Não tem flu, não tem chave



Não tem flu, não tem chave

- Então, o que estão esperando para ir até a Inglaterra? Deus, não temos tempo algum! – falou Lílian desesperada. – Temos que convocar Dumbledore o mais rápido o possível.

- Mas onde é que está Dumbledore?

Lílian pensou por um momento. Onde é que achariam Dumbledore nas férias, se bem que sendo Alvo Dumbledore, não deve ter férias. Mas onde ele estaria? Talvez estivesse no ministério, mas seria um idiotice tentar procurá-lo lá. Além de ter absoluta convicção quer o lugar era enorme e teria muitas portas, seria considerado um crime invadir o ministério naqueles tempos. Podia ainda estar na sede da Ordem da Fênix. Seria um lugar impossível de ir, já que tinha certeza que seria impossível ir para lá através de uma lareira. Depois disto só tem um lugar onde talvez iriam achar ele...

- Ele está em Hogwarts – falou Tiago, antes que Lílian pudesse ter o direito de terminar seu pensamento, e o expressar. – É muito obvio, faltam mais ou menos uma semana para o início do ano letivo, é claro que ele está preparando tudo.

- É... isto faz sentido... então vamos! Vou buscar o pó de flu! – e Mandy saiu correndo em direção da sala. Ouviram alguns barulhos de gavetas sendo abertas, potes de vidro ou algum outro material sendo abertos, coisas sendo tiradas do lugar, de alguém correndo de um ponto ao outro, sendo eu a cada ponto que parava, novos barulhos apareciam, mostrando que Mandy estava revistando o lugar. E depois de alguém ir em direção da cozinha. Em seguida aparece ela, com uma cara tristonha e desesperançada, com nada na mão.

- Mandy, cadê o pó de flu? – perguntou Remo, erguendo uma sobrancelha. – Não me diga que você...

Ele iria dizer derrubou, o que despertaria o desespero de todos e certamente uma cena de todos tentarem pegar o máximo de pó o possível no chão com uma colherzinha ou com uma folha de papel. Mas Mandy não deixou ele falar, já que deu uma resposta antes de saber a pergunta:

- Não achei! Parece que acabou.

- Como assim acabou? Quem foi a ultima pessoa a pegar o pó?

Sirius estava muito quieto, digamos que parecia pensativo. Seria desnecessário dizer que não estava prestando atenção na conversa, estava em um universo paralelo ao universo de aflições que os quatro demais se encontravam. Mas teve que voltar à realidade rapidamente, já que como ninguém tinha se manifestado o ultimo a pegar o flu, era obvio demais que era ele.

- Sirius!- Tiago berrou, justamente no seu ouvido.

- Quê? Pontas, você quer me matar? – ele acorda assuntado e com raiva.

- Não, é você que quer nos matar. Por que não colabora, heim, cara?

- Colaborar com o que – perguntou Sirius, confuso.

Tiago suspirou, cansado. Falava com a maior paciência do mundo, como se pensasse que o amigo era uma criancinha que tinha acabado de aprender a falar, e ainda tinha que explicar uma coisa muito complicado – o que no seu pensamento era.

- Foi você quem pegou o pó de flu por ultimo?

- Sim... acho que fui...

- E você fez o favor mundial de acabar com ele?

- Naquele potinho ao lado não tinha mais?

- Se você chamar açúcar de pó de flu, tinha – Mandy se intrometeu na conversa. – Eu não sou daltônica, eu sei muito bem que o flu é escuro, cor de chumbo e açúcar é branco. E o que mais branco poderia estar em um pote ao lado de um bule de chá com uma porção de xícaras?

- Então isto significa que...

- Não tem mais flu! – Lílian falou receosa, interrompendo Tiago.

Aquele parecia o fim. O clima daquela cozinha mudou instantaneamente. De levemente esperançado, ainda que com um misto de medo, o medo cresceu suas proporções, sendo o único sentimento que por alguns segundos reinou. Só foi possível visualizar novamente a salvação pela memória de Lílian.

- Tiago! Você consegue fazer chaves de portal!

