"Let it Be"




Agora... Harry ainda não havia comentado nada sobre o que havia ocorrido entre ele e Hermione para o amigo. E dito isso, a situação já era complicada por si só. Considerando fato que os dois costumavam passar grande parte das horas livres juntos, era particularmente difícil arranjar um tempo livre para tentar – a custo, muito custo – conversar com a garota.

Não que Harry não suspeitasse que Rony desconfiasse de algo – com uma ajuda de Giny – afinal, de algum modo, mesmo com um círculo de amigos em comum, Hermione manejara a sua rotina de modo tal, que os dois se encontravam apenas em algumas, raras refeições. E isso não passou despercebido. Mais de uma vez Harry se perguntava se a garota não estava vagando por aí, morrendo de fome simplesmente para que não esbarrasse com ele durante o café da manhã ou a janta... E essa premissa não era necessariamente agradável... Mas justificava a sua imensa surpresa ao encontrá-la na mesa tomando café da manhã naquele dia. E mais ainda, ao fato de que ao vê-lo se aproximar, ela não se ergueu, apenas fitou-o enquanto este se sentava a sua frente:

- Bom dia. – ela não respondeu, voltando-se para o seu prato simplesmente. Disposto a não deixar aquela rara oportunidade escapar ele adicionou. – Nós precisamos conversar.

- Não, não precisamos Potter. – retrucou Hermione voltando sua atenção para as torradas e puxando algumas para si.

- “Potter”? – repetiu Harry sem refrear um sorriso. – O que houve com “Harry”? Eu preferia quando você me chamava de Harry... – disse servindo-se de suco, a garota ergueu os olhos.

Hermione praguejou mentalmente ao sentir o rosto corar. Sabia que o garoto havia percebido, pois seu olhar passou de divertido para algo mais, que apesar dela própria não conseguir definir, era consideravelmente mais suave. E ao contrário do que – pelo menos logicamente – imaginava, um embaraço ainda maior tomou conta dela ao perceber fugaz mudança. Mesmo assim, tentando veementemente ignorar a guinada que sentiu no estômago replicou procurando parecer o mais fria possível.

- Que seja. Esqueça o que aconteceu. – e após uma pausa enfatizou. – “Harry.” – ele sorriu novamente.

- Então... Sábado... – reiniciou Harry ignorando a resposta. – Vamos sair... Agente podia ir dar uma volta em Hogsmead. – passando manteiga em uma das torradas Hermione meramente apontou, sem nem ao menos absorver totalmente o convite:

- Sábado não tem visita ao povoado. – Harry notou alguns rostos se voltarem para os dois na mesa. Mas de algum modo isso não o incomodou exatamente, visto que ele havia captado a atenção da menina, e – por algum milagre – a mantinha agora por mais de cinco minutos...

- Eu posso te levar mesmo assim. Agente podia se divertir sabe...? Foi divertido, da última vez... – argumentou Harry pegando uma das torradas do prato de Hermione. A tática obviamente fez efeito, visto que ela ergueu o rosto:

- Eu não vou sair em um encontro com você! – exclamou Hermione. Vários alunos observavam os dois agora. Normalmente, Hermione sentir-se-ia extremamente incomodada com a atenção, mas a sua mente estava completamente desviada no momento.

- Por que não?

- Porque...! Não! – Harry ergueu as sobrancelhas:

- Isso nem é uma resposta!

- E – eu... O qu...! Isso é ridículo...! – resmungou Hermione exasperada. – Você nunca desiste não é?

- Só quando vale muito à pena...

- Oh! Pare de flertar! – cortou Hermione irritadiça. – Não vai funcionar comigo, eu sou muito inteligente pra isso! E pare de comer as minhas torradas! – acrescentou Hermione. Harry de fato havia estendido o braço e pego mais uma torrada, e apesar dele ter sido mais rápido, não pode evitar uma leve tapa que Hermione lhe deu na mão.

Um barulho de risada abafada e um súbito engasgar se fez ouvir na mesa. Estava mais do que claro que apesar dos esforços para manter os olhos na comida a atenção estava totalmente voltada para a conversa dos dois.

Um momento de silêncio se seguiu durante o qual Hermione observou Harry comer calmamente a torrada que havia acabado de roubar – descaradamente, diga-se de passagem. Erguendo o seu suco firmemente fitou-o em um silêncio que não durou muito.

- Sabe? Eu estive pensando sobre você...

- Você tem pensado em mim?

- Não desse jeito!

- Oh...!

- De qualquer forma... Eu estive pensando sobre você... Sobre isso, agente, eu quero dizer. – reiniciou Hermione tentando ignorar a intensidade com a qual ele a encarava. Por que ele estava fazendo aquilo? – E... Bom... – sentindo a mente fraquejar por alguns segundos Hermione piscou os olhos retornando a realidade. Harry sorriu. – E então eu me perguntei: por quê? – foi a vez de Harry piscar momentaneamente confuso. Ela continuou. – Porque você estaria fazendo isso? Quero dizer... Não é como se você não pudesse ficar com qualquer outra garota, certo? Garotas mais bonitas, e engraçadas. Talvez não mais inteligentes, mas ei! você não liga pra isso não é?

