A carta de Remo Lupin



Harry estava debruçado sobre a mesa da cozinha da casa dos Dursley. Ultimamente sua tia estava obrigando -o a fazer tantas coisas que o garoto acabou dormindo na cozinha mesmo, assim que se sentou para descansar depois de ter esfregado o chão e lavado toda a louça.

Harry era um garoto magricela e com olhos verdes vivos. Tinha os cabelos sempre despenteados e uma fina cicatriz na testa em forma de raio. Morava com os tios desde quando tinha um ano de idade, mas nunca gostara de estar ali.

Harry era um bruxo. Um bruxo conhecido no seu mundo. E isso já causara alguns problemas para ele também. Por causa disso, desde quando entrou na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, ele vem enfrentando aquele que matara seus pais há quinze anos: Lord Voldemort. No quarto ano, Voldemort recuperou todas as suas forças, fazendo com que o mundo dos bruxos se subdividissem. Agora existia a ordem do Ministério (a ordem criada por Cornélio Fudge), composta por aqueles que apoiavam o ministro (embora agora estivesse vazia, pois Fudge havia perdido o seu prestígio), os Comensais da Morte (a ordem de Lord Voldemort) e a Ordem da Fênix. Essa ordem era a ordem que Harry pertencia, e era composta por todos aqueles que acreditavam que realmente Voldemort havia voltado. Ela recebeu esse nome por causa da fênix de Dumbledore, que mais uma vez salvou Harry quando ele enfrentou Voldemort, no ano passado. Mesmo assim, Harry havia perdido o seu padrinho, Sirius Black, agora morto. Agora estava tendo aquele sonho, embora por causa do susto, já não se lembrava do começo dele. Só tinha em mente a última parte, dos pais gritando "fujam, fujam" e Voldemort dando aquela risada fria que ele já deveria estar acostumado a ouvir.

Mas, diferente das outras vezes que Harry sonhara com Voldemort, sua cicatriz não estava nem doendo e nem ardendo. Ele sentia um certo vazio naquele momento, como se tivesse alguém naquele pesadelo que estava faltando na vida dele. Não pensou muito naquilo, seus pais não estavam mortos? Deveria ser deles que ele sentia falta. Mas algo insistia em dizer que não, que era outra pessoa...

_ Estou precisando descansar. Trabalhei muito hoje.

Tomando o extremo cuidado de não acordar ninguém, Harry subiu a escada e entrou no seu quarto. Sentou na cama e, já sem sono, resolveu olhar o álbum que tinha ganhado de Hagrid no final do primeiro ano. Logo que ganhou, tinha apenas fotos de seus pais sozinhos ou com ele ainda bebê, mas agora tinha fotos de todos os seus amigos e professores, enfim, de todos que conhecia, todas tiradas pelo coleguinha um ano mais novo, Colin Creevey. Abiu e, num instante, ficou bastante feliz. Existiam fotos de seus pais sorrindo para ele, de todos os professores acenando, de toda a família Weasley conversando (só Rony acenando) e uma foto com ele e seus dois amigos, Rony e Hermione...

Harry agora lembrara. No ano anterior Rony e Hermione haviam namorado, mas tinham terminado. (“Éramos muito diferentes, não havia um dia que Mione não me corrigisse ou criticava", disse Rony, e " Uma simples atração causada pelas nossas enormes diferenças", desabafou Hermione). Por causa disso Harry ficou bem mais amigo de Mione, e não entendia bem porque toda vez que pensava na garota sentia uma certa alegria, ao mesmo tempo em que uma pequena saudade. Lembrava-se quando Rony lhe contou sobre o fim do namoro. Sentiu um alívio enorme. Do nada soltou “Então a Mione tá livre?", mas logo se reemprendeu.

Logo após essa foto, Harry começou a ver as fotos de seu padrinho, Sirius Black. Uma revolta muito grande tomou conta dele, junto com uma tremenda saudade. Agora, por causa disso e de tantas outras coisas, ele se comunicava com Olho Tonto Moody e com Remo Lupin, outro amigo antigo de seu pai. Harry lembrou que eles haviam implorado para que nunca perdessem o contato entre si. Harry, como das outras vezes desde o começo daquelas férias, escreveu uma carta para Lupin, contando sobre o que ainda lembrava daquele estranho sonho que tinha tido ainda pouco:

“Oi Lupin, tudo bem?

