A Transformação



N.A.: Após quase um ano sem computador, posso finalmente continuar a colocar a minha fic no Floreiros e Borrões. Espero que continuem a ler e a deixar os vosso comentários. Boa leitura.








— Mas… Mas o que é que estão aqui a fazer? — perguntou espantado, andando ao redor deles.


— Viemos fazer-te companhia — respondeu James.


— Como é que conseguiram? Quer dizer… Como é que…? — Remus não conseguia encontrar as palavras exactas para formular a questão.


— Tem calma que eu explico tudo — disse Sirius.


— Como é que eu nunca reparei em nada? — questionou Remus, novamente.


— Admito que não foi fácil — disse James — Mas não foste o último a saber. Sirius escondeu-nos tudo durante quase ano e meio.


— O Sirius?! Pensei que a ideia tinha surgido em conjunto. Pelos dois, percebem! — disse ao apontar para Sirius e James.


— Eu por acaso não sou ninguém! — exclamou Peter.


— Não é isso, Peter — defendeu-se Remus. — Mas ideias destas só mesmo da mente destes dois.


— Desculpa! Da mente elaborada aqui do Mr. Black! — contrapôs Sirius.


— Mas eu tinha a solução para os nossos problemas. Sem o meu manto talvez fossemos apanhados novamente pelo Peeves, ou pelo…


— Espera aí, de que manto está a falar? — questionou Remus.


— Um manto da invisibilidade oferecido pelo meu pai neste último Natal — respondeu James. — Sem ele estaríamos outra vez de castigo porque apanhamos o Peeves e a Mrs. Norris pelo caminho.


— Castigo?! Há quanto tempo andam a tentar?


— Lembras-te, daquele dia na biblioteca, quando Peter deixou escapar que estávamos de castigo? — perguntou Sirius.


— Ele lembrasse bem desse dia, não te preocupes, Sirius — declarou Remus ao olhar divertido para Remus.


— O que é que queres dizer com isso? — perguntou Peter.


— Nada! — respondeu aflito Remus.


Remus lembrava-se bem daquela tarde na biblioteca, quando encontrou Mary ano meio dos longos corredores, cheias de livros. Quando James os encontrou a conversar. Quando teve a certeza dos seus sentimentos por Mary. Quando sentiu pela primeira vez suavidade e o calor da sua pele ao tocar-lhe no rosto. A primeira vez que a viu sorrir…


— Como nada! O que mais aconteceu naquela tarde? — questionou Sirius desconfiado.


— Já disse que não foi nada! — exclamou Remus. — O que eu quero saber é como ficaram de castigo sem que eu me apercebesse de nada.


Sirius, ainda desconfiado, decidiu continuar o que começara a contar. Mas, mais tarde haveria de ter uma conversa com James e Remus. Tinha a certeza de que eles lhe escondiam algo.


— Bem… Foi na nossa primeira tentativa para aparecer aqui…


Remus, escutava tudo com muita atenção. Sirius, relatava tudo, e com todos os pormenores, desde de quando saíram dos dormitórios até se esconderem na sala de aulas vazia. Desde de quando Peeves os apanhou e alertou o Filch.


— … E quando contornamos a esquina para sair do corredor dos encantamentos…


— Fomos apanhados pelo Filch — concluiu Peter.


Remus estava admirado com o que ouvia. As coisas que eles lhe esconderam sem que ele se apercebesse de alguma coisa. Sentados, no chão, em roda conversavam animadamente.


— Mas as tentativas não ficaram por aí. — afirmou James. — Houve uma altura que quase concretizávamos o plano. Mas, infelizmente, fomos apanhados pelo Hagrid, mesmo à entrada da passagem.


— Ainda não acredito no que fizeram — admitiu Remus. — Tudo feito mesmo debaixo do meu nariz e eu não dei por nada. Quero saber como tudo começou?


— Bem, o Sirius é que pode começar porque foi tudo planeado por ele. Eu e o Peter só ficamos a saber, o que ele andava a fazer enfiado na biblioteca, no final do terceiro ano.


— Ora bem — começou Sirius inspirando profundamente. — A ideia surgiu numa aula da McGonagall, quando ela falou, pela primeira vez, em Animagi. Depois, dela explicar no que consistia, fiquei com aquilo a pairar na mente. Andei um ano inteiro a pesquisar na biblioteca. Nunca passei tanto tempo na biblioteca, no meio de grandes livros poeirentos, como no terceiro ano. Mas, valeu a pena, hoje estamos aqui contigo para te ajudar nestas noites difíceis.


