Pensamentos



O antigo mestre de poções de Hogwarts deixou o castelo pelo que ele acreditava ser uma última vez, apesar de tentar intensamente não pensar nessa possibilidade. Ele sempre aparentou odiar cada minuto naquele lugar, mas foi naquele castelo onde viveu os melhores momentos de sua vida, principalmente durante as últimas semanas.

Esse pensamento levou àquela pessoa que ele mais tentava esquecer, mesmo sabendo que nunca iria conseguir. Precisava estar mais concentrado do que nunca agora, pois todo o destino do mundo bruxo e talvez até do trouxa dependia dele e de duas habilidades, portanto não podia se deixar abalar por qualquer coisa.

Mas ela não era qualquer coisa. E ele não pode deixar de descer para as masmorras mais uma vez e abrir vagarosamente a porta do seu antigo quarto, onde Hermione dormia profundamente. Snape estava sério, imobilizado pela dor de ter que deixá-la sozinha naquele castelo abandonado, ainda mais nessas condições indefesas. Mas ele estava saindo para lutar por ela e por tantas outras garotas que também estavam nessa situação, vivendo um momento de perigo como o atual e sem ninguém para defendê-las.

Tentando evitar o prolongamento de sua dor, o homem fechou a porta novamente e caminhou tão rápido para fora daquele cômodo que em poucos minutos já tinha deixado o castelo de Hogwarts.

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Quando Hermione despertou, o sol já estava alto, mas não fazia calor e a neve se acumulava no parapeito da janela fechada. Exceto por uma leve dor de cabeça ocasionada pela poção do dia anterior, ela sentia-se bem, pois estava sob muitos cobertores e se encontrava num cômodo com uma lareira acesa. Não demorou muito para constatar que aquele era o quarto de Snape, onde já estivera quando desmaiara da última vez.

Também foi rápido seu retorno à consciência, lembrando-se de tudo que acontecera no dia anterior: a conversa com Snape, a despedida, as cordas, a poção... e o beijo. Sentiu um calafrio percorrer sua espinha e jogou as cobertas para longe, correndo pelo quarto até alcançar a porta.

Ela percorreu o castelo inteiro à procura do professor, mas ela sentia dentro de si que ele já tinha partido. Voltou ao quarto dele ofegante por causa do desespero e da longa busca, então sentou-se na cama e sentiu as lágrimas começarem a deixar seus olhos.

Bruscamente, ela esfregou os olhos e encarou a parede, fazendo um grande esforço mental para não chorar mais. Ele sempre a ensinara que deveria ser forte e esse era o momento de fazer com que ele se orgulhasse dela. Mas não poderia ficar sentada de braços cruzados enquanto ele estava arriscando sua vida por aí.

Decidida a encontrá-lo, mesmo sabendo que isso era a última coisa que ele desejava, Hermione levantou-se mais uma vez e começou a andar de um lado para o outro, imaginando onde ele poderia estar agora. Alguns minutos depois e sem nenhuma conclusão adquirida, ela encarou o chão sem esperanças, até que teve a impressão de ver alguma coisa brilhar no piso frio.

Abaixou-se para averiguar o que era aquilo e deparou-se com um pequeno espelho de rosto que possuía bordas de ouro com serpentes delicadamente entalhadas.

A garota congelou na hora. Serpentes? Por que Snape andaria por aí com uma coisa dessas? Talvez ele tivesse um bom motivo... Foi aí que ela teve uma idéia e correu para o velho armazém perto da cozinha, onde estavam todas as suas coisas. Começou a mexer nos papéis em seu malão até encontrar uma carta dobrada. Leu seu conteúdo com as mãos trêmulas.


“Mione,

Sua última pesquisa foi de grande ajuda. Conseguimos encontrar o que procurávamos e já demos conta daquilo.
Mas o que nos deixou preocupados foi o último item. Acho que alguém chegou antes que nós mais uma vez, pois não tinha nada naquele lugar. Vamos seguir uma pista até o litoral e lá mandaremos mais notícias, depois seguimos para Godric’s Hollow no início do inverno se não acharmos nada na praia.

Harry”



Aquela foi a última carta que Mione recebera antes de encontrar Snape no castelo e era mais antiga do que a que ele recebera nas últimas semanas e que tanto a atormentara. Mas agora as coisas começavam a fazer sentido. Harry e Rony tinham ido atrás do último horcrux na Escócia, dica que ela tinha dado depois de muitas pesquisas históricas. Snape provavelmente tinha chegado lá antes deles e pegou o objeto, escondendo-se então no único lugar que procurariam por ele: Hogwarts.

A garota estava muito chocada com aquelas descobertas. Por que Snape impediria Harry de encontrar o último horcrux? Então ele tinha a enganado esse tempo todo, fazendo-a acreditar que não era um homem ruim. Mas... ele nunca tinha dito de que lado estava. Tudo que ela fantasiara sobre ele era uma ilusão. Talvez tivesse se apaixonado pelo seu maior inimigo.

Piores pensamentos invadiram sua mente como uma enxurrada. Estava tudo muito claro agora. Ele tinha a iludido para que ela não o dedurasse quando ele fosse embora! Mas alguma coisa ainda estava errada...
O que era aquele espelho suspeito, afinal? Não seria muito difícil imaginar que aquilo era o horcrux, mas Hermione não entendia como Snape poderia ter deixado algo tão importante para trás. Ou talvez tivesse sido um mero acidente.

Ela segurou forte o objeto em suas mãos, pensando no que fazer agora. Não tinha certeza, mas tudo indicava que Snape estaria indo para Godric’s Hollow para interceptar Harry e Rony e provavelmente acabar com eles! Ele não tinha outro motivo para partir exatamente na mesma época em que os garotos estavam indo para lá também!

Agora a sombra da desconfiança pairava sobre sua cabeça, pois também temia por Snape. Se ele estivesse do lado de Voldemort, chegar no esconderijo do lorde sem o horcrux poderia significar uma punição fatal. Hermione tremeu ainda mais ao pensar nisso.

Assustada com tantas possibilidades, vestiu-se o mais rápido que pode e colocou sua capa de frio, mantendo sempre a varinha em punho e o espelho no bolso interno do casaco. Deixou que suas pernas a guiassem até os portões do castelo e sentiu o frio cortante dos ventos de inverno baterem em seu rosto.

Não sabia o que faria, nem de que lado estava, muito menos se salvaria seus amigos ou o homem que amava. A certeza que ela tinha era seu destino: Godric’s Hollow.
Segundos depois, tudo que sobrou de Hermione Granger no castelo de Hogwarts foi o eco de um ruído abafado típico de quem acabara de aparatar.

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