Um Irmão a Menos



Capítulo 16 – Um Irmão a Menos


- Creio que vamos receber as respostas em breve. – Harry olhou por cima dos amigos e fitou a entrada da tenda, onde uma sombra estava.


Todos olharam na direção da porta. O centauro de armadura branca entrou lentamente e fez uma leve reverência com a cabeça para Harry.


- Boa noite. – a mesma voz poderosa e antiga saiu da boca do centauro.


- Boa noite, Liandro. – desejou Harry, um sorriso maroto nos lábios.


- Liandro?! – os outros três olharam o moreno com curiosidade.


- Eis o meu nome, Liandro. – informou o centauro, atraindo os olhares dos três.


- Certo. – Rony cruzou os braços e abriu a boca para continuar.


- Há quantas horas estamos aqui? – perguntou Hermione, antes do ruivo.


- Acabou de anoitecer. – respondeu Liandro.


- Dormimos o dia todo, legal. – ironizou Gina, girando os olhos.


- Vós não dormirdes, repousardes. – corrigiu Liandro – Vós vos recuperastes da batalha.


- E que batalha, hein?! – resmungou Rony.


- Ainda enfrentarás muitas batalhas e ainda mais difíceis. – Liandro fitou o ruivo nos olhos.


- Chega de papo. – falou Hermione – O quê, afinal, foi aquilo?


- Eu já disse... – Harry chamou a atenção de todos – foi um teste e um início de treinamento. Não foi, Liandro?


- Sim. – confirmou o centauro.


- Como você sabe o nome dele? – perguntou Gina ao namorado.


- Minha alma me contou. – respondeu Harry.


- Como é que é? – Rony não entendera nada, assim como a irmã.


- Mais tarde você vai compreender Rony. – Harry passou pelos amigos e parou na frente do centauro.


- Venham comigo. – pediu Liandro e se virou, saindo da tenda.


- O Harry está diferente. – disse Gina ao irmão e à amiga quando o moreno saiu da tenda.


- Concordo. – afirmaram os outros dois, enquanto saiam.


Eles estavam no meio de uma imensa clareira. Por todos os lados havia outras tendas brancas e algumas fogueiras. Os centauros estavam espalhados e todos os encaravam.


Eles cruzaram a clareira e entraram na floresta, seguindo um estreito caminho forrado com folhas secas. Após alguns minutos de caminhada chegaram a uma outra clareira. Havia uma bela cachoeira de águas cristalinas. Gina e Hermione respiraram fundo. O ar era puro e úmido, porém, não como os outros que circulavam as cachoeiras normais, esse era carregado da mais bela e pura das energias.


Eles caminharam até uma pedra cinza escura. O centauro parou ao lado dela e apontou com a cabeça para a parte superior da pedra, a quase um metro de altura. Eles se aproximaram e viram finas e detalhadas letras brancas entalhadas na pedra.


- Parece italiano. – comentou Gina.


- Não é italiano... – Rony olhou a irmã e depois a pedra – pelo menos não o atual.


- É um bem mais antigo então. – Gina olhou o irmão.


- É latim. – disse Harry, fitando o centauro, um leve ar de descaso o cobrindo.


- Estranho. – Hermione se espantou ao se aproximar mais.


- O que, Mione? – Rony olhou-a.


- Eu entendo tudo. Como se estivesse entalhado na nossa língua. – ela se aproximou ainda mais da pedra.


=-=-=


O mundo estava um caos. Sangue de inocentes manchava o solo e as paredes das casas. Os lutadores do lado do mal espalhavam seus ideais com brutalidade e ignorância. Enquanto os lutadores do lado do bem tentavam, com poucos resultados, detê-los.


Essa era a visão do mundo bruxo e trouxa naqueles tempos. Embora os jovens que agora estavam na floresta não soubessem. Os exércitos de Lorde Voldemort, agora chamado Dragão Negro, avançavam sobre as cidades e sobre os campos de toda a Inglaterra. Com os novos poderes, o Dragão Negro conseguira reunir mais seguidores e mais criaturas malignas. E o imenso Dragão Ancião das Trevas fazia ainda mais estragos, sendo montado pelo Guerreiro Trevas.


Na primeira batalha que o Dragão surgiu, os lutadores do lado do bem acharam que iriam morrer ali mesmo. Contudo, o Dragão Negro não quis dar o golpe de misericórdia. Ele queria fazer todos sofrerem como nunca haviam sofrido em todos aqueles patéticos anos de vida.


Uma batalha sangrenta se estendia por um dos campos que ficava no caminho para Hogwarts. O Dragão Negro atacara ali para interceptar o Expresso que voltava das férias de Natal. Por sorte, alguém deixara vazar os planos e os lutadores do lado do bem prepararam uma recepção calorosa.


Entretanto, p exército usado para o ataque era maior do que eles imaginavam. Aquilo não era uma batalha, era uma carnificina. O Dragão Negro não trouxera o Dragão Ancião das Trevas, mas o exército possuía incontáveis lobisomens, dementadores e seres de pura energia maligna, que eram criações do próprio Dragão Negro.


A Ordem da Fênix comandava os lutadores do lado do bem. Moody, que havia tomado a posição de líder desde a morte de Alvo Dumbledore, lutava com garra, apesar de já estar exausto. Tonks e Quim comandavam os aurores que conseguiam resistir aos dementadores.


As perdas eram incontáveis devido à quantidade de dementadores e, principalmente, à quantidade e velocidade dos lobisomens. Estes eram comandados por Fenrir Greyback. Todos os lobisomens estavam quase transformados por completo, pois, graças às novas habilidades do Dragão Negro, eles haviam conseguido esse privilégio, o de se transformar sob a luz do sol.


Os outros membros da Ordem da Fênix tentavam derrubar os dementadores, que eram tantos que os patronos não pareciam fazer efeito.


Apesar das criaturas malignas e dos lobisomens, não havia nenhum comensal ou humano. O único mais humano, embora muitos pensavam que ele não podia ser classificado como um, era Lorde Voldemort, o Dragão Negro, que via e comandava a batalha de um morro muito perto. Todos os combatentes podiam vê-lo e tremiam ao ver a espessa aura negra que o circulava.


As criaturas criadas pelo Dragão Negro eram altas, com quase dois metros de altura, e vestiam um manto negro muito grosso. Elas davam à impressão de serem muito magras. O manto possuía um capuz que cobria o rosto dos seres, embora todos duvidassem que eles possuíssem rostos, e as mangas do manto pendiam baixo das mãos. Eles atacavam com o corpo e, com um simples toque do tecido negro, deixavam a área atingida negra, apodrecida.