— Ajudar-me?! Como? — inquiriu Remus.


— Segundo a pesquisa que o Sirius fez, enquanto estivermos transformados em animais não corremos o risco de sermos atacados quando estiveres transformado em lobisomem.


— Confesso que não foi fácil, principalmente para mim — declarou Peter.


— É, aqui o Peter foi o que levou mais tempo a concretizar a transformação — afirmou Sirius.


— Durante o quarto ano, sempre que te ausentavas, escapávamos da Torre dos Gryffindor e escondidos, numa sala de aulas que ficava aberta durante a noite, começamos a caminhada para a transformação. Durante esse curto tempo, lemos com atenção os apontamentos da pesquisa que o Sirius fez, e começamos a dar os primeiros passos na transformação. Mas, chegamos ao fim do ano ainda muito inseguros, então o Peter…


— Eu era a insegurança em pessoa! — admitiu a rir-se.


— Então, era isso que andavam a fazer naquelas noites que vos procurava por todo o castelo? — perguntou Remus.


— Era — responderam em uníssono a rir.


— As desculpas que tivemos de inventar — declarou Sirius.
Ainda custava a acreditar em tudo o que lhe foi desvendado. As vezes que Remus os apanhou a entrar tarde na sala comum. As vezes que os apanhou distraídos ou de mau humor. As vezes…


— Mas houve um dia que Sirius quase pôs tudo a perder — indagou James.


— Quando? — perguntou Remus pensativo. — Não me recordo.


— Foi naquele dia, quando vínhamos da aula de Cuidados com as Criaturas Mágicas e eu te perguntei como é que se entrava na passagem. Naquele dia que o Hagrid nos deu um sermão por estarmos a mexer nas raízes da árvore — explicou Sirius.


— Por um momento, eu e o Peter, ficamos estáticos e assustados com a repentina pergunta do Sirius. Então, quando tu paraste e o encaraste desconfiado… Pensei que tudo estava perdido — desabafou James.


— Nunca me passou pela cabeça que era para isto que queriam saber como se entrava na passagem! — exclamou Remus.


— Nos somos um máximo! — gabou-se Sirius.


A noite avançava lentamente e parecia que nenhum dos quatro estava cansado. Remus sabia que teria de ficar mas Sirius, James e Peter tinham que ir para os dormitórios, e o mais rápido possível. Remus tinha medo de os atacar, de os apanhar distraídos, de os magoar sem querer. O seu corpo começava a manifestar-se. Começou a sentir suores frios e a ficar irrequieto.


Os amigos estavam tão distraídos, a contar as peripécias por que tinham passado, que não se aperceberam de nada. Nenhum dos três se apercebera que algo de diferente acontecia com o amigo. E, se Remus tinha medo do que poderia acontecer, por outro lado, estava contente por uma vez ter companhia e por, num momento, poder descontrair sem preocupações. Angustiado, tentava esconder todo o que sentia, todos os sintomas o que o seu corpo começava a manifestar.


A luz da lua, embora não estivesse totalmente cheia, entrava no aposento pelas frinchas das janelas. Aquela cor prateada começava a atormenta-lo. Remus, não aguentou mais e curvou-se com as mãos agarradas ao ventre, como se estivesse prestes a vomitar, e começou a gemer. O seu rosto estava pálido e coberto de suor. Os cabelos, completamente húmidos, estavam grudados na testa.


Sirius e James, assustados e sem saber o que fazer olhavam para ele. Peter refugiou-se a um canto do quarto, afastado de Remus. A cada minuto que passava, o corpo de Remus estremecia com fortes espasmos. James e Sirius, ganharam coragem e aproximaram-se de Remus para o ajudar. Mas ele afastou-os de si.


— Vão embora! — pediu Remus com fraco gemido. — Saíam daqui!


Peter precipitou-se para a saída do quarto, mas James e Sirius permaneceram no mesmo lugar. Olhavam para Remus com um ar de preocupação e desespero por não conseguirem fazer nada. Remus olhava para eles com um olhar suplicante.


— Por favor, vão embora. Não quero que nada vos aconteça — insistiu Remus.


