Capítulo III




“Enquanto tudo é feito para ser destruído,
Eu só quero que você saiba quem eu sou.”(*)


O sol caía frio e silencioso por entre os retalhos de vegetação enquanto Bellatrix Black tentava concentrar-se na tarefa de terminar suas malas.
Não conseguia evitar o desviar de olhos para dentro da passagem na lareira a cada momento. E muito menos parar de pensar no turbilhão de coisas que ocorreram durante o dia. (“– Tão bizarras essas ações... Como eu pude cair na jogatina de Sirius?”)
O que não podia admitir era que Sirius novamente havia mexido com ela, e o doce sabor do desejo incidia em sua boca pela segunda vez de um jeito mortífero, venenoso. (“– Você não o ama, deixe de se fazer de tola, Bellatrix. Ele é pequeno e além de tudo é seu primo, aquele que você odeia desde os quatorze anos de idade. Desde que...”)
“– Bellatrix” – A voz seca de sua tia chamou-lhe. – “Desça para o jantar.”
Ela jogou as últimas coisas no malão e colocou os sapatos. (“– Ótimo, tudo o que eu precisava era de mais ‘família’ agora”.)
“– Ah, sim querida, esqueci de lhe avisar” – Úrsula havia se aproximado da porta novamente – “Rodolphus está aqui para jantar conosco.”
Bella engoliu em seco e sentiu o sangue subir. “– Ah sim, obrigada titia.”
Ela esperou ouvir o barulho dos passos de Úrsula se distanciar para enfim espatifar o vasinho que teve a má sorte de cruzar o trajeto de seu olhar. (“ – Ah, sim... Tudo o que eu precisava era do Rodolphus hoje.”)

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Após frustradas tentativas de tentar falar com Tiago por meio do espelho, Sirius levantou-se da cama a qual permanecera por todo o dia praticamente. Aos seus pés, um malão vazio, meias e algumas peças de roupas espalhadas pelo chão, resultado da idéia mal-sucedida de arremessá-las e acertá-las dentro do malão.
Ficou alguns instantes parado; simplesmente olhando para o grande espelho apoiado na parede. Logo depois, se virou para a lareira e ficou a encará-la. Sabia que alguém no outro cômodo fazia o mesmo e ambos esperavam pela reação do outro.
Foi Bellatrix que passou pelo pequeno buraco em direção ao quarto de Sirius. Deparou-se com uma bagunça digna de uma criança de sete anos. Com um movimento leve e abrangente da varinha separou as roupas em grupos de limpas (que se empilharam no malão), sujas (que foram para a cesta no banheiro), deu nó nas meias, arrumou o vinco das calças e empilhou os sapatos.

“– É, nada mal.” – Sirius lhe fez um risinho de canto de boca.
“– Fazer de conta que é organizado às vezes é bom sabe...” – Ela andou até ele e estacou-se em sua frente. Olhou bem fundo em seus olhos cor de verde-vivo. “Adivinhe quem veio para o jantar?”
“– O pateta do seu noivo... Ouvi minha mãe falando.” – Não evitou o desprezo natural de quando se falava de Rodolphus.
“– Ciúmes, priminho?” – A expressão de Bella era de puro sarcasmo, mas na realidade, havia surpreendido-se com a reação de Sirius.
Sirius a agarrou pela cintura e jogou a na cama, caindo por cima e apoiando-se nas mãos.
“– Bom, até poderia ser... Mas a resposta é não. Por uma simples questão: você é minha” – Ele chegou perto do ouvido dela e sussurrou – “Eu sei que você pensa em mim quando está com ele. E sei que você vai correr pro Six aqui quando aquele galhudo cochilar.”
Ele levantou-se e olhou para ela, que ainda estava um tanto quanto desconcertada.
“– Oui, priminha, vamos ao jantar!” – Encerrando sua cena com uma saída pitoresca.

