Labirinto



— CAPÍTULO VINTE E DOIS —
Labirinto




O nervosismo de Hermione ia crescendo tanto com o passar da tarde que ela mal conseguiu se concentrar nos outros dois exames que tiveram. Na hora do jantar, o barulho nas mesas era intenso, todos estavam excitadíssimos com a iminência da última tarefa. Ela chegou com Rony ao salão principal e sentou-se à mesa da Grifinória com o mesmo grupo do almoço. Junto com os professores estavam Ludo Bagman e Cornélio Fudge, que substituiria Crouch ao invés de Percy desta vez. A sra. Weasley explicara que havia suspeitas de que as corujas que o filho recebia com instruções poderiam não ter sido mandadas por Crouch. Ao final do jantar, Dumbledore levantou-se e todos ficaram em silêncio para ouvi-lo.
— Senhoras e senhores, dentro de cinco minutos vocês devem se dirigir ao campo de quadribol para assistir à terceira e última tarefa do torneio Tribruxo. Os campeões devem acompanhar o sr. Bagman até lá agora.
Harry levantou-se, e Hermione sentiu uma fisgada no estômago de preocupação com o amigo. Ela e os Weasley desejaram-lhe sorte, e ele seguiu com Krum, Fleur, Cedrico e Bagman. Cinco minutos mais tarde, os ocupantes do salão principal começaram a se levantar e a se dirigir para o campo de quadribol como Dumbledore dissera.
Hermione sentou-se com os Weasley mais ou menos no meio da arquibancada, e tão logo o movimento de pessoas chegando parou, Ludo Bagman anunciou as pontuações e o início da tarefa. Como estavam empatados em primeiro lugar, Harry e Cedrico entraram no labirinto antes dos outros. Depois entrou Krum e, por último, Fleur. Hermione sentiu alguma coisa peluda roçar em sua perna, e logo em seguida deu de cara com Bichento, subindo em seu colo.
— O que está fazendo aqui, Bichento? Você precisa ficar dentro da escola!
— Ele quer assistir à tarefa — disse Rony, sorrindo.
O gato parecia nervoso, parecia querer passar alguma mensagem.
— Que houve com você, está machucado?
— O que há com ele? — Rony perguntou. — Será que comeu um rato estragado?
Bichento começou a puxar a roupa de Hermione insistentemente.
— Agora não, Bichento! — ela disse, nervosa, mas o gato continuou a puxá-la. — Você quer me levar a algum lugar? Mas a tarefa já começou, eu quero assistir!
Bichento não desistiu, e Hermione de repente teve um ímpeto de seguir o gato até onde ele queria levá-la.
— Espero que seja algo realmente importante, senão eu vou ficar furiosa com você!
— Ei, Mione, aonde você vai? — Rony perguntou, com um ar de desespero. — A tarefa! Deixe esse gato maluco para lá!
Mas ela não deixou. No ano anterior, Bichento tinha se tornado amigo de Sirius e ela pensou nesse momento que o gato queria levá-la até ele, afinal, não seria surpresa se ele tivesse resolvido vir para ver a terceira tarefa, já que estivera se escondendo em Hogsmeade.
Bichento seguiu correndo, com Hermione em seu encalço. Já era noite fechada agora, e não demorou muito para chegarem ao destino; o gato parou de correr à frente da porta da cabana de Hagrid.
— É aqui, Bichento?
O gato ronronou, e ela então se aproximou da porta e bateu. Não houve resposta. — Tem alguém aí? Sou eu, Hermione! — ainda não houve resposta. — Bichento, eu espero que não esteja brincando...
— Está sozinha? — disse uma voz, vindo de dentro da cabana.
Hermione recuou, a princípio, sem reconhecer a voz. Quando a porta abriu-se, porém, ela soltou o ar dos pulmões como se estivesse livrando-se de uma carga muito pesada.
— Sirius! — exclamou, numa voz fraca, sorrindo aliviada.
— Muito bem, amigo! — disse Sirius Black, tomando Bichento no colo e abrindo passagem para Hermione passar. — Nos vimos na floresta, eu estava na forma de cachorro, obviamente. Na verdade é arriscado ficar na forma humana, mas eu queria que vocês me vissem, que Harry soubesse que estou aqui.
— Agora é tarde... — ela disse, com pesar. — Não posso mais falar com ele, os campeões já entraram no labirinto... Mas, se você veio... É porque está preocupado, não é?