- Me impressiona o quão facilmente você atira ofensas e mim... – Hermione absteve-se de comentar, prosseguindo:

- Então porque você estaria perdendo o seu tempo comigo?

Harry parou por um momento. E mesmo involuntariamente, não pode deixar de ponderar sobre o que ela havia posto em questão. E enveredar por esse caminho era algo que ele sabia, podia acabar se tornando muito, muito perigoso... Não que ele não fosse capaz de listar uma séria de motivos, muito facilmente... Várias razões... Dentre as quais sem dúvida incluía-se o beijo que os dois compartilharam. E talvez o modo com o qual ela correu os dedos pelo seus cabelos, apertando-os momentÂneamente, aquilo foi... E seus cachos, caindo pelo rosto quando ela se movia, como várias vezes, como agora...

Em verdade, facilmente até demais...

Ok, ele tinha que parar.

Imediatamente!

- Foi aí que eu percebi. É a conquista não é?

- O que? – tateou Harry vagamente ciente de que ela reiniciara o monólogo.

- A conquista. É disso que você gosta certo?

- Eu...

- O seu interesse não é em mim, ou qualquer outra garota pra falar a verdade... – e aqui, Hermione não conseguiu evitar sentir uma pontada de algo que não conseguiu precisar... Ou talvez simplesmente não quisesse... Mágoa, ou talvez desapontamento...? Antes de acrescentar mascarando o devaneio. – Você não liga pra isso. E a única razão pela qual você ainda está aqui, é porque eu continuo dizendo não. E quanto mais eu digo não, mais você quer que eu responda sim!

- Aparentemente nós temos um impasse... – comentou Harry.

- Aparentemente! – um momento de silêncio se estabeleceu.

- Bom, é divertido não? – tentou. Claro, nada daquilo que ela dissera era realmente verdade... Pelo menos não assim, não totalmente verdade... Quero dizer daquele jeito ele mais parecia... – A conquista... É como, a cereja! – concluiu Harry sorrindo abertamente, e com uma rápida verificada notou que não foi o único a sorrir na mesa.

- É disso que eu estou falando! Eu não quero ser uma “cereja”... Ou qualquer coisa! – retrucou Hermione subitamente consciente do quão estranha aquela conversa estava ficando...

- Tudo bem então. Eu posso ser...

- Não! Eu não quero uma cereja, eu não preciso de cerejas! Eu nem gosto de cerejas! E... Eu n... Oh! – Hermione respirou pesadamente com exasperação. Eles estavam perdendo o rumo da conversa... Novamente. Como ele fazia aquilo? Simplesmente fazer com que ela perdesse completamente o raciocínio... E não só ele tinha a audácia de fazer isto – que pouquíssimas pessoas conseguiam – como continuava a fitá-la daquela forma!

Fazendo sua mente ficar confusa e suas pernas amolecerem...

– Chega de falar sobre isso! E pare de usar comida como metáforas! É estranho... – cortou Hermione, sentindo que iria acabar com uma indigestão...

- Que seja!

- Finalmente!

- Tanto faz... – murmurou Harry, sentindo que seu orgulho, por mais que recusasse a admitir, estava levemente danificado. E normalmente, sua irritação não se esvairia facilmente, mas de alguma forma, ao observar a garota retornar ao seu café da manhã... Um forte corado no rosto, do qual - muito provavelmente - ela não tinha conhecimento... E Harry percebeu... Realmente...

Ele não estava irritado. De modo algum... Na verdade, ele podia se sentir sorrindo novamente...

- Vamos sair no Sábado! Vamos! – Hermione ergueu os olhos. Não sabendo exatamente se ele realmente queria um encontro com ela com tanta intensidade ou se ele simplesmente estava tirando uma com a sua cara, ela exclamou:

- Não!

- Mas...! – pausando, Harry respirou fundo antes de continuar. – Sabe, ontem no treino... Eu quase morri. – despejou ele com o máximo de dignidade que pode encontrar. Hermione piscou fitando-o em silêncio.

- Sério? – retrucou Hermione, um ar de impassividade no rosto.

- Sério! Eu estava no treino, e um balaço passou perto assim da minha cabeça. – erguendo uma das mãos ele fez um gesto de proximidade com os dedos, obviamente tentando diverti-la. Hermione sentiu um desconforto caracteristico no estômago. Harry observou a garota antes de acrescentar com um sorriso maroto nos lábios. – Agora... Como você se sentiria se eu morresse e você nunca tivesse a chance de sair comigo de novo?

Hermione não ia sorrir. Planejava não sorrir, porque... Se sorrisse, significaria que ele a havia deixado entrar... A distância que ela havia colocado entre os dois, aquela linha, que ela havia estabelecido, por saber que no final ele iria acabar magoando-a, seria invadida...

Mas algo no modo como ele a olhava... Aliado ao fato de que toda aquela conversa, sem pé nem cabeça mostrava-se até que... Divertida...? - Hermione ponderou sobre o porquê de estar sentindo seus lábios tremerem violentamente ao responder. E principalmente, porque ela estava se deixando levar daquela forma...

- Meu mundo desabaria! – retrucou sentindo o rosto esquentar com a vontade de rir que agora se apossava dela.

