Loira,linda e estúpida

Loira,linda e estúpida




Loira, linda e estúpida





O dia estava bonito. Raios de sol tocavam meu rosto levemente e passarinhos cantavam ao longe. Eu andava pelos jardins do castelo me sentindo relaxada, flutuante... era um daqueles dias em que a vida parece ser uma suave melodia. Mas aí, repentinamente, tudo escureceu. Como se uma grande nuvem negra cobrisse o céu. Eu parei de andar e meu coração começou a bater mais forte, assustado, como se pressentisse algo ruim. O coração não se enganou. Vultos assustadores começaram a surgir ao meu redor. Tentei gritar por socorro, mas não saía voz nenhuma da minha boca. Tentei correr mas não pude. Os vultos se aproximavam e eu entrei em desespero. Ia morrer e não podia fazer nada contra isso! Foi aí que ele apareceu. Segurou forte na minha mão, enxugou minhas lágrimas e disse ao meu ouvido que estava tudo bem. E apesar de os vultos estarem bem mais próximos de nós, ao lado dele senti que estava salva. Olhei para o seu rosto e não pude reconhecer quem era, mas soube que ele me amava só pelo toque das suas mãos. Então eu sorri.

Acordei lentamente. Não pude ver imediatamente pois a claridade feria meus olhos. Era um sonho... tão bom... mas a minha mão... que estranho. Alguém estava realmente a segurando. Curvei um pouco a cabeça pra ver quem era e me surpreendi ao ver Draco Malfoy sentado ao meu lado. Ele sorriu pra mim e disse algo como: “Que bom que você acordou!”. Eu me sentia fraca, cansada e um pouco zonza. Olhei ao redor e reconheci que estava na ala hospitalar da escola.

- O que eu estou fazendo aqui? – disse sentando na cama.

- Sshhh... fala baixo. – ele sussurrou – Senão aquela velha chata vai vir encher o saco de novo. Você não se lembra de nada? Do que aconteceu em Hogsmeade?

De repente tudo voltou na minha cabeça. Os momentos angustiantes que eu passei naquelas ruas escuras. Naquele penhasco.

- Ai, Draco... foi horrível... – e comecei a chorar.

Ele soube respeitar muito bem esse momento, pois não fez perguntas nem disse nada pra tentar me consolar, apenas me abraçou forte, transmitindo uma sensação muito boa de paz e segurança. Eu fiquei chorando e soluçando nos braços dele durante muito tempo até que lembrei de uma coisa muito importante.

- E o Harry?! Como ele está? Onde ele está?

- Ele está bem. Fui eu quem os encontrou caídos naquele penhasco. Ele acordou logo depois que eu cheguei e nós até começamos a discutir, mas aí concordamos que o melhor e o mais sensato a se fazer na hora, era te carregar de volta até Hogwarts. Foi estranho eu e o Potter fazendo uma coisa juntos, pela primeira vez. Mas como era de se esperar, ele não me disse nada sobre o que aconteceu. Só me pediu pra não comentar nada com Madame Pomfrey, nem com ninguém. Eu concordei só por você. Agora me diz o que aconteceu com vocês naquele sábado.

- Que bom que ele está bem, o Harry. – despistei. Se nem eu mesma sabia o que tinha acontecido, não ia mesmo contar ao Malfoy – E eu? Estou a quanto tempo aqui? – perguntei em seguida.

- Uma semana. No mais profundo sono.

- Sério?! – disse num tom de voz um pouco mais alto.

- Sr. Malfoy! A menina acordou e o abusado nem pra me avisar! – era Madame Pomfrey que tinha aparecido com uma cara de poucos amigos – Pode ir saindo daqui!

- Já vou. – ele disse parecendo entediado.

- Já vou, coisa nenhuma! Saia já daqui! O senhor já ficou tempo demais!

- Tá bom, velha chata! Já estou saindo.

- O quê o senhor disse?! – ela perguntou. Essa hora eu já me controlava pra não rir.

- Isso mesmo que a “madame” ouviu. VE-LHA CHA-TA! – e saiu, batendo a porta. – Ah, e abusado é o seu vovô! – ele disse abrindo a porta novamente e depois jogou um beijo pra mim, que correspondi rindo, jogando um pra ele também.

