Não existe o fim... (parte 1)



Para Deby, de presente pela sua formatura *tia orgulhosa*

Para Neptuno_avista, NyaPunk e Mike de presente de aniversário atrasado

Para todos vocês que estão a ler isto, porque vocês são uns leitores maravilhosos e merecem, da minha parte, um presente de Natal (mesmo que atrasado) feito com todo o carinho que eu posso dar.







Capítulo 35 – Não existe o fim… (parte 1)



Calma não era a palavra que vinha à cabeça de Ginny, naquele momento. Silêncio sim, mas esse silêncio não chegava a ser definido como algo pacífico e acolhedor. Uma guerra estava prestes a rebentar fora dos muros daquele castelo e ninguém parecia alheio a isso. No Salão Principal, naquele momento, centenas de pessoas procuravam abrigo e segurança debaixo das asas de Minerva McGonagall e Albus Dumbledore, um número razoavelmente grande encontrava-se sobre os cuidados de Madame Pomfrey que, em silenciosas lágrimas, era obrigada a ver, relutantemente, muitos deles fecharem os olhos para sempre.

Ginny observou a enfermeira que, durante tantos anos, se recusara a deixar alguém perecer, no interior do seu território. Tudo tinha mudado nela, na hora em que St. Mungus fora atacado. Primeiro vira o seu espaço ser invadido por dezenas de curandeiros e, nem meia hora tinha passado, a sua enfermaria já se enchia, pela primeira vez em décadas, de corpos sem vida, pertencentes àqueles a quem as forças tinham faltado. A velha senhora, antes vigorosa e um tanto resmungona, tinha baixado os ombros e os olhos, mesmo que continuasse a dar o melhor de si, para cada um daqueles enfermos.

Desviando o olhar da enfermeira, Ginny focou-se em Marlene, que, apesar das recomendações dos colegas para que repousasse, continuava a verificar cada um dos doentes, ajeitando-lhes as almofadas ou verificando os sinais vitais, tal qual uma mãe protectora. Uma outra pessoa ainda não parara desde que entrara ali algumas horas antes. Molly Weasley, obrigada a ver cinco dos seus filhos partirem para uma batalha, refugiara-se ali, para se “sentir útil em alguma coisa”. Apesar das palavras da mãe, Ginny tinha a certeza de que esse não era o principal motivo. Molly queria ter a certeza de que pelo menos a sua filha mais nova continuava segura debaixo das suas asas protectoras.

Para lá da janela, podia ver-se o sol a esconder-se para além do horizonte, tingindo o céu de vermelho, como que a antecipar todo o sangue que seria derramado naquela noite. O vento, cada vez mais forte, assobiava ao atravessar as frestas das janelas mal fechadas e agitava os ramos das árvores que, ao longe, pareciam esconder sombras que se moviam. Ginny sabia que não era apenas na distante vila de Little Hangleton que o futuro seria discutido. Podia até adivinhar os contornos das criaturas que se preparavam para cercar o castelo. Mas isso não a preocupava naquele momento. Demoraria horas até que os Devoradores da Morte conseguissem quebrar as defesas do castelo. O que a preocupava eram todos aqueles que tinham partido duas horas antes. O seu pai, os seus irmãos, Hermione, Harry. Harry! Ele estava lá, pronto para enfrentar a batalha mais difícil da sua vida e Ginny prometera que iria ficar no castelo. Não que Ginny se arrependesse da promessa que fizera de tomar conta de Lily, mas, por outro lado, queria ter ido também.

Um leve som, quase imperceptível, de roupa a roçar na pele de alguém foi o suficiente para captar a atenção de Ginny. Inicialmente pensou vir de alguém que se mexia na cama mas, observando melhor, por entre os últimos raios de sol, viu que alguém se tinha levantado.

- Lily?!

A outra ruiva não reagiu à voz de Ginny. Como se ninguém tivesse falado com ela, continuou a sua tarefa de trocar a camisola da enfermaria por umas calças e uma camisa confortáveis. Antes que Ginny pudesse fazer alguma coisa para contrariá-la, Lily amarrou os seus longos cabelos num rabo-de-cavalo de pegou na sua varinha, preparando-se para sair. A sua barriga ainda saliente, que não deixava margem para dúvidas de que dera à luz poucos dias antes, foi fortemente apertada contra os botões do casaco de malha que Lily vestiu

- Lily, talvez seja melhor voltar para a cama.

Pela primeira vez, Lily encarou Ginny com os seus olhos verdes. Neles, a mais nova das duas podia ver uma determinação que lhe dizia que nada demoveria a auror naquele momento.

- Eu não vou ficar parada, Ginny.

Quando Lily deu um passo na direcção da enfermaria, Ginny levantou-se e correu até ela, para a segurar por um braço.

- Lily, não está em condições de combater neste momento.

Lily fechou os olhos por uns segundos, antes de tentar soltar-se da mão de Ginny e esticar o outro braço para a porta.

- Eu preciso de algo para ocupar a minha cabeça. A minha família está lá! Todos eles estão em perigo. Eu não posso simplesmente ficar deitada naquela cama enquanto os outros combatem por mim.

- Mas…

- Eu sou uma auror! E vou fazer o meu trabalho para defender esta escola. Além disso… – desta vez, Lily sorriu para Ginny, por entre as lágrimas que lhe inundavam os olhos – … Assim que a Helena voltar, ela vai ter um motivo forte para se orgulhar de mim.

Desta vez, Ginny não teve coragem de tentar contradizer Lily. A auror estava frágil, Ginny sabia disso, mas, por outro lado, tinha, dentro dela, a força para mover montanhas, se isso justificasse lutar por aqui em que acreditava e amava.

- Mas o que pensas que estás a fazer, Lily Evans Potter?

As duas ruivas voltaram-se para encontrar a face zangada de Marlene aproximar-se perigosamente delas. Não demorou muito para que também a atenção de Madame Pomfrey se focasse em Lily e na sua tentativa de deixar a enfermaria.

- Pelo amor de Merlin, Lily, acabaste de passar por um parto difícil. Quase morreste no processo.

- Lene!

- Não venhas com “Lene” para cima de mim. A Medibruxa aqui sou eu e tu vais voltar para aquela cama, nem que eu tenha de te lançar um Imperius!

Sem dizer mais nada, Lily deu dois passos na direcção da amiga e envolveu-a com os dois braços, num abraço apertado, provocando soluços na morena.

- Marlene, és minha irmã, mais do que aquela que tem o meu sangue. Eu amo-te como tal e respeito-te mais do que a qualquer pessoa. Mas não tentes demover-me, porque eu não cederei.

Os olhos verdes da ruiva dirigiram-se para Poppy que se preparava também para falar. Mas, assim como a sua boca se abriu, ela se fechou novamente, como se a coragem para parar Lily tivesse falhado. Em silêncio aproximou-se do armário mais próximo e pegou num líquido azulado, estendendo-o para a sua paciente.

- Poção revigorante?! – perguntou uma descrente Lily, soltando-se de Marlene.

A enfermeira sorriu tristemente, pousando o frasco de poção nas mãos de Lily.

- Eu achava que a teimosia de Harry vinha de James, mas cheguei à conclusão que ele tem mais da mãe do que eu poderia imaginar. Tenha cuidado, Lily! É a única coisa que posso dizer.

Os olhos de Marlene continuavam marejados mas algo mais raiava dentro deles: a certeza de que não conseguiria persuadir a sua amiga… a sua irmã… de lutar para proteger os seus. Ginny sentiu-se intrusa na despedida das duas amigas e decidiu que estava na hora de se afastar. A pessoa que queria encontrar naquele momento não estava longe. Na verdade, fitava-a com a preocupação própria de uma mãe que sabe que chegou a hora de ver a sua última cria partir para o mundo dos adultos.

