Limites da Razão



N.A.:MAIS DE 450 VIEWS?! E 49 COMENTÁRIOS?! *capota*
*depois dos sais* Valeu, galera! Muito obrigada por quem leu até aqui! Thank you para quem leu e gostou, thank you para quem pretende continuar lendo e thank you para quem comentou e votou!


Dark Princess: Obrigada! É, o Sirius sabe o que fazer e quando fazer. Por isso que enlouquece todo mundo... *suspiro* Eu decidi colocar Alice e Frank paralelos, para meio que quebrar um pouco o clima da fic... Eles são fofinhos, né? Valeu!

Danny Evans: Obrigada por estar sempre lendo e apoiando a fic, desde o começo! Achei que essa cena ficou boa mesmo... Que bom que você gostou! Já tá aqui o 5! Beijos!

Gabriela Twilight: Acho que errei na hora de escrever seu nome da outra vez... É com um 'l' só, né? Eu sei como é difícil quando a gente tem um monte de fics... Deixa de ser prazer pra virar obrigação... Por isso tô só com a Perfume e nada mais. Valeu pelo comment!

Ana Bolena Black: Obrigada também por estar sempre comentando aqui, desde o trailer! Bom que você gostou da cena do Sirius... E, quanto ao Faunt, eu acho que a sua opinião sobre ele só tende a piorar com o que ele vai aprontar nos próximos capítulos... Sim, é a mesma Eileen Prince do sexto livro, a mãe do Snape. A relação entre ela e Faunt será esclarecida no capítulo 7. Beijos!

Thássia: Valeu por ter comentado! Que bom que você gostou! Bem, aqui está o capítulo 5, confira! Valeu!

Lady Tromevold: Não precisa ficar tão histérica menina. O tamanho do NÃÃÃÃÃÃO no comment... Você não gosta de coques? Acho que eles ficam simplesmente lindos... Bem, mas como não entendo de penteados e roupas *usando a mesma jaqueta há três dias*, erros de combinação acontecem bastante... Fazer o quê. Já está aqui o cap. %, e pode deixar, eu mando o aviso por e-mail! Beijos!

Gaby Evans Potter: Antes de tudo, Gaby, obrigada por me defender junto à Ninee! *imaginando duas pessoas que ela nunca viu conversando sobre algo que ela fez* Você é um anjo! E, bem, a gente sabe que você torce pelo James... E no próximo capítulo ele vai ter mais espaço, OK? Fique à espera! É, o nosso Sevie vai fazer algumas coisas meio malucas... Aquilo tudo que eu escrevi no trailer vai acontecer mesmo! É só aguardar... Beijão!

mar¢ella_728: Tá bom, tá bom, tô postando! Obrigada pelo comment!

KyO Black: Já está aqui o capítulo 5! Valeu!

Ninee Black: Você não sabe como me deixou emocionada com o seu comentário. Sabem que você está fazendo uma coisa tão boa que possa mudar a opinião das pessoas é extremamente gratificante! Você me deixou super happy! A sua dúvida também é minha. Não sei com quem a Lily fica... Depende do que for mais forte pra ela. *achando que tem que decidir logo* Você não é a única que ama o Six (SIRIUS FOREVER!), ele é o personagem mais legal da JK (o único que rivaliza com ele é o Remie)... Na verdade, não entendo muito de Astronomia, mas gosto bastante da etimologia dos nomes do Harry Potter... Sirius é a estrela mais famosa da constelação de Cão Maior (o que torna o nome dele literalmente "cão preto"), e Órion, que é o nome do pai do Sirius, vem de uma constelação chamada Órion, o Caçador, onde, por coincidência, tem uma estrela chamada Bellatrix... Legal, né? Adoro isso! Obrigada pelo comentário e tomara que você goste deste capítulo!

Líll Ginny Potter: Não gosto do Rony porque ele é, como a Mione definiu tão bem, "tão sensível quanto um legume". Ele é muito bobalhão para a Mione! E, pois é, eu gosto de J/L, mas se eu fosse escrever uma J/L normal não ficava tão boa *bem consciente de que não tem o menor talento pra escrever comédias*. Valeu por estar sempre aqui marcando presença!

Pérola Black: Ai, gente, vocês exageram... Não é pra tanto... A idéia da sua fic é simplesmente esplêndida! Se for postar ela, me avisa que eu quero ir correndo lá conferir! Bem, eu também tô aflita, porque eu também não sei com quem a Lily vai ficar! Tudo depende do desenrolar da história; no final, a história vai estar pendendo para alguém, e daí esse alguém vai ser o escolhido. Não sei quem é... E não garanto que é o James. E, quanto ao Peter, eu detesto quando botam ele pra viajar, só pra tirar ele do caminho! O Peter é uma parte importante dos Marauders, o traidor, aquele em que todo mundo confiava mas que deu uma rasteira! Acho ele figura obrigatória nas fics! Valeu pelo comentário! Beijos!!!

Flavinha Snape Kal: Que bom que você gostou! Não acho que tá tão boa assim, mas se você diz... Continue acompanhando!

N.A.: Nesse capítulo eu fiz algo diferente. Estava lá eu, escrevendo o cap. 3 e pensando no que iria fazer no 4, quando, de repente, escuto Piano Bar, dos Engenheiros do Hawaii (ENGENHEIROS FOREVER!!), presença obrigatória na minha playlist... E me dou conta de que é a música perfeita pro capítulo! Então, introduzi a letra no cap... Tomara que vocês gostem!



Capítulo 5: Limites da Razão


Na verdade nada é uma palavra esperando tradução
Engenheiros do Hawaii — Piano Bar



“Droga de vida. Droga, droga, droga de vida”.

Era o que Sirius Black repetia para si mesmo em pensamento. Céus, já fazia cerca de um mês que ocorrera aquele mil vezes maldito baile. Um mês em que só Deus sabia como fora difícil para ele se conter. Se esquivar de Lily nos corredores, tentar fitar seus olhos verdes sem se descontrolar, sem sentir suas mãos tremerem e o suor frio escorrendo pela testa. E James só piorava a situação.

