DÚVIDAS, PESADELOS E AULA DE P



CAPÍTULO 4.

" DÚVIDAS, PESADELOS E AULA DE POÇÕES "


~ 04 de setembro de 1991.


Dizem que uma pessoa é capaz de sobreviver até 11 dias sem dormir.

O Lorde das Trevas costumava usar a privação de sono como método de tortura. Ou de interrogatório, como ele chamava.

Depois de alguns dias sem dormir, a mente do prisioneiro começava a nublar, seu espírito atormentado parecia à beira da loucura, ou da morte, suas pernas completamente fracas e instáveis. Por fim, só sobrava um desejo: dormir...

Nem a fome, nem a sede extrema parecem ser comparáveis a essa sensação.

Depois de três noites sem dormir, eu posso dizer que sei exatamente do que se trata.

Nas duas últimas noites, logo em seguida ao banquete de boas-vindas, fiquei andando de um lado para outro, durante praticamente toda a madrugada.

Preocupações demais, perguntas demais. Aquele garoto aqui na escola. E aquela maldita Pedra Filosofal para proteger.

Dumbledore tinha pedido a alguns dos principais professores que criassem, cada um, um feitiço especial de proteção. Que fosse especial e único, para aumentar a proteção do esconderijo da pedra.

Isso foi até útil, na verdade. Pude aproveitar essas duas noites insones terminando a minha criação: um desafio de lógica envolvendo Poções. E, depois, instalá-lo no terceiro andar.

Aí, ontem pela manhã, fui procurar Dumbledore, a pretexto de anunciar que a minha parte estava concluída. Eu estava ansioso, agitado, sem saber muito bem o que fazer.

O diretor, no entanto, parecia incrivelmente tranqüilo. Sentado, lendo o número mais recente da "Wizards' Health". Como antes, como se nada tivesse acontecido.

- Bom dia, Severo...

Ele me cumprimentou sem tirar os olhos da revista. Mesmo assim, eu fiz a minha reverência de costume.

- Bom dia, Professor. Vim comunicar que concluí a minha parte...

- Ah, eu sei, Severo! E o fez brilhantemente, devo dizer... Brilhantemente!... Muito bem... Aceita uma xícara de chá?

Ainda sem desviar o olhar da revista, ele abriu um sorriso satisfeito. Em seguida, começou a servir duas xícaras de um chá fumegante que havia acabado de conjurar.

Eu tento não me espantar mais com o quanto Dumbledore sabe, ou com a rapidez com que ele fica sabendo de tudo... É um esforço inútil, ele sempre me surpreende.

Quanto à necessidade compulsiva de me servir alguma bebida, sempre que nos reunimos, eu já me acostumei.

- Professor... Se o senhor me permite, eu preciso perguntar...

- Sim?

- O senhor... Bem, o senhor pediu Feitiços de Segurança Máxima para mim, para Minerva, para o professor Flitwick...vários de nós, enfim. Professor, o senhor, por acaso, imagina que a Pedra ainda não está a salvo? Mesmo estando escondida aqui, no Castelo? Com toda a segurança de Hogwarts? A ponto de precisar de tanta segurança extra? Isso significa que... o senhor desconfia... O senhor acha que alguém seja capaz de ...

- Severo...

Ele fechou a revista. Deu um suspiro e me encarou, muito sério.

- ... Veja bem... Não sabemos ainda com o que, ou com quem, estamos lidando. Mas, eu tenho certeza de que você já percebeu, alguma coisa muito estranha está acontecendo, não é? Alguma coisa... diferente. Não nos custa nada dar a quem quer que esteja atrás dessa Pedra um pouco mais de trabalho, não é?

- Sim, sim... claro. Mas... desculpe a insistência, Professor, mas... O senhor acredita que esse bruxo... essa pessoa que está atrás da Pedra... seja o Lorde das Trevas? Que ele esteja de volta?

- Bem, Severo... Só posso especular a esse respeito, por enquanto, na verdade. Mas, veja bem... Levando em conta tudo o que você me contou sobre o que aconteceu naquela noite em Godric's Hollow... O modo como Voldemort desapareceu, sem deixar um corpo, sem deixar vestígios... Depois de tudo o que sabemos sobre a obsessão de Voldemort em escapar da morte...

Deu um novo suspiro, fazendo uma pequena pausa. Parecia escolher as palavras mais adequadas e então continuou:

- Bem... Você sabe que o meu palpite sempre foi que Voldemort não morreu naquela noite. Quero dizer, ele não foi derrotado, destruído, definitivamente. Ah, sim, eu estou certo disso.

- Sim, mas...

- Ah, eu sei... Ele sofreu uma grande derrota, com certeza. Uma derrota que o enfraqueceu muito. Deixou-o tão fraco que ele não conseguiu voltar até agora. Pelo menos, não detectamos nenhuma tentativa durante esses últimos dez anos.

- O senhor acha que ele pode ter conseguido... voltar... sem que ficássemos sabendo? Que possa ter sido o próprio Lorde das Trevas quem atacou Nicolau Flammel... que entrou em Gringotes?

- Não. Continuo acreditando que ele ainda não conseguiu retornar. Portanto... não, eu não acho que foi ele quem atacou Nicolau e Perenelle. Nem foi ele que invadiu Gringotes... Não, não temos nenhum indício de que ele tenha conseguido recuperado algum poder. Mas, sendo um bruxo inteligente como é, ele sabe que a Pedra Filosofal tem o poder de produzir o Elixir da Vida. E que, com esse Elixir, ele pode recuperar um corpo físico novamente... Então, essa pedra seria muito valiosa para ele. Valiosa o suficiente para que alguém, a seu serviço, fosse atrás dela... Um bruxo das Trevas, cruel... Alguém disposto a tudo, capaz de torturar velhos alquimistas e invadir Gringotes...

- A minha dúvida, então, Professor, é: quem é essa pessoa? Quem é esse bruxo das Trevas? Poque pelo que estive investigando, não é nenhum dos antigos seguidores, dos nossos velhos conhecidos... Eles nem mesmo acreditam na possibilidade do retorno de Voldemort. Então, parece que estamos diante de um seguidor de Voldemort que ainda não conhecemos...

Dumbledore ouviu aquilo com o olhar distante. Lá fora, através dos janelões da sala do diretor, podíamos ver as novas turmas de alunos, naquele alvoroço típico de início de ano letivo.

- Pois é, Severo... Por enquanto, tudo o que podemos fazer é prestar atenção. Ficar muito atentos. Estamos diante de um enigma, por enquanto...

Ele deu um suspiro, e completou:

- Às vezes eu tenho a impressão de que pode haver alguma coisa a mais, que me escapa...

Claro, eu entendia as implicações do que ele havia dito. Pedi licença e me retirei sem ruído, deixando-o entregue aos seus pensamentos. Eu também tinha que pensar.

