O monstro, a sombra e a gaivot



3º Capitulo
O monstro, a sombra e a gaivota

Sangue.

Para onde quer que se virasse via apenas sangue e dor. Ouvia o bater descompassado do seu coração à medida que a sua visão ia ficando enevoada. Os sons tornavam-se confusos e perigosos, mas ela já não conseguia concentrar-se no momento. Sentia-se mal e estava cansada. A sua volta nada parecia fazer sentido. Apontou a varinha em frente, tentando proteger-se de alguma maneira e lançando feitiços a torto e a direito, atingindo todos aqueles que se atravessavam no caminho. O chão rodava sobre os seus pés.

Sentiu um forte ardor na nuca e inspecionou o seu estado com a sua mão livre.

Sangue.

O sangue jorrava de todos os lados. Corpos caídos no chão, homens e mulheres fazendo os possíveis para sobreviver ao massacre, correndo, lutando, fugindo. Reconhecia algumas pessoas, colegas de trabalho, amigos da escola e pessoas que ela simplesmente conhecia de vista. Sentia o gosto do sangue na sua boca e podia vê-lo escorrer pelo seu corpo, refugiando-se nos seus cabelos ou simplesmente deslizando pelas vestes brancas, manchando- as.

Sangue.

Não, não podia parar agora. Tinha de continuar a andar. Tinha de chegar, tinha de ajudá-los. A ambos. Por piores pessoas que fossem, por mais mal que tivessem agido, continuavam a ser os seus melhores amigos. Não os abandonaria. Não fugiria, sabendo que mais tarde receberia mais um daqueles envelopes negros. Mais um. O arrependimento matá-la-ia se partisse para o refúgio da sua casa, onde sabia estar segura sobre todas as circunstâncias. Não. Se ia morrer que fosse tentando salvá-los pois enquanto continuasse a andar havia uma pequena possibilidade de viverem uma vida. Não apenas ela, remoendo-se de culpa, mas os três, recordando uma noite em que o inferno e os demónios tinham invadido e dominado.

Sangue.

Abraçou o corpo com os braços tremendo de dor. As lágrimas caíam num choro compulsivo. Que poderia ela fazer? Apenas chegar e lutar era o que tinha tido em mente até ali. Mas como se andar já se tornava um esforço para lá do que ela podia suportar? Deixou-se cair no chão sobre os joelhos, com as palmas das mãos assentes na terra imunda. Caminhava para a morte. Chegar seria o bilhete garantido para o fim.

Quando estava prestes a desistir, prestes a deixar-se ficar ali, ajoelhada, ouviu um grito. Um grito vindo de alguém que ela conhecia, que gritava por ajuda. Respirando pesadamente voltou a erguer-se. O que tinha ela a perder, afinal de contas? Os resultados do esforço de uma vida estavam lá à frente, ansiando por ajuda.

Conseguiu encontrar aqueles olhos cinzentos, tão familiares. Ouviu aquela voz fria gritando, ordenando que fugisse. Não viu muito mais, justamente quando estava prestes a agir um raio partiu em direção a ela. Um raio verde. E aqueles olhos cinzas foram o que viu pela última vez

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Gina sentou-se na cama, sufocando um grito. Passou as mãos pela testa e enterrou-as nos seus cabelos ruivos. Olhou para o peito e não se surpreendeu ao encontrar uma grande mancha vermelha no tecido branco. Agora já estava habituada àquela rotina. Todas as noites desde que voltara do Celeiro, o mesmo sonho. No princípio não passavam de imagens com pouco sentido: pessoas a fugirem, poças de sangue, corpos amontoados no chão e aquele olhar frio que a fazia tremer. Aqueles olhos cinzentos. Nas primeiras noites entrara em pânico e tivera força suficiente para gritar por ajuda. Depois os sonhos tinham-se tornados tão complexos que poderiam mesmo ser confundidos com a realidade.

