Parte I



Ela chorava. Todos ali choravam. Claro, Dumbledore era uma pessoa querida, e ele mesmo devia muito ao velho diretor. Isso ele podia admitir. Por mais que fosse vil, mentiroso, devia admitir que se tornara um grande bruxo não só pelo próprio potencial, mas pela orientação de Dumbledore.
Observava ao longe o enterro do diretor, com uma pontada de remorso. Não queria ter matado Dumbledore, apesar de saber que a morte dele era inevitável. Antes ele do que eu. Lembrou-se do Voto Inquebrável que fizera com Narcisa Malfoy. Precisava daquilo, pois Voldemort voltara a confiar nele como nunca antes depois daquele voto. Era a prova: apostar a própria vida em sinal de fidelidade.
Aquele gesto agradara tanto ao Lorde das Trevas, que agora Snape voltara a ser seu servo preferido.
As memórias todas sumiram quando fecharam o túmulo branco. Agora a realidade estava ali. Dumbledore morto. Seria muito mais fácil vencer com o velho longe.
Os alunos encaminharam-se para o povoado de Hogsmeade, de onde tomariam o Expresso de Hogwarts. Ele observou de longe. Era tudo muito fácil. Não importava quantos aurores estivessem ali, não importava; seria muito fácil capturar a sangue-ruim. Terrivelmente fácil. Ridiculamente simples. Ela era uma bruxa poderosa, mas ainda tinha muito a aprender. Até lá, teriam exatamente o que queriam: uma isca para o santo Potter.
Ele ficou à espreita. Era um mestre na arte de ver sem ser visto. Para sua surpresa, as coisas pareceram ainda mais simples: a Sabe-Tudo estava se afastando dos amigos, voltando para o castelo.
Ele a seguiu à distância. Ninguém o vira – e nem poderiam. Nem ela. Ela chorava. Ainda.
A garota entrou no castelo apressada. Parecia ter esquecido algo, ou perdido algo, pois olhava em volta.
Ele parou, escondido atrás de uma das passagens secretas, e continuou a olhá-la. Ela olhou em volta e deixou-se cair de joelhos no chão. Para sua surpresa, ouviu a voz dela soar, muito abatida mas calma, dizendo:
- Tive aula com você durante seis longos anos, professor Snape, conheço de cor o barulho da sua capa. Se queria me pegar de surpresa, devia ter vindo sem ela.
Snape permitiu a si mesmo um sorriso cínico, e, como aquele era um corredor afastado, deixou-se ver; saiu das sombras e mostrou-se para ela.
- Admirável encontrar uma aluna tão aplicada, srta. Granger – ele comentou, com aquela ironia ácida que lhe era característica.
Ela não respondeu. Alcançou a varinha, mas ele já tinha a sua apontada para o peito dela.
- Você não vai me matar – disse a jovem. Mesmo seu tom de desafio estava abatido.
Ela pegou a varinha com delicadeza e atirou-a para longe.
- Deixe pelo menos que meus amigos saibam que estive aqui – ela disse, olhando sua varinha.
- Não vai tentar reagir; mas que garotinha inteligente!
- Seria inútil – retrucou Hermione, olhando para baixo. Ela se levantou e encarou-o. – Se não me engano, você e seu mestre mestiço querem exatamente que os meus amigos saibam que estou com problemas. Não vai se opor se eu deixar minha varinha, vai, professor?
Snape fez que não com a cabeça. O abatimento dela, da outrora confiante e altiva Sabe-Tudo, chegava a dar pena em alguém que ligasse para os outros. Não era o caso dele.
- Não está com medo do que pode lhe acontecer fora das proteções de Hogwarts, perto dos outros comensais? Faz alguma idéia do que pode lhe acontecer por lá? – perguntou Snape, curioso.
Ela assentiu em silêncio.
- E não está com medo? – perguntou Snape.
- Na verdade, tenho que admitir que estou apavorada – disse ela.
- E não vai tentar escapar? – ele perguntou, incrédulo.
- Se eu fizesse algum escândalo, o senhor conseguiria me levar de qualquer jeito e ainda mataria algum dos meus amigos que tentasse me salvar – ela disse, ainda abatida. – Prefiro ir em silêncio.
- Mas que emocionante! Ela vai sacrificar uma chance mínima de se livrar do destino dela para proteger os amigos – comentou Snape, irônico. – Que tocante!
Ele a viu chorar.
- O senhor não pode acabar com isso logo? – ela perguntou.
Snape suspirou.
- Fácil demais, srta. Granger. Sem graça. Faça algo criativo, não sei...
- Olha, professor, eu não tenho disposição para nada. Nada. Nem para ter medo.
- Grifinórios geralmente lutam até o fim.
- Quem sabe o chapéu seletor tenha errado – ela retrucou. – Mas por que essa tortura? Já não basta o que me espera?
Ela se tornou agressiva e uma hora para outra, mas nem assim Snape vacilou.
- Ora, está bem. Você quer tudo muito rápido. Mas, me responda: você já sabe que vai morrer assim que o Potter estiver morto, não sabe?
- Achei que ia morrer bem antes; não se pode viver eternamente – ela retrucou, desafiante, mas só a frase desafiava; o tom dela era quase submisso.
A situação fez Snape rir.
- Vamos, srta. Granger.
Ele aproximou-se; viu-a hesitar, viu-a chorar mais, viu-a respirar fundo. Tinha a sensação de que podia até ouvir o coração dela acelerar. Segurou o braço dela com grosseria e puxou-a para algum lugar que ela não sabia onde.
- Você se lembra que não se pode aparatar em Hogwarts, srta. Granger?
Ela assentiu.
- Por favor, o senhor está me machucando. Não tenho como fugir; poderia ser menos grosseiro?
- Ora, srta. Granger, você espera delicadeza de meus colegas?
- Não, senhor, só esperava um pouco mais de consideração da sua parte.
- Posso saber por quê? – perguntou Snape. – Existe alguma regra que diz que um ex-professor deva ser sempre gentil com seus ex-alunos?
- N-não, senhor – respondeu ela. A jovem parecia querer dizer mais alguma coisa, mas se calou.
Eles passaram por algumas passagens, até um portão velho que Hermione não conhecia. Sem saber exatamente por quê, ele atendeu ao pedido dela e segurou seu braço mais delicadamente.
Quando passaram pelo portão, estavam em um lugar estranho; como uma floresta, uma continuidade da Floresta Negra do lado de fora das terras de Hogwarts.
- Você já sabe aparatar, mas vou levar você – ele disse. – Acho que você não quer ir parar em alguma outra dimensão, portanto vai ir comigo. Segure-se firme a mim, se não for pedir demais.
Hermione segurou o braço direito dele; ele fez que não com a cabeça e achou melhor abraçá-la. Envolveu-a pela cintura e aparatou com ela dali.

