Miosótis



07- Miosótis




07 de Outubro de 1976.





Fazia muito tempo que Remus Lupin não se recordava de ter tido uma noite de sono tão proveitosa. Pouco antes de pegar no sono, na noite anterior, sua mente era constantemente assolada por imagens vividas por ele nas últimas semanas. Olhares travessos, sorrisos marotos, longas conversas nos intervalos de aula e... havia também o beijo.

O rapaz mudou de posição na cama, ajeitando o travesseiro embaixo da cabeça e acomodando-se confortavelmente. Naqueles poucos momentos em que ele e Tonks estavam juntos, havia uma certa cumplicidade entre os dois. Como se ela fosse capaz de ver uma parte dele e alcançar esse lugarzinho que ele fazia questão de esconder dos outros. Sem dúvida nenhuma os dois já haviam se tornado amigos. E o mais interessante nessa relação entre os dois, era que um não sabia o que esperar do outro. Como se cada conversa fosse uma grande surpresa, uma grande revelação. E talvez por isso eles se identificassem tanto, por isso havia essa cumplicidade.

E mergulhado naquele turbilhão de imagens, sorrisos, olhares, toques e sabores em seus sonhos juvenis, Remus Lupin não foi capaz de ouvir a movimentação dos companheiros de quarto no dormitório masculino do sétimo ano. E também não foi capaz de ouvir que dois marotos se aproximaram de sua cama e observavam com curiosidade o sorriso leve que se formara em seu rosto, enquanto ele jazia embalado por seus sonhos coloridos.

Devo evitar teus olhos
Mas não pude reagir
Fico à vontade, então.


-Acho que a gente devia acordar ele. - James sussurrou, apontando para o amigo. - O Aluado odeia acordar atrasado. Merlin me livre se ele tiver uma dessas crises de mau-humor!

Sirius analisou a situação.

-Tudo bem. - ele respondeu. -Aluadoooooo!!!!! - O rapaz cantarolou, cutucando Remus de uma maneira nem um pouco delicada. - Acorda, seu lobo duma figa!

Remus piscou algumas vezes, até o rosto de Sirius entrar em foco há poucos centímetros do seu rosto, enquanto o amigo o sacudia. Mas ele meramente puxou as cobertas acima da cabeça, tentando conciliar o sono perdido.

James trocou um olhar maldoso com Sirius, enquanto Peter se aproximava e dava uma espiada curiosa no que os amigos estariam fazendo.

-Faça as honras, Pontas! - Sirius falou, apontando para o amigo adormecido.

-Com todo o prazer! - James tirou a varinha de dentro do bolso das vestes e apontou para Remus. - Levicorpus!

Remus foi içado no ar pelo tornozelo, como se um gancho invisível o estivesse puxando para cima. Numa confusão de travesseiros e cobertores que se amontoavam encima da cama, o rapaz finalmente despertou, sentindo todo o sangue do seu corpo se acumular na cabeça.

-Nossa, Pontas, você quer me matar de susto? - O rapaz murmurou, a voz ainda pastosa de tanto sono, quando finalmente foi “largado” encima da cama novamente.

-Desculpe se atrapalhamos o sono de Vossa Senhoria, mas eu não acho que você queira chegar atrasado na aula da McGonagall hoje! - Sirius falava pomposamente, os braços cruzados em frente o corpo.

Remus arregalou os olhos, despertando de vez. Levantou-se de um pulo, tentando se arrumar o mais rápido possível, assistido por Sirius, James e Peter que pareciam divertidos com a situação.

-Calma Aluado, não é pra tanto. - James sorriu, enquanto via o amigo aparecer pela porta do banheiro, a gravata apoiada num ombro e a escova de dente pendendo frouxamente na boca. - Tem tempo suficiente pra você se arrumar decentemente e descer pra tomar o café.