Insegurança, perigo, desconfiança, traição. Todos os ingredientes tão familiares na minha rotina de uma década atrás, estavam de volta.

Mas não era esse o motivo da minha insônia, eu sabia. Não era o único, pelo menos. Nem o mais importante.

A chegada do garoto tinha mudado tudo. Desde que eu o vi no banquete, desde o Chapéu Seletor, uma espécie de reservatório lacrado de lembranças, emoções, sentimentos... tinha sido aberto. E estava sendo difícil impedir que tudo isso invadisse o meu dia-a-dia e impedisse o meu auto-controle, tão duramente conquistado.

Hoje, eu já estava exausto. Cansado, sem conseguir trabalhar, nem pensar direito.

O álcool não é uma opção. Por isso, eu estou preparando uma Poção Calmante para essa noite. Do contrário, serei capaz de confessar qualquer coisa em troca de algumas horas de sono.



~ 05 de setembro de 1991.


OK, eu tomei uma Poção Calmante na noite que passada. Uma poção leve, porque não aguentava mais. Precisava de descanso, precisava dormir.

Mas eu devia ter previsto os efeitos colaterais.

O controle que eu conseguia manter durante o dia, era impossível durante o sono, dentro dos sonhos. E o desgaste físico e emocional só fazia com que os sonhos se tornassem mais vívidos.

E então, quando eu finalmente dormi, sonhei.

Eu estava lá em Godric's Hollow, parado na frente do jardim da casa dela.

Era uma manhã ensolarada e Lílian cuidava do jardim. Como uma trouxa, remexia a terra em volta das flores. Sentada displicente, cercada por flores, iluminada pelo sol. Tinha aquele mesmo chapéu de palha, enorme e ridículo, na cabeça, meio tombado de lado, e luvas amarelas. Os cabelos vermelhos esvoaçavam de leve, alguns fios mais rebeldes escapavam do chapéu e ameaçavam cobrir seu rosto. Distraída, num gesto displicente, ela tirou o cabelo dos olhos com as costas das mãos, sujando a bochecha de terra.

Como parecia feliz! Por Merlin, como ela estava linda! Era exatamente a imagem que eu tinha guardada na memória.

Eu me mantinha à distância, em silêncio, admirando a cena. Mas eu acho que ela pressentiu a minha presença, de algum jeito. Levantou o rosto na minha direção e me viu.

E então, como só nos meus sonhos isso é possível, abriu um sorriso caloroso, convidativo, cheio de amor. O mesmo amor que eu sentia transbordando em mim.

Ela se levantou e veio caminhando na minha direção. Sem dizer nada, quase correndom, os braços abertos para me abraçar. Estávamos tão próximos, agora, que eu podia sentir meu corpo vibrar com a antecipação do encontro.

Quando nos abraçamos, eu me inclinei, com a intenção de lhe dar um beijo de leve. Eu queria sentir o perfume dos seus cabelos, queria sentir o calor do seu corpo abraçado ao meu. Queria a doçura, o carinho.

Mas ela me puxou num abraço mais apertado e quente, e, antes que eu me desse conta, o beijo se tornou mais intenso, profundo, faminto. Eu podia sentir o meu corpo todo incendiar de desejo, com a necessidade urgente de XXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXX

XXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

XXXXX mais e mais. Eu estava sendo devorado pelo desespero. Estava a ponto de me perder no maremoto das minhas próprias necessidades, equilibradas por outras igualmente insaciáveis...

... Só que aí, então, eu acordei. Suando, coração disparado. Meu corpo todo empapado de suor e dolorido de desejo. Ardendo, queimando, como se estivesse com febre. Tonto, cheio de dor e de saudade.

Saudade do que nunca tinha tido, do que nunca tinha acontecido, o que é pior. Deprimente.

Aquele sonho parecia uma maneira tosca do meu inconsciente de tentar transformar, pela repetição, pela riqueza de detalhes, de sensações... daqueles beijos, daquelas carícias... tudo aquilo que nunca aconteceu, a não ser nas minhas fantasias mais secretas, em verdade.

Ah, Merlin... Que inferno! Aquilo era pior do que tortura.

Se eu não a amasse tanto, seria capaz de odiá-la por causar esse efeito em mim.

Como alguém pode funcionar depois de uma noite como essa?


[1997] Relutei muito em deixar essas observações para você. Não cheguei a uma conclusão, se isso tudo pode ou não ser útil a você de alguma forma. Os espaços riscados e as folhas arrancadas, no entanto, continham descrições explícitas o suficiente dos meus sonhos para tornar a sua leitura desagradável, inconveniente. E totalmente desnecessária ao seu conhecimento.

Para a sua compreensão melhor:

Realmente, eu vi sua mãe, no jardim de Godric's Hollow, um ou dois dias antes da sua morte. Claro, o encontro foi completamente diferente do meu sonho. Não vou falar sobre isso. Não agora.

Parece cruel, saber como eu me sentia? Ora, você me conhece, não é? Eu sempre acreditei num pouco de crueldade como parte do aprendizado.

O pouco que você teve de proteção contra a crueldade da vida real, é isso o que pode enfraquecê-lo e impedir que tenha sucesso na sua missão.

Desde o início, eu prometi entregar, nesses manuscritos, a verdade. Nem mais, nem menos.



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Atordoado. Completamente atordoado. Essa era a melhor definição o estado em que Harry estava, depois de ler aquela parte. Parou ali e fechou com raiva o primeiro volume dos manuscritos.

Já estava amanhecendo. Harry tinha passado quase a noite toda lendo aquele diário, perdendo a noção do tempo. E agora, exausto e confuso, ele não sabia se acreditava no que tinha acabado de ler.

Na verdade, seria bem melhor se ele não acreditasse. Mas ele tinha visto todas aquelas lembranças de Snape na Penseira, logo depois da sua morte. Tinha visto o suficiente para ter certeza de que tudo aquilo escrito era verdade.
Talvez fosse isso o que fazia se sentir ainda pior, horrorizado e infeliz. Era nformação demais.

Conhecer tão de perto a mente conturbada do seu antigo Professor de Poções era uma experiência meio chocante. Era muito estranho. Ele estava se sentindo desconfortável e, sinceramente, envergonhado.

Saber que Snape tinha amado a sua mãe tinha sido só o choque inicial. Naquele diário parecia haver informações além do que ele precisaria (ou gostaria de) saber a respeito da vida emocional, até mesmo sexual... (eca!), de Severo Snape.

O que será que estava escrito no resto? O que Snape queria dizer com “vamos ao que realmente interessa...”? Será que ele tinha deixado alguma informação naqueles manuscritos sobre as horcruxes? Sobre Voldemort?

Mas, agora, para que poderia servir? Depois que tudo já havia terminado, as horcruxes destruídas, Voldemort tinha sido derrotado para sempre... qual poderia ser o benefício de ler aquilo tudo?

