Primeiro Contato



Hermione entrou no quarto e encontrou Gina ainda acordada aguardando notícias. Não havia nenhuma novidade e ambas foram dormir.

Hermione deitou-se muito cansada e achou que dormiria pesado, porém assim que adormeceu se viu em Hogwarts, na sala das masmorras onde tinham aula de poções “Que pesadelo!”. Na sala só havia ela e o professor Snape. Assustou-se ao vê-lo, mas antes que pudesse sair dali ouviu:

-- Vejo que a Srtª Sabe-tudo foi a única que desconfiou do verdadeiro plano – tinha a mesma voz sarcástica e o olhar frio de sempre, porém Hermione achou ter visto algo mais naquele olhar; seria reconhecimento? Admiração? Hermione controlou-se para manter a voz firme e o encarou.

-- Então era tudo um plano do senhor e do professor Dumbledore – era muito mais uma constatação do que uma pergunta – muito arriscado devo dizer – Percebeu que ele a olhava com dúvida, porém parecia achar engraçado ela criticar Dumbledore. Ela continuou tentando não dar atenção à mudança na atitude do ex-professor, isto a desconcertava um pouco.

-- É um excelente plano, desta forma ninguém nunca questionará sua lealdade a Voldemort – ele cerrou o cenho ao ouvir o nome do Lord das Trevas e levou a mão direita ao antebraço esquerdo pressionando-o, ela fingiu não perceber. – O único problema seria que se mais ninguém soubesse do plano o senhor não teria para quem passar as informações e tudo teria sido em vão. – olhou-o diretamente.

Snape não conseguiu mais disfarçar seu espanto, sempre a considerou uma “intragável sabe-tudo”, uma garota que apenas decorava os livros texto. É verdade que ela havia passado por sua prova de raciocínio lógico que protegia a pedra filosofal no primeiro ano. “E tinha apenas 12 anos” – dizia aquela vozinha chata que o vinha incomodando há algum tempo, sempre que Snape pensava em algo que se relacionasse a Hermione. Snape sempre tentava se convencer de que aquilo tinha sido apenas um grande golpe de sorte. Na verdade nunca quis aceitar que ela era mais inteligente que a maioria. Mas agora Hermione havia concluído exatamente o que Dumbledore queria.

A garota notou que a atitude dele em relação a ela havia mudado definitivamente. Notou que a voz dele estava menos fria. E quando ele falou, pode perceber uma nota de respeito, que ela ainda preferia ignorar.

-- A Srtª é a bruxa, da sua idade, mais inteligente que já conheci, até mais que Lil... – parou percebendo que havia falado demais, tentou dar um tom mais casual à conversa, porém não retornou ao velho sarcasmo.

Hermione lembrou-se de que Lupin havia lhe feito um elogio igual no fim de seu terceiro ano. Tentou disfarçar que havia preferido o de hoje, por ter vindo de Snape. Ela ficou levemente curiosa para saber com quem ele a comparava, mas preferiu deixar para descobrir isto em outra oportunidade, e encarando-o com firmeza permitiu que ele continuasse.

-- Dumbledore apostou que a Srtª não ficaria convencida de que a situação era aquela que aparentava ser e que provavelmente tentaria descobrir a verdade, mesmo que isso significasse que eu seria inocentado – acrescentou a alfinetada fixando os olhos nela. Hermione corou de leve, mas não desviou o olhar e falou com firmeza

– Eu jamais deixaria que condenassem um inocente, mesmo que este fosse você, Snape – reforçou a referência ao nome dele. Ele a encarou elevando discretamente uma sobrancelha como se a avaliasse. – Mesmo que o senhor nunca tenha sido uma pessoa muito justa comigo e meus amigos. – E antes que ele pudesse falar algo ela concluiu – mas principalmente porque eu confio no Professor Dumbledore e não acredito que ele estivesse errado em confiar no senhor; por isso eu também confio e acho que posso ajudar.

Hermione havia derrubado todas as defesas de Snape. Há quase dois meses vinha vivendo entre os comensais que agora tanto odiava, tendo que rir com eles cada vez que contava como havia matado o grande Alvo Dumbledore, o maior mago da atualidade; reafirmar como ele fora tolo de confiar em Severo Snape; rir de como havia sido fácil enganar toda a ordem da Fênix e fugir bem debaixo dos narizes deles. O pior era ter que esconder de todos e principalmente do Lord o sentimento de repulsa em relação a si por ter matado a única pessoa que acreditou nele, a única no mundo que verdadeiramente confiou nele.

