Nunca Subestime...



N.A.: Depois de uma longa e cansativa espera, está aqui o capítulo 11...

Ana Bolena Black: Bonitinho, né? O James faz tantas bobagens que até a mim dá pena... Bem, mas é coisa do personagem. Agora é prestar atenção nos outros capítulos... Remus em ação no capítulo 13, que vai ser muito, muito fluffy. Beijos!

Lellys Evans Potter: Uau! Nunca vi alguém defender o James com tanto fervor! Nossa, se houvesse mais umas dez leitoras como você, eu tava ferrada! Realmente, James Potter é encantador, mas, bem, temos muitos personagens encantadores... Resta ver no que vai dar! Beijos e continue lendo!

B. Black: O James é um panaca que a gente ama, né? *suspira também* Próxima Remus/Lily no capítulo 13! Fique atenta!

Gabriela Twilight: A fic está sempre esperando por você! Bem, eu sei que foi cruel, mas eu não consegui deixar de fazer aquela cena. Foi impossível me conter. *risada sombria* Fazer o quê? Bem, pelo menos os dois já estão bem... por enquanto. *outra risada sombria* Bem, como disse o Frankie, quando os Marauders voltarem começa a verdadeira disputa! Continue lendo!

Flavinha Snape Kal: O Sev/Lily desse capítulo não ficou bem como eu esperava, mas ficou fofinho. Eu gostei. Tomara que você goste também! Valeu!

Mila-ytzi: Aaaah, uma leitora nova! *poft* Calma, menina! Eu não vou abandonar essa historinha aqui por nada nesse mundo. Um dia vem a atualização! Beijinhos!

Ana_Weasley_Black: Oh, você mudou o nick! Por isso estranhei quando vi o nome na Marauders - Mischief Managed... Pode deixar que qualquer hora eu passo lá pra espiar, é que eu tô atolada de coisas pra fazer... Que bom que você gostou do 9 e do 10. O Remie só sofre na minha mão... *suspira* Continue lendo!

Bruh ternicelli: Que bom que gostou! Assim que der, passo lá nas suas fics, é que eu estou soterrada por uma pilha de provas... Valeu!


N.A.: Bem, não foi o capítulo mais perfeito do mundo mas ficou bonitinho...


Capítulo 11: Nunca Subestime o Amor Obsessivo



Parecia um dia como todos os outros. Mas, para os alunos que ficaram no castelo, não era. Era o dia em que todos voltavam, era o dia em que cada aluno chegaria de suas férias para retomar as aulas no dia seguinte.

Com mal contida ansiedade, James, Lily, Frank e Alice esperavam pelos outros no portão. Com efeito, logo chegaram as carruagens que traziam os alunos desde a Estação de Hogsmeade; e, logo na primeira, desceram Sirius e Peter.

— Prongs!!! — exclamou Sirius, dando pulos, e abraçando o amigo de cabelos bagunçados. — Senti sua falta, cara!!!

— Eu também, Padfoot — admitiu James. — Esse Natal ficou um tanto apagado sem as suas brincadeirinhas costumeiras. E como é que foi a audiência?

Todos olharam para Sirius, que ostentava um sorriso travesso.

— Deu pra provar que realmente tio Alphard gostava de mim — disse Sirius. — A Andy foi avisada e foi lá depor. No final, conseguimos provar que ele estava em perfeito estado mental. Então ganhei a causa. — E sua expressão se tornou nebulosa, enquanto ele fitava o chão: — E tio Alphard foi expulso da tapeçaria.

Os garotos sorriram.

— A essa altura da história, acho que isso é uma vitória — sorriu Lily.

Sirius ergueu os olhos e fitou Lily, radiante com seus cabelos ruivos, soltos, caindo pelos ombros. Então fez uma mesura, segurando uma das mãos da garota.

— E você, minha cara Lily? Como passou o Natal?

— Bem, meu caro Sirius — sorriu a garota, deixando que sua mão fosse beijada. — E você? Não ficou muito solitário?

— A bem da verdade, dei uma passadinha na casa da minha cara prima Andrômeda — piscou Sirius, se virando para cumprimentar Frank e Alice, enquanto Peter dizia:

— Também estava com saudade de vocês.

— Foi bom o Natal, Pete? — cumprimentou James, que ficara levemente ressabiado pelo comportamento de Sirius.

— Foi, até que foi. A comida tava meio sem sal, mas foi.

Sirius, Frank, Alice e Lily riram, mas James continuou num silêncio desconfiado. As preocupações de ciúme que tinham lhe dado uma folga no Natal agora voltavam ao seu peito como fumaça.

— Gente! — era Daisy, aparecendo de repente.

— Daisy! — exclamaram Lily e Alice, abraçando a amiga. — Sentimos sua falta!!

— Eu também senti falta de vocês — disse Daisy. — Hogwarts é muito mais movimentada, Merlin me livre daquele povo parado lá de casa… E vocês, têm novidades para me contar?

Alice olhou de soslaio para Lily, que corou e silenciou, enquanto Daisy fazia uma cara de intrigada. Mas, quando viu Kingsley um pouco mais adiante, a sua expressão se abriu num doce sorriso.

— Eu já volto… Vocês vão ter que me contar direitinho o que andou acontecendo enquanto estive fora, hein? — sorriu ela, indo para os braços do namorado.

Mas Lily ainda estava inquieta. Ainda faltava alguém, alguém que lhe prometera voltar, e que não aparecia em nenhuma carruagem…

Entretidos a conversar, James e Sirius foram indo para o castelo sem realmente percebê-lo. Peter os seguiu, como sempre. Daisy estava com Kingsley, e somente Frank, Alice e Lily continuavam na frente.

