Parte II



Parte II

Hermione estava na frente da sede da Ordem e bateu à porta. Foi Molly Weasley que a abriu e, ao vê-la ali, abraçou-a maternalmente.
- Onde você esteve, querida? Todos estávamos procurando você... – murmurou Molly, pondo-a para dentro e trancando a porta.
Hermione ainda estava estarrecida com tudo o que tinha acontecido. Tinha dado certo! Dumbledore estava certo. Quem sabe ele não soubesse que Snape era um traidor? Quem sabe ele só quisesse dar a ele a chance de ser amado por alguém. Os pensamentos giravam ao redor de sua mente e a voz estridente de Molly Weasley a estavam deixando tonta.
- Harry e Rony foram com vários aurores ao covil de Você-Sabe-Quem, mas não te acharam; só uns comensais. Aquele-que-não-deve-ser-nomeado fugiu com uns comensais perigosos, e Snape não foi encontrado. Estávamos preocupados... você conseguiu fugir?
- Ahn... não – respondeu Hermione. – Não fugi. Não precisei. No meio daquela confusão, eu salvei uma pessoa. Uma pessoa que me salvou. E não estou arrependida. Não estou.
Molly olhava-a com um ar preocupado.
- Você está bem, querida? – perguntou a mulher.
- Estou ótima – disse a jovem. – Onde está o resto do pessoal da Ordem?
- Estão procurando você... – respondeu Molly. – Está com fome?
- Não, não... eu comi alguma coisinha antes de vir para cá – disse Hermione. – Eu preciso falar com o Lupin e com a Tonks... Onde está minha varinha?
- Ah, aqui – Molly correu para a sala e pegou a varinha para entregá-la à jovem.
Hermione recitou um feitiço e seu patrono saiu.
- Pronto. O pessoal vai receber meu recado e virá pra cá.
A garota olhou em volta e uma idéia lhe ocorreu.
- Molly, tem como eu ir pra Hogwarts agora?
- Tá fechada, minha querida – disse Molly. – Mas por que você quer ir para lá?
- Tenho que falar com Dumbledore. Agora. Estou indo pra lá. Se o pessoal chegar, diga a eles que já venho.
- Mas Hermione, você foi refém de comensais... Não está com medo de ser pega de novo? Eles devem estar atrás de você...
- Não tem problema; eu tenho que falar com Dumbledore.
Antes que Molly pudesse dizer alguma coisa, Hermione aparatou.
A garota desaparatou em Hogsmeade, e andou a passos largos para Hogwarts.
- Severo... Severo... – ela murmurou. – Você está precisando ser salvo.
Ela apressou-se. O castelo estava a portas trancadas, mas aquilo nunca fora problema para ela. Sabia que as proteções da escola nunca seriam feitas contra alunos.
Correu pelos corredores silenciosos do castelo até chegar à frente da diretoria. Não sabia a senha. Fechou os olhos e tentou tudo o que poderia ser estranho o suficiente, mas nada deu certo.
Respirou fundo e pensou. Disse tudo, passou quase duas horas falando tudo o que podia vir à mente de alguém louco o suficiente para ser diretor de Hogwarts, mas nada. Claro, Mione, agora a diretora é a Minerva...
Ela tentou alguma coisa mais simples e mais direta. Nem dez minutos de tentativas e murmurou fênix, e a gárgula deu passagem para ela.
Bateu à porta; não houve resposta. Então, abriu a porta e adentrou o lugar. Os quadros estavam acordados e discutindo alguma coisa, ma, ao vê-la entrar, calaram-se pra fulminá-la com o olhar.
- O que uma aluna faz aqui? Tinha que ser grifinória! – resmungou o professor Dippet.
- Srta. Granger! – exclamou Dumbledore sorrindo. – A que devemos a honra da visita?
- Eu queria falar com o senhor... – murmurou a jovem – Eu fiz algo... algo que o senhor talvez possa reprovar e...
- Hermione Granger fez algo errado? – perguntou Dumbledore. – Duvido.
- Não acho que seja errado – disse a jovem – É sobre Severo Snape.
O sorriso abandonou completamente o rosto do velho ex-diretor; houve vários murmúrios por parte dos outros diretores.
- O que foi? – perguntou Dumbledore. – Minerva me falou que você tinha sido levada por comensais... Como fugiu?
- Eu... não fugi, professor – murmurou Hermione. – Eu... eu salvei Snape de morrer.
Houve várias exclamações assombradas e algumas em reprovação; Dumbledore, embora tivesse espanto nos olhos, manteve a calma.
- Eu... eu estava em poder dos comensais, mais precisamente, em poder dele. Ele me levou daqui depois do seu enterro – ela disse. – Prefiro ocultar certos detalhes, professor, mas teve uma hora em que ele me levou pra ver um lugar de onde ele gostava... Não sei que raios se passavam na cabeça dele, mas... Bom, estávamos lá e ele ficou todo grosso de novo e disse para irmos embora... Aí uns quinze comensais apareceram. Eles queriam... ah, o senhor entende!
- Entendo –murmurou Dumbledore cabisbaixo. – Só lamento não ter o que fazer...
- Então, era aí que eu queria chegar – disse a jovem, um pouco constrangida. – O Snape me livrou deles. Atacou vários. Lutou sozinho contra os quinze. Então ele... ele desmaiou. Estava todo ferido, sangrando. Eu ouvi Harry e Rony me chamando e eu ia atrás deles, mas...
Ela hesitou. Dumbledore, calmo, um pouco sem reação, mas entendendo perfeitamente a situação, completou:
- Você não conseguiu ir embora e deixá-lo morrer, porque ele só ficou vulnerável para salvar você.
- É – murmurou Hermione.
Houve comentários revoltados de vários quadros; o professor Dippet comentou:
- Só podia ser grifinória mesmo!
- Bom, eu... eu cuidei dele – disse a jovem. – Eu voltei com ele para onde ele me mantinha presa. Eu limpei as feridas dele. Eu estanquei o sangue dele. Eu fiz poção curativa para cicatrizar tudo.
- Você salvou o traidor – resumiu Dumbledore.
- Sim, professor – murmurou Hermione. – Eu queria mostrar para o senhor, como mostrei a todos os meus outros professores o quanto sou uma boa aluna...
- Mostrar como? Salvando a vida do assassino dele? – resmungou o professor Dippet.
- Não – disse Hermione, erguendo o olhar para Dumbledore. – O professor Dumbledore sempre disse que o amor é o único jeito de salvar as pessoas, é a única garantia. Eu quis ver se é verdade. Bom, eu estou aqui, mesmo depois de ter voltado à condição de prisioneira dele...
Por um momento, o velho diretor não disse nada. Parecia considerar a questão.
- Pensei que, já que perdemos os poderes de Alvo Dumbledore, precisaríamos pelo menos ter Snape de volta – murmurou Hermione. – Bom, nós temos.
- Tem certeza? – perguntou o professor Dippet.
- Não – disse Hermione. – Mas eu acredito. Ele nunca teve muitas chances na vida; está tendo agora. Sei que o senhor já deu uma segunda chance a ele, professor, mas o senhor se esqueceu de dar a ele... algo por que lutar. Algo, além da liberdade da humanidade... Sabe, ele não é o tipo de pessoa que se importa em salvar o mundo... Mas... posso estar parecendo pretensiosa, mas ele tem algo por que lutar agora... Agora que ele sabe que alguém pode amá-lo. Ele só precisava disso, e eu dei isso a ele. Não sei se estou certa, mas sei que não estou errada.
Mais um minuto de silêncio, mas desta vez Dumbledore abriu um sorriso tranqüilo.
- Eu sempre disse a ele que ele precisava ser amado... mas ele nunca acreditou em mim... Ria da minha cara quando lhe dizia isso. Dizia que era impossível alguém amá-lo. Mas me diga, srta. Granger, como foi que você começou a amar um homem como Severo?
Ela corou.
- Não sei ao certo... Mas foi antes de ele matar o senhor... Eu fiquei tão decepcionada... Não sei se chorei mais pela sua morte ou pela traição...
- Entendo... Fico feliz que você esteja segura. Apenas... tome cuidado.
- Ah, eu sei... Só espero... Diretor, acha que o senhor conseguiria perdoá-lo, se ele se mostrar merecedor de perdão?
Houve um minuto de silêncio, em que Dumbledore parecia considerar a questão.
- Bem... Acho... acho que poderia sim... Se nosso lado ganhar será mais fácil perdoá-lo. Principalmente se ele nos ajudar a vencer.
Hermione abriu um sorriso grato e disse:
- Bom, eu já ouvi o que precisava... Vou para a sede da Ordem agora, sabe, o pessoal tá meio preocupado comigo e eu saí antes deles chegarem.
- Pretende que eles saibam do seu envolvimento com Severo? – perguntou Dumbledore.
A jovem calou-se, pensativa, por um momento.
- Não. Vão dizer que ele me enfeitiçou ou que eu enlouqueci. Acredite, diretor, ele, como comensal, não se importa em enfeitiçar ninguém. Faz o que quer sem se importar com a vítima. Estou muito aliviada de ter conseguido ver um lado diferente nele, senão não sei o que seria de mim...
Ela suspirou e, depois de pedir licença, saiu.