- Não vou deixar que saias desta enfermaria, Ginevra Weasley. – o tom ríspido que Molly usara contrariava totalmente a sua expressão bondosa, mas aflita. – Podes ter quase 17 anos, mas para já ainda estás sobre a minha autoridade.

- Mãe…

- Deixa-me terminar! Vi relutantemente cinco dos meus filhos partirem. Contra a minha vontade, mas partiram. Vais ficar aqui, segura, perto de mim! Percebeste?

Ginny sentiu os olhos marejarem e piscou-os rapidamente, para afastar as lágrimas que eventualmente se formariam.

- Eu tenho quase 17 anos.

- Mas ainda sou a tua mãe, Ginevra Weasley e tu és menor de idade!

Ginny cruzou os braços com uma expressão amuada. Pelo canto de olho viu que outras pessoas a observavam mas não se preocupou que parecesse infantil nesse momento.

- Isso não me impediu outras vezes!

Um silêncio cortante surgiu entre elas, enquanto as duas ruivas se encaravam testando-se. Ginny sabia que se arrependeria mais tarde por desafiar a mãe daquela forma mas, naquele instante, a ideia de permanecer na enfermaria enquanto os outros lutavam parecia demasiado vergonhosa.

- Mãe, – disse Ginny numa voz mais calma e controlada – Eu vou lutar de qualquer maneira. Agora cabe-te decidir se me deixas partir voluntariamente, ou se vou ter de passar por ti para conseguir.

Molly parecia prestes a explodir a qualquer momento. A sua expressão era muito semelhante àquela que envergava quando repreendia os gémeos e Ginny encolheu-se e fechou os olhos involuntariamente quando a mãe deu uma rápida passada na sua direcção. Esperou, a qualquer momento, sentir a dor da mão de Molly a embater na sua face, mas o único contacto que sentiu foi um toque caloroso e carinhosos, tão doce que teve vontade de chorar.

Abrindo os olhos, viu a imagem da sua mãe tremida pela presença de lágrimas nos olhos mas, mesmo assim, percebeu que não era a única que chorava.

- Promete-me que vais ficar longe do perigo e que vais voltar inteirinha para mim, tal como saíste daqui!

Ginny sorriu por entre as lágrimas e abraçou Molly pela cintura, num gesto de agradecimento. Sabia que aquelas palavras tinham custado sair mas, embora Molly deixasse que Ginny saísse dali relutante, sabia que chegaria o dia em que teria de deixar as suas crias baterem asas e voarem pelos caminhos da vida.

- Eu prometo!

Molly beijou carinhosamente a testa de Ginny e dirigiu o seu olhar para Lily. Esta não precisou de palavras para entender a mensagem oculta por detrás daquele olhar.

- Eu vou protegê-la, prometo!

Dando um último beijo na face da mãe, Ginny correu atrás de Lily, antes que Molly se arrependesse. Lily deu-lhe um sorriso compreensivo quando a mais nova a alcançou.

- Para onde vamos? – Ginny quebrou o silêncio ao fim de alguns minutos, no seu caminho por corredores desertos.

- Para já é preciso encontrar Dumbledore e depois vamos para onde eles nos mandar ir.

Não foi difícil encontrar Dumbledore. Ele estava no Salão Principal, rodeado por um número razoável de adultos, entre os quais, a maioria aurores ou membros da Ordem. Lily fez um sinal a Ginny que esperasse à entrada, enquanto ela seguia sozinha até eles.

Ginny esforçou-se por não reparar nos olhares assustados daquelas crianças ou nos abraços apertados e desesperados de despedida que os seus pais lhes davam antes delas serem levadas para os lugares do castelo mais protegidos. Concentrou toda a sua atenção naquele grupo de adultos que ouvia atentamente tudo o que o homem mais velho dizia… talvez procurando sabedoria ou esperança. Passados alguns minutos, assentiram com a cabeça e dispersaram-se na direcção dos seus postos.

Ginny limitou-se a seguir Lily quando esta saiu do Salão Principal e começou a subir as escadas. Foi nesse momento que ouviu um estrondo ao longe. O sinal de alerta ecoou pela escola toda quando o primeiro feitiço foi lançado contra os muros do castelo, fazendo Ginny olhar na direcção da porta de entrada da escola. Dali em diante, que Merlin os ajudasse, pois não tardaria a que uma violenta batalha começasse.

- Ginny! – a ruiva sentiu a mão de Lily tocar-lhe no ombro. A mãe de Harry tinha agora uma expressão completamente desconhecida para Ginny… a de guerreira. – Tens a certeza de que queres participar nisto? – Ginny apenas assentiu em concordância. Não recuaria agora. – Então tenta manter-te sempre junto de mim. Molly mata-me se te acontecer alguma coisa e Harry nunca me perdoará.

Lily virou no corredor para seguir pela escada da torre Norte do castelo. Vários aurores já ocupavam os seus postos de vigia e, mal viram Lily entrar, acenaram com a cabeça, não deixando dúvidas de que estariam às ordens da auror. Esta debruçou-se sobre o parapeito para analisar a situação, sendo seguida por Ginny.

- Estás a ver aquelas criaturas?

Ginny olhou na direcção indicada por Lily, onde algumas sombras se moviam rapidamente. Apesar da escuridão, era possível ver claramente a forma de escorpião daquelas criaturas, ziguezagueando o ferrão sem parar, parecendo impacientes por conhecer as suas vítimas.

- O que raio é aquilo?

- Aquilo são os Ker. Os animais de estimação predilectos de Voldemort. A nossa prioridade é não deixar que eles cheguem perto do castelo. Frank e a equipa dele vão tomar conta dos Devoradores da Morte, mas estarão vulneráveis aos ataques dos Ker. Temos de os manter afastados o máximo do castelo.

- E como é que os enfrentamos?

Lily sorriu marotamente, mas o seu sorriso não pareceu chegar aos olhos, completamente diferente de qualquer sorriso emitido pela ruiva.

- Vou contar-te uma coisa. Eu e a Alice não temos apenas tratado da burocracia como toda a gente pensa. Nós temos estado a estudar todas as criaturas das trevas. E descobrimos uma coisinha interessante sobre os bichinhos de Voldemort. Eles não gostam de luz. Até hoje nunca participaram em ataque durante o dia. Por isso, quanta mais luz conseguir-mos, mais vulneráveis ficam.

- Então um Lumus Solem chega?

- Depende do quão forte é a tua magia. – o mesmo sorriso maroto intensificou-se – Por isso é que será Dumbledore a fazer esse feitiço. Depois resta-nos destruir as criaturas e partir para a segunda fase.

Havia algo no tom de voz de Lily… alguma coisa subjacente às palavras dela que estava a escapar a Ginny. Mas a ruiva mais nova confiava na auror e restava-lhe apenas aguardar.

- O que é que fazemos a seguir?

- A seguir?! – desta vez, quem tinha falado era um auror na casa dos quarenta anos – Que Merlin tenha piedade daqueles bruxos de meia tigela, porque nós não teremos.

Ginny olhou para Lily, que apenas sorria enigmaticamente.

- O que quer isso dizer?

- Eles ainda não sabem, mas estão a caminhar directamente para uma armadilha.

Ginny seguiu o olhar de Lily para um átrio no interior do castelo, onde quatro figuras completavam um quadrado. Dali conseguia reconhecer Danielle, sem no entanto perceber o porquê da sua amiga de quarto estar ali.

