Uma história para ajudar

Uma história para ajudar



Hermione olhava para o embaçado que sua respiração provocava na janela. Ela estava sentada no parapeito da janela do quarto das meninas da torre da Grifinória, quieta e imóvel, tentando não acordar Pâmela e Gina que dormiam a algumas camas da dela. Ela estava perdida em seus pensamentos, com os olhos vidrados e a mente preocupada.

As semanas passaram rapidamente, já estavam no primeiro dia de aula, ainda não amanhecera por completo, o sol só indicava sua presença com a vermelhidão do horizonte, mas não parecia disposto a aparecer. Hermione sabia que os professores chegariam nas primeiras horas da manhã e que seriam seguidos pelos alunos no cair da noite. Alguns empolgados com o primeiro ano, outros temerosos com as provas dos últimos e poucos calmos e sem problema. Isso despertou um forte medo em Hermione. Ela tentava se controlar, mas estava difícil. Era difícil manter a calma por tanto tempo... Isso a fez lembrar de outra coisa... Harry! O que fazer? Nas últimas semanas tinha conseguido manter a distância discretamente, mas até quando isso seria possível? Não iria conseguir se controlar pelo resto do ano... Via-a todo dia e era como sempre foi. Sorria, falava e repreendia-o como sempre, mas nunca se permitia ficar sozinha com ele.

Porquê? Ela não sabia direito! Tinha plena consciência de que quase o beijara e sabia que ele não ignorava o fato também. A garota nada fazia para iniciar uma conversa a respeito e ele tão pouco tinha a iniciativa. Estava apavorada, é lógico! Era do seu melhor amigo que estava falando, o cara que metade da escola odiava e a outra amava. Ele namorara Cho Chang, que jogava no time de quadribol da Corvinal e era popular, depois do quarto ano muitas meninas o bajulavam, inclusive as irmãs Parvati que eram bonitas e talentosas. O que ela era além de inteligente e trazer problemas? Agora mais do que nunca? Nas últimas semanas apenas fugira, mas agora estava se dando ao trabalho de analisar a situação. Ela gostava dele? O amava mais que um amigo? Lembrou dos momentos na biblioteca, nas aulas, em Hogsmead. De quando a salvou do trasgo junto com Rony. De quando o viu olhá-lo admirado quando ela surgiu ao lado de Krum no baile do quarto ano. Era admiração? Ele realmente a achava bonita? Ele lhe disse que não a achava feia em uma conversa no quinto ano, mas ele alguma vez a olhou diferente, sentiu sua falta? Sentiu! Isso ela sabia! No segundo ano, quando foi petrificada, no quinto, quando brigaram e quando ela foi ferida no ministério.

Hermione balançou com força. O que estava fazendo? Não podia estar apaixonada pelo melhor amigo, podia? Estava tão acostumada com os sentimentos que nutria por ele que não podia classificá-los. Além do mais, como ela poderia achar que algo podia estar acontecendo entre eles? O beijo? Ora, nem ocorreu e ele não parecia estar muito empenhado em falar dele... Bom, ela não lhe dava chances, é verdade, mas ele provavelmente não sentia nada. Ela o estava evitando para não ouvir uma confirmação disso? Ele poderia ter várias meninas... O beijo poderia ter sido uma ilusão, ambos estavam cansados, era muito cedo... Não devia se iludir, devia?

-- Devia! – Hermione se assustou com a voz de Pâmela sussurrada à suas costas.

Hermione se virou e viu Pâmela em pé, à poucos passos dela com os braços cruzados abaixo do busto e um olhar bondoso. Enquanto ela se aproximava a menina perguntou baixinho:

-- Do que está falando?

-- Da sua pergunta... – Pâmela sentou-se no parapeito em frente à ela.

-- Como você...

-- Não leio pensamentos ou coisas parecidas! – Hermione antecipou a pergunta. – Mas é óbvio que você está pensando no que quase aconteceu com você e Harry a alguns dias.

-- Como... Não é.... Como? – Hermione sobressaltou-se

-- Calma! – Pâmela colocou a mão no ombro da menina. – Se eu não tivesse gritado, vocês teriam se beijado. Por que acha que me distraí? Eu vi vocês e acabei esquecendo da luta por alguns segundos.

-- Oh... – Hermione exclamou baixinho. Ficou em silêncio por um tempo, digerindo a idéia de que mais alguém sabia. Logo perguntou:

-- Olívio...?

