Sobrevivente



Sobrevivente





Não é como dizem. A vida não passa pela cabeça em um segundo. Você não pensa em sua família, nem amigos. Você nem tenta se salvar... Nenhum plano, nem idéia. Na verdade, você não pensa em nada. E nesse instante, nesse mínimo instante em que você se encontra entre a vida e a morte, seu corpo congela e um ponto distante de sua mente lhe diz: Acabou. Já era.

A luz verde estava a uma mínima distancia de me atingir. Eu sabia que tinha que desviar, que correr, que fazer alguma coisa. Mas estava congelada. Atônita.

Foi quando algo bateu forte contra meu corpo, me fazendo ir ao chão um instante antes do jorro do feitiço passar por onde estava. Quando me recuperei da tontura que a queda tinha causado, percebi que Rony estava sobre mim.

O que se seguiu ficou muito confuso na minha cabeça, pois foi muito rápido. O jato verde explodindo a vidraça do Três Vassouras. Uma gritaria enorme. Harry saindo correndo em nossa direção. Os olhos de Rony ainda nos meus... Então foi como se nos comunicássemos apenas com o olhar. Nos levantamos rápido e desajeitadamente.

- Vamos atrás do desgraçado! – Rony gritou enfurecido, sua voz se sobrepondo ao caos que a cidade tinha se tornado. Só então olhamos em volta e percebemos que aquele jato verde foi seguido de muitos de todas as cores, cortando a densa neblina. Era um ataque. Estávamos no meio de um ataque!

Por algum motivo desconhecido, o vulto que me atingira, em vez de proferir outro feitiço, se pôs a correr. Sem pensar em mais nada, Harry, Rony e eu seguimos em seu encalço.

Ainda estava em choque, mas não podia me dar ao luxo de parar meu corpo e muito menos minha mente. Nunca gostei tanto de um nevoeiro como naquele momento. Aquilo dificultava os comensais nos enxergarem e era mais fácil escapar dos feitiços em meio à bruma. Nós corríamos o máximo que nossas pernas agüentavam, divisando apenas a ponta da capa negra de meu agressor. Meu pior inimigo. Ou seria melhor minha?

Lançávamos inúmeros feitiços, mas nenhum parecia a atingir. Mas não importava, já estávamos próximos o suficiente para acertá-la na cara. Porém, foi nesse momento, justo nesse momento, quando nós estávamos quase a alcançando, que Parvati surgiu na nossa frente, com o lábio cortado e parte do braço esquerdo coberta de sangue. Ao lado dela estava Luna, que tinha a cara completamente suja de algo que parecia ser lama. Elas pareciam bem desesperadas e gritaram ao nos ver.

- Harry! Por favor, você tem que nos ajudar! Devem ter uns cinco ou mais comensais na porta da Dedosdemel – Parvati disse, ofegante.

Ele me olhou como se pedisse desculpas e disse:

- Nós temos que ir...

- Vocês podem ir, mas eu não vou desistir agora! – exclamei decidida, apontando na direção para onde a pessoa tinha corrido.

- Eu não vou te deixar sozinha, Hermione – Rony declarou.

- Vocês me esperam? – perguntou Harry.

- Tá maluco? – disse Rony.

- Vai lá, Harry – eu disse sem conter a irritação na voz. Rony olhou de mim para ele como se nós realmente tivéssemos problemas mentais.

- Volto assim que der – ele disse ao sumir com ela. Eu e Rony nos entreolhamos assustados, sem conseguir nos encarar ainda.

- Acho que foi por ali – eu disse já me adiantando. Porém, ele me impediu com o braço.

- Olha, eu realmente não me sinto confortável andando por aí sem o Harry por perto e com um monte de comensais a solta querendo te matar. Qual é, ele é nosso amigo! E nós devíamos ter ido com ele.

Gritos podiam ser ouvidos ao longe.

- Oh sim, esse dia será um grande marco na história do mundo mágico. Realmente será – uma conhecida voz sonhadora falou e só então nós percebemos que a Luna ainda estava ali.

- Luna, por que você não foi com o Harry? – perguntei.

- Pra ajudar vocês dois, ora! – ela disse como se fosse muito evidente.

Soltei um muxoxo de impaciência e revirei os olhos um momento antes de desviar de Rony e sair andando sozinha. Nervos. Nervosa. Trêmula. Quente. Gelada. Tudo ao mesmo tempo. Como tudo havia dado errado? Como sabiam que eu estaria em Hogsmeade e não no castelo? Como aconteceu aquele ataque surpresa? Como? Eu estava irritada. Frustrada. Eu queria pegar quem tinha feito aquilo comigo, estava com ódio dela. Mas ninguém parecia disposto a me ajudar.

- Ok, se você quer morrer, vá em frente! – Rony gritou em algum ponto atrás de mim – Mas tem pessoas precisando de nossa ajuda lá no centro!

Então eu percebi o quanto estava sendo austera. E repentinamente, um pensamento bastante lógico passou pela minha cabeça.

- Espera... Você tem razão – comecei intrigada, parando de andar – Por que ela fugiria? Podia me matar ali mesmo no Três Vassouras, tentar lançar um Avada novamente. E se... – disse baixando o tom de voz – E se ela quisesse que nós a seguíssemos? E se está nos atraindo para uma emboscada?

- Ela? – Rony indagou com uma expressão confusa.

- Acho melhor mesmo voltar e ajudar o Harry – disse olhando em volta. De repente, tudo ficou nebuloso e silencioso demais.

- Isso Mione! – ele exclamou e logo retomamos o caminho de volta à rua principal.

Mione? Ele me chamou de Mione de novo?

- Eu concordo – Luna disse – Você está correndo muito risco...

- Risco? Como você sabe que corro riscos, Luna? – ouvi minha voz esganiçada perguntar. Parei de andar.

- Alô!!! Tem um ataque de Comensais aqui, se é que vocês não perceberam! – Rony protestou.

- Eu sei por causa do ritual. Ou achou que eu não percebi o que você fez? Agora você é especial... Isso é bom, mas eles não gostam dessas pessoas, não mesmo. Tudo começou com o ritual. E tudo deve terminar com ele.

- Ritual? O que você sabe sobre ele? – disse me sentindo congelar por dentro.