— Vamos lá pra dentro, Lily, já está quase na hora do almoço — aconselhou Alice, empurrando sutilmente a amiga para dentro do castelo.

— Mas…

— Olá, pessoal — disse uma voz clara e limpa.

Todos se viraram instantaneamente. Emoldurado pelos portões de Hogwarts, a figura magra e pálida, mas um tanto quanto celestial, de Remus Lupin.

— Remie! — exclamou Lily feliz, se libertando dos braços de Alice e correndo para o amigo.

O sorriso de Remus se alargou quando ele viu a ruivinha parar diante de si, afogueada, o rosto vermelho.

— Eu disse que voltaria — ele sussurrou.

— E eu sabia que você não iria me decepcionar — ela sorriu; e, antes que Remus pudesse sequer perceber o que estava acontecendo, ela enlaçou o seu pescoço com os braços.

O rapaz sentiu o sangue subir violentamente ao seu rosto, e um calor cheio de arrepios percorreu suas costas. Apesar de tudo, eram sensações deliciosas; e ele quase protestou quando a garota o soltou.

— Estava com saudades — ela murmurou. — É o primeiro Natal que você não passa em Hogwarts.

— Eu sei — sorriu Remus —, mas já estou aqui. E não vou deixar de estar, sempre que você precisar. Prometo, Lily.

Lily apenas sorriu, enquanto Frank se aproximava. Sua expressão estava ao mesmo tempo alegre e soturna.

— Frankie — disse Remus, corando novamente.

— Remus — disse Frank simplesmente.

Os dois se encararam por alguns segundos. Depois, Frank puxou Remus para um abraço apertado.

— Senti sua falta — disse o primeiro, soltando o amigo. — Hogwarts não é a mesma sem você.

— Também senti sua falta, Frankie — falou Remus com um sorriso, e Frank pôde entender que ele era novamente o velho Remus.

De repente, um grito, uma corrida desabalada, embolação, alguém tropeçando, Lily e Frank se desviando por pouco, e James, Sirius e Remus estavam no chão.

— Olá para vocês também — cumprimentou Remus, sarcástico, debaixo dos dois amigos.

— A gente sentiu sua falta — informou James. — Aliás, Sirius, dá pra tirar seu pé de cima da minha cara?!

— Não sei, essa posição está muito confortável — ironizou Sirius, que estava em cima de James e Remus sem nenhum sustento.

James chutou Sirius, que caiu no chão com um baque doloroso; depois se jogou para o lado. Ainda no chão, os três garotos se entreolharam; depois começaram a rir até se acabar.

— Quem é que entende esses três… — murmurou Lily.

Estava tão entretida em observar o interessante fenômeno que não percebeu que um par de olhos negros a fitava de um modo um tanto quanto perturbador.




Novamente, a vida recomeçava. E, novamente, ele a via, tão radiante como sempre, ou até mais; e novamente os três a provocavam, a queriam, a faziam rir…

— Droga — resmungou baixinho, torcendo as mãos.

— Ih, o Príncipe já voltou mal-humorado! — riu Avery, entrando no quarto. — Acho que ele não passou bem o Natal… que foi, a casa dos Prince não é boa o suficiente para Vossa Alteza?

— Cala a boca, Avery — disse o rapaz áspero. — Eu preciso pensar.

— Sev precisa pensar, é? — disse Rosier, que entrara no quarto com Avery. — Melhor não o incomodarmos então, não é? Tenho tanto medo do que Sev pode fazer zangado…

Calem a boca — repetiu Severus, agora empunhando a varinha.

Rosier e Avery se entreolharam e fizeram o mesmo, em atitude defensiva. Estavam os três se encarando quando Lucius surgiu no quarto.

— Ei, parem já com isso! — exclamou. — Não vão duelar aqui, senão vão me causar problemas!

— Danem-se os seus problemas, Malfoy — disse Rosier desdenhoso, mas abaixou a varinha, assim como Avery e Severus.

O último se sentou na cama, escondendo-se atrás das cortinas verdes.

Foram muitas horas maquinando e remoendo as imagens da tarde. De Lily rindo, rindo por causa deles. Finalmente ele se dera conta que Lily e o maldito Potter ficaram sozinhos na Torre da Grifinória por todo aquele tempo. O que eles podiam ter feito? E se ela tivesse cedido às insistências de Potter, e ela o tivesse beijado, e se estivessem juntos? Ele não deveria ter se afastado de Hogwarts!

Mas não havia mais tempo a perder. Nem ele poderia esperar mais. Na manhã seguinte, falaria com Faunt.




Meias verdades são piores que mentiras.

Novamente aquela voz misteriosa, rouca e estranha soava dentro de seu ser. E ele sentia os olhos nublados de vermelho.

Não deveria tê-lo perdoado. Ele chegou há algumas horas e já está destilando seu veneno, aproveitando de sua presença, seduzindo-a…

Ele nada dizia, apenas escutando, no escuro do seu quarto, sentindo aquela presença maligna se intensificar dentro de si.

Ele planeja afastar Severus Snape de perto de Lily, e depois você, e então poderá esperar sua resposta…

“Chega. Não fale mais.”

Você sabe que é o que eu falo é a verdade. Uma verdade que talvez você não queira ouvir, mas a verdade em seu pleno sentido.

“Eu acho é que você parece um corvo agourento.”

Pode até ser. Mas não diga que não estou certo… Não se finja de inocente para mim, porque eu sou parte de você, James. O que eu falo, você sabe… Eu só estou externando os movimentos do seu inconsciente.

