Olhares estranhos



Harry e Hermione foram até o espelho e encaram assustados a nítida imagem sobre um fundo negro da Sra. Weasley. Ela parecia bem nervosa, provavelmente pelo fato de Rony não ter dito aonde ia naquela manhã. Estava enchendo o filho de perguntas quando avistou Harry.

-- Ah, olá, querido! – Sua voz tornou-se simpática e logo foi acrescida por um sorriso ao ver Hermione – Oh, querida! Agora entendo... Essa deve ser sua casa...

O corpo roliço da mãe de Rony quase saiu de dentro do espelho para matar sua curiosidade, mas sua expressão mudou de repente. Estava extremamente abalada, olhando fixamente, com os olhos arregalados, para a direção acima dos ombros das crianças.

Os três amigos se viraram e viram que Pâmela os havia seguido e olhava curiosa para cena. Contudo, Hermione não observava medo no olhar da Sra. Weasley, apenas espanto e isso lhe pareceu muito estranho.

O silêncio estava começando a ficar incômodo e Pâmela resolveu se manifestar.

-- Bom dia! Meu nome é Pâmela. Sou vizinha e amiga de Harry. A senhora deve ser a mãe de Rony.

Como a Sra. Weasley não respondesse, Pâmela olhou para as crianças e disse calmamente:

-- Preciso pensar! Vou para cozinha colocar todas as informações que obtive até agora em uma ordem aceitável para o meu cérebro. Creio que sua mãe queira falar com você e seus amigos, Rony, sem a minha presença.

Pâmela então se retirou após um ligeiro cumprimento com a cabeça para a Sra. Weasley. Esta, por sua vez apenas se despediu após dizer que precisava avisar seu marido.

-- Sr. Weasley, é claro! - Hermione disse – ele pode apagar a memória de sua vizinha.

-- Não! – Harry exclamou horrorizado – Não quero que ela se esqueça de mim.

-- O que há com você, Harry! – Hermione disse brava, e curiosamente desgostosa da reação.

-- Ela foi a melhor coisa que me aconteceu esse verão! – Harry disse sinceramente

Hermione sentiu um golpe duro no peito. O que ele queria dizer com a “melhor coisa”? Por que Harry se importava tanto com ela? O quê ela era para ele?
Harry percebeu que seus amigos não entendiam seus motivos, então lhes contou exatamente como a conheceu e tudo que fez nas últimas semanas. Hermione começou a desconfiar de tanta bondade, mas sabia que se dissesse algo para Harry ele se ofenderia, então resolveu esperar. Rony, obviamente não ajudava, na opinião de Hermione, com seu comentários.

-- Bonita, engraçada, boa pessoa... Por quê eu não tenho vizinhas assim?

Harry riu, mas percebeu que Hermione não partilhava da mesma opinião. Seu olhar estava obscuro, como quando estava raciocinando, e sua boca apertada. O rapaz estendeu a mão para tocar no ombro da amiga, mas foi impedido pela entrada de Pâmela no recinto. Todos a olharam apreensivos e ela sorriu-lhes amigavelmente. Era o mesmo sorriso que vira quando Pâmela estava na cozinha da casa de seus tios. O mesmo que via todos os dias no rosto de Hermione. Aquele sorriso transparente que dissipava seus temores e fazia-no acreditar piamente na pessoa que o manifestava.

-- Já que eu decidi acreditar em vocês... Creio que perderei um dia inteiro de trabalho. – Ela sentou-se no chão e esperou que eles fizessem o mesmo. – Tenho muitas perguntas para fazer...

Durante todo o dia, as crianças responderam todas as perguntas que Pâmela fazia, saciaram sua curiosidade enquanto almoçavam, durante o chá da tarde e mesmo durante o jantar, quando as crianças tiveram que partir. Hermione era a mais receosa de todos. Não estava gostando da exposição em que se encontravam,mas não podia impedir os garotos de se gabarem cada vez mais do seu novo mundo...

Rony afirmou que viria nos próximos dias e Pâmela fez questão de que Hermione prometesse o mesmo antes de deixá-los partir. Mas quando estava a sós com Harry ela perguntou.

-- Sua amiga não está muito confiante em mim!

-- Ela se preocupa demais! – Harry disse displicente

-- Pelo o que eu entendi, isso os salvaram inúmeras vezes...

-- É... é, eu sei! – Harry disse um pouco contrariado – Mas ela devia saber que ela devia confiar em mim pra variar.

-- Acho que confiança não é o problema, Harry! – Pâmela disse mais como se falasse consigo mesma.

Harry a encarou intrigado, mas ela não permitiu que ele se manifestasse. Ao invés disso, expulsou-o teatralmente da sua casa, tendo a certeza de que os Dusdley os ouviria.

