Pedido de Demissão



Capítulo Nove – Pedido de Demissão


- Eu te amo... – completou antes de beijá-la fervorosamente. Os corpos entrelaçavam-se numa dança sensual que poderia durar toda a eternidade. Nada mais importava. Apenas eles...

- CHEGA!! – berrou Gina acordando de mais um daqueles sonhos que a perturbavam há um ano. Odiava quando os tinhas, mas com um misto de vergonha de excitação. Agora, odiava com um misto de desapontamento e repreensão.

O “pequeno momento” ocorrido no restaurante não saia da mente de Gina mesmo ela tentando fingir que nada acontecera. Eram quatro horas de manhã e acabara de acordar de um sonho onde o ocorrido no restaurante acabava na cama. Mas, precisamente, na dela...

Levantou-se e foi até o frigobar para tomar água. Aquela decisão que tinha tomado veio à mente com força total. Só assim ela poderia acabar com aqueles sonhos que a atormentavam dias e noites.

Caminhou até a janela e observou a paisagem. A Torre Eiffel iluminava a cidade com se a vigiasse lá do topo. Paris se encontrava silenciosa, exceto por alguns casais que namoravam nos becos ou nos mendigos que faziam serenatas a beira da calçada.

Lágrimas voltaram a escorrer de seus olhos. Por Deus, porque aquilo tinha que acontecer com ela?

Por acaso, o Deus do amor lhe pregara uma peça, colocando um homem que a traiu e outro, completamente apaixonado por outra mulher? Gina queria ter uma máquina que apagasse toda aquela paixão reprimida de sua mente e de seu coração e continuar caminhando. Mas não dava e não conseguia mais conviver com aquilo.

Não se lembrava muito bem quando começara a se apaixonar por Harry. Talvez o jeito firme dele de dirigir a empresa, seu desempenho profissional, sua dedicação, o amor pela filha... não importava.

Quando se viu apaixonada por ele, se recriminou tantas vezes que até pensou várias vezes em pedir demissão, para que aquela paixão não atrapalhasse seu futuro. O que sentia por Harry nunca sentira por ninguém, nem por Dino, que estava a sete palmos abaixo da terra.

Sabia que um dia Harry poderia arrumar uma namorada e ela teria que aceitar a continuar trabalhando com Harry como se nada tivesse acontecido. Tinha uma certa noção que não tinha chances com ele.

Então, por que ele tentou beijá-la naquela noite? Será carência pela falta da namorada ou... não, Gina achava impossível. Talvez a primeira opção fosse a mais viável.

Seu coração pedia para se entregar àquele momento, mas sua mente a amaldiçoou, dizendo que sofreria ainda mais se cedesse aos seus desejos. Atendeu a ela, sem se arrepender. Arrependimento era um luxo que não poderia cometer.

Decidida, pegou o notebook na sua mala e começou a escrever o que pretendia, mesmo que doesse. Seria a melhor decisão.


Harry desligou o telefone, sentindo que tirou um pouco dos pesos das costas. Sua filha ainda estava chateada com ele (era visível pela voz no telefone), mas pelo menos sabia que ela estava bem.

Ligou para Maureen e percebeu que ela estava esquisita. Não queria falar com ele e disse que estava atrasada para um editorial.

Mas nada disso mais preocupava Harry do que sua situação com Gina Weasley. Não se falaram desde que voltaram ao hotel, na noite seguinte. Ainda não tivera coragem de conversar com ela. Quem sabe, durante no café da manhã, eles resolveriam as coisas.

Harry tomou um banho, se trocou e foi até o quarto de Gina. Bateu a porta, mas ninguém respondeu.

Bateu de novo. Nada. Concluiu que ela já tivesse descido. Pegou o elevador e desceu.
Chegou ao restaurante apinhado de gente e procurou-a com os olhos. Nada. Estranhando, foi até o gerente.

- Por favor, o senhor sabe se a senhorita Gina Weasley saiu hoje? Quarto 405.

O gerente verificou antes de responder.

- Madame Weasley saiu agorra pouco. Deixarr a chave conosco.

- Obrigado. Se ela chegar, diga que estou esperando no restaurante.

