Revelações



Harry andava pela sala da casa nº 5 da Rua dos Alfeneiros com uma impaciência contagiante. Pâmela estava sentada no sofá, muito reta, com as mãos descansando sobre seus joelhos e olhando Harry apreensiva. O garoto havia lhe contado que dois amigos o visitariam naquela manhã e o que o auxiliariam a contar o que ela desejava saber. Pâmela se espantou com a revelação, mas nada disse, contentando-se em esperar as coisas acontecerem.

Harry, contudo, gostaria que “as coisas” nunca acontecessem! Estava com medo da reação dela. Estava com medo de perder uma amizade tão prazerosa e humana, de ter que voltar para os Dusdley, de perder a única figura familiar que já teve. Não conseguia ficar parado e quando a campainha tocou quase tropeçou no intuito de atendê-la. No entanto, Pâmela se ergueu e chegou à porta de entrada antes.

Ao abrir a porta ela se deparou com dois jovens da mesma idade de Harry que a olhavam espantados. Uma garota, com cabelos castanhos de difícil tratamento que mostrava os bons resultados que o tempo poderia causar em um rosto e um corpo feminino. Delicada e extremamente educada, inclinou a cabeça ligeiramente para o lado e a cumprimentou com uma voz musical. O outro jovem era um rapaz alto e magro, que começava a desenvolver um corpo atlético e não sabia lidar com isso. Os cabelos berrantemente ruivos e as sardas davam-lhe um aspecto cômico e ao mesmo tempo simpático. Era o mais espantado dos dois e sua única reação durante o primeiro quarto de hora em que conhecera Pâmela foi manter a bocar aberta.

Pâmela ofereceu-lhes chá e biscoitos e convidou-os a se sentar ao lado de Harry no sofá. Foi só então que ela notou a incrível intimidade entre os três. Suas vibrações eram bem distintas mas pareciam se completar, Harry só parecia inteiro com eles ao seu lado. Pâmela riu internamente de seus pensamentos e tentou parecer o mais natural possível ao perguntar:

-- Bem! Não sei se Harry já lhes informou, mas meu nome é Pâmela e acabei de mudar. Desculpem se pareço rude, mas não entendo por quê Harry necessita de dois amigos para me contar o que faz com uma coruja branca em seu poder...

-- Ela viu Hedwigs?!! – Hermione se manifestou olhando para Harry

-- Sim, mas não havia como evitar, apesar de eu ter ficado surpreso ao acontecer. Não me lembrei dela até ela voltar... – Harry respondeu parecendo bem desconfortável com o tom da amiga.

-- Então estamos aqui para contar... – Hermione arregalou os olhos

-- Sim! – Harry disse com firmeza

-- Mas, Harry, não podemos!

-- Devemos!

-- Há leis contra isso! – Hermione disse com sua voz eficiente

-- Ah, Mione! Qual é? – o ruivo se manifestou pela primeira vez – Se Harry acha que devemos, por quê não?

-- Ela pode nos denunciar, Rony!

-- Não vai! Se... se eu pedir a ela... – Harry disse olhando uma confusa Pâmela nos olhos.
-- Se Harry confia nela, acho que também devemos! – Rony disse lealmente

Hermione olhou Pâmela e esta pôde reparar no receio em seus olhos. Ainda assim, a vizinha simpatizou com a menina. Ela parecia temer que algo desse errado, mas não para ela especificamente. Pâmela viu um toque maternal na expressão da menina quando ela se dirigia aos garotos, apesar de qualquer reprimenda que sua boca expressasse. Não havia dúvidas do quanto esses meninos significavam para ela. E foi por isso que Pâmela finalmente entendeu por que Harry precisou chamá-los. Seu segredo envolvia também a seus amigos e ele jamais prosseguiria sem o consentimento deles, dos dois!

