O Despertar da Atração



Capítulo 3 – O Despertar da Atração



Dois dias tinham passado desde a última vez em que Druella tocara no assunto casamento com Bellatrix. Tudo parecia muito calmo, mas Bella deveria saber mais do que ninguém que os Black nunca desistiam de nada. E nenhum membro adulto da família estava disposto a perder o casamento do século por um simples capricho adolescente.

Após uma péssima noite de sono, acordando a cada duas horas e com um mau pressentimento percorrendo o seu corpo, os raios de sol finalmente invadiram o escuro quarto de Bellatrix, fazendo a garota franzir as finas sobrancelhas e abrir aos poucos aqueles olhos frios e ao mesmo tempo estonteantes. Levantou-se com calma, rumando em seguida para o banheiro ligado ao seu quarto por uma porta, e jogou a água fria em seu rosto incrivelmente pálido. Olhou seu belo reflexo no espelho por uns instantes, e foi se trocar.

Não demorou muito, e lá estava Bellatrix descendo as escadas da grande Mansão Black, em toda sua imponência e exuberância. Mas, o que ela avistou quando chegou lá para o meio da longa escada, não a agradou nem um pouco.

Sua mãe e Walburga conversavam de um jeito muito compenetrado com outra mulher, provavelmente convidada das duas. Ela tinha os cabelos muito louros, tanto quanto os de Narcissa, a pele bastante clara e os olhos castanhos demasiadamente grandes – quase pulando para fora, Bellatrix se arriscaria a dizer. Ela rabiscava, com suas mãos pálidas e muito magras, uma espécie de vestido, conforme Druella e Walburga iam falando e gesticulando. Assim que as duas Black avistaram Bellatrix, os dois pares de olhos, outrora severos e firmes, pareceram iluminar-se.

- Bella, querida, que bom que você já acordou! – exclamou Druella, gesticulando para a menina se aproximar. – Estávamos quase indo pedir para o Monstro te chamar.

- O que foi, mamãe? – Bellatrix perguntou, esquecendo momentaneamente as formalidades tão ensinadas pelas mulheres mais velhas da família, e não cumprimentando ninguém que se encontrava na grande sala de estar.

Walburga revirou os olhos de irritação, gravando em sua memória o fato de, mais tarde, chamar a atenção de sua sobrinha por isso.

- Esta é Amélia Roberts, Bellatrix. – falou sua tia, erguendo elegantemente a mão na direção da loura sentada na poltrona em frente a elas.

A mulher mantinha agora o olhar fixo e praticamente petrificado na jovem Black, como se estudasse atentamente cada milímetro dos fios negros e macios que caíam soltos pelas costas magras da garota, cada pequena parte daquele corpo que causava inveja a qualquer homem que soubesse apreciar uma bela mulher. A loura, enfim, conseguira ficar diante da maior promessa de beleza da Grã-Bretanha, e assim que chegasse em casa, contaria correndo para todos os conhecidos.

- Bom dia, senhorita Roberts. – a garota cumprimentou, com uma pequena e discreta vênia, fazendo a mulher finalmente despertar dos seus próprios pensamentos e especulações.

- Bom dia! É um prazer finalmente conhecê-la, sua tia e sua mãe falaram muito bem de você e... – começou Amélia, em uma tentativa completamente fracassada de agradar a jovem e promissora Black.

- Amélia está aqui para fazer o vestido que usará amanhã, Bella. – Walburga a interrompeu, como se a mulher fosse apenas uma mosca zunindo incomodamente em seus sensíveis ouvidos.

A loura, por sua vez, xingou-se mentalmente pela péssima postura diante da família, e apenas concordou com a matriarca dos Black, com um sorriso amarelo e ansioso brilhando em seus lábios um tanto rachados.

Bellatrix rapidamente vasculhou sua memória, tentando lembrar que compromisso ela teria na data dita por sua tia, mas nada lhe vinha à mente. Franziu as sobrancelhas pela segunda vez naquela manhã, e já ia abrindo a boca para perguntar o que ela estava planejando, quando o olhar severo de Walburga esbarrou no seu. Percebeu, então, que aquela não seria uma pergunta apropriada para ser feita na frente de convidados; Bellatrix jamais poderia demonstrar, naquele momento, que nem sonhava no que estava para acontecer. Deveria demonstrar firmeza, controle, como se soubesse de cada detalhe, e não confusão e embaraço.