Os dois apareceram numa espécie de porão. Ele a soltou e voltou a segurar apenas o braço dela. A garota deixou-se guiar.
- Estamos indo para onde? – perguntou a Snape.
- Ver o Lorde das Trevas. Ele vai decidir o seu destino.
Hermione sorriu, exatamente no momento em que Snape virava-se para olhá-la e falar alguma coisa.
- Por que sorri? – ele perguntou, um pouco espantado com aquela reação.
- Achei engraçado o modo como o senhor falou – explicou ela. – “Ele vai decidir o seu destino”. Como se aquele merda pudesse fazer isso.
Aquele merda não era exatamente o tipo de definição que Snape esperava ouvir a respeito do Lorde das Trevas, mas nada disse a respeito.
- Se é engraçado não sei, mas sei que você não vai gostar do destino, qualquer que seja ele – disse Snape sério.
Hermione não respondeu. Ele continuou a levá-la. Passaram por uns corredores escuros. Aquele lugar se parecia com as masmorras de Hogwarts, mas uma versão mais sombria.
- Onde estamos? – questionou a garota.
- Por Merlin, Granger, você não consegue deixar de ser uma Sabe-Tudo chata nem quando está como refém? – perguntou Snape irritado.
- Me desculpe, professor, eu só queria saber que lugar é esse.
- Você está muito estranha, Granger... – comentou Snape. Ele suspirou e disse: – Estamos na Mansão Malfoy, nos porões.
Ela olhou em volta.
- Suponho que não vou passar daqui... – ela disse. – O Malfoy não iria querer uma nascida-trouxa na preciosa casa dele.
- Mas quanta perspicácia, Granger – comentou Snape, sarcástico.
Por fim, chegaram à frente de uma porta de metal pesado. Snape puxou a varinha e, com um feitiço não-verbal, abriu a porta. Lá dentro estavam reunidos só alguns dos principais comensais, já que os seguidores de Voldemort cresciam em progressão geométrica.
- Como você foi rápido, Severo! – exclamou Voldemort levantando-se, com um sorriso indescritível no rosto. Era um misto de triunfo e maldade.
- Ela simplesmente não resistiu – explicou Snape. – Não foi mérito meu. Ela se entregou, como se fosse uma brincadeira. Suspeitei que ela pudesse servir de isca para nós pelos membros da Ordem, por mais absurdo que isso pareça, e tentei sondar a mente dela no caminho, mas ela parece ter estudado oclumência muito bem.
Hermione olho-o, um tanto espantada, e depois voltou a olhar para baixo.
- Você não conseguiu entrar na mente dela? – pergunto Voldemort, fazendo seu espanto ser notado. – Você está bem, Severo?
- Pensei que sim, mas parece que não – disse Snape.
Curioso, Voldemort puxou sua varinha em mentalizou a Legilimens. Então, muito mais espantado do que antes, incrédulo, disse:
- Mas o que... eu não consegui usar legilimência nela! – exclamou o Dark Lord, parecendo ofendido. – Você não tirou a varinha dela?
- Ela a lançou longe antes mesmo de eu convocá-la a mim – explicou Snape.
- E se ela estiver com outra? – perguntou Bellatrix, pela primeira vez se pronunciando.
- Cale-se, Bella – disse Voldemort com rispidez. – Diga-me, Severo: você verificou se ela está com outra varinha?
- Sim, senhor, antes mesmo de me aproximar dela – respondeu Snape. – Mas posso mostrar a todos que ela não está com nada.
Snape recitou um feitiço e deixou Hermione seminua na frente de todos – ela ainda usava as roupas de baixo. Voldemort nem a olhou, como se ela fosse menos que lixo, e novamente tentou entrar na mente dela. Não conseguiu.
- Impressionante – comentou Voldemort, abismado. – Sem a varinha consegue usar um feitiço tão poderoso. Que bom que não precisou perder tempo lutando contra ela, Severo. Ia gastar energias à toa. Devolva as roupas dela. Tenho nojo dessa sangue-ruim.
- Mas por que a bondade em deixá-la só seminua se vocês, homens, são todos uns safados, Snape? – perguntou Bella.
- Um acesso de bondade de minha parte – explicou Snape, sarcástico. – Ela se entregou sem me dar nenhum trabalho. E também houve outra razão. Estou na casa de Malfoy; não poderia ofendê-lo, expondo a sangue-ruim.
- Ao que sou muito grato – disse Malfoy com absoluto cinismo.
Hermione viu-se novamente com suas roupas. Fazia tempo que não rezava, mas começou a rezar em silêncio, agradecendo por ser nascida-trouxa.
- Muito interessante – comentou Voldemort, voltando a sentar-se na cadeira que simulava um trono. – Acho que a Cruciatus será mais conveniente para fazê-la falar.
O mais estranho é que Hermione permanecia impassível a todas as discussões a respeito do que aconteceria com ela. Estava apenas esperando.
- Antes de enfrentar uma Cruciatus, talvez fosse melhor deixá-la mais fraca; quem sabe assim poderíamos usar legilimência nela – sugeriu Malfoy.
- É verdade; não estamos com pressa – disse Voldemort. – Pois bem; ela vai aprender a responder às perguntas que fazem a ela primeiro. Eu poderia oferecê-la a vocês, mas meus amigos sangues-puros não iriam querer usá-la... poderiam se contaminar. Por outro lado, acho que alguém deveria humilhá-la bastante, até que ela não consiga mais falar nem o próprio nome. Severo, você faria a gentileza? Tem uma semana para conseguir usar legilimência nela.
Snape assentiu.
- Como milorde ordenar – disse Snape.
- Ah, é, ele é mesmo um profissional em me humilhar – desabafou Hermione. – Faz isso como ninguém. Ouso dizer que não precisará nem de uma semana para tirar a minha concentração; é só fazer algum comentário típico de vocês.
A ousadia dela em falar, naquela situação, espantou muito os comensais.
- Tente não machucá-la, Severo, preciso dela inteira para atrair o Potter – disse Voldemort, ignorando-a.
- Sim, mestre – disse Snape. – Com licença.
Pegou a jovem pelo braço e levou-a pelo corredor.
- Para onde vou agora? – ela perguntou. – Alguma cela imunda, cheia de ratos e aranhas, talvez?
- Muito ousada para quem vai começar a ter problemas daqui a pouco – comentou Snape, com uma ironia cruel.
- Ousadia? – ela perguntou. – Traduza isso e leia as entrelinhas. Na verdade, é desespero.
- Eu não sei o que você pretende, Granger, mas não vai conseguir.
- Tem certeza? – ela perguntou, mas sem nenhum sinal de desafio camuflado na voz.
Snape olhou-a de esguelha.
- Sabe, Granger, tenho que confessar que tem qualquer coisa em você que me chama atenção. Um mistério que nunca imaginei encontrar em alguém da sua idade. Chega a ser atraente.
- Eu devia ficar mais apavorada com isso? – perguntou Hermione.
- Em vez disso, poderia pensar que eu não vou ser tão cruel quanto planejava ser antes de reencontrá-la.
Hermione suspirou. Subitamente, ela disse:
- Sou virgem.
Snape olhou-a outra vez. Isso é ousadia sim, Granger, mesmo que você pense que é desespero.
- E o que leva a crer que vou tocá-la? – ele perguntou com desdém.
- Ora, professor, você não se esquece que é mestiço, ao contrário do seu precioso mestre.
(ATENÇÃO, O VOCATIVO QUE USAREI AGORA PARA O VOLDIE NÃO É DE MINHA AUTORIA – É DA SANDY SNAPE, NA FIC “A VERDADE VEM À TONA”. SÓ O ESTOU APROVEITANDO PORQUE ACHEI MUITO SENSACIONAL; ESPERO QUE ELA GOSTE DA MINHA SINGELA HOMENAGEM).
Houve um período de silêncio, mas ela quebrou-o com um sussurro:
- Voldemort... Não é Aquele-que-não-deve-ser-nomeado, é Aquele-que-será-derotado.
Ela riu; Snape olhou-a incrédulo, sem entender de onde ela tirava força de vontade de rir, sendo que minutos antes ela estivera tão abatida que nem com vergonha ficara, em estar nua na presença de tantos homens.
- Não me olhe assim; esse apelido novo é coisa do Rony – disse Hermione. – Ele consegue fazer piada até quando está triste.
- Piada ótima, levando-se em conta que o lado da Ordem está cem mil vezes mais fraco sem Dumbledore.
- Sem os poderes dele – corrigiu Hermione. – Ele ainda está na diretoria. Assim que ele acordar, lá no quadro, continuará nos ajudando com suas idéias brilhantes.
- Otimista – comentou Snape.
Ele parou à frente de uma porta de madeira e abriu-a à moda trouxa. Então empurrou a ex-aluna para dentro. Entrou e trancou a porta em seguida.
Hermione olhou em volta. Aquilo parecia uma grande casa; os cômodos eram divididos por pequenos desníveis.
- Isso aqui é... – ela começou, mas parou de falar.
- É meu atual lar – completou Snape, sarcástico. – Tive que trazê-la para cá; as celas estão em desuso há algum tempo; terei que mandar alguém arrumá-las. Você poderá ficar aqui. E não tenha esperanças em fugir.
Ele tirou a capa e o sobretudo e deixou-o num cabideiro.
- Você trocou Hogwarts por um porão na casa do Malfoy – comentou Hermione, enojada. – Você traiu Dumbledore e a Ordem para obedecer a um lunático! Você só pode ser louco! Como eu tenho nojo de você!
- Ah, decidiu mostrar o leão escondido? – debochou Snape. – Que bom. As coisas esquentam, assim.
Hermione olhou-o com um ar de repúdio.
- Tenho pena de você, Snape – ela disse. – Tenho pena porque é um homem sozinho, e será sempre sozinho. Tenho pena porque você foi tão burro e tão mal amado na vida que traiu o único homem que confiava cegamente em você. Tenho pena porque você se vê obrigado a obedecer a um megalomaníaco, que só pode estar querendo compensar alguma coisa com toda essa mania de grandeza.
Snape observava-a falar silenciosamente. Aquele ar desafiante o fazia querer que ela baixasse a cabeça. Ela falara verdades – para ela – mas isso não o incomodava nem um pouco.
- Essa moral grifinória é ridícula – disse Snape. – Se você soubesse alguma coisa da minha vida, talvez não estivesse falando tantas asneiras.
- Se você soubesse alguma coisa do que é vida, não seria um perfeito idiota, seguindo as ordens de um cara que pode te matar por um mínimo erro! – retrucou Hermione, levantando a voz. – Não preciso saber nada sobre a sua vida para saber que você não teve uma. Não sabe nada do que é amor, amizade, alegria. É amargo, sozinho, e vai ficar assim, mesmo que me desrespeite, mesmo que seu mestre ganhe a guerra, mesmo que tudo mude. Sabe por quê? Porque é impossível amar alguém que não ama a si mesmo! Dumbledore foi o único que conseguiu, e veja só o que aconteceu com ele!
Snape suspirou.
- Você só está tentando ganhar tempo, Granger.
- Talvez esteja.

Em Hogwarts, Rony e Harry ainda esperavam Hermione, que tinha ido buscar alguma coisa que tinha esquecido, mas já fazia mais de meia hora que ela fora e ainda não voltara.
- Que será que aconteceu com ela? – perguntou Harry, preocupado.
- Deve estar olhando as salas e os corredores, sentindo saudades da escola antes de partir – disse Rony, entediado. – Sabe como ela é...
Gina veio correndo para eles – e parecia aflita.
- Que foi, Gina? – perguntou Harry.
A garota parecia aflita; algumas lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dela.
- A... A Mione...
- Que tem ela? – perguntou Rony.
Gina mostrou varinha da amiga e disse aflita:
- Tava num corredor do castelo... perto da passagem da falsa janela... Nem sinal dela por perto... Procurei tudo naquele andar, mas não tinha nada...
Harry e Rony se entreolharam e correram para o castelo; Gina foi atrás.
- Aonde vocês três pensam que vão? – perguntou Minerva McGonagall.
- A Hermione, professora – disse Harry. – Sumiu! A Gina achou a varinha dela num corredor e disse que não tem sinal dela...
Minerva fez uma expressão preocupada. Ainda não tivera tempo de refazer as proteções do castelo; era bem possível que alguém que conhecesse o castelo tivesse entrado – no caso, Snape.
- Vamos atrás dela – disse Minerva, que mantinha a característica de tomar decisões rápido.
- O que aconteceu? – perguntou Hagrid, se aproximando.
- A Mione sumiu, Hagrid – disse Rony.
- Chame os professores que não foram acompanhar os alunos até o Expresso de Hogwarts para ajudar a procurá-la, Hagrid – disse a diretora. – E o pessoal da Ordem. Rápido!