- Harry não te falou? – perguntou Lily ao ver o olhar surpreendido de Ginny – Conseguimos quatro aliados de peso. Também chamados de “Os filhos de Horus”. Eles podem controlar uma gama de criaturas mágicas anciãs e poderosas que Voldemort jamais poderá sonhar em ter sob o seu poder.

Nesse mesmo momento, a terra começou a tremer. Da terra que rodeava o castelo, algo começava a brotar, embora a escuridão não deixasse transparecer o que era.

- Que a segunda lei se cumpra e que, do mundo dos mortos, os poderosos se ergam. – A voz de Danielle soou claramente na cabeça de Ginny. A surpresa invadiu-a por momentos, mas, observando aqueles que estavam à sua volta pôde perceber que não fora a única a ouvir as palavras da amiga. – Eu vos invoco, faraós e sacerdotes, para que sirvam o nosso propósito.

Como que a cumprir as palavras de Danielle, aquilo que Ginny vira mexer-se nos jardins de Hogwarts anteriormente revelou-se diante dos seus olhos, debaixo da fraca luz do luar. Centenas de múmias, segurando espadas longas e curvadas nas suas mãos esqueléticas e enfaixadas, formaram um círculo protector na frente do castelo. Nesse mesmo instante, uma outra voz foi ouvida, mas esta era desconhecida para Ginny. Ela pertencia a um jovem rapaz posicionado na frente de Danielle.

- Sphinco Andro. Sphinco Oedipus. Sphinco Oedipus Rex. As três grandes esfinges! Chegou a vossa hora, deusas dos enigmas, devoradoras de homens.

Da floresta negra, três criaturas enormes saltaram em passo de corrida, prostrando-se na frente do batalhão de múmias. À partida as três esfinges poderiam parecer iguais, mas pequenas diferenças existiam entre elas. Todas tinham corpo de leão, mas as cabeças diferiam da primeira para a última. Ginny podia recordar-se perfeitamente da aula de Joanne Boss em que tinham falado de criaturas mágicas das antigas civilizações. Sphinco Andro era a mais conhecida das três esfinges, aquela que tinha cabeça de homem. Phinco Oedipus tinha cabeça de ovelha e por último, Shinco Oedipus Rex apresentava cabeça de falcão. Todas elas, apesar das diferentes cabeças, tinham olhos assassinos, que fixavam os gigantes aliados de Voldemort.

- Axex venha até nós e proteja os céus de criaturas voadoras. – Desta vez ouvir-se uma voz melodiosa de mulher.

A luz do luar foi entrecortada por aquilo que parecia ser um grifo, com cabeça e asas de águia e corpo de leão, mas a diferença residia nos três apêndices enrolados no topo da sua cabeça. Axex sobrevoou o castelo e foi pouca no topo da torre mais alta.

- Das profundezas do inferno se erga o Devorador dos Mortos. Dos territórios de Osíris chegue até nós o poderoso Ammit. – O último dos quatro filhos de horus falou. Ao som das suas palavras, o chão do pátio onde os quatro se encontravam abriu-se dando passagem a mais fantástica de todas as criaturas surgidas até agora.

Ginny poderia dizer que estava a sonhar! Mas os seus olhos continuavam a negar-lhe esse pensamento. Era tudo demasiado surreal, mas ao mesmo tempo, todos os pormenores levavam-na a acreditar que aquilo acontecia mesmo. Ammit, o devorador de mortos, a mais temida criatura mitológica do antigo Egipto ergueu-se diante dos seus olhos. A cabeça de crocodilo fazia um espantoso contraste entre o seu corpo, metade leão, metade hipopótamo. A criatura, também conhecida como Am-heh, era referida na mitologia como aquela que devorava aqueles que não passavam no julgamento de Osíris.

- As nossas cartas estão postas na mesa. – disse Lily simplesmente. – Resta-nos apenas esperar.

Ginny assentiu, lançando mais um olhar às tropas de Voldemort. Também ele fazia a sua jogada, colocando os seus aliados em posição. Os céus eram povoados por Dementors, desesperados por atravessarem as defesas do castelo e começarem o seu festim. Os gigantes também começavam a agitar e derrubar as árvores da Floresta próximas dos limites do castelo.

O nervosismo da antecipação começou a consumir Ginny. Olhando de lado para Lily, pôde perceber que ela permanecia calma, observando cada um dos movimentos inimigos. Todos os outros aurores presentes na torre pareciam seguir o exemplo de Lily, mas as suas íris movendo-se rapidamente demonstravam que não estavam tão calmos quanto aparentavam.

Uma cascata de acontecimentos decorrereu de seguida. A primeira pedra dos muros foi derrubada e logo outras se seguiram. Em poucos minutos uma pequena passagem foi aberta, sendo rapidamente alargada com a ajuda de gigantes.

- Ao meu sinal, iniciem o ataque! – a voz de comando de Lily soou acima do barulho causado pelos feitiços de devoradores da morte lançados contra o muro.

Não demorou para que os primeiros invadissem os terrenos de Hogwarts. Uma a uma, as criaturas inimigas atravessaram também e as dezenas de Dementors sobrevoaram rapidamente o castelo, preparando-se para sugar as almas de quem ousasse cruzar o seu caminho.

- Lily?!

Foi com surpresa que Ginny viu Lily tirar um espelho do bolso, um espelho muito semelhante àquele oferecido por Sirius a Harry.

- Estamos a postos, Frank. – respondeu ela para o espelho, riscando nele qualquer coisa com o dedo. – Quando quiseres, Neville.

Pelo que Ginny sabia, Neville juntara alguns elementos da AD e alunos do sétimo ano, preparados para lançar os seus Patronus contra os Dementors. Graças a Harry, em parte, e a Sirius também, eles estariam prontos para travar as criaturas sugadoras de almas. De vários pontos do castelo, começaram a surgir vários animais prateados, liderados pelo leão de Neville.

- A primeira parte está completa. – disse um auror ao lado de Ginny. Os dementores agitaram-se furiosamente e dispersaram-se tentando escapar aos patronus lançados pelos alunos. Era certo que nenhum iria destruí-los, uma vez que apenas um poderosíssimo patronus poderia fazê-lo, mas iria afastá-los por um tempo.

- Albus?! – Lily falava de novo com o espelho, donde a voz do velho homem lhe respondeu.

- Acho que é a minha vez!

Nesse mesmo instante, uma forte luz brilhou sobre o castelo, iluminando todos os campos à volta. O feitiço de Dumbledore transformou a noite em dia, em questão de milésimos de segundo. Tinha chegado a vez dela de entrar naquela batalha.

- Agora é connosco! Ataquem!

Não foi preciso segunda ordem de Lily. Ao sinal dela, uma chuva de feitiços caiu sobre os Ker. Os primeiros foram apanhados de surpresa e caíram sem vida. Mas logo o efeito surpresa foi perdido, quando os Devoradores da Morte invocaram feitiços protectores sobre as criaturas predilectas de Voldemort.

Ginny observou a batalha que decorreu lá em baixo, enquanto continuava a lançar o seu Reducto na tentativa de atravessar as defesas impostas sobre os Ker. Não demorou muito para perceber que os Devoradores da Morte tinham recuado para posições seguras. Só avançariam quanto as últimas defesas tivessem sido penetradas pelas criaturas mágicas.

- Aquilo são pássaros?!

Quer Ginny quer Lily olharam para a direcção apontada pelo jovem auror que permanecia do lado de Ginny. Pequenos pontos aproximavam-se rapidamente, enquanto pareciam aumentar em tamanho e número.

- Não são pássaros! – concluiu Ginny à medida que a surpresa da revelação se instalava nela. – São Catoblepas!