Muitos dos lutadores do lado do bem jaziam no chão com o corpo quase todo negro, respirando pesadamente, e, alguns, suplicando pela morte.


No meio da batalha uma coisa aconteceu, Remo Lupin, que lutava contra Greyback, sumiu, deixando todos os lutadores do lado do bem preocupados. Ele aparatara para longe, sem a menor intenção de fugir. Ele corria pela estrada que ligava Hogsmeade à Hogwarts. Ao chegar ao portão, murmurou algumas palavras e abriu o espaço suficiente para entrar. Fechou o portão e voltou a correr. Corria como se sua vida dependesse daquilo e ela dependia. Ele passou pela frente da casa de Hagrid e adentrou na Floresta Negra.


O céu ficava azul escuro e as nuvens adquiriam uma cor laranja e rosa. O sol estava se pondo e, sem dúvida alguma, aquele era o horário mais perigoso dentro da floresta. Ele ergueu a varinha e murmurou:


- Lumus Maxima.


Um forte e constante feixe de luz saiu da varinha dele, iluminando o caminho. Ele correu floresta adentro o mais rápido que pôde. O suor escorria pela testa e por todo o corpo. Ele fazia muito barulho enquanto corria e era de propósito. As folhas secas e os pedaços de galhos no chão se quebravam quando ele os pisava.


Ele devia estar na área dos centauros e era muito estranho eles ainda não tivessem aparecido. Ele avançou mais, embora não soubesse o quanto. Parou de correr quando chegou a uma grande fenda no solo. Os galhos das árvores eram tão grandes que faziam sombra sobre a ela. Ele voltou alguns metros e prendeu a varinha entre os dentes.


Teria que correr o risco, literalmente. Ele voltou a correr, mais rápido que antes, na direção da fenda. Com um forte impulso, saltou. A fenda devia ter quase três metros de largura e incontáveis de profundidade.


Por um segundo ele achou que iria conseguir chegar ao outro lado, porém, começou a descer antes de chegar ao chão. Ele esticou o corpo pra frente e suas mãos se prenderam na borda da fenda. Tinha quase certeza que aquele era o seu fim, mas não desistiu. Mesmo com as mãos molhadas de suor e de sangue de companheiros, ele tentou voltar ao chão. Usou os pés para tentar subir e, depois de muito sacrifício, ficou de pé do outro lado da fenda.


A floresta era muito mais densa e escura a partir dali. Ele apurou os sentidos e retirou a varinha da boca, voltando a correr floresta adentro.


Após alguns minutos de corrida ele ouviu um ruído que não fora produzido por ele. Imediatamente ele parou e segurou a varinha com mais firmeza. Estava rodeado de árvores e de sombras e não conseguia ver a uma palmo além das árvores. O mesmo ruído o deixou mais alerta e, agora, o som fora multiplicado por incontáveis números.


Remo olhou para os lados e, se não estivesse desesperado e com o coração a mil, teria morrido com o susto que não deixou transparecer. Ao redor dele, através das árvores, incontáveis olhos vermelhos, azuis e verdes estavam presentes. Um par de olhos negros se aproximou, olhos que ele não havia reparado até aquele momento.


O dono dos olhos atravessou a árvore e se mostrou. Era um homem de quase dois metros de altura, extremamente forte fisicamente, com cabelos negros que lhe desciam até a metade das costas e uma aparência muito selvagem. Pelo ar de líder que o circulava, Remo Lupin teve certeza que ele era o lobo Alfa da alcatéia.

- O que quer estranho? Porque adentrou em nossos domínios. – uma voz bruta e feroz saiu da boca do Alfa.


- Eu venho pedir sua ajuda. Eu venho como um reles bruxo pedir o apoio de vocês, lobisomens. – respondeu Remo, forçando a voz para não sair tremida.


- Como você tem a ousadia de vir pedir isto a nós? E de nos chamar desse nome maldito. Nós somos lycans. Tenha respeito perante nós. – o Alfa apontou para os companheiros – Além do mais, vossa raça sempre nos odiou e lutou contra nós.


- Não posso mentir, pois isso é a mais pura verdade. Eu mesmo vos odeio. – os olhos em torno deles se aproximaram e grunhiram – Mas eu odeio a mim ainda mais, pois sou um de vocês.


- Como ousa manchar a nossa raça dizendo que você é um de nós! – bradou o Alfa com raiva.


Remo respirou fundo para manter a calma. O ar estava incrivelmente mais úmido e frio, a noite se concretizara por completo e a situação se tornava mais caótica. Ele olhou o Alfa com determinação.


- O que vocês querem em troca da ajuda? – perguntou ele, a voz alta o suficiente para que todos ouvissem.


- Como ousa tentar nos comprar?! – a aparência selvagem do Alfa se acentuou - Esse foi o seu último erro humano.


O Alfa uivou alto, enquanto se transformava. Os cabelos dele diminuíram até se tornarem grossos pêlos. Sua boca se alongou e se tornou um focinho. Seu corpo foi tomado por grossos pêlos negros. Suas garras e presas afiaram e alongaram. Suas orelhas afinaram, completando a transformação. Outros uivos chegaram aos ouvidos de Remo e ele teve a certeza que todos os lycans em volta estavam transformados.


- Sofra no outro mundo humano! – uma voz mais parecida com uivo saiu do focinho do Alfa.


O som de corrida chegou aos ouvidos de Remo novamente. Ele fechou os olhos e suplicou à Merlim para que ele conseguisse fazer o que Harry queria que ele fizesse.


O Alfa ergueu a mão, ordenando que todos parassem. Uma curiosidade imensa o tomou.


“Por Gaia, o que significa isto?” – pensou ele.


Remo sentiu algo que nunca havia sentido. Sentiu o sentimento mais selvagem do mundo o tomar, o sentimento de matar. Uma dor aguda tomou todo o seu corpo. Uma incrível e quase incontrolável vontade de uivar o fez fechar a boca e morder o lábio inferior.


Seus cabelos mal cuidados diminuíram rapidamente e tornaram-se grossos pêlos. Pêlos castanhos escuros tomaram todo o seu corpo, que adquiriu massa muscular, rasgando sua roupa, deixando-o apenas com a calça negra toda rasgada. Seu rosto ganhou um focinho e suas orelhas afinaram. Suas garras e presas afiaram e alongaram, completando a transformação.


Um uivo cheio de coragem, determinação e felicidade saiu por entre os dentes dele. Ele abriu os olhos e olhou diretamente para o alfa. Seus olhos estavam tão selvagens quanto os do outro.


- Como é possível?! – perguntou o Alfa.


