Capítulo II



Disclaimer: Não me pertencem.

Eles foram caminhando pela grama úmida do orvalho matutino, saindo do cemitério e voltando ao centro da cidade. Harry estava em silêncio, ver qualquer coisa sobre seus pais o deixava naquele estado. Mas podia somar a sensação de ansiedade que lhe congelava o estômago de que podiam encontrar sua primeira horcrux na cada de Hepzibah Smith. Era uma possibilidade remota, mas valia a pena tentar.
- Como será que é a casa da velha? – se perguntou Rony em voz alta.
- Mais respeito com os mortos seria bom. – retorquiu Hermione.
- Calma, só estou curioso!
- Mas não precisa falar dessa maneira!
- A casa dela é cheia de antiguidades. – respondeu Harry de repente.
- Com você sabe?
O moreno deu de ombros, indiferente. Não queria dizer que vira na penseira...junto com Dumbledore.

Pensar no diretor de Hogwarts lhe trazia um aperto no coração. Era recente demais e isso lhe fazia imaginar o que Selene estava passando. E aquilo só fazia seu ódio por Snape aumentar. Certamente ele adoraria espancar o antigo professor de poções se o encontrasse, bem no estilo trouxa.
- Aqui estamos. – disse a morena de repente, parando.
Os quatro observaram a fachada arcaica do local, abandonado desde que Hepzibah morrera.
- Isso me lembra a biblioteca de Hogwarts. – comentou Hermione irônica, tirando o pó dos seus dedos após passa-los pelo beiral da janela.
- Bom...por onde vamos entrar?
- Pela frente, claro. – disse Selene puxando a varinha. Com um aceno a porta se abriu, rangendo.

Selene entrou primeiro, seguida de Harry, Hermione e Ron. Todos tossiram imediatamente.
- Ah, nunca vi tanto pó junto! – exclamou o ruivo.
- Concordo. – disse a morena, colocando a manga da blusa roxa sobre o nariz, numa tentativa de não respirar aquele pó todo.
- Bom...por onde começamos? – comentou Hermione.
- Eu e Selene ficamos aqui na sala. Vocês podem procurar no andar de cima.
Ron e a garota acenaram afirmativamente, se dirigindo para lá. A jovem suspirou, indo em direção a uma das prateleiras, começando a busca. O grifinório respirou fundo, tentando não inalar aquele pó todo e também começou.

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A música...era de piano. Sim, era de piano. Era uma música antiga que sua mãe tocava para lhe fazer dormir. Ou apenas murmurava naquela voz suave e delicada que tinha.
Sua mãe. A mulher mais doce e linda que já vira na vida. Desde que se considerara gente, sua mãe era seu mundo. Sim, sentia uma grande admiração por seu pai, sempre quis seguir seus passos. Mas a sua mãe...lhe era tudo.
Todos os atos que cometera, as ações que resolvera, tudo era destinado a impressionar sua mãe, orgulha-la. Se seu pai ficasse orgulhoso, sabia que sua mãe também ficaria.

Mas agora, meses depois daquela noite fatídica, nada disso realmente importava mais. Ainda se lembrava com um terror profundo, quando vira seu pai ser executado pelo lorde das trevas em pessoa, como uma punição para ele. Seu pai morrera por causa dele.
Sua visão borrou em lágrimas ao lembrar-se de sua mãe chocada, chamada e forçada a testemunhar aquilo. Depois de tudo ela o encarou e então ele soube que ela havia morrido junto com seu pai. De certa forma não fora surpresa alguma quando ficara sabendo dias depois que encontraram Narcisa enforcada, num suicídio.

E agora Draco Malfoy era órfão. Como aquele odiado Potter.
Aliás, tudo era culpa daquele maldito. Pelo menos isso era o que o loiro queria ferventemente acreditar. Que tudo que lhe aconteceu de ruim fora única e exclusiva culpa do grifinório metido a herói. Pensar naquilo aliviava um pouco sua dor.

Porque se lembrara da música que sua mãe lhe tocava mesmo? Ah, sim. Era tudo de bom que lhe restara, enquanto encarava as paredes frias da sua cela, as dimensões daquele granito a sua volta, a escuridão que lhe cercava, fria e implacável.
Draco já perdera a conta de quantos dias estava lá, logo depois que acharam o corpo de Narcisa. Lembrava-se bem como sua tia Bellatrix lhe contara o que acontecera, um brilho quase desdenhoso e cruel em suas orbes. Sua tia detestava os fracos, não importando quem eles fossem. Tinha uma devoção quase cega a Voldemort, acreditando e seguindo todos os seus passos.

A música. Tinha que ficar repetindo-a na cabeça, pois corria o risco de esquece-la. E então, afundaria-se naquela escuridão de vez. Enlouqueceria de vez como sua mãe e talvez se mataria como ela.
Não sabia como, já que estava num local apenas revestido de pedras e usava apenas uma veste amarrotada e rasgada, suja. Seu rosto, sempre tão lindo e aristocrático, estava cheio de arranhões e um corte no lábio inferior. Cortesia das torturas de Fenrir Greyback.

Só de pensar naquele nome seu corpo todo se arrepiava de medo. Voldemort era inteligente. Diziam que seu poder provinha do medo que inspirava a seus seguidores. Ele era inteligente porque conseguia descobrir o que amedrontava aqueles a sua volta e usava como uma arma poderosa.
Aliás ele não sabia como não saíra mais machucado das ‘sessões’ com o lobisomem, ou pior, mordido por ele.

