O quê?... Um elo?



Respirou sofregamente quando os seus pés alcançaram chão firme. Tudo à sua volta mudou, o que antes era um parque sombrio iluminado por apenas três candeeiros era agora uma rua miserável com um enorme contentor de lixo que mesmo assim não era grande o suficiente para todo aquele lixo que saía para fora e libertava um cheiro a podre.

Estava ainda a observar o contentor quando se lembrou que a a sua mão direita ainda se encontrava por cima da de Malfoy e com um movimento rápido retiou-a.

Draco ainda se estava a questionar sobre o que sentira quando a mão de Harry tocou a sua quando avançou até à velha e vermelha cabine de telefone. Era muito estranho ter sentido aquilo, era como se um genero de calor se propaga-se pelo seu corpo a partir do local onde Harry tocou. Não querendo pensar nisso abriu a cabine e entrou. Harry entrou logo a seguir a ele. Discou o número e, no momento seguinte a voz feminina de umas horas a trás surgiu.

--Bem vindos ao Ministério da Magia. Por favor, declarem o vosso nome e profissão.

--Draco Malfoy e Harry Potter. Temos um encontro com o ministro.

Depois de alguns avisos sobre a entrega das varinhas e de lhes ter dado dois distintivos para prenderem à frente dos mantos, a cabine afundou-se debaixo do chão e quando voltou a abrir encontravam-se dentro no Ministério.

Pisar novamente o Ministério fez Harry recordar mais intensamente os acontecimentos do ano passado. Foi exactamente naquele salão que fora possuido por Voldemort e que pela primeira vez implorou pela sua própria morte.

--Por favor, sigam-me. – Um homem alto com um manto roxo e cabelos grisalhos aproximou-se deles.

Harry acordou do seu transe quando viu que tinha sido deixado para trás e correu para os alcançar.

--Potter não me invergonhes no Ministério está bem? – Sussurou Malfoy virando-se para ele.

--Coitadinho, posso acabar com a tua dignidade?

--Essa era para rir? Como é que alguém como tu poderia acabar com a minha dignidade?

--Não sei, diz-me tu.

Draco não chegou a responder pois nesse instante o homem abriu uma porta e indicou que entrassem.

A sala á sua frente era como a que tinha aparecido dentro do círculo. Atrás da secretária estava Fudge, mas para incredulidade de Harry Dumbledore também ali se encontrava O assunto deveria ser sério para a precensa do director da escola e Harry disconfiava que seria algo estremamente mau para ele. Bem não poderia ser nada pior do que a revelação que lhe fizera no ano passado e esse pensamento, de alguma maneira, reconfortou-o.

--Mr. Potter, Mr. Malfoy, bem vindos. Sentem-se por favor. – Cumprimentou-os Fudge que com um gesto indicou duas poltronas em frente à secretária.

Harry, seguido de Malfoy, sentou-se, e olhou para o Director que se encontrava à direita de Fudge e olhava, solenemente, para eles.

--Ola Harry, Mr. Malfoy. Eu sei que devem estar a perguntar-se o porquê deste encontro tão precipitado e espero que mantenham a calma depois do que eu lhes vamos contar – começou Dumbledore com um sorriso calmo e sereno.

Draco estava-se a sentir desconfortável perante o olhar de Dumbledore. Apesar de admirar o seu porte intocável que transmitia respeito únicamente com a sua precensa odeava-o, odeava como ele considerava todos iguais. O seu pai também transmitia respeito mas um respeito diferente que provinha do medo que brotava dos olhos de quem se dirigisse a ele. Draco queria esse respeito, queria que os outros o temessem e ao contrário de Dumbledore, aprendeu a não confiar em ninguém. “Quando menos se esperar os amigos transformam-se em inimigos e um dia acordamos com uma punhalada nas costas”, costumava dizer o seu pai. A voz de Dumbledore despertou-o e, mais uma vez, reparou que não era o único que não estava a gostar do que se estava a passar. Não fazia sentido chamar ele e Potter, na véspera do começo das aulas para um encontro com Dumbledore e o ministo. Alguma coisa estava mal e Draco desconfiava que preferia não saber do que se tratava.

--...então tanto eu como o ministro sabemos que têm de saber, agora que ambos estão no 6º ano.

--Pode ir directo ao assunto, professor? – Inquiriu Draco sentando-se (mais) dignamente na poltrona.

--Sim claro, Mr. Malfoy – concordou Dumbledore.

Fufge olhava do director para eles, nervosamente.

--Existe uma profecia que se destina a ligar algumas crianças quando estas acabam de nascer...

Harry não podia crer que passado apenas alguns meses já estava a ouvir que havia outra profecia que, certamente, não só se destinava a ele como a Malfoy. Não sabia que tipo de profecia poderia partilhar com Malfoy, logo com Malfoy!