Sirius sentou-se na sua cama e ficou aguardando pacientemente o amigo, que agora já estava menos atarantado. Após alguns minutos, Remus saiu do banheiro, devidamente vestido e arrumado, apesar de exibir a expressão atordoada por ter sido acordado de maneira tão brusca. Ou seria apenas aborrecimento por ter sido arrancado de sonhos tão agradáveis?

-Você deveria estar tendo um sonho muito bom, né, Aluado? - Peter comentou, entregando a mochila do amigo, enquanto os quatro marotos saíam do dormitório masculino.

-Como assim? - Remus tentou desconversar, ajeitando a alça da mochila sobre o ombro.

-Você estava sorrindo enquanto dormia. - Sirius comentou casualmente. Agora eles já haviam atravessado a sala comunal e saiam pela passagem da mulher gorda. - Sorrindo de um jeito bem... satisfeito. Merlin me livre de saber que tipos de sonhos pervertidos você estava tendo!

“Principalmente se forem sonhos com a minha priminha!”

-Almofadinhas! - Lupin exclamou, parecendo indignado. - Eu não estava tendo sonhos... pervertidos. Aliás, os meus sonhos não são da sua conta, ok?

-Desculpa, amigão, mas é que... bem, eu só fiquei curioso. Você não confia mais nos seus amigos pra nada, não é?

Pronto. Sirius havia tocado num ponto bem peculiar na amizade dos marotos: confiança. Se havia algo que unia aqueles quatro, era a confiança. Lupin ponderou por alguns momentos e perguntou com uma voz estranhamente rouca:

-Do que você está falando especificamente?


Acho que é bobagem
A mania de fingir
Negando a intenção (faça não)



Era só isso o que Sirius estava esperando, para abrir o seu típico sorriso maroto. Passou um braço ao redor dos ombros do amigo, enquanto caminhavam para o Salão Principal.

-Que ontem à noite aconteceu algo e que você não quer nos contar, Remus. - e ao invés de chamar pelo apelido, como sempre fazia, Sirius chamou o amigo pelo primeiro nome, querendo parecer mais confiável. - O velho lobo andou atacando outra vez?

-Atacando?- Remus colocou as mãos no bolso e espiou os sapatos como se estes fossem muito interessantes. - Sirius, eu não sei aonde você quer chegar.

Tão bobinho esse Aluado, tão ingênuo. Será que ele achou que seria capaz de enganar Sirius Black de alguma forma? Foi só juntar dois mais dois, para notar que havia acontecido algo na noite anterior. Senão porque Remus ficaria tão cismado por causa das brincadeiras feitas por ele e James? Mas antes que Sirius fosse explanar todas as suas teorias a respeito do comportamento do amigo, os quatro adentraram o salão principal, onde os estudantes já estavam no final do café-da-manhã. No entanto, se Sirius tinha alguma dúvida a respeito do que havia acontecido na noite anterior, esta estava desaparecendo, dando lugar a uma certeza quase que absoluta assim que viu os olhares cheios de cumplicidade trocados entre Remus Lupin e Nymphadora Tonks.

-Bom dia, Senhoritas! - Sirius cumprimentou galante, sentando-se ao lado de Lilly e Alice, ficando de frente para Tonks que respondeu mais animada do que o habitual, quase derrubando a sua taça com suco de abóbora.

-Sirius, eu preciso falar com você depois. - A garota falou, um sorriso de pura empolgação se formando em seu rosto.

Por um breve momento, Remus susteve a respiração. Achou que a garota fosse contar ali o que havia acontecido na noite anterior.

Bem, provavelmente ele acabaria contando aos amigos a aventura na biblioteca, mas ele queria ter aquelas lembranças só para si por um tempo. Até porque Hogwarts inteira não precisava ficar sabendo quem ele beijava ou deixava de beijar, ora essa! Era uma questão de privacidade, ele estava muito bem sem ter de ouvir as piadinhas dos amigos.

Oh merlin, porque adolescentes tem de ser tão complexos e prolixos?

