Capítulo XXIII



Um concurso de pizzas. Devia estar maluco quando concordara com uma idéia tão absurda. Harry estava parado perto da janela do escritório, olhando para o local onde Rony e Bryan jogavam bola. Sabia que Hermione estava no segundo andar, esperando pelo concurso que começaria em breve.

Enquanto observava o amigo, a mente reprisava momentos de todos os anos em que tentara ser um pai para ele. Haviam sido anos repletos de risos… e de lágrimas. Rony fora fonte de muito trabalho, e Harry passara noites incontáveis em claro questionando se estava fazendo o suficiente para orientar o amigo adolescente e torná-lo um adulto maduro e bem ajustado. Rony nunca fora uma criança muito expansiva, nem dera muitas demonstrações de afeto. Mas, enquanto o via jogando quadribol com o filho, Harry notava com que freqüência ele promovia contatos físicos e afetuosos com Bryan, como abraços rápidos ou tapinhas nas costas.

Era como se estivesse tentando armazenar toda uma vida de abraços e carinhos, caso algo de errado acontecesse durante a cirurgia. Durante as esporádicas visitas do amigo e da esposa ao longo dos anos em que estiveram casados, havia percebido que os dois raramente se tocavam. Jamais vira Rony depositar um beijo carinhoso na testa da esposa, afagar suas costas sem se dar conta ou segurar a mão dela enquanto caminhavam.

Em seu lugar, teria considerado impossível não tocar Hermione. Se ela fosse sua, aproveitara todas as chances para acariciar seus cabelos sedosos, tocar seu rosto ou manter um abraço sobre seus ombros delicados. Mas ela não lhe pertencia, lembrou uma voz interior. Hermione pertencia a Rony. Laços familiares ainda a prendiam a seu ex-marido e fariam dela um objeto eternamente fora de seu alcance. Rony e Bryan encerraram o jogo e correram para casa.

Harry deu as costas para a janela, sentindo mais intensamente a solidão que o atormentara ao longo dos anos. Sentado atrás da mesa, disse a si mesmo que os sentimentos que experimentava por Hermione eram provocados pela ausência prolongada de mulheres em sua vida. Antes do surpreendente casamento de Rony, nunca tivera tempo para manter um relacionamento amoroso.

O amigo e os negócios esgotavam suas energias e tomavam todos os minutos do dia. Casado, Rony fora viver na cidade com a esposa, e Harry saíra com diversas mulheres, embora jamais tivesse encontrado alguém com quem pudesse imaginar uma ligação mais sólida e duradoura. Eram apenas encontros casuais, companhias para um cinema ou um jantar, uma variedade de mulheres que entraram e saíram de sua vida sem nunca tê-lo tocado profundamente. Ninguém conseguira vencer a solidão que se tornara companheira constante. Sem dúvida experimentava sentimentos fortes por Hermione. Ela era linda e sexy, e podia sentir sua presença e seu perfume suave em todos os recantos da casa. Mas estaria sentindo a mesma coisa por qualquer outra mulher que se hospedasse em sua casa. O pensamento o fez sentir-se melhor.

- Tio Harry? – Bryan chamou-o através da porta. – É hora de prepararmos as pizzas.

- Já estou indo. – Em pé, preparou-se para a noite que se estendia diante dele, uma noite repleta de riso, família e diversão… e Hermione.

- Mãe! – Bryan gritou da escada. – Vamos!

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