Ficou deitada, observando a mancha no seu pijama. Observando- a desaparecer lentamente. No seu sonho via as coisas a partir dos olhos de uma mulher ruiva Talvez fosse uma antepassada que vivera na primeira Era Negra. Eram parecidas. Por Merlin, de que estava ela a fugir? Tinha de reconhece-la, a mulher era ela própria. Muito diferente é claro. Mais velha, mais profunda, mais forte. Quase sem vestígios da menina que ela ainda era, vivendo uma vida de sonho. Ainda assim eram a mesma pessoa. Era aquilo portanto que lhe esperava o futuro? Fechou os olhos, afastando esse pensamento. Um futuro tão negro horroriza qualquer pessoa. Enfraquecia-a apenas pôr a possibilidade daquele sonho um dia vir a ser real, acontecesse na vida dela ou de qualquer outra pessoa. Ninguém deveria desejar tal pesadelo a qualquer ser vivo.

Tremendo de frio, Gina levantou-se e sentou-se na borda da cama, abraçando o corpo com os braços. Levantou-se e caminhou até ao armário, arrepiando-se a cada passo que dava. Se não dormiria mais nessa noite, que mantivesse a sua mente ocupada. Longe daqueles pensamentos que lhe gelavam o sangue. Tirou uma caixa da prateleira, a mesma onde o tio guardava os seus "tesouros". Retirara-a do quarto dele poucos dias antes, quando a dor se tornara demasiado forte para conter as lágrimas. Cuidadosamente afastou a bonita concha e a caixa feita de areia negra que ele trouxera de uma das suas missões na África. Pegou no monte de cartas, algumas mandadas pela sua mãe ou algum dos seus irmãos e outras escritas por ela. Começou a ler a carta mais antiga, escrita por Molly Weasley, alguns meses após o nascimento da sua filha. Como sempre acontecia quando mexia naquela caixa, esforçou-se para segurar as lágrimas. Seria possível neste momento existir algo pior do que recordar-se de que não teria mais o tio ao seu lado? Como poderia ela preferir pensar na morte do tio do que no sonho que tivera? Estava a enlouquecer, era a única explicação. Deixou-se cair para trás, sobre a cama, com o monte de cartas apartado contra o seu peito.

Gina não soube o que aconteceu a seguir. Se fora do cansaço, da lembrança da dor ou de alguma poção que lhe tinham dado para dormir sem sonhos (se fora isso não se tinham visto muitos resultados). Uma coisa tomou como certo, horas mais tarde quando acordara aconchegada na sua cama e com uma caixa aos seus pés. Pela primeira vez em semanas ela adormecera para dormir um sono profundo. Sem sonhos ou outras interrupções. Durante muito tempo não soube explicar a agonia que tomou conta dela quando acordou. Para não complicar as coisas, atribui as culpas à fome e ao cansaço e esqueceu o assunto.

Não sabia ainda nessa altura que o seu destino acabara de ser traçado. Agora não havia fuga possível. Não muito longe dali uma garotinha de olhos dourados acordou com um grito, recordando-se do pesadelo que tivera nessa noite e perguntando-se quem seria a garotinha dos cabelos ruivos.

Gina levantou-se da cama e esperou alguns minutos. Ouviu o som de uma gaivota do lado de fora. O sono não a fez raciocinar direito na altura e não achou estranho ouvir uma gaivota, vivendo numa casa longe da costa. Não ouviu os gritos da mãe para que os irmãos se despachassem, nem qualquer agitação no quarto dos gémeos. Isso significava que já tinham partido. Calçou as suas pantufas cor-de-rosa, em forma de snigets. Não aguentava ficar mais um segundo na cama. Desde que soubera da morte do tio que ficara de cama com uma doença trouxa qualquer.

