O Plano que deu Certo



Capítulo Dez – O Plano que deu Certo


“- Socorro... Por favor... alguém me ajude. – ela chorava. Estava deitada num chão gelado. Estava fraca. – Mãe... mãe... cadê você... estou com tanto medo.”

Acordou suando muito. Aquelas imagens pareciam tão reais. Levantou-se e aproximou-se da cômoda para tomar um copo de água. Ainda tremia.

Alguma coisa está para acontecer. E ela sentia isso.


A manhã se encontrava nublada e, de acordo com os meteorologistas, daria pancadas de chuva no final da tarde. Pessoas passavam agasalhadas ou com um guarda chuva a tiracolo.

Um carro preto estava estacionado do outro lado da rua. Na pouca janela aberta, podia ver-se um binóculo, observando a movimentação do local à frente.

Faltava pouco para dar o último sinal.


Dona Glória estava exasperada. Olhava para o relógio inúmeras vezes. Faltavam cinco minutos. Olhou para os mecânicos que ainda estavam trocando os pneus.

- Não é possível! Como os quatro pneus puderam furar da noite pro dia?

- Acidentes acontecem, madame. – respondeu um dos mecânicos, enquanto encaixava um dos estepes.


- Eu acredito que acidentes acontecem quando um pneu fura, mas os quatro... – olhou para o relógio mais uma vez. – Aí, eu acredito em azar.

Do outro lado da rua, um carro observava os trabalhos dos mecânicos. Embora eles estivessem agilizando o serviço, iriam demorar. A idéia de furar os quatro pneus tinha sido genial. Tudo para atrasar a velhota de ir buscar a neta. Os dias dela estavam contados.

Pegou o telefone e discou o número já memorizado.

- Tudo certo, eles não sairão tão cedo.

- Ok... – pausa. – O sinal tocou. O portão abriu. Vamos lá.
Desligou.


Sarah olhou para os lados, procurando o carro de seu pai. Seus amigos se despediam e iam embora acompanhando dos pais ou da babá. Depois de dez minutos esperando, sentou-se numa mureta.

Não percebeu uma movimentação atrás dela. Quando se deu conta, uma mão com um pano pressionou seu nariz. Não deu tempo de reagir. Tudo ficou escuro.

A figura sinistra pegou Sarah como se fosse uma boneca de pano e a pôs na porta malas. Deu a volta e entrou no carro. Ligou.

- Está feito.

- Ótimo. – falou a voz do outro lado da linha, triunfante. Deu tudo certo. Agora, era só partir para o plano B.


Estava na cozinha quando o copo explodiu. Aquelas imagens passaram na sua cabeça novamente. Estava acontecendo...


Katherina tentava acudir dona Glória, que parecia que teria um ataque. Depois do telefone, tudo aconteceu em fração de segundo. A própria babá fazia de tudo para não desmoronar. Estavam a caminho da polícia.

Quando percebeu que o serviço iria demorar, dona Glória ligou na escola para pedir que avisassem a Sarah que demoraria um pouco e que ficasse dentro da escola. Quando a inspetora saíra para procurar a menina, ela tinha sumido. A velha senhora quase teve um ataque ao ouvir isso e gritou, chamando a escola de irresponsável e que processaria por descuido. Mas isso não importava agora. Era impossível que Sarah fosse embora sozinha e isso foi o início de um desespero.

- Dona Glória... – Katherina abanava a velha senhora. – Tenha calma. Nós vamos achá-la.

- É minha culpa... – falou com voz falha. – Se aqueles malditos pneus não tivessem furado...

- Não vamos se preocupar com isso agora. – Katherina estava escondendo sua apreensão e não contou que teve um forte pressentimento minutos atrás. Não podia assustar dona Glória, principalmente com as visões que tivera na noite passada e com o copo quebrando, enquanto os mecânicos arrumavam o carro.

Não demoraram muito para serem atendidas na Delegacia e prestar queixa. Se a garota não aparecesse em 24 horas, a polícia agiria. Katherina aconselhou a não falarem com Harry até passarem às 24 horas.


