O princípio do Caos



Capítulo 34 – O princípio do Caos



Bastavam duas palavras… apenas duas para descrever aquele cenário: simplesmente perfeito! Como era possível que uma coisa tão pequena pudesse, de um momento para o outro, fazer esquecer os horrores de uma longa noite? A preocupação iria voltar logo, e talvez com mais força ainda, mas, para já, Harry limitava-se a aproveitar cada segundo vivido com a sua irmã.

O seu indicador passou, mais uma vez, pelas mechas ruivas, enquanto se debruçava sobre o berço. Tinha perdido a noção das horas que tinham passado desde que ficara ali parado, mas provavelmente não tinham sido mais de três já que, tal como Marlene lhe explicara, os bebés tinham uma espécie de relógio natural, que os despertava à hora da mamada.

Lily aproveitara essas horas sossegadas para dormir, deixando apenas Harry a observar cada movimento ou som vindo de Helena, desde o subir e descer do peito, conforme a respiração, até ao leve roncar que o enchia de um sentimento reconfortante. James desaparecera, muito a contra gosto, algum tempo atrás, dizendo que precisava reorganizar os aurores.

Só quando James lhe explicara todos os acontecimentos, é que Harry se apercebeu da real gravidade da situação. Voldemort tinha agora o Ministério da Magia sob o seu poder, com a morte de Kingsley Shacklebolt, e os aurores que tinham sobrevivido necessitava de se reorganizar para evitar que Hogwarts e St. Mungus tivessem o mesmo destino. James tinha sido escolhido para encabeçar a defesa. Dawlish ferido durante a batalha não tinha condições de continuar a liderar os seus homens, pelo que não restou a James alternativa se não aceitar.

Helena estremeceu e abriu os olhos por breves momentos, dando a sensação de que iria acordar, mas logo voltou ao sono profundo. No entanto, a mudança súbita na respiração da bebé foi o suficiente para acordar Lily, que se esticou preguiçosamente na cama.

- Ainda está a dormir? – perguntou ela, enquanto esfregava os olhos para se adaptar à luz.

- Como um anjo! – Harry desviou o olhar para a mãe, oferecendo-lhe um sorriso sincero. – Pensei que bebés chorassem mais.

- Espera mais alguns dias e vais desejar ficar o Verão todo em Hogwarts, principalmente quando ela se lembrar de acordar a casa toda, três ou quatro vezes por noite.

- Ainda bem que existe a opção de silenciar o meu quarto.

Lily fez uma careta para Harry, que lhe arrancou uma pequena risada. Nesse momento, um pequeno som de protesto veio do berço, acompanhado de um novo cheiro que fez Harry tapar o nariz com a mão. No mesmo instante, Helena começou a chorar baixinho, o que se converteu rapidamente em berros zangados.

- Hum… acho que alguém resolveu dar trabalho!

- Trocas-lhe a fralda, por favor?

Harry olhou assustado para a mãe e depois para a irmã. Tudo bem que já tinha apanhado o jeito para pegar nela ao colo, mas mudar a fralda e vesti-la já era outra história. O sorriso maroto de Lily perante o temor dele foi tudo menos encorajador e teve o dom de o deixar mais nervoso ainda.

- Tens a certeza que queres que faça isto?

- Claro que sim! Tu és o irmão mais velho. Tens de aprender essas coisas.

- De certeza que não já uma lei que proíba homens desajeitados de trocar fraldas a bebés?

Ignorando o acesso de riso de Lily e o choro de Helena, Harry preparou-se mentalmente para a tarefa, pegando em tudo o que lhe pareceu ser necessário, incluindo luvas que uma enfermeira tinha deixado por lá.

- Oh! Por favor! Luvas?!

Harry olhou descrente para a mãe, como se ela tivesse dito alguma anormalidade.

- O quê? Eu não vou tocar naquela coisa castanha com as mãos!

Lily revirou os olhos, como que pedindo paciência, mas, no minuto seguinte já voltara à expressão divertida.

- Harry, segue as minhas instruções e deixa de reclamar. Primeiro desaperta-lhe esses botões todos da roupa dela… isso… agora tira isso tudo, com cuidado.

Quando terminou a primeira parte da operação, Harry já ofegava e afastou-se um metro para ver se tinha feito tudo direito. Ao receber o sinal da mãe de que fizera o correcto respirou fundo e esperou novas instruções.

- Agora tens de tirar a fralda…

Lily não chegou a terminar a frase, pois, mal Harry soltou a fralda, recuou alguns passos com repugnância.

- Ugh… que coisa amarela é esta?

- Caquinha de bebé! – disse Lily simplesmente, tentando controlar-se para não rir à gargalhada.

- Helena, minha querida maninha. Eu adoro-te, mas vê se, de futuro, não voltas a fazer destas coisas fedorentas.

Helena parou subitamente de chorar, abrindo os seus grandes olhos para observar o irmão, por entre as lágrimas que já escorriam.

- Isso mesmo! E não me olhes com essa cara… eu quero que a minha irmã esteja cheirosinha! Vamos lá limpar isto tudo direitinho.

Pegando numa caixa plástico que estava ali perto, tirou várias toalhitas húmidas, número que Lily se apressou a dizer ser exagerado, e limpou tudo com cuidado. Depois de terminada a segunda parte da “operação limpeza” e uma vez eliminado o motivo do mau cheiro, Harry aproximou o seu nariz da pequena e inspirou profundamente.

- Agora sim! Sem sinal de mau cheiro. – sorrindo para irmã, que o observou com curiosidade, acrescentou – Assim é que é, Leninha!

Ao final de mais alguns minutos, Helena finalmente estava limpa e vestida, e no colo da mãe.

- Vês como não custou nada?

- Dá-me um desconto, mãe! Nunca na vida tinha feito algo semelhante!

Lily riu com vontade e Harry fingiu um muxoxo, quando a porta do quarto do hospital se abriu.

- Como está a família mais feliz do momento?

O rosto de Marlene mal se via, por detrás de um enorme urso de pelúcia branco, que ela carregava e depositou em cima da cama de Lily.

- Tal como tu disseste, Marlene: feliz!

Harry fingiu não perceber o estremecimento que Marlene deu e a rápida mudança na sua expressão. Quando o urso foi pousado em cima da cama, Marlene já voltara ao seu sorriso anterior. Harry não podia questionar a forma com que a sua madrinha agira. Não era fácil lidar com as notícias actuais, com a destruição da sua casa e com a possibilidade dos seus três filhos nascerem num mundo em guerra. Mas o combinado era Lily não se aperceber disso, pelo menos por alguns dias, principalmente descobrir sobre a morte de Kingsley.

- Aqui o nosso amigo Plucky foi um dos sobreviventes do ataque a nossa casa!

- Plucky?! – Lily soergueu uma sobrancelha, com um ar divertido, acompanhada por uma risada de Harry. – Desde quando é que lhe deste um nome?

Marlene abraçou um urso com um olhar de criança feliz.

- O Plucky foi um verdadeiro herói! Lutou bravamente e sobreviveu aos intrusos! Por isso dei-lhe o nome de Plucky! Não está perfeito?! Ele agora é da Lena!

Harry ficou sem perceber se Marlene se referia ao peluche, à irmã ou a Lily. Após pousar o urso novamente, a medibruxa debruçou-se sobre a “sobrinha” fazendo sons estranhos para ela.

- Quem é? Quem é a menina mais bonita da tia Marlene? Quem é?! – Um resmungo baixinho de Helena foi a resposta obtida por Marlene. – Isso mesmo! É a Lena!!!!

- Não creio que ela esteja muito interessada em te ouvir.

- É claro que está, Lily! Eu sou a tia preferida dela. A Lena adora-me!

- Diga-se de passagem que não tens muita concorrência. – brincou Harry recebendo um olhar aborrecido de Marlene. – Na verdade, não é muito difícil vencer a tia Petúnia. E olha que eu a aguentei durante dezasseis anos.

Marlene encolheu os ombros resignada, sentando-se na cama quando já não aguentava o peso da sua barriga de quinze quilos.

- Continuo a ser a preferida!

Um leve bater na porta foi ouvido, sendo prontamente atendido por Harry, que a abriu, dando passagem a Dumbledore.

- Professor?! – exclamou um surpreendido Harry.

- Olá Harry. Olá minhas lindas damas. – Aproximando-se mais da cama de Lily acrescentou – E olá pequena Helena!

- Bom dia, Albus. – Lily sorriu para o ex-director, apontando de seguida para um ramo de flores que competia, em tamanho com aquele oferecido por James. – E obrigada pelas flores.

Albus apenas assentiu com a cabeça oferendo mais uma dos seus sorrisos carismáticos de avô orgulhoso. Ninguém deu pelo tempo passar enquanto Dumbledore ali esteve, muito menos Helena que dormiu mais uns longos minutos. Quando cerca de meia hora tinha passado, Dumbledore levantou-se da cadeira onde tinha estado sentado, preparando-se para sair.

- Bem, foi um prazer ter esta agradável conversa convosco, mas o dever chama-me! Gostarias de me acompanhar até à entrada, Harry? Este hospital é um labirinto para mim.

Harry aceitou, embora tivesse a certeza de que Dumbledore jamais se perderia. Os dois caminharam em silêncio durante alguns minutos, deixando que várias pessoas passassem apressadas por eles.

- Como é que correu a visita ao museu? – perguntou Harry quando já se encontravam num corredor mais calmo. – Conseguiu alguma informação?

Dumbledore não exprimiu nenhuma reacção, mas Harry podia jurar que o seu sorriso foi abalado por breves momentos.

- Não posso dizer que tenha sido uma viajem proveitosa, mas pude perceber algumas coisas interessantes. – mais uma pessoa passou por eles, dando a Dumbledore espaço para fazer uma pausa. – Langley sabe mais do que aparenta e diz saber. Inicialmente fiquei intrigado porque nenhuma informação me foi revelada por Legilimância. Não conseguia acreditar que alguém que não controla magia soubesse como fechar a mente. No entanto, quando lhe falei de Elizabeth e Naavin Jaafar ele ficou, subitamente, nervoso, como se estivéssemos a atravessar um campo perigoso.

- Então descobriu alguma coisa? – perguntou Harry sentindo a ansiedade amplificar-se.

- Não, Harry, não descobri.

Harry baixou o olhar perante a sinceridade de Dumbledore. Mais uma batalha que estava perdida, enquanto o tempo que lhes restava passava a correr.

- Mas creio que ele só precise de um pouco de persuasão. Talvez uma outra pessoa consiga convencê-lo de que precisa de nos ajudar.

- Quem professor? – Harry fixou-se nos olhos de Dumbledore, encontrando neles a resposta para a sua pergunta. – Quer dizer… eu?

- Não quis sobrecarregar o teu pai ou o teu padrinho, então pedi a Remus que te acompanhasse até lá. Não me pareceu boa ideia dar as caras por lá novamente, mas creio que, com o Remus, estás em boas mãos. Ele chega de Hogwarts depois do almoço.

Harry sorriu sinceramente, sentindo uma onda de alívio percorrer cada célula do seu ser. Afinal ainda havia uma esperança! Sempre se tinha guiado pelos seus instintos e pelo que o coração lhe dizia e, naquele momento, eles, sem dúvida, diziam-lhe para ter confiança, pois finalmente encontraria uma resposta.



* * *



- Ela não é a coisa mais linda que vocês já viram? – comentou Marlene roubando, das mãos de Ginny, a foto que esta tinha acabado de receber juntamente com uma carta de Harry. – É a cara da Lily!

Na foto, Helena dormitava, abrindo por vezes os olhinhos e bocejando, para depois regressar ao sono. Lily, Marlene, Ginny e Hermione tinham passado os últimos minutos a babar para cima daquela imagem e não se cansavam de sorrir bobamente e soltar uns prolongados “oh” cada vez que a pequena ruiva bocejavam.

- E os olhos? Acho que são da mãe!

- Não, Ginny, acho que são do pai! – contestou Hermione, pegando na foto e aproximando-a um pouco mais dos seus olhos, de modo a confirmar a sua teoria. – Neste momento ela tem uma cor azulada, mas acho que quase todos os bebés nascem com os olhos desta cor. Parece-me que a Helena vai ter olhos mais escuros do que o Harry e a Lily.

- Mas a boquinha é, sem dúvida, do James! – suspirou uma encantada Lily, cujos olhos brilhavam, num misto de emoção e orgulho por, no futuro, dar vida a um ser tão perfeito.

- Eu não consigo perceber onde é que elas vêm essas semelhanças. Bebés são todos iguais. – Comentou Sirius para o melhor amigo, ignorando o olhar fulminante de Marlene.

- Meu caro Padfoot, nem todos! – contestou James com um olhar sonhador. – Este é o bebé mais lindo que eu alguma vez vi!

- E fala o futuro pai babado. Quantos bebés já viste em toda a tua vida, Prongs?

- Deixa de ser desmancha-prazeres, Sirius!

