Blind Spots






- Ponha essa. – interpelou a garota mais uma vez.

- Essa está boa. – cortou Hermione impaciente. Mas Giny não dera ouvido:

- Não, não está! – insistiu jogando mais uma blusa para a amiga.

- Giny! Pare.

- Esse casaco é muito grande!

- Está frio lá fora! – rebateu Hermione puxando o cachecol num gesto rápido puxou o casaco que ela retinha firmemente.

- Não custa nada você se produzir mais um pouco...

- Pra visitar Rony?!

- Bom.. Nunca se sabe...! Quem você vai ver, ou... – desconversou apertando um dos travesseiros de Hermione nas mãos. Esta demorou pouco mais de dois segundos para captar a intenção da menina:

- Ah... Eu estou vendo aonde isso vai dar! – cortou impaciente:

- Eu não disse nada!

- Giny eu realmente não tenho tempo para isso ok? – e voltando-se para a porta num repelão saiu antes que a garota pudesse revidar.

Fato que Giny estava sendo particularmente difícil de aturar nos últimos dias... Ou talvez fosse só Hermione, mas... Ela não podia deixar de notar o olhar cúmplice com o qual a menina a observava nos últimos dias. Como se ela, em toda a sua inteligência, estivesse deixando de notar algo bem de baixo do seu nariz... E ela não estava acostumada a tal.

Hermione gostava de pensar que como sempre, Giny estava completamente perdendo o bom senso, quando ela sugeria o que havia acabado de tentar sugerir novamente. Entretanto...

Se fosse sincera consigo mesma... Admitiria que, bom... – Hermione ponderou enquanto caminhava em direção à sala da monitoria. A mente completamente dissociada da ação.

Talvez fosse Rony.

Era definitivamente Rony.

Ele estava doente. E apesar dela própria, quando se encontrava na mesma situação, ter mantido sua rotina, o amigo não demonstrara tanta força de vontade. E novamente... Se ele não estivesse doente na enfermaria ela não teria que fazer aquilo todo dia!

Não que fazer aquilo todo dia estivesse realmente se mostrando um incomodo tão grande... E esse era provavelmente o motivo pelo qual aquilo se tornara tão embaraçoso. E Giny pareceu ter notado o aumento no tempo que ela dividia com... Ele.

- Rony. Por causa de Rony. – murmurou Hermione consigo mesma entrando na própria sala e caminhando até a mesa.

Sentando-se, observou sem realmente prestar muita atenção à bagunça que jazia à sua frente.

Certamente não esperara aquilo... Mesmo com a aproximação dos dois em prol do bem-estar de Rony. Normalmente os dois acabavam se batendo na enfermaria, ou nos corredores, voltando, ou indo para a enfermaria. Mas naquela mesma tarde, enquanto repassava seu exercício de Aritmancia, (diga-se de passagem, em uma paz subitamente interrompida), Potter caminhou até ela e sentou-se momentaneamente em silêncio.

Sério. Em silêncio. Total e completo. Ela, que definitivamente não estava acostumada com essa aproximação tão repentina, não pode deixar de erguer os olhos para ele e fita-lo por alguns segundos.

- O que...? – dissera, visto que após alguns segundos o garoto permanecera calado na cadeira à sua frente. Ele pareceu considerar por um momento, até que respondeu:

- Eu vou visitar Rony depois do almoço hoje.

- Ok. – rebatera, e aqui, Hermione tinha certeza que não havia se sucedido muito bem em esconder a confusão, visto que ele acrescentara logo em seguida:

- Bom, é só que... Agente sempre acaba se batendo no caminho. Eu achei que seria melhor se fôssemos juntos dessa vez. – e provavelmente ele notara a desconfiança dela, visto que continuou. – Só uma idéia, eu quero dizer.

- Claro. – respondeu sem nem pensar no que estava dizendo.

E agora, conjeturava ao observar a bagunça que se alojava na sua sala, agora talvez fosse tarde demais.

Acabado. Finito.

Ou...

Ela simplesmente estava viajando de vez naquela história toda. Ela poderia estar fazendo uma tempestade em copo d’água, e nada daquilo acabaria onde ela imaginava que pudesse acabar.

E... Ela estava divagando. De novo. E... Droga!

Uma batida na porta fez Hermione erguer-se num salto. - Já? O que havia de errado com ele? Por que tinha que ser tão pontual? Ela nem estava preparada...

Emocionalmente...

- Oi.