“E… por que você faria isso?”

Porque eu quero que você se dê conta. Porque eu moro aqui dentro, e não vou agüentar ver você se passar de idiota para os outros, sem fazer nada. Porque eu sou um outro lado de você, eu sou um outro lado de todos. Um lado que todos preferem ignorar ou esconder, mas que, em algumas pessoas, aflora. Um lado que você vai sempre ouvir.

“E por que aflorou em mim?”

Porque você é especial, James… Porque você dá ouvidos a tudo, porque você sabe enxergar todos os lados do seu ser. Agora, vem de você me dar ouvidos ou não. Perdoar Sirius ou não. Deixar que Lily fique com outros, deixar que ela o faça de idiota ou não.

James suspirou. Estava cansado, cansado de ficar em silêncio, no escuro. O pressentimento que começara quando os Marauders partiram, e o abandonara durante todo o Natal para dar lugar a outras preocupações, agora tinha voltado com força total. Ele se sentia pesado, dividido, com medo do que estava por vir e do que tinha ficado para trás. Medo de perder Lily, medo de perder Sirius, medo de passar por idiota, medo de fazer a coisa errada. A voz soando levemente rouca, ele perguntou baixinho:

— Quem é você?…

Ora, James. A outra voz deu uma risada. Sou só a voz do seu ciúme.




Dia seguinte.

A primeira aula era Aritmancia. Bem, mas, pelo horário, ela só começaria em duas horas, e não haveria mal em sacrificar o café para ir falar com Faunt — mesmo porque, a aula de Aritmancia não era tão importante quanto Lily.

Eram umas sete horas quando ele parou em frente à sala do professor de Defesa Contras as Artes das Trevas. Desde que ele entrara em Hogwarts, aquela sala era ocupada por diferentes professores, um professor ao ano, e corriam boatos de que o cargo estivesse amaldiçoado. Severus não acreditava nesse tipo de histórias, embora Rosier jurasse de pés juntos que fora o próprio Lorde das Trevas quem amaldiçoara o cargo.

Muitas vezes estivera naquela sala; muitos professores o admiravam pela sua avidez pelos estudos, pela suas notas sempre altas. Ninguém conseguia alcançá-lo nas aulas — a não ser o Marauder Remus Lupin, tão amante da matéria quanto ele. Mas aquilo não o incomodava, de modo algum; ele sabia bem que ele e Lupin tomavam rumos diferentes. Sabia bem que, no caminho que ele iria seguir, nada poderia alcançá-lo.

— Quem é? — perguntou uma voz rouca e um tanto sonolenta quando ele entreabriu a porta.

— Severus Snape — disse Severus, erguendo as mãos para o alto.

— Ah, entre! — disse a voz rouca, se tornando subitamente mais animada.

Ele caminhou mais alguns passos para encontrar Faunt debruçado na própria mesa. Tinha o mesmo aspecto impecável de sempre, mas olheiras fundas marcavam seus olhos. Se fosse reparar, ele tinha um aspecto pálido e adoentado.

— Passou a noite acordado? — deduziu Severus.

— Pesadelos — disse Faunt com um trejeito. — Sempre tive, mas, desde que vim para Hogwarts, eles têm piorado.

Um carro verde. Cabelos negros sacudindo no ar. Os sons de uma discussão raivosa, o rosto dela coberto de hematomas, enquanto ela chorava e falava. Ele — o homem que destruíra sua vida e seus sonhos —, os olhos desvairados de raiva.

Ele largou o volante e sua mão atingiu pesadamente o rosto dela. Ela voou para o lado, e essa dor momentânea foi provavelmente a última coisa que sentiu. Um enorme caminhão passava na frente deles…


— Faunt?

— Quê? — disse o professor despertando de seus pensamentos.

— Você deve estar com sono — disse Severus. — Acho que é melhor que eu passe aqui outra hora.

— Imagine — disse Faunt com firmeza. — Sente-se. Não nos vemos desde o início das férias, e eu tenho certeza que está aqui por causa de ontem à tarde.

Um leve vestígio de surpresa iluminou-se no rosto de Severus.

— Como você sabe?

— Estava lá, Severus. Pude ver como seus olhos brilharam. Você quer afastá-los, não?

— Sim, quero — disse Severus.

— Então, terá que usar todas as cartas que tiver na manga — disse Faunt sério. — Tem medo de usá-las?

Severus encarou o professor por alguns instantes. Um brilho desmedido nos olhos negros como túneis escuros. Olhos como os de Eileen.

— Não.

— Era o que eu esperava ouvir.

Seus olhos eram quase febris.

— O que devo fazer?…




Corredor da sala de Feitiços.

Geralmente nada acontecia por ali; era um lugar muito tranqüilo, pois era raro turmas de casas rivais se encontrarem, devido a uma estranha combinação de horários. O único horário em que se corria o risco de conflito era justamente na terça-feira no segundo período da tarde; quando grifinórios do sétimo ano iam para a aula de Feitiços e cruzavam com sonserinos veteranos que desciam da aula de Transfiguração para a de Herbologia, nas estufas. Então, eram olhares trocados, mãos torcidas, e, eventualmente, um ou outro azarado.

Após seu período livre, Lily subia apressadamente para a aula de Feitiços. Estava muito entretida em tentar ajeitar debaixo dos braços todos os livros que não tivera tempo de colocar na mala, por isso não viu quando Narcissa Black se aproximou e as duas trombaram espetacularmente.