Uma discussão acesa iniciou-se entre os dois marotos, acompanhadas dos risos das garotas e de Ron, e do revirar de olhos de Remus, que parecia não querer acreditar no que estava a ver. Lily era a única que não parava de olhar para a foto, imaginando como seria ter aquela bebé nos seus braços, depois de passar quase nove meses a senti-la crescer dentro de si. Só de pensar, o seu coração enchia-se de felicidade.

- Bem, é a minha vez de fazer a ronda pelo castelo. – interrompeu Lily, ao final de algum tempo, captando para si a atenção dos outros colegas.

- Vais sozinha?

- Vou, James. Já não é a primeira vez que o faço.

- Nem pensar! – James tinha-se levantado e pegado na sua capa do uniforme, preparando-se para a acompanhar. – Não é seguro andares sozinha, ainda mais quando todos os alunos estão confinados às suas salas comuns.

- James…

- Sem mais contestações. Eu vou contigo e prontos.

Lily foi incapaz de esconder o sorriso que se formou nos seus lábios, dando o espaço que James precisava para a convencer a ir com ela.

- Eu prometo que me porto bem. – e lá estava a carinha de falso anjo de James, pronta a amolecer o coração de Lily e ceder à sua exigência.

Os corredores estavam demasiado vazios para uma tarde da semana. Desde a invasão ao ministério, McGonagall tinha suspendido as aulas e recomendado aos alunos que permanecessem dentro do castelo, para não correrem riscos no caso de um ataque. Portanto, os únicos alunos que continuavam a circular eram os monitores na hora das suas rondas e os professores de tempos a tempos.

- Nem parece o castelo que conhecemos. – comentou Lily casualmente, quebrando o silêncio. – Tirando as rondas à noites, nunca vi estes corredores tão vazios.

James nada disse, continuado a sua caminhada ao lado da namorada.

- Será que vão mesmo atacar a escola?

- Não sei, Lily. Já não me custa acreditar em nada. Quando aqui chegamos, eu acreditei que, um dia, não teríamos de viver novamente em guerra. No entanto, eu sei que um dia Voldemort vai ser derrotado… eu confio nisso.

Era nesses momentos que Lily se impressionava com James. Tinha alturas em que ele perdia completamente toda a sua posse arrogante e irresponsável e demonstrava uma maturidade quase desconhecida para Lily. Num gesto carinhoso, ela enrolou o seu braço em torno do dele e encostou a sua cabeça, deixando que os seus olhos se fechassem por momentos.

- Eu amo-te, sabias?

James soltou uma pequena risada.

- Se eu sabia que ia receber uma declaração dessas numa ronda, tinha-me portado bem para virar monitor. – James parou e fê-la rodar de modo a ficarem frente-a-frente. – Eu também te amo!

Os lábios de James tocaram levemente nos de Lily, mas logo as mãos dele subiram pelas costas dela, trazendo-a para junto de si, para aprofundar o beijo. O momento teria sido perfeito, não fosse o som de passos apressados ouvidos ao longe que os separou imediatamente, como se tivessem levado um choque.

Num gesto que quase passou despercebido a Lily, James retirou de dentro do seu manto a capa da invisibilidade, cobrindo rapidamente os dois, no mesmo momento em que uma aluna surgia ao fundo do corredor dando longas passadas na sua direcção, enquanto olhava para todos os lados, como se estivesse a tentar escapar de alguma coisa. Danielle passou por eles sem se aperceber da sua presença e desapareceu ao fundo do corredor.

James e Lily trocaram um olhar desconfiado quando a capa da invisibilidade caiu novamente.

- Fica aqui, Lily. Eu vou segui-la.

Lily não teve tempo de contestar, ficando apenas a ver James desaparecer na mesma direcção de Danielle. Restava-lhe apenas continuar a sua ronda e regressar o quanto antes à sala comum. No entanto, os seus planos foram frustrados.

Assim que deu dois passos, reparou que não estava sozinha. No corredor, do lado oposto àquele em que James desaparecera, Lily vislumbrou a figura de uma pessoa alta, cuja face era escondida por uma máscara que ela conhecia muito bem. Um Devorador da Morte tinha entrado em Hogwarts! A questão era: quantos mais teriam conseguido? Era urgente avisar alguém.

Viu o Devorador da Morte a aproximar-se dela, apontando-lhe a varinha ao peito, mas não se deixou abalar. Iria cumprir o seu papel de monitora e defender os seus colegas.

- Impedimenta! – o feitiço voou a toda a velocidade, mas Lily não esperou para ver se atingira o alvo, iniciando a sua corrida na direcção que James seguira.

De repente, sentiu que algum feitiço a atingira. Os seus pés ficaram, subitamente, colados ao chão e Lily foi incapaz de dar mais algum passo. O seu coração começou a palpitar e um medo palpável quase a sufocou ao perceber de que estava vulnerável e à mercê do inimigo. Ainda conseguia mexer as mãos, mas a impossibilidade de mexer os pés não a deixava colocar em posição de defesa, contra o intruso que se aproximava cada vez mais pelas suas costas.

- Não se aproxime de mim! – a mão trémula de Lily ergueu a varinha enquanto ela tentava virar-se para encarar o Devorador da Morte.pronta a atacar se fosse necessário. Porém, o desconhecido não recuou e continuou a sua caminhada. – Stupefy!

O feitiço de Lily não chegou a atingir o alvo, desfazendo-se contra uma barreira conjurada não verbalmente pelo atacante.

- JÁ DISSE! AFASTE-SE DE MIM!

Ela ainda sentiu o pé começar a mexer-se e os movimentos a voltarem a obedecer-lhe. No entanto, era tarde de mais! A última coisa que Lily ouviu antes de ser atingida por um feitiço desconhecido foi uma risada feminina. Não podia deixar de ter a sensação de que conhecia aquele riso de algum lado.



* * *



James amaldiçoou-se mentalmente pela lentidão com que agiu. Num instante tinha iniciado a sua perseguição a Danielle e, no outro, a sobrinha de Dumbledore simplesmente se tinha evaporado. Mais uma vez desejou ter o Mapa consigo, mas nada poderia fazer agora a não ser regressar para perto de Lily.

Deu meia volta, olhando mais uma vez para o último lugar onde tinha visto Danielle, e seguiu o caminho inverso, quando um grito o fez retesar.

- JÁ DISSE! AFASTE-SE DE MIM!

A voz de Lily chegou até ele claramente, como uma corrente eléctrica que fez as suas pernas moverem rapidamente. James tinha a sensação de que nunca na vida tinha corrido tanto, mas não deixou que o cansaço o afectasse, muito menos a dor em facada de lado, devido ao fluxo descontrolado de sangue.

O seu coração já quase pulava pela boca quando finalmente avistou os cabelos ruivos de Lily, parcialmente escondidos pela forma de alguém encapuzado. Lily estava caída no chão, inconsciente e o desconhecido abaixou-se ao lado dela, segurando no seu braço. Sem pensar duas vezes, James lançou o primeiro feitiço que lhe veio à cabeça, esperando que o atacante não se tivesse apercebido ainda da sua presença. Porém, o feitiço não chegou a atingir o alvo. Um objecto, em cuja existência James não reparara, estava nas mãos do sujeito: uma Chave Portal! Num piscar de olhos, James era o único ocupante daquele corredor.

- Droga! – protestou o maroto, dando um soco na parede.

Rapidamente ignorou a dor que começou a subir pelo punho. Podia ter partido a mão, mas nada disso tinha importância naquele momento… o que importava era ajudar Lily rapidamente. O caminho que o separava da directoria foi percorrido em apenas dois minutos mas só lá se lembrou de que não tinha a palavra de acesso, sendo pois uma viagem perdida.

- Snitch Dourada! – James atirou à sorte, sabendo da paixão de McGonagall por Quidditch, no entanto, nenhum das gárgulas se mexeu. – Puddlemere United! Finta Wronski! Harpias de Holyhead!

Nada fazia a passagem abrir-se, incrementando, cada vez mais, o desespero de James.

- Pensa, James, pensa! Se fosses a McGonagall que palavra-passe colocarias aqui? – disse James em voz alta para si próprio, enquanto começava a andar em círculos. – MERDA!

Uma série de impropérios seguiram-se ao primeiro, até que finalmente James resolveu respirar fundo e tentar acalmar-se para pensar melhor. Pelo que sabia, o professor de DCAT tinha saído do castelo. Tinha-o visto a encaminhar-se para os portões da escola, na direcção de Hogsmead. Só lhe restava uma opção: os seus amigos.

O caminho até à torre de Gryffindor parecia demasiado longo, para o pouco tempo que tinha. Lily podia, àquela hora, estar do outro lado do mundo e, quando mais tempo perdesse, mais difícil seria encontrá-la.

Os seus amigos continuavam no mesmo lugar onde os deixara e de onde nunca deviam ter saído. Mas uma pessoa tinha-se juntado ao grupo, rindo alegremente das piadas de Sirius. Era a pessoa a quem queria e precisava dirigir as culpas nesse momento. Dando largas passadas, parou em frente de Danielle, apenas com a mesa a separá-los, lançando-lhe um olhar de fúria.

- O que é que fizeste à Lily?

Os olhos de Danielle esbugalharam-se de surpresa e algum temor perante o tom de voz usado por James. Mesmo os amigos pareciam encará-lo como se ele tivesse acabado de enlouquecer.

- Desculpa? Como… como assim… o que é que eu fiz à Lily?

O soco que James deu na mesa fez Danielle estremecer.

- Eu sei que lhe fizeste alguma coisa, portanto começa a falar.

- Do que é que estás a falar?

- Do que é que eu estou a falar, Remus? EU DIGO-TE DO QUE É QUE ESTOU A FALAR! Esta garota aqui… eu vi-a escapulir-se sorrateiramente… segui-a! E o que é que aconteceu a seguir? A LILY DESAPARECEU!

- James, respira fundo e conta-nos o que aconteceu.

James sentou-se na única cadeira livre, sem nunca tirar os olhos de Danielle. Esta estava pálida e não ousava falar nada que pudesse despertar a fúria do seeker.

- A Lily e eu estávamos a fazer calmamente a ronda quando essa… - não encontrando um adjectivo adequando que não chocasse os seus colegas, prosseguiu - … essa aí, passou por nós como se quisesse esconder-se de alguém. Foi então que eu a resolvi seguir mas, ao perdê-la de vista, voltei para junto da Lily, apenas para a ver um Devorador da Morte segurar uma chave portal e desaparecer com… com a Lily.

Quando James terminou de relatar, nenhum dos outros foi capaz de expressar algum comentário. O queixo de Sirius tinha caído, Remus e Marlene enrugavam a testa em sinal de interrogação e Ginny olhava rapidamente de James para Danielle. Os únicos que não pareciam estar surpreendidos com o que James acabara de dizer eram Ron e Hermione, que trocaram olhares suspeitos entre si.

- Espera aí! A minha melhor amiga foi levada por um Devorador da Morte? – A voz de Marlene elevou-se acima de todo o barulho da Sala Comum, atraindo a atenção dos poucos que tinham ignorado a explosão de James. – De que é que estamos à espera para irmos ajudá-la?

Marlene levantou-se prontamente, preparada para acção, mas uma mão de Sirius segurou-a, obrigando-a a sentar-se novamente.

- Marlene, se ela foi levada com uma chave portal pode estar em qualquer parte. Não adianta nada irmos atrás dela agora. Temos de pensar antes.

- Não, Sirius! Eu tenho de ajudá-la! – os olhos dela recaíram sobre James – Eu vou contigo, James, eu ajudo-te! Temos de procurar.

James não reagiu ao pedido desesperado de Marlene. A sua atenção continua focada em Danielle, que mordia o lábio inferior receosa. Ela era, na sua opinião, a principal responsável pelo desaparecimento de Lily e não descansaria enquanto ela não falasse para onde a tinham levado.

- Eu juro que não sei de nada, James. – a voz de Danielle saiu quase como uma súplica. – Eu não sei onde está Lily e não tenho nada a ver com o desaparecimento dela.

Os olhos de James estavam semicerrados e os seus dedos tamborilavam na mesa, como sinal de quem esperava uma resposta rápido.

- Não me estás a convencer!

- Eu não tenho nada a ver com isso!

- ENTÃO PÁRA DE ESCONDER COISAS E FALA DE UMA VEZ!

Danielle estremeceu outra vez, assim como metade dos outros, que não esperavam aquela manifestação de raiva. Mas James, parecia uma bomba atómica prestes a explodir e Danielle parecia ter a certeza de que ela seria o principal alvo.

- James, acalma-te por favor.

- Não percebes, Remus? A Lily desapareceu…

- Acalma-te, por favor! – Remus elevou a voz, tentando chamar James à razão. – Pensa bem, James, não tens provas de que a Danielle tenha feito alguma coisa.

- Ela pode, simplesmente, ter estado no lugar errado, à hora errada. – afirmou Hermione seguindo a linha de raciocínio de Remus. – Confesso que também não percebo o porquê das suas estranhas excursões pela escola e também cheguei a desconfiar dela, mas talvez se ela nos explicar o que estava a fazer nos corredores…

Os olhos de Danielle começaram a lacrimejar e um soluço ficou contido na garganta, sendo engolido de seguida. Os olhos de todos estavam fixos na sobrinha de Dumbledore, mas esta não encarava nenhum deles, olhando simplesmente para as suas mãos fechadas sobre o colo.