- Hermione, por favor... – Rony gemeu.

- Eu sei que você fez um. Você não parava de falar em rituais! Mas não se preocupe, eu não conto pra ninguém, tá! – ela exclamou parecendo muito ofendida.

- Não! Você entendeu errado! – exclamei com um sorriso nervoso – Eu não fiz nenhum ritual, ao contrário, fizeram um pra mim. E não tem nada de especial nisso. Mas não fale por enigmas, Luna! Isso é importante! O que você realmente sabe?

- Mas eu não estou falando enigmas! – ela afirmou balançando freneticamente os cabelos.

- Vocês não querem bater papo em um lugar menos perigoso? – Rony perguntou com a voz falha.

- E quanto àquele dia que você disse que sonhou? – perguntei a ela, ignorando o comentário do Rony.

- Que dia?

- Como que dia?! – perguntei beirando a histeria – Aquele dia em que você estava discutindo com a Parvati e eu cheguei! Você disse que sonhou com magia negra – expliquei, ansiosa. Então, Luna virou-se para mim com aqueles extraordinários olhos azuis e simplesmente disse:

- Você deve estar ficando maluca, Hermione. Eu nunquinha na vida disse isso e tampouco sonhei com magia negra.

Não. Não. NÃO. Eu decididamente não estava ficando maluca. Se havia alguma maluca ali era ela. Certo?

- Acho que vocês deviam conversar em outra ocasião. E em outro lugar – Rony falou com uma voz fina e apavorada.

- Mas me esconder não vai resolver nada, Rony! – explodi. Raiva dele. Da Luna. RAIVA. E num instante depois, uma voz suave de mulher nos fez gelar:

- Engraçado... Eu sempre tive a mesma opinião, Srta. Granger.

Então, vimos surgir no meio do nada, Belatriz Lestrange.

- Acredito que nunca fomos devidamente apresentadas – e aproximou-se fazendo meu coração bater com violência contra o peito. Rony, igualmente assombrado, segurou minha mão com força. Na outra mão, eu contraía a varinha entre os dedos, preparada para desarmá-la ao mínimo movimento suspeito.

- Nós sabemos exatamente quem você é. E o que pretende também – disse com firmeza, tentando ocultar o medo em minha voz.

- Ora, vejam! – disse abrindo os braços, como se ali houvesse um grande público – Parece que temos uma nova mestra em legilimência! – e se aproximou ainda mais, olhando em meus olhos. Outras pessoas trajando capas negras surgiram ao redor. Uma emboscada. E eu caíra. Eu.



Um grito. Um corpo indo ao chão. Longos cachos loiros se espalhando pela terra. Um olhar. Um sinal. Um ataque. Outro ataque. Jatos vermelhos cruzando o ar. Outro corpo caindo. Uma lágrima. Uma força. Um feitiço... A chance era mínima. Mas era uma chance.

Belatriz Lestrange estuporada no chão, assim como Rony e Luna.

Mas no fim, me dei mal de qualquer jeito.

Quase no mesmo instante em que a estuporei, senti uma dor imensa invadir meu corpo. Alguém tinha me atingido pelas costas. Com a maldição cruciatus.

- Pode ler pensamentos agora, Granger? – foi a última coisa que ouvi. E dessa vez, a voz não tinha nada de suave.



Raiva de mim mesma.



*****





Sonhei que estava morta...

Você abre os olhos. Eles ardem fortemente com a luz branca que parece emanar de todos os cantos. Pensa que o céu deve ser branco. Branco como a neve, como as nuvens... E não azul como nós o vemos todos os dias. Mesmo sabendo que se morresse, estaria no inferno.

Jogada numa maca do St. Mungus.

Quando se acostuma com a intensa luz, uma cena que a aterroriza se abre diante de seus olhos. Você está deitada. Com uma camisola de hospital.

Meu pai consolava mamãe...

Levanta-se com esforço, sentindo a cabeça latejar e a dor se espalhar pelas costas até atingir cada parte de seu corpo. Parece correr em suas veias um ardor que te consome e angustia. As imagens são desfocadas, e com dificuldade, você distingue seus pais, correndo apressados na sua direção.

Harry parecia estar em estado de choque.

Ao longe, vê a figura de Harry, olhando para você. Não pode saber se é real ou sonho. Mas de uma coisa tem certeza. Se fosse sonho, você já tinha o sonhado noites atrás.

E Gina soluçava.

O longo cabelo vermelho de Gina balança no outro lado da sala, chamando seus olhos, enquanto sente a dor se espalhar no instante que mamãe te abraça. Então percebe que aquilo é real. Olha em volta e lágrimas brotam abundantes ao constatar que nem Rony, nem Draco estão lá. E eles estavam no sonho. Naquele sonho. Em todos os sonhos. Você começa a gritar desesperadamente ao sentir que seu corpo desfalece. Logo você, que tinha chegado tão perto da verdade... Logo você, que podia ter resolvido tudo naquela sexta feira em Hogsmeade... Porém você falhou. E agora eles podiam estar mortos. Eles não estavam lá!

Rony trazia rosas vermelhas. Draco chorava lágrimas de sangue.

Vermelho. Sangue.

Sangue...

“Com o poder do sangue da pessoa sacrificada, os espíritos matariam todos aqueles que fossem trouxas e impuros”

Era tudo sobre sangue...

Você. Sangue.

Ainda gritando enquanto sua mente adormece e perde todos seus sentidos.

Você.


*****




As vozes ressoavam de vez em quando no meu ouvido. Elas vinham de longe, mas há alguns instantes, estavam nítidas demais:

- São tempos difíceis... Foi um milagre ela ter sobrevivido. Sua filha é espantosamente forte. Poucos bruxos resistem a um feitiço tão potente como esse.

- Mas... Esse feitiço... Ele pode lhe causar alguma seqüela? – ouvi a voz hesitante de meu pai perguntar.

- Acredito que não. O pior já passou. Mas fique tranqüilo, eu farei o possível para a Srta. Granger ficar bem novamente.

- Obrigado Doutor.

- Obrigada – mamãe falou.

Ouvi os passos se afastarem pelo corredor. Abri os olhos e sentei-me na cama rapidamente, sentindo as costelas protestarem por isso. Gina, que estava numa cadeira pouco longe do meu leito, levantou os olhos assombrados na minha direção. Eu a chamei com um aceno de mão.

