Efeito Rita Skeeter



— CAPÍTULO DEZOITO —
Efeito Rita Skeeter




Logo depois do café da manhã no domingo, Hermione, Rony e Harry subiram ao corujal para mandar uma carta a Percy por Edwiges, perguntando se ele tinha visto Crouch ultimamente, e depois de fazer isso foram à cozinha entregar a Dobby as meias que tinham comprado. O elfo ficou imensamente emocionado, e os outros elfos também os receberam com muita alegria.
— Será que vocês têm por aí aquelas bombas de creme? — Rony perguntou.
— Rony, você acabou de tomar café! — disse Hermione, irritada, mas no instante seguinte os elfos traziam bandejas com chá e bombas de creme.
— Podíamos aproveitar e levar alguma coisa para Snuffles — Harry comentou.
Hermione olhou para os lados.
— Dobby, onde está Winky? — perguntou.
Dobby indicou-lhe o fogão; ao lado dele, Winky bebia longos goles de uma garrafa de cerveja amanteigada.
— Ela agora bebe seis por dia. — Dobby comentou. — Está definhando, quer voltar para casa. Tento explicar a ela que nosso novo amo é Dumbledore, mas ela ainda acha que pertence ao sr. Crouch.
Harry aproximou-se de Winky.
— Olá, Winky. Será que você sabe por que o sr. Crouch não tem mais vindo aos eventos do Torneio Tribruxo?
— Meu, hic, amo não tem vindo? — Winky perguntou, preocupada.
A tentativa de Harry foi frustrada; ele não conseguiu tirar informação alguma de Winky sobre Crouch, e não demorou muito até que ela caísse estatelada no chão, roncando. Os outros elfos correram para estender um pano sobre ela, e um deles disse, envergonhado:
— Lamentamos que sejam obrigados a assistir a isso, senhores e senhorita. Por favor não nos julguem por Winky...
— Ela está infeliz! — Hermione defendeu, abismada com a cena. — Por que vocês não tentam animá-la ao invés de escondê-la?
O mesmo elfo respondeu:
— Um elfo doméstico não tem o direito de ficar infeliz quando há trabalho a ser feito!
Hermione perdeu a paciência.
— Escutem aqui, vocês todos! — disse. — Vocês têm tanto direito de se sentirem infelizes quanto os bruxos! Vocês têm direito a salário, férias e roupas decentes, e não precisam fazer tudo o que são mandados!
A expressão nos rostinhos dos elfos mudou completamente. Com hostilidade, entregaram a Harry o embrulho que ele pedira para mandar a Sirius, disseram “tchau” e começaram a literalmente empurrá-los para fora da cozinha com suas mãozinhas. Dobby, parado ao lado do fogão, murmurava:
— Dobby sente muito...
— Você não podia ficar calada, não é? — Rony disse, ríspido, quando dirigiam-se para as escadas. — Agora eles não vão mais querer que voltemos aqui e Harry não vai poder fazer perguntas a Winky sobre Crouch!
— Como se você se importasse! — retrucou Hermione, forçando uma risada irônica. — Você só gosta de ir à cozinha para comer!
A discussão estendeu-se durante o caminho até a sala comunal e continuou lá dentro. Rony parecia, Hermione pensou, disposto a descontar nela todas as suas frustrações, usando os elfos como desculpa.
— Não é possível — disse ele — que você ainda não tenha entendido que eles gostam de ser escravizados!
— Eu entendi, Ronald, — ela retrucou — mas o problema é que eles não têm instrução suficiente para saber que isso é uma injustiça, eles simplesmente aceitam o que lhes é imposto!
— E você por acaso vai adotar como nova meta do fale a abertura de uma quinta casa em Hogwarts, especial para elfos? Que tal chamá-la de Dobby?
— Não sabia que você era capaz de usar o cérebro para ter idéias interessantes, para variar.
A discussão seguiu pelo resto da manhã e durante o almoço.
— Garanto que eles vão mandar comida ruim de propósito, só porque você os ofendeu!
— E que grande diferença faria? Você come qualquer coisa.
Assim que terminou de comer, Hermione levantou-se, dizendo que os encontraria depois, na sala comunal.
— Aonde vai, na biblioteca? — perguntou Rony, maldoso. — Ter umas aulinhas particulares de quadribol?
— Quer que eu traga um autógrafo? — disse Hermione, tentando esconder a mágoa e dando as costas.
Ela não foi à biblioteca, e sim ao corujal. Cansada de saber de tudo pela boca dos alunos da Sonserina, enviou um formulário de assinatura do Profeta Diário. Já assinara o jornal anteriormente, mas não tinha renovado da última vez que terminara. Depois ficou perambulando um pouco pela escola, pensando.