Com seus milhares de planos para conquistar Lily, compartilhados em cada detalhe com o melhor amigo; desde as cantadas inconvenientes, até os pedidos para sair e os mimos, tudo James dividia com Sirius, esperando poder contar com o outro; e Sirius se sentia um lixo toda vez que James fazia isso, um lixo que não era sequer capaz de retribuir uma amizade. De esquecer uma garota pelo melhor amigo, pelo irmão que fora capaz de acolhê-lo em tempos difíceis…

Esqueça ela, eu já te disse.

“É mais fácil me dizer para arrancar as pernas.”

Você sabe que sua vida será mais fácil assim.0

“Eu tentei! Você sabe muito bem que eu tentei! Mas é impossível, porra!”

O que você me pede eu não posso fazer


E cadê a sua famosa força de vontade?

“Tirou férias. Por mais que eu force ela, ela não aparece, eu não consigo esquecê-la…”

Você não quer esquecê-la.

“Talvez eu não queira… Talvez seja por isso que seja tão difícil… Talvez…”

Inútil. Traidor. James te levou pra sua própria casa. A família de James lhe deu cama e comida quando você precisou. E é essa sua paga?

“Você fala como se não fosse difícil pra mim também suportar isso tudo. Você fala como se eu não estivesse sofrendo! Caralho, será que você não entende que o meu coração está desintegrando de culpa? Será que você não entende que não sou mais o velho Padfoot, que eu não passo de um monte de pedaços de alma mastigados e cuspidos?”

— Padfoot? — chamou uma voz hesitante.

Sobressaltado como se tivesse despertado de um sono profundo, Sirius olhou para os lados; o dormitório escurecera desde que ele se internara ali, logo após a aula de Estudos dos Trouxas, desperdiçando todo um período livre. Ele não sabia se realmente não percebera a escuridão ou se tinha estado demasiado preguiçoso para acender a luz; só viu a silhueta de Peter recortada contra a luz que vinha da Sala Comunal.

— Você já vai dormir, Padfoot? Não são nem sete horas… Eu vinha te chamar pro jantar…

Sirius se levantou com rapidez.

— Wormtail, você mesmo que eu, Sirius Black, o terror da noite, vou dormir antes da uma da madrugada? Tenho uma reputação a zelar!

Peter riu, e Sirius sentiu uma pontada de remorso em si mesmo. Também estava prestes a completar o seu aniversário de um mês o dia em que ele sacudira seu dedicado amigo pelo colarinho. Ele e Peter estavam meio distantes, desde então, e agora o rapaz preferia ir atrás de Prongs ou Moony em vez de estar com ele como costumava fazer. Talvez tivesse medo do que iria escutar dessa vez.

Assim você me perde, eu perco você


— Ei, Pete…

— Que foi?

Sirius abriu um largo sorriso.

— Quem chegar por último no Salão Principal vai se casar com a Narcissa!

E saiu correndo, às gargalhadas, enquanto ouvia os passos ansiosos e afobados do amigo que gritava que não era justo.




Ah, como era bom voltar de uma boa refeição. Era o que constatavam Sirius, James e Remus, de barriga cheia, tomando seu caminho até a Sala Comunal. Peter ficara lá, pois sua barriga, como tendo um tamanho maior, demorava mais para ser plenamente enchida, como falava rindo James e sua lógica brilhante.

Se sentaram à mesa da Sala Comunal. Remus desenrolou um enorme pergaminho e tirou alguns livros da mala.

— Que dever é esse, Remie? — perguntou Sirius, com medo de que fosse algum trabalho que tinha esquecido.

— Dever de Astronomia — respondeu Remus lacônico, puxando um calendário lunar.

— Sinceramente, Moony, não sei por que você ainda estuda Astronomia — disse James, puxando da mala seu dever de Adivinhação. — É tão inútil.

— E Adivinhação não é menos inútil — disse Remus, concentrado em
descrever a atmosfera de Saturno. — Astronomia é bem mais interessante.

— Ah, eu gosto de Adivinhação. Dá pra zoar bastante.

— E eu acho vocês dois malucos — disse Sirius. — Pra mim, é só Trato das Criaturas Mágicas e Estudos dos Trouxas. Quase sem deveres.

Ele deu uma espiada no calendário lunar e um sorriso entusiasmado surgiu em seu rosto.

— Ei, semana que vem é Lua Cheia!

Remus e James o olharam, silenciosos. Compartilhando o mesmo entusiasmo no olhar.

— Qual vai ser a aventura desse mês? — perguntou Sirius.

Remus reprimiu um gesto de ansiedade, enquanto James falava:

— Vamos até…

Nesse instante, Lily adentrou o buraco do retrato. Os três acompanharam fascinados o movimento de seus cabelos ruivos.

Remus foi o primeiro a sair do breve instante de torpor, e forçou seus olhos castanhos a se voltarem para James e Sirius. A expressão embevecida de Sirius o assustou; ele nunca vira Six assim antes. Mas, a não ser que ele interrompesse o encanto logo, James também ia perceber aquilo.

— Prongs? O que você estava falando? — perguntou Remus se fazendo de inocente.

Subitamente, como se ele, em vez de falar, tivesse lhes atirado um balde de água fria, os dois se voltaram para ele.

— Disse alguma coisa, Moony? — perguntou James, levando uma das mãos aos cabelos.

Meu Deus, ele não muda nunca?!”

— Nada — disse Remus incisivamente, olhando para Sirius —, só perguntei o que é que você ia falando e parou.

Sirius olhou fundo naqueles olhos amigos, e no momento extremamente hostis. “Caramba, será que ele sabe?”.

Como não saber, se você mostra tanto que só falta andar por aí com um letreiro de neon pendurado no pescoço?

“Não enche, você também!”

— Eu tava dizendo pra gente dar uma passada na Floresta Proibida — disse James. — Saudade de ver unicórnios.

— Boa idéia — apoiou Sirius sem realmente saber com o que estava concordando.

Remus fez que sim com a cabeça, tristemente.

— OK… Tem mais alguma sugestão, Six? — perguntou James.

Sirius, que olhava Lily por cima do ombro de Remus, se sobressaltou.

— Eh… Sobre o que estávamos falando?

Como um barco perde o rumo


— Sirius!

— Ah, é, sobre a saída desse mês, né. Eu sugiro que a gente provoque os centauros. Acho que vai ser engraçado.