- Eles já sabem do ritual? – perguntei num sussurro quase inaudível.

- Seus pais? Não. Mas eles querem te levar pra casa, quando receber alta aqui – ela disse num sussurro também – Ai, Mione que bom que você está bem, eu nem sei o que... – ela começou a falar descontroladamente.

- Gina. Quanto tempo? – eu disse num tom mais alto.

- Algumas horas, Mione. Mas fica calma...

- E seu irmão, como ele está? – a interrompi sentindo os olhos marejarem. Quem podia pensar em tranqüilidade ao sentir a vida por um fio, daquele jeito?

- Ah, ele está bem – ela disse sorrindo e provocando um imenso alívio e ânimo em mim – Ele está no quarto ao lado – mas ela parou de falar quando notou a apreensão estampada na minha cara.

- Ele está bem mesmo, Mione, vai voltar para Hogwarts amanhã – afirmou veementemente. Porém toda a minha aflição estava em não poder perguntar a ela sobre Draco e como ele estava. Então, repentinamente e de modo inexplicável, lembrei de outra pessoa:

- Você sabe da Luna Lovegood? – perguntei com certo temor. Porém nesse momento meus pais entraram e nós não pudemos falar mais nada.

Foi uma seção de mimos e agrados o resto do dia. Meus pais me olhavam como se eu fosse um bebê ou como uma boneca que corresse o risco de quebrar a qualquer momento. Eles tentavam falar de amenidades e coisas alegres, ocultando por trás do sorriso a preocupação em ter me visto ali, inconsciente mesmo que tivesse sido por poucas horas. Devia ser difícil pra eles, saber que fui atingida por uma coisa tão absurda a seus olhos e tão medonha que nem a medicina trouxa poderia curar. Eles queriam me levar de volta para casa... Eu até entendia isso. Eu precisava disso. Mas não poderia fugir de tudo. Não mais. E embora a razão me dissesse que o mais certo seria esperar me recuperar totalmente, ainda havia aquela força me impulsionava a armar qualquer coisa para sair dali o mais rápido possível. Eu não podia ficar no leito de um hospital, presa, enquanto o responsável por tudo de ruim que já tinha acontecido comigo continuava a solta.

Todo o tempo em que sorria e os abraçava, minha mente fervilhava de planos para escapar dali. E a vontade de levantar e correr para o quarto ao lado, pra falar com Rony, abraçá-lo ou apenas vê-lo por um segundo pelo vidro da porta, só alimentava mais e mais projetos de sair daquele quarto do St. Mungus.

A noite caiu e meus pais se foram após muita relutância deles e insistência minha para que fossem comer algo. Era a minha oportunidade.

Havia apenas uma enfermeira no corredor mal iluminado. Fui até a porta com dificuldade e a chamei para meu quarto. Precisava pegar o nôitibus andante de qualquer jeito. Se chegasse ainda naquela noite em Hogwarts, o ritual poderia ser desfeito antes do nascer do sol. E foi por isso, só por isso que a estuporei.

O ritual podia ser desfeito naquela noite. Mas eu também poderia morrer. Corria esse risco. Precisava ver o Rony nem que fosse pela última vez. E foi por isso, só por isso, que entrei rapidamente em seu quarto.

Foi como se meu coração tivesse parado de bater e como se todo o ar de repente abandonasse meus pulmões. Ele ressonava tranqüilo, o cabelo ruivo levemente despenteado caindo sobre seus olhos. O braço enorme quase pendendo pra fora da cama e a boca...

A boca estava meio aberta, pedindo beijo.

Não pude resistir a tocá-lo de leve, e tomada por grande emoção, percebi que não tinha nada de realmente importante para dizer a ponto de acordá-lo.

- Eu realmente nunca fui boa o bastante pra você, sabe? Não mesmo – murmurei baixinho, quase para mim mesma, ao alcançar a porta – Estou indo agora, Rony... Adeus.

Então todo o ar voltou a circular e o meu coração batia tão forte que chegava a apertar e doer tudo dentro de mim. Uma dor diferente, em algum lugar que eu não sabia bem onde era. Se já era difícil vê-lo assim, num leito de hospital, eu nem poderia imaginá-lo morto e pensar que a gente chegou bem perto disso. Eu só queria abraçá-lo e ficar pra sempre ali ao lado dele, sem falar mais nada, só sentir e fingir que o nosso amor ainda não tinha acabado. Fazer de conta que tinha uma certeza de que numa noite dessas a gente ainda ia se beijar de novo e dançar sem música e rir e chorar junto. Que um dia ele ia sentir ciúmes outra vez. E eu ia ajudá-lo nos deveres. Que ele ia me tocar de propósito ou não. E eu sorriria para ele, vendo suas orelhas se avermelharem cada vez mais, sentindo um estranho prazer nisso apesar do meu rosto queimar também. Que ele ia chorar no meu ombro e eu beijá-lo no rosto. E ele diria que me ama, mesmo não sendo o tipo de amor que eu sempre senti. Ele diria que sou linda de novo... E eu o chamaria de imbecil muitas e muitas vezes, mesmo que fosse em silêncio. E a vontade era forte de que toda aquela gostosa expectativa entre a gente voltasse. Mas naquele momento, apesar de sentir e querer isso tudo, eu sabia que era impossível. Que o nosso amor tinha acabado sim, se é que um dia ele chegou a existir pra nós dois.

Aceitando isso, eu avançava lentamente pelo corredor tentando não fazer muito barulho, quando ouvi passos logo atrás de mim. Assustada, me virei para ver quem era antes de principiar a gritar. Quase caí no chão ao ver Rony andando rápido na minha direção.

- Você é cheia de gracinha, não é? – ele disse com uma careta engraçada.

- Po-por que? – foi a única frase que meu cérebro conseguiu formular.

- Que negócio é esse de ‘adeus’? – ele perguntou pegando no meu braço e entrando por outro corredor. Um misto de dor e prazer envolveu meu corpo ao ser puxada por ele.

- V-você ouviu? – balbuciei envergonhada. Porém logo emendei ao me dar conta que ele continuava puxando meu braço – Quer dizer... Você não vai me impedir de sair daqui, Rony! Eu vou embora de qualquer jeito e...

