I can't quit you baby - parteI








Harry levou por volta de dez segundos para identificar o motivo pelo qual ele estava acordando tão mal naquela manhã. E então, a lembrança da noite anterior veio num misto de arrependimento e desconforto. Levando as mãos ao rosto, Harry apertou os olhos de modo que despertasse mais um pouco. Apanhando o par de óculos na cabeceira e levantou-se.

Não conseguia conceber muito bem o porquê de ter feito aquilo. Ou não ter feito. Talvez... Talvez aquilo fosse parte do motivo pelo qual estava tão incomodado. Geralmente esse tipo de coisa acontecia facilmente com ele, era simples. Ou pelo menos costumava ser...

A verdade era que aquela situação era no mínimo inusitada... Pelo menos para ele. E a pior parte era saber que alguns meses atrás ele não teria feito o mínimo de esforço para se controlar, e agora...

E ainda sim. Havia uma parte dele que não se arrependia, porque além de tudo, ele realmente achava que aquele não era o momento certo. – uma sensação desagradável desceu-lhe pelo estômago. – Quando exatamente ele começou a ligar para o “momento certo”?

- Oi. – murmurou Harry parando em frente ao retrato. Ele precisava conversar com ela. Não sabia exatamente o que ou mesmo por que. O que por si só já era extremamente embaraçoso... Mas, ele só... – Mary voltou-se para ele e ao reconhecê-lo ergueu uma sobrancelha:

- Ora, olá! – cumprimentou de volta com um ar incomodamente cúmplice. Visto que a mulher no quadro continuava a encará-lo, ele tateou em seguida:

- Er, eu posso entrar? – Harry pôde ouvir um fungado, seguido de um resmungar atrás de si.

- Você tem a senha? – Harry acenou negativamente. – Então eu não posso deixar você entrar.

- Mas eu...!

- Eu sinto muito.

- Ela está aí? Eu só preciso falar com ela! – e aqui, uma expressão curiosa se revelou no rosto dela:

- Sobre ontem? Você veio pedir desculpas? – atirou ela.

- O que? Desculpas? Por que eu pediria desculpas? – um estalar de língua se fez ouvir no local e Harry voltou-se irritado:

- Nada cavalheiro...

- E você quem é? – rebateu Harry ao fitar um segundo quadro às suas costas. Um homem idoso e extremamente pomposo respondeu com um ar de dignidade:

- Alfredo. – disse simplesmente corrigindo-se na poltrona e levando uma das mãos ao bigode.

- Alfredo deixe o garoto em paz...

- Eu posso entrar agora...? – insistiu Harry.

- Se você vai falar sobre ontem pode esquecer porque o seu “momento” já passou garoto! – acrescentou Alfredo com um ar de quem explica uma soma de “dois mais dois” a alguém profundamente obtuso.

- Olhe... Eu não posso deixar você entrar... – continuou Mary-Anne. – E mesmo se pudesse, ela não está aqui.

- Não está? Aonde ela foi? – interrogou Harry empertigando-se subitamente. – mas a mulher parecia preocupada demais em dar-lhe dicas para ouvir sua pergunta:

- você realmente deveria considerar uma desculpa... – divagou. – Ela não parecia muito feliz essa manhã... Porque você não a beijou de qualquer forma? Quero dizer... Parecia que vocês queriam e...

- Ok!! – cortou Harry sentindo o rosto corar violentamente. – Onde ela está? – insistiu.

- Tomando café, acho... – respondeu com uma nota de ofensa na voz. Harry nem ao menos agradeceu, e dado meia volta, seguiu em direção às escadas. Talvez ainda pudesse encontrar a garota antes que ela terminasse o café...

Ponderando se realmente ela estaria irritada com ele, Harry não pôde deixar de se perguntar se ela realmente tinha motivo... Afinal, ele tinha a melhor das intenções certo? E além do mais, pelo menos até ontem, os dois estavam se dando muito bem... E ele não fizera nada de errado. Ele só...

Ok, talvez ele tivesse hesitado. Só um pouco. Mas isso não era motivo para ofensa, não é? Até mesmo porque ele só estava tentando agir da maneira correta, mesmo que pela primeira vez...

E ele estava disposto a explicar isso, assim que chegasse à mesa da Grifnória, porém, ela não estava lá.


- Eu quero dizer... Eu não estou dizendo que estou chateado... É só que vocês prometeram e não cumpriram... – continuou Rony. Hermione mantinha a cabeça apoiada por um dos braços, encostados na cadeira. De modo que seu corpo estava levemente inclinado. – E se alguma coisa tivesse acontecido... Quero dizer... Pomfrey disse que eu já posso sair hoje se eu quiser, mas eu cho que ainda não estou muito bem... Não é?

