- Você está aqui há dois dias.

"Eu não acredito que passei dois dias inteiros dormindo!"

- Você chegou aqui Terça-feira à noite.

"Eu perdi dois dias inteiros de aula!!"

- E quem trouxe você foi o Sr Malfoy.

Nada a preparou para essa resposta. Ela estivera pensando nas milhares formas de repôr as aulas, mas seu cérebro parou ao ouvir essa frase. Boquiabriu-se.

- Malfoy? A senhora tem certeza? Malfoy? Não foi nenhuma outra pessoa, não? Malfoy?

Madame Pomfrey sorriu ao ver a reação de Gina.

- Oh, Srta Weasley, o garoto Malfoy não é de todo mau.

"E eu sou a Rainha da Inglaterra..."

- Ele me pareceu bastante gentil trazendo a senhorita aqui.

"A senhora já pode parar com essa brincadeira de mau gosto. Está realmente me assustando, se é esse o seu intuito."

- Deveria agradecer a ele, porque alguém poderia Ter pego a senhorita. Filch, por exemplo, não a perdoaria, mesmo estando desmaiada.

"E ao invés disso, eu fui trazida pelo Malfoy. Na verdade, eu acho que prefiro o Filch. Madame Nor-r-ra também não me parece nada má."

- De todo modo, - Madame Pomfrey, que estivera sentada ao lado de Gina, observando-a comer, levantou-se - eu preciso resolver umas coisinhas. Termine de comer, e quem sabe eu libere-a ainda hoje. Seu irmão veio aqui umas trezentas vezes perguntar por você, então eu acho que você não deve realmente preocupá-lo.

"Deixe ele saber quem foi que me trouxe até aqui, e ele vai pirar."

Ela assentiu, mas parou no meio do gesto porque sua cabeça parecia que não ia agüentar.

"Ótimo. Além de perder aulas eu estou com a cabeça a ponto de explodir...", pensou raivosamente, ajeitando-se na cama e afastando a bandeja.

*

Madame Pomfrey segurou Gina por mais algum tempo. Ela já estava voltando para a Torre da Grifinória no fim da hora do almoço, a fim de pegar seus materiais para ir às aulas, já que não podia perder mais nenhuma ou estaria encrencada. Logo que desceu algumas escadas, indo em direção ao Salão Principal, ela se pegou vendo uma coisa bastante... esquisita.

Draco e Joanne se beijando.

Seu estômago se revirou, e ela não soube explicar o porquê. Na verdade, ela sentiu-se até meio enjoada com o que viu. Gina limpou a garganta.

- Hum-hum.

Os dois se separaram, ambos rindo safadamente.

- O que foi, Weasley? - disse Draco, com sua voz monótona - Nunca viu duas pessoas se beijando?

Joanne riu, deixando Gina com mais raiva. Ela não percebeu que, desde que havia terminado com Dino, Joanne era só risinhos, o que chocou a todos, literalmente. Estava com o humor melhor e já não respondia tão grosseiramente às perguntas dos outros, como fazia antes.

- Tome vergonha na cara, Malfoy. Você é monitor. - disse enquanto voltava a andar, só para mostrar que não estava realmente ligando para o que eles estavam ou não fazendo.

- Oh, a puritana Gina Weasley! - exclamou Joanne - Aquela-que-é-imaculada.

Malfoy soltou uma risadinha sardônica, que ainda pôde ser ouvida por Gina antes dela virar o corredor. Ela não sabia dizer por que se sentia fervilhando de raiva por dentro, porém nada podia fazer para evitar esse sentimento. Gina pensara em agradecer a Draco logo da primeira vez que o visse, para que não precisasse encontrá-lo novamente, entretanto seus planos foram estragados por Joanne.

"Ah, essa ameba esquizofrênica tinha que atrapalhar!" pensou Gina secamente, enquanto ia direto para a sala de Transfiguração, a sua primeira aula da tarde "Eu não sei o que foi que fiz para merecer essa garota. Numa outra vida eu devo Ter cuspido na cara de algum Papa trouxa, ou talvez eu tenha posto fim na ilha de Avalon ou qualquer coisa do tipo..."

