Decadência



13. Decadência




Bellatrix acordou, mas relutou um pouco para abrir os olhos. A sua cama estava quente e confortável demais para a garota querer sair dali.

Os raios de sol começavam, aos poucos, a atravessar o acortinado em volta da cama da garota e a atrapalhar seu sono.

Ela bufou, irritada e sentou-se na cama, olhando ao redor sonolenta. Mirou a janela perto de sua cama e as colegas que ainda dormiam e constatou que havia acordado cedo demais. Mas já que havia acordado ela decidiu tomar um banho e se arrumar para o passeio em Hogsmeade.

Levantou e foi até o seu malão de roupas. Procurou sua saia por alguns instantes e suas mãos se esbarraram em um pedaço de papel bem dobrado no meio das roupas. O olhou por alguns segundos e o pegou. Abriu o papel delicadamente e o releu pelo que pareceu ser a milésima vez.

”Bella,
Há muito tempo que não nos falamos. Espero que o seu último ano em Hogwarts não esteja sendo muito difícil.
Espero ser possível que você me encontre próximo à Casa dos Gritos, às duas da tarde, no dia do seu passeio pelo povoado.
Atenciosamente,
Lord Voldemort.”



Seis pés de profundidade é a incisão



Bellatrix voltou a se sentar na cama e pôs-se a pensar, mais uma vez, sobre aquela carta.

A ultima vez que vira Voldemort fora há bastante tempo, e o encontro tivera uma breve tensão de desejos. Sabia o que o Lorde queria, pois antigamente ela também desejava aquilo. Mas agora... a garota havia mudado. Mudado demais. E de uma coisa tinha certeza: não queria mais aquilo.

Ela se levantou e achou melhor não pensar nisso agora. Primeiro ela tinha que achar uma desculpa para sumir às duas horas. Enquanto estava debaixo do chuveiro Bellatrix bolou um pequeno plano que tinha tudo para dar certo.

Quando saiu do banheiro, já arrumada, Belinda estava acordando. A Sonserina a olhou cheia de sono e sentou-se na beirada da cama.

- Você acordou cedo, Bella. – resmungou Belinda.
- Você é que acordou tarde. – retrucou Bellatrix.

Bella pegou uma escova e começou a pentear os cabelos, na frente do espelho. A amiga ficou a observando com um olhar levemente pensativo.

- Bella, você não acha que o Lucio tem agido de forma estranha...?
- Ele sempre agiu de forma estanha. – Bellatrix fez pouco caso.
- Você me entendeu. Faz um tempo que ele anda distante. Será que tem a ver com a loira aguada?

Bellatrix observou Belinda pelo espelho e revirou os olhos.

- A loira aguada é minha irmã. E talvez a indiferença dele tenha alguma coisa a ver com o noivado dos dois.
- NOIVADO?! – gritou Belinda ao mesmo tempo em que pulava da cama e acordava o restante das colegas.

Todas as garotas as olharam de forma interrogativa, no que Bellatrix as olhou com descaso e voltou a pentear os cabelos. Belinda se aproximou de Bellatrix e postou-se ao lado do espelho, ficando de frente para a amiga.

- Bella, ele...você quer dizer que...- começou Belinda transtornada. – Ele vai se casar com a Narcisa?
- Sim, quando os dois terminarem Hogwarts.
- Mas...ele disse que ia terminar com ela! Ele disse que ia assumir o nosso namoro para todo mundo!

Bellatrix, que até o momento ainda não havia parado de pentear os cabelos, olhou para a amiga e a encarou com piedade. Ela se aproximou da garota e a levou até a sua cama, chegando lá a fez se sentar e sentou-se ao seu lado.

- Linda, os Malfoy são como os Black, que são como os Parkinson, que são como os Nott. – disse Bella como se aquilo fosse a coisa mais obvia do mundo. – E você sabe muito bem que nós não temos escolhas. Apenas um destino. Destino esse que foi traçado pela nossa família desde que nascemos. Não podemos nos deixar levar por sentimentos bobos que nos tirem desse caminho.
- Mas, Bella! Você...- ela diminuiu o tom de voz. – Você ama o Sirius, e está noiva do Rodolfo. E não deixa de viver essa paixão por causa disso.
- Mas um dia vai chegar a hora em que eu vou ter que escolher, Linda. – respondeu Bellatrix pesarosa.
- E o que você vai escolher, Bella?