Havia uma razoável quantidade de coisas preocupando-a, como o mistério envolvendo Crouch, a revolta dos elfos contra suas idéias, as discussões com Rony e o torneio Tribruxo, no qual Harry tinha sido inscrito por alguém que eles ainda não sabiam quem era e nem que intenções tinha.
Quando voltou à sala comunal para fazer os deveres junto com os garotos, a discussão com Rony recomeçou.
— Você demorou tanto que eu comecei a desconfiar que você tinha voltado à cozinha para tentar libertar os elfos à força. — disse ele, sem levantar os olhos do pergaminho em que escrevia.
— E por que você se importaria comigo ou com os elfos?
— Não dou a mínima para os elfos, mas preciso que alguém corrija o meu dever de Poções.
Hermione fechou o livro com violência.
— Pois trate de procurar outra pessoa! — disse, mas Rony não teve reação alguma, embora Harry tivesse saltado da cadeira de susto quando ouviu o barulho do livro.
Ela reabriu o livro, disposta a continuar estudando. De vez em quando, Rony dizia alguma coisa para provocá-la, e ora ela respondia, ora não, a situação estendendo-se pelo resto do dia. Harry vez ou outra soltava suspiros de impaciência, mas em um determinado momento, quando tinham voltado havia pouco do jantar para a sala comunal, ele não agüentou mais.
— Que horror, vocês estão insuportáveis hoje! — exclamou ele, levantando-se. —Vou ao corujal mandar a comida de Snuffles, sozinho!
Ele saiu irritado pelo buraco do retrato, atraindo os olhares de alguns colegas curiosos.
— Espero que esteja satisfeita. Um pouco mais e todas as outras pessoas também vão embora.
Ela manteve-se calada, fixando os olhos no livro que segurava, mas não lia. Rony continuou. — Por que você não vai? Podia aproveitar para passar a noite no navio de Durmstrang.
— O que você quis dizer com isso? — ela disse, levantando os olhos imediatamente.
— Ora, você passa tanto tempo com Krum que não me admiraria se resolvesse se mudar para o navio. Ou quem sabe até ir morar com ele na Bulgária.
— Escute aqui! — ela levantou-se, apontando o dedo para ele. — Eu não fui ver o Vítor hoje, e mesmo que eu tivesse ido, isso não é da sua conta! Tanto quanto também não é da sua conta que eu não tenho a menor intenção de um dia pôr os meus pés na Bulgária!
Rony levantou os olhos, parecia surpreso.
— Ah... não? — ele balbuciou.
— Não, idiota! — disse ela, virando-se e subindo em direção ao dormitório.


— Vi Hagrid conversando com Madame Maxime ontem à noite, quando estava no corujal. — disse Harry, no café da manhã do dia seguinte. — Quero dizer, foi ela quem puxou conversa, e ele não parecia muito disposto a falar com ela.
Hermione soltou um suspiro de impaciência.
— Ela deve estar querendo informações sobre a próxima tarefa — disse, com desdém.
— Talvez tenha se arrependido de o ter dispensado só por causa daquela história de gigante, meio gigante... — ponderou Rony, com a boca cheia.
— Só se ela se arrependeu de ter perdido uma boa fonte de informações. Essa gente de Beauxbatons... — Ela comeu mais uma colherada do mingau e ele pareceu ter um gosto ruim pela simples lembrança de Fleur Delacour e companhia.
Quando as corujas entraram, Hermione prestou atenção para ver se alguma lhe traria um exemplar do Profeta Diário.
— Mandamos a coruja a Percy ontem... — disse Rony. — Não tem como ele já ter respondido.
— Não é isso. Fiz uma nova assinatura do jornal.
Os três observaram enquanto sete corujas pousavam na frente do prato dela.
— Quantas assinaturas você fez, Mione? — Harry perguntou.
— Mas elas não trouxeram jornal nenhum. Nenhuma delas! Só cartas... — ela disse, intrigada.
Abriu o primeiro envelope, e a carta que havia dentro dele estava escrita com letras recortadas de jornal. Dizia: “Harry Potter merece uma garota melhor. Volte para o seu lugar, trouxa.” — Ora, francamente!
— O que é? — perguntou Rony, ansioso, mas ela estendeu a carta para Harry ler.
As próximas diziam coisas parecidas; que ela não prestava, que merecia ser cozida com ovas de rã e que Harry podia achar uma namorada bem melhor do que ela.
— Que ridículo, são todas sobre isso! — comentou, com um certo desespero na voz, mas o pior ainda estava por vir.