Lily foi ao chão sob o peso dos livros, sendo logo acudida por Daisy, que estava próxima. Narcissa nem chegou a cair; foi logo aparada por Lucius Malfoy, que estava logo atrás dela. Mas agiu como se tivesse levado o mais fenomenal dos tombos.

— Ei, não olha por onde anda? Será que os livros andam te deixando cega, Evans?! Sempre soube que seus olhinhos verdes eram puro disfarce.

— Oh, por Merlin, eu machuquei a Narcissa! — disse Lily ironicamente. — Por Morgana, me desculpe por tocar com meus dedos sujos na bonequinha de porcelana! Ah, faça-me o favor, eu tenho mais o que fazer do que perder meu tempo com você.

Narcissa bufou indignada, mas Lucius achou que era seu dever tomar a defesa da pretendente:

— Vamos, Narcissa. Acho que precisaremos passar no banheiro para nos desinfetar, as pessoas não recomendam a proximidade com sangue-ruins…

Lucius Malfoy nunca teve muita sorte em seus anos de Hogwarts. Primeiro, teve o azar de ser eleito monitor da Sonserina, o que nunca foi uma posição privilegiada para ninguém. Depois, forçado a se meter no meio de confusões, tornou-se alvo não-intencional de várias azarações — e alvo intencional de várias gozações. Como monitor-chefe, seu trabalho só piorara. E ele tinha o azar de xingar Lily bem na frente dos Marauders.

Ele só percebeu o que o atingira quando já estava com metade das vestes emboladas na cabeça.

Os risos encheram o corredor, de recém-chegados grifinórios e lufas-lufas, que faziam a aula de Feitiços juntos. Alguns sonserinos, entre eles Evan Rosier e Senior Avery, também riram muito da cara de Malfoy, que, ao finalmente se livrar das vestes — no que teve uma ajuda essencial de Narcissa —, se deparou com o rosto sorridente de Sirius Black. Vermelho de raiva, saiu a passos largos para as estufas, seguido por Cissy e — para a surpresa da mesma — Severus.

— Maldito Black — resmungava Lucius. — Eles me pagam, ah, se me pagam!

— Lucius.

Ele se virou para fitar o rosto de Severus.

— O que você quer, hein? Rir da minha cara?

— Não. Te oferecer uma oportunidade de vingança.

Lucius pareceu pensar.

— Narcissa, vai andando. Eu te alcanço depois.

Com um resmungo por não poder ouvir, Narcissa se afastou em direção às estufas. Ao vê-la longe, Severus sussurrou:

— Eu posso lhe dar uma ajudinha para se vingar de Sirius Black.

— E o que você iria querer em troca?

— A senha do banheiro dos monitores.

Lucius e Severus se encararam por um momento; olhos acinzentados e negros se cruzando no ar.

— Como planeja?…

— Quarta-feira, segundo período da manhã. O que você tem?

— Período livre.

— Então, esteja do lado de fora da sala de Slughorn. Você verá.




Dia seguinte. Aula de Poções.

Como sempre, o Prof. Slughorn pigarreou antes de começar a aula.

— Hoje, vamos preparar uma Solução para Provocar a Febre. Para começar, alguém pode me dizer os usos do alho em poções?

Cinco mãos se ergueram no ar.

— Sr. Longbottom?

— O alho é usado para debilitar o estado físico das pessoas.

— Dez pontos para a Lufa-Lufa. Sim, como disse corretamente o Sr. Longbottom, o alho, se dissolvido bem em essência de semente de papoula, provoca um ataque ao sistema nervoso, debilitando as pessoas. Olhem lá na página 62 do livro, e vão encontrar a Solução para Provocar a Febre. Quero que se juntem em duplas e se concentrem, pois um de cada dupla vai provar a solução!

Frank e Remus se entreolharam com pânico no olhar; Sirius e James apenas riram, divertidos, e se apertaram as mãos com entusiasmo.

— Vamos ver o que acontece, Sr. Prongs?

— Vamos, Sr. Padfoot.

Na mesa ao lado, porém, fora das vistas dos três Marauders presentes, Daisy fazia par com Alice, e Lily com Severus.

Seu rosto estava realmente corado quando ela tomou o alho nas mãos.

— Você descasca o alho e eu vou moendo a papoula para dissolver na solução — disse Severus em voz baixa.

Sabia que, em algum lugar ali no corredor, Lucius estaria esperando por sua vingança. E ele saberia muito bem como se vingar daqueles dois idiotas. Mas, agora… agora, com Lily ao seu lado… não havia como pensar em mais nada. Não vendo ela descascar o alho em dentes enquanto ele moia as papoulas com o cabo do pilão.

— Ei — disse Lily, reparando no que o sonserino estava fazendo. — O livro diz para moer com esse lado aqui — ela apontou.

— Acredite em mim, Lily — disse Severus com um suspiro —, a poção vai ficar melhor se você amassar com o cabo. Libera mais essência.

Lily sorriu, voltando a se ocupar com o alho.

— Às vezes nem tudo o que está no livro é certo, né? — perguntou encantadora.

— Sempre podemos melhorar, se tivermos um pouco mais de visão — disse Severus, despejando a papoula moída na poção com movimentos circulares.

Eles apenas sorriram, constrangidos, quando a mão de Severus resvalou na de Lily enquanto ele mexia o caldeirão.

— Severus… — disse Lily pensativa.

— Sim? — perguntou Severus, se voltando para ela.

— Eu… sobre aquela noite… eu… não te falei nada desde então…

Severus nada disse, continuando a mexer o caldeirão. Esperando com toda a ânsia do seu ser, mas sem deixar transparecer em um único gesto.