- É Rony. – concordou Hermione vagamente.

- Tudo bem que eu não estou tão mal quanto ontem mais sair hoje, assim, de repente...

- Você vai sair hoje...? – perguntou Hermione levando uma torrada à boca num gesto vago. Rony parou e observou a amiga.

Ela havia apanhado algumas torradas no salão principal e viera fazer-lhe companhia. Entretanto, a companhia dela não parecia exatamente presente...

- Você ouviu uma palavra do que eu disse?

- Claro que sim! – respondeu a menina parecendo ofendida.

- Sério...? – duvidou Rony. Hermione pareceu divagar novamente, a torrada pendurada por entre os dedos. – Ok, o que aconteceu ontem?

- Nada.

- Nada? – desconfiou Rony. A amiga confirmou.

Entretanto, após deixar a enfermaria, Rony não pode deixar de notar que a amiga estava realmente estranha. Ou pelo menos, mais estranha que o normal... Para começar, ela nem o levara para a biblioteca ao sair da enfermaria. De fato, assim que ele dissera que ia encontrar Harry na comunal, ela desconversou e murmurou algo como ir à monitoria...

E o dia seguinte não foi muito diferente.

- Bom dia. – murmurou uma voz ao se aproximar e sentar-se ao lado dele. Harry ergueu os olhos:

- Rony? – Harry piscou ao ver o amigo puxar um prato de bacon para si. – Quando você saiu?

- Ontem. – murmurou Rony após um gole de suco. – Obrigado por estar lá por sinal. Aliás, por ter notado que eu passei a noite no dormitório hoje...

- Eu... – começou Harry. Mas a verdade era que ele realmente não havia notado que o amigo passara a noite na cama ao lado. De fato, ele nem pensou em Rony desde que havia voltado de Hogsmead. E agora, fitando o rosto impassível do amigo, a promessa de aparecer no dia anterior de ir buscá-lo vinha à memória... - Certo. Rony, eu esqueci...

- É eu notei. – continuou Rony, ainda parecendo indignado com o descaso de Harry. E numa óbvia comparação, acrescentou. – Hermione estava lá por falar nisso...

- Estava? – questionou Harry antes que pudesse se conter. E se ela tivesse contado alguma coisa...? Ou...

-... Agora ela sim é amiga de verdade... – continuou Rony, claramente alheio à súbita pergunta do amigo. – Se bem que ela estava meio esquisita...

- Esquisita...? Como, nervosa, ou algo do tipo? – perguntou Harry lembrando do comentário da mulher no quadro... E decidido a arrancar qualquer outra informação do amigo, voltou-se para ele, mas interrompeu o movimento assim que Giny sentou-se na frente dos dois:

- Bom dia!

- ‘Dia... – murmurou Rony, o mau humor ainda persistia.

- Bom dia... – respondeu Harry abstendo-se de prosseguir com o assunto. Entretanto, Rony não estava disposto a tal. E ao contrário de Harry, que decididamente não desejava dar a Giny uma brecha por mínima que fosse para comentar qualquer coisa sobre Hermione, continuou:

- Bom... Eu perguntei o que era, mas ela não me disse...

- Quem? – perguntou Giny.

- Ninguém. – tentou Harry em vão, e não fosse o fato de que o amigo nada sabia do ocorrido entre ele e a garota, duvidaria que ele fizesse aquilo de propósito.

- Hermione. Ela está meio esquisita...

- É... Eu notei. – acrescentou Giny. E aqui, para horror de Harry, os olhos da garota recaíram sobre ele. – Eu soube que vocês foram para Hogsmead juntos ontem...

- Foram? – cortou Rony.

- Eu... – tateou Harry. – Como você soube disso?

- Está pela escola toda... – acrescentou a garota vagamente e com um aceno de mão desviou a conversa para os fatos novamente:

- Aconteceu alguma coisa? – Harry ergueu os olhos em silêncio. E puxando uma jarra de água para si ele repetiu buscando tempo para pensar:

- Se aconteceu alguma coisa? Er... Não, não realmente... – disse vagamente baixando os olhos para o próprio prato. Giny franziu a testa. E com um ar falsamente desentendido continuou:

- Bom... De qualquer forma, ela não parecia muito alegre se você me perguntar...

- Eu não sabia que vocês tinham ido para o povoado juntos... – comentou Rony, claramente surpreso. – Isso significa trégua?

- Eu... – recomeçou Harry. Mas seu raciocínio foi interrompido ao perceber o olhar incisivo de Giny sobre ele.