- Mas por que você disse adeus?! – ele interrompeu aborrecido, parando de andar, me deixando encurralada entre ele e a parede, sem poder correr, nem fugir, nem nada.

- E o que você queria que eu dissesse, droga?!

Ele olhou tão profundamente nos meus olhos, que foi quase como se pudesse me tocar. Senti meus joelhos cedendo à medida que nossas respirações cada vez mais intensas se misturavam. Eu achava que ele queria que eu voltasse e que seria difícil escapar, quase impossível. Já estava com todos os argumentos para convencê-lo a deixar-me ir, para brigar, para qualquer coisa. Pensei até em estuporá-lo também. Mas então, ele olhou pro chão e murmurou duas palavras que fizeram meu estomago revirar:

- Vem comigo.

Engoli em seco. Os seus olhos azuis procuraram os meus novamente, como se me desafiassem, como se não tivessem medo de levar um fora mais uma vez. Então por mais vontade que eu tivesse de dizer: “Ronald Weasley, volte já para o seu quarto!”, eu amoleci.

- Vem comigo? – perguntei totalmente envergonhada.

Ele deu um sorriso mínimo e continuou me puxando, correndo pelos cantos e lugares mais escuros. Eu fazia um esforço sobre-humano para acompanhá-lo, pois tudo doía em mim. Já estávamos quase no térreo, quando pedi para parar.

- Isso é loucura – ele disse exasperado ao me ver respirar com dificuldade, apoiada na parede. Uma tontura havia me invadido e eu tentava mover minhas pernas novamente, sem sucesso. A dor foi subindo até minha cabeça, que me repetia diversas vezes a mensagem: “Por favor, não desmaie”.

- Se eu voltar praquele quarto, vou dar um jeito de fugir amanhã, ou depois. E você... não vai estar aqui – disse com uma voz débil.

- Você – ele começou com um tom ameaçador, mas parou ao ouvir o som de alguém avançando pelo corredor. Puxou-me depressa para um quarto um segundo antes de um curandeiro passar.

- Nós vamos de vassoura – ele declarou entre dentes.

- Não! Você está doido? Até Hogwarts? Voando? – protestei.

- Hei, vocês! – uma mulher gritou ao nos ver. Tinha uma enfermeira dentro do quarto!

Saímos depressa dali, deixando para trás os berros da mulher.

- Vamos de nôitibus! – exigi enquanto tentava correr.

- Não, vai demorar demais! Porque você acha que tem camas nele?

Abri a boca para retrucar, mas não saiu voz alguma. Eu não sabia quanto tempo resistiria a ser puxada pelos corredores daquela maneira. A dor era tão forte que até minha visão embaçou.

Alcançamos as escadas. Logo surgiram três bruxos atrás de nós. Eu só pude ver seus vultos.

- Eu não vou voando! – consegui exclamar enquanto Rony derrubava uma maca na frente deles. Mas ele não me respondeu, nem tentou me demover da idéia de ir de ônibus. Apenas me agarrou pela cintura e desceu as escadas rapidamente. Os bruxos estavam a poucos passos de distância. Nos escondemos num vão da parede sem sermos vistos por eles.

Ele me pôs de novo no chão e sacou sua varinha, gesto que eu imitei. Porém ele me empurrou para longe quase com violência e gritou apontando para uma porta branca:

- Corre pra fora!

- Mas, Rony... – foi o que tencionei falar, mas da minha boca só saiu algo parecido com um gemido.

- Você nem consegue falar direito! Como vai lançar um feitiço?

- Eu não vou te deixar sozinho! – disse com dificuldade, enfatizando cada palavra.

Ele me empurrou na direção da porta novamente, fazendo a dor voltar mais forte. Sem escolha, me arrastei lentamente para fora.

Instantes depois ele apareceu com uma vassoura do meu lado.

- Rony! Por favor... – tentei implorar.

- Sobe Mione – ele disse no mesmo tom autoritário que usou dentro do hospital.

- Ok – eu disse, vencida, me acomodando atrás dele – Mas você poderia ir na menor velocidaAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH!!!!

Não tive tempo de terminar a frase. Ele ganhou altitude tão rápido que só pensei em gritar.

- F-ficou louco? – balbuciei assustada com as manobras arriscadas e abraçando cada vez mais sua cintura.

- Você viu quem eram aqueles homens que nos seguiram?

- Não – respondi apertando fortemente os olhos.

- Eles eram Comensais.

...

- Como você se livrou deles? – perguntei ligeiramente trêmula depois de uns minutos.

- Você acha que eu tenho capacidade pra enfrentar três Comensais da Morte? – pelo tom de voz dele percebi que tinha sorrido – Ser irmão dos gêmeos até que serve pra alguma coisa. Eles devem estar tentando se levantar do chão até agora com aquele feitiço que...

- Você... você salvou minha vida, Rony – constatei admirada, o interrompendo e tomando coragem para abrir os olhos.

Pude ver as orelhas dele ficando cada vez mais vermelhas. Durante alguns minutos nós não falamos nada. Até que ele quebrou o silêncio, com um certo rancor na voz:

- Não foi grande coisa. E eu não fui o único. Aliás, não fui o único em outras coisas também.

Preferi continuar em silêncio. Não seria nada bom começar uma briga com ele enquanto estava em cima daquela coisa, há quilômetros da terra firme. A cada sacolejada da vassoura, ondas de dor me percorriam e elas pareciam bem piores ajudadas pelo vento gelado que também fustigava meu corpo. Amaldiçoei-me por ter posto somente um suéter. Nós estávamos em janeiro, fazia muito frio à noite. Senti pena do Rony, ele vestia apenas um pijama de tecido fino. A dor estava ficando insuportável. Eu precisava me distrair dela.

Quebrei o silêncio.

- O que aconteceu com a gente?

- Ham?

- Depois do que aconteceu em Hogsmeade... Como nos salvamos?

- Ah... Foi o Harry. E outras pessoas – ele respondeu depois de um tempo.

- Mas como foi?

- Como sempre. Vários feitiços e duelos e fugas. Mas não vamos falar disso agora, ok?

