O Mercado Flutuante



Capítulo 2 – No Mercado Flutuante



– Acho que não entendi direito. – disse Denise. – você irá estudar numa... escola de bruxos?
Arthur olhava assustado para a mãe. No fundo sabia que ela nunca acreditaria numa coisa destas, nem ele acreditava direito ainda. Se não tivesse tido tantas provas de que tudo aquilo fora real, se não estivesse com a lista de materiais de Palas nas mãos...

– Mãe, olhe a lista de materiais... – mostrou pela milésima vez o pergaminho para sua mãe. – vê? Tem caldeirões borbulhando, letras piscando, e um bruxo que voa de um lado a outro. Se isso não é mágica é o quê?

– Isso tem quer ser um truque... – replicou Denise assustada. – bruxos não existem!

– Existem sim. Eu os vi.

A discussão ainda se arrastaria por um tempo, até a mãe de Arthur se cansar e mandá-lo parar com essa história doida e deixá-la em paz. Por sorte os irmãos de Arthur (todos mais novos que ele) estavam brincando na praça de fronte pro “Ninho de Rato” (Ninho do Arthur), e não ouviram nada. Se Denise respondera assim, imaginem eles?

Mais tarde, depois da discussão, Arthur refletia deitado no quarto do Cafofo. Como iria para Palas se sua mãe nem sequer acreditava nele? Não acreditava no mundo Mágico. Teria ele de desistir da sua luz de esperança de um mundo onde o pobre Arthur fosse aceito?

Achava que sim.

Continuou pensando deprimido em como sua vida pioraria agora que havia podido pelo menos sonhar com um mundo novo. Um mundo onde nada era tão certo, ou regrado. Um mundo que ele fosse uma pessoa, e não um peso morto.

Sentiu vontade de chorar. Uma grande vergonha de si próprio o assolou.

“Tudo para mim não passa de um sonho que nunca se realiza. Palas é o meu sonho. Agora sei...”

Arthur adormeceu com uma lágrima ainda firmemente segura no canto dos seus olhos. Tentava de todas as formas não demonstrar sua mais cruel infelicidade e dor. E foi nessa dor, ainda agarrada ao seu peito, que permaneceu adormecido por quase 4 horas.

Uma pomba acordou Arthur por volta das 4 e meia da tarde.

– Outra pomba! – disse Arthur semi-acordado. – será que serei acordado por pombas toda vez agora? Não farei parte de seu mundo, me deixe!

A pomba pareceu não gostar do comentário. Ela bicou o dedo de Arthur que gritou de dor:

– Aiiiiiiii! Isso dói! – disse ele.

A pomba esticou a pata para costumeiramente mostrar uma mensagem. Arthur mesmo puto da vida com a pomba, retirou a mensagem. A pomba partiu em seguida.

Era uma carta do Sr. Freidel.


Jovem Arthur,

Sei que você é de família de trouxas e por isso não detém nenhum conhecimento do mundo mágico, por isso, resolvi mandar-lhe está pomba. Explico-lhe por está como proceder na compra de seu material escolar:



Você deve ir ao Mercado Flutuante, onde encontrará tudo que precisa, quase todos os bruxos brasileiros fazem compras lá. Ele pode ser encontrado de duas maneiras, por Pó de Flu, que você com certeza não poderá usar (nem saberá), e indo ao portal que fica próximo a estação do metrô.
Chegando nas escadarias que descem para a estação, contorne para a esquerda, e vire num beco sem saída, em geral cheio de lixo – sabe como é, né? Segurança antitrouxas. – e na parede do fundo do beco, pressione as mãos contra dois tijolos pintados de amarelo e cuidado com a subida.



Espero que seja de serventia,

Cléber Freidel.



Arthur terminou de ler a carta certo de que nada havia entendido. O mundo mágico era lhe muito confuso. Confusamente maravilhoso. Guardou a carta e voltou a sua melancolia. De toda forma, confuso ou não, o mundo mágico seria para sempre um sonho distante.

