Desafios em Campo



Capítulo 30 – Desafios em Campo



Uma aparente tranquilidade regressou ao castelo de Hogwarts, trazendo consigo um sentimento de segurança a quase todos os alunos da escola. Apesar do recente ataque a Hogsmead, a vida de todos tinha recuperado a sua normalidade e as habituais conversas voltaram aos assuntos banais, próprios de cada faixa etária. Os primeiros dias de Abril tinham-se revestido de harmonia, cores e odores que cobriam os jardins de Hogwarts, juntamente com a Primavera que chegara. Mas não demorou mais do que dois ou três dias para que as habituais chuvas de Abril se fizessem sentir por toda a Europa. O tempo parecia piorar na mesma medida em que piorava o humor do único paciente da enfermaria de Poppy Pomfrey.

Sentado numa cadeira junto à sua cama, James lia o jornal que tinha abandonado mais cedo naquele dia, cada vez mais frustrado por estar trancando numa enfermaria, enquanto todos os agentes da Ordem da Fénix, ou quase todos, tinham sido movidos para missões de alto risco. O Profeta Diário relatava, todos os dias, ataques em vários pontos do país, desaparecimentos de pessoas sem nenhuma pista para seguir, furacões que assolavam vilas inteiras, deixando dezenas de famílias desalojadas e apenas com a roupa do corpo. Para contrariar todo este clima de caos, o Ministério da Magia continuava a associar todos estes acontecimentos a fenómenos naturais ou a actos terroristas levados a cabo por Muggles. A última conversa com Harry e a recente descoberta de uma nova profecia também não ajudavam muito.

A única parte divertida daquilo tudo, para James, era os trinta minutos em que tiveram de segurar Lily para que ela não saísse pela porta para espancar a professora de Adivinhação. Por uns momentos, James pensou se não tinham trocado a sua Lily pela outra Lily adolescente que andava a passear pelo castelo.

A porta da enfermaria abriu-se lentamente, fazendo pouco barulho, mas o suficiente para captar a atenção de James. Este desviou o seu olhar por cima do jornal para descobrir a identidade do recém-chegado, esperando encontrar Harry, numa visita ilegal. Mas os seus olhos abriram-se de algum espanto, e também algum aborrecimento, ao se depararem com a expressão suspeita do seu melhor amigo. Fosse o que fosse que ali estivesse a fazer, era suposto não estar lá.

Sirius olhou em redor de toda a enfermaria, soltando um suspiro de alívio ao constatar que o único ocupante era James. Em poucos segundos, o seu sorriso zombeteiro bailou nos seus lábios, mas…

- Despeja! Porque é que foste expulso de casa desta vez?

O sorriso de Sirius esmoreceu rapidamente, perante a rapidez da pergunta de James. Este encarava o melhor amigo com um leve ar de aborrecimento, mas os seus olhos começavam a brilhar de divertimento. Após alguns minutos a observarem-se em silêncio, Sirius abriu a boca para falar, inchando o peito numa atitude de segurança, mas apenas conseguiu gaguejar.

- O que te leva a pensar… que… que… – Sirius voltou a olhar em volta e baixou a voz num sussurro – … que eu tenha sido… expulso?

A última palavra foi dita tão baixo que James teve dificuldade em ouvir, mesmo estando a poucos metros do amigo. Sirius coçou a cabeça, num gesto de nervosismo e fez uma expressão ansiosa.

- Eu não fui propriamente expulso… apenas fui convidado a dormir em Grimmauld Place por alguns dias!

James soltou uma gargalhada de gozo. Colocando o jornal de lado, levantou-se da sua cadeira e sentou-se na cama, mais perto de Sirius, colocando uma mão no seu ombro.

- Sirius, eu sabia que essa cara de cachorro sem dono só podia ter um nome: Marlene! – James voltou a rir perante a cara indignada de Sirius – Conta lá aqui para o teu amigo o que fizeste desta vez?

Sirius soltou um suspiro resignado e sentou-se na cama ao lado de James.

- Porque é que a culpa tem de ser sempre minha?! Eu só disse que se aquele maldito Bruce Watras, o chefe da Lena, não deixasse de me mandar sorrisinhos trocistas, como se soubesse algo de que eu não sei, eu ia fazer jus ao meu título de Maroto.

- Sei… – James confirmava com a cabeça, mantendo-se sério, mas os seus lábios começavam a contorcer-se – … só fizeste isso?!

- Vá lá, James, achas que eu era capaz de fazer mais alguma coisa? – James soergueu as sobrancelhas – Ok, não precisas responder! Digamos que não me consegui controlar e, quando reparei, ele estava deitado na cama da Ala de Acidentes Mágicos… com menos um olho e o restante tinha, acidentalmente, mudado para o outro lado da cabeça. Pelo menos assim terá de se esforçar mais um pouquinho para mirar a MINHA Marlene!

Agora James não se conseguia conter mais. Uma risada escapou-se-lhe dos lábios sem que ele pudesse controlar.

- Sirius, meu amigo… estou orgulhoso de ti. – Agora James limpava uma falsa lágrima. – Eu sabia que o bom e velho Padfoot andava por aí algures!

- Ah ah ah! Eu queria ver se fosse a Lily quem estivesse a ser paqueirada por outro auror.

- Isso não vai acontecer, Padfoot! Todos no quartel-general sabem que não devem atiçar a minha ira!

- MAS O QUE É ISTO?!

Os dois Marotos voltaram-se rapidamente para se depararem com um enfermeira furiosa. Poppy tinha o cabelo todo desgrenhado e enrolava-se no seu robe, enquanto os seus olhos inchados do sono lançavam perigosas faíscas na direcção dos dois.

- SIRIUS BLACK E JAMES POTTER! Isto é uma enfermaria e são TRÊS DA MANHÃ! O que os dois senhores pensam que estão a fazer na minha enfermaria? Pensam que isto é o dormitório de Gryffindor, em que podem entrar e sair às horas que quiserem debaixo de um manto da invisibilidade?! JÁ PARA A CAMA!

James não ousou contrariar e, guardando rapidamente o jornal na gaveta, enfiou-se debaixo dos lençóis. Sirius apenas lançou um olhar entristecido à enfermeira, como que a suplicar que o deixasse ficar.

- FORA!

Se fosse possível imaginar um cachorro, com um olhar revoltado e, ao mesmo tempo, com os ombros caídos em sinal de desânimo, aí se terá uma visão perfeita de Sirius naquele momento. Perante um sorriso suplicante de James e uma expressão furiosa de Poppy, Sirius acenou para o melhor amigo, como quem o faz pela última vez, e saiu da enfermaria, mas não sem antes deixar uma promessa.

- James, meu amigo, eu juro que lutarei para te livrar desta torturadora, o mais rápido possível, nem que seja a última coisa que eu faça.

James podia até imaginar uma onda vermelha de fúria a emanar da enfermeira, ao ver que não conseguiria lançar uma maldição a Sirius antes que ele desaparecesse. Ela podia ser um doce, mas no que tocava a defender a tranquilidade da sua enfermaria, ela era pior do que uma leoa a defender as suas crias. Não tardou que essa onda começasse a dirigir-se para ele próprio.

