"De um jeito diferente"



Hermione se enrolou com a toalha comprida e felpuda e encarou o espelho embaçado. Com um gesto rápido, passou a mão esquerda se esforçando para enxergar algo. Levara o que pareceram ser horas para tirar aquela lama do corpo...

- Hermione! – chamou Lilá com ligeira irritação na voz. – Hermione!

- O quê?- respondeu a garota saindo do banheiro rapidamente. Ela não estava de bom humor...

- É verdade? – questionou a menina sacudindo os cabelos longos e loiros para trás e observando Hermione como se ela houvesse cometido algum crime. – Essa lama no seu pé! – apontou ela chocada. E parando um momento como se descobrisse algo, reclamou exasperada. – Hermione! Qual o seu problema?!- supondo que aquela fosse uma pergunta retórica, dados os acontecimentos daquela tarde, Hermione não respondeu e se voltou para a gaveta em busca de uma roupa descente para usar.

- Lilá você tem um ponto a chegar? Porque eu realmente não estou com muita paciência...

- Parvati está fula com você sabia?

- Serio? – desdenhou. – Eu me pergunto por que...

- Eles iam para Hogsmaede amanhã! E você o mandou pra detensão! Eu não acredito que você seja tão insensível ao ponto de não dar a mínima para sua amiga... – apelou Lilá.

- Bom... – começou Hermione calçando um dos sapatos. – Primeiro, eu não lembro quando exatamente foi que Parvati começou a me considerar uma amiga... Segundo, felizmente, ao contrário do que parece, as minhas ações não giram necessariamente em torno da vida amorosa dele. Então... Eu acho que a minha consciência está limpa... – encerrou Hermione se levantando e seguindo em direção à porta. – Agora se você me dá licença, eu tenho mais o que fazer além de ficar ouvindo essa baboseira.

- Ao abrir a porta, Hermione pode ouvir o imenso murmúrio que corria na comunal. Obviamente, todos estavam comentando seu “pequeno” incidente durante a aula de Hagrid...

Era um dia claro, a manhã estava bonita... E ela definitivamente estava de bom humor... O ano estava acabando, e seu amigo, Rony, a convidara para passar férias no que chamara de “Toca”. (supostamente sua casa) Ela não conhecia ninguém lá, nem mesmo a irmã dele, que estudava no quarto ano também da Grifnória... Mas pelo que ele dizia, parecia extremamente divertido.

Ela gostava de Rony... Ele era um ótimo amigo... Meio desajustado, e até irresponsável, verdade, mas ela gostava de pensar que esse fator surgia mais das (ou da) influencias do outro amigo dele... E já que infelizmente, nada em sua vida era um mar de rosas... Ele era (como quase que sempre) o motivo pelo qual aquela manhã agradável caminhara para uma tarde desastrosa... Harry Potter.

Apesar de tal sentimento não ser totalmente compreendido pela maioria das pessoas (de um ponto de vista feminino claro) ela não gostava dele. Nunca gostara, e não ia ser ali, naquela hora que ela começaria a gostar. De fato, era difícil para Hermione compreender como Rony conseguia manter uma amizade tão sólida com alguém tão insuportável como ele... E a verdade, bem sabia, era que o sentimento de desgosto definitivamente era recíproco, o que tornava coisas como uma discussão no meio da aula ainda mais simples. E foi exatamente isso que aconteceu...

Hagrid havia acabado de passar um ensaio sobre as criaturas que eles estavam estudando no momento... Atualmente, os alunos se ocupavam em estudar os hábitos dos Flobberworms. Vermes terrivelmente nojentos, motivo pelo qual havia uma espécie de tanque enorme cheio de lama no meio dos alunos.

Chamando os alunos pela chamada, Hagrid foi organizando a turma em duplas, e para o horror não só dela, como o de Potter também, os dois acabaram por formar uma dupla. Amaldiçoando o dia em que sua mãe decidiu chama-la de Hermione, ela seguiu com cara de poucos amigos e se postou ao lado do garoto ouvindo as instruções necessárias para encerrar com aquilo de uma vez. O trabalho em si não era necessariamente árduo. Entretanto, a companhia não ajudava muito por assim dizer. O fato era que no segundo seguinte, ambos soltavam acusações e ofensas um ao outro numa altura relativamente grande, pelo menos o suficiente para que a turma inteira ouvisse...

- Oh me desculpe... – ele retrucou em voz alta, com visível sarcasmo. – O que você vai fazer? Jogar um dos seus livros em mim? – a pergunta arrancou várias risadas da turma que agora observava a cena.

Hermione não pensou duas vezes. Num movimento rápido e inesperado empurrou o corpo do garoto no tanque ao lado, lotado de vermes. Foi quando ela própria se preparava para acompanhar as risadas de todos ao redor que ela sentiu o puxão vindo do seu braço direito... Aí já era tarde demais, sentindo a roupa suja, e lama por todo o seu cabelo ela se voltou para o garoto sentado ao seu lado. Ele ria, aberta e irritantemente. E o fato dele próprio estar literalmente na lama com ela não importava, porque tudo pra ele não passava de uma grande brincadeira. E por isso, além de outras várias razões, ele era exatamente o tipo de pessoa arrogante e irresponsável que ela odiava.

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- Eu a odeio! – berrou Harry a plenos pulmões.

- Não odeia não. –retrucou Rony com tom monótono ao seu lado. Harry acabara de sair do banho e caminhava irado de um lado para outro no dormitório.

- Odeio sim! – insistiu Harry pegando o pomo novamente em suas mãos e soltando-o em seguida.