— Eu queria dizer… que… bem, que eu não sei o que dizer…

— Que você está confusa…

— É, eu estou confusa…

— Que não sabe o que pensar…

— Realmente, não sei o que pensar…

— E que vai tentar pensar um pouco sobre isso, e, quando puder, me dá a resposta.

— É, eu vou… Ei! — ela exclamou.

Os dois trocaram um breve olhar. E ele disse, a voz séria e definitiva:

— Sou capaz de matar e morrer por você.

Ela sentiu o sangue subir-lhe às faces, e abaixou os olhos para a mesa. Estendendo os dentes de alho, já que a poção estava no ponto, ouviu as palavras de Severus:

— Não sei se já ouviu isso antes, mas esperarei o tempo que for preciso… Lutarei por você. Demorou muito até eu conseguir gostar de uma pessoa como eu gosto de você, Lily. E eu não vou deixar que isso se acabe tão rápido. Aliás, não vou deixar que isso se acabe.

Ela continuou em silêncio, apanhando um pouco de camomila e desfolhando em cima de um recipiente.

Enquanto isso, Frank e Remus estavam começando a ficar desesperados. A poção, que àquela altura deveria estar exibindo uma coloração branca, agora estava de um amarelo doentio.

— OK, estamos ferrados — murmurou Remus.

— Concordo — disse Frank. — Remus, se eu morrer, você avisa minha mãe que eu gosto muito dela, e a Alice…

— Deixe de ser idiota — replicou Remus rispidamente. — Eu é que vou tomar esse negócio. Só que a gente vai tentar consertar antes.

— E como está indo a poção, meninos? — disse Slughorn se aproximando do caldeirão.

Remus suspirou.

— Levemente desastrosa. Professor, você tem antídoto para venenos aí?

Slughorn riu brevemente, no que foi acompanhado por James e Sirius — cuja poção estava perfeita, diga-se de passagem.

— Sr. Potter, Sr. Black, podem ajudar os seus amigos antes que eles acabem explodindo a sala?

— Claro, professor — sorriu James. — Sirius, vai cuidando da poção.

Pacientemente, James ajudou Remus e Frank a corrigirem o amarelo doentio, enquanto Sirius terminava a própria Solução para Provocar a Febre.

— Viu! — disse, ao final, quando a poção estava do exato tom prateado que deveria estar. — Não é tão difícil.

Remus já suava por antecipação.

— Calma, Remie — disse Frank. — Quer que eu tome a poção?

— Não — disse o grifinório com firmeza. — É que… ah, sei lá… será que a poção tá certinha mesmo?

— Tá sim — disse Sirius. — Tá igualzinha à nossa, por isso não poderia estar melhor, afinal, fui eu que fiz.

Remus revirou os olhos, mas sentiu um frio no estômago quando Slughorn falou:

— Oho! Um representante de cada dupla deve vir aqui com um pouco da poção para tomar!

— Minhas pernas estão tremendo — disse Remus trêmulo, tentando colocar um pouco da solução num frasco, mas derramando tudo.

Sirius levantou:

— Deixa que eu te ajudo, Remie! — disse, tomando o frasco encharcado das mãos do rapaz e enchendo-o.

Ele não pôde perceber que Severus, a caminho da mesa do professor, derramara o conteúdo de um saquinho na sua poção.

— Tô indo lá, James! — disse o animago, enchendo um frasco com sua poção (que se tornara de um cinza túrgido, mas ele não reparou nisso).

A porta da sala se entreabriu levemente, e dois olhos cinzentos e frios como gelo espiaram os alunos. Severus olhou para a porta e fez um sinal positivo, e os olhos brilharam de um modo estranho.

— OK, Sr. Lupin, venha até aqui — chamou Slughorn.

“Merlin, dê tudo certo, Merlin, dê tudo certo, Merlin, dê tudo certo”, repetia Remus freneticamente na cabeça.

— Se a poção do Sr. Lupin e do Sr. Longbottom estiver correta, o Sr. Lupin vai ser vitimado por uma febre imediata que eu logo curarei. Se não estiver, bem… Tenho uns antídotos e poderia alcançá-los bem rápido.

“Merlin, dê tudo certo, Merlin, dê tudo certo, Merlin, dê tudo certo…”

Remus engoliu a poção de um só gole. Seu rosto se tornou intensamente pálido por alguns instantes, assustando Frank e James — mas logo em seguida avermelhou muito, enquanto ele se apoiou na mesa.

— Acho que deu certo — disse fraco.

Todos aplaudiram, enquanto Slughorn dava o conteúdo de um garrafão azul para Remus, que, ao tomar um mero gole, se pôs de pé imediatamente, aliviado, fumaça saindo das orelhas.

Vendo que tudo iria dar certo, James se desinteressou e se virou para Frank.

— Bem, Frankie, você vai no jogo de quadribol sábado que vem?

— Vou torcer contra vocês, já estou avisando — advertiu Frank. — Gosto muito dos Marauders, mas a casa de Hufflepuff merece algumas glórias.

— O quê? — disse James com um riso. — Você acha realmente que aquele tampinha do Seed consegue pegar um pomo antes de mim? Faça-me o favor, Frankie.

— Mas Gudgeon é um bom artilheiro.

— E eu confio na Dorcas. Vamos ganhar a Taça esse ano.

— Há, há, duvido. O nome dos amarelinhos já está escrito naquele troféu.

— Como segundo lugar.

— GASP!!

Sirius! — exclamaram James e Frank, se voltando para a mesa.