- Eu que não ouça mais um pio que seja vindo desta enfermaria até ao nascer do Sol!

James observou a enfermeira desaparecer na direcção do seu quarto, ainda a resmungar contra a “falta de respeito para com os doentes” ou contra “a terrível falta de maturidade daqueles dois que não crescem nunca”. Aquela ia ser, definitivamente, uma looooonga estadia naquela enfermaria. Por uns momentos, foi como se tivesse regressado aos tempos de escola.



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Vários livros estavam espalhados em redor de Harry, todos eles sobre os mesmos assuntos: elementos e deuses Hindus. Tinha procurado em todos os lugares em que consistia o quinto elemento, quem era Indra, mas nada relacionava essas duas coisas nem poderia ajudá-lo a entender o que isso tinha a ver com Helena, ou quem quer que fosse a criança da profecia. Há horas que procurava sem parar, juntamente com a ajuda de Ron e Hermione. Esta parecia estar prestes a arrancar os cabelos, como sempre acontecia quando ela não conseguia encontrar a resposta para a sua dúvida na biblioteca.

- Acho que nunca vou encontrar nada! – Harry fechou o livro que estava a ler com força, provocando um estremecimento em Hermione – Começo a concordar com a minha mãe! Vamos silenciar de vez aquela versão humana de bola de cristal!

- Sabes o que eu acho, Harry? – Ron fechara também o seu livro e atirara-o para o centro da mesa com um estrondo, depois do qual dirigiu um olhar de desculpa para Madame Pince. – Eu acho que devias esquecer esta profecia para já, tal como Dumbledore disse. Nem todas as profecias se cumprem, não sei se sabes disso, e algumas cumprem-se apenas em parte.

- O Ron tem razão, Harry.

Ron olhou espantado para Hermione, aguardando que ela desmentisse o que acabara de dizer.

- Tenho?!

Hermione rolou os olhos e voltou a sua atenção para Harry novamente.

- O futuro é imprevisível! Não devias preocupar-te com isso agora. Deixa as coisas acontecerem e, conforme os acontecimentos chegarem, aí preocupas-te com tudo.

Harry bufou e abriu outro livro. Queria pensar como Ron e Hermione, mas simplesmente não conseguia esquecer isso. Na sua cabeça ainda pairava a promessa do seu pai de que não deixaria que essa promessa se cumprisse, mas o que não o abandonava era o olhar de desespero que vira na sua mãe quando lhe contara tudo. Era como se ela estivesse a reviver uma má memória distante.

Estava tão distraído nos seus pensamentos que não notou, por um momento sequer, que alguém o observava do outro lado da biblioteca.

Ginny não conseguia desviar o olhar daquela mesa, nem parava de pensar no que poderia estar a preocupar o namorado. Por mais que tentasse, não conseguia concentrar-se no seu estudo e o seu olhar sempre se desviava para o mesmo lugar. As suas três colegas também pareciam estar com o mesmo problema, mas estas, ao contrário de Ginny, pareciam alheias a tudo o que se passava na biblioteca. Luna parecia mais lunática do que nunca, olhando o tecto, de boca aberta e com um sorriso bobo nos lábios. Demelza desenhava coraçõezinhos no pergaminho sem parar, em vez de fazer o trabalho de poções e Danielle parecia estar a dormir de olhos abertos, olhando o nada. Como se tivessem combinado, as três soltaram um longo e profundo suspiro, fazendo Ginny acordar dos seus devaneios.

- Vamos lá saber agora! Vocês vão contar-me tudinho o que se passou nos últimos tempos para vos deixar na Lua a todas.

As três amigas encararam Ginny, que cruzara os braços na frente do peito, aguardando resposta. A verdade é que as quatro não tinham falado quase nada desde o ataque a Hogsmead, pois Ginny tinha estado quase sempre com Harry e a preocupação da ruiva distraía-a de tudo o que se passava à sua volta. Numa voz etérea, Luna começou a cantar numa língua estranha.

- Se eu tinha alguma dúvida, agora tenho a certeza! Passou-se alguma coisa que eu não sei! – Ginny estava boquiaberta. Era certo que Luna era estranha, mas há alguns dias que ela estava pior do que nunca. – Bem… relativamente à Danielle, eu sei o motivo de toda esta felicidade.

Danielle sorriu sem jeito.

- Ai… o Cedric é tão… tão… – da boca de Danielle soltou-se outro suspiro e os olhos azuis dela cintilaram como duas estrelas – … fofo! Estou apaixonada!

Demelza festejou baixinho a confissão de Danielle. O olhar de Ginny voltou-se para ela, exigindo explicações, mas Demelza não se deixou intimidar pelo olhar inquisidor da amiga. Simplesmente parou de fazer coraçõezinhos e apoiou o queixo na mão, envergando um olhar sonhador.

- O Colin pediu-me em namoro! E EU DISSE QUE SIM! – As outras três encolheram-se nos seus lugares, depois de Demelza ter gritado. Por toda a biblioteca ouviram-se protestos contra a quebra do silêncio e Madame Pince parecia fulminá-las com os olhos. Demelza corou e baixou a voz – Ele convidou-me para passar férias com a família dele, no Verão. Não é fantástico?!

Depois das habituais congratulações, todas elas se voltaram para a única que não tinha falado nada, mas Luna parecia não ter reparado nesse pormenor, pois continuou a cantar, de olhos fechados, pelo menos até Demelza lhe dar uma cotovelada e ela parar, para encará-las com uma expressão de interrogação.

- E então? Vais falar o que aconteceu?

- Falar o quê, Danielle?

Demelza levantou-se do seu lugar e posicionou-se atrás de Luna. Depois de colocar ambas as mãos na cabeça da loira, agitou-a vigorosamente.

- Hello! Tem alguém aí dentro?!

Ginny e Danielle riram baixinho, ao mesmo tempo que Luna olhava para Demelza sem perceber nada. Esta colocou as mãos na cintura e fez uma expressão irónica.

- Não me digas que estavas sobre efeito de um Strudell!

Luna abriu a cara, como se tivesse percebido finalmente.

- Um Sneazz, queres tu dizer! – Demelza bateu com a mão na testa e abanou-a negativamente, como se não acreditasse no que tinha acabado de ouvir. – Pelos sintomas é provável que haja por aí algum escondido. Mas a minha felicidade é normal, visto que o Neville me beijou e disse que estava apaixonado por mim!

Três bocas abriram-se de espanto nesse momento e Luna tinha dito aquilo como quem comenta o resultado de um jogo de Quidditch. Mal acabou de falar, voltou à sua expressão lunática e continuou a canção outra vez. As outras três amigas não puderam conter um sorrisinho entre elas e voltaram a tentar concentrar-se no seu trabalho. Havia coisas que não mudavam nunca!

