Um Grande Desgosto



No primeiro dia de férias, Remus levantou-se cedo. Pegou no malão, que deixara pronto na noite anterior, e desceu para o salão principal. Sentou-se à mesa dos Gryffindor e tomou o pequeno almoço antes de sair para apanhar o Expresso de Hogwarts.

Decidiu não contar o verdadeiro motivo da sua ausência durante as férias. Apenas Mary sabia a verdade mas desde daquela noite, no lago, que não voltaram a falar. Por isso, que naquele dia saía cedo, dos dormitórios, para evitar despedidas e mais perguntas sobre a sua decisão de passar as férias em casa.

O salão começava a encher, uns para tomar o pequeno almoço e outros para se despedir dos amigos que passariam o Natal em casa.

Antes que os seus amigos descessem da torre, Remus levantou-se e dirigiu-se para o vestíbulo do castelo. Ainda olhou para as escadas, talvez na esperança de ver James, Sirius e Peter antes de sair. No fundo queria despedir-se deles, mas o que mais queria era ver Mary antes de partir.

Não adiantava negar o que sentia. Quanto mais negava mais a amava, mais a desejava ter junto a si. Deu um suspiro e dirigiu-se para a saída. Passou pelas portas e começou a descer a escada. Pronto, agora tinha que olhar em frente e enfrentar o que estava para encontrar. A doença do pai.

Começou a afastar-se do castelo em direcção às carruagens que o levaria até à estação de Hogsmeade, para embarcar no comboio.

Estava com medo de enfrentar o que estava para vir. Queria que tudo não passasse de um falso alarme. Mas, no seu peito, algo o inquietava, algo lhe dizia que seria a última vez que viria o pai com vida.

Parou mais uma vez e olhou para o lago. Estava coberto por uma camada de gelo. Nos últimos dias tinha nevado com intensidade. Olhou para o céu e reparou que estava limpo, apenas salpicado, aqui e ali, por algumas nuvens. Respirou fundo, olhou em frente e recomeçou a caminhada, mais uma vez.

— Remus — alguém o chamou. — Remus, espera.

Remus olhou para trás e esboçou um sorriso. Era Mary que o chamava e corria na sua direcção. Por isso, ele não esperava. Nunca imaginou que Mary fosse despedir-se dele.

— Bom dia, Mary. Não esperava ver-te tão cedo. Aliás, não esperava ver ninguém. — disse entristecido. — Não gosto de despedidas.

— Isso, deu para reparar — disse a sorrir — És o primeiro a sair do castelo. Ainda é cedo.

— Obrigado por vires — disse com sinceridade.

Mary sorriu. Não queria deixa-lo partir sem se despedir. Tinha prometido, a si mesma, que lhe daria uma força para o animar. Tinha que lhe dar algo que o ajudasse a sentir forças para enfrentar todos os problemas que podessem surgir.

— Remus — disse enquanto lhe pegava na mão. —, quero que leves isto contigo. É para te dar força e coragem. A mim sempre deu.

Remus abriu a mão e contemplou uma corrente com um pequeno pingente. O pingente tinha a forma de um corpo, só que era esquisito. Esse corpo tinha asas e tinha as mãos cruzadas sobre o peito. A pequena figura era engraçada. Era com certeza um artefacto Muggle porque não se mexia. Mas quanto mais olhava para ela mais alivio sentia.

— O que é isto? — perguntou Remus.

— É um anjo — respondeu Mary.

— Um anjo?! — olhou-o confuso.

— É uma figura mítica, que segundo os Muggles, nos protege. Há quem lhe chame de Anjo da Guarda. Foi-me oferecido pelos meus pais, e como sabes, são Muggles. Mas eu gosto dele, não sei como, transmite-me confiança para enfrentar os problemas.

— Não posso aceitar — disse Remus. — É demasiado valioso para ti. Foram os teus pais que to ofereceram. — e estendeu-lhe a mão aberta.

— Quero que fiques com ele — disse Mary enquanto lhe pagava na mão e a fechava. — Vais precisar mais dele do que eu. Guarda-o sempre junto ao peito, perto do coração.

