Sinal das Trevas



— CAPÍTULO TRÊS —
Sinal das Trevas




Antes de dormir, Hermione, Harry e os Weasley, animadíssimos como todo o resto do acampamento, ainda tomaram uma xícara de chocolate na barraca antes de dormir. Depois, Hermione e Gina foram para a barraca vizinha e deitaram-se. Não dormiram por muito tempo, porém.
A voz do Sr. Weasley arrancou Hermione das profundezas do sono. Ele gritava, com urgência:
— Gina! Hermione! Acordem! Peguem um casaco e venham para fora, agora!
As duas levantaram-se sobressaltadas. Era possível ouvir gritos de pânico e uma movimentação de pessoas correndo. Elas vestiram casacos por cima das camisolas e saíram ao encontro do sr. Weasley. Ele ordenou a elas, Rony, Harry, Fred e Jorge que corressem para a floresta para esconderem-se, juntos, enquanto ele e os três filhos mais velhos ajudariam o ministério.
O motivo do tumulto estava bem no centro do acampamento: homens encapuzados marchavam com as varinhas erguidas, fazendo pessoas flutuarem no ar e ateando fogo em barracas. Os seis correram em direção à floresta, enquanto pessoas corriam em todas as direções, gritando, e crianças choravam assustadas. Hermione ouviu Rony berrar de dor, e correu até ele, que se encontrava esparramado no chão.
— Que foi? — perguntou, assustada.
— Tropecei em alguma coisa...
— Com pés desse tamanho, é difícil não tropeçar. — disse Draco Malfoy, parado ali por perto.
Harry também viera ver Rony e os três agora encaravam Malfoy, que estava encostado em uma árvore descansado, aparentemente assistindo ao desespero alheio.
— Vá para o inferno, Malfoy! — disse Rony, irritado, e chamou-o de um palavrão.
— Olhe o que diz, Weasley! Não é melhor se apressar? Não vai querer que peguem sua amiga, não é? — Malfoy apontou Hermione com a cabeça.
— O que quer dizer? — ela perguntou, em tom de desafio.
— Eles estão caçando trouxas, Granger.
— Hermione é uma bruxa! — Harry protestou, entre dentes.
— Mas eles podem reconhecer sangues ruins, vocês acham que não?
— Olhe você o que diz! — gritou Rony, enfurecido, e Hermione segurou-o pelo braço quando ele fez menção de avançar em Malfoy.
— Deixe pra lá, Rony — disse ela.
— Imagino que papai mandou vocês se esconderem? Ele está fazendo o quê, tentando salvar os trouxas?
— Onde estão os seus pais? — perguntou Harry. — Usando máscaras lá no acampamento?
— Se fosse, eu não iria lhe dizer, não é mesmo?
— Venham logo! — disse Hermione, puxando os amigos pelos braços.
— Aposto como o pai dele é um dos mascarados — disse Rony.
— Com sorte, será apanhado pelo ministério. — disse Hermione.
Eles andavam agora procurando Fred, Jorge e Gina, mas eles não estavam à vista em lugar algum.
— Não podem ter ido muito longe... — disse Rony.
— Ah não! — Harry exclamou de repente. — Perdi minha varinha!
— Será que você deixou na barraca? — Rony perguntou aflito.
— Ou será que caiu do seu bolso enquanto corríamos? — disse Hermione.
— Talvez...
Nesse momento, Hermione viu Winky saindo detrás de uma moita e correndo, desajeitada.
— Tem bruxos malvados aqui! — guinchou ela, com sua vozinha esganiçada.
— Por que ela está correndo desse jeito? — Rony perguntou, intrigado.
— Aposto como o dono dela não a deixou fugir. Sempre que Dobby fazia alguma coisa que pudesse desagradar os Malfoy, ele mesmo se castigava.
— Mas que horror! — Hermione exclamou com indignação. — Isso é escravidão!