- Esse seu namorado, hein... é uma verdadeira peste! Não arredou o pé daqui nem um minuto durante o tempo em que você esteve desacordada. Acho que veio em todo intervalo de aula e tempo vago que teve. Que trabalho me deu! Sabe que visitas não podem se demorar aqui...

- Sim, eu sei. Mas ele não é meu namorado. É só meu amigo. – disse sorrindo. Achei muito legal o Draco se preocupar tanto assim comigo. Demonstrava que ele gostava de mim e se importava comigo. Mas amigo... será? – Mais alguém além dele veio me ver, saber de mim? – perguntei em seguida.

- Harry Potter também veio todos os dias. Três meninas apareciam de vez em quando...

Sorri. Deviam ser Gina, Parvati e Luna.

- E Ronald Weasley? Não veio?

- O ruivinho? Uma vez. Não quis entrar, só me perguntou como você estava. Parecia muito preocupado. Aí viu o sr. Malfoy saindo e foi uma briga daquelas.

- Eles brigaram?! De se bater?

- Não. Só porque eu não deixei chegar a esse ponto.

- Que horror! – disse. Me deixei abater mais ainda com aquilo. Por que ele não quis me ver? Por que não veio sempre, como os outros? Será que foi por causa do Draco? Será que ele disse alguma coisa que fez o Rony tomar raiva de mim? Fiquei algum tempo pensando nessas coisas, quando me dei conta que estava na ala hospitalar da escola e ainda não sabia o porquê.

- Madame Pomfrey... o que aconteceu comigo?

- Sinceramente... eu não sei. Nunca vi uma coisa dessas. Você estava aparentemente bem, mas não havia nada que a fizesse acordar. Se ficasse mais de uma semana desacordada, teríamos de chamar seus pais para encaminhá-la ao St. Mungus. Como esta se sentindo agora?

- Bem, mas cansada. Estranho isso, já que dormi tanto.

- Isso deve ser má alimentação. Não sei porque vocês, meninas, têm essa mania de dietas. Tem certeza de que nada te aconteceu antes do desmaio?

- Aham.

- Muito estranho mesmo. Vou te examinar mais algumas vezes, mas não vou te prender aqui, se você me prometer que irá se alimentar bem.





Quando saí da ala hospitalar já era hora do almoço. Me sentia triste, cansada, chateada, curiosa. Triste por causa do Rony, embora ele não merecesse nenhum sentimento vindo de mim a não ser raiva, afinal eu fiquei uma semana lá, desacordada e ele nem quis me ver. Cansada de fazer tantos exames que não deram em nada. Chateada por ter perdido uma semana de aulas e curiosa pra saber quem eram aquelas pessoas que nos cercaram em Hogsmeade e o que elas fizeram comigo.

A primeira pessoa que me viu quando cheguei no Salão Principal foi a Luna. Ela levantou, deu um gritinho de felicidade e veio correndo ao meu encontro. Porém, um sonserino vendo-a correr, pôs o pé na frente fazendo-a tropeçar. Ela caiu de cara no chão, coitadinha, arrancando risadas de todos. Mas como para a Luna, pagar esses micos na escola era normal, ela não se abalou, levantou-se, deu um pisão bem forte no pé do garoto, fez todos rirem da cara dele e depois continuou correndo em minha direção.

- Mione! Até que enfim, acordou! – ela disse ao me abraçar.

Logo várias pessoas vieram me cumprimentar, entre colegas e professores, mas senti falta das duas pessoas mais importantes: Harry e Rony. Por outro lado, Gina e Parvati queriam me arrastar para a mesa de qualquer jeito, mas Tonks me puxou num canto e disse:

- Sei que você deve estar cansada e querendo pôr as conversas em dia com os amigos, mas eu preciso muito conversar contigo. Assim que puder vá até a minha sala, ok?

- Ok. – respondi, intrigada.

Deixei-me levar pelas garotas até a mesa e enquanto me empurravam toda a comida possível, me enchiam de perguntas sobre o que tinha acontecido comigo. Mas como eu também estava cheia de dúvidas, resolvi não dizer nada a elas naquele momento.

- Por favor gente, não me façam perguntas que eu não posso responder. Quando eu tiver plena certeza do que aconteceu comigo, conto tudo a vocês, certo?

Elas concordaram e por um momento comemos em silêncio. Foi aí que eu o vi. O Rony.