Pâmela foi para seu quarto e largou-se na cama sem se trocar. Pensando nas três figuras que conhecera naquele verão, deteu-se em uma. Hermione! Algo muito estranho permitia que ela lesse os sentimentos da menina. Seria por que era mais velha, ou por ser uma garota como ela? Não podia esperar que os meninos a decifrassem tão bem como ela, Pâmela, percebeu que podia fazer. Então seus pensamentos foram para Harry. Ao lembrar dos três amigos ela sorriu e adormeceu...

***

Haviam se passado dois dias quando os amigos se reencontraram na Rua dos Alfeneiros nº5. Rony havia dito a Harry que toda vez que ele mencionava o nome de Pâmela na sua casa, seus pais se entreolhavam sem nada dizer... Harry ficou apreensivo, mas nada disse.

Hermione e Rony resolveram ajudar Harry e Pâmela na mudança enquanto contavam o que acontecera nos últimos 17 anos. A parte que mais emocionou Pâmela, lógico, foi a morte dos pais de Harry. E ela fez questão de fazer um bolo de chocolate para o chá da tarde, por isso.

Até mesmo Hermione se divertia com os gritos teatrais de Pâmela para enganar os tios de Harry e sua desconfiança estava diminuindo, mas a pontada no peito ainda a incomodava e por mais que pensasse a respeito, não entendia por que Pâmela lhe causava isso.

Durante as conversas, Rony deixou escapar que o aniversário de Harry estava próximo e isso fez Pâmela começar a fazer planos... A mudança ficou pronta naquela tarde, mas Pámela afirmou a Harry que poderiam fazer alguns barulhos nos próximos dias para que os Dusdley achassem que Harry ainda tinha o que fazer na casa. Enquanto Harry foi buscar alguns jornais velhos na casa dos tios, Pâmela resolveu combinar uma festa surpresa para Harry com seus dois amigos. Eles ficaram encantados com a idéia e Pámela avisou Harry que era para ele vir mais tarde no dia previsto, pois ela gostaria de dormir até mais tarde.

Harry aceitou prontamente e foi levar Rony para conhecer o jardim, já que achou que o tour da Mione pelos livros da Pâmela não seria tão agradável para eles.

Hermione realmente se encantou com a biblioteca que ela e Harry haviam construído. Pâmela a deixou à vontade para folheá-los e ler suas sinopses. Ela observava a menina com atenção e reavivou na sua mente a certeza de gostar dela. Mas sabia que a incomodava de alguma forma e resolveu falar com ela.

-- Hermione...

-- Uh? – a menina respondeu distraída ao passar os olhos sobre um livro

-- Você ainda não confia em mim, não é? – disse e viu Hermione enrijecer o corpo.

-- Me desculpe se estou sendo rude, mas não sou uma pessoa muito crédula. Eles já se machucaram muito e eu não quero que isso ocorra de novo...

-- Você não pode impedi-los de viver e isso só quer dizer que terão experiências boas e ruins. Não há como evitar...

Hermione não respondeu e Pâmela se sentou na frente dela.

-- Olhe nos meus olhos, Hermione! – a garota obedeceu – Diga-me! Você confia em mim?

-- Sim! – a resposta surpreendeu a menina

-- Mas há algo que a aflige, não é? – Pâmela continuou com um sorriso

-- Tem. Não sei o que é. Quando vejo os meninos olharem admirados por você, sinto uma pontada no peito... Dói mesmo!

Pâmela riu! E olhando-a condescendente afirmou.

-- Isso é ciúmes!

-- Não! – Hermione se horrorizou

-- É normal! Você adora eles e tem medo que eles a deixem de lado. Não vai acontecer, eu te garanto!

-- Mas, as vezes eu sou tão chata... – Hermione fez um gesto desalentado com as mãos.

-- Quem não é? – Pâmela riu alto – Escute, Hermione! Se fosse para eles de deixarem já o teriam feito a muito tempo. Por minha conta, acho-a uma garota incrível e sei que Harry pensa o mesmo. Não houve um dia em que ele não mencionasse você depois que a conheci. E tenho certeza que Rony não respeita outra menina que não você.

-- É sério? – os olhos de Hermione brilharam – Ele falou tanto assim de mim?

Nesse momento Pâmela captou algo mais na voz de Hermione e percebeu que havia mais do que amizade em seu coração. Contudo não era a hora nem o lugar para comenta e ela se contentou e acenar com a cabeça.

Nesse momento, Harry e Rony apareceram avisando que estava anoitecendo. As duas se levantaram e foram ao encontro deles. Pâmela os escoltou até a porta e acenou dizendo:

-- Até outro dia, Rony! Te vejo depois, Hermione!

A garota voltou-se e disse:

-- Pode me chamar de Mione!

Pâmela então notou um sorriso de pura felicidade no moreno que se encontrava ao seu lado acenando para os amigos. Seus olhos brilharam do mesmo modo que os de Hermione mais cedo. Talvez o futuro de dois amigos será mais mágico do que o presente tem sido, Pâmela pensou com um sorriso matreiro, antes de deixar Harry acenando sozinho para a amiga.

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