Vestiu o seu robe azul e arrancou a sua colcha da cama, levando-a sobre os ombros. Com uma felicidade anormal para quem estava doente num dia de chuva e vento, saltitou até à janela e observou a grande árvore do jardim balançar. O seu sorriso morreu quando voltou a lembrar-se de Draco. Não que pensar nele a pusesse triste, pelo contrário! Sentia realmente que tinha ganho um amigo para a vida naquela tarde no Celeiro. O único problema era ela não ter aparecido no encontro que ela sugerira. E apostava em como ele tinha estado lá. Sabia que ele não tinha aparecido. Se ela mal conseguira começar a escrever uma carta sem ter de imediato todos os seus irmãos à sua volta o que aconteceria se tentasse sair de casa doente e com toda a sua família de luto?

Tinha de aproveitar, agora que estava sozinha. Onde poderia encontrar algum pergaminho e tinta? Gina e os irmãos não costumavam escrever cartas. Talvez conseguisse encontrar alguma tinta preta nas coisas de Carlinhos, Gina lembrava-se de o ver sentado no jardim a escrever. Não queria entrar no quarto dos pais. Não trazia boas recordações da última vez que lá estivera.

Silenciosamente partiu em busca do que procurava. Retirou algumas folhas de pergaminho da cozinha, a mãe utilizava-as para escrever algumas receitas que ouvia na rádio. A tinta achou-a no chão do quarto de Gui, quase toda derramada no chão. Certamente tinha caído durante a saída apressada da família, minutos antes.

Suspirou. E agora? Ainda não tivera direito a uma escrivaninha no seu quarto. Na sua casa, esse era um privilégio dos adultos e dos estudantes. Ela começara a juntar algum dinheiro para a comprar sem a ajuda dos pais. Começara à seis meses e tinha apenas onze galeões. Assim não ia muito longe. Qualquer dia ia começar a roubar os irmãos, tal era a falta de dinheiro naquela casa! "Um dia destes, revolto-me" pensou, bufando. Cruzou os braços sobre o peito esquecendo-se da colcha que trazia aos ombros e deixando-a cair.

Teria de se arranjar. Poderia escrever no seu quarto sobre um livro, mas não era a mesma coisa. Ela tinha aquela mania de escrever como se fazia antes das penas independentes, ela própria escrevendo, com o trabalho da sua mão. Exclui de imediato a hipótese de escrever no quarto do tio. Excluindo também o quarto dos seus pais e o assustador quarto de Carlinhos, sobrava o quarto de Gui e Percy.

Sorrindo novamente correu pelo corredor, apanhando a colcha que deixara para trás anteriormente. Sentou-se na cadeira, sem parar sequer para olhar em volta. Pegou a pena e começou imediatamente a organizar as suas idéias e a arranjar um modo de as passar para o papel. Se não estivesse tão concentrada no seu trabalho poderia ter visto, do lado de fora da janela, uma gaivota. Uma gaivota completamente branca e com bonitos olhos azuis. Se olhasse poderia tê-la visto pousar para a observar atentamente. E poderia ter visto aqueles olhos inexplicavelmente azuis brilharem.

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- Emily se chegarmos atrasados a culpa será tua!

No andar de cima, Liza desviou os olhos da janela, irritada. Quantas vezes tinham de repetir? Nada de lhe chamarem Emily! Emily Elizabeth! Que ser vivo sofria o desgosto de se chamar Emily Elizabeth? Perguntava-se todos os dias o que teriam dado à sua mãe no dia em que ela nascera, para ela escolher tal nome.

Bufando de raiva levou as mãos à camisa e retirou-a com um puxão, arrancando com ela alguns cabelos. Depois, insensível ao frio, foi ao armário para escolher a sua roupa. Não vestiria aquele trapo azul que a sua mãe lhe comprara no Malkin's, nem que lhe pagassem! Ao fim de alguns minutos inspecionando distraidamente as inúmeras roupas que possuía, acabou por escolher uma camisola azul escura e uma saia preta. Afastou a porta e olhou-se ao espelho. Estava demasiado pesada, tinha de trocar de roupa antes de visitar os vizinhos ou passaria uma má impressão. Apanhou os seus cabelos castanhos e calçou umas botas pretas. Separou um vestido que pertencera à sua mãe, branco com pequenas flores azuis, para usar mais tarde e colocou a mala aberta em cima da cama. Agora ela faria o trabalho por si.