Ele estava na outra ponta da mesa, conversando com uma garota loira, bonita. Eu fiquei o olhando até que ele também olhou na minha direção e nós ficamos nos mirando por um tempo. Ele estava com uma expressão séria, talvez até um pouco zangado. Eu sorri, mas ele não retribuiu, continuou sério. Foi aí que a garota virou o rosto dele para ela de novo. E eu abaixei a cabeça. Morrendo de raiva. Poderia matar aquela garota, naquele instante, se não estivesse tão fraca. Se fosse há alguns meses atrás, aquilo seria um fato estranho, o Rony conversando com uma garota. As únicas meninas com quem ela falava eram eu e Gina. Mas desde que tínhamos voltado das férias, ele só vivia rodeado de garotas, geralmente mais novas. Talvez fosse porque ele estava diferente, menos magro e desengonçado que o normal e com o cabelo penteado (ou melhor, despenteado), de um jeito que eu não podia negar, era um charme.

É... talvez aquela vontade louca que me deu de pular no pescoço daquela loira aguada fossem só ciúmes de amiga.

Talvez não.





Tentando tirar o babaca do Rony da cabeça, voltei-me para conversar com as meninas. Nós formávamos um grupo interessante, justamente por sermos muito diferentes. Gina Weasley, moleca e atrevida. Luna Lovegood, espontânea e louquinha. Parvati Patil, determinada e doce. E eu... um mistério até para mim mesma.

Porque alguma coisa tinha mudado em mim, depois do meu desmaio naquele penhasco. Eu que me achava “a forte”, “a sabe-tudo”, de repente me sentia frágil como uma garotinha. Mas não era só isso. Eu estava diferente e isso me assustava. Era como se uma pequena parte de mim tivesse morrido naquele dia e minhas emoções estivessem mais à flor da pele. E logo eu, que sempre fora boa em resolver problemas e responder dúvidas, agora as tinha aos montes em minha cabeça. Dúvidas.

- Fala louca! Estamos todas curiosas. – disse Gina, dirigindo-se a mim, e tirando-me de meus pensamentos.

- O quê? – perguntei.

- No dia em que aconteceu o que aconteceu, você ia nos contar uma coisa... – disse Luna.

- Mas eu nunca cheguei no Três Vassouras pra contar. – completei – Tá legal, é sobre os seus “rolos” com os garotos.

Todas se inclinaram para frente, curiosas.

- Bom, vocês precisam de um lugar pra encontrar com os garotos, um lugar bem escondido, que ninguém desconfie que esteja sendo usado pra esse fim. Pensem bem, garotas! Qual o lugar que nós usamos pra fazer uma coisa proibida, ano passado? – perguntei.

- A sala precisa! – disse Luna, num tom um pouco mais alto.

- Sshhhh!!! – fizeram todas.

- Como eu não pensei nisso antes? – sussurrou Parvati.

- Fui lá ontem e mostrei muita necessidade de uma sala para três casais namorarem. Vocês não vão acreditar em como ficou! Hoje á noite vamos lá, e mostro a vocês. Mas antes quero falar uma coisa contigo, Luna.

- Pode falar. – ela disse.

- É sobre o Neville. Aquela história que você me contou no trem está me cheirando a uma mentira muito grande. Não creio que a avó dele sentiria ciúmes se ele arrumasse uma namorada. Na verdade, acho que ela ficaria até muito feliz. E mesmo que ela não o deixasse namorar, não teria como saber se ele está com alguém aqui em Hogwarts. Se você quiser, posso conversar com ele pra tirar essa história a limpo.

- Não precisa. Eu confio na palavra dele.

Troquei olhares com Gina e Parvati e pude ver nos olhos delas que eu não era a única a não levar fé na história do Neville.

- Sugiro que nos encontremos lá na mesma hora, todos. – disse Gina algum tempo depois, quebrando o silêncio.

- Por que?

- Pensa bem, Parvati. Se eu e o Simas sumirmos na mesma hora, sempre, ia ficar muito estranho. Mas se nós três sumirmos juntas, eu, você e a Luna, então teremos um álibi. Assim como Simas e Neville.

- Faz sentido. – disse Luna – Acho bom também ser só duas noites por semana. Esse ano eu e Gina temos NOM’s. Combinado assim?