- Oui. – Harry assentiu em agradecimento e foi até o restaurante para esperar Gina.

Dez minutos depois, Gina chegou. Enquanto ela andava em direção a ele, Harry não pôde deixar de perceber o quanto seu andar era fascinante, seguro de si. Tinha certeza que vários homens espichavam os olhos para vê-la passar. Só de pensar nisso, sentiu seu rosto ficar quente. Desviou o olhar. O que estava pensando? Gina era somente sua funcionária. Aquele pequeno incidente com certeza tinha a ver com o ambiente, que ofereci proporções românticas para que qualquer pobre coitado pegasse o vírus da paixão parisiense e se envolvesse romanticamente. Não, Harry teria que ficar bem longe de tudo isso. Tinha uma namorada e gostava dela. Pensou em Maureen e a culpa por não ter ligado antes, quando chegara. A cidade o fascinara tanto que se esqueceu que tinha uma namorada do outro lado do Atlântico. Iria recompensá-la, disso ele tinha certeza.

Gina sentou-se à frente de Harry como se estivesse um encontro com um executivo importante.

- Bom dia, senhor Potter.

- Bom dia, Gina. Hã... eu preciso conversar com você... – Harry resolveu ir direto ao assunto. – Sobre o que aconteceu ontem.

O garçom chegou antes que Harry pudesse começar a falar.

- Qu'est-ce que vous voulez pour petit déjeuner? ( O que vão querer para o café-da-manhã?)
Ginny pegou o cardápio que estava em inglês e em francês.

- Je veux les crêpes épaisses, gaufres et un chocolat mettent en coupe avec la creme et un jus d'orange. (Quero panquecas, waffles, uma xícara de chocolate com creme e um suco de laranja. Désolé, est-ce que vous parlez anglais? (Fala inglês)

- Pas beaucoup, dame. (não muito, senhora)

- Ele não fala inglês. – disse Gina para Harry, que avaliava o cardápio. – O que vai querer?

- Ah... – Harry olhou o cardápio novamente. – Acho que vou querer um suco de laranja, waffles e panquecas.

- Jus d'orange, gaufres et crêpes épaisses. – Gina ditou o pedido de Harry para o garçom, que anotou prontamente. Pediu licença e foi encomendar o pedido.

Passaram-se três segundos sem que ambos falassem nada. Harry parecia procurar as palavras correta para dizer.

- Gina... sobre ontem. Eu queria dizer que sinto muito. Eu não sei onde estava com a cabeça. Acho que foi o champanhe... sei lá. Espero que me perdoe.

Gina respirou fundo antes de falar.

- Tudo bem, senhor Potter. Foi um acidente...

- Que não voltará a se repetir.

- Exatamente. – Gina assentiu. – Que não voltará a se repetir. – Por isso... – Pegou a pasta que carregava e abriu-a. Pegou um papel e entregou-a Harry.

- Que é isso? – perguntou enquanto lia o papel.

- É a minha carta de demissão. Eu estou pedindo demissão da DEVON, senhor Potter.


Hermione estava em sua sala, estudando os papéis que Harry enviara por fax. O negócio com os franceses estava fechado, o que tinha deixado a empresa em clima de festa. Fazer negócios com os europeus sempre gerava lucro nas empresas, inclusive com a França, onde o trabalho era algo sério.

Estava distraída com os papéis, quando o telefone tocou. Deu um pulo na cadeira e atendeu ao telefone.

- Fale, Demelza.

- Senhorita Granger, tem um rapaz que quer falar com Ginny Weasley e... – parou e Hermione percebeu que uma pessoa falara. – Ele quer falar com você agora.

- Quem é?

- Hã... é o senhor... – pausa - ...Weasley. Ronald Weasley.

Aquele nome fez o coração de Hermione pulsar mais rápido. Há quanto tempo não ouvia aquele nome. Era impossível ele estar ali. Não depois de tantos anos.

- Pode mandá-lo subir.

- Sim senhora. – Demelza desligou e Hermione foi ao espelho ver como estava sua aparência. Era uma tolice aquilo, mas foi por puro instinto. Tinha que parecer bem-apanhada.