Estava deitado pensativo quando Pedro entrou. Pedro era o irmão mais velho depois de Arthur, e o de quem ele mais gostava por terem quase a mesma idade.

– Fala mano! – disse Pedro se atirando no colchão.

– O que você quer? – disse Arthur bruscamente.

Pedro olhou de soslaio para Arthur e disse:

– O que te deu hoje?

– Nada. – respondeu. – apenas conheci o céu e o inferno.

Pedro saiu sem dizer, ou entender, nada. De toda forma, não estava se importando muito com seu irmão maluco, tinha Seus Assuntos para resolver. Coisas muito importantes para um garoto de quase 10 anos: jogar bola, assistir desenho, correr na praça...

Enquanto isso Arthur permanecia desolado. Para onde teria ido sua maré de sorte?

Alegria de pobre talvez durasse mesmo pouco. Talvez...

No dia seguinte, Arthur recebeu mais duas pombas em sua casa. O mais estranho era que ninguém da família de Arthur estava por perto quando as pombas chegavam, pois se estivessem, talvez acreditassem que o muno mágico existisse.

A primeira carta dizia o seguinte:



Caro Sr. Arthur Mortense,



A E.M.B. de Palas, Brasil, vêm por está lhe informar que o ano letivo começara na primeira segunda-feira do mês de fevereiro, e que o senhor deverá pegar o Báltico no terceiro ancoradouro do porto da Praça 15 no sábado dia 1.

Esperamos ainda que o senhor faça isso de forma bastante sutil e cuidadosa. Os trouxas estão mais atentos desde o incidente de 97 em Londres, Inglaterra, como o senhor bem sabe.


Sub-Diretor

J. L. Virgilius



A segunda carta fora mandada pelo Sr. Freidel, aconselhando Arthur comprar seus materiais o mais rápido possível, pois nos últimos dias o Mercado Flutuante se tornava o inferno.

Arthur riu ao tentar imaginar como seria um “Mercado Flutuante”. Guardou as cartas, que seriam muito provavelmente suas únicas lembranças do mundo mágico. Foi na cozinha comer qualquer coisa (se tivesse qualquer coisa, é claro), e se deparou com sua mãe.

– Tem pão no armário e café fresco. – disse ela. – vê se come alguma coisa.

– Tudo bem. – respondeu Arthur na voz mais desanimada possível.

Denise olhou para o filho angustiada.

– Gostaria de saber porque você inventa essas coisas... – disse.

– Eu não inventei nada!

– Mas... – ela olhou o garoto com profunda tristeza. – Arthur não existe essas coisas de bruxos...

– Existe sim! – respondeu uma voz rouca do portal da cozinha. Era um homem magro, de estatura média, e sua voz estava anormal para sua aparência. Fitava Denise irritado com seus olhos afundados. – e você sabe disso, Denise.

Denise encarou o homem e sentiu suas pernas tremerem. Ele voltara como dissera, voltara para garantir que o menino fosse a Palas. Albino Belforth retornara.

– Quem é você? – perguntou Arthur.

– Albino Belforth, diretor de Palas. – fez um gesto cortês. – bem que seu pai me dissera que sua mãe criaria problemas quando chegasse a hora de você ingressar em Palas.

– Meu pai?

Arthur sentiu uma estranha sensação no peito ao ouvir a menção de seu pai. Seria possível que ele fosse, o que Arthur estava imaginando. Que ele fosse um...

– Grande bruxo, foi seu pai. – disse Albino. – um grande auror fora Hermes Mortense... – Albino parecia pensativo.

– Meu pai era o quê?

– PARE COM ISSO! – irrompeu Denise.

Arthur e Albino encararam-na assustados, de tão repentina que fora a ação da mulher.

– Proíbo que leve o meu filho de mim!

– Denise, sabe que não estou levando seu filho...

– Está sim. – Denise chorava. – Hermes morreu nesse mundo maluco. Não quero que meu Arthur morra também.

– Meu pai não tinha desaparecido ao comprar cigarros? – cortou Arthur.