Sentou-se no chão, brincando com os cabelos enquanto via as suas roupas caminharem para a grande mala e dobrarem-se para se organizarem lá dentro, muito cuidadosamente.

Ouviu um grito da mãe no andar de baixo, chamando-a para ir tomar o café da manhã. Antes de descer, pôs-se diante do espelho analisando-se novamente. Ninguém diria que tinha apenas 9 anos, e acabados de fazer. Pelo menos, não assim vestida. Liza fechou os olhos e concentrou-se na construção de um sorriso perfeito e inocente, o que usava com os seus pais quando se metia em problemas. Quando abriu os olhos foi impossível não se derreter com a sua própria expressão.

- Emily!

Desmanchando o seu sorriso desceu as escadas apressadamente, na mesma altura em que uma ave branca aterrava no parapeito da sua janela.

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O quarto estava demasiado escuro para escrever. Quartos assombrados. Ninguém tinha quartos assombrados nos dias de hoje. Serviam para afugentar trouxas na Idade Média. Agora eram apenas quartos velhos, que rangiam e chiavam. Quando ele era pequeno o seu pai fechava-o ali dentro, com os fantasmas da casa. Ele gritava por ajuda. Não gostava de fantasmas, tinha medo deles. Agora era diferente. Tinha quatro anos quando o seu pai o trancara ali dentro sem comida nem água, tentando explorar a sua resistência. Após ficar três dias ali fechado tivera de arriscar e pedir ajuda aos seres que tanto temia. Morreria se não comesse alguma coisa. E descobrira ter mais em comum com aquelas criaturas do que esperava, menos do que desejava. Tinha sido feliz durante cerca de um ano. Afinal, tinha amigos, pessoas com quem falar naquele castelo. Estivessem vivas ou mortas. Fazia seis anos quando cometera o seu grande erro: mostrar alguma felicidade quando o seu pai o encerrara ali dentro, mais uma vez. Lucius nunca fora estúpido. Os dois fantasmas foram expulsos na semana seguinte, sem poderem sequer despedir-se de Draco. Perdera assim a sua primeira grande amizade. Depois fora fácil para o pai descobrir o pior castigo que lhe poderia oferecer: a solidão.
Agora passava semanas e semanas ali fechado. Tornara-se insensível. Quem não o seria ficando meses sem qualquer contato humano? Agora o seu pai já não o controlava. Podia sair de casa quando quisesse. Afinal Lucius julgava já ter construído tudo aquilo que desejara: um monstro. Um monstro tinha de ser educado a odiar. E Draco era um monstro.
Riscou o papel pela milésima vez. Estava há cerca de meia hora sentada na secretária do quarto de Gui, escrevendo e riscando sucessivamente. Escrever as cartas para Mitch tinha sempre sido mais fácil. Quando escrevia uma carta para o tio, falava com ele da mesma forma que falaria se estivessem frente a frente. Desta vez havia uma pequena diferença: ela não sabia o que dizer frente a frente.

Gina suspirou, levando as mãos à cabeça e largando a pena. Pela primeira vez, escrever não era a sua maior dificuldade. E tinha uma ideia do que queria dizer. O problema estava em escolher as palavras certas.