Ainda faltava pouco menos de meia hora para a aula de Transfiguração. Ok... Harry conhecia Giny a tempo suficiente para saber que ela não descansaria até descobrir o que havia acontecido.

- O que aconteceu ontem? – murmurou Giny diretamente.

- Nada. – retrucou Harry acelerando o passo e desviando em direção à comunal. Mas a amiga não estava nem perto de uma desistência.

- Alguma coisa aconteceu! – insistiu Giny. – Eu sei. – Harry parou e fitou a garota, incrédulo:

- Por quê? Ela disse alguma coisa? – interrompeu antes que pudesse se conter. Levou-lhe pouco mais de dois segundos para perceber que Giny estava blefando, e funcionara:

- Não. – houve uma pausa.

- Então ela tinha alguma coisa pra dizer? – questionou Rony claramente surpreso. Harry piscou e respondeu prontamente:

- Não. – mentiu Harry.

- Então vocês se beijaram ou o quê? - soltou Giny. Harry ergueu os olhos rapidamente, no que o amigo se engasgou e tossiu fortemente, despejando metade do suco pela mesa. O gesto rapidamente chamou atenção de algumas pessoas ao redor, que se afastaram discretamente. E para seu horror uma sensação desagradável de embaraço começou a tomar forma:

- Não. Eu já disse que não aconteceu nada! Nada! Nem mesmo um, nem... – tateou Harry. - Nada! Ok? Aí! Feliz? – e aqui, Harry não pôde deixar de sentir uma onda de frustração e arrependimento pela noite anterior... E aparentemente os sentimentos se revelaram na sua expressão, pois a amiga o fitava agora com uma expressão meio séria, meio exasperada:

- Você queria... Oh...! Você queria que acontecesse não é? - num misto de irritação com a situação e embaraço com o acerto da menina, Harry absteve-se de resposta, o que para Giny, obviamente significava um “Sim!” alto e claro. Rony mantinha-se calado, entretanto, Harry podia sentir os olhos do amigo sobre ele analisando-o atentamente:

- Então...? – instigou Rony, num tom que Harry desconfortavelmente não soube muito bem precisar. – Por que você não a beijou?

- Eu...

- Ele se acovardou! – exclamou Giny com um ar extremamente surpreso.

- Eu... – recomeçou Harry, até assimilar completamente o que ela havia dito. - O que?!

- Você se acovardou...? – murmurou Rony, também num misto de exasperação e divertimento. – Você? Sério...? Mas por quê...?

- Ela fez você se acovardar...! Há! – sorriu Giny.

- Quem fez você se acovardar? – perguntou Dino intrometendo-se na conversa, que aparentemente tomara proporções bastante interessantes...

- Ninguém! – cortou Harry antes que Giny respondesse.

- Harry deu pra trás? – murmurou Simas para o amigo, que se voltou e confirmou com um aceno. – Oh... – murmurou parecendo desapontado.

- Eu não dei pra trás! Eu nunca dou pra trás! – repetiu Harry agora se voltando para Giny indignado e ofendido. – Não foi isso!

- O que foi então? – questionou Rony com um ar de quem já sabia a resposta, mas precisava de uma confirmação de qualquer forma. Harry sentiu o rosto arder e tateou em busca de uma explicação da qual nem ele próprio tinha muita certeza:

- Eu... É só... – Harry parou por um momento. Os quatro o encaravam esperando obviamente por uma resposta satisfatória sobre o que havia acontecido. Harry abriu a boca novamente em busca de uma justificativa, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, uma sineta tocou alta e claramente:

- Oh! Olha só!! Aula! Nós temos aula! Então... Rony? É melhor agente ir não é? – Rony encarou o amigo. Não se lembrava de jamais ter visto Harry tão feliz por estar seguindo para uma aula, qualquer que fosse... E conhecia o amigo a tempo suficiente para saber que por mais que ele insistisse no contrário que aquele ainda não era o fim daquela história...



Rony fitou a amiga enquanto ela mexia vagamente na comida e encarava o prato distante.

- Você não está com fome?

- Sim. – murmurou Hermione, entretanto não fez menção alguma em comer. Rony voltou se para seu próprio prato em silêncio. Não que esperasse um mar de flores, mas... Pelo menos uma convivência mais agradável entre os dois... Nos últimos dias talvez. Sabia que estava dando crédito demais aos dois em pensar assim, entretanto seria bom se não precisasse revezar os horários de refeição entre os dois... E ainda sim, lá estava ele.

- Rony... – começou Hermione com um tom cauteloso. – Posso perguntar uma coisa?