Bellatrix abaixou a cabeça e ficou pensativa por alguns instantes. Não havia um real motivo para pensar. Aquilo estava gravado no coração dela de uma forma que ela jamais esqueceria. Ergueu a cabeça e encarou Belinda.

- A felicidade, a segurança, o melhor...para ele.

Bellatrix respirou fundo e, antes de continuar falando, sentiu um estranho aperto no coração.

- Não importa nada ao redor. Se o bem dele significar passar resto da vida sem nunca mais poder tocá-lo... eu terei que me conformar.




A garota andava tranquilamente pelo corredor, ao lado da amiga. Viraram um corredor e ela viu um garoto, parado displicentemente parado ao lado de uma porta.

Sirius abriu um grande sorriso maroto para a garota e ela o retribuiu. As duas Sonserinas se aproximaram do Grifinório e ele sorriu ainda mais.

- Bom Dia, garotas! – falou galanteador.
- Eu vou tomar café da manhã. – anunciou Belinda entediada.
- Ok, nós nos falamos daqui a pouco. – falou Bellatrix sorrindo antes de se virar para Sirius. – Bom Dia!
- Bom Dia. – murmurou Sirius a beijando.
- Sirius, a gente ta no meio de um corredor...
- Não seja por isso!

Falando isso ele abriu a porta atrás dele e a fez entrar ali. Depois de trancar a porta ele se virou para Bellatrix, a enlaçou pela cintura e a beijou.

- Sirius ... – chamou Bellatrix interrompendo o beijo.
- Sim, Bella. – falou ele carinhoso, tentando, em vão, beijar o pescoço da garota.
- Você não se importa se hoje à tarde eu sair com a Belinda para comprar alguma coisa, se importa? – perguntou ela com um sorriso grande e levemente falso no rosto.
- Nós não íamos passar o dia inteiro juntos?
- É que...a Linda anda triste, Sirius. Porque, você sabe, a Narcisa e o Lucio marcaram a data do noivado. – disse Bella manhosa.

Pronto, havia tocado no ponto fraco de Sirius. O bem estar de todos ao seu redor. Sorriu interiormente ao mesmo tempo em que se odiava por aquele ato tão Black da sua parte.


Em meu coração, a prisão sem grades



- Ok, ok! – falou o garoto se dando por vencido. – Mas você que não pense que eu vou deixar você ir embora tão facilmente!




- Mas eu não preciso comprar roupas. – comentou Belinda.
- E em momento algum eu disse que precisava. – falou Bellatrix servindo-se de suco. – Você só precisa fingir que precisa de roupas novas.

Belinda a olhou desconfiada e olhou para os lados, para se certificar de que ninguém as ouvia.

- Mas você não vai passar o dia inteiro com o Sirius, como sempre?
- Eu tenho outras coisas para fazer. E não interessa o que é. – acrescentou ao ver que a garota já estava abrindo a boca para perguntar alguma coisa.

As duas garotas terminaram o café e já estavam se retirando da mesa quando um casal passou por elas.

- Bom Dia, Bella. Bom dia Linda. – falou Lucio sorrindo.

Bellatrix mal havia aberto a boca para responder ao loiro quando a sua irmã a interrompeu.

- Vamos, Lucio! – disse Narcisa sorrindo ironicamente para Belinda.

Belinda se levantou e puxou Bellatrix consigo, as levando para fora do local.

- Como ele pode ser tão cínico?!
- Ele sempre foi cínico, Linda.
- Aquela loira aguada me paga!

Bellatrix parou e puxou Belinda pelo braço. A garota a olhou sem entender, mas Bellatrix não deu bola e começou a falar.

- Belinda, acorda! Pare logo de falar assim da Narcisa. Porque ela pode ser uma loira aguada e pode não ter nada na cabeça, mas se eu não me engano é ela que namora Lucio há séculos e é ela que é a futura senhora Malfoy. Está na hora de você perceber que ela pode ser fútil, mas foi a ela que a família Malfoy escolheu. – falou Bellatrix cruelmente.

Belinda a olhou com raiva e tirou seu braço das mãos de Bellatrix.