— Ele tem razão! — disse Peter que tremia de medo da cabeça aos pés.


— Cala-te, Peter! — rosnou Sirius, sem desviar o olhar de Remus. — Ele não nos vai atacar, ainda não é lua cheia.


— Mas, olha para ele! — disse Peter aflito. — Ele pode transformar-se a qualquer momento!


— Se estás com medo, podes ir embora — ripostou James ao dirigir-lhe o olhar. — Nós ficamos para o ajudar. Foi para isso que viemos…


— O Peter tem razão… — sussurrou Remus, no meio de uma respiração ofegante, ainda curvado sobre si. — Posso transformar-me a qualquer momento. Saíam daqui antes que algo vos aconteça! — insistiu novamente.


— Não! Ficamos contigo até ao amanhecer — disse firmemente Sirius.


— Só sairemos daqui, quando virmos que estás bem — afirmou James.


Remus não disse mais nada. Peter deixou-se ficar no mesmo canto. Sirius e James, ajudaram Remus a deitar-se na cama de dossel. Depois, sentaram-se no chão, ao lado dele, encostados à parede. Ficaram de vigia sempre atentos a qualquer movimento por parte de Remus.


Deixaram-se ficar no mesmo lugar sem falar uns com os outros. Pouco a pouco, iam adormecendo no seu lugar. O primeiro a adormecer fora Peter que, meio amedrontado, ficou encolhido no mesmo canto onde se refugiara. Sirius e James, embora cansados, ainda aguentaram um pouco mais. De um lado escutavam os roncos de Peter, do outro os gemidos, bastante mais fracos, de Remus. Mas, com o avançar da noite, os dois sons juntos formavam uma melodia constante que os envolvia suavemente… Por fim, acabaram por adormecer.


Já tinha amanhecido quando alguém os acordava com brusquidão. Estremunhados, levaram algum tempo a assimilar o que os seus olhos captavam à volta.


— Acordem! — gritou Remus exaltado. — têm que sair daqui antes que todos acordem! Eu não acredito que passaram aqui a noite. São uns irresponsáveis! Eu podia…


— Oh, Remus, está calado! — resmungou Sirius, no meio de um bocejo, ao levantar-se. Depois, espreguiçou-se muito lentamente.


— Não aconteceu nada, estamos inteiros — apoiou James, que parecia imitar Sirius.


— Que horas serão? — perguntou Peter que saíra do seu canto e se juntou ao grupo.


— São quase horas do pequeno-almoço! — respondeu Remus que os empurrava na direcção da porta exaltado. — Têm que sair daqui, o quanto antes, ou serão apanhados!


— Está bem… Está bem… Nós vamos embora — disse Sirius, muito pachorrentamente, no meio de outro bocejo.


— Logo à noite voltamos… — começou James.


— Não se atrevam a colocar aqui os pés! — ordenou Remus — Ou eu… Ou eu conto tudo ao Dumbledore.


— Por mim, podes contar. Nós estaremos na mesma aqui esta noite — afirmou James ao sair do quarto.






Os três saíram da passagem secreta e, o mais rápido que lhes foi possível, cobriram-se com o manto e dirigiram-se para a Torre dos Gryffindor. Tinham que chegar o quanto antes à Torre. Tinham que entrar no dormitório antes que dos restantes colegas acordassem e descessem para tomar o pequeno-almoço.


Sem incidentes pelo caminho, depressa chegaram à Torre. Muito silenciosamente, entraram no dormitório. Na escuridão que ainda os envolvia ficaram em silêncio por algum tempo. Só quando ouviram passos, nos corredores dos dormitórios, é que saíram e, misturando-se com os colegas, desceram para a Sala Comum, como faziam todas as manhãs.


Vagarosamente arrastaram-se até ao Salão onde começava a ser servido o pequeno almoço. A noite tinha sido gratificante e estavam extremamente satisfeitos por terem concretizado os seus objectivos, por terem finalmente aparecido a Remus. O único problema era o cansaço que começavam a sentir por causa de uma noite mal dormida. Lily bem tentava atrair a atenção de James, mas este estava mais interessado em observar melancolicamente a torrada que tinha na mão do que dar as respostas às questões de Lily.