Bellatrix levantou da cama bufando. (“– QUEM ele acha que é para agir assim? E belo papel hein, Bellatrix! Nem mesmo respondeu... Deixou ele te tratar como uma... Conasse! (*)”) Olhou-se no espelho, e fez cara de desdém para os amassados do vestido. (“– Ah, como eu odeio você, Sirius Black!!” ¬¬)
Desceu as escadas com passos leves. Havia engolido os sentimentos antes mesmo de sair do quarto de Sirius. A imagem imaculada, perfeita que exibia para Rodolphus deveria sempre estar presente e ativa.
O fato na verdade era: ela o detestava, mas fora prometida à ele. A junção das famílias Black e Lestrange (in)felizmente caíra sobre os ombros de Bellatrix, a mais velha do trio Black, e também a mais desejada.
Essa aliança poderia modificar por completo o mundo bruxo, portanto Bellatrix não devia violá-la nem mesmo inconscientemente.
Aos quatorze anos Druella contou-lhe sua já marcada sina de casar-se com um homem seis anos mais velho (*)³, que lhe proporcionaria estabilidade e poder.
O que Druella não sabia era que Bellatrix nutria um amor correspondido e secreto com seu primo rebelde, Sirius. O doce veneno do proibido brincava pelos lábios róseos da encarnação da famosa “Perfeição Black” de um jeito maroto. Bellatrix viu-se obrigada a cortar os laços com Sirius por meio da distância. Assim, inscreveu-se no curso auxiliar oferecido para formandos da Academia de Magia Beauxbous Para Garotas e permaneceu por quase seis anos longe de Six.
O que Bellatrix não poderia prever é que não resistiria ao proibido pela segunda vez, e que isso ameaçasse leva-la à ruína.

Os burburinhos da conversa na sala foram ouvidos por Bella no corredor. Ao chegar, deparou-se com a seguinte cena: Sr. e Sra. Lestrange sentados no sofá verde majestoso, conversando com sua mãe Druella e sua tia Úrsula, Rodolphus divertindo o pequeno Regulus, Narcissa folheando uma revista que aparentemente havia sido trazida para ela pela Sra. Lestrange [que a adorava] e Sirius em um canto, brincando com um guardanapo.
O conhecido perfume da prima o fez levantar os olhos e encará-la. Ele sentia que ela recuperara sua arrogância que havia perdido há algum tempo atrás quando Sirius resolveu brincar com seu orgulho.
“– Boa-noite!” – Disse docemente – “Sr. e Sra. Lestrange! Como estão?”
Andou suavemente e cumprimentou o casal. Sorriu pelo canto da boca e dirigiu-se à Rodolphus. Olhou.
Aquilo tudo a aborrecia extremamente, e embora não admitisse, Sirius estava certo. Estava louca para que tudo acabasse e pudesse novamente voltar aos braços do primo.
“– Olá, Dolphus.”
“– Minha doce senhora Bellatrix! Que falta senti de você!” – Ele levantou e lhe deu um beijo estalado nos lábios.
Bellatrix sorriu e consentiu (“– Quanta falta de sentimento, Rodolphus!”).
“– Muito bem” – Começou Úrsula – “Agora que todos estão aqui, podemos nos dirigir a mesa. Sr. e Sra. Lestrange, por favor” Ela havia levantado e indicava com a mão o caminho para a sala de jantar.
Formou-se uma fila indiana em direção à sala. Sirius ficara por último, como de costume, porém, sem a companhia de Andrômeda, que pelo visto não estava em casa. Bellatrix estranhou a ausência da irmã, que sempre obedecia às regras impostas, mesmo que contraditoriamente.
“– Onde está Andrômeda?” – Bellatrix perguntou discretamente ao primo – “Não adianta mentir, eu sei que ela te disse aonde ia.”
“– Nem mesmo por você eu diria, doce prima. ” – Ele lançou um riso de canto de boca para ela; o que a enfurecia.
Bellatrix respirou e controlou sua fúria. Odiava profundamente quando Sirius zombava dela, ou tentava se sobrepor na situação. A vontade de esganá-lo a cada gracinha dele era crescente. Lançou-lhe um olhar fuzilante e virou-se, seguindo a fila.
Tec tec tec. Ele ouviu o barulho feito por passos apertados e deduziu que pertenciam à Andie.
“– Hey!” – Andrômeda sorriu ao chegar perto do primo.
“– Você tá pirando?!” – Ele a censurou cochichando – “Fora até essa hora! Eles vão arrancar sua cabeça fora!!!”
Andrômeda olhou para Sirius e deu uma risadinha
“– Logo você me censurando? Acho que trocamos de papel, pois até onde eu sabia, você era o rebelde que fugia no meio da noite para a casa de um dos Marotos e eu era quem tentava colocar um pouco de juízo na tua cabeça!”
Sirius não pôde evitar um sorriso sem-graça para a prima; definitivamente ele estava agindo como um cão-de-guarda. Mas, o fato era: não podia deixar que tirassem dele a única que ainda o apoiava, e tinha certeza de que se Andrômeda se desvirtuasse mais das regras impostas na casa, ela seria excluída da família. Já vira o mesmo acontecer com sua prima Elleanor (*), que se casou com um trouxa há uns três anos atrás, e com todos os outros parentes que se tornaram furos semelhantes à queimaduras de cigarro na tapeçaria que ostenta a árvore genealógica dos Black bordada com fios de ouro, os Toujours Pur.
Sentou-se à mesa, ao lado do pequeno Regulus e de Rodolphus, seguindo a ordem hierárquica instaurada para os lugares na mesa. O “Trio Black” e sua mãe encontravam-se à sua frente, e Úrsula ocupava a cabeceira da mesa. Sr. e Sra. Lestrange sentaram-se um defronte ao outro, seguindo uma estranha regra de mulheres à direita e homens à esquerda da mesa. “Uma posição bem interessante para um jogo!”, observou Sirius.
Os elfos começaram a colocar a entrada do jantar, e Sirius Black logo percebeu que não estava com fome. Olhou para Andrômeda; ela parecia aborrecida com a situação, provavelmente preferia estar de babá de Explosivins a estar nesse jantar. Bella, por mais que escondesse magnificamente bem seus sentimentos (exceto em relação à Sirius –porém nem sempre), também estava incomodada, ele percebeu.
O jantar se estendeu em profundo silêncio, somente quebrado pelos tilintares de garfos e facas. O silêncio foi quebrado ao fim, quando a sobremesa (pudim de ruibarbo! n/a: eu sou LOUCA por esse pudim! XD) chegava, equilibrada nas cabeças dos elfos domésticos.