- Pelo menos eu não estou tendo um caso com um primo traidor do sangue!

Lhe lançou um olhar mortífero e caminhou para longe da garota. Quando já estava bem distante gritou.

- Ótimo! Só não venha me pedir ajuda para levar esse seu romancezinho sem sal adiante!




- Você não acha que está bonita demais para um simples passeio? – perguntou Sirius brincando com o cabelo dela.

Bellatrix sorriu e se aconchegou mais no corpo do rapaz. Os dois estavam em um lugar afastado do centro de Hogsmeade, no jardim de alguma casa desocupada qualquer. Estavam abraçados, escorados em uma grande árvore na propriedade.

- Está com ciúmes de quem? Do costureiro da loja que não deve ser. – comentou divertida, tentando mudar de assunto. – Aliás, com quem você vai passar o dia? Soube que a Evans aceitou o convite do Potter.
- Pensei eu ficar com Remus e Peter. E a Marlene, muito provavelmente, já que ela não terá a companhia da Lily.

A garota o encarou irritada.

- Vai passar o dia com a sangue-ruim?
- Não fale assim dela. É minha amiga. – cortou, aborrecido.
- Eu falo como eu quiser daquela...

Sirius tocou-lhe o rosto rapidamente, a obrigando a olhá-lo.

- Pára. Não me faça lembrar de quem você realmente é. Continue sendo a Bella, apenas Bella.


Descolore tudo com visão parcial



Tentou ignorar o pensamento de que, naquela mesma tarde, em poucos minutos, ela seria quem ela realmente era. Achou melhor ignorar o assunto, pelo menos por aquele dia.

- Desculpe-me. – pediu a contragosto.
- Você não parece bem. Não é a mesma Bellatrix de uma semana atrás.
- Estou ótima, Sirius. – revidou no mesmo instante.

O beijou, o fazendo esquecer momentaneamente daquele assunto incomodo. Continuaram beijando-se, até que Bellatrix viu o horário no relógio do garoto.

- É melhor eu ir. Estamos em um lugar muito afastado. – sussurrou Bella entre os beijos.
- Fazer o que...- murmurou Sirius levantando-se.

Andaram um pouco, de mãos dadas, até que chegaram a uma parte um pouco mais movimentada e Bellatrix soltou-se dele.

- Daqui eu vou sozinha. – anunciou ela. – Aqui alguém pode nos ver.
- Tudo bem. Depois nos vemos.

Bellatrix virou-se, para ir embora e Sirius a puxou.

- Vai ir sem nem se despedir? – perguntou marotamente com a boca próxima a sua.

Bellatrix revirou os olhos e o beijou, para logo depois o empurrar para longe de si.

- Vai!

Sirius ficou olhando a garota se afastar e esperou ela desaparecer de vista. Suspirou. Ir em uma costureira com a amiga não era o tipo de programa que Bellatrix gostaria de fazer em um sábado a tarde.

Andou um pouco em direção ao centro da cidade e viu a loja que a garota deveria estar. Olhou discretamente pela vitrine e viu uma garota de longos cabelos negros virada de costas para ele.

Sorriu ao perceber que Bella não havia mentido e se dirigiu até o Três Vassouras, para se encontrar com os Marotos.

O garoto já havia aberto a porta do bar quando olhou para o lado. Belinda Nott e Lucio Malfoy estavam indo para um beco, perto do bar. Sirius balançou a cabeça e virou-se. Não ficaria ali, tomando cerveja com os amigos, enquanto Bellatrix fazia alguma coisa pelas suas costas.




Olhou para aquele homem ao seu lado e se pôs a pensar. Ainda o admirava acima de tudo? Não sabia. Tinha certeza de que no futuro ele seria grande, muito maior do que qualquer outro.

- Bella, você ainda está aqui? – perguntou Voldemort em um tom zombeteiro.
- Claro, Milorde. Só estava pensando. Por que um homem ocupado como o senhor me chamaria para um passeio que a principio não tem nenhum propósito?
- A principio pode parecer sem propósito, Bella. Mas logo você vai perceber que ele pode ser muito proveitoso.

Bellatrix se arrepiou com o sorriso que ele lhe lançou após falar. Sorriu instintivamente de volta para ele, com o seu mais cínico e sedutor olhar, martirizando-se segundos depois. Merlin, onde estava a sua responsabilidade quando precisava dela?