Ficaram, por um tempo, de mãos dadas. As portas do castelo voltaram a abrir-se e, mais uma vez, os alunos começaram a sair na direcção das carruagens. Olharam-se nos olhos e Mary deu-lhe um beijo no rosto. Depois, a sorrir, afastou-se na direcção do castelo. A meio do percurso parou e voltou a olhar para Remus.

— Er... Remus — disse —, espero que tenha um Feliz Natal.

— Obrigado Mary. Um Feliz Natal, para ti também.

— Boa viagem! — disse enquanto se afastava, novamente, e lhe acenava com a mão.

Quando Mary estava a subir a escada, aparecem à porta James, Sirius e Peter seguidos por Lily, que também carregava o seu malão. Passaram por Mary sem lhe dirigir a palavra, desciam a escada numa correria desenfreada e num grande alarido.

— Remus — chamou Sirius. — A onde pensas que vais, sem te despedires?

— Qual é a tua, sair do dormitório sem nos avisar? — resmungou James.

— Já que não queres ficar connosco, pelo menos, deseja-nos um Bom Natal! — disse Peter.

— Sabias que Lily também vai passar as férias a casa, porque não esperas-te por ela? — questionou James.

— Eu nunca disse a Remus para esperar por mim — defendeu-se Lily.

Falavam todos ao mesmo tempo. Cada um empurrava o outro para se fazer ouvir. Era engraçado assistir àquela cena, desencadeada pelos três, já que Lily se mantinha afastada da confusão.

Remus ria. Ao longe, Mary espreitava pela porta e ria também. E foi nessa troca de olhares que James reparou no que Remus tinha na mão.

— O que é isso? — disse James, enquanto apontava para a mão de Remus.

— É um anjo, uma divindade Muggle. Onde o arranjas-te? — perguntou Lily.

— Divindade Muggle?! — Sirius estava confuso.

— Os Muggles chamam-lhe, muitas vezes, de Anjo da Guarda — disse Remus. — Também dizem que lhes dá protecção, confiança e força para vencer os seus problemas. Mas em relação à pessoa que mo deu, é segredo.

— Nossa, tanto segredo — ironizou Peter. — Parece que o nosso amigo arranjou um namorada e não quer contar-nos.

— Cala-te, Peter — disse Remus, exaltado. — Sabes muito bem o problema que tenho. Quem é que ficaria comigo desse jeito. Sabes bem que a posso magoar, mesmo sem intenção.

— Que problema?! — perguntava Lily que não estava a perceber nada.

— Não há problema nenhum — disse Sirius. — Este cabeça oca é que não sabe o que diz. As vezes fala demais. Fala o que não deve — completou ao dar-lhe uma pancada na cabeça e fez com que Peter se encolhe-se e coça-se o alto da cabeça.

Lily, não compreendeu o que Sirius quis dizer. Ela ouviu muito bem Remus mencionar que tinha um problema. E da maneira com que falou nisso deveria ser grave.

— Muito bem, continuem com os vossos segredos que não me importo. — Deu um beijo a James e concluiu: — Vamos Remus.

— Ei! Também queremos um beijinho — disse Sirius.

— É, também temos direito — afirmou Peter.

— Arranjem uma namorada que já recebem beijinhos — disse James exaltado.

— Estava a brincar — disse Sirius afastando-se de James. Peter seguia os seus passos.

Remus ria da situação. James resmungava com Sirius e Peter que fugiam à sua frente fazendo troça. Lily, que estava envolvida mesmo sem querer, também ria dos ciúmes do namorado.

Mas não eram só eles que riam. Escondida pelas portas do castelo, Mary, continuava a espreitar e, se por um lado, sentia inveja da sua amizade, por outro, gostaria de estar junto deles, de ter amigos, de ser feliz...

— Os meninos, querem parar por um momento — ordenou Lily. — Está quase na hora de partirmos. Ou será que agora já não querem despedir-se?

