Panquecas



Panquecas

Amanheceu. Não que isso não fosse o de se esperar depois de uma noite. Mas depois daquela noite, o amanhecer era quase como uma bênção. Significava talvez, se fosse analisado bem as entrelinhas, algo muito parecido com aquele dito popular "Amanhã é um novo dia", com novos humores e menos problemas a serem feitos, a nenhuma a ser resolvido.
Pura ilusão.
Depois da tempestade, sempre vem a calmaria, mas não antes de se passar a fase dos respingos chatos que incomodam a todos, sempre ainda tendo o risco de um novo temporal. Tudo tem sua fase de transição.
Lílian não tinha dormido nada aquela noite, e nem sentia o menor sono. Afinal, não tinha dormido a pouco tempo? O fuso horário Londres-Honolulu é bem diferente. A esse não foi o grande motivo de sua insônia na madrugada.
O motivo é de conhecimento público.
Mas ela não podia terminar seus dias sentada na sua cama com olhos um pouco avermelhados, escorando a cabeça na cabeceira da mesma, sob os olhares profundos de Allegra, cheios de coisas ruins. Ela era Lílian Evans, ao final das contas! Era forte e nunca se rebaixava a se mostrar fraca e indefesa.
Mas se sentia tão fraca e indefesa, querendo desesperadamente um abraço para a reconfortá-la.
Mas não podia se mostrar fraca. Nunca! Não aprendeu ser o que é para que um motivinho de nada a destronar! Ela tinha que descer e mostrar que nada daquilo a abalou. Tinha que descer e fazer o café, de preferencia antes de todos.
E foi isso que fez. Lavou o rosto demoradamente com água fria para acabar com a aparência avermelhada de quem ficou horas chorando, enxugou a face numa toalha rosa claro macia, vestiu uma roupa limpa e tentou fazer um carinho na cabeça de Allegra, o qual fora recusado.
Ela teve o impado de chorar, mas não o fez e desceu.
Pelo menos ninguém tinha descido ainda, o que ela pensou que seria muito bom, para evitar perguntas (pelo menos por enquanto) e para trabalhar tranqüilamente em suas panquecas, o que adorava fazer na paz da manhã sozinha.
Ela pegou o leite e despejou uma xícara e meia em uma vasilha. Abaixou-se para pegar dois ovos.
- Bom dia, Lilly! Dormiu bem?! - uma animadíssima voz soou na cozinha. Essa de susto quase fez a garota derrubar os ovos. Virou-se e exclamou como se a tivesse pegado assassinado alguém:
- Mandy?
- Não, sua boba, sou eu! Violet Evans, sua mãe! Nem me reconhece mais? Estou brincando - acrescentou depois de ver a cara raivosa de Lílian.
- O que você está fazendo acordada tão cedo? - quebrou os ovos e colocou junto ao leite. Nem ao menos olhou para a cara de Mandy de novo. Não estava com o menor humor.
- Agora isso é crime?
- Não, mas é estranho. Por que você não faz a sua tarefa diária? Arrumar os quartos. Acho que já acordei.
- Você tá mal humorada hoje, não é? Não se preocupe com a possibilidade de eu esquecer minha tarefa. Eu a faço depois que os garotos acordarem. - e se sentou numa cadeira, coincidentemente a mesma que na madrugada passada estava sendo usada por ela e Sirius para escutar a briga através do teto, admirando Lílian colocar dois copos de farinha de trigo na tigela. - Não vou incomodar a chefe de cozinha! Só irei admirar.
Lílian bufou como resposta. Definitivamente, estava mal humorada e sem nenhuma vontade de se atirar no colo de Mandy e começar a chorar, o que não quer dizer que não tinha esse desejo implícito em si. Lílian Evans não é uma garota, e sim uma fortaleza, raramente desfeita em público.
Depois de alguns minutos, localizou o achocolatado pela cara de Mandy (ela sabia que ela procurava isso, e ficou olhando para o pote, enquanto a moça quase se descabelava para acha-lo. No fim não sabendo o porquê, olhou para a cara da amiga e seguiu seu olhar, ignorando o riso na cara dela.) e acrescentou três colheres na mistura, e depois um pouco de canela. E começou a misturar, concentrada.