- Ah, que ótimo! – exclamou a jovem, sorrindo discreta e perfeitamente para a mulher ainda sentada na poltrona. – Espero que o vestido saia do modo como planejamos.

- Pode ter certeza de que sairá, senhorita Black. – Amélia disse, começando a vasculhar algo em sua pequena maleta colocada no chão gélido junto à poltrona, até que pareceu encontrar o que procurava. – Agora, se me permite, gostaria de tirar com maior precisão suas medidas.

- Vá em frente, Amélia. – falou Druella, sorrindo de um jeito que Bella tinha plena certeza de ser totalmente falso. – Bellatrix tem todo o tempo necessário disponível, não é, querida? – ela perguntou, no que a jovem assentiu, disponibilizando o seu belo corpo para as medições da mulher.

Após cerca de duas horas fazendo ajustes aqui e ali, apagando e anotando observações, quando Bella já quase não agüentava mais ficar parada em pé, Amélia finalmente pareceu terminar. Guardou seus vários pergaminhos rabiscados em sua maleta, fechando-a em seguida, e virou-se para se despedir das três mulheres que a receberam com educação, mais ao mesmo com frieza.

- Obrigada por atender ao nosso urgente chamado. – começou Walburga, andando junto com a convidada em direção a porta. – Não a chamaríamos se não tivéssemos certeza do seu magnífico trabalho, e de que você entregará no curto espaço de tempo estipulado.

- Vai ser realmente muito difícil entregar o vestido pronto amanhã até a noite, senhora Black... – começou a loura, tentando preveni-la, caso nem tudo saísse como Walburga desejava.

- Sim, claro, mas você irá conseguir aprontá-lo, não é mesmo? – Walburga disse, fazendo sua pergunta soar mais como uma ordem, e não deixando a menor chance de uma nova resposta. – Nos encontramos amanhã novamente, tenha um bom dia.

E, após isso, deixou a convidada aos serviços do elfo doméstico. Monstro abriu a porta para ela passar, enquanto Amélia acenava animadamente para Walburga, e logo depois a porta fechou com um estrondo.

Walburga, por sua vez, ordenou que Monstro servisse-lhe uma xícara de chá, enquanto voltava calmamente para o lugar que antes ocupava no sofá da sala de estar.

- Aonde vou ter que ir amanhã para usar esse vestido? – Bellatrix perguntou, assim que se certificou de que a mulher já havia ido, finalmente, embora.

Mordeu os lábios, ligeiramente aflita, como que prevendo a notícia que viria a seguir. Jogou algumas mechas negras de seu cabelo que lhe caíam na frente do ombro para trás, e encarou firmemente as duas mulheres sentadas com uma expressão irritantemente calma no sofá a sua frente.

- Você jantará em um finíssimo restaurante londrino amanhã, Bella. – Druella respondeu, olhando distraidamente para as unhas recém-feitas de suas mãos.

- Nós jantaremos? – perguntou novamente a garota, achando tudo muito estranho. Ainda não se sentiu tranqüila o suficiente para sentar e, como que se esperasse uma bomba explodir em cima dela, permaneceu em pé.

- Da família Black, apenas você. – Walburga disse, pegando o chá da bandeja de prata toda trabalhada com desenhos rústicos que Monstro trazia. Ela girou calmamente a pequena colher pela xícara, tomando um pequeno gole do líquido dentro dela em seguida. – Os Lestrange passarão aqui às oito horas da noite para te buscar.