Pouco depois, alguém bateu a porta. Tentando controlar as batidas do coração, Hermione abriu-a.

O que viu, fez o ar se perder entre os pulmões e traquéia. Aquele homem alto, postura firme não lembrava nem de longe o rapaz com quem namorara.

- Hermione. – ele sorriu. Aquele sorriso lindo. – Há quanto tempo!

- Rony! – Hermione ensaiava um sorriso de surpresa e indiferença. – É, faz muito tempo mesmo. Dois anos! – Aquilo soou irônico e Hermione amaldiçoou-se. – Mas... entra! – Hermione afastou-se e Rony entrou.

- Bela sala. – Ele comentou, fitando a decoração, um misto de século passado com o atual. Era uma sala redonda, de porte médio. Tinha tudo que ela precisava.

- Obrigada. Sente-se. – Apontou a cadeira à frente de sua mesa na qual Rony sentiu. – A Gina não está. Está viajando a trabalho com o chefe.

- Pena. Eu não disse que viria. Queria fazer uma surpresa.

- Mas vai ser uma surpresa.

- Pra onde ela foi?

- Paris. Foi como intérprete do Harry, para fechar um negócio. – Mostrou os papéis rapidamente.

- Esse Harry... é seu chefe?

- É, um grande chefe. Maravilhoso.

- E famoso. Soube que ele está namorando uma das modelos mais lindas da Europa.
Hermione bufou: - Maureen Robbins. Está sim. E parecem muito felizes. – Fez uma careta e Rony riu. – Que foi?

- Não gosta dela?

- Ela é metida. Só isso. – Não podia dizer mais nada sobre Maureen sem ter certeza.

Conversaram mais um pouco, sobre profissão, vida. Rony estava na África, pesquisando artefatos antigos. Não tocaram sobre o assunto “namoro”. Aquilo estava morto e enterrado.

A visita mexeu com Hermione mais do que ela poderia imaginar. Pensou que tivesse superado o rompimento. Eles tinham vidas totalmente diferentes e jamais dariam certo. Terminar o namoro foi a decisão mais sábia que tomaram.

Será? Hermione começou a duvidar dessa questão.


Harry tinha certeza de que não estava escutando bem. Pediu para Gina repetir o que ela acabara de dizer, leu e releu o papel várias vezes, visivelmente atônito.

- Gina, você não pode fazer isso! É a melhor funcionária que eu tenho.

Gina suspirou: - Sinto muito, senhor Potter. Creio que seja a decisão certa.

- Por causa do que aconteceu ontem? Gina, eu já pedi desculpas. Aconteceu. – Harry suspirou fundo.
– Não vai mais acontecer. Prometo. – Teve uma vontade enorme de segurar a mão dela e garantir que tudo ficaria bem, mas conteve-se. Seria muito atrevimento dele depois de tudo.

- Gina, escute... Talvez eu estivesse encantado com o clima dessa cidade. É romântico e você sente uma vontade de ficar ao lado de uma pessoa e... Bom, e pessoa que eu queria não está aqui. Talvez tenha batido a carência. Os problemas com a minha filha, a pressão no meu namoro... Acho que eu deveria pedir demissão. – Sorriu sem–graça. – A última coisa que quero é magoar alguém, principalmente você. Não vai mais acontecer. Prometo.

Gina não falou nada e Harry resolveu continuar.

- Vamos esquecer tudo o que se passou. Vamos fingir que fomos a um jantar, fechamos o negócio com os franceses e fomos para o Hotel porque estávamos cansados, pois você me mostrou a cidade. Certo?

Harry não poderia ter melhor hipótese do que aquela. Esquecer ou fingir que nada acontecera era o único de deixar as coisas como estavam. Embora o coração da ruiva dissesse o contrário, ela não poderia ser dar ao luxo de ouvi-lo naquele momento. O que mais amava estava em jogo: seu trabalho. Seu coração que desse um tempo. Apenas naquele momento.

- Certo. – Gina aceitou a proposta do chefe. – Eu amo muito meu trabalho. Acho melhor que nossa relação continue profissional. Chefe e funcionária.
Harry concordou.