- Eu sou um bruxo, meu nome é Remo João Lupin. Possuo a maldição do lobisomem que atinge os humanos, permitindo-nos ficar parecidos com vocês durante a lua cheia. – explicou Remo, a voz extremamente selvagem.


- Mas você não viu Luna, a Lua. Como você se transformou?! E, ainda por cima, como conseguiu se transformar como nós?! – o Alfa não encontrava lógica.


- Graças à ajuda de um amigo meu, consegui um método de obter essa transformação. Foi muito difícil e doloroso, não posso negar. Mas foi vantajoso. – respondeu Remo.


- Quem lhe passou a “maldição”? – o Alfa ficava cada vez mais curioso.


- Fenrir Greyback. – ele sentiu uma forte dor no ombro esquerdo – Ele está na batalha e acaba de fazer outra vitima. – ele olhou para o ombro e não viu ferimento nenhum.


Ele sempre sentia a dor das vitimas, sempre fora assim. Os lycans em volta grunhiram com ódio.


- Alfa. – um lycan de pêlos negros se aproximou e se ajoelhou perante o Alfa – Deixe-me ir com ele. Quero limpar a honra da minha linhagem.


- Vocês conhecem Greyback?! – Remo olhou para o lycan ajoelhado.


- Ele foi um dos nossos, mestiço. Ele é o resultado de um encontro de um dos nossos com uma bruxa do castelo. – respondeu o Alfa.


- Vocês vão me ajudar? – Remo sentiu a esperança o tomar.


- Sim. – o Alfa sorriu – Equipe Beta, apresente-se!


Entre vinte e quarenta lycans se aproximaram e se ajoelharam.


- São muitos na batalha. Não há humanos dentre os inimigos, somente lobisomens, dementadores e outra criatura maligna que eu nunca havia visto antes. – informou Remo.


- Quanto aos que você chama de lobisomens, os Beta cuidaram deles. Já os dementadores deixe com Andrew. – um sorriso largo surgiu no Alfa – Andrew! Apresente-se!


Remo olhou em volta e viu os lycans por entre as árvores se afastarem e um par de olhos amarelos e incrivelmente selvagens se aproximarem. Remo se assustou, mas não deixou transparecer. O lycan se ajoelhou perante o alfa. Ele era branco como a neve.


- Andrew é o nosso lobisomem puro. Nossa defesa contra os dementadores. – explicou o Alfa – Na batalha você verá o que ele faz.


- Certo. Agora vamos. – falou Remo com bravura, sem saber como iriam.


- Você sabe exatamente aonde é a batalha? – perguntou o Alfa.


- Sim. – respondeu Remo, sem entender.


- Então vamos até aquela fenda. – ordenou o Alfa – Logo voltaremos. Alcatéia! Voltem para suas moradas!


Remo viu os outros lycans se afastarem rapidamente. Os Beta e Andrew se ergueram.


- Vamos. – ordenou o Alfa.


Eles começaram a correr na direção da fenda. Remo se surpreendeu com sua velocidade e reflexos. Logo chegaram à fenda.


- Imagine claramente o local da batalha e pule. – ordenou o Alfa – Um portal se abrirá.


- Certo. Vamos! – Remo pulou e fechou os olhos, vendo claramente o local da batalha.


=-=-=


A lua surgiu por entre as nuvens e os lutadores do bem se desesperaram ainda mais. Os lobisomens uivaram enquanto completavam suas transformações. O Dragão Negro gargalhou sobre a montanha e todos o ouviram.


Fenrir Greyback atacou um auror e lhe mordeu no ombro esquerdo. Os lobisomens faziam cada vez mais vitimas e o dementadores davam “O Beijo” em vários outros.


Os comandantes da Ordem da Fênix se reuniram no centro da batalha, o local onde havia poucas daquelas criaturas malignas.


- Onde está Lupin? – Moody olhou Tonks com o olho mágico.


- Sumiu. – a voz dela saiu trêmula.


- Ele estava lutando contra o Greyback. – Quim atacou um lobisomem que tentava se aproximar, jogando-o para longe.


- O Expresso já está seguro. – informou Moody – Os outros conseguiram interceptá-lo assim que saiu da estação e os alunos já estão em Hogwarts, sãos e salvos.


- Você quer recuar? – perguntou Tonks – Seu tom de voz e sua expressão alegam isso.


- Estamos tendo muitas perdas. Não há como nos manter por muito mais tempo. – respondeu Quim – Também acho melhor recuar.


- Vou ordenar. – Moody se virou.


Antes que ele abrisse a boca, dezenas de uivos de determinação e coragem chegaram aos ouvidos dos combatentes. De cima de outro morro, oposto ao do Dragão Negro, dezenas de criaturas se encontravam. Na frente deles, quatro se destacavam. Três porque possuíam aparência de lideres e um porque era totalmente branco. O branco uivou mais alto que os outros. Uma luz branca tomou o céu e nuvens brancas surgiram. As nuvens se abaixaram e produziram uma densa neblina.


Com a visão das criaturas, os combatentes do bem se desesperaram ainda mais, achando que eles faziam parte do exercito do Dragão Negro. Porém, os aurores puderam notar que os dementadores começaram a se contorcer, tentando fugir da neblina. Ganidos de dor foram ouvidos por todos, antes que os dementadores desaparecessem. A criatura branca parou de uivar e a neblina se dissipou.


A criatura que mais aparentava ser líder gritou para que todos ouvissem:


- Aos humanos bons digo que continueis a lutar. Aos lobisomens, cuidado! Eis que nós, os lycans, surgimos com Luna, a Lua, para varrer a sua escória da face de Gaia!


Os lycans avançaram, exceto o branco. O mais imponente dos que possuíam aparência de lideres, de grossos pêlos negros, se afastou do grupo e começou a atacar algumas das criaturas malignas. Ele recebia os golpes com naturalidade, não deixando que os outros notassem a incrível dor que sentia a cada um. A região atingida ficava podre, mas voltava ao normal rapidamente.


- Imortais. – murmurou Tonks.


Os outros lycans, seguindo outro com aparência de líder, também de pêlos negros, atacaram os lobisomens, que eram lentos e fracos comparados a eles. O com aparência de líder avançou sobre um lobisomem em especial, Fenrir Greyback. O outro aparentemente líder, de pêlos castanhos escuros, se misturou aos outros lycans e se pôs a atacar os inimigos.