- Gente… - Ginny manifestou-se pela primeira vez, desde aí. – Não podemos crucificar a Danielle sem provas. – Ginny pegou na mão da amiga, gesto este que a fez elevar os olhos para a ruiva. – Danielle, sabes alguma coisa?

Danielle apenas negou com a cabeça.

- E vais contar-nos o que tens andado a fazer pelos corredores à noite.

- Eu juro, Ginny! Eu juro que não tenho nada a ver. Mas, por favor, não me peças para contar algo que eu não posso falar.

James não conseguiu ouvir mais. Tinha a cabeça a explodir e precisava avisar imediatamente os professores ou alguém que o pudesse ajudar a encontrar Lily. Sem dizer uma palavra, conjurou o Mapa Maroto com a varinha e saiu da Sala Comum, batendo com o quadro da Dama Gorda, com toda a força, ignorando os protestos desta.

Não demorou mais do que alguns segundos até que passos apressados revelassem a presença dos seus amigos mas, naquele momento, ele não se importou com quem o seguia. Tinha uma missão a cumprir e não descansaria enquanto não descobrisse o que tinha acontecido a Lily.



* * *



Harry deixou-se ficar, por momentos, na porta do museu de Londres. O instinto e o coração continuavam a dizer-lhe que era ali que devia procurar a resposta. No entanto, não podia deixar de hesitar, perante a ansiedade da antecipação! Ali encontraria parte do seu mundo… aquele que lhe foi imposto no dia em que aceitou carregar o poder de Horus.

Uma mão pousou no seu ombro. Remus, o seu fiel escudeiro daquela excursão, acenou com a cabeça, como que a incentivá-lo a prosseguir, deixando-se ficar para trás, assim que Harry deu um passo na direcção da entrada principal. Ignorou os olhares desconfiados daqueles que fitavam as suas roupas bruxas e prosseguiu, sabendo exactamente onde deveria ir. Os seus pés levaram-no ao longo dos mesmos corredores que Dumbledore tinha percorrido dias antes e, sem saber bem como ali tinha chegado, deu consigo a entrar na exposição do Egipto, parando diante de uma parede coberta de desenhos e hieróglifos.

Com uma mão trémula, elevou os dedos até que estes tocassem a parede, mais especificamente um símbolo que ele conhecia muito bem e que parecia invocá-lo e atraí-lo para si.

- Posso ajudá-lo?

Um homem tinha parado ao lado de Harry, mas este não se incomodou em olhá-lo imediatamente. Sabia exactamente quem ele era, assim como o outro o teria, certamente, reconhecido. Ao fim de longos segundos, Harry deixou que o braço caísse ao lado do corpo e encarou Edward Langley, recebendo um sorriso sincero do director do museu.

- Senhor Langley!

- Harry Potter!

Harry não se enganara. Langley sabia exactamente quem era o visitante e não parecia minimamente surpreendido por vê-lo ali.

- Sabia que este dia iria chegar. Sempre temi que ele chegasse, mas tive a certeza de que aconteceria.

- Temeu que este dia chegasse?

Mais uma vez, Langley sorriu, desviando o olhar para a mesma parede que Harry observava momentos antes.

- Quando Elizabeth e Naavin Jaafar me procuraram a pedir ajuda, Naavin avisou-me de que, um dia, um bruxo poderoso iria procurar respostas aqui. Nunca tive dúvidas sobre quem seria esse bruxo e sabia que, no dia em que ele aparecesse, todo o mundo, não só o mágico, como também o muggle, correriam grave perigo.

- E como tem tanta certeza de que esse bruxo sou eu?

- Ora, senhor Potter, tal como disse a Dumbledore, eu posso ser um aborto, mas mantenho contacto com o mundo mágico. Tenho plena consciência de quem é o bruxo mais poderoso da actualidade.

Harry lançou um olhar descrente ao director do museu, que o deixou com um ar de divertimento.

- Há uns dias atrás, recusou-se a dar respostas a Albus Dumbledore. Ele é considerado um dos bruxos mais poderosos de sempre e o único que Voldemort teme. Porque não hesitou em dar-me respostas a mim?

Um longo suspiro saiu da boca de Langley.

- O facto de estar a falar-lhe sobre isso, prova que é o bruxo de que Naavin falava. – olhando em volta e reparando que várias pessoas olhavam Harry, talvez devido às suas estranhas roupas, Langley fez sinal ao moreno para que o seguisse. – Talvez não tenha sido boa ideia estar vestido com roupas bruxas, senhor Potter.

Harry pôde notar um tom de divertimento na voz do director. Esperou que um grupo de turistas passasse por eles antes de responder.

- Se eu não conseguir parar Voldemort, em breve nada disso importará, porque todo o mundo muggle saberá da nossa existência.

- E os seguidores d’Aquele-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado? Podem identificá-lo com facilidade?

- Senhor Langley! Acredite que não são precisas roupas bruxas para que me reconheçam.

- Compreendo. – concordou o director, no momento em que colocou a mão no puxador da porta do gabinete dele e a abria para lhes dar passagem. – Preferi que conversássemos aqui. É uma longa história e não precisamos de ouvidos alheios a escutarem-nos.

Harry sentou-se na cadeira indicada por Langley e observou o escritório. A divisão era diferente de tudo o que Harry já tinha visto na vida dele… era como se, naquele pequeno espaço, existisse um grande museu. Prateleiras de madeira antiga, compridas estendiam-se até ao elevado tecto, ao longo das duas paredes laterais. A da direita, Harry podia apostar, faria Hermione sentir-se no paraíso tal era a colecção de livros antigos, mas bem cuidados e sem pó. Já a da esquerda era ocupada por estranhos objectos, que mais pareciam ser uma linha cronológica da evolução da espécie humana e dos seus utensílios ao longo dos séculos, desde armas de guerra, até aos mais banais instrumentos da casa. A própria secretária e as cadeiras transbordavam de antiguidade, embora os detalhes e desenhos esculpidos na madeira permanecessem intactos e envernizados. À sua frente, uma grande janela dava uma vista panorâmica para a cidade de Londres e, na parede à volta desta, vários diplomas e fotografias encaixilhadas dispunham-se milimetricamente.

- Sabe, senhor Potter, por mais que já tenha ouvido falar das suas façanhas, não pude deixar de me surpreender assim que o vi atravessar as portas deste edifício.

Harry parou momentaneamente de observar a foto em que Langley posava ao lado do Primeiro-ministro muggle e fixou-se no director que servia duas chávenas de chá, colocando uma na frente de Harry e logo se sentando na sua própria cadeira.

- E posso saber o motivo da surpresa?

Langley não respondeu imediatamente. Com calma, serviu-se de açúcar e verteu um pouco de leite, antes de mexer o chá com a antiga colher de prata.

- Os jornais dão uma ideia errada de si. Transformam-no num adolescente mimado, aventureiro, impulsivo e irresponsável. Confesso que me custou a acreditar, há uns dois anos atrás, que um jovem rapaz que já sofreu tanto na vida fosse tudo aquilo que os jornais bruxos falavam.

- Os jornais tendem a exagerar um pouco!

- Foi o que eu pensei. – depois de bebericar um pouco do seu chá, Langley pousou a chávena no pires e recostou-se na cadeira, deixando as mãos sobre a mesa, com os dedos entrecruzados. – Mas mesmo assim, não deixei de me surpreender quando me foi revelada a figura de um rapaz calmo, maduro, com o ar de quem sabe o que quer.

Harry não sabia bem se havia de agradecer, ou se devia deixá-lo continuar. Optou pela segunda opção, dando-lhe apenas um sorriso sincero de agradecimento.

- Mas creio que não foi para falar das suas qualidade que veio aqui, não é mesmo?

Tinha chegado a parte que Harry tanto ansiava. Automaticamente, inclinou-se no seu lugar para a frente, como sinal de que estava interessado no tema que seria abordado a partir daí.

- O senhor pode então falar-me qual é a importância do tal objecto?

- Mais do que isso, senhor Potter. Eu vou contar-lhe a história toda.

Dizendo isto, Langley abriu uma gaveta da secretária e tirou de lá um porta-retratos, que passou para as mãos de Harry. Três adultos e uma menina loira, de cerca de um ano, sorriam para a fotografia. Um dos homens, Harry identificou logo como sendo Langley com menos uns dez anos, logo ao lado de um jovem casal que se abraçava à pequena menina.

- Elizabeth, ou Lizzie, como eu gostava de chamar-lhe foi uma aluna exemplar, quando eu era professor na universidade de Oxford. Tinha perdido os pais muito cedo, mas uma excelente bolsa de estudos, aliada a uma confortável herança, tinham-lhe permitido tirar o curso sem as preocupações de trabalhar para pagar as despesas. Formou-se em arqueologia com a melhor nota do ano dela e logo a contratei para trabalhar para este museu, o qual eu já administrava há alguns anos. Como eu fiquei viúvo muito cedo e não tinha filhos ela era, para mim, como a filha com que eu sempre desejei. O sonho de Lizzie sempre foi trabalhar numa grande escavação e, apaixonada como ela era pela África, aceitou, sem pensar duas vezes, participar numa escavação em Gizé. Foi aí que conheceu Naavin e, pouco mais de um ano depois, eles estavam casados.

Uma expressão saudosa cobriu o rosto de Langley dando-lhe uma aparência cansada. Harry, por sua vez, ouvia tudo com máxima atenção, como medo de lhe escapar alguma coisa.

- Um dia, recebi um telefonema de uma Elizabeth um tanto perturbada, dizendo que voltaria daí a dois dias para Londres e que precisava da minha ajuda. Não pude deixar de ficar preocupado, porque afinal não era a primeira vez, neste século, que o Egipto entrava em guerra. No entanto, quando ela desembarcou no aeroporto, de mão dada com Naavin, não parecia ter acontecido nada de mal. Pelo contrário, ambos estavam radiantes e não era para menos: Lizzie tinha acabado de descobrir que estava grávida.

“Já em minha casa, Lizzie contou-me que estava a participar de uma escavação em Coptos. Eu nem queria acreditar no que ela me falara. Existiam lendas, muitas delas irreais, é claro, que falavam que um enorme poder estava enterrado, nas profundezas de Coptos. Muitas dessas lendas eu tinha ouvido do meu pai que era responsável por apagar as memórias dos arqueólogos atingidos pela maldição do faraó. Nunca pensei que Lizzie acreditasse nessas histórias e fiquei um tanto chocado quando ela me perguntou se eu não acreditava em magia. Era claro que eu acreditava! Eu tinha crescido no seio de uma família bruxa.

“Foi então que eu percebi! Naavin não era uma pessoa qualquer. Nele havia magia, não aquela que nós conhecemos. Não! Ele não era capaz de realizar um feitiço, mas havia nele uma magia antiga que nem o próprio sabia explicar. Mal me tinha recomposto desse facto, outra surpresa se me revelou, deixando-me sem palavras. Eu já tinha ouvido falar… já ouvira histórias, mas nunca imaginei que um dia pudesse vê-lo, com os meus próprios olhos… tocá-lo e sentir o seu peso. Diante dos meus olhos estava o maior tesouro de Amon-Rá, feito, todo ele de ouro puro: o Livro dos Vivos.

Neste momento, Harry tinha esquecido o chá e toda a sua atenção se focava na informação que lhe estava a ser revelada. Langley estava a falar do objecto que levara a procura de ajuda em Rufus Scrimgeour, o objecto que podia constituir a última esperança de Harry e de todo o mundo mágico.

- Mas… onde? Onde é que o livro está? – a pergunta saiu da boca antes que Harry pudesse controlar as palavras.

O director do museu parou para respirar fundo e fechou os olhos, como se tentasse lembrar todos os pormenores do episódio que relatava.

- Quando Naavin me falou do perigo de deixar aquele objecto vir ao conhecimento público eu acreditei. Eu tinha crescido a acreditar na magia e, mesmo não podendo praticá-la, sabia que ela tanto podia servir o Bem como o Mal. Se Naavin estivesse certo, tínhamos de escondê-lo. Foi naquele momento que eu revelei a Lizzie a verdade sobre os meus antepassados. Não sei bem porquê, ela pareceu aliviada por descobrir e foi assim que chegamos até ao Chefe de Aurores daquela época. Pensei pedir ajuda ao próprio Ministro, mas eu sempre estive de pé atrás com Cornelius Fudge, desde crianças. Ele desprezava-me porque eu era um aborto e eu simplesmente não gostava dele, por causa da sua arrogância.

Mais uma pausa foi feita por Langley, mas desta vez, parecia estar a dar espaço a Harry para fazer perguntas.

- Então o senhor sabe onde está o livro?

Langley negou com a cabeça, para grande desânimo de Harry.

- Sei que ele está neste museu, sei da possível entrada, mas apenas Naavin sabe como chegar até ele. Creio que faça parte dos estranhos poderes mágicos dele.