— Deixa-os, Lily — disse Remus. — É melhor irmos senão perdemos o comboio.

— Que deixa-os? — disse de repente James. — Quero despedir-me da minha namorada.

— E nós do nosso amigo — disse Peter.

— Dos nossos amigos, queres tu dizer — corrigiu Sirius. — Ou já te esqueces-te de que Lily também vai de férias?

— Não. Mas se me despeço dela, ainda levo um murro do James.

— Ora, seu...! — resmungou James.

— JAMES! — gritou Lily. — Queres parar quieto.

Remus, Sirius e Peter desataram a rir novamente. Era engraçado vê-los a discutir para logo de seguida estarem aos beijos. Mas o amor é mesmo assim, tem os seus altos e baixos.

Começaram a ouvir as carruagens a movimentarem-se. Remus deu um abraço aos amigos e afastou-se na direcção da última carruagem. Lily deu um beijo a James e, para desespero deste, deu um beijo na face a Sirius e Peter. Depois pegou no malão e entrou na mesma carruagem que Remus.

— Bem, só ficamos os três — lamentou-se James.

— É. Mas vamos divertir-nos na mesma. E não te esqueças, temos agora uma óptima oportunidade, já que estamos sozinhos, de preparar tudo para aparecer a Remus na primeira lua cheia do segundo período — disse Sirius.

Permaneceram no mesmo lugar até perder de vista as carruagens. Ao longe, Mary que ainda continuava por detrás das portas também assistia ao afastamento das carruagens. Uma tristeza invadiu o seu coração. Sabia o verdadeiro motivo pelo qual, Remus, afastava-se da escola. Sabia que ele poderia sofrer imenso nestas férias. Só desejou uma coisa: que quando Remus tivesse algum problema olhasse para a lua. Mas o que Mary não sabia era que, Remus, praticamente não iria ter tempo para olhar para a lua.


Durante a viagem, Remus e Lily, praticamente não dirigiram a palavra um ao outro. Lily estava entretida a ler um livro que James lhe oferecera. E Remus só pensava no pai. Como é que ele estaria?

Quando chegaram à estação de King's Cross, em Londres, já era noite serrada. Remus respirou fundo, a noite de lua cheira seria no dia seguinte. De certeza que os seus pais já tinham o quarto preparado. Não tinha janelas, a porta era reforçada, por causa da segurança deles e das pessoas, e com um feitiço que isolava o som.

Saíram do comboio e atravessaram a parede que ocultava a plataforma nove e três quartos. O pai de Lily acenou-lhe para que ela o visse. Junto dele estava a sua irmã, Petúnia, de mau humor. A mãe tinha ficado em casa a preparar o jantar.

Lily deu um caloroso beijo na face de Remus e despediu-se. — Um Bom Natal, Remus.

— Um Bom Natal. — depois dirigiu-se ao pai de Lily, cumprimentou-o e concluiu: — Um Bom Natal, Mr. Evans.

— Para ti também, rapaz — disse com um ar jovial.

Antes que Remus a cumprimenta-se, Petúnia, virou as costas e dirigiu-se para o carro. Petúnia, sempre os achou esquisitos vestidos com longos mantos e a usarem chapéus pontiagudos. A usarem um pau, ao qual davam o nome de varinha, que ao prenunciarem palavras sem nexo faziam aparecer coisas do nada. Definitivamente, queria manter-se afastada deles.

Lily olhou para Remus e sussurrou: — Não ligues. Ela sempre foi assim. — E dito isto, afastou-se com o pai.

Remus estava agora sozinho. A sua mãe não o viria buscar, não podia deixar o seu pai sozinho. Mas isso não o preocupou, só tinha que como das outras vezes: ir para um lugar isolado e usar um botão de transporte que estava programado para aquele dia.

À hora marcada o botão foi accionado. Remus encontrava-se, agora, à entrada de casa. Abriu a porta e entrou. A casa estava mergulhada na escuridão e no silêncio. Não encontrou a alegria dos pais sempre que chagava a casa. Deixou o malão no hall de entrada e dirigiu-se para a sala. Espreitou na cozinha para ver se encontrava a mãe mas estava vazia. Então, foi ao quarto dos pais, de certeza que os encontraria lá.