- Você mesma disse...! – concluiu Harry, sentindo um salto no estômago ao ver a garota abrir um sorriso involuntário. Ela era ainda mais bonita quando sorria...

Hermione pareceu notar seu descuido, visto que erguendo uma das mãos e colocando sobre os lábios procurou desfarçar o fato de que o garoto a havia cativado. Mas ele meramente sorriu.

Realmente... Ela estava em grandes problemas.

Harry observou a mudança na expressão da garota. Hermione congelou por um momento após seu sorriso esmorecer, e então em um movimento ágil ergueu-se da mesa. Ele acompanhou seus movimentos enquanto ela se afastava dele. Novamente... Mas dessa vez, ele não ia deixá-la ir assim tão fácil...

- Harry! – cumprimentou uma voz familiar. – Hermione acabou de pass...! – começou Rony, mas o amigo não deu ouvidos, passando direto por ele. – Harry! Que seja...! Eu como sozinho! Não se importem comigo!! – exclamou Rony com sarcasmo ao notar que Harry nem ao menos lhe dera ouvidos e já sumira virando pelo corredor.

- Hermione espere! – exigiu Harry, impaciente transparecendo na voz. A garota pareceu notar o tom dele, visto que meramente grunhiu em um tom exasperado – algo que ele preferiu não tentar compreender – e adiantou o passo.

- Você está me perseguindo! Pare! – ordenou Hermione, mas ao contrário do que gostaria, sua voz saiu fraca e inconsistente. E Harry notou:

- Por que você está fazendo isso? – seu tom era completamente diferente agora. Harry sabia que na verdade - por mais que a garota tentasse reprimir – o que ele sentia era mútuo. E apesar de ter completa consciência do quão teimosa ela poderia ser, recusava-se a acreditar que qualquer pessoa chegaria aquele extremo... Razão pela qual, ele não conseguia exatamente compreender a razão de tanto receio.

- Por que você está fazendo isso?! – rebateu Hermione. Harry piscou, claramente confuso:

- Agente não já passou por isso...? – Harry aproximou-se e Hermione sentiu um arrepio percorrer seu corpo quando as mãos do garoto pousaram em seus ombros. O olhar da garota era sério, e Harry pode notar que ela esforçava-se para manter-se impassível. Mas ele ainda notou o tremer suave que ele despertou com seu toque...

- Certo. – replicou Hermione tentando esconder o desapontamento que sabia estar sentindo. Não sucedera muito bem na tentativa entretanto, visto que o olhar intenso e indagador de Harry modificou consideravelmente:

- Hermione eu... – reiniciou Harry mas parou. Hermione fitou-o em silêncio, claramente esperando que ele continuasse, mas Harry não sabia o que dizer. Na verdade mal sabia como agir. Verdade fosse dita, ele jamais passara por uma situação daquelas, com nenhuma outra garota... Ponderando sobre o que, exatamente ela queria dele, preparou-se para pedir um esclarecimento quando Hermione adiantou-se:

- Vê, Harry? Essa é a razão pela qual eu estou dizendo não. – Ela não parecia irritada. E isso de certo modo poderia ser considerado algo positivo, não fosse a firmeza do seu tom de voz, associada a algo mais... Algo que Harry não captou muito bem, apesar de saber - de certo modo inconscientemente – que seria melhor se ela estivesse atirando-lhe insultos. – Porque pra você, isso é só uma conquista. E eu não sou o tipo de garota que se satisfaz com uma conquista. – Hermione respirou pesadamente ao notar que ele estava prestes a protestar. – você entende o que eu estou dizendo?

Houve um momento no qual Hermione desejou que ele a interrompesse. Ela parou fitando o garoto a sua frente. Ela gostaria que não o desejasse, mas sabia que na realidade ali, naquele momento, naquela pausa, esperava que ele refutasse tudo que dissera.

Mas ele não o fez. Hermione não sabia se por falta de palavras ou se por simples confirmação, o fato era que ele não refutou. Ela sentiu os olhos esquentarem contra sua vontade ao continuar:

- Eu realmente quero ser sua amiga Harry. – ele observou estático enquanto ela baixou os olhos evitando seu olhar. – E... E se... E se essa é a razão pela qual você está fazendo isso, por favor... Só pare, ok? Eu... Por favor, só pare. – havia tristeza na sua voz.

Harry não tinha muita certeza de como se sentia, novamente, uma sensação diferente de qualquer outra se apossava dele. – Algo que acontecia muito frequentemente no que dizia respeito a ela. – Ele simplesmente se manteve ali, ouvindo tudo que ela dizia, como se... Ele sentia-se mal. Não sabia bem como, mas a sensação realmente não era das melhores...

Meio que espertando de uma dormência mental, Harry veio a notar que ela ainda não o encarava, seu olhar estava fixo em um ponto no chão, impedindo-o de ler sua expressão. Algo lhe dizia que ela preferia dessa forma e ele não a contrariou. Recuando alguns passos, ele afastou-se soltando os ombros de Hermione - que só agora percebia, ainda mantinha presos entre as mãos – e desta vez, ele próprio se afastou.



- Por favor! – retrucou a garota erguendo o longo cabelo negro e prendendo em um coque na cabeça. Um ar de absoluta descrença no rosto. – Por mais que tenha sido divertido assistir... Aquilo não foi flerte!