— E eu sugiro que a gente pare de escutar as loucuras desse insano — disse Remus. — O dia que a gente provocar os centauros vai ser o último dia de nossas vidas, e vocês sabem bem disso. Centauros não são burros, Sirius.

— Ah, então não sugiro nada, também.

— Deixa, Moony — riu James —, ele tá de TPM… Pra mais de mês.

— Ah, não encham! — exclamou Sirius definitivamente furioso. — Caralho, hoje eu nem devia ter saído da porra da minha cama!

E, xingando meio mundo e assustando um grupo de segundanistas tímidos que atrapalharam seu caminho na escada para o dormitório, subiu as escadas com passos retumbantes. Foi acompanhado por três pares de olhos curiosos; um deles extremamente verdes.




Ah. Que raiva.

Não sabia ainda o que fazer. Já se passara um maldito mês desde aquela festa idiota que ela tivera a falta de senso de ir. Será que era tão difícil escolher alguém?

Eles a provocavam. Por que ela tinha que morar com os três garotos que mexiam com seu coração, e o pior, que eles fossem todos amigos, que ela hesitasse tanto, que viessem sempre todos de uma vez?

Ver Sirius na Sala Comunal, olhando-a com aqueles terríveis olhos acinzentados, devorando seu corpo com o olhar. Ouvir a voz de James, que não podia vê-la vinha falar, vinha incomodar, vinha perturbar seu sossego, e admirar o rosto bem feito do rapaz. Se reunir com Remus em uma sala vazia, para estudarem Poções, e ver seus olhos cor-de-mel fitando-a com doçura e delicadeza.

— Aaaaah, eu vou enlouquecer.

A indecisão a tornava menos segura; ela já não sabia mais o que fazia. Já não erguia a cabeça no meio da multidão e encarava as pessoas de frente. Várias vezes ouviu comentários preocupados, das amigas, principalmente de Daisy e Alice:

— Lily, você está estranha. Tem alguma coisa acontecendo?

— Não… São só os NIEMs.

Como uma árvore no outono perde a cor


Geralmente as pessoas acreditavam… Ela não era a única a estar prestes a entrar em colapso por causa dos NIEMs.

O mundo lhe parecia estranhamente apagado; sua vida em suspenso, prestes a cair, a desabar. E ela sempre tendo que se controlar. Sem saber o que eles realmente sentiam por ela, sem saber de nada, sem saber do mundo, e principalmente, sem saber de qual deles gostava. Se pegava desenhando corações nos pergaminhos, mas não sabia qual nome pôr. Estava apaixonada,mas não sabia por quem.

— Indecisão… pura indecisão…

Você devia escolher. Sabe que poligamia é contra a lei?

“E você acha que é fácil? Você acha que eu já não tentei, que não estou tentando, mas que simplesmente não sei qual deles mexe mais comigo?”
Eu sei, mas terá que escolher do mesmo jeito.

“Não me peça o que eu não posso fazer, por favor…”

O que você não pode eu não vou te pedir


O que você sente por cada um deles, para ficar claro? Primeiro o James.

“James… James é tão engraçado, tão alegre… Parece que quando ele está perto, o sol brilha o tempo todo, com ele tudo é alegria. Ele é dedicado… E… eu sinto ciúmes quando vejo ele conversando com outra garota. É como… acho que me acostumei a pensar que ele é meu. Eu sei que isso é egoísta pra caramba, mas acho que penso assim.”

OK. Agora, Sirius.

“Sirius. Ai, o Sirius. O Sirius é lindo, o Sirius é charmoso, o Sirius tem aquela voz suavemente rouca que me arrepia de cima a baixo. Eu queria poder beijá-lo, eu… sinto… desejo por ele. Ele é sedutor, ele tem as mãos fortes, aquele olhar…”

OK, pára, pára. Sirius é sedutor, James é alegre. E Remus?

“O Remie… Ele é uma graça. Ele é tão gentil, tão cavalheiro, tão sensível, quando percebe que eu não estou bem, pergunta, me olha com doçura. Ele é frágil, mas ele é todo delicadeza comigo, me trata bem, levanta meu ânimo… Tem jeitos diferentes de mostrar como é e o que está sentindo. É romântico, é cortês, educado…”

James é alegre, Sirius é bonito, e Remus é romântico. Qual dessas três características você gosta mais?

“Eu gosto das três. Eu não sei qual deles é o meu amor. Eu não sei o que estou sentindo. Por favor, me deixe em paz.”

Tá bom… Mas depois, quando um deles disser que te ama, e você for forçada a escolher, não diga que eu não avisei.

“Cala a boca!”

— Lily?

Ela se virou. Na porta da sala de aula de História da Magia, Remus.

— Moony, eu…

— Estava pensando em alguma coisa? — perguntou o rapaz, se sentando ao lado dela. Ela sentiu uma sensação familiar no estômago.

— Eu… nada, não… estou cansada, só…

— Se quiser, pode ir dormir.

— Imagine — disse Lily com firmeza. — Vamos, pegue o livro. Hoje vamos fazer uma poção para Confundir.

— Cocleária? — perguntou Remus, tirando um pacote cheio de flores brancas da mochila.

— Sim… E botão-de-prata também — disse Lily, tirando de dentro de um pote um punhado de folhas.

— Ah, Lily, eu simplesmente não entendo essas coisas. Eu faço tudo direito, só que de repente a coisa explode na minha cara…

Lily riu.

— Ah, Remie… É só prestar atenção, muita atenção no que está fazendo. Saber reconhecer quando a poção está boa e quando você fez besteira… Mexer de um certo jeito… Ser bem delicado, uma poção é como se fosse uma pessoa, se tratá-la mal, ela não vai reagir bem…

— Por Gryffindor, Lily, não estou entendendo patavina.

Nova risada de Lily. Remus se pegou admirando o seu sorriso. Olhos verdes e avelã se cruzaram… Para que o sangue viesse à face dos dois, e Lily olhasse para a sua poção, que tomava um tom grafite. Já a de Remus estava cinza-escuro.

— Droga — resmungou Remus, olhando. — Que diabos eu fiz aqui?

— Fácil — sorriu Lily —, você mexeu uma vez a mais antes de adicionar a cocleária. Remus, você precisa se concentrar quando está mexendo, conte!