- Combinado! – Gina e Parvati disseram juntas

- Um nome. Tem de ter um nome em código pra quando nós formos conversar. Alguma sugestão, Gina?

- Noites quentes... – ela disse, fazendo pose.

- Não... muito grande... Gina, sua safadinha! Tem de ser outro. Luna, tem alguma idéia?

- Que tal, GBSL: Gangue do Beijo na Sala Precisa? – ela disse.

Todas ignoraram educadamente.

- O que acham de Ritual? – eu sugeri.

- Ritual... gostei. Mas por que Ritual? – perguntou Gina.

- Porque aposto que isso vai ser religioso pra vocês, com regras e tudo o mais – respondi. Mas na verdade só sugeri esse nome porque ele não me saía da cabeça desde o momento em que acordei. Talvez já o tivesse lido em algum lugar.

- Eu gosto de Ritual. – disse Luna.

- Eu também. – disse Parvati.

- Então está criado o nosso Ritual! Um brinde a ele! – disse Gina, levantando seu copo de suco de abóbora. E ao som de risadas terminou nossa pequena reunião.



*****




Passei a tarde toda na biblioteca, estudando e tentando recuperar a semana perdida. Depois jantei com as meninas e quando voltava para a sala comunal, conversando com Gina e Parvati, Harry e Rony passaram por nós. Só pelo olhar que Harry me lançou, percebi que ele queria falar comigo.

- Me encontrem daqui a meia-hora, perto da sala precisa. E avisem a Luna. – disse a elas.

Encontrei-os na sala comunal, sentados nas mesmas poltronas de sempre.

- Más notícias? – perguntei ao ver a cara feia dos dois.

- Como está a sua relação com o Malfoy, Mione? – perguntou Harry, sem responder a minha pergunta.

- Que relação? A gente só se fala quando se esbarra por aí. – menti – Por que você está perguntando isso?

- O Sirius, antes de morrer, me deu um espelho para me comunicar com ele.

- Já ouvi falar nesses espelhos... mas e daí? – perguntei, sem entender que relação o Draco poderia ter com isso.

- E daí, que o Hagrid viu Malfoy usando um desses espelhos para se comunicar com o pai dele no sábado passado. O mesmo dia em que fomos atacados em Hogsmeade. Você tem noção do que isso significa?

- Que a segurança de Askaban tá realmente péssima? – disse, tentando parecer despreocupada. Mas não estava.

- Significa que você corre perigo se continuar se encontrando com ele! – disse Rony, irado.

- Você tá delirando, garoto... me encontrar com ele?!

- Não se faz desentendida. Ele não saiu da ala hospitalar enquanto você esteve lá. E eu os vi juntos no Madame Puddifoot, semana passada.

- Não posso crer que você me seguiu!

- Só te segui porque me preocupo com você!

- Que piada, né Rony... eu fico uma semana desacordada, você nem vai me ver e quando finalmente eu acordo, nem ao menos pergunta como estou, se estou bem! Já sai logo partindo pra briga! Grande preocupação a sua...

Ele calou-se e nós ficamos um bom tempo nos encarando. A maior razão da minha raiva não era por ele ter me seguido e sim porque tinha descoberto meu encontro com Malfoy. Mas também estava muito magoada com ele, por não ter demonstrado confiança em mim quando me seguiu, e pior ainda, comigo mesma, por ele ter razão em não confiar, já que eu me encontrara com a pessoa de personalidade mais duvidosa em Hogwarts, além de ser o pior inimigo dele. Me odiava naquele momento, por dar tanta confiança a alguém que provavelmente estava tramando algo contra mim. Quando senti que as lágrimas iam começar a cair, saí correndo, sem dizer palavra aos dois. Precisava falar sobre tudo isso que estava sentindo com uma pessoa e sabia que essa pessoa devia estar treinando quadribol naquele instante. Pelo menos fora isso que ele me disse quando saímos, que sábado à noite era treino da Sonserina. Um absurdo isso. Estava chovendo forte, mas eu não me importava. Quando o vi voando, chamei feito uma maluca, até que ele também me viu e desceu pra falar comigo.

- Ficou louca?! Olha só o seu estado, tá toda molhada! – Draco disse.

- O que você quer comigo?! Você é que tá me deixando louca!

- Não entendo... por que você está gritando comigo?