--... a profecia é conhecida como “Elus Difinitti”, um elo definitivo, certamente Mr. Malfoy sabe do que estou a falar.

Draco sentiu-se a afundar na cadeira. Claro que já tinha ouvido falar da profecia, o seu pai havia-a mencionado uma vez quando estava a falar com Mr. Roberts, um conhecido do seu pai que trabalhava no ministério. Nunca se preocupou com ela, só se lembrava de pensar nela apenas uma vez, durante cinco minutos. Não podia se destinar a si, simplesmente não podia.
O que seria um Malfoy condicionado por uma profecia como aquela?

-- Sim sei do que se trata – revelou, por fim, com uma voz neutra tentando permanecer calmo.

Dumbledore acenou com a cabeça e olhou para Harry.

--Esta profecia, Harry, provém da Magia Antiga. Foi feita para unir aqueles destinados a estarem juntos até à morte. É um elo muito poderoso e a probabilidade de estar sob ela é muito reduzida, porém não impossível o que se pode comprovar por vocês. A profecia selou-se quando fizeram dezasseis anos e , como tal, apesar de não parecer, estão ligados um ao outro por uma magia poderosa.

Na mente de Harry muitas questões se formavam. Como assim um elo com Malfoy? O que significava esse elo? Deveria temer isso? Que consequências traria? Existia alguma maneira de o quebrar? Mas acima de tudo, porquê Malfoy?

--O que significa esta ligação minha com Malfoy, professor? Eu não quero ter qualquer tipo de ligação com ele! – Exasperou, levantando-se e fazendo Fudge encostar-se mais na cadeira, enquanto Malfoy parecia perdido em pensamentos.

--Pela primeira vez concordamos em algo, Potter!

--Significa que ambos estão destinados um ao outro e não importa o quanto resistirem. – Disse Dumbledore.

--Mas...não pode...quer dizer...não faz sentido...-tentou dizer e, tentando se acalmar para não “partir” para cima do Malfoy naquele exacto momento, continuou – Existe alguma maneira de acabar com o elo?

--Não, pelo menos não há conhecimento de alguém que o conseguiu quebrar. – Disse Dumbledore e o seu olhar tornou-se sério – Escuta com atenção Harry, agora não és apenas um, os teus actos a partir daqui não trarão consequências únicamente para ti.

Harry não percebeu o que o Director acabava de dizer. Ele era apenas um, ele era Harry Potter.

Vendo que Harry tinha uma expressão confusa que mostrava que não tinha entendido, Draco decidiu interferir.
--O que ele quer dizer é que se um de nós morrer o outro morre também, idiota!


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— Harry estava com tantas saudades!

Hermione vinha a correr na sua direcção com os braços abertos e com um enorme sorriso no rosto. Ron, por sua vez, vinha logo atrás e com uma cara que dizia claramente “Eu tentei Harry, eu juro que tentei que ela não viesse a correr e a gritar como uma louca”

--Hermione! Ron! – Abraçou a amiga, cumprimentou o amigo e devolveu um sorriso.

Também estava com muitas saudades dos amigos. O dia anterior foi um completo pessadelo! Descobrir que, não só teria de matar o maior bruxo das trevas ou morreria, como também estava ligado ao seu grande rival era algo que ultrapassava a sua compreensão. Devia ter cometido um grande pecado em outra vida, só podia.

--Temos tantas coisas para te contar que nem sei por onde começar! – Exclamou Hermione quase aos pulos.

--Que tal começar pelo princípio? – Sugeriu Harry a rir perante a alegria da amiga.

--É melhor contarmos no comboio, isto é, se quisermos chegar a Hogwarts este ano! – Avisou Ron apontando para o comboio vermelho escarlante que deitava fumo da chaminé em sinal de partida.

--Tens razão, vamos Harry corre! – Hermione começou a correr de mãos dadas a Ron, por entre a multidão de King Cross que acenava aos filhos, já dentro das cabines no comboio.

Harry entrou no comboio atrás dos seus amigos e juntos procuraram uma cabine vazia, o que não foi uma tarefa fácil visto que quase todas estavam ocupadas. Depois de alguns minutos, bem longos, encontraram uma e entraram.

--Parabéns aos dois fico muito feliz que, FINALMENTE, estejam a namorar! Já começava a pensar que tinha de vos sequestrar e sob a maldição Imperium obrigar-vos a se declararem! – Rematou Harry enquanto se sentava à frente de Ron e Hermione que coraram até às raizes dos cabelos, não que no caso do Ron fosse algo muito dificil de acontecer.

--Ah...pois. – Ron tentava não olhar para Harry.