Se existir algo mais chato do que ver isso, é ver uma formiga andando na opinião de Mandy. Na verdade, sincera verdade, o que fê-la acordar cedo era para saber o que fez Lílian agir daquela maneira ontem à noite. Mas existe algo chamado vergonha e medo das reações de Lílian que a fez agir daquela maneira tão espalhafatosa sem nenhum motivo aparente auditivo, no que é o caso de espiar uma pessoa por um copo.
Mas que a vergonha vá embora! É só ter um jeitinho.
- Lilly, por que você não desceu ontem de madrugada?
- Por nada.
- E Allegra dever ter feito um estardalhaço no seu quarto. Estava o maior barulho. O que ela fez? Sujou de titica aquele seu lindo casaquinho rosa de cetim, aquele que eu acho lindo de morrer?
- Não, não foi nada - todas as suas respostas era visivelmente irritadas e com um tom de quer para de falar essas baboseiras, OK?
- O maior estardalhaço da histórias de humanidade por nada? TPM?
- É! Quer parar de fazer perguntas e me deixa concentrar em fritar as panquecas.
- Não sabia que para fritar panquecas precisava de tanta concentração - zombou Mandy. - Será que nossa chefe de cozinha não sabe fritar panquecas? Ou será que a mestre de cozinha está tentando fugir do assunto.
- Os dois e cala coca!
- Bom dia, moças!
Elas se viraram (Lílian sem deixar de tomar conta da panqueca) e vira Sirius descendo, num fingido bem humor que enganou as duas. Mas como ele poderia sorrir depois de ontem?
- Bom dia! Sirius! - falou Mandy entusiasmada.
- Bom dia, Black. - murmurou num visível mal humor Lilly.
- Lilly, isto está cheirando muito bem! O que é?
- Black, você está pegando a mania intragável de seu amigo Potter. Para ele e você é Evans, entendeu?
- Acordou mal humorada hoje. Só pensei que agora que estamos todos sobre o mesmo teto, devêssemos todos tentar manter alguma amizade - Sirius já se acomodava em uma cadeira ao lado de Mandy na mesa, esperando as panquecas de chocolates ficarem prontas. - Até a sua melhor amiga me chama pelo nome, não é, Mandy? - Mandy falou um "É." bem baixo. - Por que você não fala também?
- Não estou com muito humor hoje para perguntas idiotas e intragáveis, se ainda não percebeu - e ela colocou a panqueca numa travessa, derramando mais massa marrom na frigideira quente.
- Isso não é uma questão de humor. É uma questão de lógica. Por que você tem que ser tão cabeça dura para agir como uma cinqüentona encalhada?
- Eu não ajo como uma cinqüentona encalhada.
- Mas ontem você tinha dito que daria uma chance para os marotos. Por que não cumpre com a sua palavra - Mandy insistia, sem nenhum medo da amiga perder a paciência e jogar a frigideira quente em cima dela com toda força. Alem de doer pela batida, vai doer ainda mais pela temperatura.
Lílian quase furou a panqueca com a escumadeira. Por que raios ela, sua melhor amiga, falou a palavra ontem. Ela não sabia nada da super, hiper, mega, gigantesca briga com Tiago, ou sabia? Não, vai ver era só coincidência boba. Como ela poderia saber daquilo?
- E por que eu tenho que cumprir o que disse ontem?
- Porque você deu a sua palavra.
- E por que devo cumprir a minha palavra?
- Evans, para a garota mais certinha da escola inteira você está saindo uma bela delinqüente juvenil.
- Tudo bem - replicou Lílian com ironia. - Então podem me chamar de Lílian à vontade, Black!
- Não está esquecendo de nada?
Oras, aquilo já estava ficando ridículo demais para ela, pensou Lílian colocando a panqueca de novo na vasilha. Eles devem achar que irritar ela é uma coisa muito legal e divertida, mas não era nada legal ou divertido. Por Lílian, eles ficariam sem café (já que pelo que conhecia deles, deixariam tudo para Mandy fazer, o que consequentemente seria a mesma coisa de mandar a moça tocar fogo na casa) e ela iria ficar na paz e tranqüilidade de seu quarto. Mas nãooo! Ela tinha que conviver com eles.