— Mas Mione, — disse Rony — os elfos são felizes assim.
Hermione não podia acreditar na insensibilidade dele. Certamente, os elfos domésticos não conheciam a liberdade, portanto, conformavam-se com a escravidão. Disse, acaloradamente:
— É gente como você, Ronald, que sustenta esse sistema injusto e...
Houve um estrondo alto em algum lugar, interrompendo-a. Rony pareceu lembrar-se subitamente de algo muito importante, e disse, olhando-a com uma expressão irritada mas com uma perceptível nota de preocupação na voz:
— Será que podemos continuar andando?
Como ele continuasse a olhá-la, ela perguntou-se se ele estaria pensando no que Malfoy dissera sobre ela estar correndo mais perigo por ser descendente de trouxas. Os três seguiram seu caminho para o interior da floresta.
Viram, pouco depois, três veela paradas ali, no meio da floresta. Ao redor delas, um grupo de bruxos que gritavam feitos absurdos para impressioná-las:
— Ganho uns cem sacos de galeões por ano! Mato dragões para a Comissão para Eliminação de Criaturas Perigosas!
— Eu sou caçador de vampiros, já matei uns noventa até agora!
— Eu estou às vésperas de me tornar o Ministro da Magia mais novo de todos os tempos!
Hermione olhou-os com desdém; pareciam enfeitiçados. Inesperadamente, Rony avançou e gritou:
— Sabiam que eu inventei uma vassoura capaz de chegar em Júpiter?
Tomada por um ódio repentino, Hermione puxou-o bruscamente pelo casaco, exclamando:
Francamente!
Harry ajudou-a a virar Rony na direção oposta às veela, e os três adentraram mais e mais a floresta. Quando pararam, já deviam estar no coração da floresta; já não se ouvia mais nada nem havia ninguém por ali.
De repente, Ludo Bagman surgiu na frente deles, parecendo desorientado.
— O que estão fazendo aqui? — ele perguntou.
— Bem, está havendo um tumulto — disse Rony, um tanto perplexo.
— Quê?
— Alguns homens mascarados atacaram trouxas, estão todos correndo em pânico.
— Desgraçados! — exclamou Bagman, antes de desaparatar.
Hermione respirou fundo. Rony sentou-se no chão e tirou a figurinha de Vítor Krum do bolso, deixando-o andar sobre as folhas secas. Harry, como ela, permaneceu em pé.
— Só espero que estejam todos bem.. — disse ela, com a voz fraca.
Logo depois, ouviu o estalar de folhas sendo pisadas, e não era o barulho produzido pelo boneco de Rony. Olhou para os garotos, que lhe devolveram o olhar alarmado.
— Quem está aí? — Harry perguntou.
Hermione pôde distinguir um vulto que cambaleava por entre as árvores. Quem ou o que quer que fosse, não respondeu. Os três ficaram ali, olhando para todos os lados. Rony recolocou o boneco de Krum no bolso, mas continuou sentado. Até que, de repente, ouviram um grito:
MORSMORDRE!
Do lugar de onde viera a voz, um raio esverdeado disparou em direção ao céu e formou, lá em cima, uma enorme caveira, de cuja boca saía uma serpente, como se fosse uma língua. Hermione reconheceu o símbolo, já o tinha visto no livro Ascensão e Queda das Artes das Trevas: era a chamada Marca Negra, o sinal de Voldemort. Ela puxou Rony e Harry com urgência.
— Andem, vamos!
— Que houve? — Harry perguntou.
— A marca negra, Harry. O sinal do Você-Sabe-Quem!
Os três puseram-se a correr, mas de repente surgiram cerca de vinte bruxos ao redor deles, cercando-os completamente. Harry puxou Hermione e Rony para baixo pouco antes de todas aquelas vozes dizerem, juntas:
ESTUPEFAÇA!
— Parem! — era a voz do sr. Weasley. — É o meu filho!