Snape aproximava-se num passo silencioso e ameaçador. O olhar dele era diferente de todos os que ela conhecia.
- Você estava certa afinal, Granger – disse Snape. – Não tenho muito preconceito em relação às nascidas-trouxas.
Hermione desviou o olhar e sentiu o coração acelerar. Não teve como impedir suas lágrimas de caírem.
- Ah, perdeu bem rápido toda a ousadia – comentou Snape, cínico.
Hermione enxugou as lágrimas. Não tinha como mentir para si mesma, dizendo que não tinha medo dele. Ela estava apavorada.
Ele não foi indelicado. Não sabia por quê, mas não queria assustá-la ainda mais, embora esse fosse seu trabalho. Quando estava frente a frente com ela, ele a envolveu delicadamente pela cintura. De repente, não era mais o comensal frio, o assassino traidor. Talvez aquele ar assustado e puro dela o tenham feito mudar de estratégia.
Ele a puxou para si e encostou o corpo no dela, sem pressa.
Hermione olhou-o, ainda com medo.
Snape não entendia como aquela aparente fragilidade podia lhe causar tanto impacto. Ele sempre fora insensível ao medo, não importava de quem fosse. Mas ela tinha algo diferente.
Ele a beijou; ela decidiu não desafiá-lo, embora não correspondesse ao beijo à altura. A mão dele que estava em sua cintura puxou-a ainda mais para perto – como se isso fosse possível – e a outra mão dele foi aos cabelos dela, trazendo-a para mais perto.
Hermione não o abraçou. Sentia nojo, mas não tentou afastá-lo. Se ele se irritasse talvez voltasse a ser o comensal que ele parecia ter esquecido que era.
Foi um beijo longo. A mão dele na sua cintura a apertava com força. A mão dele começou a passar por dentro da blusa dela; ela sentiu o coração acelerar outra vez. As lágrimas, que haviam cessado, voltaram.
Snape soltou-a.
- Isso vai ser divertido – ele comentou, passando a mão nos cabelos dela e contemplando a expressão de nojo que ela lhe dirigia. – Mas agora o Lorde das Trevas está me chamando. Já volto.
Ele saiu pela porta. Ao que parecia, não se podia aparatar lá dentro. Ela olhou em volta. Não sabia o que era pior: estar no quarto dele ou numa cela imunda?
Ela tentou passar para algum outro cômodo, mas descobriu que não podia. Estava presa na sala. Notou que a lareira estava acesa e aproximou-se. Sentou-se no tapete no chão, à frente da lareira. Será que seus amigos já haviam notado sua ausência? Mas por que raios ela tinha que voltar para buscar aquela porcaria de livro?
Em contrapartida, a racionalidade de Hermione não deixava de lhe dizer que era melhor assim. Se ela tivesse embarcado no trem, talvez todos os alunos estivessem correndo risco, principalmente Harry. Se tivesse conseguido chegar em casa, seus pais poderiam morrer. Era melhor ter estado sozinha. Era melhor não ter resistido. O que teria conseguido se tivesse resistido? Chamar a atenção de seus amigos para uma armadilha e alguns hematomas, talvez, mas nada além disso. Ela não podia contra Snape. Pelo menos, era o que ela achava.

- Milorde me chamou – disse Snape, ajoelhando-se diante do mestre, que estava sozinho.
- E você atendeu bem rápido – comentou Voldemort. – Você a levou para seus aposentos. Por quê?
- Não saio de lá, milorde – justificou Snape. – E não pretendo passar a maior parte do meu dia numa cela suja. Não me importa que ela esteja lá. Estive perto dela e de vários sangues-ruins durante vários anos em Hogwarts; posso suportar a presença dela. Além do mais... devo confessar que ela despertou uma certa... curiosidade em mim. Um interesse repentino que não sei explicar.
Voldemort permitiu-se sorrir.
- Como não tenho tarefas para você por enquanto, você poderá dedicar bastante tempo a desfazer a sua curiosidade – disse Voldemort, um tanto zombeteiro. – Só o chamei aqui por que queria saber o que o fez levá-la a seus aposentos. Como você já me explicou, pode voltar.
Snape levantou-se e desaparatou. Apareceu na frente da porta de seus aposentos e adentrou o lugar.
(A música a seguir é Goldeneye, da Tina Turner, e faz parte da trilha sonora de 007 contra Goldeneye)

See reflections on the water
Vejo reflexos na água

More than darkness in the dephts
Mais que escuridão nas profundezas

See him surface in every shadow
Vejo a silhueta dele em toda sombra

On the wind I feel his breath
No vento sinto sua respiração

Ele a viu sentada diante da lareira, admirando o fogo.
- O Lorde das Trevas disse que tenho tempo livre para fazer o que quiser como você, Granger. Ele não vai me dar nenhum trabalho nesse meio tempo – disse Snape, só para ver qual seria a reação dela.
- Que bom para você – ela murmurou.
- Por que tenho a impressão de que estou caindo em uma armadilha? – ele perguntou.
- Não sei – ela respondeu, sacudindo os ombros.
- Talvez porque eu esteja sendo atraído por uma força estranha – ele disse. – Só pode ser uma armadilha.
Hermione não soube o que dizer. Não estava fazendo nada além de sentir medo e tentar lutar contra isso, e ele estava envolvido por um mistério que não existia!
(Bom, eu vou cortar o “goldeneye” da tradução, porque ele não interessa aqui. Ah, e me perdoem por qualquer falha de tradução na música; estou tendo que traduzir sozinha, porque num achei nenhuma tradução na net)

Goldeneye, I found his weakness
Eu encontrei a fraqueza dele

Goldeneye, he’ll do what I please
Ele vai fazer o que eu pedir

Goldeneye, no time for sweetness
Não há tempo para docilidades

But a bitter kiss will bring him to his knees
Mas um beijo amargo vai fazê-lo ficar de joelhos

(kkkkkkkkkkk, sabem, lendo assim a música, e analisando a situação, a Mione fica parecendo uma poderosa...)

Mas Snape não foi até ela completar o que tinha começado. Em vez disso, andou até o que parecia ser um laboratório de poções, pegou um pergaminho e sentou-se a uma mesa. Pegou a pena e começou a escrever. Quando terminou, foi até a sala e entregou o pergaminho a ela.
- Leia – ele disse.
Ela pegou o pergaminho que ele lhe estendia e começou a ler.

Minha prezada Ordem da Fênix,

Vocês são patéticos! Bem debaixo dos narizes de vocês, eu consegui tirá-la daí e trazê-la para um lugar que duvido que vocês achem.
Foi fácil, além de tudo. Tentem esconder isso do Potter, ele poderia querer bancar o heroizinho.
Na verdade, só estou fazendo a gentileza de mandar este recado para que vocês não percam muito tempo indo atrás dela em todo lugar, na esperança de que ela esteja apenas querendo se esconder.

Ass.: preciso assinar? Será que vocês nem imaginam quem escreveu?

Hermione devolveu o pergaminho a ele.
- Que tal lhe parece? – perguntou Snape.
- Tem a sua cara – ela disse séria. – Sarcástico, cruel, presunçoso. Eles vão adivinhar bem rápido que foi você que escreveu, se ninguém reconhecer essa sua letra deformada antes.
Snape não respondeu à provocação; simplesmente chamou sua coruja preta e deu o bilhete para que ela levasse.
Hermione ainda olhava o fogo. Não tinha como contar com a sorte outra vez. A menos que a mansão explodisse, ela não ia se livrar de Snape por mais tempo.
- Levante-se, Granger – ele mandou.
Ela suspirou e obedeceu.
- Olhando assim, até parece que você é submissa – ironizou ele.
- Estou tentando conseguir alguma simpatia da sua parte, para eu você não seja o monstro que é pelo menos enquanto estiver comigo – ela desabafou, cansada.
- Está sendo bem sucedida. Estou inclinado a ser piedoso – ele a puxou para si. – Sabe, eu não tinha a menor intenção de tocar em você, até vê-la no enterro de Dumbledore. Não sei que raios me despertaram essa curiosidade...
Hermione sentia-se enojada e sentiu raiva de si mesma, muito raiva. Que merda ela tinha de diferente para despertar alguma coisa naquele bruxo vil?
Por que ele tinha que fazer tudo errado? Ela o amara tanto, o admirara tanto, por que ele tinha que ter estragado tudo? Por que ele tinha que trair sua confiança desse jeito tão cruel?

You’ll never know how I watched you from the shadows as a child
Você nunca vai saber como eu espreitei você das sombras como uma criança

You’ll never know how it feels to be the one who’s left behind
Você nunca vai saber como é sentir que foi a única que ficou para trás

You’ll never know the days, the nights, the tears
Você nunca vai saber os dias, as noites, as lágrimas

The tears I cried
As lágrimas que eu chorei

But now my time has come
Mas agora a minha hora chegou

And time
E o tempo

Time is not on your side
O tempo não está a seu lado

- Por que você fez isso, Snape? – ela desabafou, se descontrolando finalmente. – Por que você me traiu desse jeito?
Ela se deixou cair no sofá; Snape olhou-a estupefato. Do que aquela garota maluca estava falando? Ela levou as mãos à cabeça e cobriu o rosto, chorando muito. Inesperado. Ela estivera apavorada até ali, mas estava reagindo de modo diferente. Agora, ela mostrava mais do que desespero. Seria... decepção? Mas decepção com o que?
Snape permaneceu olhando para ela, sem saber como agir. O natural seria ignorar as lamentações dela e levar tudo adiante, sem se importar com o que ela poderia sentir. Mas não conseguia fazer isso. Suspirou irritado e foi para o que parecia ser uma cozinha.
Arriscou olhar para ela. A garota ainda chorava.
Mas que inferno, por que não consigo ir até ela mesmo assim? Por que não consigo fazer tudo o que quero sem a permissão dela?
Aquela sua fraqueza o irritou. Ele abriu uma garrafa de vinho, pôs uma boa quantidade numa taça e entornou-a de uma vez só garganta abaixo. Estava irritado, mais consigo do que com ela.
Bateram à porta.
- O que foi dessa vez? – ele perguntou em voz alta, deixando transparecer sua irritação.
Ele abriu a porta e viu um dos comensais mais novos parado a ela feito um maldito rato.
- O que é? – ele perguntou, mal humorado.
- Ahn... me desculpe... É que o mestre pediu algumas poções e... ele disse que lamenta interromper, mas surgiu um imprevisto. Parece que a Ordem decidiu empregar tudo para salvar a sangue-ruim suja e...
Snape desferiu um tapa com as costas da mão na cara do moleque, que não passava de uns vinte anos.
- Não se esqueça que você é mestiço, seu merda, tome cuidado quando falar dela – disse Snape, parecendo muito irritado.
De dentro de sua prisão, Hermione – que ouvia a conversa – ficou sem ação.
O jovem comensal, muito assustado, olhou para Snape sem saber o que dizer. Muito trêmulo, estendeu para Snape um pergaminho com a lista de poções que ele deveria fazer e murmurou:
- Desculpe, senhor... Eu... eu não imaginei que falar mal da... da refém... o deixaria tão irritado.
- Não fale como um superior enquanto você não for um – retrucou Snape com desdém. – Já pode ir.
Ele entrou e, depois de bater a porta, furioso, trancou-a. O que foi que deu em mim? Estava irritado consigo mesmo. Sentiu o olhar dela em si. Tenho que recobrar a dignidade.
- Por que está me olhando, garota?
Hermione estava boquiaberta.
- Por que me defendeu?
- O garoto é um merda. Estou irritado; falou alguma coisa que fosse desculpa, apanhou. Só isso, Granger.
- Mas... mas em que me chamar de sangue-ruim é desculpa pra bater nele? – ela perguntou estupefata.
- Não é desculpa, Granger. Foi desculpa.
Ela não entendeu a diferença, mas decidiu não provocá-lo.