Os aurores se surpreenderam, nunca haviam visto ou ouvido falar de tais lycans. Tonks deu um largo sorriso e gritou:


- VAMOS LÁ SEUS MOLENGAS!!! OS QUE NÃO AGUENTAM MAIS LEVEM SEUS COLEGAS FERIDOS PARA SEREM TRATADOS!!! OS OUTROS, QUE QUEREM VER COMO ESSA BATALHA IRÁ TERMINAR, AJUDEM ESSES LYCANS A ACABAR COM A ESCÓRIA DA TERRA!!!


Os outros membros da Ordem se seguraram para não rir e voltaram à luta. Cerca de cinquenta aurores começaram a remover seus colegas, mas nenhum tinha em mente abandonar a batalha, eles removiam seus companheiros para que esses não morressem.


Fenrir Grayback lutava com dificuldade contra o lycan aparentemente líder.


- Quem é você? – perguntou ele – Sinto que te conheço.


- Infelizmente você tem o mesmo sangue que eu. Você não merece ter o nome de meu pai. – rosnou o lycan, atacando sem piedade.


- Vocês são os lobisomens da Floresta Negra?! – Greyback desviou do ataque por pouco – Vocês são aqueles idiotas sem visão de mundo?! – ele gargalhou.


- Seu bastardo imundo! Você não merece viver! Sofra no outro mundo! – o lycan abriu os punhos, deixando as garras afiadas à mostra e começou a dar incontáveis e rápidos golpes.


O Dragão Negro olhou o líder dos seus lobisomens durante toda a luta. Ele não podia morrer, pois, sem ele, os lobisomens não estariam em seu exercito. Ao ver aquele ataque, notou que seria fatal. O Dragão Negro moveu as mãos e sua aura começou a deslizar pelo chão, descendo o morro e passando pelos combatentes. Ela parou sob as patas de Fenrir Grayback e formou uma barreira entre ele e o lycan. O ataque fatal fora defendido com perfeição.


O lycan grunhiu de raiva e se preparou para atacar novamente, mas a aura do Dragão Negro se incorporou ao corpo de Greyback, dando-lhe mais força e agilidade. Ele desviou do golpe do lycan e enfiou as garras em suas costas, rasgando o couro. O lycan uivou de dor e caiu ao chão.


Greyback, todo manchado de sangue, olhou para o Dragão Negro e este apenas acenou com a cabeça. O lobisomem uivou alto e os seus companheiros começaram a recuar, cumprindo a ordem. O Dragão Negro desapareceu e, com ele, aquelas criaturas malignas.


Os lutadores do bem bradaram em vitória e os lycan uivaram. Mas um deles, com aparência de líder e de pêlos castanhos escuros, se aproximou do que lutava contra Greyback e o virou. O lycan respirava pesadamente e com dificuldade. A transformação foi finalizada e um belo homem, apesar da aparência selvagem, tomou o lugar do grande lycan. Sangue escorria pelas suas costas, banhando o lycan que o segurava.


- Vingue-me. – sussurrou ele – Limpe a honra da minha linhagem, é o meu último pedido.


O Alfa e toda a equipe Beta se aproximaram. Quando os olhos do homem se fecharam, o Alfa e os Beta uivaram melancolicamente, dando adeus ao líder da equipe. O lycan que o segurava uivou com dor, apesar de não ter conhecido o que acabara de deixar o mundo.


Os aurores e os membros da Ordem se aproximaram e se inclinaram, em silêncio. O lycan entregou o corpo do líder dos Beta ao Alfa.


- Eu sinto muito. – a voz dele fez com que Tonks erguesse a cabeça, assim como os membros da Ordem.


- Perdas são comuns em batalhas difíceis. – pronunciou o Alfa – Mesmo que a perda seja tão dura.


- Obrigado por terem vindo. – agradeceu o lycan.


- Somos aliados agora. – o Alfa, que havia passado o corpo do companheiro para um Beta, estendeu a pata.


- Farei de tudo para não vos incluir nas batalhas. – o lycan tocou a pata com a sua própria e sorriu.


- Não há necessidade, minha raça gosta de lutar por boas causas. – o Alfa sorriu e se aproximou, erguendo a pata direita – Agora tu és um dos nossos. – ele tocou no peito esquerdo do lycan e uma fraca luz amarela foi emitida.


O Alfa se afastou com um sorriso. O lycan olhou para o próprio peito. Os Beta uivaram e todos sumiram. Exceto aquele. Ele olhou para os humanos ali presentes e tentou finalizar a transformação, sem sucesso. Seus olhos se encontraram com os de Tonks, que possuía lágrimas na face. Ele sorriu ainda mais e a transformação se finalizou sozinha.


Os humanos se assustaram, pois ali estava Remo João Lupin. O corpo dele continuava com os músculos que adquiriram durante a transformação e seus cabelos estavam mais compridos que antes, chegando aos ombros. O que mais marcava nele agora era uma leve aparência selvagem e uma tatuagem no peito, exatamente onde a pata do Alfa havia tocado. A tatuagem era uma perfeita réplica da pata do Alfa.


Tonks correu ao encontro dele e o abraçou. Ele correspondeu.


- Você conseguiu! – gritou ela com felicidade – Conseguiu!


- Harry ficará feliz. – comentou ele somente para ela.


- Que bom que está bem Lupin. – Moody se aproximou com os outros.


- Obrigado Moody, é bom vê-los bem. – Remo soltou Tonks e olhou Moody com seriedade – Muitas perdas?


- Não sei dizer, mas pelo que conseguir ver, infelizmente, foram muitas. – Moody se apoiou na bengala.


- Não podemos desanimar. Conseguimos um forte aliado para a guerra. – falou Quim com um meio sorriso – Temos que pensar nas próximas batalhas e não nas passadas. Coragem!


- Isso mesmo Quim. – Moody bateu a bengala no chão e os outros sorriram.


- Vamos embora. O ministério vai cuidar da limpeza. – falou Tonks – Obrigado pela ajuda aurores! – gritou ela aos combatentes – A cada batalha nós ficamos mais fortes! Vamos continuar juntos e vencer ainda mais!


Os aurores ergueram as varinhas e gritaram com alegria e determinação, aparatando logo depois.


Os membros da Ordem da Fênix se olharam e retiraram os sorrisos das faces.


- Foi por pouco. – falou Tonks com melancolia, apesar da alegria há poucos segundos.


- Graças a Merlim você foi atrás daqueles lobisomens Lupin. – comentou Quim, o semblante sério.


- Lycans Quim, lycans. – corrigiu-o Remo, sorrindo.


- Afinal de contas, eles são da onde? – Moody olhou Lupin.


- É uma longa história, vamos para a Sede que eu conto. – Lupin abraçou a esposa e aparatou, sendo seguido pelos outros.