- Ah, você não entende... pelo menos sabe como me sinto!!! Eu gosto de você, Draco. Te acho legal. Mas não sei se deveria gostar ou odiar. Por que você não me diz o que esconde?! Por que não se abre comigo?! Por que você tem que ser sempre essa interrogação?! Por que você tem que me fazer de idiota, me usar?! – ele permaneceu calado. As lágrimas caíam e se confundiam com a chuva rolando pelo meu rosto. Eu baixei o tom de voz – Não me faça de boba. Ponha um pouco de fé na pessoa que pôs muita em você. Se pudesse confiar em mim, nós poderíamos nos ajudar... – alguém o chamou de volta. Ele se despediu de mim dizendo:

- Depois a gente termina essa conversa. Agora volta e se seca. Você já ficou muito tempo na ala hospitalar, está frágil, e não vai querer voltar pra lá novamente.

Eu obedeci, meio a contragosto. Não disse tudo o que eu gostaria de dizer, queria pôr pra fora e desabafar as coisas ruins que estava sentindo, mas acabei fechando tudo dentro de mim. Como sempre.

“Será que os garotos iam me perdoar? Será que Rony ia me perdoar? Ele já tinha ficado tempos estranho comigo, quando fui ao baile com Vítor, imagina agora, me encontrando com o Malfoy! O pior é que eu não tinha nada a ver nem com o Vítor, nem com o Draco!” – pensava. Estava confusa, eu, Hermione Granger, confusa! Minha cabeça estava rodando. Não sabia o que fazer, não sabia como agir, não sabia o que pensar...

Ao entrar no castelo, lembrei que as meninas estavam me esperando. Me sequei rapidamente e fui correndo e enxugando as lágrimas. Estava tão distraída que acabei esbarrando numa garota que vinha na direção contrária e derrubando os livros que estavam em suas mãos. Ao abaixar para ajudá-la, me surpreendi.

Era a loira que conversava com o Rony no almoço. Aquela noite ia ser longa.

- Hermione Granger. A monitora. – ela disse me olhando dos pés a cabeça.

- Eu mesma.

- Escuta, Hermione. – ela disse, como se estivesse falando a uma criança – Sabe o seu amigo, o Rony? Eu gosto dele. E nesses dias em que você estava doente ou sei lá o quê, nós nos entendemos muito bem e eu espero que continue assim. Porque eu sou capaz de passar por cima de qualquer coisa ou de qualquer pessoa pra conseguir o que eu quero. E eu sempre consigo. Por isso é bom ninguém se meter no meu caminho.

- Você está sugerindo que eu...

- Eu não estou sugerindo nada. – ela interrompeu – Estou afirmando. Conheço muito bem garotas como você se fazendo de vítima e de santa. Pensa que não vi, hoje mais cedo, você olhando descaradamente pra ele? Você não me comove.

- E você não me assusta. Não tenho nada com Rony além de amizade. Por mim não precisa temer. Mas acho que ele não ficaria com uma garota tão estúpida como você. Ah, e por favor não me dirija mais a palavra. Não conheço garotas como você e nem quero conhecer, sabe por que? Porque eu sou alérgica a besteiras. Olha! Já estou começando a me coçar. Com licença. – e dei um esbarrão nela de propósito ao passar.

Minha tristeza deu lugar a uma imensa fúria e eu quase chorei de raiva. “Nós nos entendemos muito bem...”, foi o que ela disse. Depois daquela discussão com a loira, tudo ficou mais claro na minha cabeça. Foi por isso que o Rony não foi me visitar quando eu estava desacordada. Devia estar “se entendendo” com ela em algum lugar. Pois que continuassem! Eles bem que se mereciam! Que raiva senti naquele momento!





- Que aconteceu? Já estamos esperando há um tempão... – disse Parvati quando finalmente cheguei ao local combinado.

- Desculpe. Eu perdi a noção do tempo.

- Seus olhos estão tão vermelhos... – disse Luna, se aproximando de mim.

- É, eu acho que peguei uma gripe. – menti.

- Melhor ver Madame Pomfrey. – disse Parvati.

- Irei. Pela manhã. – respondi – Agora, vejamos... Preciso muito de uma sala pra três casais namorarem sem serem descobertos.

- Uau! – disse Gina ao abrir a porta – É perfeita!