Ainda não passara da primeira frase e já podia ver a enorme pilha de papéis machucados, espalhados no chão em volta da cadeira. Voltou a suspirar, jogando-se sobre a cama desfeita de Gui e olhando em volta. Aquele quarto sempre fora o seu predileto em toda a casa. O quarto de Carlinhos era assustador, com as diferentes espécies de dragão estampadas na parede. O dos gémeos e o de Rony estava em constante desordem. Mas o quarto de Gui e de Percy era especial principalmente por ser partilhado por duas pessoas tão diferentes. De um lado, a organização de Percy, com os seus livros dispostos em ordem alfabética, as suas roupas organizadas por cores e toda a sua ordem. Precisamente a meio do quarto, a parede era invadida por posters de bandas bruxas e trouxas. Aí começava a metade de Gui. A roupa estava espalhada pelo chão do quarto (até à metade), virada do avesso e engelhada. A colcha dos chudley cannons que Gui havia ganhado no seu último aniversário estava aos pés da cama, escondendo os animais da semana. Gui tinha sempre algum animal debaixo da cama, até a mãe sabia disso. Dizia que era uma boa responsabilidade para ele se preparar, e como ela nunca tinha visto o mais pequeno sinal de confusão, sujidade ou desordem que pudesse ter sido causada por aqueles animaizinhos deixava-os ficar.

Foi precisamente enquanto estudava mais uma vez o estado do quarto que notou um pequeno brilho vindo da mesa-de-cabeceira, ao lado da cama. Gina sorriu. Não seria certamente o que ela pensava que era? Gui nunca teria coragem para desobedecer à mãe após ela ter ameaçado levá-lo a tomar chá com a avó. Ou teria? Afinal ela estava a falar de Gui, não de Percy. Mais uma vez a curiosidade tomou conta da pequena. Muito rapidamente pôs-se de pé e estendeu as mãos para o pequeno objeto.

- Não! Não posso fazer isto. Estou a meter-me mais uma vez em assuntos que não me dizem respeito!

Puxou as mãos rapidamente para junto do seu corpo, apertando-as contra si para se conter. Não estava certo. Ela não deveria sequer ter entrado naquele quarto. Mas pensando bem, ela saberia de qualquer forma. Se aquilo fosse o que ela estava a pensar que era, Gui não conseguiria escondê-lo por muito mais tempo. E se não fosse?

- Dane-se! Ele vai contar-me! Ele conta-me sempre tudo...Vou saber, seja por ele ou não.

Um arrepio percorreu-lhe a espinha, à medida que se lembrava do envelope preto e das palavras semelhantes que tinha dito na altura. Apercebeu-se de que estava a falar sozinha e franziu as sobrancelhas. Ambas as opções a estavam a fazer parecer ridícula, então escolheria aquela em que via o que estava em cima da mesa. Ao menos tornava-se ridícula e com a sua curiosidade saciada, uma ridícula feliz!

Tocou no pequeno objeto e nem precisou olhá-lo para ter a certeza. Sentiu- se como se a própria cobra, dona daquele dente, estivesse enrolada à volta dela. Viu-a no seu pensamento a aproximar-se da sua pele para lhe dar a mordida fatal...depois recolheu a sua mão e as imagens desvaneceram-se como névoa. Como conseguia Gui usar aquilo durante um dia seguido, se em apenas alguns segundos Gina quase morria assustada.

De alguma forma aquele episódio fê-la relaxar. Tranquila, sentou-se novamente na cadeira, ainda olhando o brinco do irmão. Debruçou-se sobre a sua carta e espantou-se, abrindo os olhos. Não sabendo como tinha acabado a carta em dois minutos. E estava perfeita.

Sem mais demora enviou-a pela coruja da família, Errol. Esta voou durante alguns minutos até estar longe o suficiente, onde os olhos de Gina não a alcançavam. Depois deixou-se ficar sobre uma árvore, enquanto um homem de olhos azuis se transformava numa gaivota e partia em direção ao Castelo dos Malfoy, com uma carta no bico.

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Por fim, Draco cansou-se de esperar. Ela não estivera lá, o que importava mais? Não tentaria contactar com ela. Se eles não tinham estado juntos na tarde passada no Celeiro, não tinha sido culpa dele. Ela não tinha aparecido. Ela tinha ficado em casa, troçando dele. Tinha percebido o que ele era, tinha desistido de tentar uma amizade. E agora ele estava sozinho novamente. Ele, o silêncio e as memórias.