Alguns encararam Ginny com sorrisos trocistas, mas outros, tal como Lily, observaram melhor os pontos negros, apenas para chegarem à mesma conclusão que Ginny chegara anteriormente. Eram das criaturas mais feias que já tinham visto. Quadrúpedes, com cabeça grande e pesada, que os impedia de olhar em frente, tinham o dorso completamente coberto por grossas escamas, que os protegeriam de ataques mágicos. As duas asas semelhantes às de morcegos apenas salientavam o seu aspecto estranhamente ridículo.

- Ela tem razão! – O espelho de dois lados já estava novamente nas mãos de Lily, se era que alguma vez tinha saído. – Danielle?

- Já vi. Nós tratamos deles.

O Axex pousado na torre levantou voo imediatamente. Como uma ave de rapina, subiu alto no céu iluminado pelo feitiço de Dumbledore e desceu a toda a velocidade para rasgar uma Catoblepa com as suas garras. O corpo pesado da estranha criatura, caiu a pique, atraindo a atenção de todos os outros que fixaram os seus olhos vermelhos no Axex.

- Ele não vai conseguir lidar com todos eles.

- Eu sei, Ginny. Mas é a única possibilidade.

Antes que Ginny pudesse conter um grito ao ver o Axex ser atacado por várias Catoblepas, as restantes dezenas seguiram o seu caminho, aterrando nos telhados do castelo, com estrondos provocados pelo seu peso a partir as telhas.

- Não olhem nos olhos deles! – ordenou Lily afastando-se da beira da torre, no momento em que uma das criaturas se atirou tentando atingi-la. – O seu olhar é mortal!

Uma Catoblepa voou a pique na direcção de Ginny, quando esta se distraiu com a que atacava Lily. Quando se apercebeu, já era tarde de mais e foi obrigada a rebolar para o chão para não ser atacada pelas afiadas garras. Fechou os olhos instantaneamente quando o olhar da criatura recaiu sobre si e ficou atenta ao barulho que a circundava, para perceber se a criatura se aproximava. Não ia funcionar!

Arriscou-se a espreitar com os olhos semicerrados e tentando olhar para outro ponto que não fosse o local onde a Catoblepa tinha aterrado. A criatura estava a pouco mais de dois metros de onde ela estava, mas os seus olhos estavam voltados para o chão, devido o peso da cabeça. No entanto, Ginny sabia que estava a usar todos os outros sentidos para estudar a sua potencial vítima.

Todos os aurores pareciam estar demasiado ocupados com todas as outras Catoblepas, para perceberem que aquela estava ali. Foi então que a criatura fez outro ataque, saltando sobre Ginny. O abdómen sem escamas da Catoblepa estava à vista e Ginny apenas teve tempo de lançar o primeiro feitiço que lhe veio à cabeça.

- Bombarda! – o feitiço resultou. A Catoblepa voou pela torre caiu com um estrondo no relvado do castelo.

- O que é que vem a seguir? Basiliks, Mulas sem Cabeça?

- É melhor não agourares, Hector. Com Quem-nós-sabemos tudo é possível!

Como se adivinhassem as palavras daqueles dois aurores, um exército corpos deambulantes cruzava a linha formada pelos Devoradores da Morte, preparando-se para o ataque. Automaticamente, Ginny deu por si a virar o pescoço para o mesmo pátio onde se encontrava o Ammit. Sendo devorador de mortos, Inferis seriam um festim para ele, mas a criatura apenas esticou preguiçosamente as patas dianteiras e enrolou-se aos pés daquele que o tinha invocado.

Mas havia algo que todos pareciam ter esquecido. As múmias! As múmias tinham desaparecido das vistas de todos assim que tinham sido invocadas. O exército de Inferis continuava a avançar e não parecia haver nada que o pudesse parar, com excepção dos aurores e outros adultos que guardavam as portas do castelo, liderados por Frank e Moody. No entanto, algo os fez parar. O avanço dos Inferis foi travado subitamente e demorou algum tempo para que Ginny percebesse porquê. Os seus pés estavam presos ao chão, não por feitiços, ou por raízes de árvores, mas por mãos… mãos esqueléticas e enfaixadas. Aos poucos, os Inferis foram puxados para a terra e desaparecendo das vistas de todos.

Agora percebia-se o porquê das múmias terem desaparecido. Elas estavam enterradas no chão! Gritos de triunfo foram ouvidos pelos seus aliados, mas estes foram rapidamente calados. O Axex foi derrubado em terra, antes que o seu corpo entrasse em combustão e fosse reduzido a cinzas.

- Temos de os parar! – gemeu uma auror que não devia ser muito mais velha do que Ginny. – Eles estão a avançar cada vez mais.

- O Abdómen é a parte mais frágil deles! Nenhum feitiço atravessará as escamas do dorso!

- Ginny tem razão! Atinjam-nos nas zonas mais frágeis. – Lily debruçou-se novamente sobre a beira da torre, sendo seguida pelos outros.

- Bombarda Máxima!

O feitiço de Ginny atingiu em cheio a Catoblepa que se aproximava. Com força, ela foi atirada contra outras duas e as três criaturas caíram como pedras junto ao lago. Pelo canto de olho podia até ver as bocas abertas dos aurores ao perceberem o estrago que aquele simples feitiço podia provocar nas criaturas, quando aplicado no lugar correcto.

Voldemort tinha jogado quase todas as suas cartadas. Catoblepas, Inferis, Dementors, todos eles começavam a ser travados aos poucos. Apenas restavam os gigantes, ou assim parecia. Os brutamontes romperam desordenadamente todas as barreiras, avançando com as suas pesadas mocas, lançando urros assustadores. O chão tremeu com a sua corrida descoordenada e aproximavam-se em largas passadas do grupo de aurores a proteger a entrada do castelo.

Estremecendo com a possibilidade horrorosa de ver Frank e a sua equipa serem esmagados, Ginny olhou, involuntariamente, para os seus melhores aliados. Ammit levantou-se preguiçosamente e esticou as suas patas dianteiras, abrindo a boca, numa espécie de bocejo, mostrando os seus dentes fortes e afiados. No mesmo momento em que Ammit iniciou a sua corrida na direcção dos gigantes, as três esfinges abriram asas e fizeram um voo rasante sobre o castelo, descendo sobre as figuras enormes.

Mais uma vez a sorte parecia estar do lado da luz. Ammit saltou sobre o gigante que seguia na frente, espetando os seus dentes no pescoço. O gigante debateu-se durante uns segundos, tentando acertar com a sua moca no devorador de almas. Mas, no final, Ammit venceu a luta e começou a degustar aquele que seria o seu jantar.

A mesma sorte tiveram os desafortunados que enfrentaram as esfinges. Ginny quase riu com o pensamento de um gigante a enfrentar os enigmas das esfinges. Podia ser anedótico se a situação não fosse tão caótica. No entanto, o tempo que elas perdiam com cada gigante era tempo que ganhavam os outros para continuarem no seu ataque. Uma chuva de feitiços foi lançada sobre eles, mas nada parecia penetrar na sua pele grossa.

Apesar disso, era possível ver as silhuetas dos Devoradores da Morte, que se mexiam desconfortavelmente. Tal como Lily tinha dito, eles tinham caído directamente numa armadilha. Tinha chegado ali com a certeza de que tinham uma vitória garantida.

Vindo de um ponto qualquer no céu, um feitiço atingiu um dos gigantes fazendo-o cambalear por breves segundos. Mas, se o feitiço não teve qualquer efeito, o mesmo não se podia dizer da pedra de tamanho considerável que lhe atingiu a cabeça, seguida de uma chuva de mais pedras, caídas do céu.

- Tomem lá seus homenzinhos grandes de meia tigela.