- Por mim, tudo bem.

Era o melhor que poderiam fazer.


- O que você está fazendo aqui? – Dona Glória perguntou assim que abriu a porta e viu quem era.
Maureen ignorou-a e entrou. Olhou para os lados como se estivesse procurando alguma coisa.

- Onde está Sarah? – perguntou, virando se para a velha senhora.

- Devia saber que ela está na escola. – A porta continuava aberta como um convite para que Maureen se retirasse. Essa, porém, ignorou-a e continuou olhando ao redor, com os olhos brilhando.

“Um dia, isso tudo será meu.” Sorriu vitoriosa, mas foi flagrada por dona Glória.

- Se não tem nada para fazer aqui, é melhor ir embora.

Maureen virou-se e fuzilou a senhora como se pudesse matá-la.

- A senhora está me expulsando daqui?

Dona Glória sustentou o olhar mortífero da modelo.

- Não tem ninguém do seu interesse nessa casa, minha cara. Então... – apontou para fora.

Maureen não reagiu e saiu. Mas antes se virou para dona Glória.

- A senhora vai se arrepender disso... – sibilou cada palavra. Dona Glória sentiu um tremor percorrer pelo corpo, mas não demonstrou. Maureen sorriu triunfante e saiu.

Dona Glória fechou a porta tremendo. Não sabia se acreditava nas palavras de Maureen ou que ela falara aqui apenas para assustá-la. Sentiu uma tontura e apoiou-se numa bancada próximo a porta, deixando cair alguns objetos no chão.

- Dona Glória!! – Katherina ouviu o barulho e correu para ver o que estava acontecendo. Amparou a senhora, colocando-a sentada no sofá. - Beba isso, dona Glória. – Serviu um copo de água com açúcar, que ela tomou, com as mãos tremendo. – O que houve?

- Aquela... aquela... mulher esteve aqui. – Respirava com dificuldade e por um momento, Katherina temeu pela vida daquela velhinha tão doce.

- Maureen? – dona Glória confirmou – O que ela queria?

- Ver a Sarah. Como se ela se importasse com a menina. – falou, sentindo uma raiva tomar conta de si. – Eu a expulsei e ela me fez uma ameaça: disse que eu me arrependeria.

Katherina ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras. Desde que Maureen entrara na vida de Harry, sentia energias negativas vindo da mulher.

- Acho melhor tomarmos cuidado com ela. – falou, por fim. – Eu sinto algo estranho com nessa mulher.

- Por que está dizendo isso, Katherina?

A moça encarou a senhora. Seus olhos estavam opacos.

- Algo me diz que ela é capaz de fazer qualquer coisa.


Depois da conversa que tiveram no café-da-manhã, Harry e Gina estavam fingindo que nada acontecera e se tratavam normalmente. Como colegas de trabalho, já que Harry preferia ser chefe dentro da DEVON. Fora, queria ser apenas uma pessoa normal. Isso era um dos motivos que fazia Gina admirar aquele homem.

Mais um jantar com os empresários franceses (dessa vez, no hotel que estavam hospedados, foi feito para acertar os últimos detalhes da nova filial da DEVON que construiria no país. Sem música, dança, sem nada. Gina achou que era melhor assim.

Depois do jantar, os empresários foram embora e Harry e Gina se despediram e foram para o quarto. Harry queria ficar mais para conversar com Gina (adorava conversar com ela), mas conteve-se.
Tomou um banho e estava pronta para dormir quando o telefone tocou.

- Oui?

-Mademoiselle Weasley? Hermione Granger veut vous parler. Est-ce que je peux passer l'appel? (senhorita Weasley? Hermione Granger quer falar com você. Posso passar a ligação?)

-Oui, vous pouvez passer l'appel. Merci. – Sorriu. Queria conversar com Hermione. Contar sobre o ocorrido. Tinha que desabafar, mesmo fingindo que nada acontecera. - Hey, Mione.

- Hey, Gina. Como está?

- Bem. Paris continua linda, como sempre.

- Fiquei muito feliz com o sucesso nas negociações.