Acabei de ter um sonho muito estranho, mas quase não lembro do que sonhei. Lembro-me de ver visto meus pais gritando para que alguém fugisse, mas parecia que Voldemort atirou algum ataque que fez eles desaparecerem. De qualquer maneira, o mais estranho foi que dessa vez eu não senti mais dor na minha cicatriz. Não se preocupe, acho que não tem muito a ver com Voldemort, mas se você souber de alguma coisa, me diga.
Harry, dia...”

Harry deu uma olhada no calendário, e viu que já era seu aniversário de dezesseis anos. Soltou um leve sorriso e escreveu:

“dia trinta e um de julho."


Entregou a carta à Edwiges, que saiu voando pelo céu afora. Quando a perdeu de vista, viu um pontinho vir na sua direção. Era Pichitinho, a coruja de Rony, que vinha trazendo um grande pacote, um pouco maior do que ele, e logo atrás vinha Hermes, a coruja de Percy, também trazendo vários pacotes. O pacote de Pichitinho trazia o presente de Rony, juntamente com a carta que ele tinha escrito. Ele tinha dado vários doces, que também era presentes de Fred e Jorge, agora donos de uma loja de variedades. Na carta estava escrito:

“Oi Harry, feliz aniversário!
Espero que tenha gostado do presente, Fred e Jorge mandaram os melhores doces que eles vendem. Eles mandaram avisar que é pra você tomar cuidado, senão vai ter uma dor de barriga. Dumbledore nos escreveu, você vem pra cá semana que vem. Parece que ele tem se preocupado bastante com você, mas depois da confusão que deu no ano passado, né? Vamos te buscar da bendita forma trouxa, mas preferia mil vezes ir de pó de flu, ainda dou risadas quando lembro da última vez que a gente foi até aí pela lareira. Hahaha... bom, depois a gente se fala, tá? Rony.
Obs: não sei se Hermes chegou aí, mas caso já tenha chegado, não se espante. Percy não fez as pazes com papai ainda, aquele orgulhoso. Não sabemos o que há com ele, mas ele diz que se recusa a ter alguma coisa vinda do papai e da mamãe, por isso devolveu Hermes a eles. Agora ele pertence a Fred e Jorge, que nos emprestaram para lhe entregarmos o resto dos presentes. Ah, mas isso nem vem ao caso, né? Então, esteja pronto na segunda feira, quando iremos te buscar de carro (ainda assim, prefiro pó de flu, ou quem sabe um carro voador de novo). ”

Harry caiu na risada pela primeira vez naquelas férias, realmente era impossível não rir quando se lembrava do dia em que a família de Rony veio buscá-lo pelo método do pó de flu. Os tios levaram um grande susto. Abriu um dos pacotes que Hermes trazia. Era de Hermione. Vinha um grande livro chamado “Era Quadribol - tudo sobre a criação do esporte e o século em que ficou famoso.", uma goles e uma carta:

“Oi Harry, tudo bom?
Feliz Aniversário. Espero que esteja bem. Comigo está tudo bem, estou estudando bastante. Espero que tenha gostado do presente, por enquanto você fica só com a goles, depois eu te dou o pomo e os dois balaços. O livro no final dá muitas dicas sobre técnicas especiais para ser um ótimo apanhador, o que eu acho difícil no seu caso, porque você já é, mas vai ajudar você a ficar melhor, o que eu também acho difícil. Você vai pra casa do Rony né? Ele me contou. Até que depois do fim do nosso namoro ficamos grandes amigos. Aproveitei e pedi o Hermes emprestado para o Fred e o Jorge (agora eles são os novos donos dele, você já soube?), assim eu podia dar o seu presente.
Vou ao Beco Diagonal na segunda semana de agosto. Espero que você esteja lá.
Beijos, Mione."