Ginny quase teve vontade de gargalhar quando viu a silhueta enorme de Hagrid a ser transportado por uma grande ave. Lily, aparentemente, teve a mesma vontade, mas esta saiu como uma risada misturada com surpresa.

- Eu simplesmente não acredito! Ele conseguiu!

Ginny não percebeu imediatamente o que Lily queria dizer com isso, mas logo percebeu o que a tinha deixado tão surpresa.

- Grifos?! – Ginny começava a achar que as surpresas daquela noite estavam longe de acabar. – Hagrid conseguiu ajuda de grifos?

- Não é apenas um grupo de grifos! Repara! – A mão de Lily abarcou uma grande extensão do céu. – É a maior manada existente no mundo. Não achaste estranho de Hagrid simplesmente tenha desaparecido nos últimos meses?

- Não me diga que ele estava a domesticá-los!

Em resposta, Lily riu de novo.

- Vindo do Hagrid… será que surpreende assim tanto?

O grifo que transportava Hagrid pousou-o no chão, junto dos aurores, antes de, juntamente com os seus irmãos partirem para o ataque às Catoblepas, possibilitando que os bruxos localizados nas torres começassem a tentar travar os gigantes.

Ginny não pôde conter um suspiro de alívio. As criaturas mágicas inimigas estavam todas controladas. Ammit tinha-se sentado ao lado do gigante morto e continuava a mastigá-lo preguiçosamente e as esfinges olhavam pacientemente os Devoradores da Morte, à espera de ver o seu festim de sangue e carne humana começar, preparando os seus enigmas para lançar a inimigos desprevenidos. Aquela batalha estava ganha! Mas ainda faltava o ataque dos Devoradores da Morte e aí, o lado da luz poderia estar em desvantagem a partir do momento em que eles conseguissem penetrar no interior do castelo.

Contudo, Ginny aprenderia mais tarde a não deitar foguetes antes do fim da festa. Quando Bunyips começaram a sair de águas pantanosas do lago a sorte deles começou por fim a mudar. Os demónios rastejantes eram ainda mais horrorosas do que as catoblepas… muito mais! Tinham uma face que parecia a de um estranho cão, pele muito escura e gordurosa, cauda de cavalo e barbatanas, bem como presas que lhe saíam do que parecia ser a boca, juntamente com uma língua bifurcada.

Só o grito de alguém para que tapasse os ouvidos fez a ruiva perceber o que realmente estava a ver. Quando os Bunyips começaram a lançar os seus gritos ensurdecedores, se não fosse a rapidez de Dumbledore em lançar um escudo à prova de som, muitos bruxos teria perecido, vendo o seu sangue coagular em suas veias. Os primeiros a sucumbir foram os grifos, seguidos das esfinges que mal tinha começado o seu ataque sobre os devoradores da morte.

Qualquer vantagem, qualquer ponto a favor que o lado da luz tivesse na batalha, foi rapidamente convertido numa das batalhas mais fantásticas e mais desesperadas alguma vez vistas pelas paredes milenares de Hogwarts.



* * *



A canção de embalar saía da sua boca com toda a calma que conseguiu concentrar. Ao som da voz de Lily, as pálpebras de Helena iam ficando mais pesadas, à medida que o sono lhe começava a pesar. A sua pequena mão tinha-se enrolado no indicador da futura mãe, enquanto esta a embalava levemente pelo quarto. Assim que Helena adormeceu finalmente, Lily parou de cantar, sorrindo simplesmente.

- Não sou a melhor pessoa para cantar canções de embalar. – disse baixinho, como se Helena a estivesse a ouvir naquele momento. – Tenho a certeza de que o teu pai vai cumprir essa tarefa bem melhor do que eu.

Lily sorriu sozinha com as suas lembranças. Recordou quando era pequena, de quando a mãe lhe cantava para adormecer. Ela e Petúnia ficavam de olhos fechados a ouvir a melodiosa voz da mãe, cantando aquela mesma canção, até que finalmente caíssem no sono.

Com cuidado, pousou a pequena no berço, onde ele permaneceu a dormir, como se não tivesse sido deslocada. As primeiras horas com Helena tinham sido assustadoras para Lily. Não tinha nem ideia como se trocava uma fralda, muito menos como se preparava uma mamadeira. Felizmente, os seus captores tinham tido o bom senso de lhe deixar tudo o que ela precisava para tomar conta da bebé. Para sua surpresa, tudo pareceu mais fácil quando iniciou a sua tarefa, fazendo Lily perguntar-se se o dom de cuidar de um bebé não seria inato a todas as mulheres. Logo esqueceu essa ideia ao recordar mulheres como Bellatrix Black.

Depois de verificar uma vez mais que Helena estava a dormir, aconchegou-lhe os lençóis e acariciou a bochecha macia e rosada dela. Em passos lentos afastou-se do berço, sem tirar os olhos de Helena, tendo a sensação de que, se o fizesse, todo o mal do mundo voltaria a ameaçar a sua pequena. Quando finalmente atingiu a única janela do quarto, coberta por uma grade enferrujada, pôde ver o sol que se punha no horizonte.

Naquele momento, não pôde deixar de pensar em James. Aonde ele estaria? Estaria bem? Provavelmente preocupado com ela. Os seus pensamentos mais egoístas desejavam ardentemente que ele tentasse, naquele momento, entrar na mansão onde ela estava encarcerada. No entanto, o seu lado racional, desejava que ele se mantivesse seguro em Hogwarts, sem nenhuma louca aventura em mente.

A respiração de Lily embaciou o vidro, deixando o sol poente com uma forma turva engraçada. Por alguns segundos, Lily observou o círculo formado, enquanto ele começava a diminuir de tamanho lentamente. Antes que desaparecesse, bufou novamente, cobrindo o vidro com uma nova onda de vapor de água. Elevando o dedo indicador começou a desenhar. Primeiro uma boca sorridente, seguido de um nariz e de uns olhos amendoados. Em torno destes desenhou os aros redondos de uns óculos. Quando a cara estava completa com os cabelos espetados, Lily afastou a face, sorrindo levemente do seu trabalho. O Sol agora tinha a expressão de James Potter que sorria para ela.

- Preciso de ajuda, James! – mesmo que soubesse que ele não a podia ouvir, Lily gostava de pensar que alguém, nalgum lugar do mundo, teria escutado a sua prece.

O medo inundou-a novamente! Voldemort tinha planos para atacar Hogwarts. O que ia acontecer com os seus amigos, com James… com Harry? O que aconteceria com Helena se todos falhassem em parar o Senhor das Trevas. Num gesto automático, voltou para junto de Helena, no mesmo momento em que a porta do quarto se abriu.

- Pega nesse pequeno ratinho! E vamos logo que estou sem paciência para demoras.

Lily viu imediatamente uma varinha apontada à sua testa, à frente de um par de olhos azuis-escuros, com um brilho de loucura. O barulho da recém-chegada acordou Helena. Lily podia até imaginar o que viria a seguir. Antes que a pequena pudesse começar a chorar, Lily aconchegou-a em seus braços, tendo o cuidado de a manter afastada da mira de Bellatrix.

- Onde nos vais levar?

Bellatrix apontou para a porta, indicando que Lily deveria sair.

- Vamos só mudar de aposentos. O Lord quer garantir que as suas duas visitas preferidas não se sintam tentadas a abandonar a casa sem se despedir.

As duas prisioneiras seguiram na frente de Bellatrix durante cerca de vinte minutos, para aquilo que pareciam ser os subterrâneos da casa. Após um longo corredor que parecia não ter fim, entraram numa espécie de masmorra, onde apenas uma porta estava aberta. Foi essa mesma porta de Bellatrix indicou a Lily para entrar.