See him move through smoke and mirrors
Eu o vejo se mover através de fumaça e espelhos

Feel his presence in the crowd
Sinto sua presença na multidão

Other girls, they gather around him
Outras garotas, elas o cercam

If I had him I wouldn’t let him out
Se eu o tivesse, eu não o deixaria sair

Ainda olhando o pergaminho – sem ler nada – ele pensava no que tinha feito. Só podia estar louco. Defender a garota por quê? O que o levara àquele gesto extremo?
Ele respirou fundo e buscou concentração. Então olhou para o pergaminho. Pôde ler o que estava escrito dessa vez. Eram nomes de poções trabalhosas e complicadas.
- Parece que você se livrou de mim outra vez, Granger – comentou Snape. – Isso aqui vai dar trabalho.
Hermione suspirou aliviada, mas ficou um pouco preocupada quando viu o olhar que ele lhe lançou. Era algo mais que desejo.
Ele foi para o laboratório e sentou-se à bancada que ali havia. Com vários feitiços de convocação seguidos, foi chamando os ingredientes, os caldeirões, as colheres e o que mais precisasse.
Hermione sentia-se cansada e com fome. Ela se sentou no sofá e ficou olhando para ele com um ar desconfiado, até que começou a sentir seus olhos pesados. Tentou lutar contra o sono, mas ele é sempre mais poderoso. Adormeceu.

O bilhete de Snape caíra como uma bomba na sede da Ordem. Na verdade, criou pânico. Hermione em poder dos comensais? Uma catástrofe!
- Temos que tirá-la de lá! – exclamou Rony desesperado. – Não, a Mione não...
- Vocês devem saber que é exatamente isso que Você-Sabe-Quem quer, não é? – era Moody que adentrava a sala.
- Não importa, a Mione é mais importante! – esbravejou Harry.
- Ao menos, precisamos de tempo para esboçar algum plano para achar o covil deles e tirá-la de lá – disse Moody.
- Tempo? Tá louco? – perguntou Rony irritado. – Ela vai ficar em poder dos comensais por quanto tempo? Até as madames verem que cores de saias vão usar no ataque?
- Meu caro Weasley – disse Moody, virando-se para o sr. Weasley. – Diga ao seu filho que, se a garota Granger está em poder dos comensais, o que ele teme que aconteça a ela já aconteceu.
A impassibilidade de Moody fez Harry, Rony e Gina partirem para cima dele com os punhos cerrados; Lupin gritou:
- CHEGA!
Todos pararam para olhá-lo e ele disse:
- Hermione é nossa prioridade, claro, mas temos que planejar tudo muito bem. Primeiro, não sabemos onde Voldemort e seus seguidores se escondem. Segundo, Hermione é uma menina inteligente, e vai dar um jeito de suportar o tempo que estiver lá. Terceiro, se estivermos mortos não teremos como salvá-la. Harry, Rony, Gina, eu sei o quanto Hermione é importante para vocês e, acreditem, ela é importante pra mim também, mas temos que ser um pouco racionais. Voldemort só quer nos ver desesperados. Respirem fundo e vamos analisar todas as nossas possibilidades e todos os nossos empecilhos.

Ela adormecera. Dormindo, parecia mais tranqüila. Snape olhava-a às vezes de onde estava, mas quando era hora de só deixar as poções cozinhando, ele foi até a sala e ajeitou-a no sofá. Recriminou-se por isso. Por que estou cuidando dela? Por que estou tratando essa garota com... carinho? Ele olhou-a. Ela parecia tão indefesa! Ele sabia que ela não era. Era uma bruxa muito inteligente e poderosa, mas estava abalada.
Ele tirou uma mecha de cabelos da frente do rosto dela para poder vê-la melhor. Estava muito bonita. Nunca reparara no quanto ela era bonita. Não era uma beleza evidente, entretanto, era uma beleza que precisava ser descoberta.
Snape passou a mão no rosto dela com cuidado para não acordá-la. Ela parecia cansada. Então ele afastou sua mão dela e sacudiu negativamente a cabeça. O que está acontecendo comigo? O que estou fazendo? Ele já não sabia.
O maior Comensal da Morte, o mais cruel, o maior traidor, o grande assassino, estava inofensivo diante dela.
(A próxima música da parada é Corações Animais, do Zé Ramalho)

Não me vejo feito fera, muito menos anjo

Eu que faço meu destino, traço os meus planos

Sei que meu sexto sentido não vai me trair

Troco o riso pelo pranto em qualquer negócio

Sei que tem olhos do medo no fundo do poço

Estou sempre maquiado quando vou sorrir


Ele se levantou e foi olhar suas poções. Estavam perfeitas, só para variar um pouco. Ele foi até a cozinha. Nunca soubera cozinhar, nunca tentara aprender, mas de repente se viu preocupado com ela, se perguntando se ela não estaria com fome. Que morra de fome, não me importo.
Mas ele se importava. Foi até a cozinha e preparou um grande sanduíche para ela, e pegou um pouco de suco que um elfo velho lhe fizera mais cedo. Pôs o sanduíche num prato e o suco num copo e deixou tudo numa mesinha de apoio perto do sofá. Depois, voltou ao trabalho. Sentiu, então, um enorme vazio dentro de si. E lembrou-se de tudo o que ela lhe dissera mais cedo. Ela só falou a verdade.
Para seu próprio descontentamento, ele pensou um pouco e descobriu que se sentia abatido pelo nojo que ela demonstrava sentir. Então se lembrou do que ela dissera antes de começar a chorar outra vez: “Por que você fez isso, Snape? Por que você me traiu desse jeito?”
Ele teve alguma esperança. Mesmo sabendo que ela poderia estar falando da relação professor-aluna, teve esperança de que a decepção que ela demonstrara fosse mais do que parecia ser.
Uma idéia lhe ocorreu e ele se surpreendeu em não ter pensado naquilo antes. Dormindo! Ela estava dormindo, logo não estava fazendo feitiço nenhum. Era mais difícil usar legilimência em quem estava dormindo, mas descobriu que o esforço poderia valer à pena. Concentrou-se muito e – sim – conseguiu ver o sonho dela.
Ele se viu no primeiro dia de aula, entrando na sala e falando. Depois se viu em vários lugares, em várias datas diferentes. Viu-a chorar na cama durante a noite. Depois se viu entrando com altivez no meio do campo de batalha que se fazia em Hogwarts um ou dois dias antes. Mas viu do ângulo dela. Depois viu a reação dela ao saber por Harry o que tinha acontecido na Torre de Astronomia. Viu as lágrimas silenciosas que lhe saltariam aos olhos se ela não as guardasse. Viu-a chorar de noite, na cama, mais uma vez.
Depois parou de ver as lembranças dela. Viu uma única lágrima escorrer pelo rosto dela – uma lágrima triste e calada.
Ele se afastou e voltou ao seu laboratório. O que eu fiz?

Já eram quase sete horas da noite quando Hermione acordou. Viu ao seu lado uma pequena refeição e olhou inquisidoramente para Snape.
- Isso aqui é para mim? – ela perguntou.
- Não – ele disse secamente. – É para as moscas que não estão aqui.
Hermione suspirou e olhou para o sanduíche. Era meio desajeitado, mas parecia bom. Especialmente para ela, que não comia desde a noite fatídica.
Ela se sentou no chão e começou a comer. Pelo menos não estava passando fome ali.
Às vezes Snape lançava-lhe olhares de esguelha. Ela comia com apetite. Ele continuou a trabalhar em silêncio, até que notou que Hermione acabara de comer e estava olhando para lá com curiosidade.
- O que é, Granger?
- Pra que tantas poções? – ela perguntou, curiosa.
- Pra matar seus amiguinhos da Ordem – respondeu ele secamente.
Lágrimas molharam os olhos dela, mas não caíram dessa vez.
Ela sentou-se no sofá – aliás, seria mais correto dizer que ela despencou no sofá – com o olhar fixo no nada. Queria morrer, queria sumir. Por um momento, quando viu que ele lhe daria o que comer, ela pensou que poderia se aproximar dele, persuadi-lo a mudar de lado, mas sentiu-se ridícula por ter imaginado que aquilo era possível. Olhando para ele, só via um homem ambicioso sem nada.

As leis dos meus olhos são feitas por mim

Até na mesma mão os dedos não são iguais

Tem loucos que se olham no espelho e se acham normais

Ninguém ganha um jogo sem ter ambição

Não se apaga o fogo com fogo na mão

Os gritos no silêncio não assustam corações animais

Snape terminou aquela primeira leva de poções quando já passava das dez horas da noite. Hermione ficara sentada, inerte, naquele meio tempo. O que ela estava pensando, ele não poderia saber.
Ele desceu para a sala – que era o desnível mais baixo da casa – e sentou-se no sofá oposto ao que ela estava. Ela imediatamente se pôs reta no sofá, aparentemente aguardando a morte com dignidade. Ainda assim, ela conservava um olhar baixo.
- Sabe, Granger, acho que ficar muito tempo à toa pode dar tempo pra você pensar e isso pode deixar você depressiva, e, se você morrer, não podemos usá-la para atrair o Potter. Amanhã você vai me ajudar a fazer algumas poções e...
- Não vou ajudar a fazer nada – ela disse, com absoluta segurança. – Você disse que as poções são para matar meus amigos. Não vou ajudar a fazer isso.
- Não pretendo mandá-la fazer uma poção do morto-vivo, Granger, mas algo mais simples como uma Veritasserum.
- Nem isso – ela disse. – Nada que se possa usar contra meus amigos.
- Em um mês, que é o tempo que demora para preparar essa poção, seus amigos serão passado na Terra, Granger.
Hermione desviou o olhar para o fogo e não respondeu.
- Em que você está pensando?
- Não se incomode com meus pensamentos – ela disse. – Eles não têm a menor importância para você.
Eu bem queria que fosse verdade, pensou ele amargamente.