— Tem como consertar?

— Acho que não. Mas, se você continuar, não vai ficar muito ruim. Vai ter um Excede Expectativas.

Remus fechou os olhos aliviado. Era claro que, para ele, um Excede Expectativas estaria de bom tamanho. Quando abriu os olhos, encontrou Lily fitando o tampo da mesa, seus olhos verdes profundos como túneis.

— Lily? — ele chamou delicadamente.

— Que foi? — perguntou ela com um sobressalto, como se estivesse despertando de um sono.

— Lily, você não está bem — ele disse, finalmente enunciando em palavras o que vinha notando há dias.

— São os NIEMs — disse Lily maquinalmente, se virando para sua poção e adicionando algumas folhas de botão-de-prata. O líquido emitiu um silvo agudo e mudou de grafite para azul-escuro. — Só três folhas, Remie, senão você vai fazer a pessoa virar uma maluca doida.

Em silêncio, Remus adicionou as três folhas e viu sua poção virar um azul petróleo escuro. Balançou a cabeça negativamente e disse:

— Não adianta dizer para mim que são os NIEMs. Daisy e Alice podem até acreditar, mas eu sei muito bem quando uma pessoa está nervosa por causa de exames. — “E eu sei tudo de você, Lily.”, acrescentou mentalmente. — Uma pessoa não fica assim só por causa de testes. Aconteceu alguma coisa.

— Preste atenção na sua poção, Remus — disse Lily secamente. — Você vai acabar fazendo ela explodir. Agora a gente mexe dez vezes no sentido horário.

Em silêncio, os dois mexeram a poção dez vezes no sentido horário.

— Deveria ficar negra?

— Não, deveria continuar da cor que estava.

— Oh, merda — xingou Remus.

Lily riu, e Remus corou.

— Desculpe — pediu.

— Não faz mal. Agora a gente tem que deixar dez minutos em fogo baixo.

Os dois se sentaram, se encarando.

— Lily, eu queria que você me contasse. Por favor.

— Não é nada — resmungou a ruivinha.

— Tem a ver com James? Ou Sirius?

Lily reprimiu um arrepio. Céus, será que ela era tão óbvia ou realmente Remus tinha algum dom oculto para descobrir sentimentos alheios?

— Imagine, Remie. Por que teria algo a ver com o arrogante do Potter ou o galinha do Black?

— Porque está escrito na sua testa.

— Você está enxergando coisas onde não tem — disse Lily, balançando a cabeça contrariada.

— E você está vivendo mal consigo mesma por causa de um segredo qualquer que não precisa guardar.

— Não sei se preciso, mas eu quero guardar, OK?

— Ah, então há um segredo.

— Não há segredo porcaria nenhuma! Chega, Moony!

— Lily, me conte, por favor… Tenho certeza que você vai se sentir melhor…

“Como diabos eu vou contar a ele um segredo que envolve ele e os seus dois melhores amigos? Nem a pau!”

— Pára, tá legal?! Não tenho nada pra dizer pra você! — exclamou ela, agressiva.

Para seu completo remorso, Remus baixou os olhos dourados para o chão, tristemente, ferido. Lily se sentiu uma insensível.

— Desculpa, Remie… — pediu ela de coração apertado. — Desculpa, pelo amor de Merlin, me desculpa, eu não queria dizer isso.

— Não foi nada, não, Lily… — disse Remus, erguendo a cabeça com um sorriso que não alcançou seus olhos. — Eu me entusiasmei demais. Quis ter direitos que eu não tenho, direitos de amigo…

O que você não quer, eu não quero insistir


— Não diga isso, por favor, não diga isso — gemeu Lily. — Você é meu amigo, um dos meus melhores amigos, por favor, não diga isso…

— Não, tudo bem, Lily — disse Remus fazendo um gesto de “deixa pra lá” —, acho que já terminamos a poção, né?

Antes que Lily pudesse falar algo, Remus desligou o caldeirão e precipitou-se porta afora. A ruivinha já não pôde conter as lágrimas.

“Lily Evans, você é uma babaca idiota. Decididamente.”




Dia seguinte. Um alegre e tedioso domingo. Cinco da tarde.

James, Sirius, Remus e Peter estavam sentados debaixo da “faia preferida”. Remus se dedicava a ler um livro de Feitiços. James e Peter jogavam dominó em cima da grama. E Sirius observava o céu sem realmente vê-lo.

“Lily… Droga… O James aqui do meu lado, e eu não consigo parar de pensar nela… Preciso de um uísque.”

— Vou até Hogsmeade — disse maquinalmente, se levantando.

— Você não devia fazer isso — disse Remus na mesma hora. — Você já tem uma detenção para cumprir, se arranjar outra…

— Não enche, Remus — replicou Sirius também maquinalmente. — Estou precisando de um bom uísque. Vou lá no Hog’s Head.

— No Hog’s Head? — repetiu Peter horrorizado. — Sirius, você planeja se embebedar, é?

— É — sorriu Sirius, gostando da idéia. — Vou ali pela Shrieking Shack. Tchau pra vocês.

E, sem mais nada dizer, partiu para o Salgueiro Lutador. James olhou para Remus.

— O que deu nele?

— Não sei — mentiu Moony. — Anda estranho por esses dias.

— Sabe de alguma coisa, Pete? — perguntou James.

Peter abriu a boca, mas se deparou com o olhar fulminante de Remus.

— Nada, não — disse evasivo.

— Ele deve estar de TPM — riu James, colocando uma peça do dominó. — Sua vez, Wormtail. Seis ou três.

Sirius se enfiou entre os ramos já acalmados do Salgueiro e entrou no túnel. A escuridão quase completa era reconfortante. Era reconfortante poder estar perdido num lugar escuro.

Mas logo descobriu que não podia fugir de si mesmo.

“Eu vou contar. Eu tenho que contar pra ela. Tá todo mundo estranhando, eu estou vivendo num inferno dentro de mim, eu tenho que contar…”

Você vai trair James, é isso?

“Não. Não é isso. Eu amo James como a um irmão, mas ele não pode pedir pra mim que eu morra com os pensamentos que tenho. Com os meus sonhos… que eu seja continuamente torturado, sem cessar, sem descanso…”

Diga a verdade, doa a quem doer
Doe sangue e me dê seu telefone


E você terá coragem?