- Acho que prefiro os aposentos antigos!

- E eu acho que vais preferir estes à alternativa. – proferiu Bellatrix antes de bater a porta da cela.

Lily observou o seu novo “quarto”. Não podia ser pior! Tudo era pedra fria, sem nenhuma janela. O único cómodo era uma pequena cama de ferro com um colchão coçado, coberto com um cobertor poeirento.

- Não te preocupes, Helena, nós vamos sair daqui rápido. – Lily falou mais para si do que para a bebé. Em resposta, Helena abriu os seus grandes olhos amendoados e fez beicinho com os lábios, dando um pequeno soluço, como se fosse chorar a qualquer momento. – Eu sei! Eu já disse isso antes! Mas agora é a sério. Isto tudo vai acabar em breve. Eu prometo!

Passaram-se horas desde que ali entrou, ou pelo menos assim pensava Lily. Não conseguia ver a luz lá fora, portanto não poderia dizer se já era noite ou não. No entanto, o timing perfeito do relógio de Helena, anunciou que já deveriam ter passado pelo menos três horas desde a sua última refeição.

- Maldição! E aquela imbecil nem me deixou trazer as tuas coisas, pequenina. Aguenta só mais um pouquinho.

Lily continuou a embalar uma chorosa Helena que reclamava por alimento. Os seus braços começavam a ficar dormentes, mas nem isso a fez pousá-la um pouco para recuperar a circulação. Quando o desespero de Helena se fez ouvir ainda mais, a aflição de Lily aumentou na mesma proporção e não demorou muitos minutos até que começasse a bater com força na porta com a mão livre.

- Seus idiotas! Abram já esta porta! Quando sair daqui eu mesma me vou certificar que sejam trancados na cela mais escura de Azkaban a morrer à fome! ESTÃO A OUVIR SEU IMBECIS?!

A ausência de resposta apenas aumentou a preocupação de Lily. O facto de trancarem numa masmorra, a demora em aparecer alguém, só poderiam significar uma coisa! A hora da batalha estava a chegar. Por entre o choro de Helena, Lily deixou escapar um soluço, antes de se encostar à parede e deixar-se escorregar até ao chão.

- Só mais um pouquinho, Leninha! – a voz de Lily converteu-se num pedido desesperados entrecortado pelo choro – Eles vão encontrar-nos…. Eles vão encontrar-nos…

Lily continuou a repetir aquela frase como um mantra, enquanto embalava nervosamente a bebé em seu colo. O seu desespero estava prestes a atingir o seu pico máximo quando a porta da cela de abriu. Lily quase não teve forças para encarar o recém-chegado. Mas, quando o fez, não pôde deixar de ser surpreendida. Ela não o via desde o ataque a Hogsmead, mas parecia ter envelhecido anos nos últimos meses e perdido vários quilos. Mas houve algo que captou a sua atenção. Os seus olhos… os seus olhos minúsculos e assustadiços revelavam algo que Lily jamais pensou ver em Peter Pettigrew: arrependimento!

- A-aqui es-estão as coisas que t-trouxe do o-outro quarto!

Sem olhar para ela, Peter pousou no chão, junto à porta, o saco de bebé com tudo o que precisava e, sem dizer mais nada, voltou-se para sair.

- Espera! Peter! – Lily finalmente encontrou forças para falar, fazendo Peter parar sem, no entanto, olhar para ela. – Tu importas-te não é?

- Não sei do que estás a falar! – respondeu ele sem emoção.

- Tu importaste com eles… com James, Sirius, Remus…

- Eu não me importo com ele! Eu traí-os!

A voz esganiçada de Peter elevou-se algumas oitavas e as suas mãos firmaram-se nervosamente em torno no puxador da porta.

- Importas sim! O problema é que te importas ainda mais contigo mesmo. – antes que Peter pudesse contrariar, Lily prosseguiu, tentando sobrepor a sua voz aos agora gritos incessantes de Helena – Se não te importasse, não estarias aqui neste momento. É a tua oportunidade, Peter! Faz algo de que eles se possam orgulhar.

Pela primeira vez, Peter olhou-a, mas o medo estava estampado na sua face.

- Tu n-não sabes do que estás a fa-falar! P-porque é que eu faria isso? O meu mestre dá-me tudo o que eu sempre s-sonhei. Ele dá-me todo o poder q-que eu sempre quis.

- Será, Peter?! – contrariou Lily ganhando finalmente forças para se levantar. Aquela era a sua última esperança. – Olha para ti! Pareces um cadáver ambulante. Pelo menos quando estavas juntos dos Marotos eras feliz! Ou assim parecia. Vocês eram inseparáveis! Os melhores amigos. Podias não ter o poder que sempre quiseste ter, mas tinhas o que mais importava: amor… amizade. E onde está o poder agora?

Desta vez Peter não respondeu imediatamente. O seu corpo tremia compulsivamente, parecendo que estava prestes a chorar. Lily quase podia sentir pena dele, da sua forma sem vida. Mas o ódio que sentia pela traição dele, não permitiu que esses sentimentos viessem à tona.

- Tu n-não percebes! Se eu fi-fizer alguma coisa pa-para te ajudar, Ele m-m-mata-me. Não p-posso fazer nada!

- Então nada mais pode ser feito por ti. É apenas a tua escolha.

- Eu lamento muito! – concluiu ele abrindo a porta, deixando Lily de novo sozinha com a pequena bebé.

- Eu também lamento. – rematou Lily, deixando que as lágrimas levassem embora a sua última esperança.



* * *



Não eram muitos os que ali estavam, mas eram os suficientes para a missão de resgate por eles levada a cabo. A algumas dezenas de metros das traseiras da mansão Riddle, sete pessoas aguardavam silenciosamente a hora combinada para a invasão dos terrenos de Voldemort. Faltava muito pouco para a meia-noite quando o sinal seria dado.

James passeava de um lado para o outro nervosamente, remexendo o cabelo de tempos a tempos. Sirius e Remus, pelo contrário, acompanhavam o auror com os olhos, sem, no entanto, executarem algum movimento. Arthur, contrariando tudo o que era habitual nele, também parecia estar nervosíssimo. Os dois, Arthur e James, temiam pela vida dos seus filhos, todos eles lutando por conquistar o seu lugar num futuro melhor.

Ron e Hermione tinham-se afastado alguns metros e pareciam discutir entre eles os pormenores de qualquer que fosse o plano projectado pelo Trio Maravilha. O terceiro elemento alheara-se a tudo o que se passava à sua volta. O seu corpo rígido encostava-se a uma árvore próxima, os seus braços, cruzados sobre o peito, estavam naquela posição desde os últimos trinta minutos. Nem os olhos escapavam à falta de movimento, fixados na casa onde Lily e Helena estariam encarceradas.

A coruja prateada do patronus de Dirk Cresswell, um dos aurores que os tinham acompanhado, sobrevoou-os durante uns segundos antes de se dissolver no ar. Aquele era o sinal aguardado, o sinal que indicava que o outro lado da casa acabara de ser atacado para que os sete nas traseiras pudessem entrar sem encontrar maior resistência.

- É a nossa deixa. – disse Sirius, levantando-se do seu lugar, em preparação para avançar. No entanto, um olhar de James foi o suficiente para o parar.

- Calma! – a pousada voz do mais recente Chefe de Aurores contrariava totalmente o nervosismo que ele parecia estar a sentir. – Voldemort não é tolo. Ele sabe exactamente o que vamos tentar fazer. Temos de ter muito cuidado.