Agora na sua frente estava aquela garota, nascida trouxa - como Líllian - que ele deveria odiar por ser a melhor amiga do Potter – “Maldição! Porque sempre tem de haver um Potter” – dizendo que acreditava nele e que queria ajudá-lo. Ele sentou-se. Sentia dor em seu coração – sim, por mais que ele tentasse convencer a todos do contrário ele tinha um. Sentia culpa por ter sido sempre tão grosseiro e injusto - “Tá vendo ela nunca esqueceu” dizia a vozinha irritante - com aquela garota genial e de coração tão nobre - “Hurff! Grifinórios” outra semelhança com Líllian – sentiu algo crescendo, algo que ele havia tentado sufocar, reprimir desde o minuto que percebeu a existência do sentimento. Agora estava perdendo o controle.

Há pouco mais de um ano reconhecera aquele sentimento nascendo em seu coração, mas ele tentou manter-se como sempre foi: frio, cruel e distante. Só que agora as agressões a ela também o machucavam, mas ele precisava manter-se afastado, não podia deixar aquele sentimento crescer. Ele havia sido um comensal, havia feito coisas horríveis, ele não merecia amar. Ele só causou sofrimento à única mulher que amou “e se ela também se apaixonasse por ele?”. Não! Ele não merecia ser amado, não por aquela garota. Sim, porque ela ainda era uma garota e era tão pura, tão inteligente, tão maravilhosa. – Snape soltou um suspiro, Hermione o olhava com curiosidade.

Alvo havia notado algo nele, uma diferença sutil em seu comportamento, ele lhe deu os parabéns e o alertou que isto seria a chave para que o plano deles desse certo – Deixemos claro que o plano era de Dumbledore, Snape o aceitou muito a contra-gosto – Snape sempre repetia que não deixaria nada acontecer entre ele e Hermione. Alvo apenas sorria, “como se alguém tivesse algum poder sobre isso, meu garoto”, dizia o diretor.

Nesses dois meses de isolamento apenas a lembrança dela e de sua promessa a Dumbledore o mantiveram são, o impediram de fazer uma loucura e pôr fim a sua vida. Suas defesas estavam fracas e aquela declaração de lealdade dela sem pedir nada em troca as havia destruído totalmente. Ele lhe contou tudo.

Contou-lhe sobre o voto inquebrável que havia feito com Narcisa Malfoy; de como havia salvado a vida de Dumbledore no verão passado quando este recuperou o anel de Sérvolo que era uma Horcrux; de como havia contado a Alvo sobre os planos do Lord das Trevas de usar Draco para matá-lo e que se este não conseguisse (e ambos concordaram que ele não conseguiria) Snape deveria realizar o ato ou então morreria ao quebrar o voto. Tentou deixar claro para Hermione que ele não aceitou facilmente a idéia de Dumbledore – Hermione lembrou-se da discussão entre Snape e o Professor Dumbledore que Hagrid havia ouvido na orla da floresta proibida. Agora ela fazia sentido.

Contou-lhe que quando o professor Dumbledore confirmou a localização da Horcrux na caverna, imaginou que para guardá-la haveria maldições tão poderosas quanto as que guardavam o anel de Sérvolo. Alvo imaginou que teria poucas chances de sobreviver a outra daquelas maldições. Mesmo assim quis levar Harry com ele para que o rapaz visse como eram as armadilhas do Lord. O ex-Diretor imaginava que depois daquela aventura não teria mais muito tempo com Harry. Alvo havia ficado com seqüelas da maldição do verão e já estava enfraquecido.

Hermione estava parada quase sem respirar ouvindo todo o desabafo de seu ex-professor de poções, havia até esquecido que estavam em um sonho. Ela achou que se o interrompesse ou se ele a olhasse perderia a coragem de continuar. Sentia que ele precisava desabafar, se explicar para alguém, contar a sua versão da história. Via como estava sofrendo pelo que tinha feito, nunca imaginou que algum dia sentiria pena de Snape. Algo se mexeu e inchou dentro dela “Pena?! era isto que estava sentindo?” Sentiu uma pontada dolorosa no coração. “Não era pena que ela sentia, era algo muito mais nobre, muito mais belo”. Hermione assustou-se ao reconhecer o sentimento que crescia em seu coração pelo seu frio e distante ex-professor de poções. Teve medo, mas também teve vontade de abraçá-lo e consolá-lo. Não se moveu, não queria que ele parasse de desabafar, sentia que isto o estava fazendo bem. Snape continuou, sem perceber a reação dela.