Na verdade, Lupin havia gostado e muito do beijo trocado na noite anterior. Mas não estava acostumado a ter esses encontros furtivos e ele simplesmente não sabia lidar com isso. Ele não sabia lidar com uma garota tão diferente dele, que agia de maneira tão desencanada.

“Olhe só para ela!”, pensou, ao ver Tonks conversar descontraidamente com James e Peter. Normalmente as outras garotas, assim que saíam com um cara novo, corriam para contar os detalhes para as amigas. E ela? Bem, ela conversa sobre quadribol com os amigos dele.

Mas deixemos Remus Lupin e seus pensamentos confusos de lado e vamos ao outro lado da história: Nymphadora Tonks. Se o jovem maroto estava cheio de possibilidades e interrogações na cabeça, uma luta interna travada entre as suas reservas naturais e seu lado maroto que estava doido pra assumir o controle da situação e “viver o momento”; a metamorfamaga estava mais ansiosa em contar a descoberta do tal livro para Sirius do que para pensar no que havia acontecido entre ela e Remus.

Assim que Sirius terminara de tomar o café da manhã, ela saiu arrastando o rapaz em direção à classe de Transfiguração, onde eles teriam a primeira aula do dia.

-Então, você vai me falar o que aconteceu ou eu vou ter que adivinhar? - Sirius apoiou-se numa armadura enferrujada que ficava naquele corredor, enquanto Tonks sentava no chão, com as pernas cruzadas.

-Eu acho, veja bem, eu apenas acho, que consegui achar o feitiço. - A garota falou, abrindo a mochila e tirando de lá um livro decrépito de tão velho. - Olha só, a maioria fala sobre métodos para reverter feitiços acidentais, mas tem alguns aqui que são diferentes: feitiços para alterar as estações no ano, para reconstruir plantas... - e conforme enumerava os feitiços, Tonks ia mostrando as páginas amareladas do livro. - e um feitiço para se deslocar no tempo e espaço.

Sirius pegou o livro entre as mãos e franziu as sobrancelhas.

-Será que é seguro?

-Nós não vamos saber sem tentar. - A garota deu de ombros. - Aliás, só a aventura que eu tive pra conseguir esse livro já valeu a pena, viu.

-Aventura, eh?

-É, Sirius. - Tonks guardou o livro novamente na mochila. - Quase que o Filch me descobre na biblioteca.

-E foi só isso o que aconteceu? - O maroto indagou, uma sombra de sorriso no rosto. - Foi só essa a sua aventura na ida à biblioteca?

Tonks abriu um sorrisinho travesso e deu uma piscadela.

-Isso, meu caro, não é da sua conta! - Ela falou, levantando-se. Nesse momento McGonagall abriu a porta da sala, dando passagem aos alunos que a aguardavam no corredor. - Você não acha que está sendo curioso demais?

-Não nego, eu estou absurdamente curioso. - Sirius admitiu. - Mas é que o Remus chegou todo calado ontem e a gente sabe que vocês se trombaram em algum lugar na escola. Sem contar que... eu vi o jeito como vocês se olharam hoje.

-Que jeito?

-Ah, Tonks,você sabe...

-Então quer dizer que o Remus não falou nada... - A garota murmurou, um sorriso leve no rosto, enquanto se sentava em seu lugar. Mas antes que Sirius continuasse tentando saciar a sua enorme curiosidade, McGonagall iniciou a aula daquela manhã.

“Ele não comentou nada”

Tonks ficou surpresa com aquela reação de Lupin. A maioria dos rapazes daquela idade costuma contar as suas conquistas para os amigos, tratando as garotas como se fossem troféus. Mas Remus fora diferente. Aquilo foi tão legal da parte dele. Foi inusitado e bastante gentil.

“Sim, Remus é um cara legal”


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09 de Outubro de 1976.