De qualquer modo, ela teria que agradecer a Draco em outra oportunidade.

"E por que eu tenho que fazer isso?" questionou-se mentalmente. Uma outra voz respondeu: "Bem, você não quer parecer mal-agradecida, né? Afinal, ele poderia Ter deixado você mofar no chão mas não o fez." A outra voz confirmou. "É verdade."

Gina balançou a cabeça. Às vezes ela tinha esse tipo de conversa consigo mesma que fazia-a parecer doida, apesar dela achar que todo mundo deveria fazer o mesmo.

*

- Gina!

Ela virou-se, procurando por quem chamara seu nome. Viu uma das artilheiras vindo ao seu encontro.

- Hey, o que houve com você? Não veio ontem para aula e tal... - falou Elizabeth Grossman.

- Ah, não foi nada.

- É bom mesmo, porque o nosso primeiro jogo vai ser justamente contra a Sonserina, nesse Sábado. E, você sabe, aquele nosso treino não foi muito proveitoso. Rony me disse que vamos treinar hoje, de novo.

Gina fez uma careta.

- Hoje?

- A-hã. Eu só vim aqui te avisar. Eu tenho Poções agora.

- Urgh. Então, tá. Eu vou Ter que ir, de qualquer jeito.

- Tá, a gente se vê.

"Ai, minha nossa!" pensou, quase gemendo.

*

Draco estava indo em direção às masmorras quando alguém veio em sua direção. Quando o contorno de seu corpo se aproximou, percebeu que era Joanne.

"Tomara que ela não tenha vindo até aqui só para dizer que estava com saudades. Odeio garota grudenta..."

- Draco, - disse, ofegante. Parecia Ter corrido bastante - eu descobri quando eles vão treinar de novo.

Ele já até havia se esquecido deste pedido que fizera a ela - Joanne precisava descobrir quando que seria o próximo treino da Grifinória e ele iria espioná-los, afinal estava cansado de perder.

- Vai ser hoje à noite, lá pelas---

Joanne foi interrompida por uma outra garota: Pansy Parkinson, que quase gritou quando viu a grifinória conversando com Draco.

"Então é ela, não?"

- Ei, grifinoriazinha oxigenada, o que você está fazendo para cá?

Draco sorriu quando viu a cara mortal que Joanne fizera para Pansy. Joanne fingiu não Ter ouvido nada e voltou-se para Draco.

- O teino - recomeçou entredentes - vai começar lá pelas oito horas. Se você quiser eu---

- Você é surda ou se faz? - falou Pansy novamente.

- Se você quiser - continuou, como se não tivesse sido interrompida - eu posso ir com você. - ela elevou o tom de sua voz e depois sorriu para Draco, ignorando Pansy totalmente.

Draco sorriu também.

- Tudo bem, eu vou com voc---

- Draco Malfoy, - gritou Pansy, vermelha de raiva, seu cabelo balançando - você não vai andar para cima e bara baixo com essazinha, vai?

Joanne subiu na ponta dos pés e beijou Draco na frente de Pansy, que começou a balbuciar frases incompletas que não foram entendidas nem por ela mesma.

- Mas como--- O que vocês--- Por um acaso--- Humpf! - ela girou nos calcanhares e continuou seu caminho.

Joanne desgrudou-se de Draco, parecendo enciumada também.

- Você tem alguma coisa com a Parkinson?

Draco fez uma cara cínica.

- Eu? Lógico que não.

Joanne o olhou desconfiada antes de dizer:

- Bom, eu encontro você aqui às oito em ponto.

- Ok. - falou ele, despedindo-se dela.

*

Gina, carrancuda, seguia pelo campo de Quadribol com o time da Grifinória. Ao seu lado, a batedora Miranda Hathaway não se cansava de fofocar.