-- Naquela noite eu aguardava a chegada de Potter, Dumbledore acreditava que se houvesse tempo de retornar a Hogwarts, eu talvez pudesse controlar a maldição à qual ele seria exposto para recuperar a Horcrux. Quando Flitweek surgiu na minha sala avisando que a escola estava sendo invadida por comensais, entendi que finalmente Draco havia decidido agir. Ele nunca me revelou seus planos – Hermione também se lembrou da conversa que Harry ouvira escondido na noite da festa de natal de Slughorn. Estuporei Flitweek para protegê-lo. Quando saí da sala vi a Srtª e a Srtª Lovegood e as mandei ficar com ele, precisava tirar do caminho todos os estudantes e o maior número de membros da ordem da Fênix que fosse possível. O que deveria ser feito teria de ser feito e eu poderia ter que ferir alguém da ordem para manter o meu disfarce. Não queria que mais ninguém corresse risco.

Hermione estava assustada, impressionada com tudo aquilo, ele era verdadeiramente fiel a Dumbledore, era um companheiro que acreditava: “deveria seguir as ordens de seu mentor mesmo que isto o expusesse a riscos ou o fizesse sofrer”. Snape seguiria as ordens mesmo que não concordasse com elas. Talvez a morte o fizesse sofrer menos. Sim, Hermione não tinha mais dúvidas, Severo Snape era o mais fiel dos seguidores de Dumbledore.

-- Eu sabia que Dumbledore havia levado Harry na busca, quando cheguei à torre e notei as duas vassouras imaginei que ele estaria escondido sob a capa da invisibilidade. Percebi que Draco havia falhado em sua tarefa; Dumbledore estava certo mais uma vez – sorriu com tristeza - havia outros três comensais além do lobisomem Greyback e eu sabia que eles terminariam o serviço sem pensar uma segunda vez, então tomei a frente, se Dumbledore iria morrer de qualquer forma eu precisava cumprir minha missão. Mesmo assim hesitei por alguns segundos, Dumbledore penetrou em minha mente e me avisou: não havia alternativa! A poção que ele tomou na caverna era um veneno muito potente e ele morreria em minutos. Eu sabia que se ele morresse pela poção eu estaria quebrando o voto e morreria também. Sua morte seria em vão.

-- Potter provavelmente contou a todos que o professor Dumbledore suplicou por sua vida e que eu, o insensível comensal, o matei a sangue frio, não foi? – Snape encarou Hermione com um olhar duro desafiando-a a mentir para ele. Ela apenas concordou com a cabeça. Os olhos negros dele brilharam, ela achou que ele iria chorar, porém sua voz continuou firme.

-- Ele suplicou realmente, suplicou que eu cumprisse a minha promessa, suplicou que eu o matasse. Todas essas noites eu ouço aquela súplica em meus pesadelos, às vezes acho que vou enlouquecer ouvindo a voz de Alvo dizendo “Severo... por favor...” – Ele agora tinha os olhos marejados e Hermione não se conteve foi até onde ele estava para abraçá-lo, mas ao tocá-lo tudo se desfez e ela acordou assustada em seu quarto no Largo Grimmauld. Gina a olhava assustada, Hermione tinha o rosto banhado em lágrimas.

-- O que aconteceu? Mione, você estava chorando enquanto dormia e dizendo algo como “pobre professor... como esta sofrendo” ou “todos o condenando e na verdade...”, afinal com o que ou com quem você estava sonhando? – Hermione enxugou as lágrimas depressa e levantando-se disse sem olhar para a amiga – Foi apenas um pesadelo, Gina, deixa pra lá.

Sua cabeça estava a mil, teria sido apenas um pesadelo? Ou será que Snape havia conseguido, de alguma forma penetrar em seus sonhos, e lhe dar informações. Como isso seria possível? Tinha muitas dúvidas, mas não poderia discuti-las com os outros, por enquanto teria de guardá-las só para si.

O que mais a atormentava, no entanto, era pensar naquele sentimento crescendo em seu coração quando o viu tão frágil. Hermione estava confusa, não podia acreditar que estivesse se apaixonando por Snape. E Rony? Ela se perguntava, o que faria com o namoro recém iniciado com Rony. Estava muito confusa, agora precisava de calma e tempo para pensar.
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Aí está o cap 5. Agoara as coisas vão começar a ficar boas.

Obrigada a todos que leram mesmo que ninguem tenha comentado.

Beijos Ana Luiza

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