- Nem fala, os empresários franceses são muito distintos, exigentes, mas são boas pessoas. Conseguimos convencê-los.

- Como está o Harry? – Era a impressão de Gina ou Hermione perguntou aquilo com outras intenções? Será que ela sabia que queria contar algo?

- Está bem. Adorou a cidade. Mostrei tudo para ele, o Museu do Louvre, a Igreja e... – Gina parou ao perceber que estava se empolgando. Pôde ouvir Hermione abafar uma risada do outro lado da linha. – O que foi?

- É impressão minha ou você está empolgada? – Gina corou e deu graças por Hermione estar longe para não ver.

- Estou sim. Quem não estaria empolgada ao visitar Paris? É maravilhoso!

- Não parece esse tipo de empolgação que você está mostrando, Virgínia. – “Droga, Hermione! Por que você é tão esperta?” – Por acaso, você quer me contar alguma coisa?

- Você não deixa passar nada, não é? – Gina suspirou e Hermione riu vitoriosa. – Ok... – sentou-se na cama – O que quer saber?

- Alguma coisa que tenha acontecido entre você é Harry...

- Não aconteceu nada, Mione. – Gina estava tentando ganhar tempo. – Caso não se lembra, Harry é meu chefe e tem uma namorada. Não permitiria que nada acontecesse entre nós.

- Você ou ele?

- AH, SACO!!! – Gina perdeu a paciência. Hermione conseguia ser irritante quando queria. – Tá bem! Tá bem! – Eu vou ter contar! Mas olha: boca de siri.

- Ok. – disse uma Hermione empolgada.

Gina contou tudo, não deixando passar nada. Pôde sentir a empolgação de Hermione do outro lado da linha, o que a fez sentir pior ainda.

- Como é que é? – Hermione parecia indignada. – Por que você não deixou que rolasse alguma coisa?

Gina pensou que a amiga fosse louca.

- Por quê? Bom, deixa-me te lembrar uma coisa, Mione. Harry é meu chefe e...

- Tem namorada e blá, blá, blá. Eu sei disso. Não precisa repetir.

- Se você sabe, por que acha que o fato de não ter acontecida nada entre mim e Harry é absurda? Por um acaso, você apóia a idéia de ser amante dele?

- Como se Maureen não tivesse casos...

- Se ela tem ou não, problema dela. Não vou pagar de amante, mesmo gostando dele. Eu não me sentiria bem e seria péssimo para a imagem dele.

- Ok, só estava dando uma dica para você ser feliz. – Pausa. – Tem algo que preciso contar: Rony esteve aqui.

Gina riu maliciosa.

- Acho que é você que tem que me contar alguma coisa.

- Estava procurando por você. Conversamos um pouco e foi embora. Só isso. – Hermione queria parecer displicente, mas Gina percebeu que a visita do irmão mexera com a amiga e ex-cunhada.

- Isso não mexeu com você?

Hermione suspirou do outro lado da linha.

- Que adianta? Resolvemos escolher caminhos diferentes. Não somos mais os mesmos. Já se passaram dois anos...

- O amor é imortal... – cantarolou Gina no que Hermione riu, envergonhada.

- Ah, Gina!

Gina riu. Se Hermione era irritante, Gina sabia como fazer a amiga ficar sem-graça.

Conversaram mais um pouco. Hermione não resistiu e contou à Gina as suas suspeitas sobre Maureen e pediu que ela não falasse nada com Harry. Gina disse que não se meteria. Se Maureen não era flor que se cheira, Harry que descobrisse isso sozinho.


- Você está calado. Aconteceu alguma coisa? – Neville perguntou para um Rony pensativo.

Estavam num café no centro da Londres. O local era aconchegante, o latte maravilhoso, e era um ótimo lugar para conversar. Rony revirava a caneca espumante. Parecia estar bem longe dali.

- Fui à DEVON visitar a minha irmã e encontrei a Mione. – Tomou um gole de café. – Acho que... isso mexeu comigo. – deu de ombros.

- Eu entendo. Vocês gostavam tanto um do outro que foi difícil terminar o namoro daquele jeito. – Pausa. – Você ainda gosta dela?