– E foi! – respondeu Denise. – ele me disse que ia comprar cigarros na padaria e não voltou mais...

– E por isso... – disse Albino calmo. – ninguém sabe se ele está realmente morto!

Denise olhou incrédula para o velho bruxo Albino.

– Claro que está! – retrucou. – Hermes nunca me deixaria... nunca teria ficado tanto tempo longe se ainda estivesse vivo...

Todos ficaram calados. Arthur sentia sua cabeça rodar, nunca havia tido tantas revelações de uma só vez. Mas ao mesmo tempo via uma luz no fim do túnel. Talvez, agora que ele sabia que sua mãe sabia da existência do mundo mágico, e que seu pai era de lá... Talvez ele pudesse viver o seu sonho. Viver tudo que esperou a vida toda para viver.

– O garoto vem comigo! – disse Albino. – ele irá para Palas, você querendo ou não!

– Mãe me deixe ir. – tentou Arthur. – não quero viver no Seu mundo!

– Não Arthur, querido... não... – as lágrimas escorriam abundantes pelo rosto de Denise. – não quero perdê-lo.

– Denise, sabe muito bem que não irá perde-lo! – Albino tocou os ombros de Arthur. – e ele virá todas as férias. Nada acontecera com ele. Hermes morreu porque tinha de ser assim... mas Arthur só irá para uma escola. Nada lhe acontecera, eu te prometo.

Denise se sentou na cadeira da cozinha tentando enxugar as lágrimas com as costas da mão. Fitou o filho com seus olhos inchados e vermelhos.

– Passarei o ano todo sem ver meu Arthur? – perguntou.

– Bem, ele poderá vir nas férias do meio do ano também... – Albino tentava ser o mais paciente. – era o desejo de Hermes, Denise.

Denise enxugou as vistas. Ela achara que fora golpe baixo dizer que “era o desejo de Hermes”, no entanto, concordou. Abraçou o filho, como se o mesmo não fosse voltar e beijou-lhe a testa.

– Cuide-se querido. – sorriu de falsete.

– Mãe, eu só vou para uma escola, e nem é hoje a partida, chega de besteira...

– Não? – Denise parecia feliz com a notícia. – não irá para esse Lugar... hoje?

– Claro que não! – respondeu o garoto. – o embarque para a escola é no dia 1 de fevereiro!

Denise sorrindo se afastou do filho. Albino se virou para ela:

– Porem acho que hoje é um bom dia para ele comprar seus materiais. Nos últimos dias o Mercado Flutuante fica uma loucura...

Arthur, por um breve momento de realidade, olhou para Albino assustado.

– Mas, senhor, acho que não temos dinheiro para comprar os materiais. – disse ele. – olhei a lista da escola e tudo me parece bastante caro.

Albino sorriu.

– Seu pai deixou no banco, em dinheiro de bruxo, umas economias para costear sua vida escolar em Palas pelos próximos 7 anos, Arthur.

Arthur sentiu-se enchendo de felicidade. Virou-se para mãe, e esta tentou sorrir. Quando voltou a fitar o diretor, o mesmo havia sumido. Achou incrível, mas o que não era incrível neste mundo de magia?





Às duas da tarde, Arthur já estava no local indicado pelo Sr. Freidel – no beco perto da estação de metro. Seguiu até o final, meio envergonhado, esperando que a qualquer momento alguém chegasse e gritasse: “hei, garoto? Que está fazendo aí?”

Por sorte isso não aconteceu.

Arthur encontrou na parede no fim do beco os tais tijolos amarelos ao qual o Sr. Freidel falara na carta. Toco-os e sentiu um solavanco embaixo de seus pés. Foi tudo muito rápido. Ele num segundo estava pondo as mãos firmemente contra os tijolos amarelos e no outro segundo estava acima dos prédios.

Não havia nada que, visivelmente, sustentassem seus pés, mas ele sentia um chão tão duro e firme quanto sentia quando estava lá embaixo com seus já famosos chinelos de sola fina. Ficou parado, como se que o menor movimento o fizesse cair.