Tudo bem, havia aquele monte de insinuações sobre ele ter estado em Godric's Hollow, aqueles comentários "mais pra frente eu conto..." que o deixavam louco.

Valia a pena saber o que Snape tinha escrito? Valia a pena ler o resto?

Quantas outras surpresas indigestas ele encontraria naquele calhamaço de confissões?

Harry estava muito cansado, com sono, confuso e dividido. Apesar de todo o mal-estar, também estava cada vez mais curioso. Resolveu dormir um pouco, e, depois, procurar a única pessoa capaz de ajudá-lo.


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- Harry? HARRY!! Você ainda está ASSIM?? Você está bem??

Harry sentou depressa na cama, assustado e meio tonto. Começou a esfregar os olhos sonolentos e confusos, estranhando o ambiente, tentando se localizar. Enquanto isso, o movimento no quarto continuava.

- Ah, Mione, dá um tempo! Deixa o cara acabar de acordar, primeiro...

- Rony, ele está dormindo há mais de 12 horas seguidas!

Alguém abriu as cortinas, e o sol fraco da manhã de inverno iluminou um pouco o quarto. A ponta de uma varinha se acendeu, iluminando um pouco mais.

Só então ele se lembrou. Tinha cochilado um pouco em casa. Depois, ainda antes do almoço, tinha vindo para a Toca Cansado, tinha finalmente desabado na antiga cama. Se o que Hermione dizia era verdade, ele provavelmente tinha dormido até o dia seguinte, quase 18 horas seguidas...

Harry, então, se sentou melhor na beirada da cama e deu um sorriso, tentando demonstrar que estava acordado e bem.

É claro que isso não fez nenhuma diferença para a bruxa indignada, que continuava a desfiar um sermão à sua frente. Alguma coisa sobre a necessidade humana de comer e descansar adequadamente. Ele não estava mais prestando atenção no conteúdo. Sentia-se incrivelmente bem. Lá fora podia estar nevando, mas ele se sentia invadido por um calor que não era do sol, que dissolvia o aperto em seu peito.

Antes que Harry pudesse abrir a boca, Rony veio em seu socorro.

- Mione... pega leve!! Hoje é Véspera de Natal, está lembrada?

- É claro que eu sei! Caso VOCÊ não esteja lembrado, Ronald Bilius Weasley, hoje é o nosso jantar de noivado... A Andrômeda já está lá embaixo com o pequeno Ted... Meus pais vão chegar a qualquer instante... Nós temos um monte de coisas pra fazer...

Revirando os olhos, por trás de uma Hermione indignada, ele ainda tentou contemporizar:

- Você acha que eu poderia me esquecer do momento mais feliz da minha vida até agora, meu amor? Fica tranqüila... em dois minutos a gente resolve tudo...

- Mas... não é essa a questão, Rony...


Mesmo fazendo força para continuar nervosa, Hermione ficou com as bochechas coradas, não conseguindo evitar um sorrisinho deliciado por ser chamada de "meu amor".

Harry riu da cena, sem nem prestar atenção ao conteúdo da discussão dos dois. Tudo o que ele sentia agora era que, sim, ele estava em família.

- Vamos lá, levante-se, homem! A Gina acabou de chegar...

A ruiva estava parada na porta do quarto, iluminada pelo sorriso.

- Bom dia!

Hermione percebeu a expressão de Harry se transformar, tornando-se cheia de paixão e totalmente alerta. Interrompeu a fala de Rony, cutucando-o sem sutileza.

- Bom, então... Vamos descer, Rony... A gente vai tomando o café da manhã, enquanto esses dois matam a saudade...

Rony não conseguiu evitar uma careta, franzindo a testa. Assistir a sua irmãzinha caçula trocando olhares tórridos
com o seu melhor amigo, dentro da casa dos seus pais, ainda era uma imagem meio desconfortável.

- OK... Mas não demorem, porque senão... a mamãe vai ter um ataque...

Hermione só balançou a cabeça, puxando-o na direção da escada.

- Ah, Rony...

Gina ainda sorria, com uma sensualidade espontânea típica. Entrou no quarto e se sentou na beirada da cama de Harry, ao lado dele.

- E aí, sentiu saudades?

Harry deixou escapar um suspiro, antes de responder com a voz um pouco rouca:

- Muito...

Aproximando-se mais, ela segurou o rosto dele nas mãos, bem junto ao dela. E, num movimento automático, ele se inclinou, tomando os lábios dela num beijo carinhoso, a princípio, mais e mais exigente em seguida. Ele queria muito se afogar naquele beijo, tomá-la nos braços e esquecer de tudo o mais. Mas Gina sentiu alguma coisa diferente na ansiedade dele. Afastou-se o suficiente para interromper o beijo e encará-lo com seus grandes olhos castanhos interrogativos:

- O que foi? Você está ... não sei... preocupado... angustiado com alguma coisa? Qual é o problema? Aconteceu alguma coisa?

Ela o conhecia bem demais. Ele deu um novo suspiro e se afastou um pouco mais, para conseguir se concentrar no que o incomodava.

- Eu... eu recebi uma correspondência da Professora Minerva, há mais ou menos uns 3 dias.

- Ah, é? E o que era?

Harry, então, começou a contar tudo desde o início. Ela já sabia sobre as lembranças de Snape que Harry tinha visto na Penseira, que ele havia deixado antes de morrer. Por isso, já conhecia alguma coisa sobre o amor impossível dele por Lílian. Sobre a vida dupla que Snape tinha levado depois de se arrepender sobre a Profecia.

Mas, quando Harry falou sobre os diários de Snape que tinha recebido, Gina começou a entender porque Harry estava tão angustiado.

A ansiedade impedia que ele ficasse sentado. Ele se pôs a andar de um lado para o outro, passando a mão pelos cabelos despenteados.Resumindo o pouco que tinha lido até agora, já havia um monte de informações novas. Algumas bem chocantes, na opinião dele. Confessou seu desconforto e sua curiosidade. Gina ouviu tudo com interesse paciente, sem interromper.

- ... E eu não sei mais se vale a pena continuar lendo aquilo, Gi... Afinal, tudo acabou, não é mesmo? A Guerra acabou... Voldemort foi derrotado... Tudo isso é passado, eles estão todos mortos... Snape, minha mãe, meu pai, Dumbledore... Sirius, Remo... Então...

- Mas tem uma porção de coisas que você ainda tem vontade de saber, não é? E muitas dessas coisas só os que já morreram poderiam contar... Não é isso?

- É... Acho que, em parte, é isso...

Ele se sentou de novo ao lado dela, mais calmo. Era muito bom poder desabafar. Saber que ela podia entender tão bem o que ele estava sentindo.

- É difícil, Gina... Eu tenho tantas perguntas.. Tanta vontade de saber mais sobre o passado... sobre o Snape... sobre os meus pais...