Bellatrix encarou as duas, perplexa, com a sensação de ter sido brutalmente traída. Sentiu uma enorme onda de raiva inundar cada centímetro daquele corpo tão belo, uma vontade quase incontrolável de quebrar todas as tapeçarias daquela estúpida e fria sala de estar; quase. Bellatrix poderia ter chorado, gritado, dito que não iria de jeito algum, ou simplesmente corrido para o seu quarto. Mas isso era o que uma jovem normal faria, e ela não era normal: era superior, era uma Black. E, naquele momento, ela aprofundou-se o máximo que pôde em todos os ensinamentos que já havia tido, em todas as regras, em todas as tradições, procurando a atitude perfeita a ser tomada. Por fim, abriu o sorriso mais bonito, falso e cheio de rancor que jamais havia aberto, enquanto lentamente passava as mãos gélidas pelos fios negros de seu cabelo perfeitamente escovado.

- Oito horas parece perfeito para mim. – Bellatrix sibilou, com a voz ainda mais firme do que o normal, fazendo uma vênia para as duas mulheres em seguida. – Agora, se me dão licença, me recolherei ao meu quarto para terminar de ler um livro antes do almoço.

- Claro, vá, querida. – disse Druella, sorrindo de volta para a filha, enquanto Walburga adquiria um olhar vitorioso ao seu lado.


[...]


Na noite do dia seguinte, Sirius estava sentado na varanda daquela grande Mansão, que detinha o chão todo em uma madeira escura e fazia um grande estalado a cada passo cuidadosamente dado sobre ela. Usava uma camiseta azul-escura, por causa do verão, e o tom desta era curiosamente da quase exata cor dos olhos do garoto. Vestia também uma calça despojada em tonalidade escura, e sorriu ao lembrar por alguns momentos que, se alguma menina de Hogwarts o visse agora, com certeza iria lá dar em cima dele, ou o convidaria para dar uma volta. Segurou um pequeno espelho, que em última hora resolveu levar para a varanda, e ficou encarando-o por alguns minutos. Uma brisa fresca passou pelo local, no que ele sentiu um aperto estranho em seu peito, e de repente viu-se voltando finalmente para Hogwarts, reencontrando seus amigos, fazendo as coisas que ele gostava de fazer. Mas, então, como que para acabar com aquelas lamentações, Sirius jogou charmosamente para trás alguns fios negros de seu cabelo que lhe caíam displicente pelos olhos azuis, e segurou o pequeno espelho um pouco mais a sua frente.

- Prongs! – ele exclamou, com o tom de voz não muito alto, olhando atentamente para o espelho. – Ei, Prongs!

Esperou cerca de alguns instantes, e logo o rosto do seu melhor amigo, James Potter, surgia carrancudo no que parecia ser dentro do espelho. Ele olhou emburrado para Sirius por uns instantes, com os olhos castanho-esverdeados ligeiramente entreabertos, e bocejou, enquanto passava as mãos displicentemente pelos cabelos e despenteava-os.

- O que você quer à uma hora dessas, Pads?! – falou o garoto, com a voz sonolenta.

- Uma hora dessas?! – exclamou Sirius, rindo fracamente, enquanto olhava de soslaio um grande e prateado relógio bruxo que estava pendurado na parede do lado de fora. – Ainda são quase oito horas!

- Ah, é mesmo. – James disse, tentando manter seu belo par de olhos aberto, enquanto passava uma das mãos pela nunca. – É que passei a noite inteira ontem acordada, sabe?!

Sirius assentiu, em um suspiro triste. Naquele momento, mais do que em qualquer outro, ele desejou imensamente sair do domínio dos Black e ir direto para a casa de um de seus amigos.

- Noite de lua cheia, não foi? – ele perguntou, lembrando-se imediatamente de Remus e adquirindo um ar ainda mais entristecido.

- Pois é. – James comentou, enquanto tentava encontrar seus óculos pela cama. – Mas até que dessa vez Moony não sofreu muito como lobisomem! – disse, por fim, quando finalmente conseguiu achar seus óculos, colocando-os logo em seguida.

- Foi tudo bem, então? – perguntou Sirius, sentindo-se pelo menos um pouco mais aliviado.

- Na medida do possível, sim. – respondeu James, abrindo um sorriso amigável para o garoto. – E você, como estão as coisas por aí?

- Pior do que nunca. – Sirius disse, bufando de extrema irritação.