Eu escondo um segredo sem qualquer mistério

Aqui se faz, aqui se paga, pode acreditar

Snape se pôs de joelhos e ficou na frente dela, ficando da mesma altura que ela ficava sentada. Hermione olhou-o alarmada.
- Por hoje, é só um beijo – ele disse.
Uma das mãos dele foi para trás da cabeça dela e a trouxe para si. Ele a beijou demoradamente. Ela respondia de má vontade – ele sabia que a resposta só vinha para não afrontá-lo e não fazê-lo exigir mais. Ela ainda tinha medo dele.
Pela primeira vez em sua vida, ele não gostou de provocar esse sentimento. Medo. Ou ódio. Ou rancor. Mas, mesmo assim, decidiu usar o medo dela a seu favor.
- Ou você responde direito ou vou parar de ser paciente e bondoso com você.
Ele viu o medo se espalhar e crescer nos olhos dela. Se não tem outro jeito, que seja assim. E voltou a beijá-la. Dessa vez ela respondeu direito. Mesmo que com o mais puro nojo – ele sentiu – ela chegou a abraçá-lo. Ele abraçou a cintura dela com força e aproximou-a de si. As pernas dela se abriram e ele ficou no meio delas (sem pensamentos cretinos, ele tá de joelhos, ela tá sentada no sofá e os dois tão vestidos, nada demais!)
A mão dele que estava em sua cintura começou a passar por suas costas por dentro de sua roupa. Ela amaldiçoou a si mesma. Não tivera alternativa; tivera que responder, mesmo sabendo que aquilo o deixaria excitado. A única coisa que a consolava é que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde, mesmo que ela não quisesse.
(Só o primeiro trechinho de Elevation, do U2, pra vocês)

High, higher than the sun
Alto, mais alto que o Sol

You shoot me from a gun
Você me atira de uma arma

I need you to elevate me here
Eu preciso de você para me elevar aqui

In the corner of your lips
No canto dos seus lábios

As the orbit of your hips
Como na órbita dos seus quadris

Eclipse, you elevate mey soul
Eclipse, você eleva minha alma

I’ve got no self control
Eu não tenho mais autocontrole

De manhã, quando ele acordou, ele a viu ali, deitada no chão ao lado dele, dormindo. Ele se levantou e tratou de cobri-la com um lençol. Foi tomar um banho no banheiro contíguo – o único cômodo separado por paredes, por razões óbvias.
Enquanto tomava seu banho, pensava. Ela fizera tudo claramente obrigada, mas era óbvio que ela preferia não desafiá-lo porque estava em desvantagem. Estava em território dele, era mais fraca que ele, estava sem sua varinha, estava sem pessoas para ajudá-la.
E, apesar de ter sido a primeira vez dela, não fora ruim de modo algum, pelo menos para ele. Quando terminou de tomar seu banho, se trocou rápido e olhou para a sala. Ela acordara e se enrolara tanto quanto podia no lençol. Ao vê-lo, fez-se escarlate e desviou o olhar. Ela conseguiu murmurar:
- Obrigada pela paciência e... por ter me coberto com o lençol...
Ela ficou em silêncio e muito mais vermelha do que já estava. Fazendo todo o esforço que conseguia para manter indiferença, ele disse:
- Vá tomar um banho.
Ela fez que sim com a cabeça, juntou suas roupas muito rápido e foi para o banheiro tão rápido que parecia ter aparatado.
Severo Snape olhou para a pequena mancha vermelha no tapete e murmurou um feitiço qualquer para fazê-la desaparecer.
Quando ela saiu do banheiro, seu café da manhã a estava esperando em cima da mesa da cozinha.
- Coma alguma coisa – ele disse.
Ela esperou que ele levasse para ela, mas ele perguntou com certa grosseria:
- Que está esperando?
- Não consigo ir para outro cômodo...
- Agora consegue. Eu desfiz as proteções enquanto você tomava banho.
Hermione subiu os três degraus para a cozinha e sentou-se à mesa. Ser tão passiva nunca fora seu estilo, mas, diante das circunstâncias, não tinha alternativas. Rezava apenas para que seus amigos não demorassem a achá-la e tirá-la dali.
Ela estava acabando de comer quando ouviu a voz dele dizer:
- Venha até aqui, Granger.
Hermione suspirou, mas obedeceu. Subiu mais três degraus até o nível do laboratório.
- Que poção é essa? – ele perguntou, indicando um dos caldeirões.
Sem nenhum ânimo, ela olhou para o caldeirão durante menos de três segundos e disse:
- Poção polissuco.
- Posso conceder pontos para a Grifinória?
- Qualquer coisa que você conceda será, no mínimo, um gesto interesseiro – ela retrucou.
- Não pedi sua opinião sobre mim, Granger.
- Até porque você já sabe qual é – retrucou Hermione, um pouco irritada.
- Sabe que estou um pouco em dúvida quanto a isso? – perguntou Snape. – É só nojo ou tem algum ódio no meio?
Hermione olhou-o sem saber o que dizer.
- Como você consegue ser assim? Por que faz tanta questão de ser odiado? – ela perguntou. – Por que prefere ser temido a ser amado? Você não faz nada certo, seu imbecil.
- E como seria o certo, Granger? – perguntou Snape num tom zombeteiro.
Ela não respondeu. Ele se amaldiçoava por fazer mal a ela, mas não tinha como evitar. Precisava. Ele mesmo não entendia o que estava acontecendo. De repente todas as causas por que lutara lhe pareciam vazias, inúteis. Não entendia por que o ódio dela o deixava tão abatido, não entendia como ainda conseguia lutar contra isso.
- Estou muito feliz de não ter lutado contra você antes de vir para cá – disse Hermione, de repente. – Porque, ao contrário de você, tenho amigos que eu protegeria com a minha vida.
- Com o seu corpo também, pelo que notei – tornou Snape, ácido.
Ela virou um tapa na cara dele. Ele olhou-a, sem ação.
- Ou você é muito ousada ou é muito burra, Granger – ele disse, irritado, levantando-se.
Ela não recuou.
- Você tem mais a aprender do que eu – ela declarou. – E a primeira lição é ser um cavalheiro. Começa com não usar essa linguagem suja com mulheres, qualquer mulher que seja.
Snape segurou-a pelo braço com força e sacudiu-a.
- Você ainda não sabe o quanto você precisa de mim, Granger – ele disparou.
- E você não sabe o quanto você precisa de mim – ela retrucou e, de súbito, beijou-o docemente.
A mão que segurava seu braço tão grosseiramente afrouxou; ele a abraçou e a beijou com paixão. Mas então foi ele que interrompeu o beijo para olhá-la com visível espanto nos olhos.
(Essa aqui a Christine canta pro Fantasma no fim de O Fantasma da Ópera, antes de beijá-lo pra salvar o mocinho)

Pityful creature of darkness
Pobre criatura das trevas

What kind of life have you known?
Que tipo de vida você conheceu?

God gave me corage to show you
Deus me deu coragem para lhe mostrar

You are not alone
Que você não está sozinho

- Não imagino o que você pretende com isso, Granger, mas...
- Nem vai imaginar – ela disse séria. – Mas, independente do motivo, achei que você ia me bater.
- Achou que eu ia devolver o tapa?
- Achei – disse ela, segurando o braço no lugar onde ele a havia segurado.
Ela fez menção de voltar à sala mas ele disse:
- Ainda não terminei, Granger.
Ela virou-se para ele, esperando.
- Que poção é aquela? – ele indicou outro caldeirão.
Ela suspirou.
- Veritasserum.
- E aquela outra?
- Morto-Vivo.
- E aquela outra?
- Felix Felicis.
- E a daquele caldeirão ali?
Hermione demorou mais a responder, mas ele percebeu que não era dificuldade em identificar.
- Sono de morte.
- Essa eu não me lembro de ter ensinado. Aliás, tenho certeza de que não ensinei. Vamos ver se você sabe o que ela faz.
- A sono de morte é uma poção de artes das trevas, que serve para que a pessoa que a beber morra em poucos segundos, após cair num sono profundo.
- Muito bem, Granger. Muito bem. Você me surpreende. Lê demais, na minha opinião.
- E quando foi que eu pedi a sua opinião?
- Engraçado, agora que você acha que não precisa mais da minha bondade você me desafia... você acha que não tem nada de ruim por vir?
- Estou cansada – ela disse, suspirando. – Você sempre me destratou; já estou acostumada a ser menos que lixo pra você. A única diferença de agora pra antes é que você, além de tudo, ameaça me violentar, o que é bem coisa que você faria.
- E perdeu o medo por quê? – perguntou ele, aparentemente indiferente ao que ela dissera, mas só aparentemente.
- Porque você parece ter esquecido quem eu era ontem – ela murmurou. – Não me tratou como menos que lixo. Se não me engano...
Ela se interrompeu; não poderia dizer aquilo para ele.
- Conclua – ele mandou.
- Não – ela disse. – Não posso. Ia ser a maior bobagem que já disse na minha vida, e não quero ouvir mais zombarias.
- Fiquei curioso.
- Acredite, era bobagem. Você ia rir se ouvisse.
- Estou precisando de umas risadas ultimamente mesmo.
- EU NÃO VOU FALAR! – ela gritou e desceu correndo para a sala. Ficou perto da lareira.

Na Ordem, Lupin trouxera boas novas. Ele havia conseguido mobilizar uns aurores do Ministério e eles haviam – surpreendentemente rápido – achado o lugar onde alguns comensais se reuniam de vez em quando. Poderiam descobrir o covil de Voldemort em uns dois ou três dias.
O prazo “dois ou três dias” é que não foi a melhor notícia para Harry, Rony e Gina, principalmente. Aquele tempo era muito para alguém que estava presa, em poder de comensais da morte.