Gina segurou as mãos dele nas suas e o encarou. Sua expressão séria fazia parecer muito mais velha do que os seus 17 anos. Quando falou, sua voz era tão tranqüila, que Harry teve certeza de que estava diante da pessoa certa.

- Harry... Eu acho que posso entender o que você está sentindo. Você conheceu Severo Snape em vida com o olhar de criança. Sem saber nada sobre o passado, sem ter a menor idéia do que ele sentia ou pensava. Só depois dele morto você pôde entender um pouco do verdadeiro Severo Snape.

Ela fez uma pausa, esperando uma resposta. Mas Harry só aceno em concordância. Então, ela continuou:

- Saber que o Snape que você odiava por todo o tempo de escola era apaixonado pela sua mãe foi um choque. Foi o primeiro choque, na verdade. Descobrir que eles se conheciam desde crianças, eram amigos... e desde aquela época ela já era muito especial para ele...
Uma pausa rápida e ela continuou:

- Ver todas essas coisas na Penseira, e agora ler esses manuscritos... Perceber a intensidade do amor que Snape sentiu por ela, durante toda vida... É, eu imagino que deve ser muito desconfortável pra você.

- É, com certeza!

- É difícil, eu sei, mas ajuda a entender o passado, Harry. Você já sabia que Snape odiava você, não é? Só que tudo parecia tão... injusto. Tão aleatório. O fato de você ser tão parecido com seu pai, como todos dizem... O fato de Tiago Potter, o seu pai, ter conseguido conquistar o amor da vida dele... Não faz muito mais sentido todo o ódio que ele sentia por você, agora? Harry, ele amou sua mãe mesmo depois dela ter se casado com outro, com o homem que ele detestava... Mesmo depois dela ter morrido...

Ela deixou escapar um suspiro.

- Isso tudo é tão...Toda essa história dele, Harry, é tão triste! Tão... humano! Acho que gosto do Snape, depois de conhecer essa história toda.

- Ah, não sei... Eu às vezes acho que seria um cara bem mais feliz se continuasse um completo ignorante sobre as coisas que o maluco daquele Snape escreveu nesse Diário...

- Tudo bem. Eu entendo que essa história toda sobre ele e a sua mãe é muito ... esquisita. Eu fico imaginando... Se eu lesse, um dia, as fantasias romântico-sexuais de algum cara a respeito da minha mãe... Ai, ia ficar meio... muito...esquisita, eu sei. Mas... se você tentar esquecer que ela é sua mãe...

- Ah, fala sério, Gina!

- É sério, Harry! Você podia tentar, pelo menos. Entender, perdoar o cara. Pensa bem... ele enfrentou o diabo para manter o disfarce até o fim. Enfrentou tudo, preconceito, desconfiança e, mesmo sem que ninguém soubesse, se manteve fiel a Dumbledore até o final. Teve um único amor na vida... e esse amor foi impossível... E continuou amando a mesma mulher, com a mesma intensidade, mesmo depois dela ter morrido, por mais de uma década! Harry, isso é muito romântico... e triste! Não é à toa que ele era tão amargo... No fundo, ele foi uma figura trágica, dramática, não é? Uma espécie de herói. E sem nenhum reconhecimento em vida...

Como ele nada respondesse, ela continuou:

- Ah, Harry! Isso tudo não te deixa, meio assim... com pena dele? Não exatamente pena... Compaixão seria a palavra certa. Porque dá pra entender, tentar se colocar no lugar dele.

- Mas eu não sei se quero entender mais do que já entendi até agora...

- Pensa bem! Essa é uma chance única de você, finalmente, entender o que esse cara pensava, porque agia do jeito que agia... porque fez tudo o que fez. E, quem sabe, se você achar que deve... Redimir o cara, de vez.

Harry não disse nada. Suspirou, desviando o olhar, ainda angustiado. Ela continuou a argumentar:

- Veja bem... Talvez não fosse esse o objetivo principal do Snape ao mandar esse diário pra você. Mas, no final, acho que ele também queria ser compreendido. Ser aceito, redimido, por mais alguém, além de Dumbledore. Afinal de contas, com Dumbledore morto, acho que, no fundo, ele tinha medo que ninguém nunca soubesse quem ele era de verdade. O que ele sentia e pensava...

Harry continuava com o olhar distante. Mas parecia menos dividido, mais pensativo. Ela aproveitou para concluir seus argumentos:

- Ah, e você não fica curioso com o tanto de informações que podem estar aí ainda? Essa história de que o Snape esteve em Godric's Hollow, por exemplo? E todas as conversas que ele teve com Dumbledore? Tudo bem... eu poderia viver sem saber certos detalhes sobre a mãe do Draco...

Os dois riram, aliviando um pouco a tensão. Mas Harry voltou a ficar sério:

- Pois é... Mas o problema é que... O que me deixa um pouco incomodado, também, é... ler sobre essas pessoas... Todas as pessoas... Na visão do Snape. Algumas eu nem cheguei a conhecer direito...

Ela entendeu o que estava por trás daquele comentário:

- Você tem medo do que vai ler sobre seus pais. Afinal, vai ter só a versão de Snape dos fatos. E Snape odiava o seu pai. Depois daquele lembrança do tempo de escola, você tem medo... de se decepcionar?

- Ah... não sei.

- Harry, escuta uma coisa. É muito difícil, quando a gente cresce, perceber e aceitar que os nossos pais não são aqueles super-heróis perfeitos que a gente imaginava que fossem. Descobrir alguma falha, um defeito. Eu sei. E no seu caso, é muito pior, muito mais complicado. Porque você praticamente não conheceu os dois. Tinha só uma imagem idealizada dos jovens corajosos, os heróis que morreram lutando contra o mal, quando você ainda era um bebê. Ei, olha pra mim...

- Hmm.

- Harry, ninguém aguentaria sustentar essa imagem na vida real. Eles eram pessoas normais, como eu e você, com qualidades e defeitos. Os dois se amavam, todo mundo garante isso... até mesmo o Snape. E os dois amavam muito você. Qualquer coisa que você possa encontrar escrita nesses diários sobre o seu pai... tenha em mente que Snape tem uma visão parcial, muito prejudicada, no que diz respeito a ele. Nenhum dos dois era perfeito. Um era mieo que o oposto do outro, e acho que se detestavam igualmente. Mas, provavelmente, os dois foram homens excepcionais... disputando o amor de uma garota muito especial.

Ela se aproximou e segurou novamente as mãos dele. Encarou-o, os seus grandes olhos castanhos, cheios de emoção, mergulhando profundamente nos dele.


- Acho que devem ser esses olhos. Esses olhos verdes devem ter algum tipo de feitiço especial, só pode ser... Pode apostar... Porque eu não posso olhar para eles sem me derreter toda, também...