Harry e Gina estavam na empresa Le Entier para os últimos acertos para a Filial. O homem tinha que admitir que os franceses eram pessoas distintas, sérias quando o assunto era trabalho e sabiam se divertir.
Gina estava traduzindo o planejamento quando Harry sentiu uma pontada no peito. Suas mãos tremeram e ele segurou-as, inquieto. Gina percebeu.

- Está tudo bem, senhor Potter?

A pontada foi mais forte.

- Está... acho que está... – Sentiu um bolo na garganta e tomou um gole de água para disfarçar. Gina o olhava preocupada.

- Monsieur Lefebvre, monsieur Potter du monsieur ne sent pas très bien. Est-ce que vous faites attention à s'il va dehors pour prendre un souffle? (Senhor Lefebvre, o senhor Potter não está se sentindo bem. Se importa se ele sair um pouco para tomar ar?) – perguntou Gina enquanto o empresário francês assinava alguns papéis.

- Oh, non. Vous fait manque que je demande une tasse d'eau? (Oh, não. Não querem que eu peça um copo de água?). – O senhor Lefebvre também percebeu que Harry não estava se sentindo bem.

- Oui, plesa. Avec le sucre. (Sim, por favor. E com açúcar).

Gina levantou Harry, que não hesitou, e levou-o para fora. Alguns minutos depois, Harry se acalmou graças ao copo de água com açúcar que lhe fora dado. A pontada passou, mas a sensação esquisita permaneceu. Ele não sabia por que, mas tinha que ligar para casa. E faria isso mais tarde.


Dona Glória e Katherina estavam chegando em casa após fazerem o Boletim de Ocorrência quando a empregada saiu. Parecia nervosa. Quando a babá perguntou qual era o problema, ela apenas disse que alguém no telefone queria falar com dona Glória.

Sentindo que poderia ser algo a ver com a neta, a velha senhora entrou apressadamente e atendeu a ligação. Ao ouvir a voz no outro lado da linha, gelou.

- Preste atenção. Eu estou com a menina. Se vocês chamarem a polícia, ela vai morrer!

- Onde ela está?

- Se chamarem a polícia, ela morre! – desligaram. Dona Glória tremeu dos pés a cabeça e teve que ser amparada por Katherina até a poltrona mais perto.

- A minha menina... a minha Sarah... – era capaz de falar qualquer coisa. A babá resolveu apenas oferecer um copo de água com açúcar.

Demorou algum tempo para que dona Glória acalmasse totalmente. Tinha a mão no peito para acalmar as batidas do coração. Aquela voz ainda ecoava na sua cabeça como se fosse um pesadelo. Por fim, conseguiu balbuciar alguma coisa. As palavras saíram de forma dolorosa.
-
Sarah foi seqüestrada. E acho que já sei quem foi que fez isso.


Harry demonstrou estar calmo quando chegou ao hotel, para não preocupar Gina. Sentia-se melhor, mais a pontada no peito continuava. Teve que disfarçar para que a reunião não fosse cancelada, pois queria voltar para a Inglaterra o mais rápido possível. Sentia que alguma coisa estava errada.

Gina foi para seu quarto, mas antes pediu que Harry chamasse se fosse preciso. O homem fechou a porta e correu direto para o telefone. Mas, antes de pegá-lo, ele tocou primeiro. Harry hesitou antes de atender.

- Monsieur Potter? A embaixada britânica quer falar com o senhor. Posso passar?

Harry franziu o senhor. Definitivamente, alguma coisa estava errada. Permitiu a ligação. O que ouviu fez o seu sangue gelar por completo. Ao desligar o telefone, estava tremendo. Pegou o telefone e discou o número conhecido, torcendo para que aquilo fosse uma brincadeira de mau gosto.


Abriu os olhos e sentiu a vista embaçada. Estava num lugar escuro. Tentou-se mexer, mas não conseguia. Sua cabeça doía.
Olhou para seus pés. Estavam amarrados. Suas mãos estavam puxadas para trás e amarradas com corda. Estava deitada num chão gelado.