=-=-=


Ele olhou aquela lembrança pela décima vez e não encontrou nada de especial. Retirou o rosto da penseira e recolheu a lembrança, colocando outra logo em seguida. Mergulhou o rosto e entrou na lembrança.


Viu Dumbledore em sua sala, sentado em sua cadeira, como nas outras lembranças. Agora Harry não estava ali. Ele percorreu todo o escritório buscando algo, que não achou. Ele focalizou Dumbledore, que estava mudo e apenas olhava a mesa.


Achou aquilo muito estranho e se aproximou. Não havia nada sobre a mesa, a não ser um espelho. O espelho refletia algo que ele não conseguia distinguir. Ele se aproximou e notou que o espelho estava inclinado, refletindo algo que estava sobre a prateleira.


Ele olhou a prateleira e suas sobrancelhas se ergueram. Sobre a prateleira havia uma redoma de vidro com um objeto prateado dentro. Ele reparou que havia um banquinho ao lado da prateleira, no lugar exato para se ver a redoma.


Ele subiu no banquinho e olhou a redoma com curiosidade. Era o que estava pensando. A espada de Gryffindor brilhava sobre a luz. O punho com rubis cintilava e a lâmina prata reluzia. Ele notou algo diferente dentro da redoma. Ao lado da espada havia um pequeno pedaço de pergaminho com os seguintes dizeres:


“Olá Cassius, como eu sei que é você? Fácil, você seria o único capaz de encontrar esse pergaminho. O que você busca está aqui. A espada de Godric Gryffindor absorveu o sangue do basilisco da Câmara Secreta, ou seja, ela absorveu o veneno mais poderoso do nosso mundo. Sim, ela pode destruir as horcruxes. Se você pedir a espada ao Harry, ele não hesitará em entregá-la a você. Boa sorte!”


Cassius saiu da lembrança com espanto. Ele tinha que pegar aquela espada o mais depressa que podia. Uma mensagem de Sarah havia alertado-o que Owen, ao chegar a casa onde eles estavam, tivera uma crise de raiva e quase havia matado-a se ela não o fizesse dormir.


Ele deu a volta na escrivaninha e se sentou. Puxou um pergaminho e uma pena molhada na tinta e começou a escrever com rapidez. Não se preocupou em caprichar na letra. Dobou o pergaminho e o lacrou, escrevendo atrás:

“Para Harry Tiago Potter, membro da Ordem de Merlim”


Ele retirou a varinha do bolso e tocou o pergaminho. Uma fraca luz azulada tomou o pergaminho e ele sumiu.


Ele precisava daquela espada e não podia escrever o porquê na carta. Ele suplicou ao seu mestre para que Harry enviasse-a mesmo sem saber o motivo.


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Um moreno de olhos azuis profundos estava dirigindo seu carro pela rodovia movimentada que ligava Liverpool a Manchester. Ele estava quase chegando ao seu destino, Manchester. Seu Porsche Cayman prata reluzia à luz forte do sol. Ele sentia o vento em seus cabelos e possuía um sorriso nos lábios.


Algo chamou sua atenção. Pelo retrovisor ele viu uma Suzuki Hayabusa negra com detalhes em verde e em prata se aproximar rapidamente. O motoqueiro vestia-se de negro e usava um capacete com viseira escurecida, que não permitia visualizar seu rosto. A moto virou para o lado esquerdo e avançou, correndo paralelo ao carro.


Ele olhou o motoqueiro indiferente e se espantou. A viseira do motoqueiro ficou transparente e revelou um homem de pele clara e olhos verde-oliva. O moreno sentiu uma raiva o tomar e ele segurou o volante com as duas mãos, virando bruscamente para a esquerda. A moto freou e o carro quase se chocou contra a proteção da rodovia. A viseira do motoqueiro ficou escurecida novamente, não sem antes revelar o sorriso nos lábios do homem. Ele acelerou e ultrapassou o carro pelo lado direito.


O moreno trocou de marcha e afundou o pé no acelerador. Ele começou uma perseguição veloz e perigosa. A moto saiu da rodovia por uma bifurcação. O moreno freou com brutalidade e seguiu-a, conseguindo gritos e buzinadas dos outros carros.


A moto estava a mais de cinquenta metros dele, embora ele ainda conseguisse uma visão clara e perfeita. Às vezes o motoqueiro olhava por cima do ombro e acelerava ainda mais. O moreno não soube dizer quanto tempo durou aquela perseguição.

Ele viu a moto virar para a direita e acelerou mais. Ao fazer a curva, freou com brutalidade, fazendo o carro parar cantando os pneus. Era uma rua comprida e sem saída. O motoqueiro estava no final dela, a moto parada. Ele desligou a moto e retirou o capacete, colocando-o sobre o tanque. Um sorriso sarcástico tomava os lábios dele e um brilho psicótico estava em seus olhos verde-oliva.


O moreno acelerou devagar. O motoqueiro saiu de cima da moto e caminhou para frente dela, com calma, ajeitando os cabelos loiros com as mãos. O moreno parou o carro à quase vinte metros do motoqueiro e desligou o motor, pulando pra fora. Ele também andou até a frente do carro, sem retirar os olhos do motoqueiro. Um silêncio de morte pairava entre eles.


- Finalmente te achei. – falou o motoqueiro.


A voz dele saiu com naturalidade, emitindo uma ira incomum.


- Você não mudou nada. – o moreno deixara a mão perto do bolso de trás da calça, onde sua varinha estava.


- Muito menos você. Continua com esse ar de superior pra cima de mim. – ralhou o motoqueiro com pura ira.


- Por que veio atrás de mim? – o moreno tocou a ponta da varinha com os dedos.


- Vim lhe trazer um recado e lhe fazer uma pergunta. – o motoqueiro viu o movimento do moreno e enfiou a mão no bolso da jaqueta de couro negro.


- Faça-o então. – o moreno retirou a varinha do bolso, mas a manteve às suas costas, segurando-a com força.


- O Lorde das Trevas sabe sobre vocês. Sabe onde a Sede fica. – ele mantinha a mão dentro do bolso.


- Você?! – o moreno estendeu a varinha na direção do motoqueiro, que retirou a própria varinha de dentro da jaqueta.


- Eu ainda não terminei. – o motoqueiro sorriu pelo canto dos lábios ao ver que o moreno não tinha o mesmo controle de anos anteriores.


- Então termine para que eu possa de matar! – falou o moreno, a voz alta.


- Você não pode fazê-lo, agora estou mais forte que antes. – o motoqueiro abriu a jaqueta e ergueu a camisa negra que usava, deixando a mostra seu tronco bem definido.