Após o incidente na biblioteca (e quando digo incidente, me refiro ao quase flagra de Filch), Lupin e Tonks mal tiveram tempo de conversar a sós. Ele, quando não estava com a cara enfiada nos livros, estava sempre na companhia dos marotos ou de Lilly, com quem ele costumava estudar. Ela, de “segredinhos” com Sirius pelos cantos, os dois sempre debruçados sobre o estranho livro que Tonks surrupiara na biblioteca. Por vezes eles trocavam olhares furtivos, que não duravam mais do que alguns segundos e que sempre terminavam quando a garota lhe dirigia um sorriso. O mesmo sorriso alegre e agradável que ela dava a toda e qualquer pessoa. Sem ter absolutamente nada de anormal naquele sorriso.

Naquele sábado à tarde, Remus aproveitou um dos raros momentos em que podia ficar ocioso, para ler um livro qualquer à margem do lago. Os outros marotos estavam no campo de quadribol, aproveitando os últimos dias daquele clima ameno, antes que começasse a esfriar de vez.

Sentado sob a sombra de um frondoso carvalho, enquanto o sol fraco daquela tarde de outono aquecia as águas do lago, Remus Lupin observava as folhas amareladas que caíam das árvores, fazendo com que ele próprio se sentisse parte daquela paisagem, que parecia feita em tons de sépia. Recostado no tronco da árvore, ficava maravilhado com aquele clima melancólico e um tanto bucólico. De alguma forma, ele se identificava com aquele clima. Como se ele próprio fosse uma tarde de outono, que nem chega a ser gélida como uma noite de inverno, mas que também não possui o clima quente e colorido do verão.

Mas o outono era uma estação imprevisível. Pois apesar de, às vezes, ter dias frios e de vento intenso, havia alguns singulares dias de sol e calor aconchegante, agradáveis em sua plenitude.

E aquele era um daqueles dias.

Totalmente imerso na sua leitura, ele não notou que alguém surgira nos jardins da escola e dera um toque colorido àquela pintura de cores neutras e tristes. Somente quando os cabelos curtos e cor-de-rosa de Nymphadora Tonks entraram no seu campo de visão, foi que Remus notou que não estava sozinho.


Quando um certo alguém
Cruzou o teu caminho
E te mudou a direção



-Oi. - Ela cumprimentou, sentando-se ao lado dele. - Está se escondendo de quem?

-Eu não estou me escondendo. - Ele respondeu, voltando a encarar as páginas amareladas do livro, tendo a certeza de que perdera a concentração.

-Certo.

Tonks trouxe as pernas para junto do corpo, abraçando os próprios joelhos. Virou o rosto em direção ao rapaz e ficou estudando-o atentamente, enquanto ele “tentava” ler.

-Hum... você quer falar alguma coisa? - Ele, por fim, perguntou. Sentiu-se incomodado com o olhar da garota sobre si.

-Eu não te assustei, né? - Ela soltou num jorro de palavras, mordendo o lábio inferior em seguida. - Digo, você não me acha uma louca ninfomaníaca que fica agarrando monitores distraídos em bibliotecas escuras... Ou acha?

Não sei se foi o modo afobado como Tonks dissera isso ou o real conteúdo daquelas palavras, mas Lupin não pôde deixar de sorrir.

-Não, eu não fiquei assustado. - Ele fechou o livro, e deixou-o ao seu lado, no amontoado de folhas amareladas que estavam sobre a grama. - Ok, talvez eu tenha ficado um pouquinho, mas... digamos que foi mais o susto por você ter caído encima de mim. As minhas costas ficaram bem doloridas.

-Oh, merlin, eu sou um desastre mesmo. - Ela murmurou, parecendo derrotada.

-Não, não é. - E os olhares deles se encontraram por um momento, quando o rapaz disse, um tanto vacilante: - E o beijo não foi nada ruim...

“Pelas barbas de Godric Griffyndor, de onde saiu essas palavras, Remus John Lupin?!”