Harry sorriu e ela lhe deu um beijo. Depois continuou:

- Eu tenho uma idéia. Vamos ler juntos um pedaço desse Diário, enquanto eu estiver aqui. Que tal? Pode ficar um pouco mais fácil... Eu acho que talvez você encontre nesses manuscritos as respostas para as dúvidas, as questões que ainda estão mal resolvidas... Talvez ainda falte isso para você conseguir ter paz, de uma vez por todas...

Ele a puxou num abraço apertado.

- Gina... Eu já te disse o quanto eu te amo?

Ela apertou o abraço, mas depois se soltou, as bochechas coradas e os olhos brilhando. Sorrindo maliciosa, respondeu:

- Hmmm... Falar é fácil, Sr. Potter. Quero que você me mostre o quanto, mais tarde... Agora vamos descer para o café antes que o Rony volte aqui com alguma coisa sutil como um extintor de incêndio, por exemplo...

Ele deu uma risada, e os dois desceram, de mãos dadas.

- Ei! Eu já te contei que fui convidada para jogar com as Holyhead Harpies?

- Sério? E você está pensando em aceitar?

- Claro! Nem que seja por um ou dois anos... Eu quero sentir o gostinho de ser jogadora profissional... antes de assentar, virar uma mulher responsável, casada e mãe de família...



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Harry queria estar com os Weasley. Aquele ano tinha sido difícil para eles. Esse seria o primeiro Natal da família sem Fred. Além das ausências de Remo e Tonks...

Agora, depois do jantar de Natal, sentado com Gina deitada no seu colo, Harry olhou em volta.

Andrômeda tinha vindo passar as festas com eles, trazendo o pequeno Ted. Agora, com o bebê mamando tranqüilo no seu colo, enquanto Fleur balançava um brinquedinho para distraí-lo. Encantada com as mudanças de cor dos cabelos dele, comentava a sua vontade de ter logo um bebê também.

Aos poucos, os casais haviam se acomodado para ouvir o rádio. Lá estavam, ao seu lado, Rony e Hermione, muito próximos, sussurrando segredinhos e rindo.

Mais à frente, Jorge, ainda abatido, apoiava a cabeça no colo de Cátia Bell. Elae alisava seus cabelos, num silêncio carinhoso. Ao lado deles, o Sr e a Sra. Weasley, estavam de olhos fechados, abraçados. Pareciam ser os únicos a acompanhar a música do rádio.

No sofá, o Sr. e a Sra. Granger pareciam se divertir imensamente experimentando os feijõezinhos de todos os sabores, trocando impressões sobre os doces.

Ele percebeu que aquela sempre tinha sido a sua família. E agora, mais do que nunca. Ele nunca mais ficaria sozinho.

Gina se levantou.

- Vamos lá, Harry. Vai lá pegar o diário e vamos ler um pedaço, começando de onde você parou...


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~ 06 de setembro de 1991.

Eu não tinha muita certeza se tinha valido a pena dormir na noite anterior. Aquele sonho tinha me deixado péssimo. Mal-humorado, ansioso, irritado. Fisicamente dolorido.

Eu estava esgotado, física e emocionalmente. E sabia que na manhã de hoje teria a primeira aula de Poções do garoto. Tinha que dormir. Na noite de ontem, tudo o que eu queria era o descanso de uma noite de sono sem sonhos.

Preparei uma Poção mais forte dessa vez. Não sei como mas, de alguma maneira, esse acabou sendo um erro ainda maior.

Porque sonhei de novo. E, se eu pensava que o sonho anterior tinha sido o pior tormento possível, eu não sabia de nada.

Dessa vez, no sonho, estávamos, eu e Lílian, num bosque.Só nós dois, no meio da noite, a luz do luar como única iluminação.

Estávamos frente a frente, nos encarando, em silêncio, num clima estranho. Como dois lutadores que se estudam, cada um do seu canto do ringue, antes do próximo movimento. Lílian quebrou o silêncio, começando a gritar furiosa:

- Seu idiota, arrogante, cego! Eu amava você! Eu amei você desde criança! E o que você me deu em troca? O que eu recebi? Você mergulhou nas Artes das Trevas... Se enturmou com aquela gangue de Sonserinos nojentos... Você se tornou preconceituoso contra bruxos como eu, que vinham de família trouxa. Não soube valorizar o que tínhamos... Cego pela ambição, pela inveja... Ingrato! Preconceituoso! Quando eu defendi você, quando tentei proteger, ajudar você... você me xingou de Sangue-Ruim!

- Não! Lílian, por favor, me perdoa! Eu já te pedi perdão, tantas vezes... eu...por favor...

- Por favor? Será possível que você ainda não entendeu, Severo? Depois de todos esses anos? Ah, Severo...

Para o meu maior espanto, ela se atirou sobre mim, jogando os braços em volta do meu pescoço, colando o corpo no meu. Era mais do que um abraço, tão íntimo que provocou em mim o mesmo calafrio que eu percebia nela.

- Ah, Severo... Eu vejo você nos meus sonhos... – Lilian sussurrava. – Escuto a sua voz dentro da minha cabeça. Acho que nunca deixei de te amar... Mesmo quando você destruiu meu coração... Mesmo depois... Mesmo quando você me traiu..

A emoção daquilo fez com que uma onda de choque e vergonha me invadisse, mesmo ali no sonho. E eu a soltei e nós voltamos a nos encarar. Os dois com a respiração difícil, ofegantes, como se tentássemos recuperar o fôlego.

- E se eu lhe disser para ir embora, agora? – Lilian perguntou, levantando o rosto até que nossos olhos se encontrassem. – Se eu exigir que você nunca mais ponha as mãos em mim?

Eu agarrei os seus cabelos com paixão, disposto a implorar.

- Não faça isso... Eu não vou agüentar, Lílian. Fique comigo agora, ou me amaldiçoe para sempre!

Ah, como eu queria tocá-la... Acariciar aquela pele suave...Mas quando as minhas mãos sedentas já buscavam a carne quente e macia dela, quando já começava a saboreá-la, usando aquelas sensações deliciosas para me abastecer... Ela se afastou, me empurrando com as mãos no meu peito e os olhos verdes transbordando de lágrimas e me encarando com uma expressão de dor.

- Não, Severo. Agora é tarde demais.

- Não, não é tarde... Lílian... Eu te amo. Eu sempre vou te amar...

- Por que, então, Severo? Por que você me traiu? Por que você colocou o Lorde das Trevas para me caçar... para me matar? Por que, se eu te amei tanto? Eu te amava tanto... Por que você fez isso comigo?

- Não!! Não, Lílian...por favor... Me perdoa!

- Você condenou o meu filho à morte. Por que o meu filho, Severo? Por que matar o meu filho? Um bebê...

- Não! Eu não sabia!! Não, Lílian... por favor... Acredite em mim, eu não sabia!! Eu não imaginava... Me perdoa!!