Ao abrir um dos envelopes, um líquido verde-amarelado escorreu sobre suas mãos provocando uma dor intensa, instantaneamente.
— Pus de bubotúbera puro! — Rony exclamou, examinando com cuidado o envelope.
Os olhos dela lacrimejaram e sua tentativa de limpar as mãos com um guardanapo foi frustrada, pois elas já estavam cobertas de feridas dolorosas.
— Ai! Aquela Skeeter me paga... — choramingou.
— É melhor você ir à ala hospitalar — Harry disse. — Diremos à profa. Sprout o que aconteceu.
Ela se levantou, chorando, e saiu correndo para fora do salão. Quando passou pelo saguão, viu os alunos de Durmstrang entrando todos juntos. Krum lançou-lhe um olhar preocupado, mas ela pôs-se a correr escada acima sem parar para esperá-lo.
Hermione não pôde deixar a ala hospitalar antes do final da manhã, pois Madame Pomfrey aplicou uma série de poções para aliviar a dor, fechar as feridas e neutralizar o efeito do pus de bubotúbera em suas mãos. Mesmo assim, as feridas não melhoraram completamente, na verdade melhoraram muito pouco, e demorariam ainda alguns dias para fechar. A enfermeira enrolou ataduras para protegê-las, pois o mínimo toque em qualquer superfície ainda era muito doloroso.
— É muito triste, eu vejo isso todos os anos — comentou Madame Pomfrey — e devo dizer que quem faz esse tipo de brincadeira não será boa coisa quando terminar de crescer, isso se não enveredar pelo caminho das artes das trevas.
Se a pessoa que lhe enviara a carta não era boa coisa, naquele momento pouco importava, pois a dor que ela sentia já era ruim o suficiente por si só. A aula de Trato das Criaturas Mágicas já devia estar acabando, mas ela resolveu ir até lá do mesmo jeito, pelo menos para ver Hagrid. Tinha uma vontade imensa de contar a ele que estivera com Bicuço no sábado, vontade que infelizmente precisava conter.
— Aí está você, Mione! — ele disse ao vê-la aproximando-se da turma.
Ela passou evitando os olhares de Pansy Parkinson e Draco Malfoy, que deviam estar se divertindo ao vê-la com as mãos enfaixadas e uma careta de dor. Viu que cada aluno tinha numa das mãos um bicho peludo e na outra uma cesta com moedas.
— Vamos ver como se saíram — disse Hagrid para a turma. — E não adianta tentar roubar as moedas, Goyle. Isso é ouro de leprechaun, duende irlandês. Some depois de algumas horas. Ele começou a contar as moedas em cada cesto. Hermione parou ao lado dele, e ele murmurou para ela: — Pelúcios. Não são bonitinhos? Eles caçam pequenos tesouros. Seus colegas estiveram caçando moedas que eu escondi.
Hermione sorriu diante do entusiasmo de Hagrid. Ao final da contagem, ele anunciou que o vencedor era Rony, e deu a ele uma barra de chocolate da Dedosdemel como prêmio. Ainda assim, Rony parecia estranhamente infeliz. Ela aproximou-se do amigo.
— O que houve, Rony?
— O ouro. — ele disse. — Desaparece, Hagrid acabou de dizer.
Ela franziu o cenho.
— Sim, mas e daí?
A sineta tocou para anunciar o final da aula, interrompendo a conversa, e a turma dispersou-se em direção ao castelo para almoçar. Hermione, Rony e Harry ficaram, ajudando a guardar os pelúcios em caixotes. Hermione teve alguma dificuldade, devido às ataduras e principalmente à dor nas mãos.
— O que você tem nas mãos, Mione? — Hagrid perguntou, preocupado.
Hermione contou das cartas. — Ora, eu recebo cartas assim desde que Rita Skeeter escreveu sobre minha mãe. “Sua mãe matou gente inocente e você deveria atirar-se no lago”.
— Não! — ela exclamou, chocada.
— Sim, mas isso quem faz é gente que não bate bem. Não abra mais essas cartas, jogue-as direto na lareira.
Gente que não bate bem, que não é boa coisa. As mãos continuavam doendo, fosse como fosse. Ela abraçou o amigo, ainda contendo aquela vontade de contar a ele sobre Bicuço. Depois seguiu com Rony e Harry para o castelo, Rony ainda com a cara fechada. Qual seria o problema com o ouro de leprechaun, afinal? Harry comentou com ela, animado:
— Você perdeu uma aula muito boa. Não são legais os pelúcios, Rony? — só quando olhou para o amigo, à espera de uma resposta, foi que Harry percebeu sua infelicidade. — Que houve?