Observou o papel e o texto que escrevera, apercebendo-se do quão ridículo fora. Como poderia ele sequer ter pensado que ela tinha gostado de estar com ele? Gina era tão diferente, tão especial. Era inocente e boa. Ele era um monstro. Tinha sido educado para ser um monstro. Como poderia uma menina de sete anos interessar-se por um rapaz tão asqueroso como ele? Tão indigno de receber amizade, de ser livre?

Deitou-se na cama, a cabeça apoiada nos seus braços, os olhos fechados. Todos os dias tinha estado lá, vendo-a brincar com os seus irmãos. Vira todas as brigas, todos os jogos. E como tinha inveja deles. Olhava-a de longe, da grande janela da frente onde tinham estado juntos dias antes, enquanto ela corria para o Celeiro. À medida que os meses passavam ansiava cada vez mais por um momento com ela. Um momento para lhe dizer quem ele era. Desejava tanto, ficar sozinho com ela, conhece-la. Conhecer a garotinha do vestido azul. Ouvia-a chamar pelos irmãos, via-a esconder-se deles, fugindo ou apenas brincando a um dos inúmeros jogos. Às vezes perdia- se naquela mancha azul e ficava demasiado tempo, quase sendo apanhado. E muitas tinham sido as vezes em que pensara ficar, quase ousando concretizar o seu sonho. Mas não, não podia. Meninas gentis não se dão com monstros, meninas gentis não gostam de monstros.

E aquela tarde...acontecera por acidente. Ele não pretendia ficar tanto tempo. Olhara-a lá de cima. Ela estava perto, ele tinha de ir embora. Bastava-lhe pegar na velha garrafa que sairia dali. Mas não o fez. Observara-a chegar e subir. Deixara-se levar perante aqueles olhos cheios de lágrimas. Sentira o seu coração quebrado. Ela estava mal, não podia deixá-la. Não podia deixar a sua menina do vestido azul sofrer sozinha.

E agora acabara. Aqueles poucos dias de felicidade, a ansiedade de a ver novamente. Ela não aparecera. Ele esperara, horas e horas, mas ela não aparecera. E quando se aproximara da janela, quando ousara olhar, encontrara-a. Sentada no jardim, rodeada pelos seus irmãos. Feliz. Estavam de volta. Ele o rapaz escondido na sombra, sozinho. Ela a menininha do vestido azul, feliz na sua casa com uma família que a amava.

Estava prestes a sair. Prestes a desistir, abandonar aquele quarto, virar as costas às lembranças. Mas algo chamou a sua atenção do lado de fora. Um animal, branco, aproximava-se. Uma gaivota. Primeiro estranhou ver aquele animal naquela zona. Gaivotas não voavam até àquela zona do país. Depois reparou na carta de trazia no bico. Certamente algum amigo excêntrico do seu pai que por alguma razão não usava corujas. Quando a gaivota parou no parapeito da janela, olhando para ele, quase caiu no chão, surpreendido.

Deixou-a entrar, um sorriso formando-se nos seus lábios. Conhecia todos os seres que entravam e saíam da casa de Gina Weasley. Sabia os seus nomes. Aquela gaivota não era dela. Então por que razão soubera que ela lhe escrevera assim que olhara os olhos azuis do animal? Deitou-se novamente sobre a cama, abrindo a carta. Antes de a ler, deitou um olhar à ave, esperando que partisse. Ela não o fez. Ficou parada sobre a secretária. Esperava uma resposta.

A carta era relativamente pequena. Se ele fosse o tio que a menina perdera, estaria bastante orgulhoso. Senti-a que Gina se esmerara para escrever uma carta perfeita.