A atenção de Ginny desviou-se mais uma vez para o Trio do outro lado da biblioteca. Harry cobriu a cara com as mãos, num gesto de cansaço e recostou-se para trás na cadeira. Ela sabia que estava a acontecer alguma coisa com o namorado e que algo estava a deixá-lo preocupado. A única coisa que ela queria era poder ajudá-lo… mas para isso, precisava que ele a deixasse aproximar-se. No fundo tinha a certeza do porquê de não lhe ter contado ainda, o mesmo motivo que o levara a terminar o namoro com ela um ano atrás.



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Remus assistia à cena, divertindo-se com a situação. À sua direita, Sirius tentava encontrar uma posição para se sentar, queixando-se de dores cada vez que se mexia. À sua frente, Marlene gemia baixinho, enquanto colocava um saco de gelo na testa, onde começava a aparecer uma elevação. Mais adiante, Alice fazia uma massagem nos ombros de Frank que também não parecia estar muito melhor do que Sirius e Marlene. Mais ao fundo, junto a uma das janelas da Sala Comum, Joshua Hamilton e Meg Sullivan, seus colegas do quarto ano, esparramavam-se num sofá cada um, enquanto que Deby Lewis, do quinto ano, tinha adormecido numa poltrona, depois de ter passado os últimos minutos a queixar-se que lhe doía o corpo todo.

Após queixar-se pela milésima vez, em menos de dez minutos, Sirius dirigiu um olhar fulminante para o local em que um James sorridente estudava com Lily. Estudava?! Desde quando James estudava?! Remus olhou duas e três vezes e piscou os olhos, para se certificar que não estava a sonhar. Não, James não estava a estudar… LILY estava a estudar… James estava a olhar sorrateiramente para os trabalhos de poções dela, copiando tudo o que ela escrevia. “Típico!” pensou ele, voltando a olhar para Sirius, que agora bufava.

- E eu a pensar que ele ia estar mais calmo este ano, MAS NÃO! ELE ESTÁ PIOR!

O lobisomem esforçou-se por não rir na cara de Sirius. Fazendo uma cara de desentendido, Remus decidiu aproveitar o momento.

- De quem estás a falar, Sirius?

Sirius olhou para Remus com um ar de aborrecimento. Levantando o indicador, ele apontou para James, que exibia o seu melhor sorriso maroto.

- Aquele… aquele…. CARRASCO… arrasou connosco no treino! – Sirius apontou para os outros colegas de equipa – Ele pode ser o meu melhor amigo, mas como capitão… putz… ele é mais implacável do que a McGonagall.

Remus viu que James se tinha apercebido do que Sirius tinha dito. Em vez de ficar chateado, ele parecia divertir-se ainda mais. Viu-o levantar-se e dirigir-se a ele, embora Sirius não tivesse percebido o movimento do melhor amigo.

- Ele não me parece estar tão mal quanto vocês!

- É claro que não parece! Ele é o capitão, ele manda! Faz o que bem lhe apetece e arrasa connosco! – Sirius bufou novamente, ao mesmo tempo que James se atirava para o lugar ao lado do melhor amigo.

- Então, Padfoot? Preparado para o treino de amanhã? Eu falei com a McGonagall e consegui que ela reservasse o campo para nós a partir das sete da manhã!

Seis pares de olhos focaram-se em James, com assombro e, mesmo Deby parecia ter acordado com a voz do seu capitão, porque levantou-se num pulo e deu vários passos apressados na direcção dos Marotos.

- O QUÊ?! – Berrou Sirius, antes que Deby pudesse dizer alguma coisa – TU ESTÁS LOUCO, JAMES EDWARD POTTER!

James fez uma carinha inocente. Aquela situação estava a divertir imenso Remus. Não era todos os dias que viam Padfoot gritar com Prongs. Cruzando os braços, recostou-se no seu lugar, para apreciar melhor a cena que decorria diante dos seus olhos.

- O que foi, Sirius? Queres ser derrotado por aquelas cobras sibilantes?! Isso nem parece teu! Tsc tsc! – James abanou negativamente, como se estivesse a repreender uma criança por uma asneira.

- Nós queremos ganhar tanto como tu, James! Mas isto é o cúmulo da exigência! – A voz de Marlene fez-se ouvir pela primeira vez – Assim vamos chegar a sábado e não vamos aguentar-nos em cima das vassouras!

- Quem é que vai cair da vassoura? – Dois animados ruivos, iguaizinhos entre si, fizeram a sua aparição, usando as vestes de Quidditch vermelhas e douradas, e arrastando as suas vassouras atrás de si.

- Nós, se o James não parar de ser um capitão chato!

- Ei! – Protestou o mesmo, atirando uma almofada a Sirius – Não és tu que tens de prestar contas à McGonagall. Quando a gente perdeu aquele primeiro jogo, no ano passado… Nossa, aquela mulher é assustadora!

Fred e George deram um sorriso de gozo entre si.

- Meu caro Padfoot! – Disse Fred colocando uma mão no ombro de Sirius – Isso deve ser de família… porque o Harry…

Fred não chegou a terminar o seu raciocínio porque um outro ruivo entrou furioso pelo buraco do retrato. Ron sentou-se com toda a força junto de Hermione, largando a vassoura no chão.

- Eu mato o Harry! Ele pode ser o meu melhor amigo, mas é o capitão mais cruel que pode existir!

Remus tentou disfarçar o riso, sem muito sucesso, quando se apercebeu que tinha ouvido aquele mesmo argumento da parte de Sirius, momentos antes. Pelos vistos, Fred tinha razão. Era mesmo de família!

James olhou presunçosamente para os seus colegas de equipa, com um ar de quem tinha a razão do seu lado.

- Estão a ver? É o dever de um capitão exigir o máximo da sua equipa!

- Mas daí a quebrá-los todos vai uma grande distância! – Disse George – Deve ser algum tipo de maldição que atinge os capitães. A Angelina Johnson era um amor de pessoa… mal virou capitã… fujam dela. Oliver Wood… esse nem comento.

- Então está decidido, não é? – Todos olhavam para James, incrédulos – Treino amanhã às sete horas da matina! – Vendo que os seus colegas de equipa estavam prestes a saltar-lhe ao pescoço, apressou-se a acrescentar. – Prontos, prontos… eu estou a brincar… o treino é só depois do almoço.

Um suspiro de alívio colectivo percorreu o salão, ao mesmo tempo em que um animado Harry arrastava atrás de si uma cansada e revoltada ruiva.

- Pessoal! – declarou ele para a equipa – Acabei de falar com o professor Lupin e o campo está disponível para nós amanhã, a partir das seis.

- Ah ah ah! – riu Ron muito alto. – Essa é boa, Harry! Quase me assustaste com a brincadeira.

Harry dirigiu um olhar confuso a Ron, para grande desespero dos outros.

- Mas eu não estou a brincar!

Quando Remus achava que o seu motivo de divertimento estava a acabar, outra discussão tinha começado, mas desta vez, dois Potters e ele próprio tinham-se juntado contra um grupo de Gryffindors a reclamar contra os capitães e, pior, contra o próprio professor de DCAT, por não ter recusado reservar o campo àquelas horas.