- E quais são os seus propósitos? – perguntou num murmúrio, se aproximando do Lord.
- Um teste! – um grande e maldoso sorriso abriu-se em seu rosto.

Olhou-o abismadamente. O homem na sua frente estava animado, muito animado. E ela realmente não entendia o que deixaria Lord Voldemort tão animado. As coisas que comumente lhe extasiavam incluíam torturas e mortes.

- Um teste? Achei que já tivesse passado em todos os testes, antes de receber a Marca. – falavou em um tom de voz levemente ofendido.
- E passou. Mas nunca é tarde para encontrarmos erros.

A garota o encarou de forma indignada.

- Não tenho erros. – disse entre os dentes.
- Então me prove. – recomeçou a andar e disse, como quem não quer nada. – Uma pequena tortura à uma sangue-ruim não faz mal à ninguém. – riu. – Se ignorarmos o sofrimento dela, obviamente.

Há uma pequena distancia dos dois, escondido em um arbusto, encontrava-se um garoto. Ele mantinha os olhos presos na garota, que agora seguia seu mestre.

Sirius ainda não acreditava no que via. Bellatrix, a sua Bellatrix, ali, com Lord Voldemort. Em um passeio de fim de semana! Um passeio de fim de semana onde o lanche da tarde seria algum nascido trouxa.

Eles se encaminharam para uma pequena floresta que havia ali e o moreno não viu alternativa, os seguiu.




Sentia os olhos de Voldemort cravados em si, enquanto ambos andavam lado a lado pela vegetação.

Torturar alguém não fazia parte de seus planos de sábado, apesar de não poder dizer isso ao Lorde. Não que se importasse em torturar trouxas e sangues-ruins, mas não via real necessidade naquilo. Que eles vivessem as suas vidas e ficassem longe dela, apenas isso. Não queria matá-los, no máximo se divertir em algum dia chato. Mas se dissesse isso à Voldemort, a morta em questão seria ela.

Percebeu que o mato começava a ficar mais escasso e que estavam quase entrando em uma clareira, e perguntou:

- Quem será a vítima?
- Um aluno. – respondeu, sempre evasivo.
- O mataremos? – prendeu a respiração por alguns segundos, não sabendo ao certo o que gostaria de ouvir.

Ele riu.

- Oh, não. Deixaremos isso para o futuro. Por enquanto será apenas uma diversão. Apagaremos a memória dela logo após brincarmos. – parou e informou. – Chegamos.

Bella também parou e olhou com espasmo para o centro da clareira.

Presa em uma árvore encontrava-se Marlene McKinnon, com os olhos vendados e as roupas sujas. Voldemort passou por ela e aproximou-se da vitima.

- O que achou da minha escolha, Bella?!

Ela olhava de McKinnon para ele de forma atônita. Por alguns momentos ponderou a hipótese de Voldemort saber de tudo, desde seu romance com Sirius até seu ódio por Marlene. Céus, estava perdida.

- Ótima escolha, Milorde. - sempre cínica.

Aproximou-se mais um pouco da grifinória e tirou-lhe a venda. A garota abriu os olhos e demorou alguns segundos para acostumar-se com a luz, e logo depois olhou desesperadamente para o homem em sua frente. Seus olhos passaram dele para Bellatrix, um pouco de entendimento passando pelo seu olhar.

- Hora da diversão, Black. – ordenou; era sempre assim: Bella quando estavam a sós, Black quando lhe dava alguma missão.
- Cruciatus? – perguntou, decidida a não encarar sua Marlene.
- Oh, sim. Acho que você anda um pouco enferrujada.

Sacou a varinha, enquanto ele afastava-se e dava espaço para ela agir. Bellatrix ergueu a varinha e apontou para a garota de cabelo castanho claro.

Por alguns milésimos de segundo cogitou a probabilidade que teria de sair viva dali sem precisar fazer aquilo. Mas o pensamento logo se foi embora quando uma pequena e distante imagem surgiu em sua mente, fazendo seu sangue ferver e a sua raiva surgir. Sirius e Marlene, sentados em meio aos amigos, conversando, rindo era uma coisa que realmente perturbava Bellatrix. Saber que com Marlene, Sirius poderia fazer todas as coisas que nunca fazia com ela. Andar de mãos dadas ou anunciar o namoro em público não eram coisas que eram incluídas em um relacionamento entre dois Black.