O dia avançava, no que lhes parecia, numa lentidão desumana. As aulas tornavam-se insuportáveis, e tinham uma tremenda vontade de deitar a cabeça sobre os braços e dormir o sono dos justos. O que acabaram por fazer durante a aula de História da Magia, ao início da tarde, quando, não aguentando mais, deixaram cair a cabeça sobre o livro e adormeceram.


Finalmente, o dia chegara ao fim. Sirius começava a questionar-se se iriam aguentar fazer as visitas a Remus durante as noites de lua cheia. Quantas noites mal dormidas iriam aguentar sem dar nas vistas?


Remus esperava que elas não fossem tão imprudentes, ao ponto de voltarem à cabana naquela noite. Irrequieto, andava de um lado para o outro. Pelas frestas das janelas conseguia ver que a noite começava a cair sobre a aldeia de Hogsmeade. Faltava pouco para a sua terrível transformação num monstro.


A maldita transformação que o impedia de amar, sem restrições, a mulher que o seu coração elegera para sua companheira. E, essa mulher, era sem sombra de dúvida, Mary Grant. Estava disposto a lutar contra os Slytherin se fosse preciso, a enfrentar os seus amigos, principalmente Sirius só não conseguia lutar contra aquilo que era, contra o monstro que tinha dentro de si.


E, no meio dos seus pensamentos, Sirius, James e Peter irrompem pelo aposento adentro, numa animação sem comparação. Mas ao repararem no olhar melancólico e entristecido de Remus pararam.


— Eu pedi para que não voltassem aqui esta noite. Eu não quero… — disse Remus cabisbaixo, sentado numa das pontas da cama.


— Está calado, Remus! — interrompeu James. — Eu disse-te que voltaríamos.


— Vocês não entendem! — bradou Remus. — Não têm noção do perigo que correm…!


— Claro que temos! — contradisse Sirius. — Por que é que achas que esteve um ano inteiro enfiado na biblioteca? Por que é que fizemos de tudo para nos transformar em Animagi? Fizemos tudo isto para te ajudar a suportar estes dias difíceis. Por isso, deixa-te de lamentações e alegra-te, que daqui em diante tudo será melhor para ti.


Perante aquele argumento, apenas esboçou um sorriso e virou as costas aos amigos. Não podia fazer mais nada, não tenha argumentos plausíveis que os fizesse mudar de ideias; agora só tinha que pedir aos deuses que os defendessem de um presumível ataque da sua parte.


Sirius, James e Peter sentaram-se no chão, encostados as paredes do quarto, e ficaram em silêncio. Durante alguns minutos olharam entre si, talvez à espera que algo inesperado acontecesse.


Remus, completamente distraído, pegou no anjo que Mary lhe oferecera, colocou-o sobre a mão e pôs-se a contempla-lo. James fora o primeiro a reparar no seu gesto.


— Ainda tens isso? — questionou.


— Tenho…


— Não sei porque é que ainda andas com ele.


— Não consigo explicar! — começou Remus — Mas sempre que olho para ele sito uma grande tranquilidade de espírito.


— Não será por ter pertencido…?


— Não sei do que estás á falar? — replicou, bruscamente, Remus ao colocar imediatamente o anjo no bolço das calças.


— Do que é que estão a falar? — questionou Sirius.


— De nada — disse de imediato Remus.


Mas, de repente, o seu rosto endureceu. Os seus músculos ficaram rijos como se alguém o tivesse congelado por inteiro. De um momento para o outro, todo o seu corpo tremia.


Sirius, James e Peter levantaram-se assustados. Afastaram-se de Remus e ficaram a olhar para ele. Não estavam a perceber o que se passava, só quando viram alguns raios de luar a entrar pelas frinchas das janelas é que descobriram que estavam perante a transformação de Remus em lobisomem.


Ouviu-se um rosnar. A cabeça de Remus aumentava assim como todo o seu corpo. Os ombros tornavam-se arqueados, o pêlo nascia-lhe no rosto e nas mãos que se dobravam em forma de patas com garras. Peter estava outra vez assustado e afastou-se pela segunda vez, em dois dias, de Remus.


Ao mesmo tempo que o lobisomem se erguia nas patas traseiras, abrindo e fechando as suas grandes mandíbulas. Sirius e James olhavam entre si. O que poderiam fazer? O lobisomem rosnava com os olhos postos neles. Com os olhos injectados de sangue, aproximava-se lentamente. Peter voltou a esconder-se no mesmo canto do quarto. Sirius e James, meio amedrontados, afastavam-se enquanto o Remus lobisomem aproximava-se lentamente.