Sirius, que acabara de tomar sua poção, estava de uma cor estranha, como de mingau velho. Seus olhos giraram, ele levou a mão à garganta com um ruído de engasgo, e desabou.




— Ele podia ter morrido.

— A nossa poção estava normal, eu juro que estava normal! Né que estava normal?

— Estava! Estava da mesma cor que a minha e de Remus, Sirius até comentou isso!

— Tanto não estava que aconteceu isso.

A conversa nervosa se passava na ala hospitalar. Sirius estava deitado, inconsciente, os cabelos negros desalinhados pelo rosto pálido; James, Remus, Frank, Peter, Lily, Daisy e Alice o circundavam, assim como o Prof. Slughorn e Madame Pomfrey, que se encarregava de prestar os últimos cuidados ao rapaz.

— Sim, sem dúvida, folhas de papoula — disse Slughorn pensativo. — Folhas de papoula, junto com alho, podem produzir efeitos mortais! Deviam ter tomado mais cuidado, garotos!

— A gente nunca iria colocar folhas de papoula no meio de uma poção que nem precisa de folhas de papoula! — disse James indignado.

— Ah é, então o que aconteceu? — perguntou Daisy de mãos na cintura. — Choveram folhas de papoula em cima da poção?

— Não, alguém sabotou nossa poção!

Remus, que estivera ocupado em fitar Lily, muito quieta, ajoelhada ao lado do leito, se virou imediatamente para James.

— Como assim?

— Alguém queria que o Sirius se envenenasse — disse James sombriamente. — Alguém que tinha bem noção do que iria acontecer se ele jogasse uma porção de folhas de papoula na poção.

— James… — disse Remus em tom de aviso. — Se você vai acusar quem eu penso que vai acusar, pense duas vezes.

— Quem você está acusando? — perguntou o Prof. Slughorn. — Pessoalmente, não creio que alguém poderia ter feito algo tão terrível!

— Só tem um sonserino na classe de Poções — sentenciou James.

No mesmo instante, Lily ergueu a cabeça:

— Severus fez a poção comigo — disse em tom inflexível —, e só saiu do meu lado para ir levar o frasco lá na frente.

— Ele podia ter muito bem feito isso — insistiu Prongs. — Ele é capaz de tudo.

Lily abriu a boca para replicar, mas, nesse instante, uma frase de Severus ecoou em sua mente.

“Sou capaz de matar e morrer por você.”

— Deixe de ser idiota, James — disse Remus. — Enquanto você não tiver provas de que Severus fez isso, não pode falar nada.

— OK, mas que foi ele, foi.

E voltou seu olhar para Sirius. Agora, inconsciente, parecia tão inofensivo, e James sentia o gosto amargo do arrependimento tomar-lhe a garganta. Como poderia ter ciúmes de Padfoot, seu amigo, seu irmão? Como poderia querer mal a alguém que gostava tanto? Vê-lo assim, tendo passado perto da morte, o deixava infeliz, por saber que havia pensado muito mal de Sirius, que havia desejado que ele não estivesse por perto. Como era idiota!

— Olha, Padfoot — ele sussurrou baixinho —, eu não sei quem foi. Eu só sei que essa pessoa vai pagar caro.

Remus ficou fitando o amigo; e havia apreensão nos olhos dourados.




— E então, o que achou?

— Ele morreu?

— Não. Não coloquei muitas folhas de papoula, não queria matá-lo. Além do mais, Black possui uma constituição forte. Mas admita que foi engraçado ver aquela expressão de arrogância se desfazer.

— Foi. Black revirando os olhos não é coisa que se vê todo dia. Pena só que não o matou… Perdeu o troféu por serviços prestados à escola.

— Os grandes heróis não se orgulham do que fizeram.

Sorrisos.

— E então?

— Então o quê?

— Quero a senha do banheiro dos monitores.

— Ah. A senha. É… “Limpeza Brilhante”.

— Se estiver errada, Lucius…

— Eu cumpro meus acordos.

— É bom.

— Eh, Príncipe? O que exatamente você pretende fazer no banheiro dos monitores?

— O que é que se faz num banheiro?

— Não vá me dizer que quase matou Black para tomar banho.

— Lucius, Lucius… Você é muito inocente.




Noite. Sala de aula de História da Magia.

Dois caldeirões nas chamas, ingredientes devidamente separados e Remus e Lily estavam novamente se entregando a mais uma noite de estudos.

— Hoje, nós vamos fazer a Solução para Animar — disse Lily. — As instruções estão na página 210, dá uma olhada.

Obediente, Remus abriu o livro, procurando a poção indicada. Seus olhos se apertaram em aflição.

— É muito difícil, Lily!

— Então, mãos à obra.

Como é que justo Remus Lupin, tão cuidadoso, de mãos tão delicadas, podia ser ruim em Poções? Ele, que picava agora folhas de Ilex paraguariensis com empenho, os olhos apertados, os movimentos sutis e precisos? Lily apenas o observou, sua dedicação extrema, seus cabelos castanhos caindo por cima dos olhos, e suspirou.

— Eu fiquei realmente assustada, hoje.

— Eu também — sussurrou Remus baixinho. — E estou preocupado.

— Coloque as folhas na poção. Três pedacinhos por vez.

Os dois ficaram em silêncio por alguns momentos, enquanto Remus se dedicava a acrescentar os ingredientes. Findo esse serviço, Lily disse:

— Tem alguns grãos de café. Devemos moê-los com o pilão e espalhar na poção.

Remus acenou afirmativamente, apanhando trinta e nove grãos (matematicamente contados) e moendo-os com força.

— Por que você está preocupado, Remie? — perguntou Lily de repente.