- Dá licença?! – cortou Lilá curvando-se sobre a mesa e observando a garota. – Aquilo era flerte!

- Não era...

- Na verdade... – interpôs Dean apanhando o copo de suco ao notar que a amiga estava prestes a responder a quintanista não muito polidamente. – Eu conheço Harry, e deixe eu esclarecer... – fitando a menina ele confirmou veementemente. – Aquilo era flerte.

- Definitivamente. – acrescentou Simas servindo-se de ovos. – De qualidade, como sempre... – acrescentou sorrindo. Dean sorriu também.

- Sabe, repensando, Ginevra sempre disse que havia alguma coisa ali... – surgiu uma quarta voz.

- Isso é estupidez... Eles sempre se odiaram! – interpelou a quintanista novamente. Claramente todos estavam compartilhando o mesmo tópico de conversa.

- De qualquer forma, mesmo se ele estiver... Você sabe, interessado. Ela vai dar um chega pra lá nele. – concluiu Parvati que sentava-se à direita de Lilá. – Só observem...

- Vocês não tem nada melhor para fazer do que falar da vida dos outros não? – comentou Neville, os olhos fixos no livro em suas mãos. Um silêncio seguiu-se e ele ergueu os olhos para enxergar Dean e Lilá fitando-o impassíveis. – Ok... Só uma opinião...

- Bom... – continuou Simas. – Eu acho que ele consegue...

- Ela é muito inteligente pra ele... – disse a quintanista.

- Harry não é burro! – defendeu Dean.

- Eu não disse isso! Eu só acho que Granger não vai cair nas cantadas dele, só isso...

- Hermione é inteligente... – ponderou Neville casualmente, os olhos ainda no livro.

- Ela estava corando, ainda sim. – disse Lilá com um tom de confirmação. – Eu nem sabia que Hermione podia corar...

- Qualquer garota coraria com o jeito que ele estava olhando para ela... – insistiu uma quinta voz vinda do outro lado da mesa.

- Mesmo assim. – rebateu Dean. – Harry, ele... Ele tem, métodos... – disse com um sorriso.

- Dean... – começou Simas mas ele interrompeu:

- Lembra do ano passado? Lembra...? Halloween...? – uma pausa se seguiu.

- Ele consegue. – concluiu Simas.

- Por favor! Essa não é a questão! – retrucou Lilá com óbvio entusiasmo frente a confirmação do boato que já corria a quase um mês pelo colégio. – A questão é que tem alguma coisa entre eles... – mas a menina não parecia estar atenta ao que ela disse:

- Quer apostar nisso? – ofereceu estendendo a mão confiante a Dean. Ele fitou-a incrédulo.

Tecnicamente, ele não deveria brincar com a vida pessoal do amigo. Mas novamente...

Toda aquela interação dos dois havia sido de fato, muito interessante, pra nõa dizer divertida de se observar... E certamente que ele não era o único a ter esse ponto de vista. Definitivamente... Além do mais, estava claro que o amigo realmente estava interessado nela. Nenhum mal seria feito. No fim, ele ainda faturaria uma grana...

- Apostado. – respondeu aceitando a mão da garota com um sorriso no rosto. Vários grifinórios fitavam os dois agora, grande parte deles sorrindo.



Harry ergueu-se do sofá novamente.

Originalmente não faria isso... Pedir a opinião de Giny, sobre qualquer assunto que envolvesse sentimentos – especialmente no que dizia respeito a Hermione - geralmente passava longe da sua lista de necessidades, mas...

Algo havia despertado dentro dele. E ele detestava saber que ela era responsável por grande parte daquilo...

Ok, então ele não odiava. Não realmente...

Mas era extremamente incômodo.

As palavras da garota haviam lhe atingido muito mais do que jamais sonharia em admitir... E mesmo afirmando veementemente para si mesmo que nada daquilo era verdade, uma sensação nada agradável de culpa lhe engolfava cada vez que lembrava do que ela dissera.

E naquele mesmo instante, enquanto se afastava, percebeu o quão importante para ele era o que ela pensava. Ele realmente se importava...

Vide estar ali. Prestes a entregar de mãos beijadas qualquer momento de paz que esperasse ter para a menina sentada na mesa à sua frente.

Harry aproximou-se e sentou em silêncio. Tamborilando os dedos rapidamente, manteve-se calado.

Giny ergueu os olhos de sua redação e ergueu as sobrancelhas.

- Desculpe... – murmurou Harry parando o barulho. Mas ele ainda exalava ansiedade.

- Você quer alguma coisa Harry? – perguntou Giny com os olhos no pergaminho.

- Não. Eu estou bem. – um minuto de silêncio se seguiu.

- O que? – Giny parou com a pena no ar e fitou Harry por um momento. Ele não pareceu registrar a sua pergunta, e obviamente estava muito concentrado no que quer que tinha a dizer...

- Certo! – respondeu Harry num súbito sobressalto. – Eu só... Giny, se eu perguntar uma coisa, você vai ser sincera, não vai?