- Muita gente ficou ferida? – perguntei num fio de voz.

Ele não respondeu. Esperei alguns instantes para insistir:

- Muita gente ficou ferida, Rony?

Mais alguns instantes se passaram até eu ouvir sua voz meio trêmula e fraca responder:

- Uma pessoa até desapareceu, Mione. Alguns acham que morreu.

Meu coração acelerou.

- Quem?

Que não seja o Draco, que não seja! – implorava silenciosamente.

- Foi a...

- Diga!

- Foi a Luna Lovegood.

Eu entrei em choque. Acho que não acreditei inicialmente. Pessoas tão jovens não morrem! E não desaparecem assim... Num momento ela estava lá, me chamando de maluca e no seguinte ela simplesmente havia desaparecido? Como imaginar estar em Hogwarts sem ela? E o que eu fazia com todas aquelas dúvidas que ela plantara na minha cabeça? O que eu fazia com tudo aquilo? Fiquei esperando o Rony dizer que era brincadeira ou algo do tipo. Mas ele não disse. Então eu pensei: Hermione, esse é o mundo real. Esse é seu mundo. Pessoas morrem nele. Pessoas não tem respostas fáceis. Pessoas sofrem. Se machucam.

- Ah, não... Não... – murmurei sentindo meu estômago revirar – Por favor, desce com isso agora, eu não estou passando bem!

- Mas, Mione...

- Desce! – ordenei, e ele não teve remédio senão obedecer.

Pensei que fosse vomitar, mas só saiu um pouco de liquido grosso e quente da minha boca. Sangue.

- Era pra ser eu, Rony. Eu vou morrer – balbuciei atarantada ao tossir um pouco mais de sangue.

- Não diga isso – Rony disse com um tom de voz doce e andou um pouco na minha direção – Mas se nós ficarmos aqui, corremos risco de vida mesmo – ele disse lívido, olhando em volta.

Estávamos num campo aberto, com poucas árvores em volta. Nunca tinha visto aquele lugar na minha vida. Realmente não era sensato permanecermos mais tempo ali. Já ia enfrentar o medo de subir naquela vassoura velha novamente quando minha cabeça enfim voltou a agir e eu percebi que havia algo de estranho no que ele tinha acabado de dizer.

- Claro! Ela é uma isca! – exclamei, externando meu pensamento – O Harry vai querer ir atrás dela, com certeza!

- Você acha? – ele perguntou intrigado.

- Você duvida?

- Vamos – ele disse. Sua voz rouca denunciava um grande temor.

Eu concordei com um aceno e logo nós subíamos rumo ao céu novamente.



*****




Por que seus olhos lacrimejam contra sua vontade?

Por que sua melhor amiga havia te deixado tão mal?

Por que seu corpo inteiro dói?

Por que sua cabeça pesa?

Por que aquela tortura, sensação pulsante de solidão? Por que aquele abismo entre duas pessoas tão próximas fisicamente?

Por que um ritual?

Por que essa sensação de todas as suas escolhas tão certas, parecerem tão erradas?

Por que você se sente tão patética, pequena, gelada, frágil?

Por que toda aquela gente querendo te matar?

Por que?

À medida que os contornos de Hogwarts foram se desenhando e aumentando cada vez mais às nossas vistas, eu notei o quanto o castelo parecia sombrio naquela noite gelada e triste. Nós não tínhamos trocado mais nenhuma palavra. Eu ruminava minhas dores e agonias calada.

Sentimentos bons já não tinham mais lugar no meu coração.

Assim que descemos da vassoura, Rony não me deixou dar nenhum passo. Segurou forte em meus ombros. Tão forte que até doeu um pouco. O olhei surpresa, me perguntando o que ele pretendia com aquilo.

- Mione, eu preciso muito te contar uma coisa, e se não for agora...

- Melhor deixar pra depois, Ron – disse meio assustada ao tentar imaginar o que ele queria me dizer.

- Não, eu... – ele começou sem jeito.

- Nós precisamos entrar logo no castelo... – minha voz saiu alta e aguda ao tentar me livrar de suas mãos.

- Hermione, eu...

- Será que a porta lateral está aberta? – perguntei inutilmente, andando rápido e só fazendo a dor piorar.

- Mione!

- Rony – disse enfim tomando coragem para o encarar – O Harry precisa de nós. Não há tempo para conversas. Não agora.

Covarde! – era o que uma vozinha dentro de mim gritava.

Ele concordou silenciosamente, meneando a cabeça. E nós mergulhamos em silêncio outra vez.

Entramos na escola e logo seguimos para as escadas. A simples visão delas me deixou atordoada.

- Você quer... hum... Que eu te ajude? – ele perguntou num sussurro.

- Não, tudo bem – respondi pondo o pé no primeiro degrau. Ironicamente, foi o que bastou para meu corpo pender para trás e minha visão perder o foco novamente.

Senti suas mãos me amparando quase no mesmo instante e me levantando do chão. Tudo estava girando, girando...

...

- Rony, eu também tenho uma coisa pra te contar... – disse quando estava quase passando à inconsciência. Minha voz era distante e fraca quando encostei a cabeça no ombro dele.

- O quê?

...

- O quê, Mione? – ele insistiu.

Mas eu já não conseguia emitir nenhum som. E aos poucos, as imagens difusas foram se apagando.



*****




Despertei deitada no maior sofá da sala comunal. Harry e Rony discutiam em voz baixa, e pelas expressões deles, percebi que estavam falando de mim.

- Você não devia mesmo ter voltado com ela.

- Ela estava com aquele jeito mandão, você sabe que quando ela fica assim...

- Eu precisava vir porque sei de uma coisa. Se fosse de outra forma, não me arriscaria – falei interrompendo os dois.

- E o que você sabe, Hermione? – Harry perguntou parecendo irritado.

- Eu sei quem foi – respondi sentando no sofá – Quem invocou o ritual. Bem, eu não tenho certeza absoluta, mas é uma forte suspeita.

- E quem é?

- Se a minha suspeita estiver certa, vocês saberão em um instante – e com isso, me levantei e subi as escadas do dormitório feminino, ouvindo os protestos de ambos atrás de mim.