Já na Ordem, encontrou todos os amigos e abraçou-os com força. Morrera de saudades.
- Puxa, Hermione, pensamos que tínhamos perdido você! – exclamou Rony, alegre ao vê-la.
- Ah, nem conto como foi horrível estar lá! – exclamou a garota. – Olha, graças àquela confusão consegui fugir... Na verdade, alguém me ajudou.
- Quem? – perguntou Moody.
- Eu não o conhecia – disse Hermione com um sorriso. Era verdade. O outro lado de Snape ela não conhecia.
- Eles... violaram você? – questionou Lupin, parecendo preocupado.
Hermione desviou o olhar para o chão e ficou em silêncio. Aquele gesto responderia à pergunta.
- Quantos? – perguntou Lupin, tentando ser o mais delicado possível para tratar daquele assunto.
- Um só – ela disse. – Nunca agradeci tanto a Deus por ser nascida-trouxa.
- E quem foi? – perguntou Harry. – Um mestiço, claro... Snape?
Hermione desviou o olhar para o outro lado. Aquele gesto também responderia à pergunta.
Harry socou a parede com tanta força – tanto ódio – que esta se deformou e a mão dele sangrou, mas isso parecia não incomodá-lo.
- Aquele merda... – murmurou Rony entre dentes.
- E o que vocês andaram fazendo? – ela perguntou. – Além de me procurar...
- Nada além disso – disse Moody. – O que foi bom, pois eles acabaram nos levando até você e até eles.
- O tiro saiu pela culatra – resmungou Harry. – Assim que eu achar Snape, vou matá-lo. Aquele desgraçado...
- Não vou deixar você fazer isso, Harry – disse Hermione.
Todos olharam-na, esperando uma explicação.
- Bom... Eu é que vou cuidar dele – disse a jovem, meio sem jeito. – Você já tem Voldemort para matar.
- Aquele desgraçado fugiu – disse Harry. – Fugiu como um rato.
Hermione tentou sorrir e disse que ia para o quarto. E foi mesmo. Quis dormir. Quis descansar, quis pensar. Não soube quanto tempo passou naquela cama, mas ouviu um barulho na janela. Ela foi ver o que era. E o que viu a assustou. Snape, quase morto, jogado no chão como um monte de lixo. Não havia ninguém ali.
- Ah, que se dane, você vai entrar – ela disse.
Ela abriu a janela e pulou para fora, olhando em volta para ver se ninguém os via. Seu quarto era mesmo no térreo! Ninguém por ali, ninguém parado na janela. Era madrugada alta e fria.
Snape estava consciente, mas muito ferido.
- Olha, eu preciso que você pule a minha janela, você consegue? – perguntou ela, com um sussurro no ouvido dele, que o fez estremecer.
Ele fez que sim com a cabeça e ela o ajudou a se levantar. Ver Snape pulando uma janela seria engraçado se não fosse a situação.
Já lá dentro, ela fechou as janelas e as cortinas, trancou a porta e fez uma barreira de som em volta do quarto e acendeu as luzes.
Ele estava deitado no tapete, pois não queria sujar a cama dela com seu sangue sujo.
- O que aconteceu? Quem fez isso?
- Aurores – disse Snape. – O Lorde das Trevas ainda confia em mim; todos os comensais envolvidos no episódio que aproximou nós dois estão mortos. Ele perguntou porque não atendi logo ao chamado dele e eu disse que estava muito ferido e que me arrastei para meus aposentos e tomei minha poção curativa.
- Bom, eu disse que alguém que eu não conhecia me ajudou a sair de lá, o que não é mentira – disse Hermione com um sorriso. – Achei que, se eles soubessem, Voldemort poderia ver alguma coisa na mente deles e estragar tudo. Espere um pouco.
Ela abriu um armário e olhou-o com atenção. No fundo, escondido entre roupas, havia um frasco com poção curativa. Ela entregou-o a ele.
- Eu sabia que você ia precisar disso – ela disse.
Snape bebeu e, quando conseguiu se recuperar, levantou-se e entregou o frasco a ela, com o que sobrava dele.
- Bom, não vou incomodar seu sono – ele disse. – Vou embora e ver se arranjo um lugar para dormir.
- Você não tem onde ficar? Fique aqui, oras!
Snape olhou-a.
- Compartilhar a sua cama?
- Eu já compartilhei a sua. Além do mais, é horrível dormir ao relento. Melhor uma cama quentinha.
Snape deu um sorriso meio sem graça. Era tão estranho ter para quem voltar! E tão bom! Ele a beijou com paixão. Era bom ser amado. Mais que bom. Era maravilhoso.
Ela abriu o armário e pegou uma camisola branca e foi ao seu banheiro se trocar. Não queria provocá-lo. Não sabia se ele estava bem. Quando voltou, viu o olhar dele correr seu corpo e decidiu que ele estava ótimo.
Ajudou-o a tirar as vestes e deitou-se e cobriu-se com a pesada manta. Estava frio naquela noite. Snape deitou-se ao seu lado.
- Você está parecendo cansada. Não vou obrigá-la a nada hoje.
Ele meio que sorriu e abraçou-a. A ironia dele não saía exatamente como uma piada, mas mesmo assim ela conseguiu sorrir.
- Boa noite – ela murmurou. – E obrigada.
- Boa noite... Hermione.
Ela apagou as luzes e, abraçada a ele, deixou o frio se afastar. Dormiu tranqüilamente, vulnerável ao traidor. Vulnerável.
Snape acariciava os cabelos dela com um carinho imprevisível nele, até que adormeceu também.