Ele emburrou ainda mais a cara e, quando ia começar a lavar sua alma falando mal daquela família que tanto detestava, ouviu a porta ranger alto, enquanto arrastava-se pesadamente, abrindo aos poucos, e vozes pareciam se aproximar cada vez mais. Sirius murmurou algo como “Depois nos falamos.” para James, e rapidamente escondeu o pequeno espelho.

Antes que as pessoas saíssem de dentro da Mansão Black, porém, o garoto assustou-se com uma grande e luxuosa carruagem que chegava imponente ao portão, exatamente junto com a badalada das vinte horas. Parecia que sairia de lá algum príncipe ou algo parecido, tamanho era o ouro misturado com preto que se espalhava por toda a decoração da bela carruagem. Mas, instantes depois, Sirius perceberia que, na verdade, era apenas mais uma das inúmeras famílias aliadas aos Black que faziam de tudo para mostrar o quanto de tradição e riqueza detinham.

Então, finalmente a porta da Mansão Black abriu-se por inteiro, e o garoto pôde observar Walburga e Orion saírem com os braços ligeiramente entrelaçados, em uma típica demonstração de firmeza e segurança, seguidos pelo elegante casal formado por Druella e Cyrus. Mas, foi um último Black vindo atrás dos quatro, quem o fez perder todo e qualquer sentido: Bellatrix. A garota usava um vestido com um enorme decote nas costas, colado ao seu belo corpo e salientando ainda mais suas curvas perfeitas, e em um tom muito intenso de preto, tão preto quanto seus cabelos, que agora estavam perfeitamente presos em um coque amarrado por uma presilha prata toda trabalhada, e deixando que finas mechas caíssem com cachos definidos pelo rosto macio e bem maquiado de Bellatrix. Agora, ela não parecia mais uma adolescente – parecia uma mulher, a mais bela, intensa, fria e segura de todas as mulheres.


Well, he can't sleep at night
-- Bem, ele não consegue dormir de noite --
And he can't do what's right
-- E não consegue fazer o que é certo --
It was all because she came into his life
-- Tudo porque ela apareceu na vida dele --
It's a deep obsession, taking up his time
-- É uma profunda obsessão, tomando o tempo dele --



Sirius teve que piscar inúmeras vezes, até finalmente recuperar a razão e tentar afastar aqueles pensamentos estranhos e totalmente desprezíveis que agora invadiam por completo sua mente. Sempre percebera a beleza estonteante de sua prima, é verdade, mas nunca a vira tão arrumada e com um ar misteriosamente sensual e convidativo como naquela noite. Perdeu-se por alguns momentos, que mais pareceram horas para ele, por cada linha daquele vestido negro cobrindo o corpo que agora Sirius desejava ver mais de perto.

- Pelo amor de Merlin, Sirius, ela é sua prima irritante! – o garoto murmurou para ele mesmo, conseguindo, enfim, tirar aquelas idéias pervertidas e ao mesmo tempo abomináveis que pareciam insistir em invadir seus pensamentos.

E, então, os adultos da família Black aproximaram-se sorridentes do que parecia ser outra família descendo da carruagem. Sirius espremeu ligeiramente seus olhos azul-escuros, a fim de reconhecer aquela família, e não demorou muito para encontrar o rosto arrogante de Rodolphus Lestrange. Começou a entender o que estava acontecendo quando viu Bellatrix ser apresentada ao rapaz que havia se formado há alguns anos em Hogwarts e, depois de uma cordial troca de cumprimentos e falsos elogios, observou Lestrange oferecendo a mão para Bella subir em sua carruagem.

E lá estavam os Black arranjando mais um estúpido casamento, o garoto pensou. Mas ele não aceitaria aquilo de jeito algum, quando chegasse sua hora. Não mesmo. Nem que tivesse que fugir, talvez para a casa de James, ou algo assim.


[...]


Bellatrix abriu com grande força a pesada porta da Mansão Black, completamente exausta. Tirou imediatamente aquelas sandálias pretas de salto extremamente fino que a machucaram a noite inteira, e soltou os cabelos negros, cujos fios estavam tão puxados para serem presos no coque, que sua cabeça já latejava de um modo insuportável.