Segurou a varinha com mais força e mirou no coração dela.

- Crucius!

Marlene gritou em razão da dor que lhe atingiu. Mas não demorou para logo voltar ao normal, apesar de ter a respiração ofegante. Bellatrix olhou temerosa para o Lorde, que olhava seriamente para a vitima.

- Já lhe disse que raiva justificada não causa muita dor. – a encarou e a sua voz ficou ainda mais fria. - Você tem que sentir prazer no que faz. Tente novamente.

Ouviu aquelas palavras, olhando fixamente nos olhos desesperados da rival. Imaginou-a gritando, contorcendo-se, implorando para que Bella parasse. Alguma coisa dentro de si gritou para que o fizesse logo, e voltou a erguer a varinha.

- CRUCIUS!

E então Marlene gritou, e gritou, cada vez mais alto e mais perdidamente. Bellatrix sorria insanamente e Voldemort a olhava com um olhar de aprovação. Só parou de gritar quando a Sonserina abaixou a varinha, a deixando semi inconsciente.

- Ótimo. – foi a única coisa que disse antes de aproximar-se dela.

Tocou-lhe a face, os dedos frios lhe congelando por dentro. Seu toque não era parecido com o de Rodolfo, e muito menos com o de Sirius. Seu toque lhe lembrava que ele era um superior, seu Lorde, que ela estava ali para obedecê-lo e nada além disso. Não podia evitá-lo, afinal.

Curvou-se e seus lábios tocaram-se. Não foi carinhoso nem impulsivo, foi frio e luxento. Voldemort prendeu-a pela cintura, a obrigando a juntar ainda mais seus corpos. Sentia-se temerosa e insegura, era como se Voldemort a despisse apenas com aquele beijo, como se ali ele mostrasse que, se ele quisesse, ela serviria apenas a ele.

Foi impressionante que com apenas aquele beijou ela pôde ver. Viu seu presente e seu futuro, viu a amplitude de ter aceitado aquela tortura. Não haveria mais romance secreto entre primos, não haveria mais encontros às escondidas. Não haveria mais Sirius e Bella. Acabara.

Não podia mais ficar na vida dele, não depois de perceber que só traria desgraças e tristezas para a vida do rapaz. Ficou dividida entre uma vontade imensa de chorar e uma necessidade insana de gargalhar ao ver seus sonhos e suas ilusões despedaçando.

Voldemort se afastou e Bellatrix abriu os olhos. Olhou desnorteada para ele; não sabia o que fazer.

Ele aproximou-se de Marlene e dirigiu a palavra à Bellatrix, sem olhá-la:

- Está ficando tarde, e eu tenho outros compromissos. Vá para Hogwarts, eu cuido da memória da sangue-ruim.


Por do sol



Ela concentiu e virou-se, fazendo o mesmo caminho que haviam traçado há algum tempo atrás. Ao voltar à Hogsmead ela viu alguns poucos alunos caminhando pelas lojas, apesar de a maioria já ter ido embora.

Quando chegou em Hogwarts seus olhos ardiam, apesar de ela saber que não choraria. Andou pelos corredores, e preferiu por não jantar. Enquanto caminhava de forma inconsciente pelo corredor, ela não podia deixar de imaginar como seria a sua vida dali por diante, sem a pessoa que havia dado vida aos sentimentos que nem sabia poder sentir.

Estava tão distraída que nem ao menos percebeu um garoto de vestes vermelhas e cabelos negros parado no corredor, só o notando quando seus corpos estavam quase colidindo.

- Sirius. – não sabia se ria ou se chorava de tamanha coincidência.
- Como você pode ser tão falsa? – sua voz saiu em um tom desesperado.

Ela tentou falar alguma coisa, mas nada além de palavras desconexas saíram por seus lábios.

- Vem comigo. – disse a puxando rudemente pelo braço.