Realmente a sala era ótima. Tinha três divisões, uma para cada casal, separadas por uma espécie de cortina e em todas elas tinham enormes almofadas no chão, que também era meio fofinho. Toda a sala tinha uma aparência de sonho.

E enquanto elas exploravam o lugar, eu me afundei em uma almofada.

- Parece que estou pisando em nuvens. – disse Parvati.

- É o seguinte, meninas: o que acontece aqui, não sai daqui, hein! – gritou Gina, animada.

- Você andou chorando e eu sei. – sussurrou Luna, sentando ao meu lado.

- Só não diz pra ninguém que eu chorei, tá? Amanhã já vai estar tudo bem. – disse cabisbaixa.

- Tem certeza?

- Gostaria de ter.

- Pode contar sempre comigo, viu?

- Obrigada, Luna.

- Você gosta de Ronald Weasley, não é?

Essa pergunta, vinda da Luna, me surpreendeu. Mas o que me surpreendeu mais ainda foi a minha resposta:

- Não sei... – disse perplexa, olhando-a nos olhos.





Tinha os olhos inchados pela manhã, pois passara a noite em claro pensando e cheguei a conclusão de que o melhor a fazer era cortar relações com o Malfoy. Me afeiçoei a ele, mas se ele mantinha contato com o pai logo no dia em que nos atacaram em Hogsmeade, poderia estar até envolvido nisso. Precisava conversar com os garotos e procurá-los foi a primeira coisa que fiz ao entrar no salão principal naquela manhã. Encontrei-os conversando e parecendo se divertir com aquela loira convencida, que parecia me perseguir. Uma mágoa momentânea me envolveu, pois passara a noite inteira chorando e depois encontrava os dois se divertindo a valer. Mas o que mais me incomodava mesmo, era ver aquela garota desconhecida tomando o meu lugar.

- Preciso falar com vocês. Em particular. – disse, vendo que a loira também se voltara pra me ouvir.

- Já vou indo então, gente. Encontro vocês daqui a 15 minutos. – ela disse levantando-se.

- Eu pensei muito naquela nossa conversa de ontem, e... – disse hesitante.

- E? – perguntou Rony.

- E cheguei a conclusão que vocês têm toda a razão. Só podia estar louca pra me encontrar com Malfoy e ser amiga dele depois de tudo que ele nos fez.

- Me admira você, sendo tão inteligente, só chegar a essa conclusão agora. – disse Rony, desafiador, esperando que eu fosse brigar com ele. Mas minha resposta foi:

- Ninguém é perfeito. Nem mesmo Hermione Granger.

Nós ficamos nos encarando e parecia que a qualquer momento íamos explodir um com o outro. Porém, Harry, percebendo isso, começou a falar, atraindo nossa atenção.

- Nós temos que tomar muito cuidado pra não cair numa armadilha como a do ano passado. E o que foi aquilo que aconteceu com a gente em Hogsmeade, Mione? Só pode ser coisa de Voldemort, com certeza.

- Se ao menos eu estivesse lá com vocês... – disse Rony.

- Você faria o quê? – perguntei, debochando.

- Ia chutar a perna deles e sair correndo. – ele disse e começou a rir muito em seguida. Mas quando viu que nem eu nem Harry tínhamos achado graça, se tornou muito sério subitamente.

- Liga não, Mione. É que esse ano está sendo muito bom pro nosso amigo aqui. – disse Harry, sorrindo.

- Pois é, agora eu tenho uma capa de chuva novinha pra enfrentar esses temporais de ultimamente.

- Você sabe que não é disso que eu estou falando, Rony.

- Do que você está falando? - perguntei

- Pergunte ao Rony.

- Do que ele está falando, Rony?

- Sou o novo capitão do time.

- Sério?! – gritei. Todos da mesa olharam pra mim. – Isso é maravilhoso! Parabéns! – disse num tom mais baixo e o abracei – Quando foi isso?

- Segunda-feira. Nós escolhemos o resto do time e ele foi nomeado capitão. – respondeu Harry.

- Desculpa, eu não sabia, Rony. – falei.

- Você não me deve nenhuma desculpa. Eu vacilei, você vacilou. Estamos quites. Está tudo bem.

- Vai ficar tudo bem. – sorri – E aí? Não vão me dizer quem é aquela garota? – perguntei, referindo-me à loira.