- Então no que é que isso me pode ajudar?

O director do museu encolheu os ombros desanimado.

- Pensei que o senhor soubesse a resposta. No momento em que o vi parado na frente daquela parede, quando cá chegou, eu tive um vislumbre duma cena que eu vi onze anos atrás, em que aquela mesma parede, sem que eu me apercebesse, tinha acolhido o Livro dos Vivos, ao simples tocar de Naavin.

- A parede com o Olho de Horus desenhado? – perguntou Harry incrédulo, para confirmar que tinha ouvido bem.

- Exactamente! Poderia simplesmente dizer para deitar a parede abaixo. O problema é que, do outro lado dela é uma simples sala de exposições e nada nela está escondido.

Harry sabia exactamente o que aquilo poderia ser… Um portal, como tantos outros que já abrira recorrendo ao poder de Horus. Mas, se existisse ali alguma passagem a que ele tivesse acesso, ela ter-se-ia revelado para ele, quando a tocou.

- Naavin simplesmente escondeu o livro ali, o Chefe de Aurores colocou as suas defesas no museu, de modo a que nenhum bruxo mal intencionado aqui entrasse, e apagou as memórias da equipa que escavou a pirâmide em Coptos, selando a entrada, para que ninguém viesse a descobrir que o livro dali tinha saído.

Agora tudo fazia sentido para Harry. Tinha sido esse o motivo pelo qual a viagem de Sirius e Bill ao Egipto tinha sido fracassada, porque, ao contrário do que Joanne Boss pensava, as escavações não tinham apenas alguns meses, mas já tinham sido iniciadas há vários anos.

- Nós resolvemos esquecer o assunto, Lizzie e Naavin voltaram para o Egipto, só regressando cerca de um ano depois, para baptizar a filhinha deles. Ai, aquela menina! A carinha da mãe, com o espírito do pai! – Langley pegou novamente no retrato e sorriu para a imagem da pequena. – Infelizmente, Tfani perdeu os pais quatro anos depois, assassinados brutalmente. Por anos tentei trazê-la de volta para a Inglaterra mas, tendo nacionalidade egípcia, a burocracia arrastou-se durante anos e teria conseguido, não fosse ela ter desaparecido do orfanato algumas semanas atrás.

Harry quase podia jurar que Langley estava prestes a soltar as suas emoções mas, no momento seguinte, ele respirou fundo e pousou o porta-retratos, dando por encerrado o seu relato.

- Tem alguma ideia de como Voldemort descobriu a existência deste objecto?

Langley contraiu os lábios e olhou para o tecto, numa expressão pensativa.

- Também já pensei nisso e só consigo chegar a uma conclusão. Jonathan Scott era uma das quatro pessoas que sabiam toda a verdade. Ele era, naquele tempo, o meu braço direito aqui no museu e eu confiava-lhe a minha própria vida. Jonathan viajou em Novembro do ano passado, mas, desde Março que ele não me dá notícias.

- Acha que Voldemort o possa ter capturado?

- Não quero pensar nessa possibilidade, no entanto parece-me ser a única plausível. Mas, a confirmarem-se as minhas suspeitas, Jonathan deve ter sido brutalmente torturado para poder revelar informações.

- Confia assim tanto nele? – questionou Harry, lembrando-se finalmente do chá, quando a boca começou a secar, e levando a chávena aos lábios, embora o líquido já tivesse arrefecido.

- Não é questão de confiar ou não. Faz parte da magia que protege o livro e que me impediu de revelar tudo a Albus Dumbledore. – perante a expressão interrogativa de Harry, apressou-se a explicar. – Existia uma espécie de profecia, dentro da família de Naavin que dizia: “E chegará o dia em que o escolhido dos deuses pedirá auxílio e, quando esse dia chegar, a verdade se revelará para ele”. Foi assim que descobri quem era o bruxo a que Naavin se referia, caso contrário, senhor Potter, eu não teria falado tudo o que falei até agora. A magia protectora de Naavin ter-me-ia impedido.

Na mente de Harry todos os pensamentos fluíam livremente e desordenadamente, enquanto tentava organizar e perceber tudo que lhe tinha sido dito. No entanto, tudo estagnou quando um nome referido por Langley surgiu acima de tudo o resto.

- Como é que disse que se chamava a filha de Elizabeth?

- Tfani.

O queixo de Harry descaiu quando se recordou de uma conversa que tivera com Dumbledore. Pegando na fotografia novamente, observou cada traço da pequena menina entre os braços dos pais, focando-se, principalmente, nos seus olhos límpidos. Ele já vira aqueles olhos mas, daquela vez, ele não vira a felicidade de criança… ele vira o medo estampado. A criança do sacrifício!

Náusea… era a única coisa que sentia naquele momento! Snape sabia quem estava a assassinar, quando escolheu Tfani. A questão era: será que ele sabia já do Livro dos Vivos? Jonathan Scott tinha desaparecido na mesma época em que Voldemort tinha regressado. Talvez a magia de Naavin tenha impedido Scott de falar tudo e tenha levado Snape a conclusões erradas.

- Naavin era guarda do museu do Cairo? – perguntou Harry, tendo praticamente a certeza da resposta.

- Era. Mas como é que sabe disso?

Harry levantou-se num pulo da cadeira, sentindo que as suas pernas tremiam, ameaçando ceder. Tudo fazia sentido agora!

- Desculpe! Preciso de ir!

- Senhor Potter, aconteceu alguma coisa?

Harry olhou para ele mais uma vez, respirando apressadamente, como se não existisse oxigénio suficiente para suprir a necessidade das suas células.

- Obrigado pela ajuda, Senhor Langley, mas eu tenho algo para resolver.

Harry não soube bem como conseguiu chegar à entrada sem derrubar nenhuma pessoa pelo caminho. A verdade é que a sua cabeça estava noutro lado e nada, nem ninguém, pareciam chamar a sua atenção, naquele momento. Remus, assim que o viu sair quase a correr, sem olhar para trás, apressou o passo para o apanhar.

- Harry! Então? Conseguiste alguma coisa?

Só aí o moreno parou finalmente, respirando lenta e profundamente, na tentativa de se acalmar.

- Aqui não. Quando estivermos com o meu pai e com o professor Dumbledore falaremos.

Sem dizer mais uma palavra, Harry aparatou para perto do hospital de St. Mungus, sendo logo seguido por Remus. A zona escolhida ficava a alguns quarteirões do hospital sendo necessário alguns minutos para chegar ao destino. O silêncio reinou entre os dois homens, sendo apenas cortado pelo som de sirenes que percorriam furiosamente as estradas entupidas de trânsito.

Estavam já quase a chegar a St. Mungus quando um mau pressentimento assolou Harry. Um intenso cheiro a fumo penetrou-lhe nas narinas e não demorou mais do que 30 segundos até avistar um prédio em chamas, um edifício que rapidamente identificou como sendo aquele em que o hospital bruxo estava escondido.

- O que…

Remus não chegou a terminar a pergunta, pois Harry iniciou uma corrida desesperada na direcção de St. Mungus. Evitou pensar que a sua mãe e irmã recém-nascidas estavam lá, que a sua Madrinha era medibruxa daquele hospital, que tanta gente que ele conhecia, incluindo aurores feridos no ataque ao Ministério da Magia, estavam dentro daquele edifício.

- Harry! Espera! É perigoso!

Harry ignorou a voz de Remus a chamá-lo e, só quando o lobisomem o segurou por trás, o moreno cessou a corrida.

- Larga-me, Remus! Eu preciso ir lá! – Harry debateu-se desesperadamente, tentando libertar-se, mas Remus segurou-o com toda a força. – Elas precisam de mim!

- Não te vou deixar arriscares-te, Harry. Prometi ao teu pai que te protegia enquanto estivéssemos fora.

Não foi preciso continuar a segurar Harry pois, nesse preciso momento, uma Fénix prateada surgi na frente deles. Quando a boca do Patronus se abriu, a voz de Dumbledore saiu claramente dele.

- Voldemort tomou St. Mungus. Regressem para Hogwarts.

Remus e Harry entreolharam-se enquanto o Patronus de Dumbledore se dissolvia. Se o Ministério da Magia e St. Mungus tinham sido tomados, ambos tinham a certeza de qual seria o próximo alvo. No entanto, Voldemort sabia que não iria ter controlo sobre a escola facilmente, não enquanto Harry protegesse aquela escola, ajudado pela Ordem da Fénix e pelo batalhão de aurores que, nesse momento, tinham os olhos fixos naquele lugar.

- É melhor regressarmos, Harry.

Harry olhou mais uma vez para o hospital, suplicando mentalmente que a sua família conseguisse ter saído a tempo e não estivesse entre a longa lista de mortos e prisioneiros que certamente Voldemort tinha em seu poder.

Hogwarts parecia um campo de refugiados. O Salão Principal estava preenchido por família que tinham buscado protecção dentro dos portões da escola e de doentes que tinham conseguido escapar do ataque ao hospital. Os olhos de Harry percorreram os ocupantes, tentando encontrar um cabelo flamejante que se destacasse no meio da multidão.

A sua visão recaiu sobre duas crianças pequenas que choravam abraçadas, chamando pelo pai, logo ao lado de uma senhora que segurava uma fotografia e perguntava aos outros se tinham visto o seu filho. Todos eles tinham expressões de desalento e desespero. A esperança daquelas pessoas tinha-se desvanecido com mais aquele ataque atroz. Podia sentir os olhos de alguns recaírem em si, embora a fé que outrora tinham depositado no menino-que-sobreviveu estivesse seriamente abalada.

- Harry! – Ginny vinha a correr na sua direcção e, mal o alcançou, abraçou-o pela cintura e enterrou o rosto no seu peito, tentando conter soluços. – Ainda bem que chegaste! Os teus pais estão lá em cima na sala da McGonagall.

Harry afastou Ginny levemente, mas sem a soltar da sua protecção.

- Eu vou lá em cima ter com eles.

Ginny apenas assentiu com a cabeça e limpou as lágrimas, antes de beijar, delicadamente, os lábios de Harry. Havia mais naquele gesto do que um simples beijo entre namorados e Harry sabia-o. Ginny não lhe contara tudo e não podia deixar de ignorar o mau pressentimento que o vinha a perseguir desde que aparatara perto de St. Mungus.

Fazendo um esforço para não começar a correr por entre a multidão, deixou que os seus pés o levassem até à directoria. Numa voz monocórdica, sem vida, disse a palavra-passe e não esperou que as gárgulas revelassem totalmente a passagem antes de atravessar e subir as escadas.

Nada o preparou para a cena que se revelou diante dos seus olhos. As primeiras pessoas que viu foram Moody e Dumbledore a conversarem de pé, em voz baixa, e McGonagall, que limpava o nariz num lenço branco, enquanto tentava abafar um choro que parecia eminente. Sirius estava agachado ao lado de duas pessoas que Moody e Dumbledore tapavam, mas a expressão do seu padrinho não deixava margens para dúvidas de que algo de muito grave tinha acontecido.

Dumbledore foi o primeiro a ver Harry entrar mas, ao contrário do costume, o ex-director não deu o seu habitual sorriso. Apenas se desviou, de modo a Harry ver quem eram as duas pessoas com quem Sirius falava. Eram nada mais, nada menos do que os seus pais. Lily ainda estava vestida com a roupa do hospital, com os cabelos desgrenhados a caírem-lhe sobre o rosto. A sua cabeça repousava sobre o colo de James e o seu corpo tremia num choro compulsivo. James estava enterrado na cadeira, com a cabeça deitada para trás, enquanto o seu rosto se contorcia numa expressão que parecia ser de sofrimento. A sua mão percorria o cabelo ruivo de Lily, mas o próprio não parecia aperceber-se disso.

No meio daquilo tudo, a falta de um elemento saltou logo à vista de Harry.

- Onde está minha irmã?

Todos os presentes olharam para ele, excepto Lily que começou a chorar ainda mais. Nenhum deles ousou dizer nada, mas não eram necessárias palavras para Harry começar a aperceber-se do que tinha acontecido. Mais uma vez, os seus pés agiram inconscientemente e Harry viu-se ser levado até junto dos pais, onde se ajoelhou em frente da mãe. Os olhos inchados de Lily abriram-se com esforço e, com igual sacrifício, todo o seu corpo de elevou do colo de James, para envolver Harry num abraço.

- Ele levou-a! Eu tentei impedi-lo, mas Voldemort levou-a! Eu não tive força suficiente… ele levou a nossa pequenina! – Lily falou quase num fio de voz, por entre os soluços.

A dor da compreensão começou a atingir Harry como uma facada no peito. De tudo o que Voldemort já lhe tinha feito, de toda a dor que já lhe causada, nada se comparava àquilo. Tinha atingido Harry no seu ponto mais fraco e onde sabia que doeria mais. Olhou para o seu pai, esperando que ele desmentisse tudo, mas a única coisa que James conseguiu fazer foi baixar o rosto e fechar os olhos na tentativa de controlar a sua raiva.