Era disso que ele teria saudades quando saísse de Hogwarts. Tentando não pensar no que o futuro lhe guardava, apenas se concentrou nos protestos de Ron, nas queixas de Sirius e nos lamentos de Marlene. Tudo ficaria bem um dia. Para quê preocupar-se com isso agora? Mesmo assim, era difícil imaginar como conseguiria passar tantos anos sem as brincadeiras de James, as marotices de Sirius e mesmo sem os sermões de Lily.



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Tinha chegado finalmente o dia do jogo mais aguardado do ano e ninguém queria perder a oportunidade de assistir a um jogo que, supostamente, tinha sido realizado vinte anos atrás. E depois tinha também os próprios jogadores que se tinham tornado uma lenda para as gerações seguinte. Quem nunca tinha ouvido falar dos talentos de James Potter como seeker e capitão, aquele que tinha sido cobiçado pelos maiores clubes de Quidditch, mal saíra de Hogwarts? Ou da barreira impenetrável que era Sirius Black nos aros de marcação? Já para não falar do trio fantástico de chasers Longbotton/McKinnon/Lewis. Para além disso, havia ainda uma curiosidade enorme para saber qual dos dois Potter era o melhor: se o pai, se o filho.

Um James muito ansioso remexia nervosamente o prato, sem ter comido nada ainda. Sirius, pelo contrário, estava com um apetite voraz e aproveitava para namorar com uma animada Marlene. Todos os outros jogadores não pareciam estar prestes a entrar num jogo de Quidditch e agiam normalmente, como numa habitual manhã de sábado.

Harry, sentado na frente de James, assistia divertido a uma Lily, estranhamente doce, a tentar que James comesse alguma coisa.

- Tens de comer, James! Não quero que caias da vassoura!

- Não tenho fome, Lily!

Lily, ignorou os protestos e continuou a tentar enfiar “aviõezinhos” na boca do namorado.

- Harry diz, por favor, aqui a este cobardolas que não há motivo para preocupações. Ele vai capturar aquela snitch, nem que comecem a crescer escamas no corpo do leão de Gryffindor ou que ele comece a sibilar como uma cobra.

James parecia num dilema entre ficar aborrecido por ter sido chamado de “cobardolas” ou ficar animado pela confiança que Lily tinha das suas capacidades para ganhar o jogo.

- Anima-te James! – Fred tinha entrado na conversa, dando um soco nas costas de James, quase o fazendo projectar os cereais na cara de Harry. – Não é à toa que foste considerado um dos melhores jogadores de sempre em Hogwarts. Afinal, és um dos meus ídolos. Não é Jorge?

- Sem dúvida alguma! Quem são os nossos maiores ídolos se não os grandes Marotos?! – os olhos de James brilhavam cada vez mais a cada palavra proferida pelos gémeos, mas este pareciam ter outros plano, para além de o animarem. – Pena que não vás ter o prazer de festejar uma vitória, uma última vez.

A colher cheia de cereais que fazia o caminho para a boca do seeker parou e caiu, das mãos de Lily, com um estrondo no leite. Mais ao lado, Sirius engasgou-se com a comida, recebendo logo palmadinhas nas costas por Remus, que misteriosamente tentava esconder um sorrisinho maroto.

- Como é que é? - James pousou as suas mãos na mesa perigosamente e levantou-se, envergando uma expressão determinada. – Eu recuso-me a perder contra aquelas serpentes! Não quero saber se vou mudar o futuro… MAS-EU-NÃO-VOU-PERDER-ESTE-JOGO!!!!

E dizendo isto, levantou-se e saiu, dando a leve sensação de que o chão tremia a cada passo que ele dava, tal era a força com que batia com os pés. Frank dirigiu um olhar assustado e confuso para a restante equipa, coçando a cabeça sem perceber nada.

- Alguém me pode explicar o que deu nele? Eu tinha a sensação que um dia ele iria pirar num jogo de Quidditch, mas sempre torci para que esse dia nunca chegasse.

- Pobre James! – acrescentou Fred, num falso tom choroso – Não faz a mais pequena ideia do que lhe irá acontecer!

- Mas afinal como é que vocês sabem o resultado?! – um revoltado Harry cruzava os braços na frente do peito, com uma expressão de “se não me contam tudo agora, vão fazer o triplo dos exercícios no próximo treino”. – O meu pai recusou-se a contar-me o que tinha acontecido!

- Meu caro capitão! Nós não sabemos o resultado. Apenas estamos a transmitir o que o teu padrinho…

- …aquela alma santa e caridosa… – completou Jorge, juntando as mãos, como se estivesse a orar.

- … tão disponível para nos ajudar e elucidar as nossas mentes inocentes com boas ideias para os trabalhos de cada dia, nos revelou sobre o jogo de hoje.

Harry não conseguiu conter uma expressão divertida, que se intensificou depois do olhar fulminante que Ginny dirigiu aos gémeos, fazendo-os recolherem-se de volta aos seus respectivos lugares. O resto do café da manhã decorreu sem mais problemas, talvez um pouco pelo facto de James ter desaparecido durante o resto do tempo e de Sirius ter perdido, estranhamente, o apetite e parecer ter perdido a língua.

Quando chegou a hora do jogo, a porta principal do castelo abriu-se de par em par e o estádio foi invadido por centenas de alunos, envergando cachecóis e bandeiras das equipas pela qual torciam. O célebre leão de Gryffindor de Luna rugia no centro da bancada de Ravenclaw, acompanhado por um coro de “Para Gryffindor cantar é lei, Potter é o nosso rei” entoado, de uma forma um tanto desafinada, e acompanhada de uma desastrosa coreografia, pelos irmãos Weasley, enquanto uma envergonhada Hermione, cobria a cara, e Harry ria às gargalhadas das tentativas desesperadas de Ron acompanhar Ginny.

- Vejo que estão animados. – disse uma voz um tanto divertida atrás de Harry. – Bem me parecia que já tinha ouvido esta música, quando a cantaram no primeiro jogo deste ano.

- Oh… parece que uma determinada enfermeira cedeu, finalmente, aos desejos do seu paciente. Tens de me ensinar o teu truque.

- Goza, goza bem. – James mostrou a língua ao filho, enquanto ocupava o lugar ao lado deste. – Ela é aterradora. Acho que já me tinha esquecido disso.

Uns segundos de silêncio reinaram entre os dois, apenas preenchidos pelas notas de música que chegavam aos seus ouvidos bastante distorcidas.

- Vais contar-me?!

- Contar-te o quê? – perguntou James com uma cara de desentendimento.

- Ganharam ou perderam?

- É neste momentos que eu desejaria que não fosses tão parecido com a tua mãe, em certos aspectos da personalidade. Curto e grosso!

- Não tentes enrolar!

- Eu não estou a enrolar.

- Então porque é que não falas?