Hermione suspirou e abriu a pequena valise que havia trazido consigo. Dela retirou um livro grande e velho, uma pequena vara de madeira entalhada e um pedaço de jornal. Rony então tirou do bolso um saquinho de couro. Pâmela assistia a tudo sem dizer uma palavra e então pousou os olhos em Harry, que acabara de se erguer com um porta-retrato nas mãos.

Harry sentou-se ao lado de Pâmela e entregou-lhe o porta-retrato, dizendo com uma voz quase inaudível e carregada de emoção:

-- Esses são meus pais!

Pâmela viu um casal jovem sorrindo extremamente feliz e completamente apaixonado enquanto rodopiavam uns nos braços dos outros. O fato de a foto estar em constante movimento deixou a garota momentaneamente sem fala até que ela se manifestou admirada:

-- Como isso é possível? – ela olhou a parte de trás do porta-retrato e depois a foto novamente. – Que tecnologia é essa?

-- Não é um minicomputador se é o que está pensando. – Hermione disse ao entregar-lhe a folha de jornal

Pâmela viu a foto de um homenzinho velho e vestido com roupas pouco convencionais, inadequadas para qualquer época que não fosse a medieval, que se mexia atarefado de um lado para o outro em uma escrivaninha empilhada de pergaminhos. Leu a legenda da foto e riu zombeteira.

-- “Alvos Dumbleodore, o mais notável bruxo de todos os tempos, acaba de ser eleito Ministro da Magia!” – Pâmela leu em voz alta. - Isso é uma piada?! Harry!

-- Eu sei que é difícil, mas não estou brincando! Nós somos bruxos! – Hermione respondeu antes de Harry abrir a boca. Pâmela captou claramente a sinceridade na voz da garota, mas não poderia acreditar na sua intuição quanto à isso, ou podia?

-- Mostre o livro, Mione! – Rony disse parecendo já cansado com a situação. – É a nossa escola...

Pâmela então recebeu em seu colo um grosso e grande livro de capa dura intitulado “Hogwarts – Uma história”. Estava muito usado, obviamente deveria ser o livro predileto da garota, e ao abri-lo, Pâmela sentiu uma pontada de nostalgia completamente inesperada.

Contemplando as folhas datilografadas e as fotos de vários adolescentes e crianças trajando roupas iguais e esquisitas, via alguns adultos trajados da mesma forma que o velhinho do jornal. Para o espanto da garota, de vez enquanto pessoas transparentes, que ela incoerentemente percebeu serem fantasmas, atravessavam as fotos.

-- Agora vocês têm a minha atenção! – Pâmela disse séria

-- Somos bruxos! – Harry repetiu com firmeza – Mas, por favor, não se apavore!

-- Eu pareço apavorada, para vocês?

-- Incrivelmente, não! – Rony se manifestou.

-- Bom, acredito que isso seja sua varinha... – Pâmela disse indicando a pequena vara que Hermione tinha. – Ou estou sendo levada por histórias indevidas dos Irmãos Grim?

-- Sim, essa é minha varinha! – Hermione disse! – Cada bruxo tem sua própria varinha, a que é adequada para ele, mas depois de uma certa experiência podemos usar a varinha uns dos outros.

-- Entendo! Poderia fazer algo para mim? – Pâmela disse ainda não indicando qualquer reação.

Houve hesitação antes de Harry afirmar.

-- Não podemos! Só podemos fazer magia dentro de Hogwarts enquanto não atingirmos a maioridade.

-- Sei! – Pâmela disse sem acrescentar mais nada. Ela debatia-se entre a sinceridade que captava nas vozes daqueles jovens e o ridículo que tudo lhe parecia.

-- Espere! Posso provar! – Rony se ergueu com o saquinho de couro na mão. – Posso usar seu espelho?

Pâmela assentiu com a cabeça e Rony foi até o espelho que ficava sobre a lareira da casa. Jogando um pó azul nele e esperando alguns minutos.

Para total espanto de Harry e Hermione, eles ouviram a nítida voz da Sra. Weasley dizer.

-- Onde você está Rony? Que casa é essa?

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