— Lógico, todos estamos. Você também parece preocupada.
— Não consegui dormir bem na noite passada... Hoje é a última chance de tentarem algo contra Harry... Se forem tentar, vai ser hoje. Estou tendo um colapso nervoso!
— Vocês já têm alguma idéia de quem pode ter posto o nome de Harry no cálice de fogo?
— Não... Quero dizer, Rony suspeita de Snape, mas ele sempre suspeita de Snape.
— Compreensível...
— E tem também Karkaroff.
— Pois é. Moody e Dumbledore estão de olho nele, é o principal suspeito de ter sido encarregado dessa tarefa...
— Encarregado? — perguntou Hermione, sentindo um calafrio.
— Isso mesmo. Temos quase certeza de que a pessoa que colocou o nome de Harry no cálice de fogo fez isso a mando de Voldemort.
— Você acha então que ele pode... voltar?
— Acho que o plano é esse, e se for bem-sucedido, ele voltará sim.
Hermione encolheu-se.
— Então não podemos deixar Harry continuar na competição! — disse, com desespero. — Se o plano envolve Harry, ele não pode continuar no torneio; não podemos arriscar deixar que o plano de Você-Sabe-Quem dê certo!
Sirius suspirou.
— Concordo, mas infelizmente as coisas não funcionam assim. O ministério continua insistindo que Harry permaneça no torneio até o final, por ter sido escolhido pelo cálice de fogo, pelo caráter contratual da escolha. E Dumbledore se julga capaz de garantir que nada aconteça a Harry.
— Mas é risco demais por uma competição! Uma competição idiota! — disse ela, com raiva, mas lutando para controlar a voz.
Bichento miou nos braços de Sirius, que acariciava sua cabeça.
— Também acho. É por isso que vim... Mas infelizmente preciso ficar escondido. — ele encarou as paredes da cabana. — Poderia usar a velha capa da invisibilidade do pai de Harry, mas Moody enxerga através dela, não é mesmo? Ele ainda não sabe que sou inocente. E se sair como cachorro por aí, pouco poderei fazer para ajudar.
Hermione sentia uma angústia que a consumia por dentro. Uma sensação horrível de impotência, de incapacidade.
— Queria poder fazer alguma coisa! — murmurou, desolada.
— Vá ver a tarefa. Fique de olho também, mais um par de olhos será de ótima ajuda. Qualquer coisa estranha venha me avisar, se puder... Agora vá. Deixe Bichento, para me fazer companhia.
Hermione andou lentamente a caminho do campo de quadribol, com medo de encontrar lá algo que não queria saber, uma notícia que não queria ouvir. Tudo o que viu, no entanto, foi uma platéia nervosa olhando para o labirinto por fora, enquanto os campeões estavam lá dentro abandonados à própria sorte. Voltou para seu lugar entre Rony e Gina.
— Onde você estava? — Rony perguntou. — Onde Bichento a levou?
Hermione não quis falar de Sirius perto de Gina ou dos outros Weasley, pois oficialmente ele ainda era um foragido.
— Não era nada demais — disse, com displicência. — O que eu perdi?
— Provavelmente muita coisa, mas o problema é que ninguém consegue ver nada aqui de fora. Portanto, você não perdeu nada que a platéia também não tenha perdido.
Era isso o mais preocupante; o que quer que estivesse acontecendo com Harry lá dentro, eles não saberiam. Com o passar do tempo, a platéia dispersou a atenção do labirinto, e as pessoas passaram a conversar gerando um barulho infernal.
— Que droga, nem que eles gritem lá dentro nós não ouviremos — disse Hermione, irritada.
Não muito depois, porém, aconteceu algo que calou a todos: faíscas vermelhas surgiram por entre as sebes. Hagrid, que montava guarda com outros professores ao redor do labirinto, entrou para socorrer o campeão que as tivesse disparado. Voltou algum tempo depois trazendo Vítor Krum e Fleur Delacour desacordados. Karkaroff e Madame Maxime avançaram até seus alunos, inconformados.
— Foram estuporados — Hermione entendeu Hagrid dizer.
Cada um dos diretores das escolas estrangeiras reanimou seu respectivo aluno, mas Krum parecia preocupado, ansioso em contar alguma coisa aos professores.
— O que será que ele está dizendo? — Hermione perguntou a Rony, nervosa.
— Deixe ele para lá, agora está entre Harry e Cedrico — disse Rony irritado.