Rony desviou os olhos para o movimento. O local estava vazio, o que dava uma certa privacidade para eles. Virou-se para Neville.

- Eu não sei. Quero dizer... namoramos durante três anos. Jamais fiquei tanto tempo com uma garota... esse namoro mexeu comigo. Foi a primeira namorada verdadeira que eu tive. Depois dela nunca tive nenhum relacionamento sério, apenas ficadas e rolos, nada demais. Meu trabalho exigia muito de mim.

- E mesmo que não exigisse, eu duvido que você ficaria com outra garota. Você sempre foi apaixonado pela Mione. – Rony fez menção de falar, mas Neville continuou: - Ou vai dizer que estou mentindo?

Rony suspirou. Neville o conhecia muito bem para supor que ele ainda sentia alguma coisa por Hermione. Tomou seu café. Não assumia que ainda gostava de Hermione, mas também não negava.

- Por que você não a convida para sair? – Neville sugeriu depois que a garçonete colocou um prato com um pedaço de bolo de chocolate. – Pra ver o que acontece? Não custa nada.

Rony considerou a hipótese.

Até que não é uma má idéia. – sorriu. – Quem sabe ela também não leva uma amiga para você? – riu e Neville jogou o guardanapo nele.

- Estou muito bem solteiro.

- Ah, qual é, Neville? Você precisa de alguém para esperá-lo em casa!

- Não estou a fim de ter uma mulher para torná-la viúva!

- Viúva, não. Mas alguém que te ame. Alguém com quem você pode dividir os melhores momentos da sua vida!

- Melhores momentos? – Neville disse, irônico. – Deixe-me ver: assaltos, seqüestro... esses, sim, são os melhores momentos da minha vida. Adivinhar se você sairá ou não deles.

Rony revirou os olhos. Neville era o melhor policial que a Scotland Yard já teve. Competente, honesto, incorruptível. Estava para nascer um homem como Neville Longbottom.


- Não é seu namorado saindo ali, Mione? – Luna apontou do outro lado da rua. Hermione olhou e viu Rony e Neville saindo do café.

- Rony não é mais meu namorado. – Hermione desviou o olhar.

- Ele é bem bonitinho, sabe? – Olhou para a amiga, meio sem-graça. – Desculpe. Quem é o cara que estava com ele?

- Ah, é Neville Longbottom.

- Da Scotland Yard? – Luna perguntou espantada e Hermione ergueu os olhos, surpresa.

- Conhece ele?

- Ele já apareceu na televisão, combatendo seqüestros. Já levou alguns tiros. Foi isso que eu vi.

- Pois é. É ele. Quer que eu te apresente?

Luna riu.

- Me apresentar? – deu de ombros. – Pode ser. Adoraria conhecer um policial.

As duas riram. Na verdade, Hermione tinha um plano. Só não sabia se daria certo. Mas precisava da ajuda de Rony para executá-lo.


- Está tudo planejado. Você vai até a escola e pega ela.

- Mas e a avó dela? Ela é sempre pontual. Teremos que levá-la também.

- Nada disso. Deixem aquela velhota fora disso. Se bem que vê-la morrer seria um prazer. – Seu sorriso era diabólico que até a pessoa do outro lado da linha estremeceu. – Pode deixar que eu cuido dela.

- Está bem.

Desligaram.


“Ele se viu em um lugar mágico. Lembrava um jardim, pois o local era verde, cheio de árvores, um lago com águas cristalinas... enfim, era perfeito”.

Andou, tentando conhecer o lugar. Olhou para suas roupas. Trajava uma calça branca com uma camisa com os botões abertos. O vento batia em seu rosto e bagunçava ainda mais seus cabelos.

- Harry. - ouviu uma voz lhe chamar. Olhou pra trás e a viu. Estava linda. Usava um vestido branco florido, uma tiara de flores em sua cabeça. Assim como ele, estava descalça. Parecia um anjo.

Sentiu as lágrimas inundarem seus olhos. Uma saudade infinita tomou conta de seu peito. Teve vontade de abraçá-la, mas se conteve. E se fosse uma visão?