- Bolas! Porque é que não esperas para saber? Só faltam umas quatro horas para terminar o jogo!

- QUATRO HORAS?! – os olhos de Harry abriram-se em choque – Ninguém apanhou a snitch durante todo esse tempo? Pelas barbas de Merlin! Mas porque raios…

Antes que James tivesse tempo de encontrar uma desculpa para não falar nada, a entrada das equipas em campo salvou-o. A voz de Zacharias Smith ecoou por todo o estádio, anunciando que o jogo estava prestes a começar.

- E ENTRAM AS EQUIPAS EM CAMPO. GRYFFINDORS SÃO LIDERADOS POR POTTER, QUE JOGA COMO SEEKER, SEGUIDO DE LONGBOTTOM, MCKINNON E LEWIS COMO CHASERS, HAMILTON E SULLIVAN COMO BEATERS E SIRIUS BLACK COMO KEEPER.

Uma forte ovação seguiu-se à apresentação da equipa dos leões. James voou na frente, posicionando-se junto de Madame Hooch. A equipa de Slytherin entrou logo de seguida, com Malfoy na liderança. Assim que todos os jogadores se posicionaram, as bludgers foram libertadas e a snitch voou em torno de James e Lucius, antes de desaparecer da vista de todos.

- MADAME HOOCH APITA PARA O INÍCIO DA PARTIDA. E A QUAFFLE PASSA IMEDIATAMENTE PARA AS MÃOS DE MCKINNON.

Marlene, numa rápida troca de passes com Frank, aproximou-se rapidamente dos aros de Slytherin. Num último passe para Deby, o placar subiu para 10-0, acompanhado de uma forte ovação.

- A BOLA ESTÁ NAS MÃOS DE NOTT, ELE FINTA LEWIS, PASSA PARA WARRINGTON ELE VAI ATIRAR, VAI MARCAR… NÃO MARCOU! BLACK DESVIOU-SE DE UMA BLUDGER LANÇADA POR AVERY E DEFENDE O LANÇAMENTO DE WARRINGTON.

Não demorou para que Frank pegasse na bola e, com um único passe, entregou a bola a Marlene, no outro lado do campo, que logo aumentou o placar para 20-0. Em poucos minutos, Gryffindor marcou mais 30 pontos, enquanto Slytherin continuava em zero. Após a sua sétima defesa, Sirius começou a lançar sorrisinhos trocistas e a fazer uma estranha “dança da vitória”, para irritar os adversários.

O jogo foi decorrendo normalmente. Passada a primeira hora de jogo, nenhuma das equipas parecia ter grande vantagem sobre a outra, em termos de eficácia, mas Gryffindor conseguia manter a superioridade numérica, graças a Sirius, que parecia mais empenhado do que nunca em não deixar que a quaffle atravessasse o seu território.

A disputa entre James e Malfoy também ainda não tinha começado. A snitch não aparecera ainda e os dois observavam apenas o jogo que decorria. Foi apenas no passar da segunda hora, quando Gryffindor ganhava 170-60, que a bolinha dourada apareceu pela primeira vez. Como era normal, assim que os dois seekers entraram numa corrida desesperada pela snitch, todos no estádio sustiveram a respiração.

- DEPOIS DE DUAS HORAS, A SNITCH APARECEU FINALMENTE. POTTER E MALFOY DISPUTAM A VITÓRIA. MALFOY VAI NA FRENTE, MAS POTTER ESTÁ LOGO NO SEU ENCALÇO. POTTER ALCANÇA-O, MAS… OHHH!

Fortes assobios e protestos foram ouvidos quando Malfoy deu uma cotovelada nas costelas de James, fazendo perder alguns metros de distância. O tempo que James tinha perdido fora precioso e Malfoy estava prestes a agarrar a snitch, mas uma forte blugder lançada por Meg Sullivan desviou-o do seu caminho. A bola tinha desaparecido outra vez.



***



Em cima da sua vassoura, James ainda se contorcia com dores, jurando a si mesmo que ia amaldiçoar Malfoy para o resto dos seus dias se lhe tivesse quebrado alguma costela. Olhando para a bancada viu uns olhos intensamente verdes a fitarem-no preocupado. Momentaneamente teve vontade de sorrir. Era a primeira vez, num jogo de Quidditch, que não recebia um olhar de desprezo da parte de Lily.

James precisou desviar-se quando ouviu um zumbido na sua direcção. Agora sim, os Slytherins começariam a jogar sujo. As suas expressões irritadas diziam tudo e o efeito foi logo sentido. O primeiro a sofrer foi Sirius, quando os dois beaters de Slytherin executaram uma Dopplebeater Defence*, atingindo o keeper no estômago com toda a força, quando este não se encontrava numa defesa.

As entranhas de James contorceram-se, mas antes que a sua fúria explodisse, pediu tempo. Ao chegar ao chão, deparou-se com uma cena que nunca imaginou que veria. Marlene debruçava-se sobre o namorado, que estava inclinado para o chão, com um ligeiro tom esverdeado. Se a situação não envolvesse o seu melhor amigo ter sido atacado, James até que acharia piada à situação. Não era todos os dias que se via Sirius Black com uma face enjoada.

- Eu sabia que não devia ter comido tanto no café da manhã. O meu estômago está revoltado! Quando eu apanhar aqueles dois…

A sua frase foi interrompida por um vómito que ameaçou despejar tudo o que tinha ingerido mais cedo.

- James, acho que ele não está em condições de continuar!

- Nem digas isso, Lena! Quem defenderia os aros?! – Sirius respirou fundo, encarando James, com mais confiança. – Eu não vou dar o gostinho àquelas serpentes. Eles vão arrepender-se de desafiarem Sirius Black!

- É assim que se fala, Sirius! – festejou Deby, dando um soco amigável no braço do keeper, tão amigável que o fez massajar o local atingido durante o resto do intervalo. – Vamos acabar com eles!

O ânimo dos colegas de equipa estava no seu expoente máximo. Mesmo Sirius parecia miraculosamente recuperado e envergava o seu habitual sorriso de desafio. Dando as últimas instruções, James decidiu que estava na hora de dar a lição que pretendia nos seus principais inimigos.

Não demorou nem 20 segundos, após o apito, Frank agarrou a quaffle e, fingindo que ia passar a Marlene, enganou os adversários, desviando-se com toda a facilidade, para marcar mais um ponto. Avery recuperou a bola e lançou-a para Nott, este, quando ia rematar, atirou-a de volta para Avery que marcou ponto, deixando Sirius um tanto irritado, por ter sofrido mais um ponto.

- PARECE QUE O ATAQUE QUE SOFREU ESTÁ A AFECTAR O MOVIMENTOS DE BLACK, QUE COMEÇA A COMETER FALHAS. – os assobios de Gryffindor foram a resposta ao comentário de Zacharias e, na bancada, um James demasiado sorridente, divertia-se com a expressão de desagrado que o keeper dos Gryffindor fizera – E A QUAFFLE ESTÁ NA POSSE DE NOTT, ELE É RODEADO POR LONGBOTTOM E LEWIS, MCKINNON VOA NA DIRECÇÃO DELE E TIRA-LHE A QUAFFLE**. JOGADA SENSACIONAL DOS CHASERS DE GRYFFINDOR.