— É em Harry que eu estou pensando! Talvez o que Vítor está querendo contar seja sobre ele! — ela retrucou. — Vou lá embaixo falar com ele.
— Mione!
Ela ignorou o chamado de Rony e desceu as arquibancadas até perto de onde estavam os professores. Dumbledore parecia agora extremamente alarmado, movendo-se para os lados em frente ao labirinto e procurando algo com os olhos. Incerta se poderia ou não estar ali, ela tentou fazer sinal para Krum, que demorou um pouco para ouvi-la, mas assim que percebeu aproximou-se.
— Como você está, Vítor?
— Estou pem, mas há algo estrranho acontecendo.
— Como assim?
— Alguém lançou em mim a maldiçon Imperrius.
— Como? Você já contou isso aos professores? Foi algum dos outros campeões?
— Non, eu non fi quem foi. Mas guarrdei uma vaga consciência durrante o tempo em que estava sendo contrrolado... Estuporrei Fleur e usei a maldiçon Crruciatus em Diggorry.
Hermione saltou.
— Como? Quer dizer que alguém tentou usá-lo para tirar os outros do caminho?
— Sim, só non sei com que prropósito.
Facilitar a vitória de Harry, foi o que ocorreu a Hermione. Mas quem poderia estar fazendo aquilo? Ainda mais utilizando-se de maldições imperdoáveis, cuja sentença para quem as usasse era a prisão perpétua em Azkaban. Seria a mesma pessoa que colocara o nome dele no cálice de fogo? Será que sempre o estivera ajudando com o objetivo de fazê-lo chegar até o final? Talvez houvesse um perigo guardado para Harry no centro do labirinto, e por isso houvera a tentativa de tirar os outros do caminho.
— Bagman... — murmurou, falando para si mesma.
Ludo Bagman oferecera ajuda a Harry por mais de uma vez, mas estivera sentado junto com os professores o tempo todo, não haveria como ter disparado a maldição contra Krum. O mesmo servia para Karkaroff, que não saíra dali por um instante sequer, além de que seria muito improvável que ele tivesse lançado uma maldição contra seu próprio aluno. — Bem, obrigada, Vítor... Quer ajuda para ir à ala hospitalar?
— Non, querro ficarr aqui assistindo até o final.
Ela acenou e saiu, voltando para seu lugar e narrando em sussurros a Rony o que Krum acabara de lhe dizer. Dali em diante sua apreensão só cresceu. Enroscou o braço no de Rony, trêmula, e apertou-o com toda a força. Ele não teve reação.
Passou-se o que pareceu ser uma eternidade, tempo em que a ansiedade de todos aumentou, pondo a platéia em silêncio absoluto e os professores a andarem por perto do labirinto, inquietos. Karkaroff e Maxime, que estavam fora da competição com a eliminação de seus alunos, continuaram sentados.
Passado mais um tempo, porém, Hermione olhou para a mesa e não viu mais Karkaroff, somente Madame Maxime. Procurou com os olhos nervosamente por todos os cantos do estádio, e não o viu. Agarrou novamente o braço de Rony.
— Karkaroff! — sussurrou, desesperada. — Onde está Karkaroff?
— Como vou saber? Talvez tenha ido levar um copo d'água para o Krum.
— Estou falando sério!
Puxando-o pelo braço, Hermione desceu as arquibancadas.
— Ei, aonde vamos? Quero ver a tarefa! — reclamou Rony.
— Não dá tempo de explicar, mas precisamos fazer alguma coisa!
Ela correu por trás das arquibancadas, trazendo Rony pelo braço, sem saber direito aonde deveria ir. Foi quando o som súbito da voz de Snape vindo de algum lugar bem perto a fez parar e fazer sinal para Rony ficar em silêncio.
— Veja, Dumbledore. — dizia o professor. — Está nítida como nunca, e está ardendo! O lord das trevas marcou cada comensal da morte com esse sinal no antebraço, e o sentíamos sempre que alguém era morto.
— Quer dizer então que você acha que ele está de volta e matou uma pessoa?
— Isso mesmo.
Hermione deu um salto, contendo um grito com a mão. Morto? Alguém morto? Olhou para Rony, que tinha no rosto uma expressão de pânico absoluto. “Harry!”, era o grito que ecoava na cabeça dela, e pela expressão de Rony, na dele também.
Snape continuou falando: — Karkaroff sentiu o mesmo na marca dele, e fugiu imediatamente. Ele tem medo de ser punido por ter traído Voldemort, entregando comensais para sair de Azkaban.