-- Ele também sabe, logo percebeu quando vocês dois apareceram juntos e eu os olhei decepcionada. Mas ele não dirá nada, pode confiar.

-- Por que estava decepcionada?

-- Porque eu sou a razão do seu mal estar... – Hermione ia negar, mas Pâmela continuou – O que teria acontecido se tivessem se beijado?

Hermione olhou-a com os olhos muito abertos, apreensivos.

-- Eu... eu não sei!

-- Exatamente! Não gostaria de saber? Você está tentando descobrir se o ama ou não, não é? Se ele não só se perdeu em um momento romântico. Se não foi obra da brisa fresca e do odor das flores daquela manhã...

-- Como sabe exatamente o que eu sinto? – Hermione se assustou!

- Ah... Bom, antes de ter minhas memórias restauradas eu me intrigava com isso também. Eu parecia te entender tão bem... Ler seus sentimentos e pensamentos quando olhava nos seus olhos. Mas só ontem à noite eu entendi. Somos muito parecidas em muitas coisas, somos muito sensíveis e tivemos experiências semelhantes por causa disso. Eu sei o que sente, pois já passei por isso!

Hermione a olhou por um momento incrédula. Depois decepcionada. Ela estava tentando ser simpática? Amiga? Não! Ela viu nos olhos de Pâmela.

-- Olívio... – a menina disse quase sentenciosa.

-- Sim! Ontem à noite eu me lembrei... Sempre fomos inseparáveis, amigos fiéis e conhecíamos os segredos um do outro. Por isso quando contei que deveria ir embora foi um choque para ambos. Olívio e eu passamos à noite acordados no Observatório da aula de Astronomia, tentando descobrir outra saída. O dia clareou e não havíamos dormido mais do que algumas cochiladas, apoiados um no outro. Meu avô apareceu no gramado e nós o vimos de onde estávamos. Isso pareceu ser à gota d’água para Olívio, ele me envolveu em seus braços e me apertou com força, com medo de me perder. Eu retribuí com a mesma convicção. Ficamos um bom tempo sem falar nada, só nos abraçando, achando que isso bastaria para me salvar. Só quando meu avô gritou meu nome lá embaixo é que enfrentamos a dura realidade. Nosso abraço se afrouxou e logo estávamos nos olhando um de frente para o outro, ainda envoltos nos braços um do outro. Parecia que, naquele exato momento, tínhamos nos tornado adultos! Naquele momento tudo ficou claro e Olívio me beijou! Ele foi gentil com medo de me assustar, mas insistia como se fosse o único modo de sobreviver. Eu me senti viva, radiante. Quando nossos lábios se tocaram e eu senti o fogo me consumindo, soube que o amava. E ele me amava também, era isso que ele estava me dizendo. Sentia no seu beijo, toda a emoção e o sofrimento que ele sentia por me deixar partir. Mas eu fui embora. Tive que ir... Vivi seis anos da minha vida não lembrando da existência dele e não o tive. Mesmo assim, desde ontem – Pâmela riu com ironia – até eu morrer vou saber o que sentíamos.

Pâmela terminou a narrativa muito emocionada. Lembrou do momento e sentiu cada emoção que sentira antes.

-- Ele nunca lhe falou nada à respeito? – Hermione perguntou impressionada.

-- Não! Não faria muito sentido! Já faz seis anos e ele tem uma vida completamente diferente. Deve ter uma namorada e uma carreira feita. Eu estou atrasada um bom tempo...

-- Mas talvez...

-- Mione, o caso aqui não sou eu. Eu perdi minha oportunidade, mas não tinha dúvidas, antes ou mesmo agora. Mas só te contei isso, pois acho que você devia ter esperanças. Eu só descobri que amava o meu melhor amigo quando ele me beijou. Você tem que dar uma chance para Harry. Precisa encerrar esse assunto, seja com um final feliz, neutro ou triste, mas precisa. Ele é seu amigo e eventualmente tudo vai se acertar entre vocês no final. Não importa o que aconteça agora. Mas para isso você precisa ficar à sos com ele, deixar que ele se aproxime de você novamente.

Hermione olhou para Pâmela com os olhos muito graves. Achou tão bonita a história dela e sentiu muita pena! Pâmela não teve escolha e perdeu, mas ela podia fazer diferente e estava escolhendo não fazer. Que covardia, Hermione! Ela disse a si mesma. Talvez por isso ela tenha se erguido e abraçado Pâmela com força murmurando baixinho e sentidamente:

-- Obrigada!

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