Arthur então ouviu um zumbido como se centenas de pessoas estivessem ao seu lado, a sua frente, e atrás dele. Era como estar parado no meio de uma multidão invisível.

Linhas, a princípio semitransparente, surgiram por de baixo de seus pés. Subiram formando contornos de tendas e lojas. Uma cidade inteira se materializava na frente dele, no meio do céu. Pessoas começaram a surgir. Primeiro só contornos desconexos, depois formas humanas transparentes, até que tudo se texturizou. Ele estava parado no meio de uma alameda com centenas de milhares de pessoas, e com dezenas de tendas, lojas, e prédios – alguns realmente altos.

Arthur sentiu um baque nas costas quando fora atingido por um dos bruxos que passava cheio de mercadorias e pressa.

– Vai ficar parado no meio da rua, filho? – disse o bruxo irritado sem ao menos olhar para trás.

Arthur, ainda assustado pelo choque do lugar, saiu dali apressado. Receava que o lugar todo desmoronasse. Embora não pudesse mais ser visto, sabia que o lugar todo estava acima da cidade, tão alto como as nuvens. Não lhe admirava que o lugar fosse frio.

Correu para uma parte da calçada menos movimentada e conferiu sua lista. Decidiu ir comprar o item que mais chamara lhe atenção: a varinha.

Caminhou pela rua e tentava ver tudo o quanto podia. Era um lugar incrível. Era como sonhar. Havia coisas voando, seres estranhos, que ele nem sonhava que existisse e bruxos. Bruxos com roupas espalhafatosas se achando pessoas chiques e bem vestidas – e estavam para seu mundo.

Arthur parou na primeira loja de varinhas que encontrou: Varinha Solta – uma varinha realmente mágica.
Abriu a porta e um sino prateado, velho e rangedor tocou. O lugar por dentro estava horrível. Havia camadas grossas de poeiras por toda parte. Arthur se arrependeu no mesmo instante de estar ali. Pensou em ir embora quando um velho de aparência nada agradável apareceu.

– Olárrrrr criançarrr!!! – disse o velho sinistro, cuja cabeça era habitada por meia dúzia de fios longos e crespos de cabelo. – veio comprarrrr sua varrinharrr, não érrrr?

Arthur concordou com a cabeça.

– Interessanterrr!

O velho atravessou do balcão e fitou Arthur. Observou o garoto de todos os ângulos – Isso fazia Arthur se sentir um perfeito idiota – até que finalmente voltou a falar.

– Qual serrrr o seu nomerr, rapazz?

– Arthur. – o garoto sentia algo estranho nos olhos do homem. – Arthur Mortense!

O vendedor horrendo sentiu um frio, uma emoção pavorosa lhe correr a espinha. Não agüentou sua excitação e disse:

– Mortenserrr! – sorriu revelando uma penca de dentes podres. – descende de Octavio Mortenserr?

– Quem?

– O FUNDADOR DE PALAS, MENINO IDIOTA!

A expressão do homem se tornara tão maligna que Arthur se encolheu contra a porta.

– N-não! – respondeu depressa. – sou filho de trouxas!

– Ninguém em sua família é bruxo? – perguntou o homem, falando perfeitamente normal agora.

Arthur sacudiu a cabeça negativamente. Mais tarde lembraria que havia esquecido de seu pai, e agradeceria mais futuramente ainda por isso.

– Interessanterrr! – concluiu o homem voltando a falar estranho. – acho que tenho algo perfeito para você, Sr. Mortenserr!

O homem se virou e saiu para os fundos da loja. Arthur ficou um tempo, paralisado de medo, e quando finalmente tomara coragem para fugir da loja, o homem apareceu de novo.

– Aquirr! – chamou Arthur para próximo do balcão. Retirou uma varinha de uma caixa fina. – teste-a!

– Como?

– Mexarr a mão, menino burrorr!