A atenção foi completamente voltada para o rapaz, que começou a se achar uma peça fundamental no jogo.

- Mas é claro que eu sei fazer uma chave! É tão complicado, tem que ser preciso, ter muita concentração, somente alguém digamos... poderoso o suficiente, consegue fazer.

Apesar do cenário ser de estremo pavor, Tiago não conseguia ficar muito tempo sem exibir-se para Lílian. Como já foi dita algumas vezes, já é uma mania dele.

- Então faça esta bendita chave logo – exclamou Lílian.

- Claro... – Tiago começou a falar, achando que soaria muito bem se completasse com um bonitinha ou ruivinha. Mas depois decidiu que não era muito bom arriscar perder a amizade da garota de uma hora para outra, por culpa de uma besteira. Mas pare que não haja suspeitas de que queria usar mais um dos apelidos, resolveu completar com qualquer coisa. – Alguém me dá alguma coisa grande o suficiente para que todos possamos tocar de uma vez?

Sirius acenou como se dissesse um deixa que eu pego, estendeu a mão e no instante seguinte, o prato que Lílian tinha colocado em alguns lugares para que quando seus amigos chegassem, já teriam a mesa pronta para se servirem. E o prato tinha o tamanho perfeito para que seja a chave.

- Perfeito... agora, por favor, se afastem!

Todos se afastaram da mesa, ficando James diante do prato. Ele sacou a varinha, que estava no bolso da calça, fez muitos movimentos com ela sussurrando coisas que ninguém entendia. Saiu um raio que estava entre avermelhado e alaranjado, que atingiu o prato com muita fumaça. Mas o paro não se quebrou, não voou e nem ao menos se mexeu. Tiago entretanto, parecia satisfeito.

- Pronto. Daqui a... – ele olhou no relógio no formato de uma gato na parede da cozinha – a exatamente dois minutos estaremos sãos e salvos no castelo! E agora vamos todos colocar o dedinho no prato e esperar o tempo certo!

Se a intenção dele era fazer eles se sentirem como criancinhas de aproximadamente cinco anos, ele conseguiu. Todos tocaram o prato com um misto de vergonha e raiva.

E esperaram, se preparando para serem puxados de modo brusco a qualquer momento, para trás. E esperaram. Esperaram. E ainda esperaram e o puxão não veio. Esperaram talvez mais que dois minutos. E esperaram e tinham certeza que ficaram parados feito idiotas com a mão no prato por bem mais de dez minutos.

- Tiago, é dois ou doze, ou ainda vinte minutos ou duas horas? – Mandy parecia um pouco irritada. Mas a verdade era que todos estavam irritadiços.

- Parece que deu errado! – Tiago exclamou bem baixinho, somente para si. Todos ouviram.

- Finalmente percebeu!

- Isto nunca tinha acontecido antes! Sempre que fazia uma chave lá na Inglaterra dava certo. Será que aqui no Brasil é proibido chaves do portal?

- Possivelmente – falou Lílian tranqüila, já começando a entender a situação – ou aqui tem uma maldição que não deixa que uma chave funcione, ou é uma magia diferente que faz ligações intercontinentais, ou ainda você realizou o feitiço errado. Faça de novo!

- Não fiz nada errado. Fiz do mesmo modo que sempre faço. E sempre dá certo. Não sei como agora não deu! – e passou a mão esquerda no cabelo, que ficou mais rebelde do que o de costume.

- É, então tem alguma maldição ou então não é o mesmo feitiço para transportes intercontinentais.

O que tinha sobrado do jantar já estava frio. E ninguém parecia disposto a comer nada nem que se esquentasse o fizesse tudo novamente. Parecia que a atual situação se resumia em esperar silenciosamente. Esperarem para serem atacados. Esperarem para serem mortos.

Por algum motivo, os olhos de Lílian estavam cheios de lágrimas.

- Vou dormir – disse ela, que saiu da sala correndo.

Tiago foi o primeiro a reagir. Sem dar explicações para ninguém, a seguiu, parando somente quando chegou à porta do quarto dela. Esta estava já fechada. Bateu nela.