Remus bateu na porta de leve e entrou. A sua mãe estava sentada numa poltrona a ler um livro. E seu pai... O seu pai estava deitado, bastante pálido mas com um ar sereno. Numa mesa ao lado, sobre uma bandeja, os restos do jantar daquela noite. Parecia que a mãe não dera contra da sua entrada. Continuava a ler o livro. Remus aproximou-se e deu-lhe um beijo no alto da cabeça. e este gesto de carinho fez com que ela desviasse a sua atenção de livro.

— Ah! Remus, já chegaste? — disse a mãe. — Não me dei conta que já era tão tarde. Queria esperar-te na sala. Deves ter fome?

— Não faz mal — sossegou-a Remus. — Como é que ele está?

— Está melhor — disse a mãe. — agora está a dormir, é melhor deixá-lo, amanhã falas com ele.

A mãe levantou-se, colocou a mão nas costas de Remus e caminharam para a saída do quarto. Quando Remus abriu a porta ouviu o pai.

— Remus — disse com uma voz rouca. —, fica aqui comigo, enquanto a tua mãe prepara-te o jantar.

A mãe saiu do quarto e Remus aproximou-se da cama. Ajoelhou-se perto do pai, pegou numa das mãos e beijou-a.

— Como se sente? — perguntou Remus.

— Agora estou melhor, contigo perto de mim. Como está a correr o ano? Espero que tenha encontrado alguém especial!

— Não diga disparates, pai — resmungou Remus. — Sabe muito bem que não posso envolver-me com alguém. Pode ser perigoso e... e eu não quero magoar ninguém.

— Deixa de ser casmurro. O transformar-te em lobisomem não é um problema desde que essa pessoa te aceite como és.

No fundo sabia que já tinha encontrado a pessoa especial que o pai falara. O seu coração já pertencia a alguém, já pertencia a Mary. Mas, agora, não queria pensar nisso, apenas queria estar junto do pai e aproveitar todos os momentos. Olhou para o pai e reparou que tinha adormecido. Deixou-se ficar naquela posição. Sentou-se sobre as pernas, apoiou a cabeça sobre o braço, que colocara sobre a cama, e fechou os olhos. Mantendo, ainda, a mão do pai na sua.

Passado algum tempo, a mãe entra no quarto para o chamar. Encostou-se à porta e ficou algum tempo a olhar para o filho e para o esposo. Os olhos ficaram-lhe humedecidos e uma lágrima deslizou pelo rosto. Era triste saber que, dentro de alguns dias, tudo estará acabado... Limpou os olhos e o rosto, e aproximou-se de Remus.

— Filho — disse, enquanto lhe tocava no ombro —, vem jantar. Já está pronto.

Remus levantou-se e seguiu a mãe até à cozinha. O cheiro a comida despertou-lhe o apetite. Sentou-se à mesa e serviu-se um pouco do assado. A mãe sentou-se à sua frente e começou a fazer-lhe perguntas sobre a escola, os amigos, se ainda continuava a ir para o mesmo sitio na noites de lua cheia.

Remus respondia a tudo. Era bom conversar com a mãe. E até lhe contou que deram o nome à casa, onde se transformava em lobisomem, de Cabana dos Gritos.

— ... O povo de Hogsmeade, pensa que está assombrada. Que existem espíritos violentos lá dentro — disse — E, é claro que, Dumbledore encorajou esse boato. Ninguém se aproxima da cabana com medo de ser atacado.

— O que é isso que trazes ao pescoço? — perguntou a mãe quando reparou no cordão.

— Isto... — disse Remus, enquanto o pegava na mão. — Isto é um anjo. É uma figura...

— Eu sei o que é — interrompeu. — Mas quem to deu?

— Foi uma amiga — disse envergonhado — A Mary. Mary Grant, ela é filha de Muglles. Eu... bem, eu mostrei-lhe a carta que me mandou e ela... ela deu-me este anjo para me dar força.

