Hora de Conversar



17. Hora de conversar!

Terminado o jantar os alunos foram para suas casas a fim de arrumarem as malas e se prepararem para o começo das aulas no dia seguinte. Rony, Harry, Gina e Hermione pararam por um momento em frente à lareira da sala comunal.

-- O que foi aquilo? Pansy não desviou o olhar uma só vez! – Gina sussurrou excitada.

-- O quê? – Rony disse parecendo perdido.

-- Seu imbecil! Não viu o pessoal da Sonserina encarando Hermione? Um deles era o Goyle... Não consegue juntar as peças?

-- Gente... – Hermione tentou dizer...

-- O quê? Pelo o que aconteceu na casa da Pâmela? – Rony disse e Hermione se mexeu desconfortável na poltrona. – O que eles podem fazer?

Antes que alguém respondesse, o braço de Rony sangrou e um corte pouco profundo, mas não menos doloroso, surgiu.

-- Aaaiiii! – Rony gritou colocando a mão no corte. – Mas o quê...?

Todos viram o olhar vidrado de Harry em Rony e sua varinha sob a manga apontada discretamente para Rony.

-- Isso! Ou pior! – Harry disse sério.

Gina ficou séria e passou o braço em torno da amiga, Rony se calou e Hermione fez um feitiço para fechar o corte de Rony.

Com uma voz forte e decidida Harry endireitou o corpo e disse:

-- Certo! Farei um plano e Hermione não ficará sozinha durante esse ano. Nos revezaremos...

-- Harry! O que está fazendo? – Hermione o olhou espantada.

-- Agora não, Mione! – Harry levantou o braço e a silenciou. Começou a rabiscar algo em seu pergaminho e coçou a cabeça preocupado.

-- Podemos nos reunir todas as manhãs para repassarmos os planos, mas emergencialmente podemos combinar de que Rony e Gina passam as tardes e eu passo as manhãs, mas teremos que pedir ajuda para a Pâmela e talvez para o Olívio...

-- Não podemos... – Gina disse cautelosamente.

-- O quê?! – Harry disse abruptamente ao ter sua concentração quebrada.

-- Não podemos, cara! – Rony interveio. – Eles vão estar ocupados. Terão que nos tratar como alunos.

-- É... – Gina disse, mas Harry não olhou para ela. Olhou para Hermione que se mexeu desconfortável na poltrona. – Não ouviu a diretora? Ela disse que Pâmela vai dar uma aula especial, extra, sobre a literatura dos trouxas em relação ao mundo mágico...

-- E Olívio vai ensinar dicas para o preparamento físico dos jogadores de quadribol por um tempo. Sério, cara, você não ouviu nada? – Rony completou.

-- Não! Eu estava prestando atenção em algo diferente. – Harry disse sem tirar os olhos de Hermione.

Foi então, que pela primeira vez, Rony e Gina perceberam a tensão no ar. Tiraram um tempo para reparar no olhar de Harry. Na ternura e preocupação que seus olhos transmitiam para Hermione. Souberam que havia algo de estranho e os irmãos prenderam a respiração. Era uma revelação muito grande! Não eram mais quatro amigos, aquele sentimento seguro e reconfortante de noites de jogos, conversas e estudos.

Por um momento, Rony e Gina esqueceram do que estavam falando e se sentiram traídos! Como eles não haviam sido informados disso! Harry não era o melhor amigo de Rony? Gina não se confessava para Hermione? O que estava acontecendo?

Hermione se levantou, nitidamente desconfortável com a situação. Não se despediu, não olhou para ninguém. Apenas abaixou a cabeça balançando-a em um gesto de boa noite, talvez, e andou em silêncio até as escadas. Gina esperou alguns segundos. Olhou para Rony e Harry e também sem dizer uma palavra se retirou.

Harry foi o terceiro, mas desta vez Rony se levantou também e agarrou seu braço.

-- Ah, não! Não, senhor! – Ele disse com uma autoconfiança desconhecida. – Você vai ficar aqui, Harry! Temos muito o que conversar!

-- Rony, não acho que seja... – Harry disse com voz cansada.

-- Ah, é! É uma hora excelente! Você vai me dizer direitinho o que sente por Mione e a quanto tempo sente...

-- Você está reagindo de modo exagerado...

-- Não acho! – Rony disse um pouco exasperado – Você não pode simplesmente se apaixonar pela Mione!

Rony atirou a resposta abruptamente, chocando Harry com isso. Ele foi direto e resolveu o dilema de Harry em um segundo! Harry não queria pensar sobre isso, tinha medo da resposta e agora Rony a havia atirado à queima roupa.