— Transforma-te! — ordenou Sirius num murmúrio.


— O quê? — perguntou James que não o percebera.


— Transforma-te ou seremos atacados! — voltou a repetir.


Sem pensar duas vezes, Sirius e James transformaram-se num enorme cão preto e num veado respectivamente. No seu canto Peter segui-lhes o exemplo, transformando-se num pequeno rato.


O lobisomem parou. Olhou admirado para os animais que estavam à sua frente e começou a rosnar. Aproximava-se lentamente, pronto para atacar. Sirius e James rodavam-no sempre atentos a qualquer movimento que pudesse dar a indicação que o lobisomem atacaria. Peter, depois de se transformar, escondeu-se num buraco no rodapé do quarto.


Sem darem por isso, o lobisomem bramiu um forte uivo que os fez dar um salto. De um momento para o outro, o enorme lobo avançou muito lentamente. O cão e o veado preparavam-se para se defender caso ele decidisse atacar.


Recuaram um pouco. O lobisomem caminhava na direcção deles e mostrava uns enormes dentes tenebrosos que os fez estremecer. Sem esperar que algo acontecesse tão de repente, o lobisomem saltou para os atacar. O veado defendeu-se com as suas enormes armações e o cão tentava mordê-lo, na esperança de o afastar de si.


E, aqueles três seres, que no íntimo são grandes amigos, travavam uma batalha de ataque e defesa até se sentirem exaustos e, por fim, caírem de cansaço.


O veado gemia baixinho com dores numa das patas traseiras. O grande cão preto lambia as suas feridas, sempre atento ao lobisomem, não fosse ele atacar de novo. Um pequeno rato tremia, escondido no mesmo buraco, cheio de medo e transtornado com tudo o que assistira.


E o lobisomem? O lobisomem estava afastado e olhava-os constantemente a rosnar. De vez enquanto, soltava um forte uivo repleto de tristeza e desespero, fazendo com que os outros dessem um salto com o medo, sempre presente, de serem atacados de novo.


Começava a aceitar a presença dos outros, mesmo desconfiado. O seu coração começava a ser invadido por uma sensação e um calor inexplicável.


Um a um acabaram por dormitar durante alguns segundos, mas sempre que escutavam algum som levantavam a cabeça prontos a defenderem-se de um eventual ataque.


E, assim amanheceu, muito lentamente. Um grande cão preto e um veado dormitavam enrolados no meio de um quarto onde um adolescente estava sentado, abraçado às pernas com a cabeça poisada sobre os joelhos, e se questionava: como, quando e onde?, é que levou os amigos a cometerem tal loucura, só para que se sentisse melhor. Se sentisse acompanhado durante o seu martírio, durante a sua clausura naquele quarto escuro, numa remota cabana situado no alto de uma colina, na única aldeia inteiramente feiticeira, Hogsmeade.


Mas havia algo que o estava a atormentar. Dois dos seus amigos sabia onde estavam, mesmo que transformados em animais, mas o terceiro não o encontrava em lugar nenhum, e isto com que receasse o pior. Sirius e James via-os à sua frente, feridos mas vivos. Peter… O pequeno Peter… Remus sentia-se a pior das criaturas, um monstro sem comparação.


Não pode esperar mais. Tinha que terminar com aquele tormento, Dumbledore tinha que ficar ao corrente da situação. Levantou-se do seu lugar, entrou no túnel e, depois de o ter percorrido o mais rápido que lhe foi possível, saiu para o ar frio da manhã. Inspirou profundamente e sentiu uma forte dor no peito. Afastou o que restava das suas roupas e reparou que tinha um enorme corte. E não era só no peito, reparara agora que as mãos, o rosto e provavelmente muitas outras partes do corpo, se encontravam arranhadas. Antes de falar com Dumbledore tinha que ir à enfermaria.


Entretanto, na cabana, o veado e o cão acordaram e voltaram a ser James e Sirius respectivamente. Doloridos e sonolentos olharem em redor. Remus não se encontrava no aposento. Olharam entre si e levantaram-se. Percorrerem a cabana de uma ponta à outra e nem sinal da sua presença. Voltaram a subir ao quarto, mas desta vez para procurar Peter.