- ... e quando eu cheguei lá, Malfoy e Cronwel estavam no maior amasso! - falou, com a voz aguda.

Arregalando os olhos por um momento, Gina voltou-se para Miranda.

- O que você disse?

Miranda pareceu com raiva.

- Você não ouviu nada do que eu disse?

- O que você falou sobre... Cronwel e Malfoy?

- Oh, sobre eles estarem se comendo em todos os corredores?

O estômago de Gina se contorceu, porque ela estivera pensando interiormente que talvez Draco não fosse realmente de todo ruim. Todavia, esse conceito dela mudou quase que imediatamente assim que viu-o beijando Joanne.

- Bem, eles fazem um casal perfeito, não acha? Dois loiros falsos e insuportáveis... - continuou Miranda.

- É... Eles são... perfeitos. - disse Gina, hesitante.

O treino foi bastante puxado desta vez. Ensaiaram as jogadas que já haviam sido passadas e inclusive algumas novas; Gina sempre tendo a impressão que estava sendo observada. Por quem, não saberia dizer, nem onde estaria a pessoa, porque estava tudo escuro. De qualquer forma, quando viu uma figura afastando-se sozinha da base de uma arquibancada, Gina não teve dúvidas que aquela era Joanne, por causa de seu andar. E se não fosse pelo agravante de que Joanne simplesmente odiava Quadribol (assim como odiava uma infinidade de coisas), ela não teria desconfiado de nada.

Depois muito tempo nos campos de Quadribol, ela desceu de sua vassoura, arrastando-a consigo, acompanhada dos outros jogadores, que iam mais à frente, conversando animadamente. Talvez eles nem tivessem percebido quando uma pessoa aproximou-se por trás de Gina, tampou sua boca e levou-a para trás de uma coluna extensa de madeira, onde ninguém os veria.

- Mas o que raios----?

Gina engoliu, sem saber o que falar por um instante.

- Me solta, Malfoy ou eu vou---

- Gritar? - perguntou, levantando uma sobrancelha e parecendo bastante seguro de si - Não sabe se defender sozinha?

Ela resolveu deixar a idéia de lado, se convencendo que talvez ele estivesse certo.

- Bem melhor. Mas eu não vim aqui para discutir com você.

- É, você veio aqui para espionar nosso treino, não é, aberração da natureza? - bradou Gina, se empolgando.

Para pontuar seu insulto, ela estendeu o pé e chutou a canela de Draco.

- Sua vaca! - Draco se contorceu.

Gina sorriu para si e passou por ele, que se endireitou e puxou-a novamente.

- Você só vai sair daqui quando me agradecer.

- Já ouviu falar em altruísmo, Malfoy? - berrou ela, afastando as mãos dele que tentavam segurá-la para o caso de Gina querer ir embora. Antes que ele pudesse respondeu, ela continuou - Não. E sabe por que? Porque você é uma ratazana egoísta e inútil, que não sabe fazer nada sem pedir algo em troca.

- Eu não estou pedindo nada em troca! Ao contrário de você, eu não preciso disso.

- E ao contrário de você, eu não preciso mendigar por um simples "obrigado", porque eu sou educada o bastante para esperar que as pessoas façam isso por vontade própria! - gritou de volta.

- Problema seu. Você poderia Ter sido pega por alguém, mas eu fiz o favor de levá-la até a Ala Hospitalar.

- Teria sido melhor se Voldemort tivesse aparecido. - respondeu friamente.

Era uma mentira deslavada, mas Gina estava começando a ficar com dor de cabeça novamente e tudo que queria era sair dali, mesmo que Malfoy tentasse impedí-la. Draco ficou calado por um segundo. Gina baixou os olhos, achando que havia ido longe demais. Ela arfou e sentiu-se ficar tonta.

- Weasley, - a voz de Draco veio de longe - você está bem?

Gina encontrou dificuldade para dizer:

- Estou.

Entretanto, no instante seguinte ela estava caindo e Draco conseguiu segurá-la bem a tempo, antes que Gina atingisse o chão.