James tinha passado horas a massacrá-los com esta jogada. A verdade é que não era fácil executá-la com jogadores agressivos como eram os Slytherins, mas tinha saído melhor do que tinha programado. O público parecia em êxtase e começavam a festejar cada jogada e, cada vez mais. Mas ninguém, ou quase ninguém, esperava que tantas horas fossem passar-se até ao final da partida.

Ao fim das 3 horas e meia de jogo, já todos começavam a ficar cansados. Os Slytherins faziam de tudo para deitar os adversários da vassoura, mas Meg e Joshua defendiam a equipa, das bludgers, na perfeição. Ainda assim, era impossível evitar os ataques físicos directos. Depois de muitas faltas, muitas penalidades cometidas, de Frank ter levado um soco no olho e de Meg estar a sangrar pelo nariz, James foi obrigado a pedir tempo novamente.

Apesar de estarem a ganhar, por 320-180, o cansaço já não os deixava fazer as jogadas na perfeição, tal como tinha treinado. James começava a dar razão às palavras de Marlene, dias atrás, de que, por aquele andar, alguém iria cair da vassoura.

- James, precisas apanhar aquela snitch o mais rápido possível! Nenhum de nós aguenta mais uma hora de jogo! – suplicou Meg, com uma voz nasalada devido ao nariz quebrado, por um bastão de um beater da equipa adversária. Madame Pomfrey tentava em vão parar a hemorragia, já que, devido à fúria que a beater sentia, mais sangue escorria e mais irritada a enfermeira ficava.

Frank apertava um saco de gelo contra o olho, mas o inchaço crescia cada vez mais. Sirius tinha despejado finalmente tudo o que tinha no estômago e encostava-se no ombro de Marlene que bufava de raiva. Joshua, não fosse todo o barulho em volta, teria adormecido no banco, durante o período de pausa, tal era o cansaço que sentia. Nem Deby, que por natureza era energética e eléctrica, conseguia mais aguentar-se em pé. O mesmo desespero que era perceptível na voz de Meg era visível nos outros de todos os outros.

- Não há nada que eu possa fazer, Meg. Aquela maldita bola parece enfeitiçada! Não a consigo avistar em lado nenhum. – explodiu o moreno, sobressaltando Joshua que acabara de fechar os olhos.

- James… - começou Sirius, levantando-se no lugar e colocando a mão no ombro do amigo - ... lembraste das horas que passaste a treinar uma determinada jogada no Verão passado e dos ossos que quebraste para conseguires pô-la em prática?

- Sirius, não estou a gostar a tua expressão! – disse Marlene ao observar o sorriso maroto que o namorado lançava na direcção do capitão.

Mas James pareceu compreender perfeitamente o que o melhor amigo queria dizer, pois retribui o sorriso que alternava entre maroto e malvado.

- Arrasa com ele, Prongs!



******************



Na bancada de Gryffindor, apenas os gémeos Weasley continuavam a gritar com toda a energia. De tempos a tempos, apenas se ouvia um gritinho de Lily, que se desesperava sempre que via um amigo ser ferido ou James a fazer uma jogada particularmente perigosa.

Harry contava mentalmente o tempo que faltava para o final do jogo. Pelas suas contas não deveria faltar mais do que 5 minutos, pelo que, finalmente, iria saber o resultado do jogo, que o seu pai tanto se esforçava por esconder. A pontuação estava em 370-250 e Sirius tinha sofrido mais pontos nesses últimos minutos do que nas últimas duas horas. Naquele momento, quem apanhasse a snitch venceria o jogo.

Enquanto observava mais uma jogada de Marlene, em que marcava mais um ponto, ouviu mais um gritinho de Lily. Não tardou que percebesse a razão do desespero e Zacharias também percebera.

- PARECE QUE POTTER AVISTOU A SNITCH. MALFOY VAI LOGO ATRÁS E ELES DIRIGEM-SE A TODA A VELOCIDADE NA DIRECÇÃO DO CHÃO. MAS ONDE ESTÁ A SNITCH?! EU NÃO CONSIGO VÊ-LA.

Zacharias calou-se naquele momento, assim como todo o estádio. Mesmo os próprios jogadores tinham parado as suas jogadas. Faltavam poucos metros para atingirem o chão. Se não abrandassem, iriam colidir. Pelo canto de olho, viu Lily apertar com força a mão de Alice e esbugalhar os olhos de medo. Mas no último momento, James desviou-se do chão e vou a toda a velocidade noutra direcção, onde um pequeno ponto de luz brilhava com a luz do sol. Malfoy, apesar de ter abrandado, não conseguiu evitar o contacto com o chão e teve de saltar da vassoura. Todo o silêncio foi logo quebrado pelos festejos da bancada vermelha e dourada e pela voz do comentador.

- GRYFFINDOR VENCE POR 530-250! DEPOIS DE UMA FANTÁSTICA FINTA WRONSKI, POTTER APANHA A SNITCH DOURADA! FANTÁSTICA JOGADA DO SEEKER DE GRYFFINDOR!

Harry olhou de lado para o pai, que envergava um sorriso convencido. Sentindo-se observado, James cruzou os braços e encarou Harry, como que o desafiando para falar o que estava a pensar.

- Exibicionista! – protestou Harry, num falso tom de ressentimento.

- Invejoso!

- Eu não sou invejoso! Eu também posso fazer uma finta Wronski – vendo o ar trocista do pai, apressou-se a acrescentar – Queres que te prove?

- É melhor não… a tua mãe provavelmente mata-me antes do final do próximo jogo, se souber que eu te incentivei a fazer essa jogada.

- Estás com medo?

- Do quê? Da tua mãe?

- Não! Que eu o faça melhor do que tu.

James fixou o seu olhar em Harry, sentindo o impacto do desafio no ar. A expressão de Harry, as palavras do seu “júnior” fizerem o sorriso que estivera em seu rosto desaparecer para ser, rapidamente, substituído por uma expressão de assombro. Ele não teria coragem, pois não? Pois não?

- É impressão minha ou estás a desafiar-me para um jogo?

- Eu? Que ideia! – A sombra de inocência no tom de voz do filho, não passou disso: de uma sombra. James conhecia Harry, tal como conhecia a sua própria tendência para ser um “lobo em pele de cordeiro” – Mas aquele campo de Quidditch que pretendes construir em Godric Hollow, tem de ser usado, não?

James revirou os olhos. Mas algo na sua face mudou. Os seus lábios rasgaram-se num sorriso e os olhos brilharam intensamente. Naquele momento, a alma Marota de James estava de volta e o velho Prongs iria entrar em acção. Harry iria, finalmente, conhecer o significado da frase: James Potter vive para desafios!