- Claro. Se você quiser. – respondeu a garota baixando os olhos simplesmente. Tentando não ponderar sobre quando ele não desejaria uma resposta sincera – para qualquer pergunta, realmente – ele sacudiu a cabeça erguendo-se e caminhando de um lado para o outro na frente da amiga. Giny ergueu as sobrancelhas à visão do rapaz. Poucas vezes vira Harry tão...

- Harry...?

- Você acha que eu sou superficial? – questinou parando e dessa vez ele próprio erguendo uma sobrancelha. – Com garotas... Eu quero dizer... – e aqui, Giny notou um leve tom de insegurança na voz dele, novamente, nada característico.

- Sim. – a resposta dela foi rápida e firme, apesar de não parecer irritada ou nada do tipo. De fato, a reesposta foi tão rápida que Harry piscou e exclamou ofendido:

- Giny!

- O que? – respondeu a garota defensivamente. – Você pediu que eu fosse honesta!

- Mas mesmo assim...! Ouch! – repensando, talvez ela pudesse ser um pouco menos sincera...

Houve uma pausa, onde Giny pousou a pena ao lado do pergaminho que mantinha a sua frente e fitou-o:

- Você tem conversado com Hermione? – retorquiu com a sensação de que sabia de onde aquilo estava vindo... Não estava presente durante a comoção no café-da-manhã, mas... Ainda sim, alguns de seus companheiros de casa fizeram questão de informar o ocorrido... E mesmo que não o tivessem feito, as conversas e fofocas pelos corredores teriam sido suficientes...

- Não. – respondeu Harry. Mas o olhar de inquietude o denunciou. – Sim.

- Eu entendo... – mas ele já havai captado fôlego, e Giny sabia que ele estava prestes a exalar a sua frustração:

- É só que... Ela disse essas... Coisas!

- Sim...

- E elas foram tão...! Quero dizer... Tão... Sabe?

- Verdadeiras?

- È!

- Ela chamou você de superficial?

- Não. Não assim, na lata...

- O que ela disse? – Giny observou o amigo analizando a expressão que surgia no seu rosto. Lembrando-se das palavras de Dean ao encontrá-lo durante o almoço. O colega realmente acreditava que Harry chegaria a algum lugar naquela história toda. A tal ponto que apostara naquilo, literalmente. E pondo de lado o fato de que ela própria achara a idéia extremamente divertida – ao ponto de participar da aposta, diga-se de passagem... Se ela não conhecesse Harry muito bem, diria que ele havai acabado de levar um fora. E se não muito se enganava – ponderou com ainda mais interesse – ele parecia... De certo modo, estranhamente... Magoado.

Harry recusou-se a responder, apesar de sua mente retornar à conversa que os dois haviam tido naquela manhã. Sentindo-se ainda mais deprimido e frustrado, ele meramente grunhiu ao lembrar das palavras da garota... – Giny pareceu captar seus pensamentos, visto que continuou, desta vez em um tom mais atencioso:

- Olhe... Eu tenho certeza de que você não tem a intenção de pular de garota em garota assim... – Harry franziu o cenho. Aquilo era pra ser reconfortante? – Eu conheço você.. Rony conhece você... Você não é tão superficial quanto parece! Você só passou muito tempo com Sirius... E seu pai...

Claramente, ela parecia acreditar, que estava ajudando. Quando na realidade Harry sentia-se novamente ofendido:

- Talvez... Você só não econtrou a garota certa ainda... E, eu tenho certeza de que se você fizer com que ela entenda que você não é assim, tão...

- Certo Giny. – cortou Harry antes que a menina atirasse mais uma ofensa sem querer.



Hermione reprimiu um segundo bocejo ao ver o professor virar-se para a lousa acenando a varinha. Instruções para a poção surgiram no quadro negro e ela abaixou-se automaticamente para apanhar seu pilão e sua faca. Totalmente inconsciente do gesto, divagou em silêncio...

Sentia suas costas ainda doloridas da noite anterior, sem contar o imenso cansaço que lhe tomava no momento. De alguma forma esperava que naquele ponto, depois daqueles meses, seu corpo já teria acostumado com aquelas transformações... E ainda sim, a cada lua cheia que passava mais suas forças pareciam exaurir-se...

Harry observou a garota abaixar-se em direção à mochila em silêncio. Seu cabelo estava preso em um coque folgado e – agradavelmente, ele ponderou com uma guinada no estômago - assanhado, de modo que ao abaixar-se Harry pode ver um curativo em seu pescoço. A noite anterior havia sido de lua cheia, e aquele não era seu único resquício...

Ambos, tanto ele quanto Rony logo vieram a se aquiescer ao ver a garota retornar das transformações com um arranhão ou dois, era normal supunha ele lembrando-se vagamente das incontáveis vezes que vira sua mãe cuidar de ferimentos em Lupin... Mas... Ainda sim de algum modo, que ele não conseguia compreender muito bem, vê-la aparecer com um novo ferimento a cada mês parecia atingi-lo de uma maneira consideravelmente diferente... E mesmo após o pedido dela para que ele se afastasse, ele não conseguia deixar de sentir uma necessidade de proteção com relação à garota – convenientemente nada bem-vinda. E essa era a razão pela qual, ainda sim, fizera questão de acompanhar o amigo em silêncio para a Casa dos Gritos.