Arthur fitou o homem com profundo ódio. Como poderia tratar um cliente assim? Balançou o braço rapidamente, achando a coisa cada vez mais idiota. Um feixe azulado brilhou na ponta da varinha e disparou contra a prateleira atrás do homem bizarro.

Houve uma forte explosão, e uma cortina de poeira se ergue pela loja. No disparo, a pressão do feitiço, fizera Arthur voar para trás. O mesmo jazia próximo da porta ainda com a varinha na mão. Ele acordou três minutos depois com um gosto de lodo na boca.

– Estarrr bem, garotorr? – perguntou o homem que segurava um pequeno rasco na mão. – está com algum osso quebrado?

– Não, acho que não...

O homem riu.

– Nunca havia visto um filho de trouxas fazer um feitiço tão poderoso com uma varinha de primeira como você, aliais ninguém... – disse homem. – tem certeza que não descende de Octavio Mortense?

Arthur deu de ombros como se disse: quem sabe?

– Meu nome é Diogo Proshinik, mas me chame de Sr. Proshinik!

– Prazer... – Arthur se levantou e tentou sacudir a poeira de suas roupas. Nem queria ver o que sua mãe diria se visse suas roupas daquele jeito. Olhou para a loja. Praticamente tudo saíra do lugar.

– Não se preocuperrrr! – disse o Sr. Proshinik. – posso cuidar disso num minuto.

Ele sacudiu a varinha e tudo voltou instantaneamente para o lugar. Arthur havia piscado os olhos e nem vira como tudo voltou a ficar arrumado, até mesmo a poeira havia sumido. O Sr. Proshinik o ajudou a levantar e caminhou para o balcão com a varinha. A embrulhou e disse:

– Um galeão!

– Quê? – Arthur não fazia idéia do que era um galeão.

– Eu disse que a varinha custa um galeão!

– Mas o que é um galeão?

O Sr. Proshinik o fitou irritado. Ia dizer algo quando Cléber Freidel entrou na loja. O secretário do Postal de Palas parecia ligeiramente apressado e aborrecido. Estava com uma capa suja de lama e parecia ter saído de um temporal. Mas não estava chovendo, pensou Arthur.

– Desculpe, Sr. Proshinik! – disse Freidel. – eu deveria ter vindo com Arthur, ele não sabe nada ainda do mundo mágico. Filho de trouxas compreende?

– Clarorrr!

– Aqui está o dinheiro.

Freidel entregou uma moeda dourada para o Sr. Proshinik e pegou a varinha embrulhada. Arrastou Arthur para fora da loja e só voltou a falar quando estavam bastante longe.

– Arthur, me atrasei. – disse ele. – eu deveria ter te encontrado logo na entrada do Mercado, me desculpe.

– Tudo bem.

– Não, Arthur, não está nada bem. – Freidel parecia muito mais velho e cansado do que realmente era. – o Professor Belforth me mandou não somente para ajudá-lo com as compras, mas para contar-lhe.

Arthur olhou curioso para ele.

– Contar o quê?

– Sobre quem você realmente é.

Arthur encarou o homem como se o mesmo fosse maluco. Por Deus, ele sabia quem ele era. Ou não sabia? Sim, sabia. Ele era Arthur Mortense, filho de Hermes e Denise Mortense. Ou não era?

Os dois entraram num bar (Gato Preto) e se sentaram num canto. Todas as mesas eram sinistramente afastadas. O lugar era mal iluminado e quente, no entanto a maioria das pessoas ali estavam trajadas com grandes mantos negros.

– Sabe Arthur, muita gente aqui não quer ser reconhecida! – disse Freidel.

– Arthur não compreendera muito bem o comentário, mas deixou para lá. Freidel pediu qualquer coisa, que ele não ouviu direito e se inclinou para ele, falando o mais baixo possível.

– Primeiro, Arthur, entenda isso: você é o primeiro Mortense em Palas desde o fundador da escola, Octavio Mortense.

– Mas e o meu pai? – perguntou o garoto.