O moreno sentiu uma raiva ainda maior, beirando o ódio. Uma cobra negra tomava todo o tórax do motoqueiro e uma “fumaça” verde escuro a circulava, “fumaça” que provavelmente simbolizava uma aura mágica. O motoqueiro abaixou a camisa e fechou a jaqueta até o pescoço.


- Sou o que sempre quis ser. Sou um dos membros da Elite agora. – uma voz levemente histérica pronunciou, voz que lembrava Bellatriz Lestrange.


- Parabéns! Minha alegria vai ser maior ainda quando te matar. Além de limpar a honra dos McWell, livrarei o mundo de um comensal imundo. – a voz do moreno começa a espelhar a raiva que ele sentia.


- Que raiva é essa? – o motoqueiro sorriu satisfeito por saber que tinha conseguido tirar o moreno do sério.


- É a raiva que eu sinto por você! Você é um comensal maldito!


- Olha só quem fala! – o motoqueiro se irritou – Sua aparência te denuncia Owen! O que anda fazendo? Anda quebrando as regras da Ordem?! Anda mexendo com Magia Negra?!


- CALE-SE! – os olhos do moreno perderam todo o brilho.


- Esse é você Owen... – o loiro segurou a varinha com firmeza – Esse é você de verdade. Sua máscara de bom moço caiu.


- E o que te importa isso?! – Owen deu um passo à frente – Você morrerá aqui!


- Duvido muito. – o loiro gargalhou – O que a minha querida Sarah pensaria de você se matasse o futuro marido dela?


- Como ousa pronunciar o nome da Sarah? Você não é digno desse privilégio. Você nunca devia ter conhecido ela! – ciúmes e raiva tingiam a voz de Owen.


- Eu não só a conheci como fiz coisas além. – o sorriso histérico voltou aos lábios do loiro – Ela já lhe contou o que aconteceu aquela noite?! Aquela noite de tempestade quando eu e ela ficamos presos em uma cabana na Floresta Negra? Ela já contou?!


- SEU MALDITO!!! – Owen deu alguns passos apressados na direção do outro – VOCÊ VAI ME PAGAR! PERTURBARE VISIONE!


O loiro riu e moveu a varinha, uma barreira negra o separou do feitiço.


- MALDITO! – berrou Owen.


- O filhinho do papai tá nervosinho é?! – debochou o loiro.


- Você vai se arrepender de ter nascido. Você vai se arrepender de ter nascido do mesmo ventre que eu. Você vai se arrepender de ser um McWell! – Owen gritava – VOCÊ VAI SE ARREPENDER DE SER MEU IRMÃO, LARS!


Owen gritou de raiva e uma aura azul petróleo o circulou. A barreira tremeu. Lars arregalou os olhos quando a barreira caiu em pedaços. Ele forçou um sorriso e uma aura verde escuro o circulou, que de tão escuro poderia ser confundido com preto.


- Vamos acertar as nossas contas! – Owen se aproximou ainda mais do irmão, segurando a varinha com força.


- Com todo o prazer! – Lars ergueu a varinha.


As duas auras se chocaram e faíscas caíram no chão. Owen moveu a varinha e um grito de dor chegou aos seus ouvidos. Lars estava curvado com as mãos no tórax.


- É uma pena... – a voz dele era de pura dor.


Owen ergueu as sobrancelhas e viu queimar na blusa a mesma marca que estava cravada na pele de Lars.


- Mas meu mestre me chama. – Lars ficou ereto e caminhou até a moto, subindo nela – Em breve nos veremos. Irmão. – ele gargalhou e colocou o capacete.


A moto ligou sozinha. Lars se inclinou sobre ela e acelerou. Ele apontou a varinha para Owen e um lampejo negro saiu dela. O moreno se assustou quando o lampejo criou um portal negro um metro a frente dele. Lars acelerou e entrou no portal, que sumiu logo depois.


Owen olhou o fim da rua e gritou. Ele correu até o carro e jogou a varinha no banco do carona.


A rodovia estava mais movimentada. O resto da viagem ele fez na metade do tempo normal. Ele morava em uma casa na zona oeste da cidade, isolada. Ele estacionou o carro na garagem, pegou a varinha e entrou em casa, batendo a porta com força.


Uma mulher apareceu pela porta que levava para a cozinha quando ele gritou de raiva outra vez. Os olhos dela perderam o brilho e o pavor a tomou. Ela deu um passo na direção dele, mas ele correu até ela e a jogou contra a parede, com as mãos em seu pescoço.


- Owen... – sussurrou ela fracamente, devido à falta de ar.


Ele estava fora de si. Isso era visível no sorriso histérico e no olhar psicótico.


- Owen... para! – ela tentou se soltar, mas ele era mais forte.


Ela não viu outra escolha. As mãos dela se colocaram uma de cada lado da cabeça dele e sua boca se moveu.


O sorriso histérico sumiu. As mãos soltaram o pescoço dela. Ele caiu de joelhos e fechou os olhos. Ela se abaixou e o segurou. Lágrimas inundaram os olhos acinzentados. Seus braços enlaçaram-no e o puxou para perto de seu corpo. Seus dedos passavam por entre os cabelos dele.


Aquilo fora a gota d’água. Não suportava mais vê-lo sofrendo, vê-lo com os nervos a flor da pele. Aquele não era o Owen por quem ela havia se apaixonado e com quem pretendia se casar. Algo havia acontecido para que ele ficasse tão fora de si. Mesmo nas crises de raiva dele, ele nunca havia tocado nela.


Ela se levantou e o deitou com cuidado no chão. Pegou a varinha que estava no bolso da calça e o levitou até a cama, no segundo andar. O cobriu com o cobertor e se sentou na escrivaninha. Puxou um pedaço de pergaminho e uma pena molhada na tinta. Escreveu com pressa, com um pouco de medo que ele acordasse e ainda estivesse fora de si. Ela releu a carta, que dizia:


“Cassius,


É com muita pressa e medo que eu lhe envio essa carta. Owen acabou de chegar de Liverpool e está completamente fora de si. Tentou me estrangular com as próprias mãos. Tive que usar o feitiço mais forte que ele me ensinou até agora, o Paraíso dos Sonhos. Ele esta sob o efeito do feitiço ainda, mas não sei quanto tempo ele vai permanecer assim. Por favor, destrua o conteúdo do baú. Mesmo a esta distância, Owen ainda sofre os efeitos do objeto. Ande depressa, por favor. Se Owen não melhorar eu informarei.