- Você não entende, não é? Ah, Severo... O Harry... O meu filho...

Ela se afastou um pouco mais, interrompendo-se. As lágrimas agora corriam livres pelo seu rosto. Eu desviei o olhar como se aquelas lágrimas dela fossem indecentes. Lílian parecia hesitar. Ela se aproximou e segurou o meu rosto, me forçando a encará-la.

- O Harry…

Ela falava com voz baixa, quase um sussurro.

- ... Ele não é filho de Tiago...

- Como é?

- Não, o pai do Harry... não é o Tiago. O pai dele é você, Severo!

- O QUÊ??

- Você precisa saber...antes que seja tarde demais. Você é o meu grande amor, Severo. Sempre foi, sempre vai ser. Todo o resto... foi só uma ilusão. Eu nunca iria admitir isso, nem pretendia procurar você... nunca mais. Mas então eu soube... Ah, Severo!

Eu não conseguia dizer nada, engasgado, perplexo e incrédulo.

- Quando eu soube que Lorde Voldemort colocou os Comensais da Morte atrás do meu filho... do nosso filho... eu sabia que tinha que contar a você, e pedir a sua ajuda... Eu vou morrer. Eu sei que eu vou morrer. Salve o nosso filho, Severo... Salve o Harry... Só você pode...

- Você está ficando louca... Não fale besteira! Isso tudo é um... absurdo... é mentira... Mentira!

- Você sabe que não, Severo... Olhe bem dentro de você... Você sabe a verdade... Você sabe que é tudo verdade!

- Não!! Não, não pode ser... não...

- Você nos traiu, Severo... Você me traiu... Agora... eu vou morrer. Você me matou, Severo. Isso eu posso até perdoar... Mas não deixe que matem nosso filho! Proteja o Harry...proteja o nosso filho!

A voz dela estava falhando, cada vez mais fraca. Eu vi o brilho dos seus olhos se apagando... Desesperado, agarrei-a pela cintura, abraçando-a de novo. Mas senti seu corpo mole e pesado.

Minhas mãos estavam ficando molhadas. Quando eu olhei, vi que o sangue jorrava do corpo dela, encharcando as minhas mãos, as vestes dos dois, tudo à nossa volta... Eu queria gritar, correr, pedir ajuda, qualquer coisa... mas parecia estar pregado no chão.

- NÃO!!!

Eu acordei com o meu próprio grito no escuro. Suando, levantei da cama, nauseado, tonto, e fui vomitar no banheiro. Atordoado, meu mal estar suavizado pelo anonimato da escuridão da madrugada.

Aquele sonho... O que era aquilo? Tudo tinha sido tão nítido, tão real, tão... cruel. Todo aquele desespero, aquele horror... Aquilo continuava me perseguindo, mesmo depois de acordado.

Fiquei um bom tempo andando de um lado para o outro, no escuro, tentando esfriar a cabeça. Tomei um banho gelado.

Depois, resolvi tomar só um café preto, sozinho, nas Masmorras, ao invés de subir para o café-da-manhã no Salão.

Foi então que tive a idéia de escrever nesse diário, detalhar o sonho.

Expurgar, numa catarse. Quem sabe assim, recuperar o controle para me preparar para o que me esperava logo pela manhã: Aula Dupla de Poções com os calouros da Grifinória e da Sonserina.

Oceano - Djavan

Assim que o dia amanheceu
Lá no mar alto da paixão
Dava pra ver o tempo ruir
Cadê você, que solidão...
Esquecera de mim?

Enfim, de tudo que há na terra
Não há nada em lugar nenhum
Que vá crescer sem você chegar...
Longe de ti tudo parou...
Ninguém sabe o que eu sofri...

Amar é um deserto e seus temores
Vida que vai na sela dessas dores

Não sabe voltar, me dá teu calor!
Vem me fazer feliz porque eu te amo!
Você deságua em mim e eu oceano
Esqueço que amar é quase uma dor...
Só sei viver se for por você!



~ ... mesmo dia, 21h


Primeira aula de Poções da nova turma de calouros da Grifinória e da Sonserina. Meu humor estava péssimo depois da noite que eu tive, minha disposição para enfrentar essa nova horda de calouros era nula.

Ser professor nunca foi fácil. Não era exatamente o que eu esperava quando aceitei o trabalho. E a minha expectativa inicial já era meio baixa...

Mas já que era esse o único jeito de continuar vivendo, com o tempo, eu resolvi me adaptar. Sou um homem pragmático, acima de tudo.

Então, fui tratando de me adaptar e a me encaixar na rotina do Castelo. Depois de um tempo, passei a me sentir quase confortável. A tranqüila solidão das masmorras. Eu fui encontrando paz naquilo que eu fazia.

E não era só isso. Pela primeira vez, eu tinha a chance de impor a minha visão de justiça. Era eu quem estabelecia quem devia ser punido e quem seria recompensado. Os alunos eram insolentes, malcriados? Eram idiotas metidos a engraçadinhos? Eu impus a minha autoridade. Eu impus disciplina. Eu podia EXIGIR dedicação à minha matéria, EXIGIR respeito.

E se havia uma coisa naquele serviço que me dava prazer era saber que agora era EU quem tinha controle sobre os alunos. Eu tinha o poder sobre eles. E que, se alguma coisa me deixasse irritado, com raiva ou desapontado, eu sempre tinha a possibilidade de descontar nos alunos.

Eu tentava, sempre, ficar satisfeito em fazer o que fazia, ficar em paz.

Mas era impossível deixar de sentir como se milhares de estilhaços de guerra me atingissem, a cada novo ano, a cada nova turma. Ao enxergar, nos novos rostos infantis dos calouros, as sombras do meu passado que voltavam para me perseguir.

Eu revia as minhas vítimas ali, todos os anos. Seus órfãos, sobrinhos, netos, afilhados. Em cada um deles eu podia adivinhar uma acusação muda, uma cobrança sutil.

Essa nova turma não era muito diferente. Mas era muito pior.

Ali estavam, de um lado, os rostos pré-adolescentes dos filhos dos meus antigos Companheiros no crime, meus amigos de fachada, dos ex-Comensais mais próximos. Draco Malfoy, Vincent Crabbe, Gregory Goyle, Theodore Nott.

E, do outro lado, dessa vez, estavam os meus piores fantasmas.

Neville Longbottom. O filho de Alice e Frank Longbottom. O outro menino nascido no final do sétimo mês daquele ano maldito.

Mesmo antes de ler seu nome na lista de presença, ao vê-lo eu não pude evitar um tremor. O rosto redondo do garoto, o formato dos olhos... ele era a cara da mãe quando jovem.

Por que o Lorde das Trevas não o escolheu?

Se fosse ele o bebê da Profecia, minha vida seria completamente diferente agora. Lílian não estaria morta. Meu sofrimento era, pelo menos em parte, também por culpa desse garoto. Era só isso que eu conseguia pensar ao olhar para ele.