A puxou sem delicadeza pelos corredores frios, sem nem um pingo do grande amor que costumava guardar para ela. Ela não reclamou, mesmo que não sentisse mais o braço tamanha a força que ele o apertava. Não reclamou nem ao menos uma vez. Não se importava mais, não se importava com mais nada. E na verdade achou que um ou dois estudantes os viram, mas naquele momento nada conseguia tirar-lhe do estado de transe que entrara.

Sirius parou em frente a uma porta e a abriu, jogando-a lá dentro. Virou-se para encará-la e viu, com um pouco de surpresa, um par de olhos azuis lhe olhando de forma desesperada e aflita. Por alguns momentos desejou por olhos maquiavélicos e frios, seria bem mais fácil.

- Sirius, o que quer que tenham lhe dito, eu posso explicar...- começou rapidamente, tentando se aproximar dele.
- Não me disseram nada. – sua voz saiu trêmula. – Eu vi.


Ninfetamina



Uma lágrima, foi tudo o que conseguiu fazer, não teve forças para mais nada. Apenas uma única e solitária lágrima, molhando-lhe a face. Mas mesmo assim ainda teve a mínima força de manter o olhar indescritível que ele lhe lançava e em nenhum minuto desviou. Um misto de amor e ódio, desejo e repulsa, pena e raiva.

Outra lágrima, desta vez dele. Foi a primeira reação de raiva e dor que teve pelo o que havia presenciado, e mesmo assim ainda não acreditava no que viu. Uma lágrima derramada por ela, por Bellatrix, sua estrela. Havia a perdido. Havia perdido o seu amor, mas não o esquecido. Seu sangue ainda fervia ao lembrar-se dos gritos de Marlene, mas seu coração ainda batia descompassado em ver Bella ali em sua frente, tão desprotegida. Nenhuma barreira a separando do resto do mundo, nenhuma máscara bem esculpida disfarçando sua face.

Sua Bella, completamente desprotegida. Aquela seria uma imagem que lhe atormentaria por muitas noites. Mas lhe atormentaria ainda mais saber que nunca mais sentiria a textura de seus lábios, nunca mais entrelaçariam as mãos enquanto seus corpos supriam as suas necessidades e desejos.

Ele a olhou uma última vez e se virou para ir embora, não suportaria permanecer muito tempo ali. Sua mão já estava na maçaneta da porta, quando sentiu a mão da garota tocando seu ombro com leveza. Virou-se e a encarou.

Então era assim que ia terminar, o último adeus.

Ela se aproximou um pouco mais e selou seus lábios. Doce, terrível e explosivo. O último. Assim como as lágrimas por ela derramadas, aquele beijo não se repetiria. Terminaria ali, e não haveriam mais discussões infantis por motivos banais, não ficariam mais noites em claro apenas para admirar as estrelas. Não haveria mais Sirius e Bellatrix; ela não seria mais a Bella dele. O fim chegou, com um baque, frio e duramente.

Afastou-se dele e assim terminou com aquela tortura em que o beijo deles havia se tornado.

- Uma vez me disse que eu era uma droga, e você o viciado... - começou, mesmo sem saber muito bem aonde queria chegar.
- E, como toda droga, você destruiu a vida e a alma do viciado. - completou, em tom definitivo e falsamente frio.

Encararam-se, não havia nada mais a fazer, nada mais para falar. Ele voltou a lhe dar as costas e foi embora. Não olhou para trás, não falou nada, e até a sua respiração parecia ter parado. Apenas se foi.

Um fim que ambos já previam, que desde o princípio já sabiam que um dia chegaria. Mas nunca tão rápido, nunca tão doloroso.

Bella esperou até que não ouvisse mais os passos dele pelo corredor e dirigiu-se até a porta, a fechando. Escorou-se na mesma e deixou seu corpo cair no chão gelado.

Sem mais lágrimas, sem mais gritos, sem mais lamentações. Apenas Bellatrix Black e a sua dor.


FIM






(N/A):

Meus Deeeeeeeeeus :| Parece que foi ontem que eu postei essa fic!

Mas eu não vou falar muito nessa N/A, vou deixar tudo pro próximo capítulo - o epílogo. Só gostaria de dizer que, por incrível que pareça, eu realmente gostei desse capítulo. E queria agradecer à Biah, que fez essa capa lindona, dessa fic que ela tanto gosta ;D

Aguardem o epílogo, e comentem!

Beijos,
Lisi Black

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