“Sabe que eu sempre tive coragem para qualquer coisa. Se eu tive coragem pra rir da cara da minha mãe, gritar com o meu pai e sair do Grimmauld’s Place, por que não vou ter coragem de falar pra uma garota o que eu sinto?”

Quem sabe porque não é simplesmente uma garota?

“É Lily Evans. Uma garota como outra qualquer. Uma garota… uma garota que me faz delirar… uma garota que eu não conseguiria ceder a James… Uma garota… A garota…”

Pare. Pare de pensar nisso, seu idiota.

“Tá. Preciso de um uísque.”

OK, nisso nós dois concordamos. Precisamos de um uísque.

“Ótimo, minha consciência está pedindo um uísque. Depois, quando falam que eu não tenho futuro, eu fico indignado…”

Irrompeu pela Casa dos Gritos. Apontando para as tábuas que bloqueavam a porta, gritou:

Uediuósi!

As tábuas voaram com violência. Ele as recuperou com um Feitiço Convocatório e elas ficaram flutuando no ar, até ele tornar a pregá-las. Depois, a passos apressados, andou pelo povoado e entrou no sujo Hog’s Head.

Todos os dias eu venho ao mesmo lugar


— Um uísque de fogo — resmungou, se apoiando no balcão. — Dose dupla.

O barman se virou para encará-lo de modo desaprovador.

— Que é? — disse Sirius grosseiro. — Tenho dezessete anos muito bem feitos! Manda o uísque, eu posso pagar!

E despejou sobre a mesa um punhado de galeões. O barman, em silêncio, pousou um copo sujo e empoeirado em cima do balcão, bateu com uma garrafa ainda mais empoeirada ao lado do copo e o encheu. Sirius bebeu o primeiro gole. Depois, outro, outro e mais outro.

Logo percebeu que provocava sim, alívio, mas não era o alívio para a alma que ele queria. Era um alívio para os limites da razão. Um alívio que lhe permitia resmungar em voz alta que amava Lily. E já estava contando a história toda para o barman.

— Sabe, eu amo ela… Maish… — sua voz engrolava —, maish o James, sabe meu amigo Jamesh?… ele também goshta dela… daí eu não sei o que f-f-fazer…

O barman só o olhava incomodado.

— E… Lily… poish é… ela é uma garota… linda… maravilhoja… maravilhesa… ah, aquela coisa que começa com “m”… E eu queria chegar… e dhizer… que eu amo ela… maish… tenho medo… de magoar o James…

Às vezes fica longe, impossível de encontrar


Ele bateu com os dedos na mesa.

— Maish um.

O uísque queimava sua garganta, fluindo por suas veias, provocando entorpecimento no cérebro. Anestésico para a dor. As cores brilhavam. Tudo dançava. A vida era bela e colorida.

E, quando escorregou do balcão para o chão, em estado de semi-inconsciência, nunca se sentiu tão aliviado. As estrelas rodopiavam ao seu redor…

Mas quando o Bourbon é bom
Toda noite é noite de luar





No táxi que me trouxe até aqui
Willie Nelson me dava razão


— I'm writing a song all about you… a true song as real as my tears… hic… But you've no need to fear it cause no one will hear it…

A voz desafinada e mole de Sirius se ouvia pelos corredores do castelo. Eram dez da noite, e os alunos do sétimo ano tinham permissão de ficar fora da torre até as dez e meia, o que tornava perfeitamente lícito James, Remus e Peter estarem arrastando Sirius pelos braços por quatro andares.

— O que diabos ele está cantando? — perguntou James, fingindo-se irritado, porém de bom humor.

— Nem imagino — replicou Remus seco.

James estava muito animado para reparar no nervosismo de Remus e Peter. “E se Sirius deixar escapar alguma coisa?”, era o pensamento que cortava suas mentes, a todo instante.

Mas Sirius estava mais ocupado em cantar aquela musiquinha esquisita.

— I'd like to get even with you cause you're leavin’… hic… hic… And songs and waltzes aren't selling this year…

— Ei! Marauders!

Daisy vinha correndo pelo corredor, os longos cabelos negros sacudindo conforme seus passos. Seguindo ela, Kingsley Shacklebolt, seu namorado.

— Caramba, o que aconteceu com ele? — perguntou, parando de chofre ao ver o estado de Sirius.

— It's a good thing that I'm not a star, you don't know how lucky you are… — cantou Sirius, alteando a voz.

— Céus — disse Kingsley, com sua voz grave. — Ele está mal.

— Bebeu uma garrafa inteira de uísque — informou James. — Mas o que foi, Daisy?

— Vocês souberam da última?

As últimas do esporte, hora certa
Crime e religião


— Não, estávamos em Hogsmeade recolhendo bêbados. O que aconteceu?

— Snape azarou o Prof. Faunt — disse Kingsley.

Houve um segundo de espantado silêncio a essas palavras.

— Snape? — repetiu Peter. — O Ranhoso? Azarando um professor?

— É — confirmou Daisy. — Faunt foi parar na ala hospitalar, recheado de furúnculos.

— Ele levou uma detenção, né? — perguntou James.

— Though my record may say it no one will play it… Cause sad songs and waltzes aren't selling this year…

— Cala a boca, Sirius — disse Wormtail, dando um chute no amigo.

— É, Snape levou detenção até o fim do trimestre da Profª McGonagall… Ele falou que ia azarar um grifinório que riu da cara dele por trás de Faunt, daí acabou acertando no Faunt.

— Nossa — disse Remus. — O Snape… Nunca esperei que ele fosse azarar outro aluno na frente de um professor…

— A relação entre Snape e Faunt é estranha — disse Kingsley, empertigado. — Nós dividimos a classe de Defesa Contra as Artes das Trevas, e vocês deviam ver como Faunt olha para ele.

— Estranho — disse James. — Acho que ouvi alguém dizer alguma coisa nesse sentido…

— Li… ly… — disse a voz engrolada de Sirius, do chão.

Todos olharam para ele.

— Que foi que ele disse? — perguntou Prongs, sem entender.

— Não entendi — mentiu Remus, sentindo o estômago despencar um palmo.

— Nem eu — disse Peter, entrando no jogo do amigo.