Snape desceu até a sala e parou à frente dela.
- Sabe, eu não sei por que isso ainda não me ocorreu, porque normalmente é o que me ocorre quando tenho um prisioneiro que acha que pode elevar o tom de voz comigo, mas os meus velhos hábitos retornaram.
(Crossfade, com a música I Never Meant to Be so Cold)

What I really meant to say
O que eu realmente quis dizer

Is I’m sorry for the way I am
É que lamento pelo jeito que eu sou

I never meant to be so cold
Eu nunca quis ser tão frio

Ele puxou a varinha e apontou para ela; a garota olhou-o, assustada. Snape hesitou durante alguns segundos, hesitação que ela não percebeu. Ele chegou a tremer levemente antes de lançar o feitiço que a faria odiá-lo mais que tudo.
Crucio.
Hermione se contorceu e os gritos dela encheram o ambiente. Ele não suportou aquilo por muito tempo; alguns segundos de gritos e suspendeu a tortura. Que inferno! Por que não consigo tratá-la como todos os outros que passaram por mim? Ele se arrependera de torturar alguém? Como?
Hermione ficou no chão, chorando. Ele se lembrava de já tê-la visto ser torturada por outros comensais, e ela nunca fizera aquilo. Sempre desafiara, com o nariz em pé, altiva, arrogante. Por menos que tivesse chances, aquela nunca fora a reação dela. Por mais que sentisse dor, ela não chorava. Ela xingava, mas não chorava.
Por que ela está chorando?
Ele ainda olhou-a de cima, com ar superior.
- Quem sabe assim você se ponha no seu lugar – disse Snape desdenhoso.
Ele voltou ao laboratório e procurou se concentrar em suas poções. Fingiu não vê-la levantar-se com esforço. Fingiu não vê-la ir até a cozinha e beber um copo de água. As mãos dela tremiam. Ela atirou o copo nele, e errou por bem pouco. O copo bateu na parede e se espatifou.
- Eu não sou nenhum dos seguidores de merda do seu lorde de merda! – ela gritou.
Snape levantou-se rápido e virou-se para ela com a varinha em punho.
- O que você vai fazer? Me torturar de novo? Me bater? Ou quem sabe me violentar? Vá em frente!
Nunca deixe uma mulher irritada, pensou Snape um tanto sarcástico. Ela ficava simplesmente linda quando estava irritada. Ele permaneceu imóvel, esperando para ver o que ela ia fazer.
Ela parecia mais do que muito mal humorada. Ela respirou fundo e olhou para o chão. Estava calma outra vez. Olhou para Snape com um ar de incerteza; estava aguardando seu castigo.
- Você falou sério a sua última frase? Vá em frente? – perguntou Snape, em tom de pura ironia. – Pode ser que eu leve isso a sério.
- Eu te odeio – ela murmurou. – Vá em frente mesmo. Aliás, abuse, quem sabe você não perca o controle e me mate de vez.
Snape cruzou os braços; a varinha ainda em punho.
- Sabe, Granger, não estou com vontade de puni-la pela sua falta de educação... Pelo menos, não com uma Cruciatus outra vez.
Isso é péssimo pra mim, ela pensou. Preferia a Cruciatus.
Snape aproximou-se dela e guardou a varinha no bolso interno das vestes. Ele tocou o rosto dela, observando-a desviar o olhar, totalmente enojada. Prestou atenção em cada reação dela. Por que não me agrada vê-la me odiar tanto? Por que eu quero mudar a sua opinião sobre mim?
- Sabe, Granger, acho que você pode querer fazer alguma coisa diferente hoje. Que acha?
Hermione olhou-o, alarmada. Alguma coisa diferente não podia ser nada bom.
- Responda logo, Granger.
- Ahn... não tenho muita certeza de que eu vá gostar disso, mas, como isso não importa, faça como quiser.
Ele foi até um grande armário no que parecia ser um quarto e pegou uma capa de mulher.
- Essa aqui não é minha – ele disse, mostrando a ela a capa. – Mas eu a mantenho aqui, porque às vezes ela é necessária. Mas, antes de qualquer coisa, venha aqui.
Hermione obedeceu; agora queria saber o que ele tinha em mente, por mais que tivesse medo de descobrir.
Snape olhou-a fixamente e disse:
- Ainda com essa teimosia de oclumência. Felizmente, é isso mesmo que eu quero, se não seria impossível fazer o que tenho em mente.
Ele estendeu a capa para ela e mandou-a pôr. Ficou a observá-la enquanto ela fazia esse gesto tão simples. Embora ainda tentasse negar para si mesmo, estava apaixonado por ela. Pela Sabe-Tudo, Severo? Você está louco? Mas que é o amor senão a loucura?
Hermione terminou de pôr a capa e olhou-o, esperando a próxima ordem.
- Vamos escapar um pouco daqui – ele disse. – Estou ficando entediado. Você não vai querer me ver entediado, Granger, eu garanto.
- Mas por que não me deixa sozinha aqui?
Tem uns comensais que não ligam pra esse negócio de sangue, embora não confessem ao Lorde das Trevas, respondeu Snape mentalmente. Em voz alta, a resposta foi outra:
- Eu não a deixaria sozinha aqui; você poderia fazer algo impensado.
- E as suas poções?
- Precisam cozinhar por algumas horas ainda. Temos tempo. Venha logo. Aliás, por que estou respondendo a todas essas perguntas estúpidas? Ande logo.
Ela ia para a porta, mas Snape puxou-a delicadamente pelo braço.
- Por aí seremos vistos.
- Você quer sair sem informar o grande chefe? – estranhou Hermione, esquecendo seu medo para pilheriar.
- Já perdi as contas de quantas vezes fiz isso, Granger. Ser fiel não significa ser um escravo. Em nenhuma circunstância.
- E se ele resolver que quer falar com você?
- Isso será um problema meu. Mas ele não vai falar comigo, se quer saber, porque ele me esquece por umas duas semanas quando me manda fazer uma lista imensa de poções. Vamos logo.
Ele a conduziu até o que era o quarto dele e fez um feitiço para o pesado armário sair do lugar, revelando uma passagem secreta, da altura de uma porta normal. Ele fez sinal para ela ir primeiro; ela obedeceu. Ele foi depois e fez um feitiço para que o armário voltasse para o lugar.
Estavam em uma espécie de corredor frio e muito escuro. Hermione só sabia aonde ir porque Snape mantinha as mãos em sua cintura, guiando-a. Até que ela viu uma espécie de “luz no fim do túnel”. Sentiu que ia sair das sombras. Ia para a luz. Não se lembrava de como era a luz. Desde a noite do ataque a Hogwarts não se lembrava do que era a luz. E, apesar de ainda estar em poder do grande traidor, sentia-se estranhamente segura.
Chegaram a uma espécie de floresta. O dia ia alto ainda, ela fez uma careta por causa da luz, mas seus olhos começaram a se acostumar. Ela olhou para Snape, que a observava com um ar apaixonadamente fixo. Sentiu um calafrio.
- Calma – ele sussurrou. – Venha.
Ele segurava seu braço como se tivesse medo que ela fugisse; Hermione olhava em volta, tentando descobrir que lugar era aquele.
- Onde estamos?
- É uma parte da Floresta Proibida. Acho que não mencionei que não estamos na verdadeira Mansão Malfoy, mas numa espécie de castelo de inverno dele.
- Escondidos... do lado de Hogwarts? – perguntou a garota, admirada com a ousadia.
- Um esconderijo sensacional, não é mesmo? – perguntou Snape, olhando para fora.
Hermione, ao vê-lo olhar daquela forma tão diferente para as árvores – quase como se aproveitasse seus segundos de liberdade – decidiu que era hora dela começar a fazer alguma coisa para ajudar seus amigos. Ainda estava em desvantagem, mas isso podia mudar.
- Esse lugar é lindo – ela disse. – É uma pena que ele vá acabar se Voldemort reinar... Sabe, sempre que o vejo penso em destruição. Ele respira morte. Ele vive disso... Como alguém pode viver assim, quando há tanta vida aqui fora?
É mesmo; como?, pensou Snape.
- O poder custa caro, às vezes – ele disse.
- É; bem caro mesmo. Significa estar sempre sozinho e ser sempre odiado. Se bem que o Voldie não tá sozinho, né? Tem a Bella, que é casada mas idolatra Aquele-que-será-derrotado...
Ela se silenciou, para esperar a frase fazer efeito. Sabia para que lado os pensamentos dele iriam. Até Voldemort tem alguém que o ama de verdade. Era isso que ela queria. Era uma espécie de vingança pelo que ele a fizera passar. Era um traidor. Ela amava o assassino de Dumbledore. Ele tinha que pagar por ter feito aquilo com ela, por tê-la traído desse jeito.

You’ll never know how I watched you from the shadows as a child
Você nunca vai saber como eu observei você das sombras como uma criança

You’ll never know how it feels to be so close and be denied
Você nunca vai saber o que é estar tão perto e ser negada