Mas, além disso, olha só que tipo! Que figurinha ridícula! Parecia um idiota! Um gordinho assustado, que não conseguia formar uma frase sem gaguejar, nem cumprir uma ordem simples sem se atrapalhar. Seus pais tinham sido bruxos brilhantes, Aurores corajosos, temidos, famosos. E o filho? Uma vergonha patética.

E havia o garoto Potter. Harry Potter. Filho de Lílian Evans. Mas também... filho de Tiago Potter.

E eu tinha pensado, até vê-lo na minha sala de aula, que era impossível que meu humor pudesse ficar pior...

Aquele sonho... o sonho da noite passada ficava voltando na minha cabeça sem que eu conseguisse impedir. Principalmente, porque ele continuava tão nítido na minha lembrança. Parecia real.

Comecei a chamada, como já era o meu costume. Pensei em me ater à rotina, para manter a calma. Mas não consegui me segurar quando cheguei ao nome de Harry.

- Ah, sim... Harry Potter. A nossa nova celebridade.

Por Merlin, tudo naquele menino me esgotava. Saber o quanto ele era famoso. Todos em Hogwarts pareciam viver apontando a sua presença, prestando atenção nele por onde quer que ele fosse. Comentando o quanto ele é idêntico ao pai. EU SEI QUE ELE É IDÊNTICO A TIAGO! Eu tenho olhos, não tenho? De perto, então, era impossível não se espantar com o quanto ele era REALMENTE idêntico ao pai.

Terminei a chamada sem prestar muita atenção.

Ao encarar a classe, pela primeira vez depois da chamada, senti aqueles olhos verdes, os olhos de Lílian, me encarando. Havia tanta atenção... tanta curiosidade neles... um toque de... temor ingênuo. De expectativa.

Eu me lembrei, mais uma vez, das imagens do sonho, e tive que fazer muita força para manter o controle. Esvaziar a mente.

Quem era aquele garoto, afinal?

Legilimens, foi o que pude pensar. Antes que me desse conta, tinha conseguido penetrar na mente dele pela primeira vez, com uma facilidade espantosa.

Um túnel escuro me levou de volta, como se fosse uma viagem no tempo, a Little Whinging. Estava de novo na frente da casa número 4 da rua dos Alfeneiros. A casa dos Evans, que eu conhecia tão bem desde pequeno.

Eu podia ver, nitidamente, o garoto mirrado e magricelo, deitado na cama, no quarto vazio. Só uma coruja branca como única companhia. Folheando os livros novos da Escola, com curiosidade, interesse. Deitado, lendo, até tarde da noite... Hmm... isso era interessante...

Concentrei a atenção de volta ao meu discurso habitual de início de curso.

- Vocês estão aqui para aprender a ciência sutil e a arte exata do preparo de poções... Como aqui não fazemos gestos tolos, muitos de vocês podem pensar que isto não é mágica. Não espero que vocês realmente entendam a beleza de um caldeirão cozinhando em fogo lento, com a fumaça a tremeluzir, o delicado poder dos líquidos que fluem pelas veias humanas e enfeitiçam a mente, confundem os sentidos...

Os pequenos imbecis são incapazes de ver na minha matéria a sua verdadeira importância para um bruxo. O preparo das Poções é uma arte especial, uma ciência mágica importantíssima, com vários graus de complexidade e refinamento...

Ah, mas para esses moleques, não... para eles parece que não passa de uma espécie de culinária de segunda classe! Tudo o que eles querem é voar nas suas vassouras, sacudir suas varinhas novas... agarrar aquele pomo idiota... feito uns macaquinhos exibidos.

É para esse tipo de cabeças-ocas que eu ensino...

...Posso ensinar-lhes a engarrafar fama, a cozinhar glória, até a zumbificar, se não forem o bando de cabeças-ocas que geralmente me mandam ensinar...

... A cada ano, os alunos parecem vir mais idiotas. Mimados, superprotegidos, imaturos. Irresponsáveis, desinteressados. Incapazes de perceber a importância do que eu estava tentando ensinar.

A classe ficou em silêncio quando eu acabei.

O garoto havia folheado os livros em casa, não é? O que será que teria lido?

Lílian tinha se interessado por Poções desde o início. Eu me lembrava como se fosse hoje, o seu sorriso de puro contentamento ao folhear, pela primeira vez, o seu volume novinho de "Bebidas e Poções Mágicas"... A reverência com que folheou o meu, o que tinha sido da minha mãe. Eu senti um pontada de prazer, de orgulho...

- Potter! O que eu obteria se adicionasse raiz de asfódelo em pó a uma infusão de losna?

- Não sei, não, senhor...

Claro, ele não era nada parecido com ela... Como eu podia ter me deixado iludir? Não, ele era como o Tiago, o pai dele. Idêntico, não é? Arrogante, metido... Achando que o sucesso de atleta era tudo o que importava... Um riso de desdém me escapou. Agora as coisas eram diferentes... Potter!

- Tsk, tsk... a fama pelo visto não é tudo.

É claro que eu podia ver que uma garota ao lado dele estava levantando a mão, toda assanhada. Mas o assunto agora era entre o Potter e eu!

- Vamos tentar outra vez, Potter. Se eu lhe pedisse, onde você iria buscar bezoar?

De novo, aquela garota cabeluda com a mão levantada!

- Não sei, não, senhor.

- Achou que não precisava abrir os livros antes de vir, hein, Potter?

Eu estava sendo cruel e injusto, eu sabia. Afinal, eu tinha VISTO que ele tinha aberto os livros... Mas, também, se ele folheou os malditos livros, por que não tinha dado nem uma olhada para o de Poções? Será que ele não tinha nada da mãe, além dos olhos?

- Qual é a diferença, Potter, entre acônito licoctono e acônito lapelo?

Aquela menina dentuça estava começando a me irritar, a mão esticada na direção do teto da masmorra.

- Não sei...

A voz de Harry parecia um sussurro humilde. Mas então, o VERDADEIRO Potter se revelou.

- Mas acho que Hermione sabe, por que o senhor não pergunta a ela?

Ah, eu devia saber! Metido a engraçadinho, respondão... era o Tiago, de novo, bem na minha frente! As risadas da classe só serviram para fazer minha fúria transbordar. Eu me virei para a menina cabeluda, prestando atenção nela pela primeira vez.

- Sente-se!

Trouxa! Eu devia ter imaginado...

- Para a sua informação...

Continuei explicando o tema e me concentrei no conteúdo das respostas, ruminando meu rancor. Eu tinha que tomar uma atitude antes que aquela miniatura de Tiago monopolizasse as atenções e o poder na classe... Do mesmo jeito que era antes...

- ... E vou descontar um ponto da Grifinória por sua impertinência, Potter!

