Capítulo XVII



Um tumor no cérebro.

Harry estava parado diante da janela da cozinha vendo os primeiros raios de sol surgirem no horizonte. Os olhos ardiam e ele bebia café. Havia sido uma longa noite. Rony chegara em casa às onze horas. Harry estivera no escritório, cuidando dos assuntos mais urgentes acumulados durante sua ausência. Depois de sofrer um acidente aéreo e ter passado dias perdido na floresta, chegara à conclusão de que nada mais poderia abalá-lo.

Mas quando o amigo revelara que possuía um tumor no cérebro, tivera a sensação de ter sofrido um golpe físico e perdido o contato com o chão sob seus pés. Em alguns momentos do passado sentira-se tentado a usar a força física para pôr um pouco de juízo na cabeça de Rony, especialmente quando a espontaneidade descuidada e as atitudes infantis do amigo ameaçaram sua paciência.

Mas nunca desde a morte dos pais dele ele havia pensado num momento como o que estava vivendo. Cirurgia. Por maiores que fossem as garantias oferecidas pelo médico, sabia que o procedimento era sempre perigoso. Haviam permanecido acordados por boa parte da noite, falando sobre o diagnóstico e o plano de ação, discutindo a extensão do desafio. Harry suspirou e afastou-se da pia para encher a xícara com mais café. Um maldito tumor no cérebro. E não havia nada que pudesse fazer para anular a situação.

Não podia resolver o problema para o amigo que tanto amava. Só experimentara aquela mesma impotência poucas vezes na vida. Como quando viu seu padrinho Sirius ser atingido por Lestrange e ser levado para dentro daquele véu. Ou quando segurara a mão do Sr. Weasley no hospital, suplicando para que ele lutasse pela vida enquanto o via partir. E também quando se descobriu apaixonado por Hermione, ainda mais a noite anterior, num momento de insanidade quando a beijara.

Ele balançou a cabeça, como se o ato físico fosse suficiente para apagar a lembrança do calor doce de seus lábios, para anular o perfume suave que superara seu bom senso. Enquanto Rony digeria o diagnóstico e contemplava uma dura luta pela sobrevivência, Harry estivera na floresta queimando de deseja pela ex-esposa do amigo. O pensamento o enojava. Depois de comer, ele deixou a cozinha e foi para o escritório.

O aposento era espaçoso, com uma grande mesa de madeira maciça, prateleiras que cobriam uma parede inteira e um bar embutido em outra. A casa havia sido a realização do sonho dos gêmeos, mesmo eles não morando mais lá. Mas, naquele momento, a última coisa que queria era trabalhar. Distraído, pegou o peso de papéis sobre a mesa, um objeto fio, um globo de vidro com um galeão dentro dele. Os gêmeos o tinham feito quando o escritório era a mesa da cozinha e o vento que penetrava pelas janelas espalhavam os papéis pelo aposento. Segurando o globo de vidro, Harry pensou no Sr. Weasley e na promessa que fizera.

- Prometo que vou cuidar de Rony.

E havia feito de tudo nos últimos anos para cumprir a promessa. Tentara dar a Rony tudo que os pais teriam desejado. Não apenas bens materiais, mas apoio e bons conselhos, orientação constante e suporte emocional. Ele se sentia como seu irmão mais velho. Ajudara Rony durante os anos rebeldes de sua adolescência, e tentara apoiá-lo quando ele se tornara pai ainda muito jovem. Havia se esforçado para cuidar de Rony, mas não havia nada que pudesse fazer para resolver o último problema de seu amigo.

Devolvendo o peso de papéis ao seu lugar de origem, olhou para o telefone. Na noite anterior, Rony mencionara o desejo de passar alguns dias com o filho antes da cirurgia. Ele também abordara o assunto com Hermione, que relutara. Rony implorara para que Harry a convencesse a passar alguma semanas na Toca, e Harry respondera que faria o que estivesse ao seu alcance. Ainda era cedo para dar telefonemas, mas uma coruja demoraria a dar resposta. Enquanto esperava por um horário mais adequado, tentaria pôr o trabalho em dia. Uma hora e meia mais tarde, Harry pegou o telefone e discou o número que estivera em sua cabeça desde a noite anterior. Ela atendeu no quarto toque. - Alô.

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