Sirius assentiu com a cabeça, desviando o olhar para os outros, também eles preparados para lutar. Arthur tinha agarrado Ron e recomendava-lhe baixinho para ter muito cuidado. Finalmente os dois abraçaram-se com força, desejando boa sorte um ao outro. Não pôde deixar de reparar no olhar de Remus repousado nele e em James, como se se debatesse com alguma coisa. Finalmente, o lobisomem aproximou-se dos dois amigos, baixando o olhar até ao chão.

- Se algo acontecer comigo…

- Nada vai acontecer contigo. – cortou Sirius rapidamente, mas James, mais uma vez, parou-o com o olhar.

- Se algo acontecer comigo… – repetiu Remus, com mais firmeza, voltando a encarar os dois – … prometam-me que tomam conta da Nymphadora e do… – ele hesitou por uns momentos, não sabendo muito bem como explicar aquilo.

- Não te preocupes, Remus. – Assegurou James, não o deixando concluir a frase – Nós cuidaremos deles.

Sirius ficou confuso durante alguns segundos, não percebendo do que raio os dois estavam a falar. Mas aquela não era hora de pensar nisso, quando tinham duas ruivas para salvar e um feiticeiro negro para destruir. A sua vontade de questioná-los dissipou-se no momento em que Remus sorriu fracamente em agradecimento e lhes voltou as costas para se despedir do Trio.

Tinha acabado de ficar sozinho com James e não gostava da expressão que via no melhor amigo. Sirius conhecia-o bem para dizer que ele se sentia perdido e sem saber o que fazer. Mas James não deixaria que os inimigos percebessem isso.

- Estou a confiar-te a segurança da minha filha e de Lily, Sirius. Trá-las em segurança, por favor.

- Eu prometo que farei tudo ao meu alcance para que elas regressem intactas a casa. – Sirius tinha a certeza de que James confiava nele, mas ainda podia ver no amigo o dilema. – Ainda podes trocar de lugar comigo. Tu vais com Arthur e Remus e eu protejo o Harry.

James olhou por cima do ombro para garantir que Harry estava recuado o suficiente para não ouvir, mas, mesmo assim, aproximou-se de Sirius e falou quase em sussurros.

- Por mais que me doa ter de escolher entre um dos meus dois filhos, não posso deixar o Harry sozinho agora. Não vou conseguir impedi-lo de enfrentar Voldemort, mas prometi-lhe uma vez que ele não tinha de suportar essa batalha sozinho.

- Ele não está sozinho, James. Tenho a certeza de que ele sabe isso.

James ficou pensativo durante uns momentos, mas no fim, a sua expressão estava mais determinada do que nunca. Sem que precisassem dizer mais alguma coisa, os dois abraçaram-se, tal como Ron e Arthur momentos antes.

- Tem cuidado contigo também, meu irmão. Não suportaria que te acontecesse alguma coisa.

- O mesmo serve para ti! – respondeu Sirius firmemente. Irmão! Aquela palavra ainda vibrava nos ouvidos de Sirius. Sim… era isso que eles eram! – Ei, Prongslet! – separando-se de James, Sirius pôde ver, para sua satisfação, que Harry esboçou um sorriso perante a alcunha dada pelo padrinho. – Acaba com ele!

- Se depender de mim, assim será.

Com um grande aperto no peito, Sirius viu-os separarem-se assim que atingiram a porta das traseiras da mansão. Aquela poderia muito bem ser a última vez que os iria ver.

Tal como tinham antecipado, praticamente todos os Devoradores da Morte presentes naquela casa estavam, naquele mesmo instante, a enfrentar o outro grupo que partira de Hogwarts mais cedo. As defesas tinham sido atravessadas facilmente, o que por si só era muito mau sinal. Dava a sensação de que Voldemort queria que eles entrassem, que queria que eles caíssem directamente na sua armadilha.

Remus e Arthur seguiram-no pelo hall de entrada, até ao início das escadas. Seria no andar superior que começariam a procurar. Mas algo fez Sirius parar subitamente, algo que poderia passar despercebido a qualquer pessoa, mas não a um animago. Remus também tinha percebido e olhava para trás deles onde ninguém estava visível.

- Porque parámos? – Arthur não se tinha apercebido e olhava inquisitoriamente na mesma direcção que os dois. Remus levou o dedo indicador aos lábios, para que não fizesse barulho nenhum.

Não se ouvia som nenhum, mas os sentidos aguçados de Sirius indicavam que mais alguém se encontrava naquele lugar. Foi então que percebeu: a alguns metros dele podia distinguir respirações aceleradas de alguém que, aparentemente, estava invisível. Invisível… eis a palavra-chave.

- Accio Capa da Invisibilidade.

A capa de James voou directamente para as mãos de Sirius, revelando três jovens com ar culpado.

- Posso saber o que vocês estão a fazer aqui? – Não fora Sirius, nem muito menos Remus quem falara. Arthur, ainda surpreso, lançou um olhar de reprovação para os dois adultos presentes, como se eles fossem os culpados. Quer dizer… de certo modo…

- Eu disse que não adiantava impedirem-nos de vir. – disse a voz de um James adolescente. – Mas ninguém nos ouve mesmo!

Sirius e Remus reviraram os olhos ao ver a expressão de aprovação das suas versões mais jovens.

- Agora não podemos fazer nada, Arthur. Temos de as encontrar. – disse Remus, seguindo caminho até ao andar de cima. – Mantenham-se junto a nós.

O agora grupo de seis iniciou a sua busca pelos quartos do primeiro andar. À excepção de muito pó e móveis degradados pelo tempo, nada era visto nos primeiros por eles visitados.

- Talvez seja melhor separar-nos. – sugeriu Sirius, ao mesmo tempo que apontava para o Trio de Marotos. – Vocês os três vêem comigo para o andar de cima. Remus e Arthur, acabem de vasculhar todos os quartos deste andar.

Todos eles assentiram, seguindo caminhos opostos. O andar de cima parecia em pior estado do que o primeiro, embora tivesse o aspecto daquele que era mais usado. O longo corredor cheio de portas terminava num grande vitral quebrado, onde ainda permanecia a face de uma jovem mulher de feições bonitas.

- Vocês sabiam que a gente vinha, não é? – foi Remus quem quebrou o silêncio. – Quero dizer, vocês três… ou nós! Enfim… acho que percebeste o que eu quero dizer.

Sem retirar os olhos do caminho, Sirius adulto sorriu de lado, demorando algum tempo para responder.

- Se nós realmente quiséssemos impedir que vocês viessem, não conseguiriam nem abrir a estátua de um olho só.

Com cuidado, Sirius abriu a primeira porta e espreitou lá para dentro, tendo o cuidado de manter sempre a varinha pronta para se defender. Mas aquele quarto, tal como tantos outros, encontrava-se deserto. Só à quinta porta tiveram o sinal que tanto aguardavam.

Aquele quarto parecia ter sido usado há pouco tempo, mas foi o berço de bebé que lhes chamou mais a atenção. James preparava-se para entrar, quando Sirius colocou a mão na porta impedindo-os de prosseguir. Fazendo-lhes sinal para que permanecessem no exterior, o auror entrou para inspeccionar se alguma vivalma ali estava.

No entanto, mal deu dois passos para o interior do quarto, a porta atrás de si fechou-se com um estrondo, separando dos três marotos. Sirius não conseguiu ignorar a sensação de que tinha acabado de cair numa armadilha. A sua mão voou directamente para a porta mas, antes que pudesse contactar com o frio do metal do batente, a porta começou a desaparecer e a continuar-se com a parede. As vozes dos três Marotos, do outro lado, começaram a dissipar-se, enquanto ouvia os feitiços a tentaram abrir a porta pelo exterior.