— Uma amiga — ironizou a mãe. — estou a ver...

A mãe não voltou a falar mais sobre o assunto. Levantou-se da mesa, deu um beijo de boa noite a Remus e foi deitar-se.

Remus levantou-se de seguida e foi para o seu quarto. O malão já estava em cima da cama. As cortinas da janela estavam abertas e a luz da lua entrava no quarto. A lareira estava acesa e o ar encontrava-se quente a agradável. Deitou-se, mesmo vestido, e adormeceu de imediato.


Finalmente, o Natal tinha chegado a Hogwarts. Naquela manhã, James foi o primeiro a acordar. Espreguiçou-se e deu um salto. Tinha-se esquecido que era Natal. Gatinhou até aos pés da cama e encontrou vários presentes.

Pegou num e abriu-o. Era uma caixa de chocolates Muggles, fora Lily que a mandara e no meio dos chocolates estava um cartão a desejar-lhe um Bom Natal. Outro embrulho era de Remus. Desembrulhou-o e encontrou uma grande variedade de doces caseiros. Junto estava uma carta, onde Remus, explicava que os doces eram para dividir pelos três e onde pedia desculpa por mandar tudo junto. De Sirius, recebeu um livro: O Quidditch através dos tempos. De Peter, uma snitch grande demais para jogar mas recheada de doces.

Agora só faltava desembrulhar um presente. Pegou nele e leu numa etiqueta: Dos teus pais, Daniel e Susan Potter. Abriu-o e dentro da caixa encontrou uma espécie de manto. Um manto de um cinzento prateado. Tinha um toque estranho, como o de água entrelaçada no tecido.

James pôs o manto em volta dos ombros e precipitou-se para o espelho. Quando se olhou no espelho apanhou um susto. O seu corpo tinha desaparecido. Só a cabeça se via, suspensa no ar. Puxou o manto para cima da cabeça e o seu reflexo desapareceu por completo.

— Mas que raio... — murmurou, enquanto mexia na caixa à procura de algo mais. No fundo encontrou uma carta.


Caro James

Deves estar admirado com o teu presente. Já o experimentas-te? Claro que já.

Este é o famoso manto da invisibilidade. É uma herança de família e tem passado de pai para filho. Creio que é a altura de to entregar.

Usa-o bem. É útil para andar pela escola sem sermos vistos.

Feliz Natal

Daniel Potter


— Usa-o bem... É isso! — exclamou — Podemos usar o manto na próxima lua cheia. Assim não corremos o risco de sermos apanhados pelo Filch ou pelo Hagrid como das últimas vezes.


O Natal de Remus não foi dos melhores. O pai piorava de dia para dia. Nem sequer abriu os presentes, não estava com disposição para comemorações.

O pai teimou em almoçar, naquele dia, na sala na companhia do filho e da esposa. Praticamente, não comeu nada mas incentivava-os para que comecem alguma coisa. Mesmo antes da sobremesa, levantou-se e Remus ajudou-o a caminhar para o quarto.

Ficaram toda a tarde a conversar. Romulus Lupin fazia de tudo para que Remus esquecesse aqueles duros momentos e o recordasse como um pai carinhoso e meigo que sempre o ajudou. Remus contava o que se passava na escola: as brincadeiras com os amigos, as discussões com os Slytherin...

— É, parece que a velha rivalidade entre os Gryffindor e os Slytherin ainda esta viva — disse o pai de Remus a rir.

— É mesmo, pai — concordou Remus. — Há um ou outro que são boas pessoas — o pai mostrou-lhe uma cara de dúvida. — É verdade! — afirmou Remus. — Até foi uma Slytherin que me ofereceu este cordão. — disse enquanto o pegava.

— Um anjo... — disse o pai quando olhou para a extremidade. — Essa Slytherin deve ser especial.

— E é mesmo. Mas há dois que passam a vida a implicar com ela. Pai, alguma vez, na história de Hogwarts, entrou um filho de Muggles na equipa dos Slytherin? — perguntou.