- Percebe-se que você está ótima. - falou, irritado.

Gina percebeu que a voz dele estava muito próxima e algo percorreu a espinha dela, fazendo-a quase estremecer. A voz dele era quase como um toque impróprio em sua alma. Perfurou-lhe os ouvidos mas era como se tivesse massageando-a lascivamente. Seu rosto pendia para o lado e quando retornou-o à posição inicial, viu que Draco estava realmente muito perto.

Rapidamente ela recuperou a sensibilidade das pernas e afastou-se dele. Porém, Draco puxou-a novamente, dessa vez não para pedir para agradecer-lhe. Os lábios dele estavam indo em direção ao seu pescoço, mas antes que ele pudesse alcançá-lo, sentiu as mãos de Gina subirem até até a gola da camisa dele.

"Então, ela não resiste, não?"

Todavia, ao invés de puxá-lo para mais perto, ela empurrou-o e girou os calcanhares dele, pressionando-o com força contra a coluna de madeira.

- Não tente isso de novo nunca mais.

Ele exclamou algo, vendo estrelinhas, mas ela não se importou. Ela era bem mais forte do que parecia ser, pensou. Gina sorriu, mesmo que ele não pudesse ver, e foi embora antes que ele pudesse se recobrar. Draco se recuperou, ira assomando-o. Enquanto saía do local de onde estivera escondido, percebendo que os jogadores da Grifinória já iam embora e Gina estava correndo para acompanhá-los, ele disse a si mesmo que isso não iria ficar assim.

*

Era manhã de Sexta-feira e a excitação trazida pela chegada do fim de semana já corria pelo Salão Principal, mesmo que o dia não tivesse acabado. Ainda teriam as aulas normalmente, mas ninguém ligava. Mais uma semana de muitas tarefas havia passado e os setimanistas e quintanistas podiam novamente relaxar, para repôr as energias gastas durante os últimos dias.

Gina, que estava ao mesmo tempo agradecida e chateada pelo novo dia, relembrava mentalmente os horários que teria que seguir hoje e durante a próxima Segunda e Terça-feira. Havia perdido muitas aulas importantes e quanto mais rápido recuperasse o conteúdo, melhor. Para ela não ficar sobrecarregada, McGonagall organizou uma agenda onde Gina teria apenas uma aula de cada matéria depois do horário normal acadêmico.

Ela estava deixando a aula de Herbologia quando foi abordada por Joshua Taylor, monitor quintanista da Grifinória, como Gina.

- Está indo para onde?

- Aula extra de Transfiguração.

- Ah, sim. Você perdeu algumas aulas, né?

- A-hã.

Gina percebeu que Joshua parecia nervoso com algo. Fosse o que fosse, ele precisava dizer logo porque ela não podia esperar o dia todo - a aula de Transfiguração começaria logo. Ficaram em silêncio por algum tempo, até Joshua fazer jus às suas características de grifinório.

- Gina... Você... Sabe, se você não tiver nada para fazer... Você gostaria de ir comigo a Hogsmeade... Amanhã?

Ela ficou um momento tentando-se lembrar da última reunião dos monitores, onde eles haviam sido informados que a primeira visita ao povoado seria na terceira semana de outubro. Joshua desanimou-se quando Gina não respondeu.

- Então...?

- Oh, - ela ficou surpresa de ele ainda estar ao seu lado - sim. Sim, sim, tudo bem. Agora... eu preciso ir... para a aula.

Joshua parecia bastante alegre quando respondeu:

- Tudo bem, eu não vou mais te segurar.

Mesmo depois que saiu da sala da professora McGonagall, ela ainda estava querendo descobrir o porquê de ele estar tão nervoso com o convite. Entretanto, ao pisar na sala de Poções, todos os pensamentos sumiram de sua cabeça. O professor de Poções não estava lá.

Draco Malfoy estava parado no meio da sala.

- Olá, Weasley.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.