Hermione reconheceu Bartô Crouch À frente dos bruxos que os tinham atacado. Ele continuava a apontar-lhes a varinha, um brilho desvairado nos olhos, e disse:
— Qual de vocês conjurou a marca? Qual dos três? Foram pegos na cena do crime!
— Perdeu o juízo, Bartô? É claro que não foi nenhum deles. — disse o Sr. Weasley, e depois, virando-se para os três, perguntou: — De onde ela veio?
— Dali — Hermione apontou. — Alguém estava cambaleando por trás daquelas árvores e gritou algo parecido com uma fórmula mágica, e então...
Crouch apontou a varinha para ela.
— Está bem informada a senhorita, não?
Ninguém deu atenção à acusação de Crouch; ocuparam-se em procurar alguém na direção que Hermione indicara. Amos Diggory encontrou alguém; ele voltou de trás das árvores, trazendo o corpinho inerte de Winky.
Iniciou-se uma discussão sobre se teria sido possível que o elfo doméstico de Crouch tivesse conjurado a marca negra. Hermione meteu-se na discussão algumas vezes para defender Winky, alegando que ela simplesmente fugia tentando salvar-se.
Crouch ficou furioso com Diggory, dizendo que se estavam acusando seu elfo, o estavam acusando também. Diggory ainda mostrou uma varinha que tinha encontrado perto de Winky.
— Ela pode ter usado esta varinha.
— É minha! — Harry exclamou.
— Perdão? — perguntou Amos Diggory. — Isso é uma confissão?
— Como assim confissão? Eu simplesmente a deixei cair no chão.
— A deixou cair depois que conjurou a marca negra?
— Amos! — protestou o sr. Weasley. — Você acha que Harry Potter conjuraria a marca do Você-Sabe-Quem? Por favor, é só um garoto! Todos eles são só garotos!
— Desculpem, acho que me empolguei...
— Agora, se me dão licença, nós vamos indo. Venham, vocês três!
Hermione olhava Crouch, que estava dizendo a Winky que ela seria demitida; ela chorava e tremia convulsivamente, implorando ao dono que não o fizesse. O sr. Weasley chamou: — Hermione! Venha!
Ela alcançou-os, ainda pensando em Winky. Seguiram em silêncio até as barracas. Tudo estava calmo agora, embora ainda houvesse fogo em alguns lugares. As pessoas já tinham parado de correr e gritar, e agora voltavam às suas barracas.
— Vamos, entrem todos — disse o sr. Weasley, ainda tenso, quando chegaram às barracas.
Gui, Percy e Carlinhos estavam com alguns machucados. Já Fred, Jorge e Gina não, mas estavam muito abalados. Hermione ainda sentia o próprio corpo tremer; ela e Gina abraçaram-se, uma tentando acalmar a outra.
— Conseguiu descobrir quem conjurou a marca, papai? — perguntou Carlinhos.
— Não...
O sr. Weasley explicou tudo o que acontecera na floresta. Percy iniciou um discurso contra Winky.
— O sr. Crouch tem toda a razão de querer livrar-se de um elfo desses! — disse.
Hermione então discutiu com ele, defendendo Winky. Normalmente, os dois davam-se muito bem, tinham em comum o fato de serem estudiosos e a preocupação de respeitar regras. Foi Rony quem interrompeu a discussão, antes que ela atingisse maiores proporções, exigindo maiores explicações sobre a marca negra.
— Ela não era vista há treze anos — explicou o sr. Weasley. — As pessoas entraram em pânico, pois foi quase o mesmo que rever Você-Sabe-Quem. Era o símbolo que ele e seus seguidores projetavam no céu sempre que matavam alguém.
— Quando a viram, — disse Gui. — os comensais da morte se assustaram, e desaparataram antes que pudéssemos nos aproximar para arrancar-lhes as máscaras.
— Comensais da morte? — perguntou Harry.