— Que eu tenha conhecimento, não — respondeu — Aliás, um dos motivos do afastamento de Salazar Slytherin da escola foi esse, o de não aceitar, com ele lhes chamava, Sangues de Lama entre os seus alunos.

— Mary é filha de Muggles. É por isso que o Snape e o Malfoy passam a vida a implicar com ela.

— Remus, afasta-te desses dois — disse preocupado. — Principalmente, do Malfoy. Eles podem ser perigosos.

— Não se preocupe, eu sei defender-me.

A meio da tarde, a mãe de Remus trouxe uma bandeja com chá e biscoitos. Depois de os servir, sentou-se na poltrona e continuou a ler o livro que começara na dia anterior.

Remus estava a divertir-se. O pai contava-lhe as aventura que tivera na escola. Descobriu que o pai fora amigo de Sirius Black e de Maggie Smith, os pais de Sirius, e de Daniel Potter e de Susan Grint, pais de James. Quando o pai os conheceu já andava no sexto ano e eles acabavam de chegar a Hogwarts.

— Passavam a vida a meter-se em sarilhos. O Apollyon Pringle, que era o encarregado nessa altura, ficava fulo sempre os apanhava. O Black e o Potter eram um terror.

— Tal pai, tal filho — disse Remus ao lembrar-se do que Sirius e James aprontavam.

Já tinha anoitecido quando Remus saiu do quartos dos pais. Dirigiu-se para a sala e sentou-se num cadeirão de frente para a lareira. Encostou-se e ficou a ver as chamas a devorarem os troncos, de madeira, lentamente.

Ao seu lado estava uma pequena árvore de Natal, à volta dela os presentes que não tinha aberto. Pegou num onde estava escrito: Do Sirius, do James e do Peter. Teus amigos para sempre. Desembrulhou-o e encontrou um livro intitulado: As forças do mal e como vencê-las. Na primeira página tinham escrito uma dedicatória.


Para o aluno mais inteligente nas aulas de Defesa contra as Artes Negras.

Pode ser útil um dia.

Sirius Black

James Potter

Peter Pettigrew


— Só mesmo aqueles três — disse enquanto colocava o livro de lado.

Pegou noutro presente e constatou que era dos pais. Desembrulhou-o e encontrou um bonito manto e numa pequena caixa um cordão com uma pedra. Pegou no cordão e a pedra ficou pendurada. Era bonita, de um transparência que adquiria as cores que a rodeavam. Dentro da caixa estava uma carta.


Remus,

Esta pedra é um herança de família. Ela tem o poder de nos mostrar os verdadeiros amigos e muito mais. Foi com a ajuda dela que encontrei a tua mãe.

Quando encontrares essa pessoa a pedra manifestar-se-á. Mas não me perguntes como, porque difere de pessoa para pessoa.

Sê feliz e não deixes que esse teu problema te afecte.

Um abraço

Romulus Lupin


Remus, colocou a pedra dentro da caixinha e guardou-a dentro do bolço. Pretendia pedir mais explicações ao pai. Outro presente era de Lily, rasgou o papel e deparou-se com uma caixa de chocolate que nunca tinha visto. Abriu a caixa e comeu um.

— Devem ser doces Muggles. E são bons!! — exclamou.

Ainda havia um embrulho de baixo da árvore. Remus pegou nele. Era longo e estreito. Presa pelo laço, estava um carta que não estava identificada. Tirou a carta e colocou-a sobre os joelhos. Rasgou o papel e encontrou uma caixa de madeira selada com um fecho dourado. Cada vez mais intrigado, abriu o fecho com todo o cuidado. Qualquer coisa vermelha estava dentro. Abriu de uma vez a caixa e dentro estava uma bonita pena, de um vermelho fogo e um amarelo dourado. Com as mãos tremulas, abriu o envelope e retirou a carta.


Querido Remus

Espero que esteja tudo bem contigo e que o teu pai já esteja melhor.