Sentia-me um pouco melhor. Já não havia mais tonturas e isso me dava um pouco mais de força pra continuar subindo e entrar num quarto de meninas do quinto ano. Existe algo de mágico na coragem. Existe algo de poderoso na vida. Existe algo de saboroso na vingança. Eu já estava ali. E eu já tinha perdido coisa demais por causa de tudo aquilo. Existe uma força naqueles que buscam a justiça. E não importa o quanto te afastem dela, a força só faz aumentar.



- O que foi? Quer ser minha melhor amiga? – um sorriso sarcástico e perfeito me saudou ao ver que eu estava parada junto a sua cama.

- Não, eu quero saber sobre o ritual, Olívia.

- Mas eu quero continuar a dormir, então se você não se importa... – a loira disse apontando para a porta.

- Sim, eu me importo – disse mirando a varinha no rosto dela.

- O que é isso, Granger? Eu nunca te ameacei fisicamente!

- Confessa que foi você, vai ser bem mais simples. Tudo aponta pra você, garota. As suas ameaças, a sua raiva de mim... Você me perseguiu na biblioteca! Você roubou os livros!

- Eu não sei como deixam uma louca sair do St. Mungus!

As outras garotas do quarto principiavam a acordar e nos olhavam curiosas. Impaciente, eu puxei seu braço direito com brutalidade e o virei para olhar seu pulso. Nada. Esfreguei meus dedos com força nele. Nada. Apontando minha varinha, proferi quase gritando um “aparecium”. Nada.

Não tive como ocultar a minha perturbação. Todas me olhavam assustadas e eu lá, parada, sem nenhuma reação. Eu tinha certeza que era ela! Mas como não havia nenhuma marca como a de Draco no seu pulso? Como?

- Mudei de idéia, Granger. Não quero mais ser sua amiga. Agora, FORA! – ela exclamou, sendo apoiada pelas colegas de quarto, que também se queixavam do barulho.

Desci para a sala comunal ainda meio aérea. Se não era a Olívia, quem poderia ser?

- Então, você vai nos dizer quem é? – Harry perguntou assim que me sentei em uma poltrona perto deles.

- Não.

- Por que? – eles perguntaram em uníssono.

- Porque eu não sei quem é.

- Mas você disse que sabia! – Rony disse.

- Eu pensei que fosse a Olívia. Quando isso me passou pela cabeça, em Hogsmeade, me pareceu tão lógico! Mas ao que tudo indica, não foi ela.

- Mas por que logo ela? – Rony perguntou.

- Porque ela se encaixava perfeitamente! Ela me odeia, vive me ameaçando, já me perseguiu, poderia ter fácil acesso aos livros... E também pelo que o pergaminho dizia... Bem ela é linda e... te dominou totalmente, Rony! – disse olhando pra ele.

- Ela nunca me dominou, Mione. O que me dominou foi a raiva. Por você ter mentido pra mim.

- Vocês vão começar a brigar agora? – foi a vez de Harry perguntar.

Nós dois permanecemos em silêncio. Mas ainda nos olhávamos.

- Não adiantou em nada fugir do hospital – enfim disse, desanimada – Me sinto uma idiota, uma irresponsável. Meus pais devem estar malucos! E tudo isso por causa de uma simples suposição.

- Bem talvez não tenha sido tudo em vão. Hermione pode falar com Malfoy e tentar descobrir onde a Luna está – Harry sugeriu.

- Não gostei dessa idéia, Harry – Rony opinou, amargo.

- Eu também não gosto da idéia, ainda mais depois do que ele fez, mas...

- Ei, eu também estou aqui, sabiam? O que o Draco fez, afinal? – perguntei.

- É, o que ele fez? – Rony indagou também.

- Bem... Ele espalhou pra toda escola que foi sua culpa o ataque em Hogsmeade.

- O quê?! Eu acabo com ele! – Rony exclamou, afundando os dedos no sofá.

- Não acredito que ele fez isso... – me limitei a murmurar, incrédula.

- Pois o verme fez, e como ele conseguiu espalhar isso estando na enfermaria, eu não sei.

- Na enfermaria? – murmurei engolindo em seco. Então ele estava ferido. Mas ainda assim seria o Draco capaz de fazer isso comigo?

...

É claro que seria. E só de ter consciência disso, minha cabeça recomeçou a doer.



- Eu vou falar com ele – decidi – Se tem alguém capaz de arrancar algo dele, acho que sou eu, não é?

- Você não vai – Rony disse.

- Ah, eu vou sim... Mas não agora... – disse fechando os olhos por causa da dor.

- Ok, nós vamos contigo. Nada de falar com o Malfoy sozinha, a gente não sabe do que esse cara é capaz – Harry disse e nós dois concordamos com acenos de cabeça – Então... Vocês já sabem onde vão dormir? – ele perguntou.

Claro! E tinha mais aquela. Nós tínhamos fugido do hospital, não poderíamos ser vistos por um monitor ou professor. Não podíamos dormir em nossos quartos.

- Eu sei de um lugar – falei.



Você. Fugindo de um hospital na calada da noite.

Você. Voando de vassoura pelos céus da Inglaterra.

Você. Ameaçando uma garota.

Você. Desmaiando de dor e não por causa de magia negra.

Você. Quebrando regras da escola.

Você. Hermione Granger.

Você... Quase correndo...

Fomos o mais rápido que pudemos até a sala precisa. Um silêncio incômodo nos acompanhou durante todo o caminho. Era assim que nós estávamos. Distantes. Constrangidos. Formais. Tirando o momento em que ele segurou na minha mão em Hogsmeade e quando quase me encostou na parede do hospital, todo o resto tinha sido daquele jeito. Impessoal. Parecia que aquela antiga amizade onde nós não perdíamos um minuto juntos para discutir já não existia mais. Ela já não era mais nossa. Era como se nosso passado pertencesse a outras pessoas. Havia algo entre nós. Um vazio incomodante. E eu só desejava que algum dia nós pudéssemos superar tudo aquilo.

- Era pra ter duas camas! – eu disse ao entrar na sala e ver apenas uma. Arrependi-me quase automaticamente de ter dito isso. Ele me olhou e eu virei o rosto para outro lado rapidamente, tentando esconder o quanto estava corada.

- Tudo bem, eu fico com o chão.