Reviraram o aposento e nem sinal dele. Voltaram a revirar a cabana e nada Ficaram assustados. Começaram a imaginar mil e uma coisas. E se Remus…? Não…! Não podia ser verdade! Desesperados com os acontecimentos, nem se deram conta que estava bastante feridos.


— Peter! — chamou James. — Onde estas?


— Peter, grande medroso! Sai do teu esconderijo cobarde — rosnou Sirius.


Ouviram passos. Alguém descia a escada. Olharam para trás e viram Peter. Ainda apresentava um ar assustado, mas estava inteiro, por assim dizer.


Peter olhava-os horrorizado. Sirius e James apresentavam grandes arranhões nas mãos, nos braços e no rosto. Tinham as roupas rasgadas em vários locais e os cabelos completamente desalinhados.


— Mas onde é que tu estavas enfiado? — advertiu Sirius.


— Eu… Eeeu… — gaguejou — quando vi o Remus a transformar-se escondi-me, e…


— E em vez de ajudar ficas-te a assistir ao espectáculo de camarote? — ironizou Sirius.


— Já chega! — interveio James. — temos que encontrar o Remus. Saber se ele está bem. Alguma coisa deve ter acontecido para ele não estar aqui connosco!


— Mas primeiro aconselho-vos a ir à enfermaria. Essas feridas têm mau aspecto — propôs Peter.


Não disseram mais nada. Entraram no túnel e percorreram-no o mais rápido que lhes foi possível.


Remus, depois de curado e trocado a sua roupa rasgada por uma nova que a Madam Pomfrey lhe entregara, saiu da enfermaria mesmo sem obter a permissão da enfermeira. Estava bastante perturbado. Como iria explicar ao professor Dumbledore que traíra a sua confiança? Que possivelmente, tinha morto um colega? Não conseguia recordar o que tinha acontecido durante o tempo que esteve transformado em lobisomem.


Percorria os corredores sorumbaticamente. Todos aqueles que se cruzavam com Remus, a caminho do Salão, olhavam-no e falavam entre si. Talvez sobre o seu aspecto, que não era o melhor depois de uma noite como aquela. Não se importou com o que os outro pudessem dizer ou comentar, simplesmente os ignorou e continuou o seu caminho.


Quando saíram do túnel, a primeira coisa que tinham de fazer era ir à enfermaria. Quando atravessaram as portas, Madam Pomfrey olhou-os com espanto.


— O que é que vos aconteceu? — perguntou admirada.


Sirius e James olharam entre si. E agora? Tinham de arranjar uma desculpa rapidamente, antes que Madam Pomfrey colocasse mais questões.


— Foi… Foi um gato! — disse de repente Sirius.


— Um gato?! — disse Madam Pomfrey admirada.


— Sim, um gato! — alinhou James.


— O gato do Peter! — arrematou James.


— O meu…?! — questionou Peter admirado. Mas, depois de olhar para James e Sirius, concluiu: — É, foi… foi o meu gato.


— Não sabia que tinhas um gato? — questionou a Madam Pomfrey.


— O-ofereceram-mo neste Natal — gaguejou Peter.


— E o que é que vocês fizeram ao pobre coitado do animal para vos deixar nesse estado? — perguntou a Madam Pomfrey.


— Umas pequenas experiências… — começou Sirius.


— Mas ele não gostou lá muito e atacou-nos — concluiu James — E ficamos neste estado.


— Nunca mais me meto com gatos — admitiu Sirius.


Madam Pomfrey ainda os olhava desconfiada. Ficaram com a impressão que não foram convictos o suficiente e que talvez não fosse a melhor desculpa. Mesmo assim, não fez mais perguntas e curou todas as feridas fazendo com que bebessem uma poção com um gosto horrível no fim.


Enquanto a Madam Pomfrey os curava, Peter vasculhou toda a Ala Hospitalar à procura de Remus. Mesmo sobe o olhar reprovador da enfermeira, não houve um único lugar que Peter não procurasse. Uma procura que mostrou infrutífera.


Caminhavam pelos corredores. Cada um com os seus pensamentos. Os corredores começavam a ficar preenchidos pelos alunos que se dirigiam para tomar o pequeno-almoço.