- Papai... – sua voz era tímida, sussurrada. – Papai!! – gritou e o grito ecoou pelo aposento. – Pai, cadê você? – As lágrimas começaram a brotar de seus olhos. – Estou com medo, me tire daqui... – Falava, enquanto soluçava e chorava.

De repente, uma luz branca surgiu em sua frente e uma figura alta estava em pé, sorrindo. Sarah pensou que fosse um anjo. Reconheceu aquele rosto. Aquele rosto que sonhava todas as noites.

- Mamãe?

A figura de Patrícia Potter abaixou-se e olhou docemente para a filha. Ela emanava um calor que aquecia a alma da filha.

- Minha filha, você terá que ser muito forte. Você vai sair daqui, eu prometo.

- Me tira daqui, mãe, por favor. Eu estou com medo... – pediu com a voz chorosa.

- Agüenta firme. – Patrícia levantou-se e virou. Sarah tentou chamá-la novamente, mas ela deu uma última olhada e, com um sorriso doce, disse:

- Eu te amo, minha princesa. Eu estarei aqui com você. – e sumiu, deixando Sarah sozinha, porém, mais calma. Ela tinha parado de chorar.


No caminho para o aeroporto, Gina já tinha esgotado todas as suas tentativas de acalmar Harry, mas nada adiantava. Parecia que ele ficava mais nervoso. Sentia-se culpado por brigar com a filha, culpado por obrigá-la a fazer coisas contra sua vontade, como aceitar Maureen como madrasta...

Os últimos detalhes da filial finalmente foram acertados e Harry não pensou duas vezes para pegar o próximo vôo para Londres após aquela ligação, que mexeu com seus nervos. Depois que desligou o telefone, foi para o quarto de Gina e não hesitou em chorar. E foi sem pensar que Gina lhe ofereceu apoio e colo. Harry havia acalmado nos braços de Gina, mas logo estava de pé para arrumarem as malas e partirem para o aeroporto. Nada fora falado sobre a partida repentina do empresário e sua secretária. Harry não queria que ninguém soubesse o porquê de ir embora antecipadamente.

Uma hora depois – que Harry definiu como século – eles estavam no avião em direção a Londres. Harry parecia um fantasma. Gina teve que comprar as passagens, já que ele estava sem condições nenhuma para fazê-lo. A moça havia comprado um café bem forte para o chefe antes de embarcarem e o obrigou a tomar tudo.

- Você não conseguirá fazer nada de cabeça quente. Tenha calma. Vamos chegar em Londres e você resolverá isso. Sarah será achada. Confie em mim. – Gina também estava desesperada pelo desaparecimento da menina que adorava tanto. Harry teve vontade de gritar com Gina, mas segurou-se. Não hesitaria outra vez se ela pedisse calma pela enésima vez. Havia virado clichê na boca dela, de acordo com sua mente conturbada.

Fora Gina que conversara com Katherina, que como ela, estava querendo manter a calma. A babá disse que havia dado um calmante para dona Glória e chamado o médico, pois a pressão da velha senhora havia aumentado e ela precisava de repouso.

Foi ela também que ligara para a polícia sobre o telefonema. Fora a polícia que informara para a embaixada avisar Harry. Depois daquele telefonema, as espera de vinte e quatro horas já não eram necessárias. Gina torcia para que Harry não tivesse um ataque e desmoronasse. Ele tinha que ser forte.

Harry e Gina não pronunciarem nenhuma palavra enquanto o avião levantava vôo. As palavras pareciam poucas naquela ocasião. Gina não podia fazer mais nada, a não ser rezar. Rezar para que Sarah estivesse bem.


Continua...

N/A: Só isso?? É, eu sei que ficou curto, mas ficou bem resumida a idéia do capítulo. Mas não acaba por aí. Veremos como será a repercussão do seqüestro nos próximos capítulos. Até lá. Bjos da Juh.




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