- E ainda há mais, Harry! – falou Sirius – A Lily do passado desapareceu!

Mais tarde, Harry não saberia explicar como tinha começado, mas toda a raiva e frustração acumulada durante os últimos dias começou a remexer-se furiosamente no seu íntimo. Como que a manifestar-se por Harry, a Natureza lançou estrondosos e ofuscantes relâmpagos, que cairam na terra sem dó nem piedade, cortando e queimando pelo caminho, os ramos das árvores que ousavam tocar-lhes.

Quando deu por si, Harry tinha-se soltado do abraço da mãe e corria desesperadamente para longe de tudo e todos. Precisava ficar sozinho. Tudo o que menos precisava era que os seus poderes ferissem mais alguém e alargassem a longa lista de vítimas daquele dia.



* * *



Lily abriu os olhos lentamente, mas logo os fechou quando uma dor de cabeça insuportável a atingiu provocando-lhe má disposição. Esperou mais uns minutos até que finalmente conseguisse abrir os olhos para ver onde estava. Sem se levantar, reparou que se encontrava num quarto pequeno e antigo. Tinha uma cama pequena, de solteiro, uma poltrona vermelha berrante forrada com tecido um tanto coçado e marcado pelo tempo. A única janela do quarto era grande, mas uma grade a cobria e, para além da porta de entrada, tinha uma outra porta lateral que dava para um banheiro de loiça branca antiga, com torneiras enferrujadas.

As recordações estavam um pouco vagas, no entanto, lembrava-se perfeitamente do ataque que sofrera. Aquele quarto, porém, não parecia o género de aposento em que mantivessem uma prisioneira. Imaginava-se mais numa masmorra fria e húmida, com ratos a passear e transmitir doenças.

Um pequeno som alertou-a para o facto de não estar só. Só nesse momento reparou na existência de um berço de bebé aos pés da cama, de onde vinha um gemido de protesto. Ignorando toda a dor de cabeça, Lily levantou-se e debruçou-se sobre o berço, apenas para constatar aquilo de que já desconfiava.

O primeiro pensamento dela era o que de ainda estava a dormir e o tempo que tinha passado a olhar para a fotografia enviada por Harry estava a afectar a sua sanidade. Mas quando tocou aquele pequeno bebé, sentiu o seu adorável aroma, observou cada um dos seus traços, desde o cabelo ruivo até à boquinha que ela afirmava ser de James…

Podiam-lhe chamar instinto materno, ou talvez desejo de protecção de um ser indefeso. Mas a verdade é que Lily se apaixonou por aquela bebé à primeira vista e um desejo enorme de tomar conta dela apoderou-se de todo o seu ser.

Vendo que a pequena tinha acordado e começava a chorar, Lily pegou nela ao colo e aconchegou-a contra o seu peito, esperando que ela se acalmasse. Não tardou que Helena sentisse o cheiro dela, o reconhecesse como sendo da sua mãe e abrisse os olhos amendoados para observar a única com que podia contar no momento.

- Olá Helena! Sou a tua mãe… quer dizer, ainda não sou, mas um dia serei! Sim, eu sei! É complicado de explicar. Mas eu prometo que vou tomar conta de ti.

Se Helena não fosse tão pequena, Lily teria a certeza de que ela tinha compreendido, já que, num instante se tinha aconchegado no colo da futura mãe e no instante seguinte tinha fechado os olhos sonolentos.

Lily perdeu a noção do tempo que ficou a embala-a, sem nunca a pousar. Recusava-se a separar-se dela agora que a tinha encontrado. Se Helena estava ali não era certamente por um bom motivo. Voldemort tinha planos para a pequena, muitas das opções passavam pela cabeça de Lily a todo o momento, o que não encaixava ali era o motivo pelo qual Lily tinha sido capturada também. Afinal, não era Voldemort que se recusava a atacar os alunos do passado com medo de alterar o passado no sentido de um destino pior para si próprio? Ou será que Voldemort pretendia matá-la para Harry não chegar a nascer? Se era essa a opção, não fazia sentido raptar Helena também pois, ao matar Lily, Helena também nunca nasceria.

- Amor de mãe é tão lindo!

Lily virou-se de rompante na direcção da voz de escárnio. A visão fê-la recuar um passo, apertando Helena ainda mais contra o seu peito. Na porta que Lily não dera conta de abrir estava parado o ser mais monstruoso que já tinha visto na vida. Já tinha ouvido relatos, é claro, mas nunca pensou ter um choque tão grande ao vê-lo em carne e osso.

- Lord Voldemort! – exclamou Lily quase num sussurro.

- Lily Potter… ou devo dizer, Lily Evans. É sempre um prazer encontrar-nos outra vez. A última vez que cruzei os meus caminhos contigo, tive o prazer de te matar. É irónico pensar que, mais uma vez, existe um bebé no mesmo quarto que nós.

- O que quer connosco?

- Sempre directa ao ponto! Então vou ser directo também. Eu quero a cabeça de Harry Potter. E vou ter o que quero, de um jeito ou de outro.

Lily sabia que ele se referia a algo que ela própria já tinha pensado. Se não conseguisse apanhar Harry, mataria a mãe antes desta ficar sequer grávida.

- E então porquê raptar a Helena? Que perigo pode ter um bebé com dois dias que mal pode sobreviver sem a mãe por perto?

Voldemort sorriu mais uma vez, como se Lily tivesse chegado ao ponto.

- Deixa-me explicar! Não pretendo matar esta criança… pelo menos para já. Mas como é que ela iria sobreviver sem a presença da mãe? É aí que tu entras e com um único tiro, mato dois coelhos. Serves-me os propósitos de cuidar da tua futura filha e, por outro lado, posso sempre matar-te se os meus planos não derem certo.

- E posso saber em que é que ajuda raptar a Helena? Apenas eu servia o propósito.

A expressão de Voldemort provocou um arrepio em Lily. Era quase como se ele olhasse para Helena com vontade de a devorar viva.

- Para quê matá-la quando a posso ter ao meu lado? Ela será poderosa e eu posso criá-la para me servir cegamente.

Lily podia imaginar tudo, mas nunca lhe passou pela cabeça qual o plano de Voldemort para a sua futura filha. Não… ela não iria deixar que Helena ficasse nas mãos dele. Daria a sua vida, se fosse preciso para que isso acontecesse. Mas aí, outro pensamento contraditório surgiu: se ela morresse, tudo seria em vão, já que, nem ela nem Harry iriam nascer. O que iria fazer?

- Não! Eu não vou deixar.

Estremecendo, Helena acordou com a voz de Lily, começando de imediato a chorar. Xingando-se mentalmente, Lily começou a abaná-la no colo, na tentativa de a fazer dormir outra vez.

- Eu sei que não, Lily! É isso que torna tudo mais divertido. A tua versão adulta tentou de tudo para me impedir de levar a filha, mas no final, eu sou mais poderoso, não é mesmo? Tenho a certeza de que invocou o mesmo feitiço que protegeu o Harry. Só que, minha cara Lily, eu não caio no mesmo erro duas vezes.

Deixando um clima enigmático e negro no ar, Voldemort saiu do quarto, deixando Lily sozinha de novo com Helena. Lágrimas silenciosas rolaram pelo seu rosto, e o pânico era cada vez maior, parecendo acompanhar a elevação do choro de Helena.

- Eu não vou deixar que ele te faça mal, minha pequena. Podes ficar tranquila que logo logo vais voltar para junto dos teus pais e de Harry. Eu prometo.

A porta abriu-se novamente, mas Lily já estava de costas para ver quem entrava.

- Será que não podem deixar-nos em paz?

- Em breve!

Aquela voz! Sabia que conhecia o riso, quando fora atacada e agora tinha a certeza de quem se tratava. Virando-se rapidamente encarou aquela que a tinha raptado, observando desde os seus olhos azuis até aos longos cabelos pretos.

- Professora Boss?! – foi a única coisa que conseguiu pronunciar.



* * *



Harry correu sem destino! Os seus pés levavam-no para todo o lado e, ao mesmo tempo para lado nenhum, mas ele precisava… era urgente ele perder toda aquela energia que se manifestava sob a forma de um ódio imenso, acompanhado de um desespero que Harry nunca pensara que viria a sentir novamente. A torre de Astronomia, totalmente inundada pela água das chuvas torrenciais parecia ser um lugar tentador para poder expressar à vontade as suas emoções.

Sentou-se no chão deixando que a chuva furiosa o encharcasse até que o corpo tremesse de frio. A água da chuva misturou-se com gotas quentes que escorriam pela cara e nem o ribombar dos trovões o fez recuar até ao interior do castelo.

Passaram-se longos momentos até que alguma vivalma desse caras por ali. Harry apenas sentiu o calou do toque de uma mão no seu ombro, pertencendo a alguém que se sentava bem ao seu lado. Deixou que a sua cabeça tombasse no ombro dessa pessoa e que os braços dela o envolvessem numa abraço reconfortante. Só nesse momento, Harry deixou que todas as suas mágoas se libertassem e chorou, como nunca tinha chorado na vida.

Ginny apenas o abraçou em silêncio, passando a mão pelos seus cabelos revoltos, esperando o momento em que ele se acalmasse e pudesse falar o que lhe vinha à mente. A chuva começou a abrandar, mas o vento forte e a trovoada mantinham-se, tentando provar a força da mãe Natureza.

- Não sei se vou conseguir, Ginny!

- Eu tenho a certeza de que vais, Harry. E vais trazer a Helena e a Lily de volta, sãs e salvas.

- Será que tenho tanta força assim? Não consigo mais aguentar este fardo sozinho.

- Não estás sozinho.

Desta vez não tinha sido Ginny que falara. Harry ergueu os olhos na direcção da porta para o interior do castelo, onde Hermione lhe dirigia um sorriso amigável e de apoio. Logo atrás dela, Ron e os três Marotos do passado faziam a sua aparição. Hermione falara, mas foi James quem decidiu agir. A versão adolescente do seu pai aproximou-se e abaixou-se ao nível de Harry, colocando a mão no seu ombro.

- A Hermione tem razão, Harry. Não estás sozinho. Nós estamos aqui e iremos lutar até ao fim para te ajudar.

- Não posso deixar-vos arriscarem-se.

James deixou escapar um riso sem vida.

- Não sei se já reparaste, Harry, mas falta aqui alguém. E eu não vou deixar que Voldemort faça mal à minha Lily, muito menos àquela que, no futuro, será minha filha. – agora o sorriso de James era verdadeiro – Posso ainda não o ser, mas eu serei o teu pai! E é meu dever proteger-te com todas as minhas forças. Podes contar com isso.

Harry encarou James, esperando que ele recuasse, mas este não o fez, recebendo acenos de concordância de todos os outros. Harry sabia que não iria demovê-los e, de certa forma, agradeceu por não estar sozinho nessa luta. Limpando os olhos com força, levantou-se, sabendo exactamente o que era necessário fazer.

- Preciso de ter uma conversa com uma determinada pessoa.

Sem que Harry fizesse nenhum gesto, sem que ele tivesse tempo para invocar qualquer um dos seus poderes, o vento fez-se sentir mais forte, embora a chuva tivesse parado completamente. Horus podia não se mostrar, mas Harry sabia que ele estava ali e que iria ouvi-lo.

- Tenho a minha resposta. – disse Harry simplesmente, encarando o vazio. – E sei onde procurar o que desejo.

Foi nesse momento que um portal já conhecido por Harry surgiu na sua frente, o mesmo portal que tinha atravessado para trazer o pai de volta ao mundo dos vivos. Antes que a porta se abrisse, uma voz ressoou vinda do nada.

- Muito bem, Harry Potter! Que seja feita a tua vontade.

Harry deu uma vista de olhos aos amigos, reparando no olhar de assombro da maioria. Tirando Ginny, Ron e Hermione, nunca nenhum dos outros tinha visto a manifestação dos poderes de Harry, ou ouvira, jamais a voz do deus egípcio. Voltando a encarar a porta, colocou a mão no puxador e girou-a sendo imediatamente ofuscado pela luz que saía do seu interior. Por entre o brilho, uma figura de uma menina loira sorriu para Harry, um sorriso inocente que ia desde os lábios até aos brilhantes olhos azuis. Assim como o portal tinha aparecido, logo desapareceu, assim como a aura de Horus que Harry podia sentir desvanecer-se. Tinha a sensação de que demoraria muito tempo até que o deus voltasse a responder ao seu chamado.

- Olá Harry!

Harry deu dois passos na direcção da recém-chegada, devolvendo-lhe o sorriso.

- Olá Tfani. Como é que sabes o meu nome?

- Ora! – A pequena encolheu os ombros e fez um gesto com as mãos como se fosse óbvio – Que espécie de guardiã do Livro dos Mortos eu seria se não soubesse quem é o Herdeiro de Horus.

Sem que Harry contasse, ela envolveu os pequenos bracinhos à volta da cintura do seu salvador, com toda a força que a sua infância lhe concedia. Surpreso com o gesto, Harry demorou a reagir, mas logo retribuiu, como se lhe quisesse mostrar que não tinha mais nada a temer.