— Por que você não me falou sobre o ouro? — Rony disse, amargo.
— Como assim? Do que está falando?
— Eu lhe paguei pelo onióculo com ouro de leprechaun. Por que você não me contou que ele desapareceu?
Harry parecia estar puxando pela memória com dificuldade.
— Ah... — disse ele, por fim. — Eu não percebi.
Rony guardou um silêncio sepulcral até sentarem-se à mesa e começarem a se servir, quando disse:
— Deve ser legal ter tanto dinheiro que nem se percebe quando alguns galeões somem. Você não deveria ter me dado aquele boné do Chudley Cannons.
— Será que dá pra esquecer isso? — disse Harry, começando a perder a paciência.
— Detesto ser pobre. — Rony murmurou.
Hermione trocou um olhar confuso com Harry. O que dizer num momento como aquele? Ainda por cima, suas mãos doíam tanto na tentativa de equilibrar os talheres que ela ainda não conseguira comer nada. — É uma droga. — continuou ele. — Gostaria de ter um jeito de arrumar um dinheiro extra. Ter um pelúcio, talvez, para caçar moedas.
— Bem, então já sabemos o que dar a você no próximo Natal — Hermione disse, numa tentativa frustrada de animá-lo. Mostrou a ele as mãos enfaixadas, enormes de inchaço. — Podia ser pior; pelo menos suas mãos não estão assim. — ele lançou um olhar cheio de pena para as mãos dela enquanto ela fazia tentativas frustradas de pegar o garfo e dizia: — Vou me vingar daquela Skeeter nojenta, podem ter certeza.


Com o passar de algumas semanas, as feridas nas mãos de Hermione melhoraram, mas ela continuava recebendo corujas anônimas. Não abria mais as cartas, mas recebia também berradores e, como eles explodiam se não fossem abertos, a escola inteira já sabia do suposto triângulo amoroso formado por ela, Harry e Krum.
Esta não era, porém, nem de longe sua maior preocupação. O que realmente a perturbava era o fato de Rita Skeeter ter tido acesso a conversas particulares dentro da escola mesmo estando proibida de entrar na propriedade. Depois de uma aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, ela perguntou a Moody, cujo olho azul enxergava através de capas de invisibilidade, se ele vira Skeeter em algum lugar durante o baile de inverno e a segunda tarefa, mas o professor respondeu que não a vira.
— Que droga... — disse, frustrada, quando saía da sala de aula com Rony e Harry. — Quero descobrir como ela faz para escutar as conversas! Adoraria pegá-la fazendo alguma coisa ilegal...
— Deixe isso para lá — Rony disse. — Não acha que já temos preocupações suficientes? Vamos ter que começar também a investigar Rita Skeeter?
— Não estou pedindo ajuda! — ela retrucou, indignada, apertando o passo e deixando-os para trás, a caminho da biblioteca.
Hermione imaginou com amargura que Rony faria questão de ajudá-la se também tivesse ficado uma semana com as duas mãos imprestáveis por causa da jornalista. Mesmo sem ajuda, ela passou a conciliar os estudos com longas pesquisas sobre métodos de ouvir sem ser visto. Descobriu coisas fascinantes, que nunca teria julgado possíveis, mas nenhuma parecia ser o que procurava.
Chegaram as férias de Páscoa e só então veio a resposta de Percy à coruja que os três tinham mandado perguntando sobre Crouch. Era uma resposta curta e irritada, na qual Percy afirmava que apesar do longo período sem ver Crouch, que estaria segundo ele tirando um merecido descanso, recebia corujas regularmente do chefe com instruções.
Junto com a carta, Edwiges trouxera ovos de Páscoa mandados pela Sra. Weasley para os filhos e para Hermione e Harry. O de Hermione era menor que um ovo de galinha, e ela ficou imensamente desapontada ao ver que os outros eram enormes.
— Por acaso — perguntou a Rony — a sua mãe lê o Semanário das Bruxas?
— Lê, sim — respondeu ele. — Ela assina por causa das receitas de comida.
Ela soltou um suspiro, desanimada, encarando o ovo minúsculo.
— Ótimo. Sem chance de ele estar recheado com pus de bubotúbera... não é? — ela dirigiu um olhar de dúvida ao amigo.
Rony não disse nada, pois sua boca estava tão cheia de chocolate que ele mal conseguia mastigar. No entanto, ele ofereceu-lhe um pedaço de seu ovo, que ela comeu devagar, saboreando e imaginando que seria assim que faria quando se vingasse de Rita Skeeter; saborearia bem devagar.

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