Ela andou arrastada e lentamente pela grande e gélida sala de estar da casa, desejando simplesmente cair pelo tapete de pele de urso e adormecer ali mesmo. Havia sido a noite mais entediante e demorada de toda a sua vida. Rodolphus era um homem muito fino e elegante, com certeza, mas também muito chato e presunçoso. Apesar de que, no final das contas, o jantar fora muito produtivo, pensou Bellatrix, já que os Lestrange comentaram abertamente sobre todas as suas posses e fortunas, que não eram poucas, diga-se de passagem, e ficaram totalmente encantados com a jovem Black. Isso era bom para ela, pois teria um futuro rico e poderoso garantido, e era assim que as coisas deveriam ser.

Bella foi subindo lentamente as escadas, como que apreciando pisar em cada degrau só para ter a sensação de finalmente estar em casa, até que chegou ao segundo andar, onde ficavam os quartos de todos os jovens da família. Passou distraidamente pelo quarto de Andromeda, depois pelo de Narcissa e, quando ia alcançando o seu, estava caminhando de um jeito tão despreocupado e relaxado, cujo ela nem tinha o costume de caminhar, que acabou deixando uma de suas sandálias cair no chão. O barulho não foi forte a ponto de fazer alguém acordar, mas foi alto o suficiente para chamar a atenção de alguém que já estivesse acordado.

E foi exatamente o que aconteceu no caso de Sirius, já que o garoto só costumava pegar no sono quando estava na Mansão Black lá pelo meio da madrugada. Estava com um lençol azul-turquesa puxado até quase o meio de seu peitoral descoberto, enquanto trazia os braços dobrados atrás da cabeça e contemplava o teto escuro e vazio de seu quarto, quando ouviu o estranho e repentino barulho vindo do corredor. Como não estava fazendo absolutamente nada mesmo, e sua curiosidade foi maior do que a preguiça de simplesmente continuar deitado na cama, Sirius acabou levantando-se e indo até a porta de seu quarto, abrindo-a em seguida.

Bellatrix levou um susto quando avistou um vulto saindo de repente do quarto ao lado do seu, e quase chegou a gritar, mas conteve-se quando a silhueta de Sirius saiu da penumbra da porta de seu quarto e apareceu mais claramente quando o garoto aproximou-se de Bellatrix, ficando sob a luz de uma fraca vela pendurada na parede do corredor.

Mais uma vez, o garoto sentiu-se estranhamente atordoado com aquela beleza estonteante emanada de Bellatrix, que agora parecia estar ainda mais linda com os cabelos caindo soltos até quase a cintura.


She's all that he wants
-- Ela é tudo o que ele quer --
She's all that he needs
-- Ela é tudo o que ele precisa --
She's everything, he just won't believe
-- Ela é tudo, ele apenas não vai acreditar--



- O que foi, Sirius? – a garota perguntou, de repente, levantando uma sobrancelha para o modo estranho como ele a observava de cima a baixo.

Ele, então, pareceu enfim despertar, e foi recuperando aos poucos seus pensamentos.

- Ouvi um barulho, e vim ver o que era. – disse, dando de ombros, com seu costumeiro jeito displicente. – Aconteceu alguma coisa?

- Minha sandália caiu, só isso. – respondeu Bella, gesticulando com impaciência, enquanto virava-se de lado para o maroto e levava uma de suas mãos à maçaneta da porta de seu quarto.

Mas, antes mesmo que ela começasse a girá-la, Sirius aproximou-se ainda mais, agora ficando completamente iluminado pela fraca luz emanada pela única vela do corredor.

- Como foi o jantar com os ilustríssimos Lestrange? – o garoto perguntou, sorrindo ironicamente.

E Merlin, que sorriso. Daquele tipo que deixa suas pernas bambas só de observá-lo. E foi exatamente assim que Bellatrix ficou quando soltou a maçaneta de seu quarto e virou-se para o primo, a fim de dar-lhe uma resposta mal-criada. O problema é que, assim que ela pousou os olhos naquele sorriso charmoso e ao mesmo tempo desafiador, e depois foi descendo lentamente, até parar no peitoral descoberto e perfeitamente definido de Sirius, que agora era iluminado fracamente pela vela, dando-lhe um ar misterioso e sedutor, Bellatrix simplesmente viu-se sem fala.