- Claro. – respondeu ele tomando um gole de suco.

- Você vai ser sincero? De verdade, eu quero dizer...

- Hum hum... – confirmou sem prestar muita atenção.

- Você acha que eu sou “beijável”? – Rony ergueu os olhos rapidamente e encarou a amiga.

- O que? Eu... O qu... – tateou ele sem saber o que dizer. Que tipo de pergunta era aquela? – E-eu não sei!

- Rony! Você disse que ia responder!

- É, mas eu não sabia que era isso! – Hermione arregalou os olhos parecendo ofendida, ele tratou de corrigir:

- Eu quero dizer... Você é... Você sabe! É estranho! Pensar assim, nós somos amigos... Não que você não seja... É só que... – debateu se Rony tentando se explicar, mas Hermione parecia ter compreendido o quão fora de questão aquilo era, mesmo que hipoteticamente. E baixando os olhos ela acrescentou parecendo cabisbaixa:

- Certo... Eu entendo... Quero dizer eu... - mas um tilintar de moedas a interrompeu e o amigo voltou-se para um ponto à sua esquerda.

– O que? – questionou ao ver que Colin Creevey se mantinha em pé ao seu lado e extremamente eufórico:

- Ajude a salvar a Lula Gigante! – e brandindo uma latinha sorriu abertamente para os dois.

- Como? – murmurou Rony depois de alguns segundos em silêncio. Hermione revirou os olhos.

- Salve a Lula Gigante! – repetiu o garoto como se aquela parecia o mais óbvio a se dizer. E com os olhos arregalados continuou. – Faça uma contribuição! – e como nem Rony nem Hermione moveram-se ele acrescentou brandindo uma latinha. – Nós estamos angariando fundos para comprar outra lula!

- Por que alguém faria isso? – perguntou Rony, que claramente ainda não via sensatez naquilo.

- Exatamente o que eu disse. – cortou Hermione com um ar impaciente.

- Ela é fêmea! Vocês sabiam? – insistiu Colin. – A Lula! Ela precisa de um macho! Pra procriar e tal, sabe? Tipo quando... – acrescentou alegremente, mas Hermione interrompeu:

- Ok! Colin, agente já entendeu!

- Nós temos uma petição também!

- Outra? – retrucou Hermione, que se recordava de ter recusado o pedido de enviar algumas ao diretor. Mas Colin já havia se voltado para Rony:

- Vocês vão assinar? – e puxando uma pasta que segurava entregou a Rony que piscou num misto de divertimento e exasperação. Hermione observou o amigo, e depois fitou o garoto que segurava uma latinha em uma mão e a lista em outra.

Não podia culpar o garoto pelo seu mau humor, afinal ele nada tinha haver com o mesmo. O que não mudava o fato de que se o seu dia estava sendo péssimo aquela baboseira de Lula Gigante não o estava melhorando...

- Não Colin. – respondeu com irritação.

- Mas a Lula...! – recomeçou ele.

- Que se dane a Lula Colin. – cortou secamente com ar de poucos amigos. E aqui o garoto afastou alguns passos com um ar assustado e caminhou em direção ao grupo de alunos da Corvinal sentados na mesa ao lado. Rony fitou a amiga. Estava claro, até para ele, que a irritação dela nada tinha haver com o pobre do menino...

- Ele é um idiota...

- Colin...? – interrogou Hermione vagamente, observando enquanto ele tentava convencer mais alguns alunos relutantes.

- Harry. – Hermione voltou-se para o amigo subitamente. Ele sabia de algo? Porque não disse? E mais importante ainda... O que ele sabia? Sentindo o rosto arder ela tateou com um interesse mal disfarçado:

- Eu não.... – mas Rony continuou procurando parecer o mais amigável possível. Entretanto, estava claro no seu tom de voz que apesar de estar tentando ajudar, aquela posição não era exatamente confortável para ele...

- Olhe... Eu não sei por que ele não te beijou. – começou Rony. – Mas eu conheço Harry! E eu sei que ele queria... E se ele não, bom... Ele deve ter tido uma boa razão. Então eu sugiro que você pergunte a ele!

- Perguntar a ele?

- Isso.

- Esse é o seu conselho? – questionou Hermione sentindo a paciência esgotar. Que raio de conselho era aquele? - Eu devia ir até ele e perguntar.

- É.

- Uau. Que ótimo conselho! Obrigada! Realmente, Rony! – e erguendo-se num repelão, ela apanhou a bolsa e seguiu em direção à saída extremamente irritada.

- Eu estava tentando ajudar! – exclamou Rony indignado ao ver a amiga se afastar. – Ingrata...

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