De manhã, quando acordou, viu-a deitada ao seu lado, sorrindo-lhe, mas ela já se levantara antes e a prova disso estava no fato de que havia um café da manhã em cima do criado-mudo.
- Bom dia, Sevie. Te amo... te amo... te amo...
Ele ensaiou um sorriso e beijou-a.
- Bom dia.
Ele se sentou na cama e observou melhor a jovem mulher a seu lado.
- Por Merlin, não sei o que você viu em mim, mas agradeço aos céus que você tenha visto alguma coisa! – ele disse inesperadamente.
Ela sorriu e se sentou também.
- Olha, Sevie, acho melhor você comer o seu café da manhã. Você já descansou, espero que esteja tudo bem.
Snape pôs suas vestes e sentou-se outra vez na cama, para comer. Hermione bebia seu suco de laranja calmamente.
- Tenho que ir ver o que o Lorde das Trevas pretende fazer. Mandarei para você todas as informações que tiver e você pode se virar para repassar essas informações para seus amiguinhos...
Hermione assentiu e depois desviou o olhar, meio hesitante.
- O que foi?
- Ontem falei com o quadro de Dumbledore lá na diretoria...
Snape apenas a olhou, sem saber o que dizer.
- Eu queria falar pra ele. Falei tudo. Achei que ele merecia saber.
- É – disse Snape cabisbaixo. – Ele pagou com a vida pela confiança e amizade que me dedicou...
- Calma, Sevie. Depois que contei tudo a ele, eu quis saber se ele... se ele poderia perdoar você pela traição.
Snape arqueou as sobrancelhas.
- O que ele disse? Que você é louca?
- Não. Ele disse que conseguiria perdoar você. Mas os detalhes da conversa eu não vou te contar; você não precisa saber.
- Mesmo assim, estou me preparando para passar alguns anos em Azkhaban. Minha redenção pode me livrar da morte, mas não de passar o resto da minha vida lá. Só vou voltar ao lado da Ordem porque não quero que você morra nessa guerra.
Hermione murmurou:
- Tem... tem uma coisa... Eu li uma vez; já faz um tempo... É sobre... Talvez você não tenha que passar o resto da sua vida em Azkhaban. Tem... tem uma opção. É bem rara, bem difícil de alguém pedir, mas existe...
- Como não posso usar oclumência em você, não vou saber o que é, não é mesmo?
- Você me aceitaria como advogada?
- Aceitaria você como você quisesse – respondeu Snape.
Ela sorriu e disse:
- Isso já basta pra mim. Pode ir, meu amor, e veja se continua vivo!
Snape beijou-a e levantou-se.
- Te amo também.
E aparatou dali.
Hermione deu um sorriso para si mesma, imaginando como era positivo ser uma grande nerd, que devorava livros. Se não lesse tanto, nunca teria achado a solução para salvar Snape de um destino terrível em Azkhaban. Mas achara. Só precisava esperar o momento certo para pôr seu plano em prática.