“–Hector, provavelmente Rodolphus já lhe falou sobre nossa viagem, não?” – Úrsula dirigiu-se ao sr. Lestrange.
“– Oh, sim, sim Úrsula.” – Ele fez uma pausa, como um político que respira fundo para responder. Hector tinha a aparência de um bode: os olhos, abertos e vazios, cabelos ralos e uma careca reluzente para esconder com o chapéu-coco. Tinha também uma dessas barbichas de bode, branca. Apesar de tudo, era grande e forte: algo meio desproporcional para sua aparência apática. – “Claro que iremos os encontrar lá! É uma honra participar do renomado Encontro Anual do Toujours Pur em companhia da família que certamente o honra mais que todas.”
“– Ótimo! Estaremos esperando por você e Doris, na fazenda!”

“Ah não vamos estar NÃO!” Sirius deu um urro de raiva por dentro. Não acreditava que aquela viagem ia sair tão aquém do que ele imaginava. Rodolphus os acompanharia, o que poderia piorar? (“Quando Almofadinhas chega no FUNDO do poço, sempre aparece mais um otário pra pisar mais um pouquinho! ¬¬”)
Após terminaram, todos se levantaram e se encaminharam para a sala como em uma marcha lenta.
Úrsula se sentou na poltrona de mais destaque no cômodo (como de costume), o Sr. e a Sra. Lestrange em um sofá próximo à ela, Rodolphus com Bella, Cissy, Regulus e Druella no outro sofá e Sirius, emburrado em outro canto com Andy.
A exaustiva conversa burguesa seguiu por horas a fio, enquanto Sirius devaneava com um lugar adorado, Hogwarts, amigos, doces do trem da plataforma 9¾, as garotas de Hogwarts... Garotas de Hogwarts? Não, dessas não conseguia lembrar de nenhuma... Nem mesmo daquela última que havia saído antes de voltar para o inferno chamado Mansão Black. O cheiro forte e característico de problemas que Bellatrix exalava o impregnava a alma, não conseguia soltar-se. Levantou, inconsiente do tipo de afronta que aquilo simbolizava e seguiu em direção ao jardim. Sua mãe o fuzilou, mas deixou Sirius ir. Sua presença a incomodava, e além disso, jamais interrompiria uma conversa de interesses como a que estava tendo com os Lestrange por causa de um garoto mimado (mesmo sem saber de onde viera o mimo, já que nem ela, nem seu marido de fato interessavam-se por Sirius).
Ao por os pés para fora, percebeu que deveria ter pego uma blusa, o frio típico que fazia cortava sua face. Para Sirius, a mansão sempre estava imersa em um inferno glacial, não lhe oferecendo nenhum conforto, tanto físico como sentimental. As paredes, altas, rígidas e cobertas por papéis de parede negros pareciam registrar cada passo dos moradores (principalmente os menos queridos), como se tivessem vida própria, o que seria bem possível, tratando-se dos Black. As maçanetas serpenteadas registravam cada ser que cruzava a soleira de suas portas, e as janelas não ofereciam escapatórias aos habitantes.
Almofadinhas andava pelo jardim, agora seco pela falta de chuvas, sentindo falta dos campos sempre verdes de Hogwarts e do calor propiciado pelo amor investido na criação da instituição, que cuidava de cada um de seus alunos, com suas paredes claras e cheias de segredos, maçanetas que não tentavam se enrolar nos braços alheios e janelas abertas.
Sentou-se em uma pedra e pôs-se a admirar o lago a sua frente. Era negro como os cabelos de Bellatrix e profundo como seus olhos, de ressaca, que tudo traga para dentro e quando se retira, deixa a vaga, como o mar deixa a areia.(*) Tentou desviar seus pensamentos para longe de Bellatrix e qualquer outro Black... Partiu pensando sobre as garotas que havia conhecido no último ano. Novamente, não se lembrou de nenhuma.



