"Now I see. -said the blin man

Harry apanhou seus óculos do chão e recolocou-os. Apoiando-se nos joelhos levantou-se ligeiramente tonto e olhou em volta. Eles haviam chegado, finalmente.

- Você está bem? – perguntou ao ver Hermione também no chão. Ela o encarou de volta com um ar impaciente e não respondeu.

- Chegamos. – avisou o motorista com ar de poucos amigos, confirmando o que Harry já sabia. Rony levantou-se e observou pela janela.

- Você tem certeza que é aqui? – murmurou ele estranhando a paisagem. Hermione levantou-se em silêncio e apanhou a mochila.

- Vocês vão descer ou não? – insistiu o velho, que claramente não estava propenso a passar nem mais um minuto no local. Era óbvio que não se agradara do destino que o grupo havia tomado... Harry apanhou a sua própria mochila e ajeitou o casaco.

- Sim! – reclamou Rony. – Vamos... – murmurou em seguida para os dois com ar enfadado. Hermione caminhou logo atrás dele. Harry adiantou o passo, e segurou o braço da menina para chamar-lhe a atenção, estava prestes a questionar o motivo da impaciência quando ela cortou-o:

- Pare. – retrucou fitando o amigo. Harry piscou por um momento, largando o pulso da garota. – Pare de fazer isso. – insistiu Hermione de forma direta.

- O que? – questionou ele obviamente surpreso com a reação. Do que ela estava falando? – Eu na...

- Você está me tratando com se eu tivesse cinco anos! Pare! – reclamou a amiga visivelmente indignada.

- Eu só... – tateou Harry. Então, ele estava preocupado com ela. Desde quando aquilo era uma ofensa tão grave? – Não foi a minha intenção...

- Nunca é Harry... – cortou ela baixando os olhos e descendo do ônibus. Harry observou a amiga se afastar em silêncio que foi logo cortado assim que ela atingiu o ar livre. E só após ele próprio ter descido do ônibus, foi que pode perceber o motivo do choque da amiga:

- Meu Deus... – murmurou ela observando o local.

Harry desceu e varreu o lugar com os olhos. Estavam na estação de Hogsmead. Reconhecia o lugar apesar do estado em que se encontrava. A estação estava completamente deserta. As lâmpadas que antes iluminavam a plataforma se encontravam agora em sua maioria quebradas, umas poucas espaçadas tremeluziam fracamente, dando aos três a oportunidade de realmente absorver a mudança que havia ocorrido no local. A estação estava completamente abandonada.

Hermione olhou em volta. Não culpava o motorista por querer partir com tanta urgência. Ao contrário do que lembrava Hogsmead não parecia tão acolhedora como costumava ser.

- Olha só pra esse lugar... – murmurou Rony estupefato. – Está todo destruído... – acrescentou ainda sem acreditar muito no que via.

Era óbvio o tom de pesar na sua voz. Assim como Harry, ele também parecia sentir o choque de ver o lugar que eles haviam passado tanto tempo... Uma leve sensação de perda tomou conta de Harry enquanto ele apurava a visão para enxergar um pouco mais adiante. Vários pedaços de madeira e estilhaços de vidro estavam espalhados pelo chão cobertos de terra. As vidraças ao redor dos três estavam completamente destruídas... Hermione abaixou-se e apanhou um pedaço de madeira de aspecto desgastado e velho:

“Hogwarts, 1,5 milhas.”

- Vamos. – murmurou ela. – Nós temos que chegar até Hogwarts... – Rony e Harry seguiram a amiga tomando a estrada principal por dentro do vilarejo. Se nada de mais ocorresse os três deveriam chegar à escola dali a uns vinte minutos.

Era impossível não se abalar com o estado em que Hogsmead estava. Harry não precisava nem explicitar o quanto lhe afetou a visão da Dedos de Mel completamente demolida. Uma penumbra sombria e azulada pairava na vila. Uma lua cheia iluminava o local desenhando contornos sinistros no chão.

Harry suspeitava que as criaturas que antes viviam na floresta, e na floresta apenas, já haviam se alastrado pelas ruínas da cidade... Puxou sua jaqueta mais para perto de si. Uma atmosfera gélida tomou conta do local. O céu estava claro, sem nuvens, mas ainda sim rajadas secas de vento assolavam o lugar vez ou outra. Começava a questionar a sanidade da decisão que haviam tomado. Talvez Rony estivesse certo... Talvez aquela fosse uma investida muito arriscada, especialmente para virem sozinhos... Pegou-se de súbito desejando que aquela visita não acabasse sendo tão perigosa quanto realmente poderia ser...

- E se a escola também estiver... Bom, destruída...? – ponderou Rony. Harry raciocinou por um momento. De fato. Não tinha certeza da extensão do último ataque, afinal eles não partiram com o que se poderia chamar de calma... Mas o fato era que ele nem tinha certeza do que poderia encontrara lá, ou mesmo se encontraria algo...