- Ah. – murmurou Hermione, por falta de palavra melhor. Ou, talvez houvesse algo melhor para dizer sim... Tipo: “Vá embora seu filho da mãe, desgraçado, inútil monte de bosta!”.

E assim ela disse. Cormac fechou a porta atrás de si e riu abertamente, fazendo Hermione ferver de irritação:

- Vá embora!

- Eu vim te buscar pra ir comigo até Hogsmeade. – Hermione piscou.

- Você ensurdeceu ou o que? – retrucou Hermione. – Eu não vou a lugar nenhum com você e é melhor você sair daqui a não ser que queria outra detenção!

- Relaxe Granger! – retrucou sem esconder o enfado. – Eu só quero me desculpar...

Hermione, que havia dado as costas e se ocupava em arrumar uma pilha de papéis na mesa, parou momentaneamente:

- Verdade?

- Bom, não. – respondeu sem demonstrar em um pouco de remorso. – Na verdade eu só achei, que nós poderíamos, sabe... Depois da festa, agente não pôde...

Ele se aproximou pressionando-a contra a mesa. E dessa vez, Hermione estava bem longe de bêbada, por isso, não se fez de rogada em deixar escapar um gemido de enojamento:

- O que?! Sério?! Sério?! – rebateu revoltada, empurrando o garoto contra a parede. - Sai pra lá!! – exclamou afastando-o com toda a força. McLaggen, que obviamente não previra aquela reação cambaleou por um momento.

Dada diferença de tamanho entre ele e a garota, realmente não esperava que ela pudesse se mostrar tão violenta... E não parecia disposta a parar:

- Ouça! Eu tenho coisas muito mais importantes e preocupantes a lidar sem você me perturbando! - retrucou Hermione num acesso de ira, sacudindo o dedo erguido para cima dele. - E é melhor que essa seja última vez que você me enche a paciência McLaggen, ou eu juro que consigo uma suspensão, ou uma expulsão pelo que você fez!

- Hum, hum. – Harry parou no vão da porta com um ar intrigado e levemente irritado. Pode ouvir os gritos do corredor, e se exasperara ao notar que ninguém havia se dado ao trabalho de checar a origem do barulho... – Eu estou interrompendo alguma coisa?

Seus olhos foram de Cormac, (surpreendentemente) acuado na parede, enquanto Hermione, que parecia ter notado a sua presença, afastou-se num impulso, respirando fundo, claramente irritada.

- Ela me atacou.

- O que??!!

- Hei! Espere, não! Granger... – Harry adiantou-se para a garota. Dando meia volta, sentindo o sangue subir-lhe a cabeça novamente, Hermione avançou sem pensar duas vezes. – Calma! Hei, hei!

Harry se interpôs entre os dois, visto que hermione avançara sem hesitar e agora sacudia os braços, claramente pretendendo machucar o garoto que meramente ergueu as sobrancelhas.

- Me larga! - exigiu Hermione. A cena seria até engraçada, não fosse o fato de que Harry se encontrava ocupado demais a segurando para que pudesse rir de algo. Segurando os pulsos da garota firmemente, retrucou para Cormac que meramente observava a cena:

- Vá embora Cormac! Ou eu... – Hermione fez menção em soltar-se sacudindo os braços sem muito efeito. – Eu deixo que ela te encha de bolacha...! – e aqui ele parou por um momento. – Com os pulsos fracos e finos dela... – ponderou ao observar que de fato, ela apesar de ultrajada era realmente de modo considerável, bom... Pequena e fraca.

Ele não se moveu.

- Só vá embora! – exigiu Harry. E após alguns segundos observando Hermione em pé de guerra, ele caminhou até a porta fechando-a atrás de si.

Harry afrouxou os próprios punhos sobre os dela e fitou-a incrédulo:

- Eu estou bem! – rebateu Hermione antes que ele dissesse qualquer coisa.

- Você tem certeza? – insistiu com um ar desconfiado.

- Olhe! Eu posso tomar conta de mim mesma sozinha ok?!

- É eu notei... – Hermione voltou-se para ele que a fitou calado. E então, um súbito acesso de irritação e impaciência tomou conta dele. Virando-se de costas, cruzou os braços, e sentou-se no sofá.

- Vamos só checar Rony de uma vez, certo? – murmurou Hermione apanhando o casaco e colocando com rapidez.

- Que seja. – resmungou Harry levantando-se.