Bom, talvez soubesse. Severus Snape. O seu ex-professor de poções estivera em todas essas sessões e, de uma maneira ou outra, conseguira frear Fenrir de ir mais longe com os machucados.
Aliás, Snape era algo além da sua compreensão. Ao mesmo tempo em que ele o ajudava, ele era tão frio e calculista quanto os outros Comensais. Não sabia porque, a razão dele protege-lo de tudo e todos.


- Draco!
Seu nome sendo pronunciado numa exclamação, após tantos dias com apenas seus pensamentos, o alarmou. Ele recostou-se a parede, numa vã tentativa de proteger-se. A porta de ferro da sua cela abriu-se e o loiro pode ver a silhueta do homem alto e moreno contra a luz que o ofuscava.
- Snape?
- Anda, levante-se. – disse o ex-professor, estendendo a mão – Eu vou te tirar daqui essa noite.
- O...quê?! – gaguejou o sonserino surpreso.

Sem esperar pelo jovem compreender qualquer coisa, Severus agarrou-o pelas vestes, puxando-o para fora da cela, arrastando-o pelos corredores iluminados por archotes. Draco se encolhia e tapava os olhos, que machucavam com a claridade, depois de tanto tempo na escuridão.
Quando chegaram ao lado de fora da fortaleza-prisão, a lufada de ar frio em sua pele foi extasiante. Ele ergueu os olhos para o céu, estrelado e com a lua cheia. Não imaginava que um dia adoraria estar ao ar livre.
- Vá. – disse Snape, empurrando-o, entregando-lhe apenas uma capa para se proteger do frio noturno.
- Porque? – disse, seus olhos azuis o encarando.
O ex-professor de poções encarou-o por cinco segundos antes de responder.
- Eu prometi a sua mãe.
Draco arregalou os olhos e quando Snape deu mais um aceno de mão, ele começou a virar-se de costas para ele, correndo sem olhar para trás, tropeçando vez ou outra, devido aos seus pés machucados.

O loiro não soube dizer quanto tempo estava correndo, fugindo fervorosamente. Agora que sentia o ar fresco entrar em seus pulmões, seu cérebro trabalhava a todo vapor. Ele não teria ajuda de ambos os lados. O Ministério o procurava. Os Comensais o odiavam, tanto quanto o lorde das trevas em pessoa. Não tinha mais ninguém a quem recorrer, já que sabia que o ex-professor de poções fizera aquilo às escondidas de Voldemort, apenas para honrar a promessa a sua mãe.

Para onde iria então? Onde estaria a salvo? Um leve ataque de pânico começou a se instalar no seu ser, mas ele refreou antes que tomasse conta de si. Aquilo não era hora para se desesperar, ele era um Malfoy! Conseguira escapar das garras do lorde das trevas, agora era só questão de se proteger até a guerra acabar...independente do resultado.
Ao pensar naquilo, o loiro sorriu. Descobrira o lugar aonde iria. O lugar que iria lhe proteger, e que ninguém sequer pensaria em procurar por ele.

Agora era questão de dias até chegar lá.

-----

- E aí, encontraram alguma coisa?
- Nada e vocês?
- Nada. – disse Harry desanimado, sentando na poltrona localizada no quarto de Hepzibah Smith.

Eles já haviam revirado aquela casa de ponta cabeça, e tudo que encontraram foram montes e mais montes de antiguidades. Selene estava encostada a porta, parecendo meditar onde mais deveriam procurar. Hermione estava na cama e Ron observava as prateleiras daquele quarto.
- Minha informação não pode estar errada. Deve ter algo que estamos deixando passar. – murmurou a morena, a ponta da trança em seus dedos.
- Talvez tenha alguma espécie de esconderijo nessa casa? Ouvi dizer que casas antigas bruxas possuem muitos atalhos e passagens secretas. – comentou Hermione.
- Numa de suas leituras você poderia ter lido como ativa-las. – comentou o ruivo irônico, agora olhando os livros da prateleira – Vejam, ela adorava Quadribol? Nunca imaginei uma velha gostando de quadribol.
- Ron! – exclamou a garota numa censura.
- Desculpa. A Sra. Smith. – reformulou o grifinório.
- Ela não deixa de ter razão. – comentou a mais velha – Deve ter algum esconderijo aqui, o único problema é como vamos acha-lo.

Harry observava tudo enquanto repassava as possíveis horcruxes que estavam destruídas ou precisavam ser. Qual delas encontrariam nessa casa? Será que encontrariam alguma nessa casa?
Um rangido forte e seco chamou a atenção de todos. Os olhares voltaram para Rony, que segurava o livro sobre Quadribol nas mãos.
- Eu não fiz nada. – defendeu-se o ruivo.
A morena desencostou-se da porta e foi até a prateleira, olhando por trás dela. Ela sorriu largamente.
- Você é um gênio Ronzinho.
Ela retirou a varinha e murmurou algo, mas nada aconteceu. Franzindo o cenho, ela suspirou.
- Parece que a prateleira está encantada. Isso só reforça a idéia de que Ron achou nosso esconderijo secreto. – Ela guardou a varinha nas vestes – Vamos ter que move-la no braço mesmo.

Os três adolescentes se levantaram e foram ajuda-la. Após longos minutos empurrando o pesado móvel de mogno, eles puderam ver claramente uma fenda baixa e pequena na parede.
- Vamos ter que ir um por vez.
- Eu vou na frente. – anunciou Harry se aproximando, não permitindo recusa dos outros.
- Muito bem. Vamos lá.

O grifinório só torcia que aquela busca não se provasse infrutífera como a viagem até a caverna atrás do medalhão de Salazar.

CONTINUA

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