— Por causa de James.

Ah, sim. A mesma dedicação que Remus entregava agora ao café, entregava aos amigos. Tinha medo por James, e Lily vira a expressão de desespero em seu rosto quando correra para aparar a queda de Sirius.

— O que é que Potter fez?

— Eu tenho medo do que ele possa fazer — suspirou Remus. — Ele parece estar convencido de que foi Severus. E James e Sirius são como unha e carne. Pode ter certeza que ele vai se vingar.

— Não pode ter sido Severus — tornou a afirmar Lily. — Ele esteve ao meu lado o tempo todo. Ele não faria isso.

— Não posso dizer se faria ou não — disse Remus —, mas não tenho provas de que foi ele. Pode tanto ter sido ele como Tommy Edgecombe, que estava de cara com Sirius por ter sido atirado de cabeça no lago, ou mesmo o Gawain, que teve a cabeça transformada em uma abóbora por Sirius. Suspeitos não faltam.

— Sirius é muito popular — gracejou Lily, e os dois riram. Remus ficou fascinado pelo som daquele riso.

— Eu só tenho medo de que James faça alguma coisa sem pensar. Ele tem uma grande tendência a fazer coisas assim.

— Todos os grifinórios têm. A não ser, é claro, você.

Remus sorriu baixando os olhos para o café, que havia se transformado num pó excessivamente fino.

— Às vezes eu queria não pensar também. Daí eu teria uma desculpa para fazer o que eu quero fazer.

— E o que você quer fazer? — perguntou Lily inocentemente.

Remus engoliu em seco.

— O que eu faço com o café?

Lily apenas sorriu.

— Ah, Remus, Remus.




Seis dias depois. Ele estava torcendo para que ninguém notasse. No consciente, claro, porque no inconsciente ele desejara muito que alguém soubesse.

O dia inteiro ele ficou naquela ansiedade idiota. Esperando que algum colega viesse se levantar para apertar-lhe a mão, que algum professor se virasse para cumprimentá-lo, que alguém, alguém pelo amor de Slytherin, lembrasse porque aquele dia era especial.

Oh, mas era óbvio e grifinório demais esperar que alguém se lembrasse daquela data, se ele mesmo nunca contara a ninguém porque aquele dia era importante. Aliás, era idiotice, e sentimentalismo demais pensar que alguém iria se importar com aquele dia.

— Afinal, por que exatamente alguém lembraria que eu existo?

Ninguém. Ninguém no maldito dia inteiro. Nem mesmo Faunt — mas afinal, o homem mal o conhecia, apesar de todo o afeto que parecia dedicar; como poderia saber daquilo? —, nem mesmo um de seus colegas de dormitório; nada nem ninguém lembrara daquela data especial.

Então ele se lembrou do presente que iria dar a si mesmo.




Noite.

James corria pelo corredor. Era o dia em que Sirius receberia alta, e estava louco para ir aprontar alguma com o amigo. Alguma contra Snape, de preferência.

Distraído como estava, não percebeu que mais alguém vinha pelo corredor, e chocou-se com tudo contra essa pessoa. Só no chão percebeu que era Padfoot.

— Padfoot! Estava indo te buscar agora!

— A Madame Pomfrey me deu alta — disse Sirius, ajudando James a levantar. — Graças a Merlin. Eu poderia não estar aqui.

— Que susto a gente levou — comentou Prongs. — Quando você engasgou, cara, eu gelei.

— Eu pensei que fosse morrer — disse o outro, colocando a mão na garganta, lembrando da falta de ar.

— Eu também tive medo que você fosse morrer — admitiu James. E, comovido: — Olha, Paddy, me desculpe…

— Por quê? Por você me chamar de Paddy, gazela?

Cervo. Na verdade, eu queria pedir desculpas… Por ter te tratado mal. Por não ter te entendido. — “Por ter querido que você morresse.”

Sirius o olhou, e de repente, seus olhos pareciam emanar chamas.

— James… — ele disse emocionado, puxando James para um abraço.

Os dois ficaram assim por algum tempo, abraçados, arrependidos. E, quando se encararam, eram os velhos Marauders: amigos incondicionais. Brigas tinham sido esquecidas.

— Que tal a gente ir comemorar?

— Com uma invasão às cozinhas? Ou uma visitinha a Hogsmeade?

— A bem da verdade, eu estava pensando primeiro em ir tomar banho lá no banheiro do Moony. Depois invadir as cozinhas ou ir até Hogsmeade.

— Ótima idéia.




— Preciso dar um jeito de atraí-la…

Lily estava na biblioteca. Ele podia vê-la, visualizá-la, os cabelos ruivos caindo por cima do livro, os olhos verdes apertados, transcrevendo verbetes de poções, definições de criaturas das trevas, virando as páginas em um movimento frenético. Ela era tão adorável e graciosa.

Ele pôs todo o seu potencial sombrio naquele plano. A biblioteca ficava no quarto andar. O banheiro dos monitores, no quinto. Ela sempre voltava tarde, desacompanhada, seria fácil pegá-la desprevenida. Ele não tinha nenhuma intenção em especial; não queria violentá-la, roubar beijos à força ou coisa nenhuma. Queria só… conversar, talvez. Sem Trapp, Lynch, Slughorn, Marauders ou poções por perto. Num lugar que ele considerava bonito e não numa masmorra fétida invadida por dez gerações de fungos.

Ficou à espreita, como uma serpente prestes a dar o bote. Desejando dar o bote. Intensamente.