Hermione pareceu notar o olhar focado nela, visto que se voltou para ele por alguns segundos e Harry pode notar um leve rubor atingir-lhe as bochechas. Hermione sacudiu a cabeça desviando o olhar, mas sentia que sua mente estava ainda ligeiramente perturbada ao colocar a mão na mochila em busca do objeto. Harry permaneceu fitando-a.

Ela havia pedido que o garoto se afastasse. E verdade fosse dita, ele não havia tentado nada durante a última semana. E por isso, ela estava agradecida.

Ou gostaria de estar.

- Ela parece cansada. – murmurou Rony.

- O que? – murmurou de volta num leve sobressalto desviando o olhar. – Ah... Certo, é. Ela... Ela parece. – disse simplesmente voltando-se para o próprio caldeirão em silêncio.

Hermione fechou a mão esquerda sobre o objeto e puxou da bolsa. E então sentindo a mão arder violentamente e não reprimindo um grito largou-o quase que imediatamente. Num barulho seco, a faca bateu duas vezes no chão ecoando na masmorra. Snape voltou-se imediatamente, ambos, Harry e Rony ergueram os rostos num sobressalto.

- O qu...? – iniciou Harry num sussurro, mas a voz do professor soou na sala em silêncio.

- O que foi isso? – questionou Snape severamente. Ninguém respondeu por um momento. Hermione sentiu a mão latejar insanamente enquanto procurava reter o súbito acesso de lágrimas que começava a lhe tomar.

- E - eu... – começou ela. – Minha faca, professor. Eu... Derrubei.

- Apanhe-a então. – Hermione ergueu os olhos em silêncio. Harry observou o que pareceu ser surpresa na expressão da garota. Rony retesou-se ao seu lado, e voltando-se para ele ainda confuso observou o amigo encarando a cena.

- Bem? – insistiu Snape. – Apanhe-a e comece a lição! Cuide para que seja em silêncio dessa vez!

- E-eu...! – Hermione titubeou fracamente, e então baixando os olhos murmurou em voz quase inaudível – Certo... Desculpe-me, professor...

E após um breve momento no qual ele a fitou impassível, Snape deu as costas voltando sua atenção ao quadro novamente. Hermione observou o objeto imóvel no chão, e puxando uma de suas mangas discretamente apanhou o cabo da faca começando a cortar os ingredientes em silêncio.


- Rony espere! O que está acontecendo? – Rony parou e sentiu o amigo puxando-o para um lado do corredor. A aula havia acabado de terminar e Hermione erguendo-se num gesto rápido adiantou-se pela porta, largando todas as suas coisas na sala. Rony estava no seu encalço quando Harry interrompeu-o confuso:

- Hermione.

- É eu notei! – cortou Harry irritado. – O que foi aquilo?

- A faca. – disse Rony claramente irritado. – A faca dela é feita de prata!

- Oh... Eu não sabia...

- Eu vou atrás dela, você não vem? – chamou adiando-se pelo corredor.

- Eu... – começou Harry mudando de idéia em seguida - Eu vou pegar as coisas dela... – parecendo ligeiramente desapontado, Rony deu as costas e seguiu pelo corredor atrás da amiga.

Harry observou o amigo desaparecer de vista. E deu meia volta adiantando-se pelo corredor não em direção às masmorras, mas direto pelas escadas e até quem ele sabia que poderia ajudar.

Sentindo um ódio já característico nutrido por Snape crescer consideravelmente, Harry adiantou-se sala adentro sem nem ao menos bater na porta:

- Remus! – chamou Harry com um ar urgente.

- Harry...! O que voc...? – mas ao notar a expressão do garoto seu ar de surpresa modificou-se para confusão. – O que houve...?

- Snape! – exclamou o garoto. – Ele é um pedaço de m...

- Harry nós já conversamos sobre isso! – iniciou Lupin exasperadamente. – Snape é seu professor, eu não posso interceder por você! Por mais que eu queira... – acrescentou em tom mais ameno.

- Hãn?! – Harry manteve-se parado, uma mão no trinco da porta, a outra fechada em um punho. Ligeiramente desnorteado do motivo que o havia levado até ali, sacudiu a cabeça vigorosamente, procurando, em meio à indignação que se apossava dele, soar com um pouco mais de clareza – Não! É Hermione, ela... Quero dizer, ela se machucou...

- Machucou? – repetiu Lupin confuso.

- E foi culpa de Snape! – acrescentou ele antes que pudesse refrear-se. Lupin ergue-se da cadeira em que se encontrava parecendo ainda mais confuso:

- Snape a machucou? Como?!

- Não! Quer dizer, sim! Mas não assim! Lupin! – cortou Harry visto que o professor estava prestes a interrompê-lo novamente. – Hermione se machucou em prata. – concluiu Harry finalmente. A expressão do homem mudou de confusão para preocupação no segundo seguinte.

- Onde ela está? – Harry piscou à pergunta, agora sentindo um arrependimento meio que deslocado dentro de si. Ele deveria ter ido com Rony. Para confortá-la...


- Foi Snape! – insistiu Rony apoiando Harry vigorosamente.