A garota piscou algumas vezes, como que para desviar aqueles pensamentos indesejáveis, e pigarreou, recompondo-se. “Pelo amor de Merlin, Bellatrix, ele é seu primo irritante!

- Certamente, foi muito melhor do que ficar aqui e ter que agüentar suas piadinhas inoportunas. – retrucou Bella, desviando o olhar para não mais encará-lo.

A garota jogou, de um jeito mais sedutor do que ela mesma previra, algumas mechas de seu cabelo negro, que pendiam em seu rosto, para trás. Sirius, então, sentiu novamente aquele sentimento esquisito que começara desde quando sua prima aparecera na varanda da Mansão Black naquela noite. Céus, Bella estava bonita demais para qualquer homem normal não se sentir irresistivelmente atraído. Sirius deu lentamente alguns passos na direção de sua prima, quase como sem perceber, até deixar seus corpos um pouco mais próximos.

- O que você pensa que está fazendo? – Bellatrix indagou, andando um pouco para trás, ligeiramente assustada, e batendo com as costas na porta de seu quarto.


Take away his doubt, turn him inside out
-- Tire a dúvida dele, vire-o do avesso --
Then she can see what he's been dying to say
-- Então ela verá o que ele tem morrido de vontade de dizer --
But things don't always turn out that way
-- Mas as coisas nem sempre acabam desse jeito --



O garoto, então, arregalou os olhos também, e parou de andar. Mordeu ligeiramente o canto dos lábios, como que travando um duelo entre obedecer a sua mente e sair o mais rápido possível dali, ou obedecer ao seu corpo e fazer logo o que o calor que o percorria por inteiro estava exigindo. Mas, afinal, quando é que Sirius Black resolve simplesmente fazer o que parece mais certo, e ignorar seus impulsos? A resposta é muito simples: nunca.

Sirius ignorou a expressão surpresa e ao mesmo tempo preocupada de sua prima, e aproximou-se ainda mais, até ficar cerca de alguns centímetros de distância da garota. Ele olhou-a intensamente, de um jeito tão firme e ao mesmo misterioso, que a deixou completamente atordoada, como ela não lembrava de se sentir a muito tempo. Sirius continuou encarando-a, como que esperando a reação que ela teria, até que Bella sentiu vontade de que ele continuasse. Em um gesto insano, segurou um dos braços do primo, quase alcançando o seu ombro, devolveu aquele olhar incrivelmente petrificante, e aproximou ligeiramente mais o seu belo corpo ao dele. Sirius abriu um quase imperceptível sorriso malicioso pelo canto de seus lábios extremamente convidativos, passou as mãos habilmente pela fina cintura de Bellatrix, colou todo o seu corpo ao dela, acabando com aquela pequena e inoportuna distância, e a beijou, pressionando sua prima contra a porta do quarto.

Os dois se beijaram com ferocidade, com urgência, em uma mistura de desejo e perigo, como se suas vidas estivessem prestes a acabar, e aquele fosse o último momento. Um turbilhão de emoções invadiu suas mentes, mas era algo completamente diferente, algo que nenhum deles seria capaz de explicar. Era como se uma corda invisível amarrasse com força aqueles corpos, enquanto um frio de nervoso e excitação os percorria por inteiro. Bellatrix percorreu sedutoramente um das mãos pelas costas largas e definidas de Sirius, arranhando-o por algumas vezes e fazendo-o arrepiar-se, enquanto a outra ia para o cabelo despenteado do primo, mergulhando os dedos naqueles fios negros e puxando-os ligeiramente. Sirius, por sua vez, deslizava livremente suas mãos pelo corpo com perfeitas curvas de sua prima, no que ela não fez nenhuma objeção.