- Talvez não esteja... – murmurou Hermione com forçada convicção. Não gostava de pensar no que eles fariam se não pudesse chegar até a sala de Trelawney. E só a idéia de que poderiam não encontrara nada de útil lá lhe corroia o estômago. E se eles não achassem nada? Quero dizer... O que eles fariam? O que ela faria? Tinha que haver uma outra saída certo? Ela tinha que achar outra resposta, se não... Sempre achava... Não seria agora, quando ela mais precisava, quando ele mais precisava... Não seria agora que ela iria falhar...

O grupo parou em silêncio. Rony firmou ambas as mãos nas barras do portão, forçando-o. A tranca cedeu abrindo com um ranger intimidador.

- Esperem. – pediu Harry ao ver os amigos caminharem em direção ao castelo. Rony e Hermione voltaram-se para ele. – Talvez... Talvez nós não... Eu...

- Você não vai sozinho, se é isso que está pensando. – resmungou Rony antecipandoa reação de Harry que franziu a testa em desagrado.

- Vamos. – resmungou Hermione irritadiça. Harry observou os dois partirem e seguiu à contragosto.

Não sabia muito bem explicar, mas... Algo lhe dizia que eles deveriam dar meia volta e sair dali o mais rápido possível, ou talvez fosse apenas a atmosfera sombria na qual o castelo estava embebido. Não tinha certeza. Mas não estava com uma boa sensação com relação aquilo. Especialmente por ter Rony e Hermione com ele ali...

Hermione levantou os olhos ao se aproximarem dos muros do castelo. O luar banhava as paredes oferecendo uma chance de observara o real estrago que havia sido feito na construção. A torre Norte, onde antes era a Grifnória, estava completamente destruída. Toda a ala oeste também se encontrava aos pedaços sobre o que antes era o salão principal. Vários destroços espalhavam se nos arredores do castelo.

- Como agente vai chegar lá? – questionou Rony, que pelo visto notava o mesmo problema que Harry havia acabado de notar. Daquele ponto de vista, todas as entradas estavam bloqueadas. Sem contar que pelo menos ao que parecia, o que não havia sido destruído estava prestes a desabar.

-A sala de Trelawney ficava na torre Sul. – respondeu Hermione num tom aliviado. – Nós temos que dar a volta. – acrescentou. E assim fizeram. Entretanto, Harry veio a notar mais ou menos meia hora depois, dar a volta no castelo, estava bem longe de realmente chegar até a sala da mulher...

Agradeceu a si mesmo por ter lembrado de colocar o mapa do maroto de ultima hora em sua bolsa. Pois ele viera a ser extremamente útil. Não que já não conhecesse as passagens de trás para frente. Percorreria Hogwarts inteira de olhos fechados se necessário. Mas agora, o interior do castelo estava completamente modificado, e o mapa se tornara um trunfo extremamente importante. A maior parte das entradas estavam completamente obstruídas por concreto, motivo pelo qual eles acabaram levando quase uma hora inteira para alcançar a entrada da torre Sul. Após várias voltas e voltas em corredores, os três finalmente alcançaram o ponto que procuravam:

Então...? – incentivou Rony.

- Nós subimos. – respondeu Hermione adiantando-se sobre os degraus prontamente. Harry olhou para o amigo que retribuiu o olhar de esguelha. Havia uma grande chance de que não tivesse nada lá. Mas Hermione não parecia considerar essa possibilidade, de modo algum. E Rony também pareceu ter notado esse detalhe.

Os dois seguiram a garota pelas escadas a tempo de ver Hermione tentar em vão abrir a porta.

- Está trancada. – resmungou respirando fundo. E num gesto impensado levou a mão ao cós do jeans, parando logo em seguida com ar frustrado. – Eu estou sem varinha!

- Certo. – respondeu Harry precipitando-se em direção a porta a acenando a própria varinha num gesto rápido. Uma luz amarelada seguiu-se de um fraco clique. Sem pensar duas vezes Hermione abriu a porta.

Uma baforada de ar quente e embolorada saiu de dentro da sala. Hermione afastou se dois passos e Harry tossiu fortemente. Um cheiro fétido e impregnante tomava conta do local.

- Oh! – exclamou Hermione sentindo uma súbita ânsia de regurgitar. Uma náusea terrível se apossou dela.

- O que é isso? – perguntou Rony que também se afastara levando a mão ao nariz.

-Eu não sei... – murmurou Harry sentindo o estômago revirar. O que era aquilo... Era uma ótima pergunta. Aquele mau cheiro... – Parece...

- Tem cheiro de podre! – completou Rony pigarreando. Hermione aproximou-se da porta, e tirando o casaco, cobriu o rosto com o mesmo, ficando apenas de camiseta. Imitando seus gestos, Harry entrou logo em seguida.

- Rony? – chamou ao ver o amigo parado do lado de fora.

- Certo... – murmurou ele com relutância.