- Olívia Jones, nossa nova artilheira, que vai formar nosso ataque com a Gina e o Simas. – respondeu Rony. – Aliás, descobri o motivo de ele nos interromper daquele jeito, naquele dia. – e ao dizer isso ficou muito vermelho – Ele ganhou uma Nimbus 2004 de presente de aniversário e está simplesmente eufórico com isso.

- Legal, o Simas jogar. – eu disse.

- Que súbito interesse é esse pelo Simas? – perguntou Rony, rispidamente.

- E os batedores? – perguntei ao Harry, sem dar atenção a Rony.

- Colin e Dênis Creevey. – mas quem respondeu não foi o Harry e sim a tal de Olívia, que estava parada em pé, atrás de nós. – Vamos, gente! O resto do time já está esperando por nós! – ela disse aos garotos, em seguida.

- Esqueci completamente! – disse Harry – Vamos, Rony! – e despediu-se de mim – Nos vemos mais tarde, ok?

- Ok!

- Té mais, Mione. – disse Rony, já saindo.

- Até.

- Tchauzinho, Mi-o-ne. – disse Olívia, que tinha ficado pra trás e depois derrubou meu resto de suco de abóbora na minha camisa branquinha, de propósito, e saiu rápido, me deixando sem reação.

Naquele momento, quando estava ali sentada, completamente suja de suco de abóbora e me sentindo no fundo do poço, jurei pra mim mesma que ainda iria me vingar daquela loira.

Custasse o que custasse.




*****




À noite, eu, Rony e Harry, conversávamos na sala comunal. As coisas voltavam ao normal.

Nós elaboramos várias teorias loucas sobre o que tinha nos acontecido no penhasco, mas não chegamos a conclusão nenhuma. Só concordamos em não contar nada a ninguém naquele momento e em deixar de ir aos passeios a Hogsmeade, por mais que isso fosse chato. Harry sugeriu que nós procurássemos alguma coisa que explicasse aquele “ataque” a nós, na biblioteca. Rony se opôs a essa idéia totalmente.

- Você tem alguma idéia melhor, Rony? – perguntou Harry

- Pela nossa vasta experiência em tragédias, você já devia saber que nós nunca encontramos respostas concretas nos livros. Nós somos muito bons em uma outra coisa que é espionar e escutar conversas dos outros. Se estiver acontecendo alguma coisa séria por aqui, logo saberemos. – respondeu Rony.

- Se estiver acontecendo alguma coisa séria?! E a Mione, uma semana na ala hospitalar, não é sério o bastante pra você?! Eu não sei quem eram aqueles que nos cercaram em Hogsmeade, mas de uma coisa eu tenho certeza sobre eles. Eles não queriam a mim. Eu não era o alvo dessa vez. Alguma coisa de muito séria aconteceu a ela, pra ficar todo esse tempo desacordada. E enquanto não escutarmos nada? Ficamos de mãos atadas?

- Não temos nada a fazer, a não ser esperar. Aceite isso, Harry. – respondeu Rony.

- Eu concordo com ele, Harry. – eu disse.

A conversa terminou aí, pois todos nós parecemos mergulhar em nossos pensamentos e nos calamos. Os meus pensamentos foram me levando a outros lugares até que eu me lembrei de uma pessoa.

- Vocês têm visto o Neville? – perguntei.

- O Toco-man? – perguntou Rony, rindo.

- Anh? – perguntei.

- É o apelido dele: Toco-man.

- E o que isso significa?

- Que ele só vive levando tocos.

- Tocos?

- Um não. Um fora. Um chega-pra-lá, de uma garota. – ele explicou.

- Mas ele já pediu pra ficar com tantas garotas assim, pra ganhar esse apelido? Nós começamos as aulas faz pouco tempo...

- Ele é homem, né...

- Ah, então quer dizer que você também pede pra sair com várias garotas?! Afinal, você também é homem.

- Mas eu sou diferente. Sou um moço mais na minha, comportado. Se eu gostar de uma garota, acho que vou querer ficar só com ela. Eu sou o homem perfeito. – ele disse de um jeito meio convencido.

- Que garota de sorte, será essa, que você gostar! – disse ironicamente.

- Só posso dizer que ela não terá do que reclamar... Se ela me quiser.

- Então essa garota... já existe? – perguntei, sem ter coragem de olhá-lo nos olhos.