- Eu tive muito medo, quando aquele homem mau me levou do orfanato. – a cara assustada que ela fez, só aumentou o desejo de Harry a proteger. – Mas eu sabia que me ias salvar, Harry. O meu pai falou-me de ti e disse que tu és um graaaaaande bruxo.

Para demonstrar o quão grande Harry era, Tfani afastou-se dele a abriu os braços o máximo que pôde, fazendo as maravilhas das garotas presentes. Hermione foi a primeira a aproximar-se deles e abaixou-se ao nível da menina, pegando nas pequenas e albas mãos dela.

- Mas agora ninguém te fará mal. Nós não vamos deixar, eu prometo.

- Alguém me pode explicar o que acabou de acontecer? É que eu estou meio perdido nesta história.

Tfani não deixou que mais ninguém respondesse a Sirius, ela própria fez questão de dar uma aula ao maroto. Aquela criança, certamente faria as delícias de Hermione.

- Um homem muito, muito, mas muito mau, tirou-me do orfanato onde eu morava, lá no Egipto. Ele era nojento e tinha o cabelo sujo.

- Isso cheira-me a Snape. – comentou Sirius para Remus, que escondeu um sorriso maroto.

- Então ele e aquela mulher que se transforma em corvo levaram-me para um lugar assustador. Eu tive muito medo! Bem… depois… depois fui ter com o meu pai e a minha mãe. O papá disse que eu ia voltar, porque me ias ajudar, Harry. E depois eu tinha de te ajudar a ti!

- Então, sabes o que é que eu procuro?

Ela acenou vivamente com a cabeça, juntando as mãos na frente do corpo, tentando mostrar-se adulta, mas baloiçando-se nos pezinhos para trás e para a frente.

- O meu pai contou-me a história do outro livro, aquele feito de ouro e disse-me que ele estava no museu do meu padrinho, numa porta que só eu posso abrir.

- Então o teu padrinho é o Senhor Langley?

- Aham! Eu adoro-o e ele vai visitar-me muitas vezes ao orfanato. Ele dizia-me sempre que um dia eu ia morar com ele.

Harry seguiu o exemplo do gesto que Hermione fizera momentos antes e abaixou-se também ao nível dela.

- Tfani, o chefe daquele homem que te levou, ele quer fazer coisas horríveis. E eu tenho de o parar.

- Queres dizer: salvar o mundo, como os heróis de banda desenhada?

Harry não pôde deixar de rir da pergunta dela e da inocência com que ela se tinha pronunciado.

- Mais ou menos isso. Mas eu também preciso da tua ajuda. Eu preciso que me digas onde está aquele livro que o teu pai escondeu.

- Eu vou ser heroína também?

- É claro que vais. – Num gesto semelhante a um irmão mais velho, Harry despenteou os cabelos loiros dela, antes de trocar um olhar com Hermione e Ron, como que a fazer-lhes um pedido silencioso. – Aqui a Mione e o Ron vão levar-te até ao museu do teu padrinho. Não te importas de fazer isso por mim?

Ela assentiu com a cabeça, concedendo-lhe mais um dos seus abraços, logo se voltando para as duas pessoas que Harry tinha designado como os seus mais recentes protectores e dando a mão a Hermione.

- Creio que só vão poder sair acompanhados por um adulto. Remus foi comigo ao museu, hoje mais cedo. Creio que ele não se importa de vos acompanhar até lá.

- Nós vamos ficar bem, Harry. Não te preocupes.

- É, amigo, nós vamos num pé e vimos noutro. – completou Ron dando uma palmada nas costas de Harry antes de se virar para ir embora.

Tfani acenou para Harry em despedida e segurou também a mão de Ron, enquanto os três desapareciam na porta.

- Acho que vais ter jeito para irmão mais velho… e para pai.

O comentário de Ginny para Harry teve o dom de provocar um acesso de tosse aos outros três. Harry sorriu envergonhado, baixando o rosto para não verem que corava.

- Hum… Harry, Ginny, a gente vai esperar lá em baixo, não é, pessoal?

- Porquê, Remus? Eu não quero perder o meu afilhado de vista.

- Sirius…

- Ok, ok!

Ainda a protestar, Sirius seguiu os outros dois, deixando Harry sozinho com Ginny. A ruiva observou o céu que começava a clarear, levando embora o mau tempo, mas Harry estava alheio a tudo isso.

- Tenho um favor a pedir-te, Ginny.

- Se vais pedir-me que fique aqui enquanto te arriscas, podes tirar o hipógrifo da chuva, porque eu não te vou largar mais.

- Ginny…

- Não, Harry.

Os olhos de Ginny desviaram-se do céu para Harry e fixaram-se nas suas íris verdes. Tudo na sua pose demonstrava que não iria desistir e levaria aquela ideia avante, no entanto, existia uma pessoa ainda mais teimosa do que Ginny e essa pessoa era o próprio Harry.

- Ginny, eu não vou tentar impedir que saias, apenas te queria pedir um favor e és a única pessoa em quem eu confio para isso. Por mais que eu vá tentar impedir, o meu pai jamais me irá deixar partir sozinho. Mas não quero que a minha mãe fique sozinha neste momento. Marlene é a melhor amiga dela e sei que tomaria bem conta dela, no entanto, ela própria não está em melhores condições do que a minha mãe.

- E tu queres que eu fique aqui, é isso?

- Eu tenho a certeza de que Voldemort tem mais algum plano além de me atrair até ele. Até aposto que, neste momento, ele está a planear um ataque à escola. É por isso que preciso que fiques aqui e tomes conta dela. Eu não ia suportar se acontecesse alguma coisa a vocês as duas.

As duas mãos de Ginny tocaram no peito de Harry e deslizaram por baixo dos braços dele até as costas, até que a sua testa encostasse no peito dele.

- Prometes que voltas são e salvo?

Uma mão de Harry encostou no queixo da namorada, obrigando-a a olhar para ele. Abaixando-se ele beijou-a, antes de dar a resposta que ela pretendia ouvir.

- Prometo.

Harry aproximou-se para beijá-la outra vez, mas o dedo indicador de Ginny impediu-o de prosseguir.

- Isto não é uma despedida, ouviste? Eu recuso-me a despedir-me.

No entanto, antes que Harry pudesse responder, Ginny colocou a mão na nuca de Harry e puxou-o para si, beijando-o com toda a intensidade e com o temor de que aquele fosse o último. Por mais que ela negasse, Harry sabia que ela não o deixaria partir com o sentimento de que não se despedira devidamente dele.

- Amo-te! – disse Harry entre um beijo e outro.

- Também te amo!

Num último olhar, Ginny saiu na direcção das escadas, desaparecendo nas sombras. Harry poderia ter ficado ali para sempre com ela, mas tinha outras coisas em mente, coisas essas que precisava de fazer com urgência. Descendo as escadas, encontrou James, Sirius e Remus à sua espera, como se não pretendesse deixá-lo escapar novamente.

- Qual é o plano?

- O plano, James, ainda tenho de pensar melhor nele, mas antes ainda existem muitas coisas a arquitectar. Conheço bem Voldemort e não posso facilitar em nada.

Os outros três seguiram Harry pelos corredores silenciosos. Não se via vivalma, concentrando-se todos em lugares como as quatro casas, a enfermaria de Poppy Pomfrey que acolheu os doentes mais graves tirados de St. Mungus e o Salão Principal. Era para este último lugar que eles se dirigiam.

- Onde pensas que vais com tanta pressa?

Harry estagnou subitamente, ao aperceber-se da presença de alguém ao virar da esquina. Foi preciso olhar duas vezes para confirmar se não se tinha enganado na identidade. Um espectro de James Potter encarava Harry com um olhar sombrio, em nada se parecendo com o auror que todos estavam habituados a ver.

- Pai!

- Não te vou deixar ir atrás delas, Harry.

- Mas pai…

- Sem mas, Harry. Vais ficar aqui no castelo, com a tua mãe.

Harry respirou fundo, tentando controlar a frustração. Sabia que o único motivo do seu pai estar a agir assim era porque tinha receio de que Voldemort capturasse Harry também. Mas não podia deixar de se irritar pela atitude proteccionista.

- Quero ver-te a tentares impedir-me. – Desafiou Harry cruzando os braços sobre o peito. – Além de que, sem querer parecer arrogante, sou o único que pode derrotar Voldemort. Portanto, quer queiras, quer não, eu vou.

Agora foi a vez de James bufar de frustração. Tentou buscar apoio nos outros três, mas estes tinham desviado o olhar da cena, como se não se quisessem meter, inclusive (e este irritou James) o seu outro “eu”.

- Tu não percebes, Harry? Eu não posso deixar que nada te aconteça. Acabei de perder uma filha, que mal tinha pegado nos braços, não quero perder-te a ti também.

Diante do desespero de James, Harry foi incapaz de o continuar a desafiar. Dando um passo na sua direcção, Harry esforçou-se por permanecer calmo.

- Pai, eu sei que me queres proteger, mas eu sei como me defender. Já enfrentei Voldemort outras vezes. Além disso… - agora Harry permitiu-se sorrir - … tenho uma maninha mais nova para salvar e a minha futura mãe que conta com a nossa ajuda. Se não me deixares partir com o grupo que estás a organizar – e não te atrevas a negar que planeaste tudo, que eu conheço-te – eu vou sozinho, de um jeito, ou de outro.

Dizendo isto, Harry seguiu o seu caminho, mas James não estava disposto a dar a luta por perdida. A sua mão agarrou o braço de Harry impedindo-o de continuar.

- Já disse que não vou ficar! – explodiu o moreno, mas logo se surpreendeu quando viu um resquício do antigo James a bailar no rosto do seu pai.

- Eu só ia perguntar-te qual o teu plano.

Ainda surpreendido, Harry não resistiu ao impulso e abraçou o pai, ficando assim por algum tempo.

- Obrigado, pai.

- Ok… chega de lamechices. Tenho duas ruivas para salvar e um esquadrão de aurores para liderar.

Afinal, o espírito maroto de James não se tinha perdido. Ele estava por ali algures e só aguardava a oportunidade para se manifestar. Já com a cabeça erguida, James deu meia volta e seguiu caminho até ao Salão principal.

Mais confiante, tendo o pai do seu lado, Harry pegou na sua varinha e pronunciou um feitiço convocatório, que trouxe até às suas mãos o Mapa Maroto.

- Juro solenemente que não vou fazer nada de bom! – os seus olhos procuraram alguém no mapa e, quando o nome lhe foi revelado, dirigiu a sua atenção para os seus acompanhantes. – Tenho de ir à Sala de Transfiguração.

Nenhum deles questionou a decisão de Harry, apenas o seguiram, confiando no que ele tinha em mente. A sala não era muito longe dali e estava vazia, com excepção de uma única pessoa, sentada numa das mesas da frente.

- Danielle!

Danielle não se mexeu, permanecendo de costas para a entrada. Se não fosse pelo dedo que fazia desenhos invisíveis na mesa, poderiam dizer que estava a dormir.

- Harry, o que viemos fazer aqui?

Harry ignorou o tom de protesto do James e aproximou-se do lugar onde Danielle estava sentada. Só quando estava a poucos metros dela, a sobrinha de Dumbledore virou-se e encarou Harry com uma expressão séria.

- Preciso da tua ajuda.

- Então tu sabes a verdade sobre mim?

- Não sabia até há bem pouco tempo. Sabia que existia algo estranho em ti quando nos conhecemos. Só há alguns dias tive a certeza.

- Ainda bem! – respondeu ela sinceramente, dando-lhe um sorriso. – Não aguentava mais a desconfiança em torno de mim. – Ela levantou-se e elevou a varinha mas, antes de fazer algum feitiço, acrescentou – Ah! E obrigado por confiares em mim!

Com a varinha, ela desenhou um grande W, que permaneceu nítido na sua frente. Quando terminou, começou a recitar um feitiço em voz baixa, ao mesmo tempo em que outras três letras se desenhavam e faziam um círculo em torno de Harry. Por trás dele surgiu um E, à sua direita um N e à esquerda um S. Quando Danielle terminou de recitar o feitiço, mais duas pessoas apareceram na sala. Por detrás da letra S estava um homem negro, com cerca de trinta anos, vestido com uma longa túnica africana. Atrás da letra E apareceu um rapaz asiático, talvez mais novo do que Harry, vestido com o que parecia ser um quimono de samurai.

Nesse momento, ouviu-se um miado e, por entre as pernas dos que se mantinham à porta, um gato ruivo cortou caminho, prostrando-se no único lugar livre daquele círculo, junto da letra N. Soltando um último miado, Crookshanks começou a mudar de forma e a crescer, dando lugar a uma mulher ruiva alta e esguia, de pele muito branca, com um olhar predador. A surpresa foi tão grande que Harry foi incapaz de tecer qualquer comentário relativamente ao gato (ou seria gata?) da melhor amiga.