It’s a gold and honey trap
É uma armadilha de ouro e de mel

I’ve got for you tonight
A que eu tenho para você à noite

Revenge is a kiss
A vingança é um beijo

This time I won’t miss
Essa chance eu não vou perder

Now I got you in my sight
Agora que eu tenho você na minha mira


E ele pagaria. Mais cedo ou mais tarde. Ou não.
- Você sempre vem aqui? – ela perguntou.
- Às vezes, quando preciso pensar direito – ele disse. Mas que merda! Por que estou contando isso a ela? Ele não sabia.
- Parece ser um bom lugar para pensar e para fugir da realidade – comentou ela, observando as árvores altas, que bloqueavam a maior parte dos raios de sol, mas deixavam um charme no lugar, uma paz, uma sensação de liberdade irrestrita.
- Tem um lugar para onde eu gosto de ir – disse Snape, sem saber ao certo por que ia mostrar seu lugar preferido para ela.
Ela olhou-o com o mesmo ar de curiosidade ansiosa por ser saciada que olhava nas aulas. Snape, sem segurar o braço dela, fez sinal para que ela o seguisse e ela o fez, por um momento se esquecendo de quem ele era.
Foram lado a lado até perto de um riacho de águas cristalinas. Aquele trecho era só um pouco abaixo da nascente. Era um lugar simplesmente lindo. Os olhos dela brilharam.
- Nossa, eu nunca imaginaria que um comensal da morte pudesse gostar de um lugar tão lindo! – ela exclamou, adiantando-se. Snape era mesmo imprevisível.
- Comensais da morte também são pessoas, por mais que sejam pessoas odiadas e sozinhas, como você fez questão de lembrar – disse Snape, muito calmo. Não era o lugar, mas Hermione, que lhe transmitia paz.
Ela não ouviu. Aproximou-se mais das águas e disse:
- É muito bonito... Muito. Obrigada por ter me trazido aqui.
Snape não sabia por que raios se lembrara daquele lugar e quisera levá-la lá, mas sentia-se estranhamente leve ao vê-la esboçar um sorriso sincero. Ele não ousou aproximar-se. Temia fazê-la se afastar e reencontrar a expressão de nojo embutida no olhar dela. Ele apenas a observava, encostado a uma árvore. Ela abaixou-se e molhou as mãos. Inesperadamente, jogou água nele e riu.
- Tem medo de água, comensal? – ela perguntou.
- Digamos que não pretendo ficar brincando na água feito uma criança – ponderou Snape.
Hermione sacudiu os ombros e jogou mais água nele. Como ela consegue fazer isso? Está só tentando me seduzir ou o que? Ele estava confuso. Se ela soubesse que não precisa tentar nada...
Snape sacudiu a cabeça negativamente. Precisava afastar aqueles pensamentos. Tinha que voltar a ser o comensal da morte. Mas não podia lutar contra aquela sensação de liberdade que ela lhe trazia. Ela era como uma luz que iluminava as sombras em que ele vivia.
- Vamos voltar – ele disse, de repente. – Não posso ficar muito tempo fora.
- Ah, mas você tem que admitir que os lugares e as coisas têm uma beleza diferente quando há alguém para compartilhar as sensações! – exclamou Hermione, que parecia ter esquecido que era uma prisioneira.
Não sei o que é mais bonito: o lugar ou o seu sorriso?, ele pensou.
- Não vou admitir nada – retrucou com rispidez. – Vamos voltar logo.
O sorriso do rosto dela murchou e desapareceu. E ele sentiu uma pontada de culpa no coração, porque sabia que a culpa disso era sua. Ele acabara de lembrá-la de sua condição de prisioneira e acabara de lembrá-la quem ele era. O que ele era.
Ela aproximou-se dele, com o ar submisso de antes. É tão mais bonita quando está alegre! Ele desejou poder deixá-la ir. Ele fazia mal a ela, e descobriu que não queria isso. Queria vê-la feliz. A gota final. A maior prova de que ela deixara de ser apenas um objeto de desejo para ele. Ele negou isso.
Ela mal chegara perto dele, quando os dois ouviram uma voz um tanto debochada.
- Quem diria? Severo Snape trazendo a refém para passear em seu refúgio preferido...
Os dois se viraram quase ao mesmo tempo. Era Goyle pai.
- Ela estava me irritando – disse Snape, usando sua máscara como ninguém. – E, se entrasse em depressão e parasse de comer, poderia morrer e não serviria para nada. O mestre a quer viva, esqueceu?
- Ah, não... Não me esqueci – disse Goyle num tom perigoso. – Mas eu e uns amigos achamos que essa sangue-ruim pode ser uma boa diversão, aqui mesmo.
Vários comensais – mais ou menos uns quinze – desaparataram ali, todos à frente dele. Snape sabia que não havia ninguém atrás dele, por causa de seus ouvidos treinados.
- Diversão? – questionou Snape. – Ainda não a preparei para isso. E ela é virgem. Eu a trouxe e eu vou ser o primeiro dela.
A jovem olhou-o, mas disfarçou. O traidor estava mentindo para ajudá-la?
- Não temos objeções – disse Goyle. – Pode ser o primeiro. Accio capa.
A capa dela foi rasgada e voou às mãos do comensal; os outros aplaudiram. Hermione sentiu o desespero invadir sua alma.
Snape suspirou calmamente. Quem o visse não imaginaria o quanto ele estava se desesperando.
- Vocês sabem que não aprecio esse tipo de exposições públicas – retrucou Snape. – Nunca fui de participar das suas festinhas, e não pretendo começar agora. Vou levá-la ao meu quarto e depois, quem sabe, eu possa pensar em entregá-la a vocês.
- Sabemos que você é egoísta, Snape, mas você poderia abrir uma exceção para a amiguinha do Potter.
- Não abro exceções para uns merdas como vocês.
Um feitiço de surpresa o atingiu em cheio; ele tombou para trás, mas se recompôs rápido.
- Nós a queremos, e agora, Snape.
- Não tenho nada a ver com o que vocês querem. Se estão precisando de uma vadia, procurem outra. Há muitas dentre as novas comensais. Está aqui é minha.
Ele segurou o braço de Hermione com força, e puxou-a para trás de si. A cabeça dela começou a girar. Snape ia ajudá-la a se livrar dos comensais? Ela quis correr, mas pensou que o lugar mais seguro, naquele momento, era ali, com ele. Ela não tinha como escapar sozinha. Mas era loucura. Snape sozinho contra quinze comensais?! Morte certa!
Vários feitiços partiram para Snape; alguns, ele bloqueou; outros o atingiram. Hermione soltou um grito. Era inofensiva sem uma varinha. Snape atacou vários comensais – com feitiços muito mais fortes do que os que o atingiam. Alguns iam ao chão mortos, ou sangrando. Então, quando os comensais viram que ele estava disposto a tudo pela garota, começaram a atacá-lo com feitiços mais hostis.
Snape recebeu vários cortes imensos e perdia sangue rapidamente, mas não caiu. Ia morrer antes de deixar fazerem mal a ela. Mal que, horas antes, ele mesmo ia fazer. Mas então todos os comensais sentiram a marca queimar. Todos aparataram, mas Snape não tinha forças para isso. Foi ao chão, semiconsciente. Agora, ela poderia fugir. Estava sozinha para isso. Sentiu-se aliviado. Fizera algo de bom a ela.
(ATENÇÃO: qualquer semelhança com a Bela e a Fera não é mera coincidência, é uma homenagem à cena clássica)
Hermione não cabia em si de tanto alívio quando os comensais aparataram dali. Quando viu Snape cair, viu a oportunidade perfeita para fugir. Ao longe, ouviu a voz de Harry e Rony gritando seu nome. Ela virou-se para lá. Podia ir. O maldito traidor morreria; os comensais estavam longe. Agora ela podia ir. PODIA IR!
Ela começou a correr em direção às vozes, mas parou. Parou e olhou para trás. Snape caído no chão. Lutara contra quinze comensais sozinho para salvá-la. E ia morrer se ficasse ali, sangrando.
Olhou outra vez para a direção de onde vinham as vozes de seus amigos. Eles tinham vindo salvá-la, mas não eram eles que a tinham salvado. Snape poderia tê-la dado de presente aos comensais, mas lutara por ela. Arriscou a posição máxima na hierarquia dos comensais e a confiança do Lorde das Trevas para salvá-la de um destino humilhante.
Mais uma vez olhou para a direção de onde vinham as vozes desesperadas de seus amigos e voltou para o lado de Snape. A vingança não era o caminho. A vingança era um ciclo de ódio. Um círculo vicioso, uma bola de neve descendo uma montanha alta. Sempre ódio, sempre rancor, sempre vingança. Ela podia romper esse ciclo. Ela tinha os meios e a oportunidade. Ele merecia morrer e definhar ali, por todo o seu passado, mas ela lembrou-se de Dumbledore, do amor que ele tanto pregava.
Correu para onde estava Snape e abaixou-se ao lado dele. Estava desacordado. Ela pegou a capa que Goyle deixara cair no chão e o cobriu. Ele estava muito machucado. Mortalmente ferido. As vozes de seus amigos de aproximavam. Tinha que se apressar. Pegou a varinha dele, agarrou seu braço com força e aparatou dali com ele. Ah, sim, ela sabia fazer uma aparatação conjunta perfeita. Aparataram na frente da passagem. Ela notou que ele estava semi acordado e ajudou-o a ficar em pé. Não teria como carregá-lo se ele estivesse completamente desacordado. O sangue ainda saía sem piedade. Perdendo muito sangue, e muito rápido. Ela o guiou pelo corredor escuro, sem saber como conseguia fazer aquilo, até que bateu numa parede muito sólida à sua frente. Bateu na parede. Era de madeira.
Pronunciou um feitiço para afastar o armário e entrou com Snape no covil dele. A primeira coisa que fez lá dentro foi pôr o armário de volta no lugar. Jogou a varinha dele em cima do sofá e ajudou-o a andar até a cama. Deitou-o lá.
Ele, sentindo suas forças indo embora, achou que estava tendo uma alucinação. Ela voltou para me ajudar? Mas por quê, se ela podia fugir?
Sua visão estava muito difusa; o sangue manchando os lençóis. Ele não perdera sangue de uma forma comprometedora, mas se continuasse sangrando daquele jeito, certamente morreria.
Hermione correra para a cozinha e apanhara uma bacia com água. Depositou a bacia com água ao lado dele na cama e correu ao armário, à procura de algum pano velho. Achou. Voltou correndo à cama e sentou-se ao lado dele.
Snape a olhava, parecendo não ver nada. Ela tentou abrir o sobretudo dele, e suas mãos ficaram sujas de sangue. Ela não demonstrou nojo ou pânico; foi prática: já que não conseguia abrir as roupas do jeito certo, rasgaria. Pegou uma faca para conseguir rasgar o tecido grosso do sobretudo e rasgou-o, depois rasgou a camisa. Cortes profundos abertos. Malditos feitiços! Ela não ousaria usar um feitiço curativo.
As pernas dele também tinham feridas, mas eram menores e menos graves. Ela se concentrou no tórax. Pegou o pano e começou a limpar as feridas. O sangue precisava estancar. Ela lembrou-se de que ele era um mestre de poções e correu à estante do laboratório dele. Onde estava a poção curativa? Ela não achou.
Ela correu ao sofá e pegou a varinha dele. Depois voltou ao lado de Snape e começou a limpar as feridas. Pressionou o pano com força sobre as feridas mais insistentes. A merda do sangue ia estancar nem que fosse à força.
Depois de muito esforço, depois de limpar muito as feridas, o sangue finalmente estancou. Se é que ele ainda tem sangue aí, pensou Hermione, com humor negro. Ela pegou uns trapos que ainda estavam secos e enfaixou o tórax dele o melhor que pôde. Ficou em dúvida se deveria ou não limpar as feridas das pernas, mas achou que não faria mal. Pegou a faca e rasgou as calças dele. tentou não olhar acima das coxas. Limpou tudo rapidamente e fez o sangue estancar nos cortes menores. Ele dormia. Ela fez um feitiço para deixar a cama limpa.
Foi até o laboratório dele. Correu às prateleiras de livros e procurou um que tivesse alguma coisa sobre a poção curativa. Não demorou muito a achar. Abriu o livro. Já tinha visto aquela poção antes.
Pegou tudo o que precisava e começou a fazer. A vantagem é que a poção ficaria pronta em três horas. E, durante três horas, ela trabalhou absolutamente concentrada na poção, sem nem tomar conhecimento do mundo à sua volta. Queria fazer tudo certo. Procurou todos os defeitos possíveis, mas não achou nada. Não notou Snape acordando lentamente e olhando em volta. Não notou o espanto dele ao vê-la ali. Não o notou observá-la.
Ela terminou a poção e suspirou. Em que eu vou testar essa merda?, ela pensou. Não havia nada ali.
Tomou uma decisão rápida. Foi até a cozinha, pegou uma faca afiada. Depois, voltou ao laboratório e pegou um pouco da poção. Fechou os olhos e cortou a palma da mão com a faca. Fez uma expressão de dor e, respirando fundo, bebeu a poção num gole só. Fez uma careta.
- Isso tinha que ser tão ruim? – ela perguntou. Olhou para a palma de sua mão e sorriu ao ver que o ferimento estava se fechando muito rápido.
- Reprovada, srta. Granger – a voz dele a fez sobressaltar-se. – Eu sempre disse em sala que não era para experimentar poções que não se tinha certeza que tinha dado certo.
- Se você me assustar outra vez, juro que te mato – ela disse.
Pegou um pouco de poção e levou até ele. Sentou-se ao lado dele na cama e, ajudando-o a levantar a cabeça, ajudou-o a beber. Depois o deitou no travesseiro e ficou olhando para as pernas dele – descobertas – mas sem nenhuma intenção que não fosse ver como ia o processo curativo.
As feridas da perna se fecharam logo; em um casto silêncio, ela tirou as faixas que usara para proteger as feridas e observou que algumas feridas ainda estavam abertas, mas bem menores que antes.
Sem nada dizer, ela voltou ao laboratório e pegou mais poção. E ajudou-o a beber outra vez. Desta vez, até as feridas do tórax se fecharam.
Então, ela foi para a sala e sentou-se no sofá em silêncio. Dívida paga. E ainda era uma prisioneira.
Nenhum dos dois falara sobre aquilo. Estavam em um pesado silêncio. Snape sentou-se na cama e observou a jovem. Aparentemente, o fato de ele estar só de cueca não a incomodava. Claro que não, ele já estivera nela.
- Granger – ele chamou, sério.
A jovem olhou-o.
- Que foi?
- Venha aqui.
- Você está longe da sua varinha e está fraco. Não está em posição de me dar ordens.
- Por favor – ele disse, meio a contragosto.
Ela levantou-se e foi até lá.
- Por que fez isso? – ele perguntou. – Por que voltou para me ajudar? Por que não me deixou morrer sozinho?
Hermione não respondeu logo. Nem ela sabia direito.
- Respondo se você me disser por que enfrentou quinze comensais da morte para me salvar de uma humilhação – ela disse.
Os dois ficaram em silêncio; ele levou uma das mãos à cabeça.
- Não ouso dizer nem para mim por que fiz aquilo; eu não seria capaz de dizer a você – ele disse, um pouco sem jeito. Não se lembrava de já ter se sentido inofensivo.
Hermione sentou-se na cama, olhando-o com uma expressão que ele não soube definir. Não era carregada de ódio, de desprezo, ou de nojo. Era diferente. Ela tirou uma mecha do cabelo dos olhos dele; ele pegou a mão dela e beijou a mesma. Ela sorriu docemente.
- Sabe, Snape, sempre achei que você estava bem no limite entre bem e mal, mas sempre achei que a confiança de Dumbledore o manteria do lado do bem. Me enganei muito feio. O mal foi mais forte. Mas... sabe, tudo o que Dumbledore diz faz sentido. Só existe uma coisa que pode salvar os homens. Só uma. E estou disposta a ver se dá certo, mesmo que eu acabe como Dumbledore.
Ao dizer isso, ela aproximou-se e beijou-o. As mãos dele a abraçaram, mas não como o comensal faria. Ela beijou-o com... amor? Para Snape, aquilo era um sonho bom, do qual ele não queria acordar nunca.
Hermione abraçou-o enquanto o beijava, e foi se deitando e puxando-o consigo, para fazê-lo se deitar por cima dela.