— Deve ser só coisa de bêbado, Prongs — disse Daisy, observando o entorpecido Sirius.

— Melhor levarmos ele logo para a Sala Comunal — disse Remus.

— É, vamos… Tchau, Kingsley… Daisy, vem com a gente?

— Vou ficar mais um pouco.

— OK. Tchau!

Os três saíram pelo corredor, arrastando Sirius, que adormecera. Os pensamentos de Remus eram negros.

“Se ele vai a um bar se embebedar… Se ele canta músicas de amor… Se ele fala o nome dela no meio do entorpecimento… Ele a ama de verdade…”

— Remus, você tá com uma cara horrível. Aconteceu alguma coisa?

Na verdade nada é uma palavra esperando tradução


— Nada…




Cerca de vinte minutos antes, Severus Snape saía da biblioteca no quarto andar, maldizendo os dormitórios da Sonserina por ficarem na masmorra fria.

Severus nunca fora um idiota, como achavam James, Sirius e Peter. Ah, nunca mesmo. Sabia muito bem observar, escutar, a hora da cautela, a hora de recuar e a hora de atacar. Era mais controlável do que os outros supunham.

Por isso, logo que ouviu o ritmo de outros passos atrás dos seus, ele não parou de imediato. Sabia que, se parasse, preveniria a pessoa que o seguia, provavelmente Potter ou Black ou qualquer um deles. Andou mais um pouco, e virou bruscamente num corredor lateral, se escondendo numa esquina.

Logo, a figura surgiu seguindo seus passos. Mas não era Potter. Nem Black.

Era Faunt.

“Maldito insistente”, pensou Severus, furioso, olhando para aquele rosto fino e sarcástico no escuro do corredor.

Toda vez que faltar luz


Para sua surpresa, ouviu a voz de Faunt.

— Ora, ora, Severus. Sem fingimentos.

Sabendo que não precisava mais fingir, surgiu de trás do corredor, encarando o professor com seus olhos negros e profundos.

— Por que está me seguindo?

— Nós não terminamos nossa conversa.

— Pensei que tinha deixado bem claro que não quero que se meta em minha vida.

— E você não me deixou exibir meus argumentos.

— Não quero ver seus argumentos. Só se afaste de mim e acabou.

— Pensei que faria qualquer coisa para ter Lily Evans junto a si.

— E faria.

— Por que não aceitar a minha ajuda?

— Porque não quero que você se meta no que não é de sua conta. Que eu saiba, você não é nenhum especialista em casos amorosos.

Faunt riu longamente, uma risada sem vida e horrível, que ecoou pelos corredores.

— Eileen Prince teria me dito o mesmo.

O rosto de Severus se tornou mais pálido do que já era.

— O que é que a minha mãe tem a ver com isso?

— Fomos colegas de Hogwarts. Ela… morreu no ano passado, não?

Toda vez que algo nos falta


— Sim — disse Severus com a expressão indecifrável.

— E desde então, está sendo criados pelos seus avós, pelos pais delas, certo?

— Certo.

— E você sente falta dela?

— Mais ou menos — disse Severus.

Agora evitava encarar Faunt.

— Não minta para mim, Severus.

— Não estou mentindo.

— Ah, não está. Então por que o chamam de “O Príncipe Mestiço” nos dormitórios da Sonserina?

Severus ergueu os olhos para o professor.

— Não sei do que está falando.

— Não me subestime, rapaz — disse Faunt. — Você tem a mania de considerar a todos idiotas… Mas não são. Você não chegará a nenhum lugar se não admitir que existem intelectos tão altos ou mais do que o seu.

O invisível nos salta aos olhos


— Preciso ir dormir — disse Severus simplesmente.

— Não adiantará me evitar por muito tempo.

— Não vou evitá-lo, simplesmente porque você não tem nada a me dizer que acrescente algo em minha vida.

— Desça de seu pedestal de empáfia e escute o que tenho a dizer.

— Não tenho um “pedestal de empáfia”. Nem posso ter. Agora, se me faz o favor, me deixe em paz.

Severus se virou e se afastou.

A voz de Faunt foi cáustica e corrosiva:

— É bem um filho de trouxa!

Subitamente, Severus se virou.

,i>É um salto no escuro da piscina


Furnunculus!

O professor Faunt voou para trás, atingindo pelo feitiço. Dolorosos furúnculos vermelhos começaram a brotar em seu rosto e nariz.

— SNAPE!

Era McGonagall. Avançando feito um hipogrifo desembestado em sua direção, as narinas vermelhas, as sobrancelhas tão flexionadas que se ela se assemelhava a um falcão, prestes a atacá-lo. Ele recuou.

— AZARANDO UM PROFESSOR! — gritou McGonagall.

— Foi sem querer — murmurou Snape.

— FOI SEM QUERER! — repetiu a professora aos berros. — FOI SEM QUERER! O QUE DIABOS VOCÊ PENSA QUE ESSA ESCOLA É, SNAPE?! MENOS CINQÜENTA PONTOS PARA A SONSERINA, E DETENÇÃO ATÉ O FIM DO TRIMESTRE! E NÃO SE ENGANE, FALAREI COM O PROF. DUMBLEDORE E COM O PROF. SLUGHORN!

Por trás de McGonagall, surgiu Lucius Malfoy.

— Professora? O que está acontecendo?

— Leve o Prof. Faunt até a ala hospitalar, Malfoy! Imediatamente!

Malfoy olhou para o professor que tinha o rosto deformado por furúnculos vermelhos e latejantes. O acomodando sobre os ombros magros, saiu com ele pelo corredor, deixando Severus entregue à fúria de McGonagall…

“Mereço isso”, pensou o rapaz, enquanto ouvia a gritaria da professora durante seu trajeto até o escritório do diretor. “Perdi a cabeça por motivos idiotas. Sim, se pode tirar alguma lição desse Faunt… Não adianta perder a cabeça. Senão você não vai a nenhum lugar. Muito menos conquistar Lily.”




Noite seguinte. Segunda-feira. James Potter cumpria outra das suas inúmeras detenções, tantas que ele nem sabia mais qual era o motivo de cada uma. Sirius também tinha várias detenções, mas a próxima ele só cumpriria na noite seguinte, com o Prof. Kettleburn — quem mandara tacar um caranguejo-de-fogo em Rabastan Lestrange? — e, aquela noite, estava livre… para olhar as chamas da lareira crepitarem, uma expressão melancólica no rosto.