Sarah”


Ela lacrou o envelope e escreveu:


“Para Cassius McWell II, membro da Ordem de Merlim”


Ela pegou a varinha e tocou o envelope, que emitiu uma luz azulada antes de sumir. Sarah se virou e viu seu noivo dormir tranquilamente. Era a segunda vez que ela usara aquele feitiço e não sabia se estava correto. Era um risco que tinha que ser considerado.


O Paraíso dos Sonhos levaria Owen ao mundo dos sonhos mais perfeitos e puros que a mente humana poderia criar. Era exatamente isso que ele precisava.


=.=.=


Havia uma bela cachoeira de águas cristalinas. Gina e Hermione respiraram fundo. O ar era puro e úmido, porém, não como os outros que circulavam as cachoeiras normais, esse era carregado da mais bela e pura das energias.


Eles caminharam até uma pedra cinza escura. O centauro parou ao lado dela e apontou com a cabeça para a parte superior da pedra, a quase um metro de altura. Eles se aproximaram e viram finas e detalhadas letras brancas entalhadas na pedra.


- Parece italiano. – comentou Gina.


- Não é italiano... – Rony olhou a irmã e depois a pedra – pelo menos não o atual.


- É um bem mais antigo então. – Gina olhou o irmão.


- É latim. – disse Harry, fitando o centauro, um leve ar de descaso o cobrindo.


- Estranho. – Hermione se espantou ao se aproximar mais.


- O que, Mione? – Rony olhou-a.


- Eu entendo tudo. Como se estivesse entalhado na nossa língua. – ela se aproximou ainda mais da pedra.


- Tenha a gentileza, então, de traduzir para nós? – pediu Harry, sem retirar os olhos de Liandro.


- Ok, lá vai. – Hermione colocou as mãos nas bordas da pedra.


Ela respirou fundo, porém, antes que pudesse dizer algo, uma luz azulada surgiu no ar, na frente de Harry. Um envelope tomou o lugar da luz. Harry esticou a mão e pegou o envelope, abrindo e lendo o pergaminho em voz alta.


“Caro Potter,


Como estão? Conseguiram entrar na Floresta? Não pense que só lhe enviei essa carta para demonstrar minha preocupação. Quero pedir um favor. Mande-me a espada de Godric Gryffindor. Eu preciso dela. Quando você voltar eu a devolvo e conto o motivo do meu pedido.


Cassius McWell”


- Que estranho. – disse Gina.


- Também acho. – Hermione olhou todos.


- Vai mandar a espada? – Rony fitou o amigo.


- Claro. Cassius precisa dela. – Harry retribuiu os olhares – Esperem aqui, eu volto logo.


- Eu espero você voltar pra começa a ler. – Hermione sorriu.


- Perfeito. – Harry saiu e se virou.


Ele saiu correndo e chegou à clareira dos centauros rapidamente. Cruzou a clareira e entrou na tenda em que estavam hospedados. Ao entrar no quarto em que estava dormindo olhou em volta e viu a espada de Gryffindor sobre sua cama.


Harry caminhou até ela e a pegou, tirando-a da bainha. Os centauros haviam polido-a, ela reluzia ainda mais à luz e as letras gravadas estavam mais visíveis. Ele sorriu e a colocou na bainha novamente. Ele passou a mão na bainha e um pergaminho cinza escuro apareceu, enrolado a ela. Ele moveu o dedo e as letras foram surgindo. Elas brilharam em prata quando ele terminou de “escrever”.


“Cassius,


Eis a espada que me pedes. Estamos bem e conseguimos entrar na Floresta depois de passar nos testes. Você nos ensinou muito bem. Agradeço por ter sido teu aprendiz. Saberei recompensá-lo em breve.


Faça bom uso da espada.


Draco Dormiens Nunquam Titilandus


Harry Tiago Potter”



Ele retirou a varinha do bolso e tocou a espada. Um brilho prateado tomou-a e ela sumiu. Ele sorriu e guardou a varinha.


Cassius teria a confirmação para o quê, com certeza, estava atormentando sua mente.


=-=-=


Ele andava de um lado para o outro fazia algum tempo. Algo que ele nunca sentira estava esmagando-o com uma força inimaginável. A casa era levemente sombria por si só, mas agora era tenebrosa.


A sala redonda, pela primeira vez desde que fora construída, não estava reluzente. Sobre uma pequena mesa havia um pequeno baú com um enorme cadeado. No exato momento que aquele baú apareceu em sua casa, toda ela se enchera de uma energia extremamente maligna.


Ele levara o baú para a Sala de Cristais, porém, a luz que emanava dos cristais se apagou, toda a energia branca daquela sala se extinguira. Então, ele levou o baú para a Sala de Reuniões da Ordem de Merlim.


Ao entrar, primeiramente: suas vestes não se modificaram, permanecendo negras; depois: a lareira queimou em chamas negras, que voltaram a ser brancas após longos segundos; e o que mais marcou a visão do mago, o homem do quadro retirou da bainha alguns centímetros da lâmina prateada, como para se defender de um possível ataque. O homem ainda estava assim, uma mão na bainha e a outra no punho da espada.


A cada segundo que se passava, a energia parecia maior e mais maligna. Ele ficaria louco se aquela sensação não parasse logo. Ele parou de andar e olhou para o quadro. O homem possuía os olhos no baú, olhava-o como se soubesse o que ali havia.


Os olhos brancos olharam em outra direção e ele olhou também. No meio da sala, a alguns metros dele, uma forte luz prata surgiu, cegando-o. Ele colocou as mãos nos olhos para protegê-los. A luz se apagou e ele abaixou as mãos.


Ali, exatamente no mesmo lugar da onde a luz emanava, estava a espada de Godric Gryffindor em pé sobre o chão. Ele caminhou até a espada e viu um pergaminho cinza escuro enrolado na bainha. Ele sentiu um choque quando tocou o punho da espada. Ele a ergueu e segurou na bainha também, para que pudesse ler o que estava escrito. Até aquele momento ele achava que não se assustaria mais naquele dia, mas se assustou.


As letras brilhavam como diamantes. A letra era parecida com a de Harry, mas não era a dele, possuía um toque de outra pessoa. Ela estava levemente inclinada e quase que totalmente desenhada. Ele leu com atenção.


O coração disparou sem aviso quando ele leu:


Draco Dormiens Nunquam Titilandus


Ele não havia falado sobre essa frase aos aprendizes, nem mesmo Owen sabia da origem dela. Ele olhou para o homem do quadro e viu, por um ou dois segundos, o brilho de um largo sorriso.