Harry e Rony estavam desesperados. Encontraram Gina, Lupin e Moody num dos corredores do porão da mansão Malfoy escondida.
Nem sinal de Hermione. Onde ela estava? No ataque feito por vários aurores, de todos os que estavam na mansão só três não haviam sido localizados e mortos ou presos: Voldemort, Snape e Hermione.
- Será que eles a levaram para um outro esconderijo? – perguntou Harry, desolado.
- Parece que sim – disse Lupin, não menos decepcionado que os outros.
- Poxa, tinha tudo pra dar certo – murmurou Gina. – O que será que Hermione está passando a essa hora?

Snape olhava a jovem ao seu lado e não acreditava. Ela estava coberta por um lençol fino agora, e acariciava o rosto dele. Snape começou a brincar com os cachos dela. Lentamente, sua mente começou a repassar tudo o que fizera, todos os erros do passado. Tudo errado. Tudo.
Ela arrastou-se na cama para se aproximar mais dele e abraçou-o, recostando a cabeça em seu peito. Snape poderia esperar qualquer coisa, menos aquilo. Menos aquela demonstração de carinho. Ela estava tranqüila. Parecia ter se esquecido de que ele era um traidor. Um maldito traidor. Será que a vida está me dando uma terceira chance? Se estiver, eu sou o homem de mais sorte do mundo. Ele era. Só parecia não ter notado isso ainda.
Hermione transmitia tranqüilidade. Ele afagou os cabelos dela. Procurou os olhos dela, mas viu que ela tinha adormecido. Adormecido tranqüila em seus braços. Isso nunca acontecera antes. Era tão... tão maravilhoso se sentir amado.
Então ele sacudiu a cabeça negativamente. Não podia ser verdade. Estava sonhando. Era uma alucinação. Naquela tranqüilidade que supunha falsa, ele adormeceu.
Acordou horas depois e viu que estava sozinho. Eu sabia. Sentou-se na cama e olhou em volta. Ali estava ela. Hermione veio da cozinha trazendo dois sanduíches e dois copos de suco, e sentou-se com ele na cama.
- Boa noite – ela disse, sorrindo. – Estamos trocando o dia pela noite.
Ela ofereceu a pequena refeição improvisada para ele, que aceitou.
- Por que você tá me olhando desse jeito, Severo? – ela perguntou calmamente.
Duas coisas estranhas. Ela estava lá mesmo; não fora um sonho bom. Outra coisa estranha: ela o chamara pelo primeiro nome.
Hermione o chamara de “Severo” para ver qual seria a reação dele, mas ele não esboçou nenhum traço de raiva.
- Porque você é linda... Hermione – ele falou muito sem jeito; ela riu.
- Não precisa ser o cara mais carinhoso da Terra; eu me apaixonei por você mesmo no meio das suas grosserias e humilhações – ela esclareceu de modo natural.
Ele estava ouvindo errado. Só podia estar. A confusão dele a fez rir.
- Não precisa dizer que sente o mesmo – ela disse. – Você vai aprender. Você precisa aprender.
Snape tentou dizer algo, mas estava completamente sem reação. A sua menor esperança se tornara realidade.
- Eu não mereço você – ele desabafou, com nojo de si mesmo. Levantou-se e se afastou dela. Procurou suas vestes e, quando as achou, vestiu-as. – Você devia ter ido aos seus amigos. Devia ter me deixado morrer. Era o melhor que você podia ter feito, para você e para todos. Eu não mereço ser feliz. Não mereço. Sou um maldito desgraçado que traiu a confiança do único homem que confiava em mim. Você estava certa. Se vista direito e vá embora. Deixe-me sozinho. É assim que eu mereço morrer. Sozinho. Eu sempre trabalhei por isso. Vá.
Hermione olhava-o. Sentiu-se feliz ao ouvir aquilo. Ele a amava também. Ela levantou-se e foi até ele.
- Sabe, Severo, eu sempre pensei que Dumbledore exagerava com essa história de que o amor salva as pessoas. Mas ele sempre falou a verdade. Você ainda tem tempo de se redimir. O que você fez nunca poderá ser consertado, mas, se você se arrepende, você ainda tem como pedir desculpas. Saia desse lado de sombras. Saia dessa semivida em que você se enterrou. Venha comigo. Fique ao lado da Ordem. Honre a memória de Dumbledore. Ele fez muito por você. Ele pôs um coração no seu peito. Ele só se esqueceu de convidar alguém para fazer esse coração bater. Foi o único erro dele.
Snape estava meio sem reação.
- Nunca ninguém confiará em mim – retrucou Snape.
- Eu confio em você e eu estou ao seu lado – disse Hermione, segurando as mãos dele.
- O último homem que confiou em mim acabou morto – retrucou Snape amargurado.
- Não tenho medo – ela afirmou. – Eu te amo. Isso é suficiente para me manter segura. Vamos embora desse lugar!
- Ainda há uma guerra – disse Snape. – E eu tenho que cumprir um papel nela. O papel que eu nunca deveria ter deixado de cumprir. Volte para seus amigos. Eu voltarei às sombras. Espero contar com você para me tirar de lá.
Hermione abraçou-o e beijou-o.
- Conte sempre comigo – ela sussurrou.
E beijou-o outra vez.
- Eu disse que Voldemort seria derrotado – ela disse. – Ele será.
Snape segurou o braço esquerdo com força.
- Ele está me chamando. Se eu não morrer, passarei informações para o seu pessoal – disse Snape. – Se eu morrer, acho melhor você saber desde já que eu te amo também. E que sempre serei grato a você pela minha redenção. Você salvou a minha alma.
Ele afastou-se sem mais dizer; abriu a porta e olhou para fora. Corpos no chão e silêncio.
- Vou tirá-la daqui. Venha.
Ela aproximou-se; ele abraçou-a e aparataram dali.


EIS A PRIMEIRA PARTE

NO SITE SNAPEMIONE ISSO AQUI ERA PRA SER UMA ONE SHOT, MAS FICOU MUITO GRANDE E VIROU UMA PEÇA EM TRÊS ATOS

HEHEHEHEHE

BOM, AQUI, VOU POSTAR AS TRÊS PARTES DE UMA SÓ VEZ.

EU TENHO UMA CAPA, MAS NÃO SEI COLOCAR

ALGUÉM PODE ME EXPLICAR DEPOIS???

BJOSSSSSSSSSS

ESPERO Q GOSTEM

ANNINHA SNAPE

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