- Patrícia... – murmurou.

- Como vai, Harry? – A mulher caminhou em direção a ele. Tinha uma aura serena, pacífica, como se nada pudesse atingi-la.

- Você não sabe a falta que você me faz...

- Eu sei, Harry. E você está tentando seguir com sua vida, mas... – sacudiu a cabeça. – Você não me ouviu Harry. Eu quero que você seja feliz.

- Eu estou tentando. Maureen é uma pessoa maravilhosa... – sorriu.
Patrícia olhou pra Harry com compaixão, o que deixou Harry mais confuso.

- Harry, você não pode ser feliz com uma mulher que não ama nossa filha. Vai fazê-la infeliz com sua felicidade.

- Eu não entendo... Maureen gosta da Sarah. Será boa com ela.

- Os sentimentos de uma criança são puros e verdadeiros. Elas sentem que são amadas e retribuem.
Quando não são... elas não conseguem gostar das pessoas, mesmo que elas mostrem, com todas as armas que têm, que farão tudo por elas. Sarah sente isso, Harry.

Harry sentiu seu peito oprimir com aquelas palavras. Uma parte queria acreditar a outra, se recusava a ver a verdade.

- Por que está dizendo disso? DIGA-ME!

- Você saberá... – Patrícia sussurrou as últimas palavras antes de desaparecer numa luz brilhante. Harry tentou alcançá-la, mas pegou o ar.

Sentindo-se exausto com tudo aquilo, sentou-se na cama e começou a chorar, enquanto uma vastidão de sentimentos travava uma batalha em seu peito.

De repente, no mesmo jardim, viu-se sentado encostado numa árvore. Abraçava uma pessoa que ele bem conhecia. Ela parecia visivelmente feliz. Ambos observavam, felizes, uma menina, com um vestido florido branco, brincar alegremente pelo campo. Parecia feliz, pura serena.

Harry apertou a pessoa de encontro ao peito. Sentia-se feliz, pleno, realizado.

A Alguns metros de distância, outra pessoa observava a cena, sorrindo emocionada. Tudo estava bem.”


Harry nunca tinha dormindo tão bem quanto naquela noite. Mas o sonho o perturbava. As palavras de Patrícia ainda pesavam em seu peito e custava acreditar que a pessoas com que estava era a... não, não podia ser. Seria muita tolice da parte. Mas como ninguém mandava nos sonhos...

- Os sentimentos de uma criança são puros e verdadeiros. Elas sentem que são amadas e retribuem. Quando não são... elas não conseguem gostar das pessoas, mesmo que elas mostrem, com todas as armas que têm que farão tudo por elas. Sarah sente isso, Harry.

Essas palavras martelavam em sua cabeça. Se fosse tão cético, acreditaria que Patrícia estava inventando coisas, mas sabia que havia algo de verdadeiro nelas... criança sentia os sentimentos bons e ruins. Ele sabia disso. Ele já sentira quando era menor. Não gostava de um vizinho. Todos achavam que era bobagem de criança, coisa de mente infantil, até que o homem foi preso por assassinato e estupro.

Nunca se arrependera tanto do momento em que brigou com Sarah, impôs sua condição. Onde estava com a cabeça quando dissera que mandaria estudar fora? Que tipo de pai ele estava sendo para sua filha? Será que não queria aceitar que Sarah não gostasse de Maureen... ou pior, estava impondo a si mesmo uma felicidade que não existia?

Desesperado em sem pensar duas vezes, pegou o celular e ligou. Demorou, mas conseguiu, depois de muita hesitação de Katherina e advertências de dona Glória, falar com sua filha.

- Sarah? Oi filha. Desculpa por ter acordado você, mas eu quero que você saiba que uma coisa: eu te amo. Amo demais. Quero que saiba que eu nunca farei nada para magoá-la. Nunca vou te abandonar.

- Eu também te amo, papai. Muito.

Harry sorriu, aliviado. Era isso que precisava ouvir. A questão Maureen x Sarah estava suspensa... por algum tempo.


Continua...

N/A: Espero que gostem. Obrigada por comentar. Bjos e até mais. Juh.


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