Peter? Sabe se lá onde tinha se metido. Provavelmente na cozinha chateando os elfos, atrás de comida. Já Remus, algumas horas atrás fora atingido por um Densaugeo, e estava na ala hospitalar — aliás, o que provocara outra detenção para Sirius e James, só porque eles tinham feito Evan Rosier, o culpado, voar de um lado ao outro do Saguão de Entrada! Que injustiça!

Mas seu pensamento não se detinha em Remus por muito tempo. Voava de seus amigos para uma pessoa com cabelos tão vermelhos quanto as brasas da lareira. E sentia fixados em sua mente, como se ela estivesse ali, aqueles olhos verde-esmeralda, vivos. Porém, por mais que estivessem distantes, alimentavam as chamas que queimavam em seu coração, e subiam à sua maldita e irritante cabeça, o deixando tonto e sufocado.

O fogo ilumina muito por muito pouco tempo


— Preciso espairecer — decidiu.

Não levou mais que dez minutos para catar um casaco fino e um cachecol — o frio do inverno estava chegando —, e o Mar. Pretendia ficar um pouco na beira do lago, respirar. Naquelas horas, só os jardins de Hogwarts eram capazes de acalmá-lo, trazer um pouco de paz e razão a sua mente tão carecida disto.

Antes ainda de sair da Sala Comunal, lançou um último olhar ao fogo. Foi como se visse os cabelos de Lily serpenteando em seus pensamentos.

“Deixe de ser idiota, Sirius.”

Saiu pelo buraco do retrato, deixando o ambiente quente e aconchegante e entrando na escuridão fria dos corredores de Hogwarts.

Em muito pouco tempo o fogo apaga tudo
E tudo um dia vira luz


Pouco mais adiante, subindo as escadas que levavam até o sétimo andar, Lily Evans andava, subjugada pelo peso de sua mochila. Madame Pince praticamente a chutara para fora da biblioteca. Será que ela não entendia que era uma garota desesperada para passar nos NIEMs? Podia ser mais compreensiva!

A solução tinha sido abarrotar a mala com livros e tentar andar para chegar à torre da Grifinória. Quem tinha tido a idéia idiota de enfiar o dormitório da Grifinória lá no sétimo andar?

— Droga… — disse Lily, ofegando, ao subir o último lance de escadas. — OK, Lily, falta só mais um pouco…

Tropeçou, deu vários passos à frente tentando se equilibrar, e caiu sobre o peso da mochila.

— Maldito escuro!

E toda vez que falta luz


— Quem está aí? — sussurrou Sirius, ouvindo toda a balbúrdia no corredor em frente.

Não houve resposta, a não ser um xingamento:

— Maldito escuro!

Ele podia jurar que conhecia aquela voz. Devia ser fruto dos seus pensamentos, só podia ser fruto dos seus pensamentos, da sua imaginação…

Pare de se enganar, Sirius. Olhe na porra do mapa.

Com as mãos tremendo, Sirius puxou o mapa.

À sua frente, um pontinho rotulado “Lily Evans”. E não havia a menor sombra de outro ponto por perto.

O invisível nos salta aos olhos


— Lily? É você?

— Sirius?… — disse a voz hesitante da ruiva, alguns metros à frente. — Pode me dar uma força, aqui?

Sirius avançou na escuridão. Quando pôde, com os olhos apertados, distinguir a figura de Lily, no chão, sentiu o coração disparar. Tomou a mão delicada da garota entre as suas e ajudou-a a se levantar.

— Caramba, o que você tá levando aí? Chumbo? — perguntou, se referindo à mala.

— Nada, só uns livros…

— Lily, você estuda demais.

Lily riu. O som daquele riso o fascinou, vibrando até as últimas cordas de seu coração.

Ontem à noite, eu conheci uma guria


— Vamos voltar para o dormitório? — perguntou ela, quebrando o momento de torpor.

Ele fez um muxoxo.

— Ah, acabei de sair de lá… Tô a fim de voltar não. Preciso arejar a cabeça.

— OK, então. Eu vou indo.

“Não a deixe ir, Sirius, não a deixe ir…”

A verdade explodia de seu peito como veneno congelando suas veias…

— Lily!

Não faça isso, seu maluco, não faça, e James?!

“Dane-se! Se eu continuar ouvindo você, vou morrer engasgado com o que eu sinto!”

— O que foi, Sirius?

— Lily, eu…

Pela primeira vez em sua vida, Sirius não conseguia encontrar palavras. Apenas olhava para a garota, que o olhava também. E ela se pegou admirando o perfil do garoto, seus olhos cinzentos beirando o prateado, tão misteriosos e atraentes. “Já estou pensando demais.”

— Sirius, tá tarde… Se Filch nos pegar aqui…

— Filch está nos jardins… Fechando os portões… Só depois vai vir patrulhar o castelo…

Já era tarde, era quase dia


— Eu tenho que te dizer uma coisa…

— O quê?

Sirius apenas contemplou o rosto de Lily por alguns instantes. Para, no instante seguinte, empurrar a mala da garota ao chão e prensá-la contra a parede.

— Você me provoca, me seduz, me mata só em te desejar. Eu não posso mais, ruivinha. Não posso mais.

E beijá-la como nunca tinha beijado ninguém na vida.

Era o princípio do precipício


Pega de surpresa, Lily sentiu os lábios de Sirius se chocarem contra os seus, e a sua língua hábil acariciar seus próprios lábios, pedindo passagem. Sem saber o que fazia, sem saber onde estava a sua razão, deixou que a língua dele adentrasse sua boca, explorando cada canto com quase voracidade, sentindo seu corpo todo estremecer sobre os braços fortes dele.

Era o meu corpo que caía


Ele nem podia acreditar. Pensou que fosse tudo um sonho (daqueles que se tornavam cada vez mais comuns e o faziam ficar acordado metade da noite). Mas a sensação da língua cálida e suave de Lily junto à sua, e daquele corpo frágil e delicado entre seus braços, era forte demais. Real demais.