***********


- Este foi sem dúvida o melhor jogo que tivemos até hoje! – dizia uma extasiada Meg, em conversa com o seu colega de equipa Joshua, pelo corredor que levava aos vestiários do campo de Quidditch.

- Sem dúvida alguma! Tenho de dar o mérito a James! E eu a reclamar dos treinos intensos.

- E aquela finta que ele fez? Fenomenal! Nunca tinha visto ninguém a fazê-lo.

Depois de vários minutos a festejar, a equipa de Quidditch finalmente viu-se obrigada a se recolher aos vestiários, para poder transferir a festa para a Sala Comum de Gryffindor. À frente, James ainda pulava abraçado a Sirius, que parecia completamente recuperado do jogo.

Mas os pulos de alegria e os festejos cessaram na porta do vestiários, quando se depararam com toda a equipa de Slytherin a ladear a passagem, com Lucius Malfoy na frente, de braços cruzados. Porém, nenhum dos sorrisos de modificou, com excepção, talvez, de James, que sorriu ainda mais, mas desta vez de escárnio. Ao ver o principal adversário, Malfoy deu um passo na direcção dele, aproximando-se perigosamente.

- Podes festejar, Potter. Mas todos aqui sabem que não mereceste ganhar!

- Desculpa? – o sorriso de James parecia aumentar cada vez mais. – Nós ganhamos, por uma boa diferença de pontos, eu apanhei a snitch, depois de um Finta Wronski que toda a gente está a comentar. Não, Malfoy… eu mereci ganhar sim. Parece que afinal, em cima da vassoura, eu sou o melhor, não é?

Os olhos de Malfoy semicerraram-se perigosamente.

- Podes ter ganho, mas eu continuo a ser o melhor jogador desta escola. Eu faço parte deste estádio!

- Eu admito, pessoal, ele tem o melhor argumento! – disse James para a equipa, que tentava abafar as gargalhadas. Voltando-se para Malfoy acrescentou – É pena que mais ninguém concorde contigo.

Antes que Lucius pudesse revidar, Madame Hooch apareceu ao fundo do corredor, com o seu rosto austero, na sua habitual posição com as mãos na cintura.

- Algum problema aqui?! – perguntou ela para os capitães.

- Não, Professora, apenas estava… a dar os parabéns à equipa. – a voz do loiro saiu carregada de pura ironia.

- Acho bem, senhor Malfoy, porque isto é desporto. E no desporto há que saber ganhar e, principalmente, saber perder. A propósito, Potter, grande jogada!

A expressão de Malfoy não podia ser mais azeda e a de James não podia ser mais triunfante.

- Obrigado, Professora!

- Eu sempre soube que tinhas talento!

Dando um sorriso de satisfação, a professora entrou no seu próprio gabinete, deixando sozinhos os jogadores das respectivas equipas. Foi a deixa de James para entrar no vestiário. No entanto, mal virou costas, sentiu um forte impacto nas costas, que o atirou contra Frank, caindo ambos no chão. Levantando-se rapidamente, sentiu algo escorrer pelo canto da sua boca, que rapidamente verificou ser sangue. Agora sim, o Maroto estava irritado. Com a mão limpou o sangue e encarou de frente, com uma expressão demasiado séria, Malfoy, que ainda apontava a varinha.

- A atacar o inimigo pelas costas, Malfoy? Eu chamo a isso cobardia.

- Eu chamo a isso saber aproveitar uma oportunidade. E isso define os bons feiticeiros dos maus.

Aquele olhar… aquele brilho tinha aparecido em James também. Mais uma vez, os seus lábios contorceram-se num sorriso irónico.

- Oh… aproveitar uma oportunidade! Acho que também sei fazer isso.

E mais uma vez, James Potter iria mostrar que vivia para desafios.



*********



Mais tarde, na Sala Comum de Gryffindor, a festa decorria animada, com o patrocínio dos Marotos e gémeos Weasley (ou seja, abastecimento da Doces e Duques). James contava, pela trigésima vez como tinha capturado a snitch, quando sentiu alguém dar-lhe uma palmada no ombro.

- Parabéns, James! Aquela jogada foi fantástica!

- Obrigado, Harry! – o olhar de James não podia ser mais sonhador. – Devo dizer que este foi o melhor jogo da minha vida. Nunca me diverti tanto e nunca o resultado final me satisfez tanto.

Harry encarou o “mini-pai” com um ar ligeiramente desconfiado.

- Porque é que eu tenho a sensação de que há mais por detrás das tuas palavras do que o jogo de Quidditch?

A única resposta de James foi a sua famosa expressão Marota.



********************



Minerva McGonagall sempre gostou de Quidditch e o lugar de Hogwarts que mais gostava era precisamente o campo em que decorriam os jogos. Horas depois do jogo, ela não conseguia abandonar aquele lugar, sabendo que ali decorrera um dos melhores jogos a que tivera o prazer de assistir. Não era de admirar o talento inato que Harry mostrara no seu primeiro voo. Devia ser algo que lhe estava no sangue.

Estava prestes a sair daquele lugar, quando um pequeno pormenor captou a sua atenção… algo que não condizia ali. Amarrado num dos aros de marcação, ela avistou um aluno, ainda com as vestes de Quidditch vestidas… vestes de Slytherin, notou ela. Aproximando-se um pouco mais, ela conseguiu perceber uns longos cabelos platinados, que não deixavam dúvidas sobre a quem pertenciam.

Lucius Malfoy estava amarrado no aro, como se fossem um só. Foram precisos apenas dois segundos para que McGonagall percebesse o que tinha acontecido ali… dois segundos que culminaram numa poderosa manifestação, que iria chamar a atenção de muitos… mas em especial de uma pessoa.

- JAMES POTTEEEEEER! DETENÇÃO!





* Em “Quidditch através dos Tempos”, Dopplebeater Defence, é uma jogada em que dois beaters atingem uma única bludger ao mesmo tempo, para conseguir um golpe muito mais forte e perigoso.

** Também em “Quidditch através dos Tempos”: jogada Parkin’s Pincer, em que os dois chasers ladeiam um chasers adversário, semelhante a uma pinça, enquanto o terceiro voa direito a ele.



**********************************

*extremamente envergonhada*

Eu sei que não mereço perdão por ter demorado tanto tempo! O meu principal argumento (e bastante válido, na minha opinião) é a faculdade! Culpem o meu curso, os meus professores (que me sobrecarregaram de trabalhos), culpem as minhas provas de final de semestre (para as quais ainda tenho o estudo todo atrasado), culpem a minha inspiração (que se evaporou), culpem a minha vontade de escrever (que andou pelas terras do Além durante meses) e, por fim, culpem-me a mim… escritora malvada, malvada, malvada! *risos*

Este é o capítulo que eu mais medo tive de postar. Enquanto o escrevia, parecia que já nem sabia escrever. Tive de puxar tudo a “saca-rolhas”. Portanto, é provável que esteja num nível muito inferior aos anteriores. *Guida fecha os olhos, esperando chingamentos*

Então, este capítulo é para:

- DEBYYYYYYY: minha sobrinha linda que vai viajar e de quem eu vou ter saudades! TUDO DE BOM, DEBY! Adoro-te!