Se havia dificuldade de enxergar algo nos corredores, não se comparava à escuridão que se encontrava ali. O ar estava saturado e desagradável. Havia uma mistura de mofo, com podre ali. Harry não fazia idéia de onde aquele cheiro estava vindo, pois não se assemelhava com nada que jamais tivesse sentido. Era insuportável...

- Talvez... – começou Hermione, a voz abafada pelo casaco. – Talvez seja porque ficou fechado tanto tempo, ou...

Um barulho oco se fez ouvir no local. Seguido de uma pancada surda. Então, um palavrão.

- O que foi isso? – perguntou Rony. Harry empunhou a varinha:

- Lummus. – Aqui! Fui eu. – retrucou, com audível irritação. Harry identificou a amiga no canto da sala acenando com os braços levantados. Ela se encontrava ajoelhada no chão ao lado de um montante de panos velhos e enrugados. O cheiro ali era ainda maior.

- O que você achou? – perguntou Rony adicionando a luz da própria varinha.

- Eu... – murmurou ela tateando no monte. – Pareceu sólido... Eu... – Harry observou o obstáculo... A iluminação não ajudava muito. Mas... Algo naqueles lenços lhe era sinistramente familiar... Uma sensação nada agradável começou a tomar conta dele...

- Hermione... – começou com um crescente desconforto. – Não... – Hermione não deu atenção continuando a puxar tecido por tecido, até que parou.

Uma textura diferente da que suas mãos tocavam antes... Algo, maciço... Não... Não realmente, mas era frio, rígido... E... – Hermione puxou o lenço fino estampado. E num choque súbito e espontâneo afastou-se de repente. Sua garganta se fechou e ela nem ao menos pode gritar, de tão estática que estava. Houve um silêncio. Um silêncio pesado e paralisante. Ela... Ela podia ver os olhos arregalados em sua direção. Observando-a, sob a penumbra das varinhas. Vazios e escuros. Ambos, Harry e Rony, também tão chocados quanto ela, mal moviam um só músculo.

Um corpo. – pensou Hermione. A mente perturbadoramente apagada, adormecida... Era como se não conseguisse assimilar por completo a imagem e por isso continuasse a encarar os restos decompostos na sua frente. Aquele corpo, meio destruído, e quase irreconhecível. E ainda sim, queria desesperadamente levantar e sair dali, para o mais longe possível, o mais rápido que pudesse.

Harry observou o cadáver em completo estado de choque e inércia. A maior parte da carne estava podre. Daí o cheiro... Uma cor esverdeada tomava conta dos restos, e grande parte dos ossos estavam à mostra. Não fosse pelas vestes, os lenços mofados e coloridos. Harry nem ao menos a reconheceria...

Hermione afastou-se levantando de súbito. O movimento repentino atraiu sua atenção, que se voltou para a amiga. Ela cambaleou pela sala escura em direção a porta e saiu tropeçando escadas abaixo. Voltando-se para amigo chamou-o antes de descer atrás dela:

- Rony... – ele não respondeu. – Rony! – ele nem ao menos moveu se. – Ronald!

- Sim... – murmurou ele apesar de ainda ter os olhos no cadáver.

- Vamos, venha. – chamou ele seguindo a amiga escada abaixo.

Hermione percorreu o corredor cambaleante. Não fazia idéia de para onde estava indo... Não sabia se fora o choque de vê-la ali, morta... Mas o fato foi que finalmente percebera. Tudo fazia sentido agora... Tudo... Era nojento, repugnante e absolutamente vil... Mas... Era verdade, a verdade. Fazia sentido agora... Numa lógica aterradora.

- Como ele pôde...? – murmurou ela.

- Hermione! – chamou Harry alcançando-a no corredor. – Espere! Espere... – pediu ele fazendo a amiga virar para encará-lo.

- Faz sentido... – murmurou a garota desconecta.

- O que? Hermione... – começou. Imaginava que ela estava chocada pelo que havia presenciado, ele próprio ainda se forçava a não vomitar. Harry segurou a pelo outro braço quando ela fez menção de soltar-se.

- Não, não, não... Você... Você não vê...? – murmurou Hermione com os olhos vidrados nos dele. Ela não fazia sentido algum.

- Vê o que? Hermione se acalme... – pediu Harry olhando para trás em busca de Rony. Mas não havia sinal algum dele.

- Ele a matou... Meu Deus... Ele a matou! Ele... – balbuciou ela.

- Quem...? Hermione... Pare. Pare! – exclamou Harry sacudindo a garota. Ela o encarou com um olhar aterrorizado. – Voldemort a matou... Nós sabemos disso lembra? – explicou ele calmo e com imenso arrependimento pelo sacolejo. Mas ela estava completamente descontrolada, e ele precisava colocar um pouco de bom senso na cabeça da amiga. Mas ela negou balançando a cabeça veementemente:

- Não... 0- murmurou ela arregalando os olhos. – Não foi ele... Harry, não foi...

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