Uma corrente dos primeiros ventos do inverno varreu o corredor. Sirius congelou. E pensou em James.

Ontem à noite, a noite tava fria


Ele deixou que suas mãos corressem pelo corpo dela. Sentia o desejo ardendo… Mas a chama do amor que sentia não conseguia afastar o frio do desespero… O frio que enregelava seus braços e seu peito, o frio nojento que o envolvia como uma teia de fumaça, que invadia seus pulmões e o fazia temer que seu coração parasse…

Tudo queimava, mas nada aquecia


Olhou bem para os olhos dela. E ela olhou para os dele, tonta. Sua cabeça girava. O desejo pulsava em seu corpo, mas algo nos olhos dele a fez respirar fundo. A razão foi voltando aos poucos.

— Sirius…

— Lily… Eu… te amo. Te amo pra caramba, como nunca amei ninguém na vida.

Ele a olhou, à espera de uma resposta. Uma palavra, pelo amor de Merlin, era só o que ele estava pedindo.

— Sirius… eu… não sei o que dizer… Eu… estou confusa…

— Confusa?… — repetiu Sirius, e sua voz lhe soou estranhamente distante.

— Sim… muito… Eu… não posso te dizer nada agora… Não sei se posso retribuir o que você sente…

Sirius não sabia exatamente o que tinha engolido, mas, fosse o que fosse, estava fazendo uma pressão muito desagradável na sua garganta. Sentiu seus olhos queimarem. Aquele frio nojento ainda estava envolvendo-o, quando ele fitou os olhos de Lily.

Ela apareceu, parecia tão sozinha


Solidão. Foi o que leu nos olhos dela. Confusão e dúvida gravados em cada linha daqueles lindos e preciosos olhos… Como se estivesse vendo um retrato de si mesmo nos dias passados… Naquele momento. Sabia, sentia, por seus braços arrepiados, que aquele mesmo frio nojento a envolvia também. O frio do desespero. Do maldito e enlouquecedor desespero…

E parecia que era minha aquela solidão


Pouco mais adiante, subindo o lance de escadas que separavam o sexto andar do sétimo, Remus Lupin esfregava as gengivas. Aquele feitiço com o qual Rosier tinha atingido-o era bem doloroso. Aquela era a segunda vez em dois anos que alguém lhe acertava com o Densaugeo e era muito irritante.

Estava andando muito tranqüilamente pela escada quando ouviu vozes sussurradas vindas de algum ponto mais à frente. Reconheceu a voz de Sirius.

Não querendo interromper o amigo no quer que ele estivesse fazendo àquela hora da noite, parado num corredor do sétimo andar, procurou um outro caminho para chegar à Torre da Grifinória. Até ouvir a voz de uma garota.

É, Sirius tinha levado outra garota no seu papo. Era até reconfortante vê-lo voltando ao normal. Tanto que foi até espiar pra ver quem era.

Eu conheci uma guria que eu já conhecia
De outros carnavais, com outras fantasias


Qual não foi o seu choque quando viu Lily, na parede, entre os braços de Sirius Black?

Sentiu seu estômago despencar por uns dois palmos, e uma sensação quase familiar de frio congelante se alastrar por suas veias. Lily e Sirius se amavam. Lily e Sirius se amavam. As palavras lhe soaram tão vazias.

Foi quando, com um suspiro, Sirius tirou os braços e olhou para a garota.

— Eu… vou esperar o tempo que for preciso pela resposta.

E saiu, pisando forte, rápido, como se não quisesse olhar para trás. Remus se escondeu atrás de uma tapeçaria para que Sirius não o visse, e esperou-o passar. Podia jurar que viu lágrimas em seus olhos cinzentos.

Quando se certificou de que Sirius não poderia notar sua presença, saiu de trás da tapeçaria, e foi atrás de Lily.

Ela estava encolhida no chão, junto à parede, os olhos aflitos colados nos joelhos. Parecia em frangalhos. Remus teve uma bruta vontade de tomá-la aos braços e acariciar seus cabelos ruivos.

Ela apareceu, parecia tão sozinha


— Lily?… — ele a chamou, hesitante.

Ela ergueu os olhos estranhamente vidrados e olhou para ele.

— Remie… Há quanto tempo você está aí?

— Acabei de chegar — mentiu Remus. — O que está fazendo aí no chão?

— No chão? — ela olhou para os lados, parecendo muito surpresa de estar no chão. — Ah. Minha mala. Caiu.

Remus estendeu a mão.

— Quer ajuda?

Ela aceitou; ele tocou a mão suave dela, puxando-a para cima. Depois, pegou sua mala.

— Que mala pesada — comentou.

“Que cena ridiculamente parecida”, pensou Lily, sentindo os olhos queimarem.

— Eu… Remie… preciso ir ao dormitório. Tá tarde.

— Eu te acompanho — disse Remus.

— Não… Não precisa.

Eles se olharam fixamente nos olhos por um momento. E ele sentiu uma terrível aflição interna, dolorida, como se seu peito estivesse se esvaindo em sangue. Lily sofria; seus cabelos desarrumados, seu corpo magro, seus olhos, principalmente seus olhos entristecidos e infelizes naquele rosto tão suave. Lily sofria e ele não podia fazer nada.

— Tchau, Remie — disse ela rapidamente, pegando a mala e sumindo na escuridão.

Remus ficou ali no escuro, sentindo o perfume de lírio que a ruivinha deixara para trás. Lágrimas corriam de seus olhos cor-de-mel.

E parecia que era minha aquela solidão



Legenda:

Hog's Head: Cabeça de Javali
Shrieking Shack: Casa dos Gritos

N.A.: A música que o Sirius canta quando está bêbado é "Sad Songs and Waltzes", do Willie Nelson.

Prévia:

Sirius sente uma grande culpa por causa de Lily. Incapaz de guardar o inferno para si, ele conta tudo a Peter. Já Lily, depois do episódio, é intimada por Daisy e Alice a contar o que lhe aflige. Enquanto isso, James continua aprontando por aí, porém agora observado por Severus, que continua sendo perseguido por Faunt.

Culpa, Confissões, Marotices e Duelos


"— Vai à merda, Snape! Sai do meu pé!
Expelliarmus!

Sinal de confusão no ar...


N.A.: Comentem!

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