- A sua mão... – murmurou Harry, e aqui, a expressão no rosto dela pareceu desanuviar ao ouvir o tom de preocupação na voz do garoto. - Bom, não é nada sério, certo? Quero dizer... A prata... – interrogou voltando-se para Lupin que meramente aproximou-se para visualizar o ferimento.

- Talvez ele não soubesse... – comentou Hermione em voz baixa. – Ele não sabe, sabe? – questionou voltando-se para o professor a sua frente. Os quatro se encontravam na sala dele. Lupin havia se encarregado de buscar um frasco com uma poção azulada, a qual ele havia retirado e com um chumaço de algodão se preparava para retirar a bandagem improvisada da garota.

Em silêncio, ele ouvira as reclamações indignadas de Rony - e Hermione veio a notar com uma guinada no estômago, que preferiu relutantemente ignorar – Harry, durante as quais eles explicaram o ocorrido durante a aula. Hermione fitou o professor enquanto este respondia:

- Ele faz parte da Ordem, é claro que sabe sobre você.

- Certo! Ele só não presta! – retrucou Rony do fundo da sala. E ainda mantinha-se distante, perdido em inúmeros insultos ao professor quando para a sua surpresa Hermione sentiu Harry aproximar-se e sentar ao seu lado.

- Ai! – exclamou Hermione franzindo o cenho. Lupin ergueu os olhos do braço da garota estendido sobre a mesa para a sua expressão de dor – Desculpe... É só que... Eu não achei que isso pudesse doer tanto... - disse sentindo-se levemente embaraçada, não sabendo se pela reação ou pelo modo com o qual o garoto ao seu lado a fitava, Hermione baixou os olhos sentindo o rosto corar.

- Parece sério... – constatou Harry ao observar a mão da garota aproximando-se. Um devaneio fugaz assaltou-a e por alguns segundos – mais agradáveis do que realmente gostaria de admitir – seu olhar recaiu sobre ele, que pareceu notar, pois se voltou para ela quase que instantaneamente, retribuindo o olhar.

E aqui, estava claro que havia algo que ele pretendia dizer, não fosse talvez o fato de que Lupin estava sentado logo à frente dos dois, ou mesmo os murmúrios revoltados e consideravelmente desconexos de Rony alguns passos atrás...

- Não é. – respondeu Lupin. E com um ar de quem conhecia muito bem a expressão de dor que Hermione mantinha acrescentou – Bom, com certeza deve doer bastante, mas... Vai ficar melhor em dois ou três dias, talvez quatro...

Harry não tinha absoluta certeza sobre quanto tempo exatamente Hermione sustentou o seu olhar, provavelmente apenas alguns segundos... Mas o suficiente para que Harry se arrependesse ao ouvir a voz do professor ao encará-lo com um ar apaziguador e talvez com algo mais que apesar de Harry não conseguir bem definir, o deixara positivamente desconfortável e estranhamente embaraçado.

Recuando alguns centímetros da garota, Harry recostou-se na cadeira observando o trabalho do homem, desta vez, a uma distância segura de pelo menos meio metro. E podia jurar com uma certeza desconfortável, que um sorriso perpassou na expressão de Lupin.

Lupin fitou Harry enquanto este se afastava da mesa. Um rubor - agradavelmente característico – denunciando que ele flagrara algo entre os dois adolescentes à sua frente. Algo que Harry claramente não gostaria que escapasse.

- Rony, já chega com isso. – pediu. E apesar de sua voz não conter em nada um tom autoritário, apesar do rapaz não parecer disposto a cessar os insultos ao mestre de Poções, Rony calou-se. – Eu sei que Severus pode ser indigesto às vezes, mas ele ainda é seu professor, e você lhe deve respeito. – Rony franziu o cenho, a menção positivamente absurda, e Harry meramente grunhiu, fazendo-o acrescentar. – Vocês dois!

Uma pausa se estabeleceu no local antes que Lupin continuasse desta vez medindo as palavras:

- Seu pai perguntou por você... – Harry ergueu-se caminhando até o canto da sala, falsamente entretido com as estantes, ele meramente murmurou assertivamente. – Ele está se perguntando por que você não responde a nenhuma das cartas que ele manda...

- Ele disse isso? – murmurou Harry tentando não demonstrar o quanto lhe afetava saber que seu pai se incomodava com a ausência de notícias, mas incomodava. Entretanto, o contrário nunca o impedira...

- Ouch! – murmurou Hermione.

- Desculpe... – respondeu Lupin antes de prosseguir.

- Vocês ainda estão brigados por causa do...? – interrompeu Rony. Harry fitou o amigo amaldiçoando a sua lingua comprida. Rony pareceu notar a revolta do amigo, visto que se preparou para desfazer o que havai dito, mas Lupin cortou-o:

- Ah! – retorquiu ele erguendo-se da cadeira ao terminar com o ferimento de Hermione. – Nós imaginávamos que fosse isso...

- Imaginou? – rebateu Harry não fazendo esforço para conter a irritação. – Engraçado, eu não me lembro dele ter vindo conversar comigo...

- Harry ninguém está escondendo nada de você... – aqui, Harry notou um cruzar de olhos entre Hermione e Rony, ambos baixaram a cabeça parecendo desconcertados.

E de algum modo, Harry não sabia bem porque, isso elevou a sua irritação, e agora ele beirava a raiva. Lupin estava mentindo, e os dois sabiam disso, ele sabia disso.