Draco,

Deveria começar a minha carta com um "como estás", mas há algo mais importante e urgente a dizer. Admito que não saíste da minha cabeça desde aquela tarde à uma semana. E não sabes como me sinto culpada agora. Eu juro que tentei aparecer. Eu fiz os possíveis, mas eu tenho seis irmãos mais velhos. Não é fácil livrar-me dos seis juntos. Por Merlin! Às vezes apetece- me empacotá-los e mandá-los para os Himalaias! Draco, quero pedir-te desculpas. Eu sei que prometi ir, mas também prometi que não lhes contava nada sobre ti. Da próxima vez eu vou! E juro por Ele que vai haver uma próxima vez, porque tu tens de me perdoar!

Só estou a escrever porque fiquei sozinha em casa. Eles foram ao funeral. Ninguém me contou. Talvez eles saibam que eu já sei, mas gostaria que me tivessem contado. Eu precisava falar disso com alguém que compreendesse, mas eles têm medo de me magoar. Acham que eu sou demasiado nova para suportar uma morte, mas o mais novo dos meus irmãos tem apenas mais um ano do que eu e ele está lá! Está lá a fazer as suas despedidas enquanto eu estou aqui, sozinha. Não que eu quisesse ir, apenas gostaria que me tivessem colocado essa hipótese. O meu adeus foi feito de outra maneira.

Tenho uma coisa importante para contar, algo tão horrendo que só poderia contar a ti. Na noite passada estive no inferno. Tens de acreditar em mim, não estou a mentir! O inferno, com sangue, dor e morte. Nunca vi algo tão horrível, Draco. E tu estavas lá. E eu. Sei que reconhecia mais alguém mas não te posso dizer quem era porque também não o sei. A minha família não estava lá, graças a Merlin (só eu sei o quanto doía ver as pessoas a sofrer à minha volta sem poder ajudá-las), mas eu por alguma razão sofria por eles. Eu sentia que eles não estavam comigo Draco, e isso fez-me chorar.

Eu quero realmente ver-te de novo. Quero que me respondas.

Por favor, guarda este presente que te enviei. Não o posso ter comigo. Enquanto estiver aí, guarda-o como se tratasse do meu coração. Cuida dele.

Abraços

Gina

Draco pegou no envelope. Lá dentro encontrou o seu presente. Uma pétala de uma flor que ele conhecia. Uma flor dos campos em frente do Celeiro. Imediatamente soube que era a coisa mais preciosa que ele possuía. Era o coração da pequena ruiva.

Animado sentou-se, pronto para escrever uma resposta. Talvez, Gina gostasse de monstros. Ele gostava de ruivas.

N/A: Bem este capitulo…O que dizer sobre o capitulo que tanto me custou a escrever? Bem…Foi difícil…=P Eu sei que demorou mas aqui está. Odiei escrever este capitulo. Foi demasiado complicado, não ficou nada do que eu esperava. Mas agora que reli, até ficou bonzinho. Quanto ao titulo interpretem-no como quiserem. Acreditem que não é assim tão simples Tenho plena consciência que as personagens parecem muito mais velhas. Draco e Emily não importa, é suposto eles parecerem muito mais velhos. Mas Ginny tem de parecer ter sete anos e eu não estou a conseguir fazê-lo. Quero comentários para me ajudarem com o próximo capitulo!
Eu sei que as partes do ponto de vista de Draco e de Emily são muito pequenas, mas supostamente este é um livro escrito por Ginny. E axu que ela percebe mais o que ela faz do que o que os outros fazem.

As únicas partes que gostei foram o sonho, a parte da Emily e a parte final de Draco, com a carta e o finalzinho incluídos...adorei o finalzinho...é que gostei mesmo principalmente as duas ultimas frases.

O próximo capítulo chama-se A rapariga da casa assombrada. Já está pronto, mas não betado. E eu vou de férias no sábado, portanto só posto o capitulo dia 15 ou 16 de Agosto.

Pessoal vocês não existem! =D Adorei os vossos comentários. Os poucos que tive! Gente, se lêem postem um comentariozinho. Nem que seja pra dizer Gostei ou Odiei. Por favor, eu só tenho 7 comentários em 3 capítulos. Assim Me fica triste.

Agradecimentos

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