Remus continuava a andar pelos corredores sem saber o que fazer. Por duas vezes passou em frente à grande gárgula de pedra que guardava a entrada do gabinete do director. E, por duas vezes avançou sem parar. Como é que iria contar o que tinha acontecido? Como? Muitas, mas muitas questões assolavam a mente de Remus. Como poderia contar a alguém que confiara nele que fora o causador da morte de um amigo? Esgotado, deixou-se cair a um canto escuro do corredor e aí permaneceu.


Sirius, James e Peter não obtinham resultado na sua busca. Encontraram Lily no caminho, mas nem ela soube responder onde Remus poderia estar. De imediato, se prontificou a ajudar, mas como não queriam que Lily soubesse o que tinha acontecido inventaram imediatamente uma desculpa. Bastante magoada, principalmente com James, Lily afastou-se.


— Dispensaste a tua namoradinha, Potter? — perguntou sarcasticamente Snape.


James olhou-o enfurecido. Sirius segurou-o por um braço e James encarou-o relutante.


— Temos que encantar Remus! — murmurou entre dentes Sirius, com a intenção que não fosse audível.


O que de nada adiantou porque Snape escutou na mesma.


— Então perderam o esquisito? Ou será que ele encontrasse nas suas misteriosas viagem que, por acaso, acontecem todos os meses? Não é estranho! — declarou Snape.


— O que é que queres dizer com o estranho? — perguntou James completamente alterado.


— É estranho que ele continue a ir tantas vezes a casa, agora que o pai morreu. Ou haverá outro motivo? — questionou enigmaticamente.


Os alunos começavam a aglomerar-se à volta deles. Ora olhavam para Snape ora olhavam par James e Sirius que ainda o segurava pelo braço. Ninguém reagia. Apenas ficavam ali quietos a assistir a mais uma discussão entre os Slytherin e os Gryffindor.


— Mas o que é que se passa aqui? — a professora McGonagall aproximava-se, afastando os que se encontravam no seu caminho.


Quando deparou com James e Sirius que ainda o segurava, e Snape encarou-os. E, desconfiada olhou-os por cima dos seus óculos quadrado.


Sirius largou de imediato James. Snape afastou-se um pouco e todos aqueles que os rodeavam fizeram o mesmo.


Lily, um pouco aborrecida com James, assistia a tudo ao longe. Mary, que passa naquele momento por ali, juntou-se a Lily e às outras que a acompanhavam.


— Eu não acredito que, em tão pouco tempo, desobedecessem ao que lhes foi pedido. E parece-me que o castigo que vos foi aplicado de nada adiantou — disse a professora McGonagall.


— Nós não desobedecemos… — tentou explicar Sirius.


— Mr. Black, esteja calado! E dez pontos a menos para cada um. E para si também, Mr. Snape — completou olhando para Snape.


Depois, olhou para os alunos que ainda os rodeavam e disse com uma voz firme e severa:


— Vamos, toca a dispersar! Não podem ficar no meio do corredor. Vocês os três ficam! — ordenou quando Sirius, James e Peter também mostravam intenções de se afastarem.


De imediato pararam. Olharam entre si e voltaram-se para a professora cabisbaixos. Snape ainda olhou para eles mas optou por se afastar, com os restante alunos, antes que a professora McGonagall também o detivesse.


— Acabo de ser informada, pela Madam Pomfrey, que o Potter e o Black. Estiveram na infirmaria num estado bastante lastimoso. E tudo isso, porque andaram a fazer experiências num certo gato que disseram pertencer ao Pettigrew.


Sirius e James olharam entre si. Sabiam perfeitamente que a professora McGonagall, sendo a directora dos Gryffindor, sabia que não exista gato algum.


— Portanto, como sei que não existe nenhum gato, eu quero saber a verdade: onde arranjaram aqueles arranhões?


— Foi no Salgueiro Zurzidor — disse de imediato Sirius.


— Foi onde? — disseram Peter e James em uníssono ao olharem para Sirius.


— O que é que vocês faziam perto do Salgueiro? — a professora McGonagall perguntou exaltada.


— Nós… Nós só… — Sirius não encontrava as palavras certas.


— Tivemos curiosidade… — começou a explicar James.


— Estão estritamente proibidos de se aproximarem novamente daquele Salgueiro! — declarou a professora. — E agora saíam daqui antes que recebam um castigo por causa da vossa curiosidade.


