Capítulo VI



Harry acordou com a luz do amanhecer e sentiu-se desorientado. Mas, antes mesmo de abrir os olhos, a mente começou a trabalhar em busca de orientação. Havia um corpo feminino e quente aninhado em seus braços, e podia sentir o perfume de morangos frescos. Tentando encher os pulmões com o delicioso aroma, ele se lembrou. O acidente… Hermione… a floresta.

Os olhos se abriram e ele viu que, em algum momento da noite, os corpos não só haviam buscado a maciez do solo coberto por folhas, como também buscaram um ao outro. O rosto dela estava voltado para o dele, e era possível vê-lo melhor com a luz que penetrava por entre os galhos das árvores. Era fácil entender porque Rony ficara tão encantado. A mulher era linda, com cílios longos e uma boca convidativa, que poucos homens teriam resistido à sugestão de um beijo suculento. Krum fora um exemplo. A pele era da cor de biscoitos com toques de pêssego nas faces. Gostaria de tocar aquele rosto, de acariciar sua pele macia e sentir o sabor de seus lábios.

Queria tê-la. Desejava aquela mulher há anos, e o desejo ainda era o mesmo. A esposa de Rony. A mulher de Rony. Perturbado, afastou-se dela e sentou-se. O movimento brusco a acordou. Hermione espreguiçou-se antes de sentar-se e ajeitar os cabelos com as mãos.

- Meu Deus! Tenho a sensação de que apanhei durante toda a noite! – disse, tentando alongar os músculos doloridos.

Harry fingiu não ver o abdome plano e definido exposto pelo movimento. Felizmente, logo ela abaixou os braços e a camiseta voltou ao lugar. Acompanhando o olhar que estudava o ambiente que os cercava, ele viu o horror causado pela cena de destruição. O solo sereno da floresta fora marcado pelo desastre, e constatar como haviam estado perto da morte o fez estremecer.

- É difícil acreditar que escapamos com vida, não? – ele comentou. Hermione assentiu antes de encará-lo. - Como está seu joelho?

- Vai ficar bom.

- Ótimo, porque se nenhuma ajuda chegar, talvez tenhamos que sair daqui andando. Devia saber que o interesse por seu joelho era causado pela preocupação com a própria vida.

- Não vamos fazer nada por enquanto. O dia acabou de amanhecer. Ficaremos perto de onde caímos ao menos por mais duas horas.

Era evidente que ela não gostava da idéia, que estava pronta para entrar em ação. A expressão apreensiva sugeria que seus pensamentos estavam voltados para Bryan e Rony.

- Eles devem estar em seu apartamento. – Harry comentou enquanto se levantara.

– Tenho certeza de que Rony voltou pra lá ontem à noite, quando você não apareceu para encontrá-lo. – Sentindo o joelho protestar, ele se apoiou no tronco de uma árvore.

- Acredita mesmo nisso? – a esperança tomou o lugar da preocupação anterior.

Apesar da sujeira no rosto e nas roupas, dos cabelos desalinhados e cheios de terra e folhas, ela ainda era linda. Por um momento, Harry pensou em tomá-la nos braços e esquecer todos os problemas beijando seus lábios carnudos. A tensão inexplicável alcançou um nível até então desconhecido.

- Rony pode ter muitos defeitos, mas sempre foi um bom pai – disse com tom ríspido.

Ela o encarou, surpresa com a explosão.

- Deve estar com fome. Rony também fica mal-humorado quando está de estômago vazio. Esperava que ela reagisse com uma resposta irada, e sua atitude o deixou sem fala por alguns momentos.

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