- Eu estou esquecendo do quê?
- De falar Então podem me chamar de Lílian à vontade, Sirius!
Mandy fez uma cara de "Por mais que você lute, EU quem vou ganhar", a qual deixou Lílian realmente muito irritada. Mas não irritada demais a ponto de furar a panqueca. Simplesmente amarrou a cara e respondeu como uma criança falando muito abrigado para a tia que lhe deu uma meia laranja vivo chique peluda que pinica no natal.
- Então podem me chamar de Lílian à vontade, er.... Sirius.
- Agora sim! Agora vamos repetir a cena - Sirius estava muito animado, uma animação para fazer graça. -Bom dia, Mandy! Bom dia, Lílian!
Aquilo, nem Mandy discordou, era ridículo demais para ser verdade.
- Bom dia, Sirius!!!!
- Bom dia.
- Bom dia, moças, Sirius!
Essa voz não era nem de Lílian, nem de Sirius e muito menos de Mandy. Eles se viraram e na porta estava Remo sorrido.
- Bom dia, Remo! - todos repetiram num coro.
- O que você está fazendo? Está cheirando tão bom, Lilly.
- Panqueca.
Remo se assentou ao lado de Mandy, obviamente esperando como eles para atacar sem a menor piedade as panquecas que emundou a cozinha com um forte e apetitoso odor de canela.
Agora faltava pouca massa na tigela, a qual só daria uma panqueca. Lílian retirou a panqueca já cozida da frigideira e começou a derramar a massa ligeiramente marrom na frigideira em chamas.
- Bom dia.
A voz baixa e tristonha fez com que a moça sem querer enfiasse a escumadeira na massa crua na frigideira. Agora seria uma cena linda ela tentar virar a panqueca com o utensílio, já que estava todo cheio de massa, o que faria grudar tudo na panela. E como a frigideira estava realmente fervendo, não daria tempo para lavar: quando voltasse ao fogão, a panqueca já seria carvão. Então só a sobrava uma alternativa, que era virar à la mestre de cozinha.
Ela segurou no cabo da panela, tremendo. Afinal, só fizera isso uma vez na vida, se ela não se engana nos cálculos. Mas se lembrou que naquela vez conseguira. Se preparou para arremessar a panqueca para cima. Arremessou a panqueca para cima.
- Sirius, você me desculpa pelo que eu falei ontem? - falou rapidamente Tiago.
E a panqueca quase cai no chão. Quase.
Caiu nos pés de Lílian. E como estava quente. Tão quente que gritou. O grito tão alto que todos olharam. E antes de tomar café Lílian teve que ficar um bom tempo com o pé em uma bacia contendo água fria.

Algum tempo depois, não muito tempo, e no mesmo dia...

- Gente, vamos à Honolulu?
Todos estavam extremamente entediados na sala. O dia não amanheceu nada ensolarado, mas pelo menos não dava nenhum vestígio de quem vai chover. E o oceano estava frio demais.
- Fazer o que em Honolulu, Sirius?
Tiago estava com bastante raiva daquelas história de Lílian começar a chamar Sirius de Sirius. Nem tinha dirigido a palavra à ela naquela manhã. E já estava quase anulando aquele pedido de desculpas, o qual a amigo tinha aceitado, alegando que ele estava com a cabeça muito quente.
- Não tem nada para fazer aqui. Não vejo nada contra ir lá. Até Dumbledore disse que podíamos ir.
- Por mim, começou Mandy - todo bem. Isso é muito chato!
- Não tenho nada contra - declarou Remo.
- Então vamos?
Depois de alguns grandes minutos os quais trocaram de roupa (depois de meia hora é que Lílian e Mandy desceram), eles enfrentaram alguns minutos maiores ainda na estrada, os quais podiam apreciar a paisagem de coqueiros e ondas, quando viram as primeiras casinhas amontoadas.

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