Soltei um muxoxo de agradecimento e me sentei não sem antes de dar uma boa olhada nele. Eu queria dizer alguma coisa, mas todas as palavras me pareceram tão insuficientes! Mas foi bom, pois pude parar de representar que estava bem, quando na verdade a dor havia voltado com força total, assim como a tontura e a náusea. Joguei-me na cama e me entreguei ao sono... Sonhei com Draco. Com aquela noite na estufa e com toda a verdade que vi no fundo dos olhos dele. Ele tentava me beijar... Então ele já não era mais o Draco, aparecia outra pessoa, uma pessoa má. Uma pessoa com duas faces. Acordei assustada, mas gritei alto ao abrir os olhos e dar de cara com o próprio, sentado na cama e olhando pra mim.

- Não faça escândalos, Granger.

- O que você está fazendo aqui? Você não deveria estar na enfermaria?

- Soube que você fugiu do St. Mungus. Achei que estivesse aqui.

- Soube que você contou a todos que foi por minha culpa o ataque em Hogsmeade. O que você quer? Que eu seja apedrejada por toda a escola?

- Eu disse que ia me vingar. E costumo cumprir minhas promessas.

- Você é muito sujo... – disse com desprezo, me encolhendo na cama – Onde está o Rony?

- Ah, então você dormiu com ele, srta. Só-depois-do-casamento?!

- Isso não é da sua conta.

Ele sorriu, me lançou um daqueles olhares indecifráveis e perguntou:

- Por que você fugiu?

Eu levantei rapidamente e apontei a varinha no peito dele, entre ondas incessantes de dor.

- QUEM é você Draco Malfoy? VOCÊ foi realmente pra casa no fim do ano? Ou foi a alguma reunião de comensais? POR QUE você estava na enfermaria?

- Eu não acredito em você... – ele disse com um meio sorriso – Ainda duvida de mim, não é? Pois então vá em frente! Me amaldiçoe! Me lança alguma azaração! Vai Granger! – ele exclamou.

Abaixei a varinha.

- Não posso evitar duvidar de você! Eu poderia ter morrido e você faz isso comigo! O que aconteceu com a nossa amizade? – perguntei num sussurro.

Mas ele não pode falar mais nada, pois Rony entrara na sala.

- Se afaste dela agora mesmo, Malfoy! – ele disse apontando a varinha.

- Weasley... Você me cansa. Sabia que como monitor, meu dever é entregar os dois? Bem, talvez eu faça isso agora... Ou talvez mais tarde, quem sabe? – ele disse indo na direção da porta – Ah, Granger... Respondendo à sua pergunta... Você perdeu enquanto sonhava.

Então ele saiu.



- Ele te fez algum mal? – Rony perguntou.

- Não, ele... Só queria me ver – respondi distraidamente, com a cabeça ainda no que o Draco tinha acabado de falar e no sonho do qual eu tinha acabado de despertar.

- Ah, te ver? Que gesto bonito!

- Onde você estava, Rony? – perguntei para fugir do assunto.

- Pegando algo pra gente comer. E não, não me viram, antes que você pergunte – ele disse aborrecido tirando pãezinhos e biscoitos dos bolsos da capa – Você pelo menos perguntou algo da Luna? – ele indagou em seguida.

- Não. Mas não creio que ele saiba.

- Você continua o defendendo?!

- Ele não age certo, Rony. Mas não quer dizer que seja cruel a esse ponto. E ele não é. Acredite.

- Você lembra do que me disse há um tempo atrás? Sobre como as pessoas se escondem por trás de máscaras de bondade?

- E Draco Malfoy é bonzinho desde quando? – retruquei sorrindo e após uns instantes pensando, explodi – Mas... Rony! Você é um gênio! Claro que não poderia ser a Olívia! Nós devíamos procurar por alguém que finge ser bom! Comigo! Alguém que teve oportunidades de saber do plano que eu tinha armado com o diretor. Alguém que pudesse roubar os livros. Alguém... Oh! Alguém que teve a chance de me fazer ingerir um concentrador de energia... – disse assustada – Merlin... De repente eu me senti mais fria do que a temperatura deve estar lá fora.

- Por que?

- Porque acho que sei pode ter sido. E o pior é que eu realmente gosto dela – disse respirando com dificuldade – Rony... Você acha que consegue sair sem ser visto de novo?

- Talvez... As aulas devem ter começado quase agora. Mas pra que?

- A capa de invisibilidade do Harry. Eu preciso muito dela.

- Você vai me deixar curioso assim? – ele perguntou.

- Pegue a capa. Se eu estiver certa, em no máximo 10 minutos você saberá quem é.



Esperei por mais de uma hora. Já estava arrancando os cabelos, morrendo de ansiedade, quase me arriscando a sair quando Harry entrou pela porta da sala precisa.

- Filch pegou o Rony! – ele exclamou – Madame Pomfrey o forçou a ficar na ala hospitalar e daqui a alguns minutos ele provavelmente vai receber dezenas de berradores da Sra. Weasley.

- Eu imagino como meus pais devem estar.

- Acho que isso responde sua pergunta – ele disse me passando o Pasquim aberto numa manchete que dizia: Casal de trouxas ameaça processar o Hospital St. Mungus.

- Essa provavelmente é a matéria mais verdadeira que essa revista já fez depois da entrevista contigo! – disse com um sorriso nervoso. Lembrei-me da Luna – Harry, você trouxe...?

- A capa? Claro, o Rony me falou. Mas posso saber aonde você vai com ela?

- No meu quarto. Me espere nas escadas – disse pondo a capa por cima da cabeça.



Foi bem antes de 10 minutos que eu achei a prova de que minhas conclusões estavam certas. Mas ao contrário do que imaginei, eu não estava nem um pouco feliz.



- O que é isso? – Harry perguntou apontando para as minhas mãos enquanto eu descia as escadas. Já não havia mais necessidade de usar a capa.

- Esses são os livros que furtaram de mim. E advinha onde eles estavam? Embaixo da cama de Parvati Patil.