Já eram quase nove e meia quando ele ouviu os passos de Lily. Era ela. Só ela andaria assim, quase flutuante, os movimentos graciosos, porém, ao mesmo tempo, subjugada pelo peso de vinte livros.

Ela andava até o corredor. E, realmente, a mala pesadíssima. O rosto vermelho e ofegante. Ah, agora era tarde demais para desistir.

Ela passou perto da estátua de Boris, the Bewildered. Era uma estátua alta, além de ser uma passagem secreta. Ele podia muito bem se ocultar nas sombras — ou já estava mesclado com elas? — e esperar que ela passasse para segurá-la.

E ela passou. E ele estendeu os braços, tocando aquela pele macia como seda, lisa e perfeita como uma fruta. Num movimento desajeitado, a puxou para si, antes que ela pudesse reagir, a surpresa escancarada em seu olhar; e exclamou:

— Limpeza brilhante! — sumindo com Lily para dentro da estátua.

Ah, o banheiro dos monitores. Doces fragrâncias perfumadas, um banheiro limpo — graças a Slytherin —, um ar gostoso que invadia as narinas e deixava o ocupante totalmente à vontade. Ele podia imaginar Lucius se pavoneando por ali. A única coisa boa em ser monitor, ele costumava dizer.

— Ah, Severus, o que é isso? — exclamou Lily, assustada, os olhos verdes arregalados.

— Não vou te machucar — ele sussurrou. — Nunca te machucaria.

— Então por que me trouxe aqui?

Severus estacou. O que era mesmo que ele iria dizer para Lily depois de arrastá-la até o banheiro? Diabos, ele estava parecendo um maldito grifinório impulsivo!

— Desculpe. Eu só… queria falar… com você. Sobre… nós.

Lily o olhou. Seus olhos baixos. Ele era preconceituoso. Ele era sarcástico. Ele era sonserino. Mas… ele era uma pessoa que precisava desesperadamente de alguém, isso era visível em seus olhos. Era solitário, uma mera sombra nos corredores, e, talvez, por debaixo daquela casca fria de sonserino houvesse uma pessoa boa…

— O que você quer me falar, Severus?

Ele a encarou por alguns instantes. Antes mesmo que pudesse pensar, seus lábios já haviam falado:

— Hoje é meu aniversário.

Ela pareceu surpresa. Mas nada disse, a não ser:

— Está fazendo 18?

— Sim — disse o rapaz. — Já sou maior de idade há um ano agora.

Ela sorriu.

— Você passou na aparatação. Na primeira tentativa. Eu lembro.

— É, passei — disse Severus, também sorrindo, agora. — Eu consegui.

— É, você conseguiu.

Ele apenas se aproximou; tocou suavemente seu rosto, sentindo sob os dedos finos e longos o calor e a maciez daquela pele. Os cabelos ruivos caíam sobre sua face. O mundo era um borrão vermelho e verde. As luzes das velas tremulavam, os corações disparavam, tudo se agitava num redemoinho de emoções, e ele uniu seus lábios aos dela.

Foi apenas por alguns segundos; mas Severus sentiu como se uma onda de bem-aventurança o atravessasse e o envolvesse em calafrios. Não havia sonhos, futuro ou qualquer coisa que fosse; não havia vingança ou planos mesquinhos. Havia somente ela e aqueles lábios; e o resto que se danasse — tudo era pouco pelo sabor daquele beijo…

— Não, Severus, não.

O encanto se interrompeu; com um tranco desagradável, o banheiro voltou ao lugar como se jamais houvesse saído de lá. Como se não fosse mera ilusão…

— Eu não posso… — ela murmurou. — Eu não posso porque eu estou confusa, porque eu não sei se posso retribuir o que você sente por mim.

E, com os olhos marejados:

— Desculpa…

E ele se sentiu o ser mais infeliz da terra.

Sem uma palavra, sem nada a dizer, simplesmente precipitou-se para a passagem; estava quase transpondo o portal quando ouviu:

— Severus?

— Sim? — disse ele se voltando imediatamente.

— Feliz aniversário.

Ele sorriu. E talvez aquele fosse o seu último sorriso verdadeiro na vida.




O banheiro vazio.

Ou quase.

Veias vermelhas se destacavam nas narinas de James; Sirius afastou algumas mechas de cabelos negros do rosto.

— Acho que está na hora de fazermos alguma coisa, James.

— Concordo, Sirius.

E, solenes, apertaram as mãos. Que começasse a verdadeira disputa.



Legenda:

Boris, the Bewildered: Bóris, o Pasmo.


N.A.: Ilex paraguariensis: erva mate, baby! Outra coisa: gente, se preparem para algum acontecimento escabroso e fora dos fatos oficiais da fic. Eu, sinceramente, estou pouco me lixando para o nascimento do Harry, Voldemort, profecia, etc. Pra mim, só o que importa é o ano de 1978. Ou seja, quem não gosta que os fatos oficiais sejam contrariados, gire os calcanhares e dê o fora! *simpática...*


Prévia:

Não há como perdoá-lo. Ele se atreveu a tocar Lily, a beijá-la, a tê-la entre os braços — crime sem perdão. Ele deve ser punido exemplarmente... Para aprender a não tocar no que não é seu. E James e Sirius vão cuidar disso.

Castigando a Pretensão


" — Eu vou te matar, Potter!
— Olha que medinho... Uediuósi!



Quem se interessar, visite:

Matar ou Morrer (O 3º cap ainda demora um pouco, pessoal...)
http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=15209

Os Outros
http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=14942

Incondicionalmente
http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=14650

Shining Like a Diamond
http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=14686

N.A.: Comentem!!!

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