Um riso baixinho e sarcástico fez Sirius virar-se lentamente, enquanto erguia a sua varinha ao nível dos olhos. Rapidamente, assim como a porta, todo o quarto começou a modificar-se e ele viu-se num cenário que lhe era muito familiar. Era como se, de repente, tivesse sido transportado novamente para Azkaban. As paredes enegreceram e cobriram-se de fungos próprios de lugares húmidos e escuros. A fraca luz que antes iluminava o quarto simplesmente se apagou e a única janela do quarto foi reduzida a uma pequena abertura quase próxima do tecto, recortando o céu e o mar violento com fortes gradeamentos. Quando o quarto começou a encolher para metade do seu tamanho, Sirius encostou-se à parede onde a porta tinha desaparecido, apenas para constatar que a mesma tinha sido substituída por ferros de grades.

Não demorou muito para que o tão familiar frio se fizesse sentir e as suas piores recordações viessem à sua mente.

- Ora, ora, ora! Se não é o meu querido primo! – a frase não veio de muito longe. Na verdade, ela atravessava a parede como se alguém falasse com ele da cela ao lado – Parece que cá estamos outra vez, Sirius!

- Bellatrix! – aquele nome saiu da sua boca quase como um rosnar perigoso, mas a única coisa que recebeu como resposta foi uma gargalhada quase insana. – Eu devia ter adivinhado!

Aquilo era uma ilusão, Sirius sabia. Mas era uma representação perfeita dos seus piores pesadelos. Respirou fundo. Se era medo que Bellatrix queria provocar em Sirius, não lhe iria dar essa satisfação.

- A que devo a honra de tão calorosa recepção?

- Ah, priminho, não queres estragar já a surpresa, não é?

- Bem… tu conheces-me, Bella, eu não gosto muito de surpresas.

- Assim deixas-me triste, Sirius. Eu preparei tudo com muito carinho. – a voz de Bellatrix parecia subitamente amuada, acompanhada pelo som de passos que ecoaram pela representação das masmorras de Azkaban.

- Imagino que sim. Mas eu realmente não pretendo ficar aqui muito tempo.

Os passos aproximaram-se mais e não tardou para que Bellatrix aparecesse no seu campo de visão, por detrás das grades. Sirius elevou a mão, para lhe apontar a varinha, apenas para constatar que esta tinha desaparecido.

- Tsc, tsc, tsc. – Bellatrix abanou a cabeça de um lado para o outro, lançando-lhe um olhar reprovador. – Acho que não! Só vais sair daqui quando eu quiser.

- E o que vamos fazer até lá? – provocou Sirius com um sorriso trocista. – Brincar de chá de bonecas ou aos papás e mamãs como sempre querias fazer quando éramos crianças?

Se Bellatrix se ofendeu com o comentário, pareceu ignorá-lo, mas a sua expressão não muito satisfeita manteve-se.

- Ai, primo, primo! Não devias brincar assim com os sentimentos de uma pobre menina. Se a tua queridinha Marlene soubesse? Ela vai ter bebés, não é? Três, pelo que eu ouvi dizer.

Aquilo tocou no ponto fraco de Sirius. Bellatrix podia ameaçá-lo o quanto quisesse, mas tocar no assunto dos seus filhos, ainda mais por parte daquela mulher louca, remexeu com as entranhas dele.

- Nem te atrevas a aproximares-te deles!

- E quem me vai impedir? Tu? – Bellatrix estava a atiçá-lo e parecia estar a gostar disso. – Não quero desapontar-te, mas não creio que vás conseguir sair daqui, Sirius.

- Faço minhas as tuas palavras, Bella: “E quem me vai impedir? Tu?”

Bellatrix não esboçou nenhuma reacção, apenas olhou para o antebraço onde a Marca Negra estava mais viva do que nunca. Depois, disparou para Sirius um olhar desapontado, como o de uma criança que acabou de ficar de castigo.

- Parece que a nossa brincadeira termina aqui. O papá está a chamar.

- Oh, que maravilha! Estava mesmo a gostar da tua companhia. Mas eu posso esperar!

- Acho que não, priminho! É aqui que nos despedimos. – A mão branca de Bellatrix Lestrange ergueu-se na frente do seu peito, na direcção de Sirius. – É irónico que a última imagem que vais ver será aquela cela que jamais pensaste que voltarias a ver. É realmente uma pena!

Sirius podia até antecipar o que viria a seguir. Tudo terminaria para ele naquele mesmo instante. Dizem que as pessoas, antes mesmo de morrerem, vêm a vida toda passar na frente dos seus olhos. Sirius já tinha morrido uma vez, mas, naquela longínqua noite, não teve sequer tempo para isso, antes de ser atirado contra o véu, no mesmo momento em que o feitiço mortal o atingia. Agora, antes mesmo de Bellatrix pronunciar o feitiço, Sirius viu as caras dos seus amigos, de Marlene. Imaginou os rostos de três bebés abrirem os seus lábios rosados em sorrisos felizes e esticarem os bracinhos a pedir colo. Pensou em tantas coisas boas que ainda lhe faltavam viver. Sirius Black não termia a morte, mas temia perder tudo aquilo que deixaria para trás.

Os segundos passaram em câmara lenta, quando Bellatrix abriu os lábios para pronunciar o feitiço mortal e quando os primeiros raios verdes saírem da ponta da varinha, na sua direcção.



* * *


Nota de Autora: *esconde-se envergonhada* Antes de mais nada queria pedir imeeeeeeeeeeeeeeeeeeensas desculpas, por vários motivos.

- Primeiro: desculpem-me pela demora de vários meses (acreditem que, quando eu digo que a faculdade não me dá tempo para nada, realmente não dá!). Só deu para respirar um bocadinho na semana passada.

- Segundo: perdoem-me por não postar o capítulo completo. Esta primeira parte já estava escrita há algum tempo, mas não me agradava como estava escrita, então demorei mais um pouquinho para postá-la. O motivo porque não postei ainda o capítulo na totalidade é porque ainda não arranjei tempo para escrever o resto (e acreditem que vou ter de dar o meu melhor para o acabar). Portanto, para postar o capítulo completo, iriam esperar pelo menos até fim de Fevereiro. (sim, Fevereiro. *desvia-se de alguns objectos voadores não identificados*)

- Terceiro: Sei que prometi o capítulo de prenda de Natal, e pensava seriamente cumprir isso uma vez que o mandei para betagem na terça-feira, mas a minha beta não conseguiu beta-lo antes. A pobrezinha esteve até às 3 da manhã de ontem e hoje de tarde a trabalhar como um elfo doméstico para betar o capítulo. [Por isso, Lightinha, minha mana, obrigada por desperdiçares o teu tempo com este capítulo caótico, quando tens mais do que fazer (como escrever um capítulo beeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeem grande que eu pedi de presente de Natal! Sim, eu não me esqueci que foi isso que eu pedi!), mesmo que me tenhas obrigado a ARRANCAR daqui a música do Zeca Afonso, Sniff, Sniff.]

- Quarto: Não vou poder responder aos comentários, com grande pena minha. Isso só iria atrasar a postagem até amanhã.

Mudando de assunto, porque nestes últimos dias sinto-me extremamente feliz (nevou na minha cidade *olhinhos sonhadores* Pareço uma criança feliz!). Espero que o Natal tenha corrido da melhor forma e que o tenham apreciado tanto como eu!

Desejo-vos um 2009 cheio de coisas boas, de sonhos que viram realidade, de amor e amizade daqueles que amais… enfim, tudo de bom!

Um abraço grande para todos,
Guida.

PS: antes que me crucifiquem por algumas coisas neste capítulo, lembrem-se que ele ainda está incompleto e que muito ainda pode acontecer (e talvez fiquem ainda com mais raiva desta autora psicopata he he he).

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