- Nós somos os senhores dos Quatro Pontos Cardeais, Harry. – Danielle iniciou a apresentação deles. – Eu sou Kebeh-Senuf e represento o Oeste. Hapi representa o Sul – Danielle apontou para o homem negro que acenou com a cabeça para Harry. – Duamutef, o nosso asiático, representa o Este. E Amset, que talvez tu conheças por Crookshanks, representa o Norte.

O olhar de Harry recaiu mais uma vez sobre a mulher ruiva, que estava muito interessada em lamber a mão, tal como costumava fazer enquanto felina.

- Bem, Amset é a única não humana aqui. É uma criatura mágica, mas esta é a forma humana dela.

- Quer dizer que o gato da Hermione, não é um gato?

- Miau… quer dizer, mais ou menos! – Amset pareceu embaraça pelo escapar do miado. – A minha forma original toma a forma de um gato, mas sou muito mais do que um animal de estimação. E garanto-te que a minha permanência neste castelo não é coincidência.

- Imagino que sim. – murmurou Harry ainda surpreendido, voltando a sua atenção para Danielle, novamente. – Então, isso justifica as tuas excursões nocturnas. Vocês encontravam-se na cabana dos gritos.

- Não eram bem encontros. Eu só completei há alguns dias o meu treino e eu tinha de fazer essas visitas à Cabana dos Gritos para me encontrar com o meu mestre e lá treinar. Quando um elemento da Rosa-dos-ventos se retira, escolhe um outro mais novo que treina durante algum tempo para que o substitua.

- Desculpem-me a interrupção, mas, qual é a vossa função afinal? – Remus colocara a questão como se estivesse a tirar uma dúvida a um professor, fazendo Sirius revirar os olhos e James lançar-lhe um olhar fulminante, como se ainda não estivesse convencido da inocência de Danielle e Remus estivesse a dialogar com o inimigo. – Porque até agora, eu não consegui perceber.

- É simples, Remus. – Explicou Danielle – Nós também somos conhecidos como os “Filhos de Horus”. Pelo nome já deves estar a perceber que nós somos uma espécie de “guarda pessoal”, destinados a proteger e auxiliar o Herdeiro de Horus, neste caso o Harry. Desde há milénios aguardávamos o seu nascimento e nos preparávamos para ele. Há alguns anos atrás, Amset foi enviada para Hogwarts, quando se acreditou que Sirius pretendia matar Harry, assim que escapou de Azkaban.

- Não foi difícil perceber que o rato era o traidor e não Sirius. – Amset soltou um sorriso charmoso para Sirius, deixando-o embaraçado, antes de continuar a falar. – Depois daí, eu decidi continuar aqui. Afinal tinha-me afeiçoado à minha dona, e ficaria mais perto de Harry.

- Mas aí, desapareceu o Livro dos Mortos e nós soubemos, nesse mesmo instante que Voldemort iria voltar. Eu vim para Hogwarts, como sempre sonhei vir, mas tinha uma missão, apesar do meu treino não estar completo. Por isso, saía quando ninguém reparava e ia até à Cabana dos Gritos para continuar a treinar. Tinha outro grande problema: Harry, quando queria, era escorregadio e eu raramente conseguia seguí-lo por muito tempo, tal como aconteceu duas noites atrás. – Danielle parou por momentos, olhando agora directamente para James. – Hoje eu ia encontrar-me com o meu Mestre, como tantas outras vezes, quando, aparentemente fui avistada por duas pessoas.

Danielle baixou o rosto, envergonhada, incapaz de continuar a encarar James.

- Eu devia ter-me apercebido do perigo. Eu fui treinada para isso. Portanto, de certa forma, eu sou culpada pelo desaparecimento de Lily. Mas nunca… – e aqui, Danielle olhou directamente nos olhos de todos eles, para demonstrar que não mentia – … nunca lhe faria mal. Acredita em mim, James, por favor.

Os olhos de todos os presentes recaíram sobre James, aguardando a sua reacção. Esta não veio logo. Primeiro estudou Danielle com cuidado, mantendo o seu semblante inexpressivo. Mas quando todos pensavam que ele não se expressaria, a reacção apareceu.

- Eu acredito.

Danielle não pôde deixar de soltar um suspiro de alívio, antes de se voltar para Harry novamente.

- Estamos ao teu serviço agora.

- Agradeço. Porque eu vou mesmo precisar de toda a ajuda possível.

Harry sabia que mais aquela ajuda era sempre bem-vinda, mas ainda havia muito a fazer antes de agir e muitos planos precisavam ser traçados.



* * *



Tfani podia sentir as atenções de todos voltadas para si, depositando nela toda a esperança. Mas não se sentia intimidade por isso… sabia que ia conseguir. Olhou para o lado, onde o padrinho a incentivava apenas com o olhar, dando-lhe ainda mais coragem. Outras três pessoas estavam logo ao seu lado: Ron, o ruivo engraçado e melhor amigo de Harry, Hermione a garota mais inteligente que Tfani já conhecera, mas sempre carinhosa consigo. A terceira pessoa foi alguém que simpatizou desde início, não conseguindo deixar de sentir que ele teria um papel importante na sua vida: Remus Lupin. Este último deu-lhe um sorriso caloroso, como se lhe demonstrasse que não tinha nada a temer.

Respirando fundo, encarou a parede à sua frente. Era uma parede como tantas outras, apenas diferente pelos desenhos incomuns nela pintados, mas Tfani sabia que algo se escondia por detrás dela, algo que o seu pai, muito tempo atrás ali tinha depositado, antes mesmo dela nascer.

Foi com grande entusiasmo que viu uma linha recta começar a desenhar-se na parede, fazer uma curva e regressar ao chão. Olhando para os outros, nenhum deles parecia surpreendido, ou talvez nem tivessem reparado no novo acontecimento. Quando um rectângulo perfeito acabou de ser desenhado, Tfani reparou na existência de uma bola que se assemelhava ao puxador da porta. Estendendo a mão, ela tocou-o e rodou-o sentindo que a parede se movia para dar lugar a uma passagem.

Orgulhosa do seu trabalho, sacudiu as mãos, uma contra a outra. Quando olhou para trás, reparou em algo que a surpreendeu. Todos estavam parados… na verdade tudo parecia parado, como se o tempo tivesse, subitamente estagnado. Sem se incomodar com isso, aventurou-se pela porta, ao mesmo tempo em que tochas de fogo se acendiam sozinhas. Mesmo no centro de uma pequena sala existia um pedestal e no topo deste, um livro dourado, todo ele feito de ouro, parecia reluzir, como se a chamasse até ele.

Com passinhos curtos e calmos aproximou-se e passou a mão sobre ele, verificando que não tinha nem um pozinho a cobri-lo. Invocando toda a força que tinha, levantou o livro, mas este caiu com um sonoro baque no chão. Aquela tarefa ia ser mais complicada do que pensava, mas nada como um grande desafio para a “heroína” Tfani, que não pretendia desiludir o seu salvador. Se não conseguia carregá-lo iria arrastá-lo até fora daquela sala.

Quando finalmente cumpriu a sua tarefa limpou as gotas de suor com a manga da camisola, esperando que, a todo o momento, o tempo voltasse a andar. Mas algo ali estava mal… tinha-se esquecido de algo. Sim… claro! Tinha de fechar a porta outra vez e, só quando a parede voltou ao normal voltou a ouvir as vozes dos acompanhantes e os sons vindos da rua.

- Aqui está! – disse uma satisfeita Tfani para os outros quatro.

- Está aonde?

Tfani viu os olhos de todos seguirem a direcção que o seu dedo apontava e fixarem-se no chão.

- Bendito seja Merlin! O que é isto?

Ron não precisava de resposta e ninguém se dignou a responder. Hermione pegou no livro, com algum esforço e elevou-o para ser estudado por ela e por Remus.

- Então é isto! Temos o Livro dos Vivos.

- Sim, Hermione, graças à nossa salvadora aqui. – Remus colocou um braço por cima dos ombros de Tfani, que inchou o peito de orgulho. – E agora temos de o levar o mais rapidamente possível.

- Vocês vão levar a Tfani embora outra vez?

Tfani sentiu o peito contrair ao ouvir a voz desolada do padrinho. Ela queria ficar com ele, mas também queria voltar para aquele castelo enorme e estar perto de Harry e dos seus amigos.

- Ela vai ficar mais segura lá. Se Voldemort souber que Tfani está viva, virá atrás dela. Em Hogwarts ela estará bem protegida.

O director do museu caminhou até junto de Tfani e abaixou-se ao nível dela, segurando-a pelos braços. Podia ver nos seus olhos a tristeza de ter de se separar dela. Via aquela expressão cada vez que se despediam todas as vezes que ele a visitava.

- Promete-me que vais ter cuidado, princesinha.

- Eu vou, padrinho! Além disso, eu tenho os meus heróis para me protegerem.

Langley piscou os olhos rapidamente quando estes começaram a molhar-se. Puxando Tfani para junto de si, beijou-lhe a testa e abraçou-a com força, como se nada o pudesse separar dela jamais.

- Vai então, princesinha. Estão à tua espera.

- Não fiques triste, padrinho, eu prometo que te venho visitar.

Tfani observou Hermione esconder o Livro cuidadosamente, antes de o passar para as mãos de Ron. Aproximando-se de Remus, Tfani tocou na mão dele, que rapidamente envolveu a sua, num gesto protector. Enquanto se afastava, continuou a olhar o padrinho, com o sentimento de que nunca mais o veria, não se apercebendo de que, por algum motivo, Remus apertara a sua mão com mais força e acelerara o passo.

- Ron, Hermione, aparatem já com o livro em Hogsmead.

- O que é que se passa, Remus? – perguntou Hermione logo atrás de si.

Remus olhou para todos os lados, pegando, com a mão livre, a sua varinha.

- Creio que não somos os únicos bruxos aqui, neste momento.

Como que respondendo às dúvidas de Remus, uma roda de Devoradores de Morte aparatou em volta do museu, cortando o seu ponto de fuga e fazendo-os recuar novamente para o interior.

- Vão logo. Aparatem e eu irei atrás com Tfani.

- E o Senhor Langley?

Ron não tinha sido o único a pensar no director do museu. Tfani, assim que se apercebeu dos “bruxos maus” olhou automaticamente para trás, rezando para que o padrinho estivesse por perto, para poderem levá-lo durante a fuga.

- Temos de proteger a Tfani agora e o Livro não pode cair nas mãos de Voldemort. Se bem que… - Remus parou por uns instantes, parecendo estar a pensar em algo. – Expecto Patronum.

Um lobo prateado formou-se a partir de fumaça libertada pela varinha de Remus, prostrando-se diante dele à espera de instruções do seu criador.

- Ataque no museu de Londres, necessária ajuda! – Assim que o lobo desapareceu, Remus puxou Tfani até terreno seguro, seguido por Ron e Hermione. – Aparatem depressa!

Antes de ver tudo a andar à roda, Tfani apenas conseguiu ter um vislumbre dos atacantes a entrarem pelo museu e da figura do seu padrinho parada no meio do átrio principal, ser atingida por uma luz verde, que o fez fechar os olhos e cair adormecido no chão.



* * *



A Sala Precisa nunca tinha estado tão cheia de gente. Entre membros da Ordem da Fénix, aurores, professores e alguns alunos finalistas, muitos tinham sido os que tinha atendido à convocação feita por McGonagall. James tinha acabado de arquitectar o plano para a defesa da escola, juntamente com todos os outros aurores, e Dumbledore dava instruções aos membros da Ordem presentes.

Harry limitava-se a observar, enquanto traçava o seu próprio plano para entrar no esconderijo de Voldemort. Não seria muito difícil encontrá-lo e Harry quase apostava a sua vida em como a mansão Riddle tinha sido a escolhida como cativeiro para Lily e Helena. O senhor das trevas não pretendia mantê-las num lugar onde jamais seriam encontradas. Pelo contrário, ele preferiria um lugar óbvio para o qual Harry pudesse ser atraído.

- Harry! – a voz de Ron captou a sua atenção, tirando-o dos seus devaneios – É melhor vires comigo até à sala da McGonagall.

Deixando para trás toda aquela confusão, apressou-se a seguir Ron, na esperança de encontrar a solução que tanto procurava. Se tivessem encontrado o Livro, este seria a única solução para derrotar Voldemort. Como tinha dito Joanne Boss uma vez: criado pelo poder de Horus e pelo poder de Horus destruído.

Mal conseguiu acreditar no que via mal entrou na directoria. Depositado na secretária brilhava o tão desejado Livro dos Vivos, deslumbrante, quase que parecendo atrair as pessoas a tocá-lo. Conseguiu perceber Tfani encolhida junto a Remus com um ar assustado e Harry quase que podia adivinhar que a viajem ao museu não tinha sido tão inofensiva como tinha pensado à partida.

- Temos o Livro… - disse mais para si próprio do que para os outros, como se tentasse provar a si mesmo que não estava a ter uma miragem.

- Sim, Harry, temos o Livro.

Com as mãos trémulas, Harry aproximou-se para tocar no livro. Podia até sentir o poder, a magia emanar dele, falando-lhe para o abrir.

- Onde está a Professora Boss? Eu preciso dela para ler o Livro.