- Não, você não odeia... Ela é uma garota, você não odeia garotas. – apontou Rony racionalmente. - E guarda esse pomo, isso é irritante...

- Não, ela não é uma garota... Ela é um nível completamente diferente de ser humano!- reclamou ele exasperado. – Ela devia ter nascido com cinco cabeças, um rabo e um monte de escamas pelo corpo, eu estou dizendo! Aquela garota é uma aberração!

- Honestamente... Eu não vejo o porquê de vocês se odiarem tanto... - ponderou Rony observando o teto do dormitório. – Ela é uma garota legal... Se vocês parassem pra conversar um pouco se dariam bem, eu estou dizendo...

- Eu acho difícil de acreditar... – resmungou Harry. – Eu tinha um encontro amanhã... – protestou frustrado.

- Ah claro... Agora eu entendi... – retrucou o amigo enfadonho. – Bom, eu suponho que você se recupera rápido...

- Esse não é o problema. – continuou Harry ainda mais irritado. – Como é que você consegue? Ela é insuportável...

- Bem, ela não é assim tão detestável quanto você pensa... Só com você claro... E Malfoy, mas eu acho que esse não conta, então...

- Oh, eu fico feliz em saber que existe alguém que me compare com ele... – ironizou Harry. - Sabe de uma? Não importa mesmo... – acrescentou Harry se acalmando quase que de imediato. – O verão está chegando e felizmente eu não vou ter que aturar isso por muito mais tempo... – comentou pegando uma camisa na gaveta e vestindo casualmente. – Nós ainda vamos pra Toca não?

- Vamos? – questionou Rony meio inseguro.

- Claro que sim. Por quê?

- Bem... É só que, bom... Seus pais, vocês estão sempre...

- Eu sei... – cortou Harry. – Eles vão passar lá depois...

Harry sabia do que o amigo estava falando... Ele odiava admitir, mas o fato era que ele já havia se acostumado à rotina da sua família. Era como se eles estivessem constantemente fugindo de algo, e a pior parte era que nem seu pai nem sua mãe parecia fazer muito gosto em contar para ele a verdade sobre o que estava acontecendo...

Verdade que, pelo menos desde que Harry se entendia por gente ele sabia que estavam em perigo, afinal o Ministério não significava muito no que se refere à Voldemort... Motivo pelo qual toda a sociedade bruxa vivia sob constante ameaça dos comensais da morte e de seus outros seguidores. Ainda sim, ele não via a família de Rony mudar de cidade a cada mês... Harry agradecia ao fato de que pelo menos nesse verão ele não seria obrigado a passar três meses enfurnado na casa do padrinho, que mais parecia um buraco que qualquer outra coisa... Não que ele tivesse algo contra Sirius ou Lupin, a companhia deles era sempre bem vinda, mas ainda sim, não era o mesmo que passar as férias de verão com seu pai...

- Então você vai mesmo? – perguntou Rony novamente como se precisasse de confirmação.

- Vou, eu já disse... Por que? – questionou Harry desconfiado.

- Não, por nada...

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- Harry! Espere! – ambos, Harry e Rony caminhavam para o salão principal para o café da manhã antes do retorno para asa quandp ouviram uma voz feminina atrás deles. Com um suspiro de impaciência Harry se voltou à contra-gosto. – Oi Rony... – comentou a garota ligeiramente afobada.

- Oi Parvati... – respondeu Rony num tom monótono, e se voltando para o amigo que parecia tão ansioso quanto ele para chegar à mesa. – Eu já vou então ta?

- Não! Quero dizer... Eu já vou também... Você fica. – disse Harry com um ligeiro desespero que logo foi captado pelo amigo, acenando positivamente logo em seguida, apesar de não poder conter um sorriso zombeteiro...

- Então... – continuou a garota agora se apressando para acompanhar os passos dos dois. – Vocês vão passar as férias aonde?

- Er... Na casa de Rony... Certo? – disse Harry se voltando para o amigo em busca de apoio.

- É sim... – respondeu Rony se apressando para chegar à mesa e sentando-se ao lado de Hermione que se ocupava com seus ovos mexidos.

- Então... E-eu tenho que ir agora... Te vejo depois das férias certo? Tchau! – disse Harry dando meia volta e seguindo para a mesa antes mesmo de ouvir qualquer resposta da garota. Sentando-se de frente para o amigo ele se voltou rapidamente para o prato de bacon a sua frente.

- Sabe... Se você não gosta dela é só dizer... – comentou Rony, que não sabia se ria da cara do amigo ou se compadecia da situação da garota.

- É eu suponho que sim... – comentou Harry sem dar muita importância. – Mas aí você tem que lembrar que em se tratado dela, tudo que eu disser vai parecer um “sim”, então pra quê se preocupar?

- Hum... – um ligeiro resmungo se fez ouvir na mesa.

- O que? O que foi agora? – Harry pode ver de relance o amigo respirar fundo impaciente, apesar de sua atenção estar voltada agora para a garota ao lado dele.

- Você nunca se cansa de tratar garotas como lixo não? – perguntou Hermione com uma forte entonação na voz.

- Bem... Eu acho que nunca ouvi nenhuma reclamação...

- Não é como se você tivesse parado para ouvir não?

- Hei... Dá pra parar? – reclamou Rony com impaciência. – Vamos... É verão!- tentou o garoto meio sem esperanças ao observar as expressões não muito alegres de ambos seus amigos. – Não? Ok então... Que tal só comer em silêncio então hãn? Certo...

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