Freidel olhou em volta.

– Seu pai, e a família dele, viviam numa cidadezinha da Alemanha. – contou. – ele estudou lá. Quando vieram para o Brasil, seu pai já estava formado.

O garoto não lembrava da sua mãe ter dito que o pai vivera sua infância na Alemanha.

– Mas porque é tão importante o fato de eu ser o primeiro Mortense em Palas? – disse o garoto, imaginando, sem motivo algum, seu pai fazendo grandes feitiços com uma varinha.

– Bem, Arthur é que... Obrigado! – Freidel foi interrompido pela chegada eminente do garçom com as bebidas.

Ambos, Freidel e Arthur, deixaram os copos de lado, e não chegariam a beber do líquido contido neles. Freidel continuou:

– Entenda que eu também não sei muita coisa, só cumpro ordens do diretor de Palas, que você conheceu hoje mais cedo. – disse Freidel. – de toda forma, os Mortense, eram considerados uma família extinta. Não se sabia até pouco tempo que Octavio havia tido filhos e os escondidos na Alemanha. De toda forma ainda acho surpreendente ninguém nunca ter ligado os Mortense de lá com Octavio...

– Eu entendi, mas o que tem isso haver com quem eu sou? – Arthur já estava impaciente.

– Ainda não percebeu? – Freidel parecia decepcionado. – você realmente descende de Octavio Mortense, o ilustre fundador de Palas.

Arthur ficou surpreso com a notícia, mas no entanto não via qualquer motivo para ficar contente, ou triste com ela. Era apenas o tataraneto de um cara que ele nem sabia direito quem era.

– E devo lhe pedir que nunca... – Freidel o fitou bem no fundo dos olhos. – nunca revele isso a alguém! Para todos os efeitos você é apenas o filho de trouxas, reles e comum...

Arthur se sentiu estranhamente irritado com isso.

– Porque tenho que fazer isso?

Freidel mais uma vez contornou o bar com os olhos para verificar se não havia ninguém espiando. Não havia. Aproximou-se de Arthur novamente.

– Já disse que não sei de tudo. – falou. – mas o Professor Belforth disse que é melhor que ninguém saiba que você é o descendente legítimo de Octavio. Bem, digo você e seus irmãos, pois eles também são... Mas siga meu conselho mais uma vez, Belforth sabe o que faz, se ele diz que é perigoso contar sobre sua ascendência é por que é...

– Ele não me pareceu muito sábio, aliais... – Arthur viu nitidamente o rosto pálido do diretor. – ele me parecia um tanto doente...

– E está! – Freidel parecia triste. – acho que o diretor já não tem tanto tempo de vida... – Freidel fez uma careta. – e o pior, que o provável sucessor de Belforth será aquele insuportável do Virgilius!

– Virgilius? – perguntou Arthur.

Freidel suspirou.

– Ele é professor em Palas. – disse, ainda com a cara de nojo. – é um homem arrogante... inteligente, sim, mas muito arrogante. – Freidel parecia estar vendo mais que um boteco e um garoto a sua frente. – num sei, mas sabe Arthur, sempre vi algo de... estranho naquele homem. Contudo poderá tirar suas próprias conclusões a respeito dele.

– O homem riu após terminar sua viagem pelo fantástico mundo das lembranças.

– Não conte a ninguém, por gentileza, que falei mal de um professor de Palas. Não pegaria bem para mim.

Arthur fez que sim.

– Agora vamos! – Freidel se levantou animado. – vamos ao Gringotes pegar seu dinheiro e comprar o restante do material...

– O que é Gringotes? – perguntou Arthur.

– O Banco dos Bruxos.

– Será... – Arthur se sentia um pouco envergonhado, embora não devesse. – que você poderia me explicar como funciona o dinheiro dos bruxos?

– Claro. – disse Freidel sorrindo. – é para isso que estou aqui!

Os dois saíram do bar na direção do Gringotes enquanto Freidel ia explicando sobre os galeões, sicles e nuques.

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