— Fugiu! — Hermione sussurrou. — Então não é ele! — olhou para Rony, vendo-o distorcido devido às lágrimas que brotavam de seus olhos, fruto de puro pânico. — Karkaroff não está a mando de Você-Sabe-Quem, não foi ele quem colocou o nome de Harry no cálice de fogo! Venha!
Ela puxou Rony para o lado contrário e os dois correram para fora do campo de quadribol.
— Hermione, será que você se importa de me explicar o que está acontecendo, ou para onde estamos indo?
— Estamos indo à cabana de Hagrid.
— Mas ele não está lá, está aqui ajudando na tarefa!
— Não é com ele que vamos falar!
Rony continuou correndo atrás dela, que ainda segurava seu braço. Não conversaram mais até chegarem à cabana. Hermione bateu desesperadamente, sem fôlego e respirando com dificuldade. — Hermione e Rony! — anunciou.
Sirius abriu a porta, e Rony já ia cumprimentá-lo, mas Hermione puxou-o rapidamente para dentro, fechou a porta e disse, num esforço tremendo:
— Karkaroff fugiu! Não é ele!
Explicou rapidamente a Sirius o que Krum dissera e o que ouvira Snape dizer, e o padrinho de Harry pareceu subitamente tão nervoso quanto ela.
— Pode ser qualquer um! Qualquer um... Mas não consigo pensar em ninguém capaz de fazer isso. — ele pôs-se a pensar, resmungando eventualmente.
Hermione, por sua vez, explicou brevemente a Rony o que ele ainda não sabia, e depois passou a pensar também. Seria alguém de Hogwarts? Seria Snape, como Rony dizia? Lembrou-se subitamente de Rita Skeeter, mas sinceramente duvidou que a bruxa fosse comensal da morte, por pior pessoa que fosse. A lembrança remeteu-lhe a outro pensamento, porém: lembrou de Krum falando sobre a poção Polissuco, especialmente quando ele dissera que a pessoa podia levar poção consigo para tomar quando o efeito estivesse passando. Lembrou-se da garrafa de bolso que Moody sempre tirava de dentro das vestes para tomar um gole.
— Moody! — exclamou. — Pode ser ele!
— Moody? — Sirius perguntou, com o cenho franzido. — Eu não acho que ele...
— Mas e se não for ele? Quero dizer, você conhece a poção Polissuco, não é? Ele pode ser um comensal da morte disfarçado, pode ter seqüestrado o verdadeiro Moody, talvez o esteja escondendo e... e...
— Mas por que ele e não outra pessoa? — Sirius perguntou. — Essa sua teoria faria sentido com qualquer um; por que ele? Além disso, sempre pode ser alguém sob o efeito da maldição imperius.
— É só um palpite... Porque ele tem essa garrafinha de bolso de que ele sempre toma, e eu imaginei que podia ser poção Polissuco. — ela lembrou-se subitamente que não vira Moody junto com os professores. — Ele estava patrulhando o lado externo do labirinto, pode ter se aproveitado da posição o tempo todo! Pode ter lançado a maldição contra Krum! Talvez esteja facilitando a chegada de Harry ao centro, e pode ser que lá haja alguma coisa esperando por ele...
Sirius pareceu considerar a idéia, e levantou-se subitamente.
— Não posso ficar aqui sentado vendo tudo desabar em cima de Harry! Preciso ir ajudá-lo!
— Não! — Hermione e Rony gritaram ao mesmo tempo.
— Se você aparecer lá agora, vai gerar ainda mais confusão — Rony disse. — Só Dumbledore e nós sabemos que você é inocente, o resto pensará que você está sabotando Harry, acharão que o comensal da morte é você!
Sirius recuou, suspirando, uma careta de angústia distorcendo sua face.
— Então corram e digam isso a Dumbledore. Contem a ele sobre estas suspeitas, talvez ele também tenha outras. Corram!
Rony agarrou a mão de Hermione e os dois saíram da cabana em alta velocidade em direção ao campo e quadribol. Quando chegaram havia um enorme tumulto; as pessoas em sua maioria tinham descido das arquibancadas e aglomeravam-se à frente do labirinto, gritando. Não eram gritos de empolgação, porém. Um murmúrio corria solto pelos arredores, um murmúrio que dizia “ele está morto, está morto”. Havia pessoas chorando histericamente, pessoas fugindo, e, para o desespero de Hermione e Rony, havia um corpo estendido no chão, bem no meio da aglomeração.

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