-- Do quê...

-- Harry, você pensa bem no que está fazendo! – Rony disse muito sério – Mione é acima de tudo nossa amiga e se você não agir corretamente vai acabar com isso. Eu não quero perder a Mione e tenho certeza que você também não quer...

-- Rony! Rony! Pára! – Harry gritou segurando o amigo pelos ombros e apertando os olhos...

Rony olhou Harry e se compadeceu. Algo ficou claro de repente...

-- Você não tinha se dado conta ainda? – Rony perguntou coloando a mão no ombro do amigo.

Harry se sentou exausto e olhou para o amigo!

-- Não parei para pensar, só para sentir.

-- Por que não me contou?

-- Não queria encarar a realidade

-- O que aconteceu?
-- Nada!

-- Como nada? Algo aconteceu! Você mudou! Mione mudou.

-- Não aconteceu realmente nada! Bom... quase...

-- Um pouco mais claro, Harry, por favor! – Rony disse um pouco jocoso

-- Quase aconteceu, mas não aconteceu...

-- O quê!??

-- Um... um beijo!

Depois da última palavra Harry sentiu o peso que o silêncio da sala fazia. Não devia ser muito tarde, mas todos já haviam se retirado. Harry estava no sofá, ao lado de Rony, em frente a lareira, diante de um momento completamente constrangedor.

-- Você está apaixonado pela Mione? – Rony disse de repente.

-- Não sei!

-- Você tem que saber, Harry! – Rony disse preocupado

-- Por quê?! Por quê não posso fingir que nada aconteceu, por quê não pode ser como antes? – Harry apoiou a cabeça nas mãos.

-- Por quê você não está deixando que seja! O que sente?

-- Desde quando você ficou perito em relacionamentos?! – Harry disse nervoso e viu Rony corar.

-- O que você sente, Harry! – Rony repetiu a pergunta.

-- Não sei! É uma mistura!

-- Pensa! Fecha os olhos e se acalma. Pensa na Mione e fala o que vem na sua mente.

-- Pra quê isso! – Harry quase gritou. – Como sabe que vai funcionar?

-- Por que foi o que eu fiz!

Harry emudeceu! Olhou para o amigo assustado e o viu mais vermelho do que nunca.

-- Com a Mione?!

-- Não! – Rony disse rapidamente. – Com outra... pessoa!
-- Quem?!

-- Não interessa! Faz o que eu disse!

-- Mas...

-- Agora!!!

Harry obedeceu. Não sabia se era o cansaço, o assombro ou o assustador tom de comando na voz de Rony, mas ele obedeceu. Fechou os olhos e lá estava Hermione. O cabelo castanho, os olhos expressivos, o sorriso sincero. Harry sorriu, se sentia confortável. Imaginou que ele a via descendo a escada da sala comunal e ficou excitado, eufórico. Imaginou ela brigando com ele e quase pôde sentir a dor física que isso lhe causaria. Por fim lembrou do “quase beijo”, sentiu uma sensação gostosa, um formigamento bem vindo e quando ele concluiu o beijo em seu pensamento sentiu seu coração disparar, um fogo subir por seu corpo e a emoção foi tão grande que ele abriu os olhos e encarou a lareira vazia.

-- Então? – ele ouviu a voz de Rony baixinha.

-- É... eu estou apaixonado sim...

-- Você tem absoluta certeza?

-- Tenho...

-- Quando isso aconteceu?

-- Não faço a mínima idéia! Olhando para trás eu não sei como pude enxergar a Cho e não ela!

-- É... isso vai ser complicado...

Harry olhou para o amigo e o viu balançar a cabeça pesarosamente.

-- Acha que não vai dar certo?

-- Vocês dois? – Rony deu de ombros – Não sei! Tenho que observar melhor as reações dela quando você está presente...

-- Então o que é complicado? – lidar com a amizade e o amor...

-- De novo! Quem te elegeu perito neste assunto? – Harry ergueu as sobrancelhas sarcasticamente.

Rony ficou rubro.

-- Ninguém! Mas sei que não passarei por isso. É bem mais fácil se apaixonar por alguém que não é seu amigo. Não se preocupe, contudo, vou te ajudar no que for preciso.

Rony levantou, se espreguiçou e começou a se encaminhar para a escada bocejando. Harry se ergueu, correu atrás dele e se colocou entre ele e a escada.

-- Ah, não! Não senhor! Agora é a sua vez! Hora de conversar!

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