- Lilly!

A garota não respondeu. E bateu na porta de novo. Não respondeu novamente. Resolveu bater de novo. Berrou o nome dela.

Um pânico sem motivos aparentes começou a tomar conta dele. Como coisas realmente idiotas e absurdas que em geral pensamos em situações críticas. Como seqüestros.

Foi isto que Tiago começou a pensar, sem lógica alguma. Certamente a Dona Loirinha estava de algum modo na casa e, quando viu Lílian saindo desprotegida, amordaçou-a e aparatou com ala em algum lugar incrivelmente feio, sujo e malcheiroso. Isto fez Tiago dar um belho chute na porta, arrombando-a.

Como era de se esperar, não houve seqüestro algum. Lílian só estava assentada na própria cama, cabisbaixa, impotente. Assustada, já que não esperava ter a porta arrombada.

Todo carinhoso, Tiago aproximou-se dela, assentando-se no chão, aos pés dela.

- Por que você saiu correndo daquele jeito?

Lílian olhou bem nos olhos dele. Este, olhou bem nos olhos dela. Como era possível alguém ter olhos tão encantadores, tão hipnotizantes como os que ela possuía? Como a cor poderia ser tão viva, igual a da grama ao redor da casa, que seria vista facilmente se não fosse noite? Mistérios do além. Ou somente uma graça que foi colocada ara iluminar a vida de Tiago?

Enfim, depois de alguns segundos, o garoto percebeu que fazia cara de idiota, e a ultima coisa que gostaria de parecer na frente de Lílian é idiota. Era mais fácil para isto olhar para tudo, menos para Lílian. Por isto que Allegra, a coruja dela, era interessantíssima dormindo.

- Por que você saiu correndo daquele jeito? – perguntou novamente.

Lílian sabia que por algum motivo não podia mentir. Nem ao menos queria mentir. Mesmo sabendo que pareceria patética para o garoto, respondeu:

- É que me sentia tão... tão... desprotegida com tudo. Me sentia impotente! Como uma formiga que está sentindo que não consegue observar o sol por que tem uma sola de sapato tampando, e em poucos segundos seria esmagada! Morta!

- você não vai ser esmagada por nenhum sapato...

- Isto é uma comparação – Lílian interrompeu o discurso, sem emoção.

- Por que eu não vou deixar.

Tiago achou que finalmente tinha autocontrole o suficiente para poder olhar para a menina sem parecer idiota, e sem querer agarrá-la. Com isto, pode observar que aquelas palavras mexeram bastante com ela. Ela olhava toda pensativa para os próprios pés.

- Lílian, você é boa em poções, não é?

Ele estranhou muito a pergunta. Parou de olhar para os pés e observou a face dele.

- Você sabe que sou, vive repetindo isto nas aulas, mas por quê?

- Se eu conseguir os ingredientes para fazer um pó de flu, você conseguiria fazer um? É que agora estou lembrando, já tinham me falado uma vez que o pó é feito a partir de uma poção para tirar manchas de outras poções de tecidos. Me disseram que eles resfriam ela até virar uma pedra, e ela em estado sólido tem outras utilidades, como o transporte via flu.

Lílian piscou três vezes.

- Você está falando a verdade? Eu sei fazer esta poção! – e ela sorriu – Só precisamos de algumas coisinhas! Eu consigo fazer ela em duas horas. Vamos fazer agora mesmo!

- Não! – Tiago tentou parecer firme e autoritário. – Você precisa descansar. Não é hora para isto, já é de noite. Amanhã fazemos. É melhor você dormir. – ele se encaminhou para fora do quarto.

Lílian o obedeceu, tentando dormir, sem nenhum sucesso. Pouco tempo depois Mandy entrou no quarto, se dirigindo para a própria cama e capotando nela.

Só que Lílian, apesar de estar animada demais para dormir, estava muito cansada de tudo. Sua mente – que estava repassando a receita da poção de limpeza de tecidos a todo vapor – começou a relaxar. Até que adormeceu.

E só acordou com o som da porta da sala de estar sendo arrombada bruscamente.

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