--Sim bem demorou mas o que importa é que agora ja revelamos um ao outro os nossos sentimentos! – Declarou Hermione e continuou – E tu Harry? Continuas interessado na Cho?

--Er...não, acho que não. Ela gostava do Cedric e depois de tudo o que aconteceu eu acho melhor não a pertubar...ela deve estar a sofrer muito.

Harry baixou o olhar e começou a observar as mãos. Por sua culpa Cedric estava morto.

--Harry por favor não te culpes por isso. Olha tenho a certeza que vais encontrar alguém est...

Nesse exacto momento um rapaz, com cabelos platinados e extremamente ligados entre si com gel, entrou na cabine seguido por Crabbe e Goyle.

--Ora... ora... ora... se não é o Pottie e os seus amiguinhos rastejantes! – Exclamou Draco observando a cara raivosa que eles lhe mandavam. Como adorava irrita-los, era a sua vocação. O Trio de Ouro: Uma sangue de lama, um mendigo e um metido a herói. Era impossível não odia-los.

Desde que descrobriu a sua ligação com Potter andava ainda mais irritado. Parecia algo surreal... Ele unido ao seu pior inimigo que agora tinha a sua vida nas mãos. Que ironia. Sempre quissera que o Lord das Trevas o matasse (apesar de achar que Hogwarts se tornaria muita chata sem ele para irritar) e, de uma hora para a outra, a sua opinião mudou completamente. Se o Lord das Trevas matasse Potter ele Draco também morreria. Estava num grande dilema, ele queria ser um Devorador da Morte e o seu objectivo era levar Potter até uma morte dolorosa e agora não poderia deixar isso acontecer. “Que raiva!”, pensou. Tinha de arranjar uma maneira de descobrir como romper o elo, e foi isso que o levou até aquela cabine cujos residentes tanto desprezava e acima de tudo odiava.

--O que estás a fazer aqui, doninha? – Ron levantou-se e Harry e Hermione, inconscientemente, também.

--Isso não é do teu interesse Weasel. – Disse Draco calmamente e, virando-se para Harry, continuou – Precisamos falar, vamos nos encontrar depois do banquete de boas vindas na sala de feitiços do 3º andar.

--E o que te faz pensar que aceitaria isso? – Perguntou Harry

--Sim, e o que te faz pensar que ele aceitaria se encontrar com uma cobra como tu que, na primeira oportunidade, lhe mandaria uma maldição? – Bramiu Ron avançando para Draco, mas Hermione segurou a sua mão o que fez o ruivo parar nesse mesmo instante.

--Ah ah ah ... Tou a ver que o cachorrinho já tem dona. Lindo menino, se ela disser para saltares tu também saltas?

Ao ver uma tempestade a se aproximar Harry achou melhor se meter:
--Tudo o que poderás querer falar comigo podes dizer em frente aos meus amigos.

--Este assunto não. A menos que o queiras tornar público, e eu acho que não queres, estou errado?

--Está bem depois falamos, Malfoy – Harry sabia qual seria o assunto daquela conversa e isso não o agradava.

Draco saiu da cabine mas não antes de lançar um sorriso de escárnio a Ron e a Hermione e dizer:

--Cuidado com as pulgas, sangue de lama.

Quando estavam, novemente, sozinhos na cabine, Harry sentiu o olhar dos amigos fuzilarem-no.

--Ei não me olhem assim, não são vocês que vão ter de ouvir aquele mimadinho idiota, mais logo.

--O que poderá ele querer falar contigo? – Perguntou Hermione ignorando o resmungo do amigo.

--Er... como é que posso saber se ainda não falei com ele? – Mentiu. Não podia dizer que tinha um elo de vida com Malfoy. Podia imaginar a cara deles se ele o dissesse.



O Salão Principal encheu-se de alunos que rapidamente ocuparam as quatro longas mesas pertencentes às respectivas equipas. Os alunos mais novos observavam tudo com imensa admiração e logo que o chapéu selecionador distribui-os, Harry virou-se para Ron e Hermione, lembrando-se que os amigos não chegaram a contar os acontecimentos que ocorreram nas férias.

--Então quais são mesmo as inúmeras novidades que me iam contar no comboio?

--Ah! É verdade, depois da visita daquela doninha mal cheirosa, esqueci-me. – Confessou Ron – ouvimos o Snape falar qualquer coisa muito importante a Lupin numa das suas visitas à toca.

--O Snape tem ido à toca? – Parecia que o mundo, de uma hora para a outra, tinha armado uma grande conspiração contra si. Já ouvira inúmeras coisas bizarras e ainda agora tinham começado as aulas. Este ano prometia...

--Sim parece ser assuntos da ordem...

--Shiu Ron! Aqui não, podem ouvir-nos é melhor falarmos na sala comum. – Avisou Hermione interrompendo o ruivo.

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