- Ah é? – retrucou com uma frieza que ele próprio não reconheceu. E antes de continuar seus olhos recaíram sobre Hermione que observava seus movimentos. Sabia o que estava passando pela sua cabeça, visto que acenou a própria negativamente, pedindo que ele não continuasse. Mas a raiva havai tomado a melhor. – Então, porque vocês não disseram nada sobre um traidor na Ordem da Fênix??!

Primeiramente, Harry não conseguiu identificar com exatidão a expressão do seu professor. Inicialmente ele piscou algumas vezes, seu olhar fixo nele por um momento, e então, para a sua surpresa ele voltou-se para Hermione, um corado violento assaltou-lhe a face.

- Como voc...?

- Como eu sei!? Não por vocês com certeza! – um momento de silêncio se seguiu até que Lupin avançou dois passos em sua direção. Por um momento insano, ele chegou a pensar que o professor estava prestes a machucá-lo, e seu choque foi tamanho que ele não se moveu. E ao invéz disso, manteve-se em pé, ao sentir o homem agarrar-lhe os braços, fitando-o com uma urgência que poucas vezes ele vira na face outrora calma e compenetrada de Lupin:

- Harry... Não repita isso, para mais ninguém! Entendeu?! Ninguém! – ordenou Lupin. – seus olhos correram para a porta por alguns segundos antes de recaírem sobre Harry novamente. – No que você estava pensando!?

- Remus... – tateou Harry, confusão substituindo aos poucos a ira que sentia.

- Harry ouça! – recomeçou o homem. – Você não pode simplesmente sair por aí falando tais coisas! Você vai acabar se colocando em ainda mais perigo!

- Então é verdade? – cortou Rony, mas o homem não deu ouvido.

- Isso é ridículo! – interpelou Harry. – Eu sei que não é você... – continuou ciente do significado por trás da súbita mudança no homem.

- Não. Você não sabe! – cortou Lupin com um tom de quem lida com alguém extremamente inexperiente.

- Eu não acredito que vocês seriam... – recomeçou Harry com convicção. Sua raiva se esvaíra e o fato de que ele tinha sido privado daquela informação já havia sido suplantado pela recusa de que Lupin poderia sequer ser cogitado...

Na realidade, desde que Hermione expusera suas suspeitas sobre a existência de um traidor na Ordem da Fênix, parte dele recusara-se a acreditar que alguém, qualquer um seria capaz de trair a organização. E mesmo Hermione – e para sua surpresa – Rony terem apontado a ingenuidade de tal crença... A verdade era que ele crescera naquele meio, com todas aquelas pessoas, em Grimmauld Place... Seus pensamentos foram cortados por Lupin, que obviamente sabia o que se passava na cabeça dele no momento:

- Você soa ingênuo como seu pai Harry. – e após alguns segundos. – E isso não é um elogio. Não, ouça. – acrescentou ele visto que o comentário pareceu reascender a irritação do garoto. – Vocês são inteligentes o suficiente para compreender que essa situação é extremamente complicada, além de perigosa. Agora... Eu não sei como vocês descobriram isso... – e aqui ele olhou de relance para Hermione que fitava as próprias mãos em silêncio. – Mas eu não quero nenhum de vocês comentando isso com mais ninguém, ou mesmo lançando perguntas. Eu fui claro?

O tom duro do professor – tão não-característico – pareceu por um breve momento atingir o objetivo. Eles não mais falariam sobre o assunto com ninguém, ou fariam qualquer pergunta... E originalmente, Hermione sabia que sua intenção era revidar essa exigência. E por mais que viesse de um professor, Hermione estava prestes a juntar-se nos protestos de Harry e Rony. Mas... Algo mais captara sua atenção durante a esquentada discussão entre Lupin e Harry. Algo que o professor deixara escapar, e que o garoto obviamente não notara...

- Professor... – interrompeu Hermione, mas a sua voz foi abafada pela insistência por parte dos dois rapazes. Sua mente, entretanto, estava trabalho a mil, ocupada demais para notar esse mero detalhe. E ela continuou. – Como assim “ainda mais”?

Claro, todos que tivessem contato com a Ordem estavam em perigo, assim como Harry... Afinal, em tempos como aqueles quem estava a salvo de verdade? Mas, algo na maneira com a qual ele havia se dirigido especificamente a Harry. Aliado a alguma outra...

Algo a estava incomodando, no fundo da sua mente... Estava deixando escapar algo, algo importante...

- Perdão? – cortou Lupin voltando-se para ela num gesto brusco.

- Antes... Quando o senhor disse que Harry... – Hermione calou-se. O olhar do professor voltou-se imediatamente para Harry, e então de volta para ela.

E não fosse pelo retesar de ombros que acometeu o homem, Hermione talvez não tivesse absoluta certeza de que havia algo mais naquela história. Alguma outra coisa que não dizia respeito à Ordem, mas estranhamente... Dizia respeito a Harry.

Um momento de silêncio seguiu-se, no qual ambos, Harry e Rony preparavam-se para argumentar ainda mais, e Lupin meramente fitou a garota sentada à sua frente:

- Essa conversa acabou. – resumiu impassível.

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