Snape aparatou a frente de Voldemort e deixou-se cair de joelhos.
- Estou aqui, mestre.
- Bom – disse Voldemort. – Teremos muitos problemas com tão poucos comensais... Eu nunca imaginaria que trazer a Sangue-Ruim seria suficiente para uma investida de tantos aurores ao mesmo tempo! Não estava preparado para isso! Decididamente, subestimei os poderes da Ordem da Fênix sem Dumbledore... Mas pelo menos um servo fiel está a meu lado. Um servo inteligente.
- Há Malfoy e Bella também, mestre.
- Malfoy é estúpido e Bella é obcecada por mim. Você é mais frio, mais racional – disse Voldemort. – Ah, e merece todos os meus elogios. Seduzir a Granger foi mesmo um golpe de mestre. Uma espiã na Ordem! E sem ela saber!
- Tenho que tomar cuidado ao perguntar as coisas para ela... – disse Snape, em seu tom pouco acima de um sussurro. – Ela sabe que sou um comensal... Mas acredita piamente que estou arrependido porque a amo. Pobre menina. Como se eu fosse capaz disso.
Voldemort riu.
- Severo, Severo... Tenho que admitir; você é brilhante. Como ela o recebeu?
- Bom, eu estava ferido, quase morto. Ainda sinto que tenha desconfiado de mim, mestre.
- Ah, eu também. Mas continue contando. Como ela agiu?
- Pulou a janela do quarto e veio até mim. Me ajudou a entrar lá. Eu não tinha como vagar pelos corredores, por isso fiquei lá dentro. Ela me deu uma poção curativa. Sabe, mestre, ela é um excelente preparadora de poções, devo reconhecer. Quando eu estava recuperado, ela foi ao banheiro de trocar. Acho que não queria me provocar. Quando a vi naquela camisola, eu tive mesmo um impulso de agarrá-la ali mesmo, mas ela parecia cansada e, como sou um homem apaixonado, apenas me deitei ao lado dela e dormimos juntos. Na cama dela. Em suma, foi isso.
Voldemort riu outra vez; Snape fora irônico ao dizer que era apaixonado. A ironia na voz dele era nítida.
- Brilhante. Mas ainda tenho só três comensais de elite comigo. Os outros são uns aprendizes imbecis. Tente conseguir informações da Ordem o mais rápido possível.
- Sim, mestre. E... quando vamos finalmente atacar? Estamos em poucos, mas Potter e companhia são imbecis; precisamos de um ponto fraco para acabar com a maldita Ordem.
- Não sei... Meus planos foram quase arruinados. Você se lembra do que íamos fazer, não lembra?
- Claro, mestre. Mas pensei que você fosse ajustar os detalhes à nossa... nova condição.
- É o que eu vou fazer, Severo. Mas acalme-se. Temos tempo. Esperei quinze anos; creio que posso esperar mais umas semanas...
- Sem dúvidas. Mas a estrutura do ataque será a mesma?
- Ah, sim, sem dúvidas – respondeu Voldemort. – Uma ou outra modificação apenas, não mais. Vamos matar membro por membro da maldita Ordem da Fênix. Um por um. Famílias inteiras dos desgraçados. Todos vão perecer e desejarão nunca ter entrado no meu caminho. O mesmo com os aurores. E então, matarei Harry Potter. A Sangue-Ruim pode ficar com você para o seu divertimento. Mas trate de arrumar alguma coisa melhor depois.
- Sim, mestre. É justo.
- Bom, Severo, acho que já lhe dei três nomes de aurores. Pode ir atrás de cada um deles. Mate-os. As famílias deixarei para Bella.
- E quanto a Malfoy?
- Ele terá que matar seis aurores, mas são menos eficientes dos que os que você tem que matar. Vá. Quanto antes os tirarmos do caminho, melhor.
Snape assentiu e desapareceu.

Na Ordem, Hermione ajudava Molly e Gina Weasley na cozinha, quando sentiu um aperto no coração e se apoiou na mesa para não cair. As outras duas correram para acudi-la.
- Mione, que foi? – perguntou Gina.
- Ah... não sei – respondeu Hermione. – De repente senti um aperto no meu coração e pensei no...
Ela não completou a frase; tratou de se pôr em pé. Quase dissera o nome de Snape na frente das duas!
- Em quem você pensou? – perguntou Molly, atenciosa.
- Ahn... não, nada. Em ninguém. É como se... como seu uma pessoa de quem eu gosto muito estivesse fazendo algo... algo que não quer fazer... A senhora já sentiu isso?
- Já. Quando Arthur teve que ir de navio para os Estados Unidos. Ele estava com tanto medo... Não sei que espécie de ligação é essa, querida, mas acho que, quando amamos muito alguém, nós compartilhamos sentimentos, sensações.
Hermione suspirou e fixou um ponto. O que será que Snape estava tendo que fazer? Matar alguém , com certeza. Matar alguém da Ordem. Só podia ser isso. E ela sabia que ele faria. E sem nenhum pesar. Ela tinha que fazê-lo parar. Tinha que fazê-lo voltar a sentir. Amor, ela já conseguira, mas era amor a uma mulher, não amor nos outros sentidos da palavra. Para fazê-lo voltar a sentir teria muito trabalho. Ele tinha que ver como era. Viver tanto tempo com Dumbledore não adiantara nada, se durante todo aquele tempo ele estivesse do lado de Voldemort.