Peter, Sirius e James começaram a afastar-se. A professora McGonagall olhava-os preocupada. Ainda não tinham dado uma dezena de passos quando a professora voltou a chama-los.


— Encontraram alguém perto do Salgueiro?


— Não — responderam em uníssono.


— Muito bem, podem ir — disse a professora McGonagall e, virando-lhes as costas afastou-se pelo corredor oposto.


Eles seguiram-lhe o exemplo e embrenharam-se pelos corredores. E, sem darem por isso, estavam perto da entrada do gabinete do director.


— Que dia! — exclamou James enquanto percorria o corredor. — Primeiro: o Remus desaparece e nem sequer sabemos onde está. Segundo: a Lily fica chateada comigo só porque dispensei a sua ajuda. Depois aquele pateta do Snivellus


Snivellus (ranhoso)?! — questionou Sirius. Mas James, que parecia não ter escutado Sirius, continuou com o seu discurso.


— … com as suas insinuações e desconfianças. E por último, a McGonagall tira-nos pontos e tudo porquê? Para ajudar o ingrato do Remus que desapareceu sem nada dizer.


— Eu sei que tens razão — apoiou Sirius — Mas ele talvez tenha um motivo forte para sair sem nada nos dizer.


— Talvez porque eu matei um amigo! — balbuciou Remus. — Não acham que é um motivo suficiente forte para abandonar aquela malfadada cabana?


— Quem é que morreu?! — perguntou James.


— O Peter! — exclamou Remus ao sair das sombras que o escondiam. — Eu matei o Peter! Não entendem?


— Quem é que o Remus matou? — questionou Peter que se aproximara mais do grupo.


— A ti — respondeu Sirius ao olhar para ele.


— A… A mim?! — balbuciou Peter.


— Por causa da vossa insistência…Como é que agora eu vou explicar o que se passou a Dumbledore? Como?


— Remus sossega — pediu James. E, depois de o ter tentado segurar, concluiu: — Não aconteceu nada!


— Como não aconteceu nada? — Remus estava tomado por uma espécie de cegueira histérica que o impedia de ver Peter mesmo ao seu lado. — Eu vasculhei a cabana de uma ponta à outra e não o encontrei!


Sirius aproximou-se. Segurou Remus pelos ombros e olhou-o bem fundo dos seus olhos. Remus começava a acalmar. A sua respiração deixou de ser ofegante e tornou-se regular. Com tristeza olhou para os seus companheiros de aventura e foi então que viu Peter.


— Peter! — balbuciou.


— Como vez, não fizeste nada de errado — disse Sirius. — Sabes como é o Peter? Qualquer coisita e está logo a fugir. Aconteceu o mesmo ontem à noite. Mal tinha começado a tua transformação e já ele se estava a esconder com medo. Encontramo-lo esta manhã metido num buraco. Assustaste-te sem necessidade — declarou Sirius.


— Este é o nosso segredo — disse James ao colocar uma mão no meio do grupo.


— Esta é a nossa força e união — declarou Sirius e colocou a mão sobre a do James.


— Este é o sinal da nossa amizade — disse Peter ao fazer o mesmo.


— Sim senhor, hoje o Peter está inspirado! — gozou Sirius.
Os outros riram-se da pequena ironia de Sirius. Agora, só faltava o Remus para selar aquele compromisso.


Remus aproximou-se, colocou a mão sobre a deles e, depois de os olhar nos olhos, declarou:


— Com este gesto selo a nossa amizade — depois colocou também a outra mão. — Com este gesto eu agradeço tudo o que vocês têm feito por mim.


James, Sirius e Peter colocaram as restantes mãos e com este gesto formaram um elo que prometeram jamais quebrar. Olharam-se profundamente e com esse olhar confirmaram tudo o que tinham dito.


— Ainda bem que é fim-de-semana — declarou Sirius ao por uma mão na nuca. — Não sei se aguentaria um dia de aulas.


— Sabem o que é que me sabia bem? — perguntou James — Um bom pequeno almoço.


— Apoiado! — declarou Peter.


Completamente esquecidos do que tinha acontecido na noite anterior, caminhavam animados pelos corredores na direcção do Salão. Onde talvez ainda encontrassem algo sobre a mesa que pudessem comer.



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