Harry ficou um pouco perturbado com a despedida de Hermione. Mas esqueceu e continuou a abrir os presentes. Tinha o da Sra. Weasley, que era um grande bolo de chocolate com creme e morango e o de Dumbledore, que era um líquido muito estranho, meio amarelado. Harry se sentiu muito triste por não ter recebido um presente de Hagrid (e também não sabia por que ele não havia mandado), mas o que mais lhe doeu foi saber que Sirius não mandaria um presente, porque estava morto. Harry olhou pela janela a noite iluminada e sussurrou:

_ Meu maior presente de aniversário seria se Sirius voltasse. (e de todo mundo)

No outro dia Harry desceu até a cozinha. Como de costume, seus tios o olhavam com cara feia e nunca lhe davam "bom dia". Harry sentou-se à mesa e mirou para tia Petúnia. De repente sentiu uma gastura, mas logo se recuperou. Seus tios, porém, não pareciam muito bem. Olhavam com um certo ódio para Harry, e também com um certo medo. Não demorou muito para Harry saber o motivo: Dumbledore havia escrito para os Dursley, e disse que era para a família comparecer em Hogwarts para resolver se Harry deveria ir morar com o padrinho ou não. Tio Valtér se negava a ir, mas Tia Petúnia parecia até um pouco contente com aquilo. (“Finalmente me livrarei de você, moleque!", falava bem baixinho para si mesma). Duda estava morrendo de medo, tinha tido pesadelos a noite toda por causa da carta. Tio Valtér, que resmungava o dia todo, dizia sempre:

_ Se esse moleque já tinha padrinho, deveriam ter deixado ele por lá, teria sido muito melhor.

_ Então vocês vão à Hogwarts? - perguntou Harry, meio que assustado. Sabia que os tios não sabiam da morte do homem.

_ NUNCA! - exclamou tio Valtér - Nem que você tenha que morar conosco para a toda vida.

_ É um gosto que eu não gostaria de ter. - resmungou Harry baixinho, para que ninguém o ouvisse. Mas de certa forma aquilo lhe deixara triste outra vez. Morar com Sirius era o seu sonho desde quando conheceu o rapaz, no terceiro ano. E tantas vezes ele fora destruído por causa de um crime que Sirius não cometeu, e sim Pedro Pettigrew, o Rabicho. E agora, o sonho era mais impossível do que nunca.

Mas Tia Petúnia também não pareceu contente com o comentário de tio Valtér. Quando o mesmo percebeu, ela disse:

_ Não quero NUNCA pisar naquela... naquela... escola, mas para se livrar desse moleque, faço qualquer coisa, até pisar naquele antro de anormais.

O sangue subiu a cabeça de Harry, mas ele se conteve a tempo, antes de xingar a tia de tudo o que sabia. Respirou fundo, e continuou a comer o seu café miserável. Assim que terminou, ele subiu e deitou na sua cama, muito exausto e irritado.Quanto tempo tinha que aturar os Dursley? Quando finalmente iria poder ser livre? Quando poderia ter um ambiente familiar feliz? Foi pensando nessas coisas que Harry foi pego de surpresa por Edwiges, que trazia a resposta de Lupin na pata. A carta dizia:

“Oi Harry, e feliz aniversário.
Confesso que fiquei preocupado com esse seu sonho tão intrigante. Sinceramente, não me lembro de nenhuma situação parecida com essa que tenha acontecido com os seus pais. Juro que se lembrasse de alguma coisa, te contava.
Mudando de assunto, acho conveniente você parar de me mandar a Edwiges de novo. O cerco está fechando para mim. Parece que o ministério está atrás de mim porque sou um lobisomem. Esse Cornélio... o seu presente mando pessoalmente, acho bem melhor.
Agora eu lembrei. Tinha algum conhecido nosso que também estava sendo perseguido por Voldemort. Um grande amigo de seu pai e meu. Mas nunca tive notícias dele. Acho que está morto. Não tenho certeza, mas é uma hipótese.
Até ver, Remo."

Harry achou muito esquisita a carta de Lupin chegar tão depressa. Ele estaria ali por perto? Não, não podia ser. Era muito arriscado. Harry se levantou e deu uma olhada na janela. Levou um baita susto: Dumbledore estava na porta da casa dos Dursley.

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