A noite chegou rápido. Hermione, sem ao certo saber o que a levara a tal atitude, saiu da antiga casa dos Black sem ser vista e foi andar pelas redondezas. Ela sabia que aquilo era perigoso, mas não queria ficar no ambiente pesado da Ordem, suportando todos aqueles olhares de pena que lhe lançavam.
Desceu até um bar bruxo. Era mesmo uma espelunca, mas estava de capa e capuz negros; não seria reconhecida. Só queria sair e ver outras pessoas. Sabia que era um lugar freqüentado por vários aurores. Quis ir até lá, sem ao certo saber por quê. Apenas foi.
Chegando lá, entrou e sentou-se a um canto. Era um lado particularmente mal iluminado, aonde a luz das fracas labaredas do lugar mal chegavam. O dono do lugar, que atendia no balcão, apenas olhou-a com um ar interrogativo, mas aprendera a não perguntar, a não notar, a não comentar. Muitas coisas estranhas aconteciam ali; já estava habituado.
O homem fez sinal, querendo saber se ela queria uma bebida, mas ela fez que não com um movimento de cabeça. Só queria olhar, e tentar descobrir por que raios sentira vontade de ir até lá.
Descobriu, e desejou não ter descoberto.
Havia alguns aurores – talvez três ou quatro, – cansados de dia exaustivo de trabalho, que bebiam um pouco, mas não a ponto de perderem a sanidade, quando um homem com uma capa negra esvoaçando e um capuz longo que escondia a pele alva entrou.
Aquele andar firme e decidido... aquela capa esvoaçando... aquela altivez ao tirar a varinha de dentro do sobretudo... aquela voz dizendo Avada Kedavra... aquela luz verde saindo daquela varinha já vista... aqueles corpos inertes do chão.
Os olhos dela se encheram de água; ela procurou encolher-se. O dono do bar se escondera sob o balcão. Snape sentou-se no banco onde haviam estado os aurores – sem se incomodar com os corpos – e pediu uma bebida. Whisky, na verdade.
Tremendo, o dono do bar atendeu ao pedido. Evitava olhar na direção de Hermione, com medo de que aquele comensal resolvesse atacar. Tentava fingir que ela não estava lá, olhando aquela cena horrível. Ele sabia que era uma mulher, mas não fazia idéia do quão jovem ela era.
Ele deu o whisky ao homem, que tinha apontado a varinha para seu peito.
- Vou beber um gole. Se eu sentir qualquer coisa de estranho, você vai morrer sentido muita dor – disse aquela voz indiferente, que Hermione ouvira naquela manhã lhe dizendo “eu te amo”.
- É o melhor whisky que temos aqui, senhor. A menos que beba uns dois litros, não vai sentir nada de estranho.
Snape virou o copo de uma vez só. E ainda assim, o álcool não o afetou.
- Mais, senhor? – perguntou o dono do bar, desejando que o homem fosse logo embora, sem ver a mulher que estava no canto.
- Não. Acho que quero convidar aquela pessoa que está no canto direito um pouco atrás de mim para se juntar a nós. Ou a eles, se recusar o convite – disse Snape, dizendo a última frase apontando para os corpos no chão.
O dono do bar sentiu o sangue gelar nas veias. As mulheres demoravam a morrer nas mãos dos comensais. Ele já ia dizer alguma coisa, mas a mulher se levantou.
- Eu vou embora daqui – a voz dela disse, e pareceu ser a voz de uma jovem. – Não aceito convite nenhum.
Snape ouviu a voz dela e a reconheceu. Ouviu os passos dela se afastando. Levantou-se de uma vez e apontou a varinha para ela.
- Acho que fiz um convite. Seria muito deselegante da sua parte recusar, não acha? – perguntou ele, com uma voz letal.
Hermione suspirou. Snape tinha que fingir; ela sabia disso. Mas ele fingia muito bem; chegava a assustá-la.
Ela aproximou-se e sentou-se a dois bancos de distância dele.
- O que você bebe? – perguntou Snape.
- Agora? Veneno – ela disse, insolente.
- Não tão cedo. O dia foi difícil hoje. Tente compreender. É muito azar seu estar aqui – ele disse sem mudar seu tom de voz.
O dono do bar tinha que tirá-la de lá. Ele tivera uma filha. Que morrera na mão de comensais dois meses antes. Ele não queria que esta jovem acabasse do mesmo jeito. Nem que tivesse que morrer, daria tempo a ela para fugir.
Hermione sacudiu os ombros.
- Ah, você não vai me deixar ser um cavalheiro – ele zombou, mas num tom calmo. – Está bem; vamos logo com isso.
Ele se levantou e segurou-a no braço com grosseria, começando a arrastá-la para fora do bar, mas o bruxo atrás do balcão, que não conseguia achar sua varinha, interveio:
- Senhor, quem sabe mais um drinque? Por conta da casa.
Snape suspirou irritado e estendeu a varinha em direção ao homem, mas Hermione interveio, com um grito:
- NÃO! Vamos logo. Faça o que tem que fazer!
Snape olhou-a e depois para o homem. E para ela outra vez. Ela baixou o capuz e olhou para ele. Não podia ver os olhos, mas o Severo que a tinha salvado da mão de comensais tinha que estar ali em algum lugar.
Snape suspirou e, baixando a varinha, arrastou-a para fora. O homem lá dentro ia reagir, por isso Snape lançou nele um feitiço que Hermione não pôde ver qual era. Quando saíram do bar, Hermione já tentava se desvencilhar dele, e ele soltou-a e virou-a para si.
- Acalme-se; eu não o matei – disse Snape com sua voz sibilada.
Hermione olhou-o com lágrimas nos olhos.
- Escute – disse Snape, olhando em volta. – Eu não queria que você tivesse visto eu fazer aquilo. Teria dado um jeito de sair se tivesse notado que era você. Só não imaginei que você faria a insanidade de sair da Ordem.
Hermione enxugou as lágrimas e murmurou:
- Vamos. Vamos sair daqui. Daqui a pouco isso aqui vai encher de gente do Ministério.
Snape assentiu e, segurando-a pelo braço, fê-los aparatarem dali.
Desaparataram num lugar que Hermione nunca vira antes. Parecia um chalé no meio de uma floresta.
- Onde estamos? – perguntou ela, olhando em volta.
- Nas terras de Malfoy, atrás da mansão dele em que você estava prisioneira.
Ela sentiu um calafrio; Snape conduziu-a até o chalé.
- Hermione, temos que conversar – ele disse, quando entraram no lugar.
A jovem olhou-o, quase com um ar de quem já esperava por aquilo.
- Eu... Eu estou com um problema muito grande – disse ele.
- Você? Confessando que tem um problema? Será que vai pedir ajuda? – perguntou ela com um sorriso encorajador.
- Não – ele disse sério. – Preciso levar informações da Ordem para o Lorde das Trevas. Senão estarei morto.
Hermione suspirou, e fixou um ponto no chão, pensativa.
- Qualquer coisa a mais, que não seja tão importante, mas que possa parecer importante – disse Snape, tentando manter o tom de voz habitual.
Ela olhou-o séria e disse:
- Sobre o que você tem que saber?
Snape deixou-se cair pesadamente no sofá.
- Você me parecia mais inteligente antes – ele comentou, parecendo desapontado. – Não se passa pela sua cabeça que eu posso ser um desgraçado que está enganando você, exatamente como fiz com Dumbledore? Posso estar usando você só para conseguir informações da Ordem para o Lorde das Trevas?
Hermione sentou-se ao lado dele e segurou uma das mãos dele entre as suas.
- Passou sim pela minha cabeça, Sevie.
Snape sustentou o olhar dela, confuso. Sem entender. Ela deu um sorriso terno.
- Olha, eu disse que estava disposta a te dar uma terceira chance, e vou dar, Sevie.
(Aha, mais uma música. Agora, é Hero, do Nickelback)

And they say that a hero could save us
E eles dizem que um herói poderia nos salvar

I’m not gonna stand here and wait
Eu não vou ficar aqui e esperar

- Menina idiota – ele disse, meio irritado. – Você pode morrer se continuar jogando com tanta irresponsabilidade.
Ele se levantou e foi para a janela. Olhou para fora. Trancou a porta. Lançou vários feitiços para isolar o chalé do resto do mundo. Então se virou para ela e apontou a varinha para o peito da jovem.
- Como se sente agora?
- Ameaçada – ela respondeu sincera, mas calma.
- Seu último desejo antes de morrer?
- Um beijo seu – ela disse, ainda mantendo a estranha calma.
Snape não abaixou a varinha; olhou-a com ar confuso.
(Crash and Burn, do Savage Garden, pra vocês. Essa aqui é linda mesmo)