- Existe.

- Posso saber quem é?

- Por enquanto, não. Prefiro manter o sigilo. Se eu ainda nem tive coragem e oportunidade de dizer a ela o que eu sinto! Nem sei se vou conseguir isso, mas quando eu disser a ela, te prometo que você será a primeira a saber.

O que tinha acontecido com aquele garoto? – eu pensava. Ele estava totalmente rude comigo pela manhã, mas naquele instante nós estávamos conversando civilizadamente, como se nada tivesse acontecido. Eu gostei, é claro, de ter parado de brigar com ele, mas alguma coisa me dizia que aquela nossa trégua não iria durar muito.

Só não gostei de saber dessa garota que ele gostava. Seria a tal Olívia Jones?




*****




Dia seguinte. Herbologia. Duplas. Parvati preferiu ficar com Lilá, que lhe contava da noite passada com o namorado. E eu acabei sobrando com o Neville. Ótima oportunidade pra tirar a limpo a história com a Luna e o caso dos “tocos”.

- Que coisa feia, hein Neville... – eu disse.

- O quê? – ele perguntou, assustado.

- Inventar que não pode namorar com uma certa garota, porque sua avó sentiria ciúmes, quando na verdade, você não quer compromisso sério com ninguém e sim ficar com o maior número de garotas possível.

- Quem te falou isso?

- Interessa?

- Posso imaginar o que você está pensando de mim, mas eu tive motivos para mentir à ela. Posso te explicar isso depois da aula. Se você quiser.

Assim que a aula acabou ele me puxou, correndo. Pude ver que Rony nos observava com o canto do olho e sorri intimamente. Já não estava mais com raiva dele. Eu e Neville fomos correndo direto para o dormitório dos meninos. Chegando lá, ele me perguntou, ofegante:

- Ela também está chateada comigo?

- Não. É incrível, mas ela acreditou na sua mentira.

- Que bom. Agora vou te mostrar uma coisa.

Ele me puxou pra perto dele e passou os braços em volta do meu corpo, num abraço.

- Espera aí, Neville! O que você está pretendendo fazer?! – perguntei, assustada.

- Nada que tire a sua honra de moça pura. – ele disse com um sorriso estranho – Não se preocupe. Você vai ver.

Ele me abraçou mais forte e começou a beijar meu pescoço. Eu tentava me desvencilhar dele, mas quanto mais lutava, me sentia cada vez mais fraca. Não conseguia nem gritar por socorro. Naquele momento, não sabia o que estava acontecendo comigo. Parecia que todas as minhas forças tinham acabado completamente. Ele foi se aproximando pra beijar minha boca e a última coisa que eu queria era isso, porém a única coisa que eu conseguia fazer na hora era chorar. Mas aí, por sorte minha, Rony entrou no quarto e gritou, furioso:

- O que significa isso?!








N/A: Primeiramente eu gostaria de pedir perdão. Me perdoem por favor, pela demora desse capítulo!!! É q td de mal que vcs possam imaginar me aconteceu no mês passado. E pra piorar, qd esse cap já estava pronto, meu computador deu um “tiu-ti” e eu perdi td, tendo q escrever td de novo!!!!

Esse cap foi o mais difícil de escrever, pq eu não podia esclarecer de cara mts coisas (senão, como é que ficava o suspense?). Mas eu acho q ele ficou legal, msm assim. E vcs? O que acharam???? Comentem, pliz!!! Dúvidas e opiniões serão bem vindas!! Comentem, nem q seja p/ dizer q está um cocô, pois aí eu poupo vcs dessa história!

E o Neville, hein... que safado! Tá, eu sei que o nosso querido Nev, dos livros da J.K. nunca faria uma coisa dessas, mas eu bem q avisei q a personalidade de alguns personagens estaria um poko mudada. E isso serviu tbm p/ demonstrar q a maioria dos homens são cafajestes, por mais bonzinhos que pareçam. (desculpem boys, saum crises)

E agora?! O q será da Luna? E a Mione? Será q vai parar de falar com o Draco msm? E a Olívia? Nossa loira-linda-estúpida, conseguirá o coração do Ron? Espero q o próx cap naum demore tanto, eu já comecei a escrevê-lo e as coisas devem fikr mais quentes. Fiquem curiosos! Bjuz da Ju.

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