Pronto! Era assim que ia ser agora, Potter. As regras do jogo são outras. Ninguém mais vai se deixar seduzir pelas suas gracinhas, pelo seu sorriso cheio de charme, pelo seu carisma de bonitão bem-nascido.

Não! Agora quem manda SOU EU!

Separei os alunos aos pares e mandei-os executar a primeira tarefa: misturar uma poção simples para curar furúnculos. O tipo de coisa que um macaquinho treinado é capaz de fazer.

Enquanto eles trabalhavam, eu os observava de perto, caminhando por entre as mesas. Sou detalhista, obsessivo, perfeccionista. É importante que eles se esmerem nos detalhes.

Draco Malfoy mostrava desde o início a elegância da família. Era inteligente, ao contrário dos outros sonserinos. Seus gestos perfeitos me faziam lembrar de Narcisa.

É claro que não demorou muito para que os mais idiotas se revelassem. Neville Longbottom, o mais atrapalhado, conseguiu derreter o caldeirão do parceiro, fazendo a poção dos dois vazar pelo chão de pedra, fazendo furos nos sapatos dos dois. O caos se instalou na sala, com todos trepando nos banquinhos e o paspalhão do Longbottom com os braços e pernas cobertos de furúnculos vermelhos.

Ah, por Merlin, POR QUE o Lorde das Trevas não escolheu esse idiota?

- Menino idiota! Suponho que tenham adicionado as cerdas de porco-espinho antes de tirar o caldeirão do fogo? RRRR... Levem-no para a ala do hospital!

Ah, eu estava furioso, irritado, com raiva, exausto. Mas eu sempre tinha a possibilidade de descontar nos alunos quando isso acontecia, não é mesmo?

- Você, Potter, por que não disse a ele para não adicionar as cerdas? Achou que você pareceria melhor seerrasse, não foi? Mais um ponto que você perdeu para a Grifinória!

A aula acabou, finalmente, no meio daquela confusão.

O garoto ficou me olhando ali parado, por alguns instantes. Boquiaberto, feito um idiota.

Sonho estúpido. Essa miniatura de Tiago Potter... Idiota desse jeito... Metido a engraçadinho!

Meu filho?

Ah, de jeito nenhum... isso nunca. NUNCA!


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Pronto, moçada! Demorei, mas aqui está o capítulo 4 pra vocês. Demorei um pouco mais do que eu tinha imaginado, me enrolei com os feriados... Mas espero que gostem desse capítulo, meio dark... hehehe....

Só alguns comentários antes dos agradecimentos:

1) De novo, nesse capítulo tem um monte de referências à minha outra fic, SOMBRAS DA PRIMEIRA GUERRA. Copiei descaradamente a descrição da Lílian no jardim que está no capítulo "SETE DIAS" .
De propósito, porque encaro essa fic como uma espécie de continuação da outra. Pra quem não leu, convido de novo... passa lá! Mas, quem está curioso e não tem pique de começar a ler outra fic com 19 capítulos, não esquentem: tudo aquilo que o Snape "se recusa a comentar" até agora, ele vai acabar falando no decorrer dos Diários...

Mas dessa vez, nos sonhos, eu faço uma brincadeira com outra fic que escrevi: ENCONTROS E DESENCONTROS. Está lá no Fanfiction.net, e no site do Snapefest. Como era um romance bem "quente" entre Severo e Lílian, criado para ser Amigo Secreto do Dia dos Namorados, ficou uma espécie de "Universo Alternativo" pra história original. Mas eu confesso que gostei tanto das cenas, dos diálogos e situações amorosas entre os dois, que resolvi aproveitar parte do material nesses dois sonhos/pesadelos do Snape...

Na fic original não tem tanto drama, lógico. Os sonhos tinham que ficar muito mais recheados de culpa pra ter o efeito que eu queria. Mas é uma tentação imaginar que Severo possa ter sonhado com todas aquelas cenas "quentes" da ficzinha original...

2) Tenho uma visão muito particular e pessoal do Severo Snape: pra mim, ele é o personagem mais bem construído do universo potteriano. Ele é complexo, nem bom nem ruim... Uma espécie de herói/anti-herói, dramático, trágico...

Como vocês podem notar, coloquei a minha opinião na boca da Gina nesse capítulo.

3) ao contrário da maioria daqueles que AMAM o Snape, eu também adoro o Tiago Potter. Não tenho a imagem dele como o egoísta metido boboca que muita gente tem dele. Mais uma vez, coloco uma pitada da minha opinião na boca da Gina nesse capítulo. Quis fazer isso porque, como Snape escrevendo nos seus diários, eu vou acabar "metendo o pau" no Tiago inúmeras vezes ao longo da fic. Mas quis deixar bem claro que nesse caso, quem odeia o Tiago é o "meu" Snape, e não eu.

4) Obrigada a todo mundo que comentou ter adorado a Cissy! Eu também adoro a minha Narcisa! Espero ter a oportunidade de colocá-la em cena mais vezes. Ela e o Sev são uma boa dupla. Mas eu prometo surpresas no quesito "mulheres de Snape" pra vocês, também.
Ele não é um galã, não é um garannhão, nem está muito interessado na coisa, na verdade, mas... a mulherada não resiste a um herói dramático ao estilo Heathcliff dando sopa, não é? Me aguardem!!!

5) Capítulo dark esse, né? Confesso que pretendia dar um choque no Harry... e em vocês também, claro...hehehe... Mas prometo também humor negro, ironia e sarcasmo do bom e velho Sev nos próximos, pra variar...

Minha inspiração pra esse lado dele são aqueles detetives dos filmes noir do Humphrey Bogart, sabem? Pro lado dark, os heróis da irmãs Brontë são imbatíveis! Heathcliff rox! Tenho certeza de que a JKR se inspirou nele pra criar o Snape!

Agora, agradecimentos:

Obrigada a todo mundo que veio aqui conferir o capítulo, e em especial:

Sally Owens e : amo vocês, meninas! O que seria de mim sem os comentários, elogios e puxões de orelha de vocês, hein? Super, super obrigada, por tudo!! Vocês queriam saber a reação do Harry ao ler o diário do Snape? Dei uma canja pra vocês nesse capítulo! Espero que gostem!

Sally, aproveitei a sua idéia (da fic Retorno) e coloquei a Cátia Bell como o par romântico do Jorge... Quem sabe ainda encaixo o Carlinhos apaixonado pela Anaem alguma cena do futuro... Muito obrigda pela inspiração e espero que goste do resultado!

Bom, pessoas... é isso. O capítulo 5 já está no forno. Beijão pra todos, e muito obrigada, sempre!! Por favor, quem puder, deixe um comentário, nem que seja uma palavrinha... a autora agradece!! Hehehe...
Espero que continuem curtindo e até o próximo! Prometo cumprir a meta de atualizar em 1 semana dessa vez! BEIJÂO!!!!





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