Let me be the one you call
Deixe-me ser a única que você chama

If you jump I’ll let you fall
Se você pular, eu vou deixar você cair

Lift you up and fly away with you into the night
Erguerei você e voarei com você pela noite

If you need to fall apart
Se você precisar cair de novo

I can mend a broken heart
Eu posso consertar um coração quebrado

If you need to crash then crash and burn
Se você precisar quebrar, então quebrar e queimar

You’re not alone
Você não está sozinho

- Sevie, você disse que ia voltar para as trevas, e que contaria comigo para tirá-lo de lá depois – ela sussurrou. – E eu disse que o faria. Eu não disse isso só porque você tava bonzinho naquela hora.
Com um suspiro cansado, Snape baixou a varinha, guardou-a e voltou para sentar-se ao lado dela.
- Você aposta a sua vida em mim, menina. Acho que não mereço tanto – ele murmurou, um pouco abatido. – Só para esclarecer, eu não pretendia matar você.
- Eu sei – sussurrou Hermione em resposta. – Para todos os efeitos, você ainda é o professor Snape. E o professor Snape nunca pediria ajuda quando estivesse com um grande problema.
Ela sorriu e ele teve que sorrir de volta. Beijou-a intensamente.
- Espero que esse não fosse o seu último desejo – ele comentou, com um sorriso maroto.
Hermione riu abertamente e disse:
- Mas antes, eu quero saber o que você tem para eu levar para a Ordem. E então eu posso te dizer alguma coisa pra você dizer para Aquele-que-Será-Derrotado.
- Ah, sim – ele disse. – O Lorde das Trevas pretende manter o plano original, com apenas algumas mudanças.
- E qual é o plano original? – perguntou Hermione com cautela.
- Quer matar auror por auror. Criar intrigas entre eles. Famílias e famílias de aurores torturadas e mortas. Ele tem um certo gosto por sangue. Depois, vai atacar de um vez só Harry Potter e companhia limitada.
Hermione precisou de um pouco de silêncio para digerir a notícia. Depois, respirou fundo e, jogando com sua racionalidade fria, disse:
- O pessoal da Ordem está preocupado tentando localizar o seu Lorde. Estão fazendo de tudo; seguindo suspeitos, interrogando, prendendo. Matando comensais, às vezes.
- Isso é suficiente. Não diga além disso, Hermione. Eu resisto a torturas, mas nunca sei quando o Lorde está mal humorado e ansioso para descobrir algo a mais.
Hermione mordeu o lábio inferior e levantou-se. Ficou encarando o lado de fora pela janela enfeitiçada.
- O que foi? – ele perguntou. Levantou-se e parou atrás dela, levantando os cabelos cacheados e começando a beijar o pescoço dela.
- Eu... eu não queria que você se arriscasse tanto... por tão pouco – ela murmurou.
- Tão pouco? – ele estranhou tanto que parou o que vinha fazendo. Virou-a de frente para si e perguntou: – Mas do que você está falando?
- Para você, qual é a vantagem em voltar para o lado da Ordem? – questionou ela. – Quero dizer, o que isso fará de bom na sua vida? Se o nosso lado ganhar a guerra e você sobreviver, você será preso. Mesmo que Dumbledore o perdoe, você será preso.
- Não tenho medo de Azkhaban – retrucou Snape.
- Você não vai para Azkhaban – disse Hermione. – Eu disse que podia dar um jeito nisso, que eu seria sua advogada. Ponto. Eu só estou dizendo que você vai ser preso. Isso se ganharmos. O que você ganha com isso?
- Você vai viver num mundo seguro – ele disse, após breve silêncio. – E eu, morrendo ou sendo preso, estarei em paz comigo mesmo. Parece pouco, não? Você não sabe o quanto mudei para dizer isso. Em geral, nunca me importei com ninguém e nunca tive pesos na consciência que me levassem a questionar o lado em que estou. Nunca, até você.
Hermione beijou-o e disse:
- Está bem. Vou tentar me esquecer disso por hora.
Snape abraçou-a pela cintura e aproximou-a muito de si. A noite do lado de fora foi momentaneamente esquecida. E, na Ordem, todos achavam que Hermione apenas estava trancada em seu quarto outra vez.

Quando Hermione acordou, enrolou-se no lençol e olhou em volta. Snape estivera na sala, olhando a lareira crepitar. Ainda sem se trocar, só de lençol ela se levantou e parou à porta do quarto, olhando para ele.
- O que foi, Severo?
- Não temos tempo – ele disse. – O Lorde das Trevas conseguiu descobrir o esconderijo dos aurores. Acabo de receber um recado escrito por ele mesmo. Tenho ordens para ou matar ou prender você e para ir atacar o esconderijo dos aurores.
Aquela resposta ficou entre eles por alguns minutos, mas logo Hermione murmurou:
- Então... se eu sair daqui você terá problemas?
- Isso. Mas não até o Lorde das Trevas ter conseguido liquidar todos os aurores.
- Então eu vou avisar ao pessoal da Ordem e...
- Potter não está em condições de enfrentar o Lorde das Trevas – disse Snape, sacudindo negativamente a cabeça.
- Eu cuido dele – retrucou Hermione, entrando no quarto e começando a pôr suas roupas.
Snape apenas a observava, em silêncio.
- Sabe, Hermione, por mais poderosa que você seja, não é possível dois jovens estudantes enfrentarem o Lorde das Trevas.
- Tá, mas eu quero chamar todos da Ordem. Pelo menos, todos os que estiverem lá.
Snape levantou-se.
- Acho que eu não suportaria ver você morrer – ele sussurrou, aproximando-se.
Ela desviou o olhar para a cozinha, de cuja janela vinha uns raios fracos de sol.
- Não fale assim, Severo – disse ela, ainda olhando para as sombras das coisas na cozinha. – Eu posso cuidar de mim mesma. Estou com a minha varinha. Sei muitos feitiços. Faça o que você tem que fazer; eu farei o que preciso.
Snape beijou-a lentamente e disse:
- Vá o mais rápido possível.
Hermione ensaiou um sorriso – preocupada – e, terminando de se trocar, aparatou.
Voldemort saiu de trás da porta da cozinha com um sorriso satisfeito.
- Muito bem, Snape, muito bem – disse Voldemort, com um meio-sorriso. – Assim, será bem mais fácil liquidar todos os membros da Ordem de uma vez só.
- De fato, mestre; grande idéia, a sua – disse o Mestre de Poções.
- Mas que bela atuação – considerou Voldemort. – Você quase me convenceu.
- Ela é uma jovem tola, que precisa se apaixonar – retrucou Snape friamente. – Só isso. Típica nerd sem nenhuma experiência; o tipo mais fácil de enganar.
- Algo que você faz muito bem – retrucou Voldemort. – Ela não me parece o melhor tipo de vadia.
- Mas serve para passar o tempo – disse Snape, indiferente.