Após um tempo envolvidos naquela onda de calor arrepiante cujo nenhum dos dois saberia dizer quanto foi exatamente, Bellatrix pareceu recuperar um pouco da razão que ainda lhe restava, e empurrou Sirius com a maior força que conseguiu reunir. Os dois se encaram, muito ofegantes, o peito arfando e os cabelos despenteados. Bellatrix passou as costas da mão pelos lábios, como que limpando aquele beijo que, no entanto, permaneceria para sempre em sua memória.

- Que isso nunca mais se repita, entendeu bem? – ela sentenciou, com seu típico jeito de dar ordens, enquanto virava de costas para o primo e abria, enfim, a porta do seu quarto. Antes de sumir pela escuridão que se alastrava por ele, porém, virou-se a última vez para encarar Sirius. – Se alguém ficar sabendo disso, garanto que você vai se arrepender até o ultimo dia de sua medíocre vida.


And he must confess
-- E ele deve confessar --
All the impure thoughts of his beautiful temptress
-- Todos os pensamentos impuros da sua linda tentação --
Although he keeps it all bottled up inside
-- Mesmo que ele mantenha guardado dentro dele --
Although he keeps it all safe within his mind
-- Mesmo que ele mantenha tudo a salvo em sua mente --



E, após isso, a garota finalmente entrou, fechando com raiva a porta atrás de si. Como poderia ter sido tão estúpida a ponto de beijar a pessoa mais idiota, esquisita e desapropriada para ela em todo o mundo? Mas aquela loucura não se repetiria de novo, não mesmo. Ela não poderia colocar em perigo toda a sua reputação perfeita na família Black, e muito menos o melhor noivado do mundo bruxo, que não demoraria muito para acontecer depois do jantar daquela noite. Apesar de que, uma coisa Bella não poderia negar: Merlin, como aquele idiota beijava bem! Definitivamente, um tipo de beijo que ela nunca havia provado antes, e com certeza o melhor de todos. Bellatrix vivia em um mundo cheio de pessoas fingindo ser o que não eram, mas quando esteve envolvida nos braços de Sirius naquele beijo, era como se tivesse sido realmente quem ela queria ser, como se estivesse se libertando. Havia sido um beijo que falara tanto, e ao mesmo tempo nada.

Sirius, por sua vez, apenas riu da suposta ordem de Bellatrix, enquanto observava-a sumir pela penumbra do seu quarto. Por mais que ele odiasse irritar e contrariar os Black, nem de longe passou pela sua cabeça contar aquela insanidade para alguém. Até porque, como explicaria o fato de simplesmente beijar com uma vontade que nunca sentira antes por nenhuma outra, a supostamente garota que ele mais odiava em todo o mundo? Mesmo com todas as aventuras malucas com seus amigos em Hogwarts, com todas as detenções que já havia levado – e não foram poucas – e todas as travessuras que já havia feito, aquele beijo que acabara de acontecer tinha sido a coisa mais perigosa e impensada que Sirius fizera em toda a sua vida.

Mas, afinal, se não podemos cometer loucuras, então para que viver?! E foi com esse pensamento, misturado a culpa de ter beijado uma pessoa tão desprezível como Bellatrix, que o garoto foi novamente tentar dormir, enfrentando a noite com os pensamentos mais confusos de que podia se lembrar.


So wipe that smile off your face
-- Então tire esse sorriso do rosto --
Before it gets too late
-- Antes que seja tarde demais --
There's only so much time
-- Há muito pouco tempo --
For you to make up your mind
-- Para você se decidir --



– Things Don't Always Turn Out That Way, The Calling



“A mim me enerva o ardor com que ela vibra

E que a motiva desde de manhã.
-- Como é que pode, digo-me com espanto
a luz e a treva se quererem tanto...”

(Vinicius de Moraes)





N/A: E que comece o romance! Mais uma vez eu demorei a atualizar, é verdade, e realmente peço desculpas. Tenho muitas fics em andamento, então acabo me enrolando um pouquinho! De qualquer jeito, aí está finalmente o capítulo 3, e espero que tenham gostado – se é que ainda tem alguém lendo, haha! Quem puder, gostaria de pedir que comentasse, porque s/b não é um shipper muito querido, então é difícil e muito importante saber o que vocês estão achando!

Milhões de Beijos (:

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