Mantendo-se em silêncio enquanto ambos desciam as escadas e tentando, a custo, restringir a irritação, Harry não pôde deixar de se perguntar por que ela já não havia reportado Cormac a alguém... Logo depois da festa pra ser mais exato... Quero dizer... – Harry voltou-se para a garota olhando de esguelha.

Ela massageava os pulsos, apesar de fitar o corredor caminhando a passos largos. Seus pensamentos desviaram-se consideravelmente e ele murmurou observando os gestos dela:

- Desculpe por isso. – disse. – Mas você deveria saber que aquela não foi uma boa idéia... – acrescentou pondo as mãos nos próprios bolsos.

- Er... Certo. Eu só, quero dizer, ele... – tateou Hermione, com a sensação desconfortável de que corava.

- Se ele está te perseguindo, você tem que avisar a alguém. – cortou Harry soando mais afetado do que gostaria. Hermione parou e voltou-se para ele. Os dois haviam chegado à enfermaria:

- Ele não está... Ele só est.... – a garota parou e considerou por um momento. – Olhe... Será que dá pra você ao comentar nada...? Com Rony eu quero dizer...

- O que? – rebateu Harry exasperado. O que quer que fosse que planejasse fazer certamente não incluía esconder o acontecido de Rony. Na verdade, tinha em mente algo mais similar a contar os detalhes do ocorrido, e junto com ele pensar em uma forma de dar uma lição em McLaggen...

- Ora, vamos! – atirou Hermione, agora se sentindo levemente impaciente.

- Você quer que eu minta?

- Não! Só não fale nada...

- Ou seja: minta. – constatou Harry.

- O que você tem haver com isso de qualquer forma? – rebateu com uma pontada de arrependimento alguns segundos depois. Harry calou-se.

E então, mais por sentir-se profundamente ofendido que qualquer outra coisa retrucou:

- Ele é meu amigo. Se ele perguntar, eu não vou mentir pra você. – retrucou entrando logo em seguida.

- Hei cara. – murmurou Rony com um esgar. Harry forçou um sorriso e caminhou até o amigo que se encontrava na última maca:

- Oi. – respondeu. Hermione entrou logo em seguida. Harry voltou-se para a garota, que obviamente fazia esforço para esconder o fato de que ambos haviam acabado de discutir.

- Hei Rony! Como você está se sentindo? – perguntou fitando o amigo.

Rony não parecia muito bem...

- Atchim! – ambos deram um passo para trás. Rony pareceu não notar. Levando um lenço branco ao rosto ele esfregou o nariz fazendo um barulho esquisito.

- Você não parece bem... – comentou Harry franzindo a testa.

- Eu esdou bdem... – disse ele demonstrando irritação.

- Madame Pomfrey disse que você tem que ficar mais alguns dias... – mas Rony não deu muita atenção, voltando-se num repelão para a garota:

- Isso é culpa sua! – atirou cobrindo o rosto e assoando o nariz novamente.

- Minha? – rebateu Hermione extremamente ofendida.

- Você be deixou doende! – insistiu num resmungo.

- Ela continuou indo às aulas quando ficou doente... – comentou Harry displicentemente. De fato, Hermione demonstrara mais fibra que o amigo, considerando o estado em que se encontrava largado na cama.

- Oh, Rony, pelo amor de Deus! – rebateu Hermione cruzando os braços num ar desdenhoso. - Todo mundo já melhorou!

- Fora você... – acrescentou Harry sentando-se em uma das cadeiras ao redor do leito. Houve um momento de silêncio, até que Rony voltou-se para Harry parecendo ofendido:

- Por que bocê esdá do lado dela? – questionou. Harry respondeu rapidamente:

- Eu não estou! – tratou de esclarecer. Houve um outro momento de silêncio. Harry nada disse. Hermione, que se mantinha em pé do outro lado observou-o por um segundo. Ele ergueu os olhos e fitou-a.

Estava mais que claro para ela que o garoto desejava profundamente contar o ocorrido na sala de monitoria alguns minutos atrás. Sabendo que não havia muito que se fazer para impedi-lo, Hermione sentou-se contrariada voltando o rosto para os jardins.

Harry encarou a menina. Rony realmente estava de mau humor... Não podia culpá-lo, qualquer um estaria de mau humor se passasse uma semana num leito de enfermaria sem fazer nada o dia todo. Especialmente com Madame Pomfrey no seu calcanhar... Talvez... Talvez ele não devesse falar nada.