Aqui, está tudo na mesma. O Snape e o Malfoy não me deixam em paz. O Sirius e o James sempre metidos em sarilhos e o coitado do Peter a segui-los por todo o lado.

Da última vez que foi a Hogsmeade comprei esta pena. Era a mais bonita que estava na loja. O dono disse-me que era uma pena de fénix, muito difícil de encontrar. Não acreditei, foi demasiado barata. Mas se realmente é uma pena de fénix, é ideal para ti e por duas razões:

Primeiro: Como as fénix são raras, também é raro ter um amigo como tu;

Segundo: As fénix, quando morrem, renascem das cinzas. Também deves fazer o mesmo, se caso — e espero estar enganada — acontecer algo de mal na tua vida, deves enfrentar as dificuldades com força e determinação. Deves voltar a viver.

Faz um bom uso dela.

O melhor para ti

Mary Grant


Mary lembrara-se dele. Tinha que lhe agradecer e esperar que ela tivesse gostado dos doces, feitos pela mãe, em forma de anjo.


Desde do dia de Natal, que o pai de Remus não saíra do quarto. Remus tinha que partir no dia seguinte. Não tinha vontade de regressar à escola mas a mãe disse-lhe que tinha que ir. Que se acontecesse alguma coisa seria avisado de imediato.

Naquela noite, Remus, deitou-se cedo, sentia-se cansado. Mas por mais que tentasse não conseguia adormecer. Quando conseguiu dormir já era de madrugada.

Remus, dormiu mal. Sonhou que o pai estava a ser atacado e que morria nos seus braços. Deu um grito e acordou sobressaltado com a mão sobre o peito.

Olhou para a janela. A neve batia de mansinho contra a vidraça e acumulava-se sobre o parapeito. Levou alguns segundos até perceber que tudo não passou de um sonho. Que o pai...

Levantou-se num salto e foi ao quarto dos pais. Quando chegou perto da porta escutou algumas vozes e alguém estava a chorar. Aproximou-se mais e ficou à escuta.

— Não passa desta noite — disse alguém. — Não há mais nada que se possa fazer.

— Tens que te conformar, Márcia — disse Dumbledore. Remus reconhecera-o pela voz. — Sabes que tentamos de tudo. E o Remus precisa da tua ajuda, tens de ser forte.

— Tem que existir uma solução. Algum livro que fale sobre esta maldição — disse a mãe de Remus entre os soluços.

— Sabes que não há — disse Dumbledore. — E a morte é o melhor...

— NÃO! — gritou Remus ao entrar pelo quarto. — Pai... Pai... — disse quando agarrou-lhe a mão. — O pai não pode morrer. Não pode deixar-me sozinho. Preciso da sua ajuda.

— Remus, meu querido filho — murmurou o pai com uma voz fraca. — Tens que compreender que o fim está...

— Não. Não está — interrompeu Remus.

— Sabes que está. Não te enganes que ainda sofres mais — disse o pai. — Tens que ser forte para ajudares a tua mãe. Ela também precisa de ti.

— Desculpa, pai. Desculpa por ter sido imprudente quando era pequeno. Desculpa por fazer-te sofrer ainda mais.

— Eu nunca te culpei de nada. O que aconteceu já passou, não podemos voltar atrás — disse o pai. — Quero que prometas uma coisa, que sejas feliz. Sê feliz, Remus.

— Eu prometo... — disse Remus com lágrimas nos olhos.

Os que estavam presentes assistiam emocionados. A mãe de Remus continuava a chorar e Dumbledore estava sentido com o que acontecia à sua frente.

— Eu prometo, pai — voltou a repetir. Mas o pai já não escutou as últimas palavras. — NÃO!!!!!!!! — gritou por fim.

Em Hogwarts, Mary acordou sobressaltada com o grito de Remus. Demorou algum tempo a perceber que estava nos dormitórios do Slytherin e que era impossível ouvir um grito vindo da torre dos Gryffindor. E para mais, Remus só chegava no dia seguinte à escola.

— Foi só um sonho — disse. — Foi apenas um sonho. Está tudo bem com ele.

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