Hermione apareceu na Ordem e entrou no lugar às pressas. Os que estavam lá dentro estavam preocupados e, ao vê-la, correram para lá.
- Gente, vocês confiam em mim? – perguntou ela.
- Que foi, Mione? – perguntou Rony. – Você parece preocupada.
- Temos uma armadilha para cair – ela disse apressada. – Onde é o esconderijo dos aurores?
- Para que você quer saber? – perguntou Moody, estranhando.
- Escutem; tenho um problema – ela disse. – Harry, acredite em mim, por favor. Eu fiquei sabendo que Voldemort achou o esconderijo dos aurores, mas é mentira. Acho que ele pretende nos seguir para descobrir. Vamos mandar todos os aurores para um lugar só, mas alguns ficam de vigia. Tem que ser agora. O harry, eu, Rony, Moody e Lupin vamos como se estivéssemos preocupados. Seremos seguidos de perto. Querem chegar ao esconderijo e matar todos de uma só vez.
Todos a observavam em silêncio.
- Desculpe, mocinha, mas acho que você não sabe com quem está lidando e... – começou Moody.
- Eu conheço o inimigo muito melhor do que qualquer de um vocês – retrucou ela irritada. – E estou dizendo que o inimigo é muito bom ator, mas ele me deixa pistas. Vocês acham que é sem querer, mas eu sei que é de propósito. Agora, parem de tentar descobrir do que estou falando e acreditem em mim!
- Mione, todo esse tempo que você passou lá... eu entendo que deve ter sido um choque... – começou Rony.
Hermione suspirou.
- Harry... Por favor. Temos uma guerra para vencer – murmurou Hermione. – Confie em mim. Só desta vez.
Todos olharam para Harry, que respirou fundo e disse:
- No primeiro ano, Hermione me ajudou a chegar ao professor Quirrell, porque ela foi a única capaz de desvendar a armadilha do Snape. No segundo ano, Hermione descobriu que era pelos canos que o Basilisco se movia pelo castelo de Hogwarts. No terceiro ano, ela foi a única que entendeu que Snape passou a redação para que descobríssemos que Lupin é um lobisomem. Tem mais muitas coisas pra enumerar, mas acho que não precisa. Mione, estou com você. Você consegue ler as entrelinhas do que Snape diz, deve entender do que eles estão falando. Não sei onde você conseguiu a informação, mas acredito em você.
Hermione deu um sorriso verdadeiramente agradecido e olhou em volta.
- Bom, eu posso ir sozinho com ela, mas acho que temos mais chance se fizermos como ela disse – murmurou Harry, sem jeito.
Correria. Preparativos. Mensagens, recados, códigos. Treino de feitiços.