Não que estivesse desistindo de fazer algo a respeito. Mas... Mesmo sabendo que nunca admitiria (pelo menos não na frente dela) concordava com a garota quando dizia que Rony faria uma besteira se soubesse que McLaggen ainda a estava perseguindo... – Harry se debatia com a decisão de acobertar ou não a garota, quando antes que pudesse dizer qualquer coisa, Rony tomou-a nas próprias mãos:

- E McLaggen? – Hermione voltou-se da janela para o amigo num salto, e então, para Harry logo em seguida. Ele tinha os olhos fixos nela. Provavelmente esperando o momento certo pra se intrometer na sua vida de vez.

- Hãn...? – desconversou Hermione. Talvez fosse um pouco mais convincente se não houvesse demorado quase dez segundos para responder. Entretanto, Rony parecia conhecer a amiga muito bem para confiar em qualquer resposta vinda dela, de modo que se voltou para Harry ignorando-a:

- Ele dão ingomodou de dovo dão dé? – interrogou com um ar ameaçador na medida do possível. Harry piscou e voltou-se para Rony:

- Er... E - eu não sei. Eu não o vi. – completou encarando Hermione que o fitou por um momento.

Hermione não podia dizer que não estava ligeiramente surpresa com a atitude do garoto. E mesmo sabendo com um resquício de irritação que aquela história toda nada tinha haver com ele... Até que o gesto não fora de todo ruim, de fato... Ele até que foi... Gentil, certo...? – afastando tais pensamentos, levantou-se com um aceno e tratou de arranjar um modo de sair dali o mais rápido possível:

- Bom... Er... Está ficando tarde e eu ainda tenho que revisar uns... E – eu tenho que ir e... Isso. Então eu... – Harry ergueu-se também. – Eu passo amanhã de manhã, ok?

- Certo... – murmurou Rony, apesar de não parecer muito contente com a súbita partida dos dois.

- É eu também já vou... – acrescentou Harry logo em seguida.

- Já? – despejou Hermione, acrescentando logo em seguida. – Certo... É, ok. – e caminhando até a porta saiu seguida de perto por ele.

Talvez fosse o fato de que por alguma razão não se encontrava muito confortável ali, e simplesmente queria se afastar o máximo possível. O fato foi que já seguia pela metade do corredor sem nem ao menos se despedir, quando ouviu o garoto chama-la de volta:

- Espere! – Hermione parou. Uma sensação de peso no estômago muito pouco característica tomou conta dela ao dar meia volta. Se perguntando por que diabo não fingira não ter ouvido respondeu:

- Sim...? – ele pareceu indeciso por alguns segundos.

Harry considerou.

- Bom... Eu estou indo para o povoado e... Eu achei que você poderia... – tateou.

- Oh...! – murmurou Hermione. E para seu horror, foi tudo que conseguiu dizer.

- Se você quiser. Quero dizer...

- Certo. Digo, não... – Hermione calou-se. O que havia de errado com ela? – Eu só... Eu não acho que seja uma boa idéia...

- Ah... Bom, ok então...

- Ok.

- Bom... Agente se vê por aí. – murmurou Harry mais desconcertado do que gostaria. – Tchau então.

Hermione observou enquanto ele dava as costas e seguia pelo corredor descendo alguns lances de escadas e rumando para a entrada principal.

Ok.

Talvez houvesse um pedacinho dela que dizia que havia uma grande possibilidade de que futuramente se arrependesse daquilo. E desejaria não ter feito. Era um erro. Grande, estúpido e...

Era um erro. Ela ia se arrepender... Entretanto...

- Espere! – Harry parou e se voltou fitando-a, ela não conseguiu definir muito bem o que passava na cabeça dele, entretanto ele murmurou com um meio ao vê-la se aproximar:

- Mudou de idéia?

- Eu preciso de penas novas. – justificou-se Hermione acelerando para acompanhar-lhe o passo quando os dois alcançaram os jardins. Harry ergueu as sobrancelhas. – Eu preciso!

- Tudo bem. – respondeu simplesmente, apesar de não esconder uma risada.

- Tá...

- Você precisa de penas novas...

- Preciso. – confirmou Hermione.

- Ok então! – acrescentou puxando a jaqueta mais para si e pondo as mãos nos bolsos.

- Ok! – rebateu Hermione num tom confirmativo e ao mesmo tempo desafiador, ele não respondeu. Entretanto, ela não pode deixar de notar que o meio sorriso ainda não havia se esvaído de seus lábios.

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