Como ninguém respondeu, Harry esqueceu momentaneamente o livro e encarou Remus, a pessoa mais provável, naquela sala, para saber onde se encontrava a professora de EMA.

- Ninguém a viu desde o dia da final de Quidditch, Harry.

E, nesse mesmo instante, a mente de Harry projectou-se para aquele dia que parecia ter ocorrido há anos, quando vira a professora, pela última vez. Ela estava estranha, nesse dia, Harry pensou, mas não era nada que, à partida, fosse motivo para desconfiar. No entanto, ela tinha desaparecido, no mesmo dia em que o Ministério tinha caído, no dia em que quase perdeu a mãe e a irmã.

O ESPELHO! O espelho partido na sua mala. Ela conhecia o espelho, Harry tinha-lhe falado dele, numa das aulas. Foi com grande pânico que percebeu algo muito pior: ela sabia de muitos segredos de Harry, conhecia cada um dos seus poderes, mas o que o fez revirar-se de culpa foi algo mais. Joanne conhecia a profecia feita sobre Helena.

Harry deu por si a fechar os olhos e apertar os punhos com força. Não era o momento de atribuir culpas e ainda tinha uma missão a cumprir, quer ela estivesse condenada ao fracasso quer não.

- Como é que eu vou ler isto agora?

- Harry… - interrompeu Hermione, com o seu habitual jeito “sabichão”. - … não sei se irá ajudar muito mas, eu tenho vindo a estudar a língua egípcia antiga.

- Tu consegues ler isto?

- Não tenho muita prática mas, com o devido auxílio dos livros apropriados posso fazê-lo.

- Hermione, eu adoro-te!

Num gesto repentino, que assustou Hermione, Harry beijou-lhe o rosto e saiu outra vez, na direcção da Sala Precisa.

Pelo menos, nem tudo estava perdido! Uma batalha difícil aproximava-se, trazendo consigo horas difíceis. Mas, se tudo corresse como o planeado, não iria ser apenas uma mera batalha que seria discutida, seria todo o futuro. Voldemort e Harry reencontrar-se-iam e, se o destino o permitisse, aquela seria a última vez… de um jeito ou de outro. Um deve morrer nas mãos do outro, porque nenhum pode viver enquanto o outro sobreviver.


* * *

Nota de Beta: Um dos benefícios de ser Beta é ler um capítulo muito antes de todos os outros leitores e devo confessar que este é um aspecto que não desejo abdicar. A leitura de um capítulo, quente ainda pelo fervilhar das ideias da sua autora, é algo simultaneamente precioso e tentador. Por vezes somos deliciados por uma cena divertida… outras lambuzamo-nos com o doce sabor de um romance… algumas fazem o nosso coração palpitar a cada batida negra de uma morte, tortura… acção! Se um capítulo não é capaz de nos fazer desejar provar as mil e uma iguarias escritas em frases, palavras, sentimentos e expressões… se não desejamos cumprimentar a chef, a autora, a artista… então nada vale a pena.
Mas, quando num belo momento, por entre as milhares de portas que abrimos à procura de um história que nos sacie a gula, nos deparamos com uma cozinheira divinal, apenas nos resta, como simples mortais tentados pela emoção, trespassar a porta e sentarmo-nos ao balcão. Guida é uma dessas cozinheiras! Deliciosamente doce com as suas personagens, picante contra a morte, eficaz nas temperaturas de uma bela leitura.
O que me resta, como leitora e beta, é não pedir um, mas todos os pratos que a chef decidir servir-me! Bom apetite!




Nota de Autora: Depois de 37 páginas (isso mesmo, 37 benditas páginas do Word), depois de quase arrancar cabelos, praguejar contra o pc, reescrever cenas dezenas de vezes… eu consegui! Vitória!!!! E sabem qual é a melhor parte disto tudo? Escrevi em apenas duas tardes. (Era a isto que eu me referia, Felipe, quando disse que não era preciso ninguém pressionar-me, porque eu pressionava-me a mim mesma, rs).

O que é que eu posso dizer… muitos mistérios que foram desvendados neste capítulo… outros ainda estão por revelar: Tfani, o Livro dos Vivos, Danielle…todas estas cenas me deram imenso prazer escrever. Descrever as expressões de Helena, as reacções de todos perante a sua visão, trouxe-me um sentimento que eu sou incapaz de descrever. Será que eu desiludi alguém com este capítulo? Eu sei que dei a sensação a toda a gente de que Helena estaria segura, após o final do capítulo passado, mas Voldemort é Voldemort… e ele, tal como eu disse no capítulo, adora atingir os inimigos onde dói mais. Helena era, sem dúvida, o ponto fraco de Harry, neste momento.

E mudando completamente de assunto e para intensificar a vossa vontade de me matarem. Irei colocar a fic em Hiatus até ao fim de Julho, por vários motivos, alguns dos quais eu passo a explicar: primeiro porque a minha época de provas finais está prestes a começar (e este é o pior motivo de todos, sem dúvida. Só o pensamento de que faltam três semanas para as provas finais tira o apetite de escrever a qualquer um). Segundo, porque antes de começar a escrever o capítulo 35 eu terei de reler a fic toda. E, por último, porque creio que vou bater o recorde das 37 páginas, num capítulo que será, provavelmente, o mais difícil que eu escrevi até agora.

E agora, as respostas aos comentários (e por falar em comentários, onde anda o meu pelotão de ameaçadoras pessoais? Biank, Neptuno, Ina Clara… Estou com saudades vossas! E a todos os outros, não se esqueçam de comentar! Não imaginam como eu adoro ler o que têm a dizer… é uma felicidade indescritível cada vez que vejo um comentário novo):

Daniela Potter Magid: Já disseste que sou má para os leitores exactamente 275 vezes. E antes que digas como é que eu sei, eu respondo que acabei de inventar redondamente. :-p Eu sou má por levar a pensar que a Lily foi ferida? Lol… que culpa tenho eu que tenhas confundido líquido amniótico com sangue? Hsuashuahsuahs! (devo dizer que é divertido falar contigo no msn quando estás a ler um capítulo meu!) Quantas vezes eu me escondi por detrás do sofá enquanto tu leste? Acho que perdi a conta. Sim, “greve”! Rsrs. Bem… não é bem greve, mas já chegamos a um acordo sobre isso, não é mesmo? Agora tenta convencer a Light a não entrar na greve também, rsrs. Não precisas de fazer esse drama todo, :-p Até parece que, mesmo depois do final, tu não vais continuar a chatear-me por causa de capítulos, he he he. Como se eu não conhecesse a minha filhota mais velha. Quanto a puxar as orelhas à “Light” *ignora outro nome que foi referido no comentário* Eu puxei… mas irmãos mais velhos nunca nos ouvem. Humpf. (faz de conta que, na vida real, eu não sou a irmã mais velha, rs). Já estou a divagar de novo, rs. Mas pelo menos a resposta ficou enorme, :-p

Ginny Potter: Obrigada pelas palavras de apoio, Ginny. Deves estar a querer matar-me agora pelo rapto da Helena, já que eu dei a entender, no capítulo passado, que ela ficaria segura no seio da família. Mas eu prometo que Lily vai tomar bem conta dela enquanto estiverem juntas… afinal, mãe é mãe, não interessa se é agora, ou se irá ser no futuro!

Deby: Wow… que festejo entusiástico. Pois é… a Helena nasceu. E, se bem conheço a tua mamis, ainda és bem capaz de ter uma irmã, porque a Light gostou tanto da personagem que é bem capaz de a adotar para ela, rs. Gostaste dos novos poderes de Harry? Então espera pelo próximo capítulo… aí sim, Harry vai mostrar o que é ser o Herdeiro de Horus. O “ainda”… *assobia distraidamente, antes se abaixar rapidamente, para se desviar do Avada*… “ainda” não te posso dizer :-p Mas tudo será revelado a seu tempo. Pelo menos o Livro já descobriste onde está, não é mesmo? Sim, o Kingsley morreu mesmo. Vá lá, Deby, podes dizer. Eu sei que estás ansiosa por me chamar Darth Sidius, rs.

jaini: *cora envergonhada* Eu confesso… eu sou má! Mato o Kingsley, deixo a Helena cair nas mãos de Voldemort, rapto a Lily também. Fico contente que tenhas gostado do resgate de Lily, pelas mãos do Harry. Foi uma das cenas que eu mais gostei de escrever, durante toda a fic, em parceria com o nascimento de Helena. Respondendo à tua pergunta e, tal como já deves ter reparado neste capítulo, o Ministério foi mesmo tomado por Voldemort, assim como St. Mungus. E já agora, os meus parabéns atrasados! Espero que o capítulo anterior tenha sido um presente à altura.

Beca Black: *abraça apertado* Nada como um comentário tão carinhoso de uma das minhas mais antigas leitoras, para me deixar felicíssima. Eu também te adoro, podes ter a certeza disso. Confesso que o capítulo passado também foi um dos meus preferidos (deve ser por eu ser louca por bebés… é que o dá ter tantos primos, rs) E claro, James/Lily é um dos casais mais fofos que eu já vi. Eu adoro escrever sobre eles. Obrigada pelo comentário.

Ana Potter: Obrigada, Ana. Fico feliz que tenhas gostado do salvamento de Lily. Não posso deixar de ficar toda orgulhosa por essa ter sido a cena preferida de tantas pessoas, já que foi uma das cenas que mais me custou escrever, mas, que ao mesmo tempo, adorei. Obrigada, mais uma vez.

Aly Black: Assustei? Eu mesma me assusto por vezes, com as ideias que eu tenho. Descrever o desespero de James ao chegar do Ministério foi… foi angustiante (acho que é a palavra certa) tentar imaginar o que ele estaria a sentir naquele momento. Nunca fui muito boa a compreender o comportamento humano, portanto, espero ter estado à altura. Quanto à ira dos amigos… bem, acho que eles não tiveram muito tempo para isso. No final a amizade venceu e uniu-os mais do que nunca.

Fernanda Caroline: sê bem-vinda de volta. Eu compreendo totalmente! As aulas e as provas tiram muito tempo de nós. Espero que esteja tudo a correr bem. Obrigada por não teres ainda desistido de acompanhar esta escritora maluca.

Caah Potter: Oi Caah. Seria uma boa ideia trazer o Kingsley de volta como Inferi mas não, não vou fazê-lo. Kingsley morreu de facto. A morte dele foi necessária, já que, para controlar o Ministério, Voldemort tinha de ter controle sobre o Ministro indicado pela comunidade mágica. E digamos que, Kingsley não é corruptível. Quanto à tua pergunta sobre o objecto, já tiveste a tua resposta neste capítulo :-) Pois… eu também odeio profecias. Mas o que seria o mundo mágico sem profecias? Rs.

Lightmagid: Mana!!!! *abraça apertado* Fiquei sem palavras ao ler os teus comentários. Claro, só tu podias começar a amar um capítulo logo ao ler o título, que se mostrou ser um tanto, por assim dizer, psicopata. 11 de Maio… e já foi há um ano que eu oficializei a profecia. No ano passado dei a conhecer ao mundo a existência da Helena e neste ano dei o mundo a conhecer a Helena. Ai, como eu sei o que estás a sentir, em relação à personagem Helena *olhos brilhantes* E quanto a tomar conta da pequerrucha, bem… para não cair no erro de dizer alguma coisa que não devo, digo-te apenas que pensarei no teu pedido com carinho. Será que consigo surpreender-te? Parece-me complicado. Primeiro porque és a minha melhor amiga e conheces-me como ninguém, segundo porque tens aquela imaginação incrível que nunca mais acaba (não te atrevas a negar) e, por último, porque és minha beta, minha conselheira e tu sabes o quão importante a tua opinião é para mim. Até porque eu não posto jamais um capítulo, sem a tua aprovação. Estou a ver que tu e a Dany se podem unir na nostalgia do final da fic. Tu sabes… ainda tens uns mesitos até ao último capitulo, rs. Quem sabes eu ofereça o capítulo final à própria fic, como comemoração do seu segundo aniversário, lol. Ah… e, POR FAVOR, não me deixes tanto tempo à espera do teu comentário *olhar pidão* Tu sabes que eu AMO ler os teus comentários. E agora… TOCA A ESCREVER!!!! Eu ainda quero ler qualquer coisa antes da “hibernação”.

Thalita Giannaccini Antonio Felisberto: Obrigada pelo comentário, Thalita! Quase pulei de alegria quando passei agora pela Floreios para actualizar e vi que tinha comentários novos! xD E prontos, cá está o 34 novinho em folha.

Camilla Victer: Pois é =D! Já tínhamos confessado uma à outra as nossas aventuras “molhadas”: tu a ler e eu a escrever. Espero voltar a falar contigo em breve e da próxima vez, quem sabe, já como tua conselheira.

E prontos… despeço-me então até ao próximo capítulo, pedindo, mais uma vez, com todo o fervor, que comentem. Se não se sentirem à vontade para deixarem um comentário aqui, podem fazê-lo por email, o qual apenas eu irei ler :-) Já sabem: [email protected]

Um beijo grande,
Guida.

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