- Neptuno¬_Avista: que me pediu um presente de aniversário em Setembro, ao que eu respondi: “Nossa! Espero ter escrito muito capítulos até lá!” Agora contem quantos capítulos eu escrevi desde aí. FELIZ ANIVERSÁRIO, MINHA MAIS ANTIGA AMEAÇADORA! Cá está o presente prometido! E a Lightmagid pediu para mandar, também, os parabéns e um beijo muito grande.

- A minha beta, linda, maravilhosa, a melhor maninha e amiga do mundo, minha fonte inesgotável de inspiração e boas ideias. Muahahaha! O que seria de mim sem ti, Lightinha! ADORO-TE!

- E todos vocês, que me acompanham e que tiveram de aguentar tantos meses sem notícias minhas.


E agora as respostas a alguns comentários ao capítulo anterior:

Deby: Boa viagem, minha linda!!!! Espero que tenhas gostado do presente de despedida! Ah… quanto às referências sobre Anúbis, procurei em enciclopédias minhas e em sites da Internet. Mas se quiseres saber mais, é só perguntar.

Biank Potter: A vontade de me matar persiste?! Vou cruzar os dedos para que não, já que agora postei um capítulo e não “notícias”, he he he!

Mandy Black: *Guida a esconder-se por detrás do véu do ministério* Como eu dei notícias e agora postei, acho que posso aparecer sem correr o risco de levar com o Avada Kedabra, não? rsrs

Neptuno_avista: Hehe! A minha ameaçadora arranjou aliadas! Preciso de ter cuidado! Gostaste do presente?

Ina Clara Evans Potter Já disse que adorei o teu “ATUALIZA”?! Não precisas cumprir a ameaça, rs.

Mel Evans: Actualizei! Vou tentar fazê-lo com mais frequência.

Alícia Spinnet: junto-me a ti, na luta por actualizações de Magids!

**júh**: actualizei!!!!

Camilla Victer: eu sei que já lá vai muito tempo, mas obrigada pelos parabéns para a fic :-D

Maria Lucinda Carvalho de Oliveira: Oi oi…respondendo à tua pergunta, o Magids está andando! O pobrezinho do Gabriel tem imenso trabalho para fazer e o site teve de ficar para segundo plano. Mas ele garante que está pronto ainda este ano. Também se não estiver, eu mesma trato de o matar (nem que tenha de viajar para o Brasil para o fazer pessoalmente, he he he!)

JP Pontas: Oi filhote! Não te preocupes que não estás órfão! Para responder à tua pergunta, aquela cena do James decidir antes de optar por um dos três caminhos, eu escrevi antes de ler Deathly Hallows. Qualquer semelhança com o sétimo livro foi pura coincidência.

Dri Potter Magid: eu não morri, não te preocupes, rsrs.

Mione_Granger, Karonte, Brenda_Mione: peço imeeeeensa desculpa por não ter passado ainda na vossa fic. Vou tentar ir lá nos próximos dias.

Madalena: o trecho no orkut foi só para assustar… eu não sou tãaaaaao má assim para os meus personagens, rsrs. Não acredites em tudo o que dizem sobre mim, he he he!

Ricardo: não sei quando vou terminar, mas talvez ainda mais uns meses.

Palizinha: obrigada pela dica do erro no capítulo 28. Sinceramente passou-me mesmo ao lado.

lightmagid: ah ah ah, com que então a senhora anda a acabar com todo o meu suspense. BETA MÁ, BETA MÁ, BETA MÁ!!! *Guida corre atrás da irmã a agitar a varinha, lançando vários Rictumsempras que a atiram ao chão e a fazem rir às gargalhadas com as cócegas* E agora…. É A TUA VEZ DE ACTUALIZAR!!!

Lord P.V.S. Black: A Lily e os Marotos estão de volta porque um dos poderes que Horus concedeu a Harry é trazer os mortos de volta à vida. Se tiveres mais alguma dúvida é só perguntar ;-D

Sheil@Potter Malfoy: AMIGAAAAAAAAAA *Pula e abraça* Fiquei feliz por saber que vais voltar à activa!!! Fico IMENSAMENTE feliz e extremamente encabulada por dizer que esta é uma das tuas fics preferidas. Nossa!!! *Guida cora e dá pulinhos de êxtase*

Expert2001: He he… se queres surra nos comensais, vais ter, rsrs, mas só mais para a frente!

Zoey Evans Black: Onde andas tu?!!! Tenho saudades do teu jeito “Black”! Buaaaaaa!!!!

Sakura Li: Também desapareceste?! *tristonha* Espero que não tenhas desistido depois de tanto tempo!

Aline Ferreira Ril: Obrigada pelo elogio! =D

_Baby__: Ainda bem que gostaste o último capítulo! Eu não seria assim tão má ao ponto de matar o Harry e o James de uma vez só! Talvez só um pouquinho má, rsrs, mas isso é outra história.

Beca Black: Fico feliz que o último capítulo tenha sido o teu preferido, porque, sem dúvida alguma, foi o que mais amei escrever, apesar de ter chorado por diversas vezes! É incrível, mas eu tenho uma tendência terrível para amar escrever cenas tristes, rsrs.

Nath Black: OBRIGAAAADAAAA! *Cora* Não sei se já disse isto, mas tenho de agradecer à Deby por me ter oferecido uma leitora maravilhosa.

Daniela Potter Magid: He he… vai ser agora que vais ter o comentário Super Hiper Mega, e como diria a Floribela (ahsuahsuahsuahs) Ri Grande resposta. Primeiro não te esqueças que sou tua mãe! Portanto, nada de maldições da morte na minha frente, se não ficas de castigo (rsrs, estou a brincar!). Mas tens razão, talvez tenhas pegado mesmo um pouco do meu lado Dark (a Light não pode ouvir isto, se não vai zuar no meu ouvido a dizer que tem razão quanto à minha maldade!). Então? Não custou muito morrer um pouquinho de curiosidade, não é? Lol, acho que depois desta vou mesmo levar com um daqueles jactos de luz verdes que nos enviam directamente para o Além. Pronto, parei! E não… chantagens emocionais não funcionam comigo! (podes sempre treinar aquela cara de ursinho abandonado do teu papis, hehehe). Nem penses que te vou deixar em testamento o meu livrinho de anotações. Nananinanão! Porque, caso contrário, eu morreria mesmo, para que lhe pudesses colocar as mãos em cima! Ok… exagerei agora. Rsrs. Eu também te adoro!

Prika Potter: Um grande OBRIGADA!!!!

Lianne Jones Potter: Tens razão, quem iria vencer o Voldemort se eu matasse o Harry? Pelo menos agora…

Cahh: Oi filhota linda! A curiosidade permanece? Rsrs…as coisas irão sendo reveladas com calma! Um pouquinho mais de paciência!

E é isso!

Até ao próximo capítulo.

Um beijo enorme,
Guida.

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