Tentou novamente, com um esforço um pouco maior. “Tem que ter alguma!”
Lembrou-se de uma loirinha de Corvinal, mas não sabia seu nome. Saíram apenas duas vezes juntos, nas ídas a Hosmeage, e ela não era tão interessante....
Resolveu pensar em outra coisa, esquecer Bellatrix, os Black, a loirinha, e outras mulheres.
Escola...Hogwarts lhe trazia lembranças felizes e escolares, completamente desligadas da doce família Black.
Pensava sobre o que iria fazer depois que acabasse a escola. “Provavelmente serei Auror, não dá pra não ser outra coisa vindo de onde vim...” Talvez teria que fazer um curso suplementar, e morar em outro lugar. Sua mãe não o aceitaria por muito tempo ali, menos ainda se ele se tornasse auror.
A idéia de mudar de cidade por um longo tempo lhe trouxe a lembrança que teria que se afastar de Bellatrix novamente... Odiou-se por pensar nela em cada pensamento. Tentou desviar a linha de raciocínio novamente para longe...
Começou a pensar nas aulas de aparatação... Rabicho, sempre atrapalhado, esquecendo os dedinhos do pé esquerdo para trás, Tiago tentando se exibir para Lílian, e acabar deixando a perna presa do outro lado, extendendo-a por dois metros, e finalizando o dia na enfermaria, o que não era novidade para eles. Desaparatar... Bella o fazia tão bem. O fato era que Sirius não achava um assunto em que não se lembrasse da existência de Bellatrix. Nem pensar no ódio que tinha contra os Black, na loirinha de corvinal, na carreira ou simplesmente nos testes de aparatação conseguia tirar Bellatrix de sua mente.
Chegou a conclusão que precisava de uma mente nova.

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Tentou endireitar-se novamente no sofá para achar uma posição que não denunciasse tanto o seu desconforno naquela conversa chata.
Bellatrix limitava-se a balançar a cabeça, concordando com qualquer coisa que fosse dita, esperançosa que as horas passasem logo para poder subir direto para o seu quarto, e dele para o de Sirius. Mas, cada vez que olhava no relógio, este parecia recusar-se a virar os ponteiros, estagnado no mesmo horário infinitamente.
Era indubtável que até relógios naquela casa tivessem vontades próprias, mas Bella não se importava, só observava cada segundo, com uma vontade de sumir que lhe formigava os pés.
Sirius saíra há um bom tempo (esse sim passou perceptível), em direção à porta do jardim. Aquele jardim... Bellatrix ouviu alguém falando seu nome enquanto fitava a porta, devaneando. Olhou para os outros e consentiu com a cabeça, sem menor noção do que se tratava. “E pouco me interessa.”
Bellatrix não estava se reconhecendo, tornara-se um tanto quanto impulsiva e explosiva nos últimos dias...Claro, o “ar familiar” Black não poderia deixar nem mesmo a mais fria das mentes calma.
Simplesmente levantou e saiu.
Correu até seu quarto, e constatou que não fora a única que havia se cansado de esperar.


Lá estava, tão proibido como sempre, e cada vez melhor, diante de seus olhos, lhe fitando profundamente pelos olhos cor de areia, cor da vaga que se abria com a fuga do mar acizentado, que se retrai, levando tudo e deixando tudo, assim como a vela que ilumina também faz sombra.
Então, uma porta range....




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Ha Ha Ha! Anti-clímax tooootal esse fim! :D

(*)¹: Iris, Goo Goo Dolls :]
(*)²:Conasse: Xingamentos em francês, rlzz! huahuahuahau
Seria tipo uma "mulher da vida", digamos assim...
(*)³: Licença poética! hahahah =D
Eu mudei algumas datas e idades, como por exemplo essa parte ^^
(*): íídem... :]
(*): Nossa como eu usei Domcas nesse capítulooo!
[Carinhoso apelido para Dom Casmurro, de Machado de Assis]
É o amor vai... :D
Paixão profunda por HP...Paixão profunda por Domcas, sem falar que a história dos olhos de ressaca cabe muuuito em Six e Bella!
XX OO guys!
:*

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