Anoitecia quando Bellatrix Lestrange avistou Harry, Hermione, Rony, Lupin e Moody saindo do que parecia a ela ser o nada. Sabia que a sede da Ordem era ali. Só não podia ver.
Começou a segui-los. Eles não aparatariam no lugar. Medidas de segurança. Voldemort previra que o esconderijo dos aurores seria perto da sede da Ordem, para que pudessem se comunicar rápido, se necessário.
Observou o quinteto andando com varinhas em punho, olhando em volta com algum receio. Seguiu-os com o olhar e, quando estava prestes a perdê-los de vista, seguiu-os à distância.
Eles andaram um pouco mais, e logo pararam à frente de uma casa muito velha. Adentraram-na em silêncio. Bella ia logo atrás.
Os cinco andavam com passos leves, mas as tábuas soltas do assoalho faziam muito barulho. Bella só andava quando eles andavam também. Eles entraram numa espécie de entrada secreta na parede e seguiram por um corredor escuro. Bella os seguia com cautela.
Até que pararam num lugar muito escuro. As luzes que existiam vinham de cômodos próximos, aonde as vozes vinham quase como que de bêbados de longas horas, falando coisas ininteligíveis.
Bella fez como combinado para chamar os outros. Snape e Malfoy logo estavam ao lado dela. Voldemort só viria depois.
O trio de comensais andou pelas sombras; era o que faziam de melhor.
Mas, para a surpresa deles, as luzes se acenderam. Era uma armadilha. Estavam cercados. Snape permitiu-se um sorriso no canto da boca e procurou Hermione com os olhos, mas recebeu um feitiço hostil antes. Harry e Rony vinham para cima dele com varinhas em punho; Snape mal pôde reagir.
Malfoy e Bella tinham que lutar contra uns quinze comensais, que já os cercavam, como se já os esperassem há muito tempo.
Hermione olhou em volta e viu Snape se defendendo de seus dois amigos, sem atacá-los. A prova final. Snape estava mesmo do lado da Ordem agora. Ela vira como era fácil para ele acabar com vários aurores muito poderosos de uma vez só; Harry e Rony certamente não seriam um problema para o mestre de Poções.
A jovem correu e posicionou-se ao lado dos dois. Snape baixou a varinha quase imediatamente. Foi atingido por um feitiço de Harry e cambaleou para trás, caindo no chão quase inconsciente.
- Harry, guarde energias para Voldemort. Eu disse que eu cuidaria dele.
Harry e Rony, a contragosto, foram para um outro canto, aguardando os aurores derrotarem os dois comensais.
Hermione fez um feitiço que tornou ela e Snape invisíveis aos olhos de todos e correu para ajudar seu ex-professor.
- Sevie... Você tá bem?
- Parece que o imbecil do Potter aprendeu alguma coisa sobre feitiços – comentou Snape sarcástico. – Mas se eu não tivesse baixado a guarda, ele nunca me acertaria.
Hermione sorriu para ele e, apontando a varinha para o peito dele, ajudou-o a se restabelecer.
- Fico feliz que você tenha notado a armadilha. Eu estava planejando mandar um aviso para você, mas eu não tinha como. Qualquer coisa que eu dissesse de diferente do normal, ele notaria.
- Quando você disse que temia por mim, eu senti algo estranho. Quando olhei para a cozinha e vi o sol entrando pela janela, eu vi uma sombra de movendo. Notei que só podia ser um comensal desgraçado ou o próprio Voldemort.
- Sempre racional... Não é à toa que é boa em Poções.
Hermione sorriu.
- Ficarei aqui com você até Voldemort chegar. Se Harry precisar de ajuda, irei ficar com ele.
- E eu também. Mas estarei com o Potter ao lado de Voldemort – disse Snape, sério.
Hermione fez uma expressão indescritível. Tinha qualquer coisa de pena. Snape ainda estava nas trevas, e ela não tinha como tirá-lo de lá. Não ainda.
- O que quer que aconteça, Sevie, acho que você tem que saber uma coisa. Eu amo você. Amo muito. Por mais que você possa pensar que eu sou uma imbecil, ou qualquer coisa assim.
Ele alisou os cabelos dela e passou a mão fria no rosto da jovem. Que a batalha que estava acontecendo fosse para o inferno! Como a amava!
Ele beijou-a profundamente e sussurrou:
- Eu não posso amar alguém mais do que amo você.
Hermione sorriu, mas seu sorriso desapareceu ao ver o rosto de Snape se transformar ao olhar alguma coisa atrás dela. Voldemort chegara.
- Ah, parece que caímos em uma armadilha – disse o lorde, meio que pilheriando. – Mas eu previa isso, porque minha informante é de grande qualidade. Portanto, tenho uma surpresinha para vocês também.
Bella e Malfoy estavam mortos, mas vários comensais mais novos desaparataram ali.
Snape viu o que mais temia ver: todos aqueles comensais jovens e fiéis a Voldemort até a morte, com sede de guerra. Sabia como haviam sido treinados. Nem os grandes aurores do Ministério seriam capazes de vencê-los sem ajuda. Ele se levantou.
- Hermione, acho que vou morrer, mas juro que não antes do Lorde das Trevas estar morto.
Ele ajudou-a a se levantar e beijou-a intensamente, aproximando-a muito de si. Talvez fosse a última vez que fizesse aquilo. Ele sentiu as lágrimas dela enquanto a beijava. Quando se desvencilharam, ela secou as lágrimas e foi para o lado dos amigos. Depois, deixou ambos visíveis.
Snape foi para o lado de Voldemort.
- Mas o que aconteceu? – perguntou Rony ao ver Snape recuperado.
- Como você é inocente, Rony – suspirou Hermione. – Vamos. Esses comensais são barra pesada.
- Como você sabe? – questionou Harry, defendendo alguns feitiços.
- Porque eu estava com o chefe deles – respondeu Hermione, e começou a lançar feitiços, não para matar, mas para pôr fora de combate.
Sem entender o que acontecera, tanto Harry como Rony puseram-se a lutar contra os comensais. Lupin e Moody defendiam Harry ao mesmo tempo em que se defendiam e atacavam.
Demorou, mas aos poucos os comensais foram sendo derrotados. Voldemort matara vários aurores e Snape fizera o mesmo, mas cuidara de defender Harry todas as vezes que algum feitiço passava por Lupin e/ou Moody.
Por fim, havia alguns membros da Ordem muito debilitados, Snape e Voldemort.
- Você foi de grande valia, Granger, mas agora terá que morrer – disse Voldemort, erguendo a varinha em direção ao peito dela.
A garota já não tinha forças para se defender; Voldemort ia falar algum feitiço, mas um Expelliarmus o atingiu pelas costas. Um “OH!” uníssono encheu o lugar, pois todos viram que o autor do feitiço era Snape.
Voldemort estava sem a varinha e sem nenhuma noção do que estava acontecendo. No mesmo tom letal de sempre, Snape perguntou:
- Vai esperar que ele se recupere, Potter?
Harry, ainda embasbacado, ergueu a varinha para Voldemort e disse o feitiço, mas nada aconteceu.
Snape suspirou.
- Essas pessoas de bem... – ele murmurou dando passadas largas até Harry.
Todos – menos Hermione – estavam tão abismados que nem reagiram. Snape segurou o braço de Harry com grosseria e o fez apontar a varinha para o coração de Voldemort.
- Esse homem matou os seus pais e tentou matar você. Matou várias pessoas que você ama e expôs sua amiga a mim. Você consegue se lembrar disso ou vai ter pena dele?
Harry estava muito espantado; sem reação.
- Harry! – gritou Hermione, fazendo-o voltar à realidade.
- Avada Kedavra! – desta vez uma luz verde saiu da varinha de Harry e atingiu Voldemort em cheio no peito.
O Dark Lord caiu no chão como matéria inerte. Houve um momento de alívio, mas então Moody perguntou:
- E o que foi isso, Snape? Viu que ia perder e voltou correndo?
Snape suspirou e deu as costas.
- Espere! – gritou Hermione. – Como vocês acham que eu sabia que isso tudo era uma armadilha?
Silêncio pesado. Snape parou, mas não se virou para eles.
- Mione... você... andou conversando com esse traidor? – perguntou Rony, um pouco inseguro.
- Ah, muito mais do que isso, meus queridos – disse Hermione. – Mas isso não interessa. Estou dizendo que ele estava do nosso lado. Desde que vocês atacaram o esconderijo deles. Ele me deixou ir. Ele me ajudou.
- Você disse que era alguém que você não conhecia – lembrou Lupin.
- E era – confirmou Hermione.
- Mas isso não muda o fato de ele ter matado Dumbledore – disse Moody carrancudo. – Nem o fato de que ele matou vários aurores.
- Eu sei – disse Hermione. – Eu vi. Vocês vão julgá-lo, né?
- É um direito dele – disse Lupin.
- Ele já tem uma advogada – disse Hermione.
Snape virou-se e encarou-a.
- Não pensei que você estivesse falando sério.
- Não sou boa piadista, Sevie – retrucou a jovem.
Sevie foi um vocativo que provocou silêncio por um tempo, mas Hermione quebrou-o, dizendo:
- Antes de o levarem para a reclusão dos que aguardam julgamento, gostaria de pedir que o levassem para ver o quadro do Dumbie. Eu já falei com o diretor; ele sabe de tudo. Eu só queria cumprir uma promessa que eu fiz a duas pessoas.
Snape respirou fundo. Não tinha muita certeza de estar preparado para encarar seus erros.
- Bom... acho que... acho que dá, né – disse Harry, um pouco hesitante. – Afinal... ele... acabou nos ajudando.
Hermione sorriu para o amigo agradecida.

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