Essa era a prova que ele precisava. Um largo sorriso também tomou seus lábios. Ele caminhou até a mesinha e retirou a espada da bainha. Ele colocou a bainha no chão, com todo o cuidado que podia. Ele focalizou o cadeado. Sua respiração ficou mais pesada e seu coração se manteve acelerado. Ele elevou a mão vazia até o cadeado e a manteve a centímetros dele.


“Está na hora. Mestre, dê-me forças!”


Com um movimento dos dedos, o cadeado sumiu e a energia maligna aumentou mais do que ele imaginara. Ele mal conseguiu respirar. Seu corpo começou a tremer violentamente e teve que segurar com mais força no punho da espada para que ela não caísse. A energia estava sufocando-o, literalmente.


Com outro movimento trêmulo dos dedos, o baú se abriu e uma onda de energia saiu. As chamas da lareira se apagaram e um zunir de metal foi ouvido. Ele ergueu o olhar e viu o brilho da lâmina prateada da espada do quadro, finalmente o homem a retirara por completo da bainha. Isso lhe deu mais coragem e força.


Ele deu um passo à frente e pôde ver o que estava dentro do baú. Era um medalhão que cabia na palma de sua mão. Ele era todo detalhado em prata e em verde. O que mais marcava era a cobra em S cravada no meio do medalhão, tomando-o quase por completo.


A energia se intensificou ainda mais quando ele se aproximou. Teria de agir logo ou acabaria morrendo. Tentava respirar, mas era inútil. Ele ergueu a espada com as duas mãos. O medalhão parecia sentir o que iria acontecer e a energia se tornou ainda maior.


O mago deu um passo para trás por instinto. Cada parte de seu corpo se recusava a voltar para perto do baú. Com muito esforço, ele girou a espada na mão, deixando a lâmina abaixo das mãos, e a ergueu. Outra onda de energia saiu de dentro do baú e seu corpo foi tomado por uma forte dor.


“Não vou desistir! Eu não posso!”


Ele deu um passo para frente. Outra onda de energia o atingiu. Ele se manteve firme com muito esforço.


Tudo estava no maior silêncio, até que ele começou a ouvir um sussurro. Um sussurro quase inaudível. Ele olhou diretamente para o medalhão. O sussurro saia dele, daquele objeto maligno.


Ele tentou se aproximar, mas outra onda de energia se desprendeu do medalhão e o sussurro pôde ser compreendido.


“Você não vai conseguir... Você não vai conseguir... Você é muito fraco... Você é muito fraco... Você não é puro... Você é sujo... Você a matou... Você a matou... Ela morreu por sua causa... Ela morreu por sua causa... Cassius.”


- Não! – gritou ele.


Seus olhos se encheram de lágrimas e ele os fechou. Um ódio o tomou, fazendo a energia maligna se intensificar.


“Isso... Isso... Ódio... Seu ódio me alimenta... Isso... Isso.”


- Não! – gritou ele ainda mais, sentindo seus joelhos amolecerem.


“Mais... Mais... Mais ódio... Mais... Mais.”


A espada escorregou pelos dedos dele e caiu no chão, assim como ele, que caiu sobre os joelhos. Um suor gelado escorria pelo rosto dele. O sussurro era de uma voz masculina, ele percebeu.


O homem do quadro suspirou silenciosamente, ele teria que intervir. Segurou a espada com as duas mãos e moveu a boca. A espada brilhou levemente. Ele continuou a mover a boca, como se falasse a mesma coisa várias vezes.


O mago não podia mais. Ele não conseguia mais respirar. Estava morrendo e sabia disso. Não conseguia se erguer. Não conseguia lutar contra aquele ódio que o tomara. Não conseguia lutar contra aquela energia maligna. Não conseguia lutar contra aquele sussurro demoníaco que o fizera se lembrar do que tentara esquecer. Seu sangue parecia congelado nas veias e seu coração batia tão lentamente que não produzia nenhum som.


Então, outra voz tomou o local. Não era um sussurro, nem um murmúrio. Ela era grave, forte e profunda. Alta, falava para quem quisesse ouvir. O que a voz falava produziu um efeito contrário ao do sussurro do medalhão.


Cassius abriu os olhos com espanto. Seu coração acelerou novamente e seu corpo se moveu. Ele se levantou e se sentiu preenchido com a energia mais bela e pura do mundo. Não sabia quanto tempo aquilo levaria, então tinha que ser rápido.


Ele agarrou a espada de Gryffindor com as duas mãos e a ergueu. Seus olhos fitaram a cobra do medalhão e ele percebeu que ela se movia lentamente. O sussurro demoníaco ficou mais alto, mas não pôde ser ouvido graças à voz que tomava o local.


- Você é só o primeiro! Espere e logo os seus irmãos irão lhe encontrar! NO INFERNO!!! – com o último grito, sem ódio algum, ele desceu a espada.


Uma gigantesca onda de energia negra emanou do medalhão quando a lâmina da espada o penetrou. A lâmina brilhou em verde e depois em vermelho, voltando a ser prateada. Cassius achou aquilo muito estranho, nunca ouvira falar que lâminas de espadas mudavam de cor.


Ele se endireitou, retirando a espada de perto do baú. O medalhão possuía uma fissura bem no centro, exatamente na cobra. A energia negra se dissipou e ele pôde respirar. Colocou a mão vazia sobre o peito, sentindo o coração acelerado.


A voz que tomava a sala foi sumindo, pouco a pouco. Ele focalizou o quadro e teve a resposta pra a pergunta que martelava sua mente.


A espada parou de brilhar e voltou à bainha. A voz cessou, como se emanasse do brilho da espada.


Cassius devolveu a espada de Gryffindor à bainha e a pousou sobre a lareira que queimava em chamas brancas novamente. Ele não retirou os olhos do homem do quadro nem por um segundo.


Uma sensação de alivio o tomou. Toda a sua casa voltara ao normal. A Sala de Reuniões da Ordem de Merlim voltou à sua luminosidade própria e isso o deixou ainda mais satisfeito.


Ele sabia que nunca teria conseguido sozinho. Caminhou até o quadro e se ajoelhou à frente dele, abaixando a cabeça em seguida. Nunca esqueceria aquele momento e sabia que não poderia esquecê-lo. Já sabia como ter forças para destruir as próximas horcruxes.


Pela segunda vez aquela frase o salvava. Pela segunda vez ele agradeceu à Merlim por ter concedido a honra de pertencer à sua Ordem.


A frase era pura verdade. Ela era um conselho aos inimigos do bem. Logo o Dragão Negro aprenderia o real significado dela, novamente.


Draco Dormiens Nunquam Titilandus.


Nunca atormente um Dragão adormecido!

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