*****




Harry e eu contamos tudo ao diretor e depois ele me fez ir para a ala hospitalar também. Faltavam algumas peças do quebra-cabeça, mas o principal eu já sabia. Ela roubara os livros de mim. Ela havia me dado bombons recheados no Natal. Recheados de veneno! Ela estava brigando com a Luna naquele dia e elas falavam sobre magia negra! Ela me convencera a ir até Sibila Trelawney, só pra ouví-la dizer que Rony estava me usando. Ela praticamente incitou toda a confusão que aconteceu na minha vida! Ela fez magia negra pra mim. E eu era amiga dela. Eu era amiga de verdade.

Parvati também estava na enfermaria da escola. Ela estava com queimaduras graves e inconsciente por causa do efeito das poções administradas por Madame Pomfrey. Ela estava a uma cama da minha e eu não agüentava olhar para o lado.

Eu fiquei bem com a Gina novamente. Meus pais brigaram muito comigo, mas passou. Luna Lovegood continuava desaparecida. E no dia seguinte, três garotos foram me visitar. O primeiro era ruivo e tinha belos olhos azuis. Ele me trouxe rosas vermelhas do jardim e nós conversamos um bocado antes dele tomar coragem e falar:

- Agora que tudo acabou, eu ainda tenho uma coisa pra te contar – ele começou hesitante, tocando o topo da minha cabeça de leve – Eu... eu me apaixonei por você, Mione. Eu acho que sempre foi isso mesmo, mas foi só te perdendo que eu percebi isso.

O sol preguiçoso de inverno batia no rosto dele enquanto dizia isso e eu me lembro de quase chorar.

- Rony. Por favor...

- Só me diz que eu não senti isso tudo sozinho. Me diz que agora a gente pode ficar junto. Me diz que foi de verdade quando você entrou no meu quarto e me beijou. Me diz que você também desejou dormir comigo no dia da sala precisa. Me xinga, briga comigo. Me diz alguma coisa... Ou não diz nada. Só não me diga pra eu parar de te amar.

Um bolo foi se formando na minha garganta e eu duvidei que um dia pudesse falar de novo.

Mas foi de verdade! Foi a coisa mais certa, mais linda e mais maravilhosa que me aconteceu. E não importa que tenha ficado um caos depois. Eu nunca mudaria o que houve entre a gente.

Por dentro eu gritava isso. Mas não poderia externar meus pensamentos. Eu o fazia mal. Ele me fazia mal. O nosso amor tinha acabado. Nos estávamos distantes, vazios. Não era pra dar certo. Tudo ficou muito claro depois das palavras da Gina.

“Eu não quero te ver brincando com meu irmão. Ele sofreu demais com essa história. Você nem imagina quanto”.

- Aquela noite em seu quarto, foi um deslize. Não era pra ter acontecido, me desculpe. Mas eu ainda quero muito ser sua amiga, Rony! Eu não quero perder a sua amizade!

- Bem... Eu esperava um pouco mais que isso. Tudo bem... Tudo bem – ele disse sem me olhar

E Rony se foi.



O garoto loiro chegou quando a noite estava prestes a cair. Eu tinha pensado muito durante o dia todo. Coisas que me deixaram muito confusa. Coisas que me fizeram duvidar. Ele fingiu ter ido à enfermaria por causa de uma dor no ombro. Mas eu sabia que era por mim. Eu estava esperando por ele desde o momento que entrei ali. E meu coração acelerou quando eu o vi.

- Malfoy. Tem um momento? – Perguntei assim que ele passou por mim. Ele parou ao meu lado – Aquela pequena marca que você tem no pulso? Tem algum jeito de escondê-la? Um jeito de ninguém descobrir?

- Não. Na verdade ela aparece com qualquer feitiço simples.

- Oh... – me limitei a dizer.

- Então...?

- Então... Acho que te devo desculpas.

- Acha?

- Dr-... Malfoy, eu realmente gostaria de ter algo bonito pra falar nesse momento, mas a verdade é que eu sou uma grande idiota. Eu sinto muito por ter duvidado de você, se eu pudesse voltar atrás...

- Você faria a mesma coisa. Porque nunca confiou totalmente em mim. E o engraçado é que eu não a culpo por isso. Nunca ninguém confiou em mim mesmo... Sabe Granger, sempre quando acho que a minha vida está dando certo, acontece algo ruim. E quando já está tudo bem ruim, piora mais ainda. Mas mesmo assim, eu ainda insisto em tentar achar algo de bom. Só que não há nada. Você costumava ser algo de bom na minha vida. Mas agora... – ele disse balançando a cabeça negativamente.

- Eu ainda estou aqui, Draco.

- Não, você não está – ele disse com um sorriso irônico – Ah, e pra você, é Malfoy.

E Draco se foi.



O garoto moreno entrou logo depois que o loiro saiu. Mas eu nem dei chance pra ele falar, pois logo que se aproximou de mim, eu disse convicta:

- Harry, não foi a Parvati que armou o ritual.







*****



N/A: Bem, como eu prometi a fic de presente de natal e já já minha mãe vai me expulsar daqui, infelizmente eu não vou poder responder os coments como sempre faço. Bem o que dizer sobre eles? VOCÊS ME DEIXARAM MUITO FELIZ! Acho que nunca comentaram tanto assim uma fic minha! Tudo bem que grande parte foi quase me xingando por demorar a atualizar, mas... ah, pula essa parte! Bem quero deixar um beijo especial e dedicar esse capítulo à Carol, Bruninha, Miss Granger, Brine e Val, pq se não fossem elas pedindo e enchendo o saco, talvez esse capt demorasse mais a sair! Hauhauhaua!!! Eu não existo! Eu não mereço que pessoas tão legais como todos vcs que comentaram leiam Ritual, cara... não mesmo! Se vcs não quiserem mais ler ou comentar eu vou entender, pq sou mt mala msm! Onde já se viu deixar vcs com o suspense e demorar pra postar? *se mata* Mas, se vcs forem bonzinhos e me deixarem feliz ao ver os coments ao voltar de viagem, eu posto o último rapidinho! (prometo, dessa vez não tem desculpa de prova final, vou estar de férias!) *sou brasileira, né!* Brigadão também a todo mundo que comentou por msn e por email!!!

Bem e sobre o último... revelações finais, explicações, vingança e beijo na bocaaaa!!! Agora quem vai beijar eu não revelo mesmo!

Bjosssss e feliz ano novo pra vcs! Ju.

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Comentários (2)

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