— O nome que os seguidores de Você-Sabe-Quem davam a si mesmos — explicou Gui.
— Se assustaram? Como pode ser, se eles são comensais da morte? Não deveriam ter ficado felizes em ver a marca? — Rony perguntou.
— Use os miolos, Rony. Se eles eram realmente os Comensais da Morte, se viraram de todo o jeito para não serem mandados para Azkaban quando Você-Sabe-Quem perdeu o poder, e contaram um monte de mentiras de que ele os forçara a matar e torturar gente. Aposto como sentiriam ainda mais medo do que nós ao ver que ele estava voltando. Negaram que estivessem metidos com Você-Sabe-Quem quando ele perdeu o poder e voltaram às suas vidinhas de sempre... acho que o Lord não ficaria muito satisfeito de ver essa gente, não é mesmo?
— Então... — disse Hermione. — Quem conjurou a marca estava manifestando apoio ou tentando afugentar os comensais da morte?
— Seja como for, — disse o sr. Weasley. — somente os comensais eram capazes de conjurar a marca negra. A pessoa que a conjurou esta noite provavelmente era um, mesmo que não o seja mais. Mas agora... agora já é muito tarde. Vamos dormir mais um pouco para ver se pegamos um portal bem cedo amanhã.
Hermione deitou, mas dormiu muito mal. Teve pesadelos que misturavam o velho sonho com a profa. Trelawnay, os comensais da morte e a marca negra.

Antes do amanhecer do dia seguinte, Hermione já estava com os Weasley e com Harry ao redor de um pneu velho, que os transportou de volta ao topo do morro Stoatshead. O grupo andou em silêncio por algum tempo. Quando aproximaram-se da Toca, a sra. Weasley estava na porta, e disse:
— Oh, graças a Deus, graças a Deus!
Ela correu até eles com um jornal na mão, e abraçou a todos começando pelo marido e pelos filhos. O jornal caiu no chão e Hermione viu uma foto grande da marca negra pairando no céu, com o título: “Cenas de Terror na Copa Mundial de Quadribol”. Ela ofereceu-se para fazer um chá forte para a sra. Weasley, enquanto o sr. Weasley comentava com os filhos sobre a matéria no jornal.
— Tinha de ter sido escrito por Rita Skeeter — disse Percy, indignado. — Ela vive implicando com o ministério, sempre acha um jeito de nos culpar por tudo.
— Sra. Weasley — Harry perguntou, de repente. — Por acaso a senhora viu se Edwiges chegou?
A sra. Weasley pareceu surpresa com a pergunta.
— Não, querido... Está esperando uma carta?
Hermione e Rony entreolharam-se e depois olharam para o amigo, que lhes retribuiu o olhar, dizendo:
— Rony, você se importa se eu for lá em cima deixar as minhas coisas?
— Claro que não — respondeu o outro. — Acho que eu também vou.
Hermione compreendeu que eles conversariam sobre alguma coisa, e foi junto. Já no quarto de Rony, Harry fechou a porta e disse:
— Tem uma coisa que eu não contei a vocês.
Harry explicou que durante as férias tinha tido um sonho com Voldemort; um sonho em que ele conversava com Rabicho, sobre matar alguém. E que logo depois ele acordara com sua cicatriz na testa ardendo.
Hermione olhou para a testa dele, num movimento automático; ela tinha um formato de raio e tinha sido feita nele quando era apenas um bebê, pelo próprio Voldemort. Por alguma razão, o bruxo não conseguira fazer-lhe dano maior do que a cicatriz, embora o tivesse tentado matar. Por tal razão, Harry passara a ser conhecido no mundo dos bruxos, que o chamavam de “o menino que sobreviveu”.
As palavras que Sibila Trelawnay repetira incessantemente em seus sonhos na noite anterior surgiram-lhe agora, como um mau agouro: “Tempos difíceis virão”.

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