-Eu pensei que você fosse me achar um pouco... apressada! -Tonks arregalou os olhos, mordendo o lábio inferior. - Eu devia ter notado que você era diferente dos outros caras...

-Diferente? - Lupin pigarreou e a garganta ficou estranhamente seca. - Como assim?

-Bem, você não saiu espalhando o que aconteceu como os outros tipos de cara fariam, sabe. Só pra contar vantagem. Eu achei isso tão legal da sua parte...

-Eu não sou o único cara desse tipo. - Ele respondeu, sem encarar a garota. - Você apenas pode não ter tido muito sorte. Não ter encontrado alguém que te valorizasse de verdade.

-É, talvez seja isso...

-E não tem nada demais eu não ter comentado o que aconteceu... É uma questão de privacidade e... bem, foi só... um momento, não é?

-Você aprendeu bem rápido, hein? - Tonks abriu um sorriso travesso e deu um tapinha amistoso no braço do rapaz.


Chego a ficar sem jeito
Mas não deixo de seguir
A tua aparição



E os dois ficaram algum tempo em silêncio, apenas observando a lula gigante mover os seus tentáculos preguiçosamente para fora do lago.

Um tanto curioso, Lupin viu Tonks deitar-se de barriga na grama e se debruçar sobre uma ramagem com pequenas flores coloridas. A garota retirou um galho com uma daquelas flores, girando-o entre os dedos.

-Curiosa essa florzinha, né? - Ela comentou, quando voltou a se sentar ao lado de Lupin. - ‘Tava quase “afogada” no meio das folhas que caíram dessa árvore. E ainda assim ela estava crescendo...

Lupin retirou outro galho com aquele mesmo tipo de flor e ficou observando a maneira delicada como a flor movia-se, quando tocada pela brisa vinda do lago.

-São miosótis. - Ele explicou para Tonks. - Tem uma antiga lenda daqui da Europa, que diz que um rapaz morreu afogado quando tentou pegar uma dessas flores pra sua amada. E antes de morrer ele falou: “Não me esqueça”. Por isso ela é a flor dos amores desesperados.

-Que trágico! - Ela falou. - Eu não gosto de histórias assim, gosto mais de finais felizes.

Lupin suspirou.

-Mas nem todas as histórias têm finais felizes!

-Eu sei disso, mas acho bem idiota morrer por causa de uma flor tão pequena! - Tonks torceu o nariz. - Você não acha?

-Não sei... - Ele deu de ombros. - Talvez seja o tipo de coisa que uma pessoa faça quando está apaixonada!

-Não sei se entendo esse tipo de coisa, Remus. Acho que eu nunca me apaixonei de verdade mesmo. Sei lá, eu nunca gostei de alguém por mais do que alguns meses. Sempre preferi aproveitar as oportunidades...

-Viver o momento! - Lupin completou, lançando um olhar de esguelha para a garota.

-Exatamente! - Ela deu um pequeno sorriso e que o rapaz não foi capaz de identificar o seu real significado.

E porque será que ele se sentiu levemente frustrado naquele momento? Porque será que ele tinha uma certa expectativa, uma ansiedade estranhamente curiosa. Um sentimento semelhante ao que o acometia toda noite de lua cheia, quando o seu lado obscuro tomava conta de si. Quando ele tentava domar os seus instintos e não era capaz. Como se algo dentro dele quisesse sair e ele soubesse que não poderia libertá-lo...


Quando um certo alguém
Desperta o sentimento
É melhor não resistir
E se entregar



-Nossa, eu vim aqui nos jardins pra procurar o Sirius acabei perdendo a noção da hora. - Tonks se levantou bruscamente, quase tropeçando nos próprios pés. - É tão bom conversar com você, que eu acabo esquecendo do resto.

Olhos negros e cor de âmbar se encontraram num olhar cúmplice, como uma conversa muda travada particularmente entre eles. Eles sorriram levemente um para o outro.

-O Almofadinhas está no campo de quadribol com os outros. - Remus falou, quebrando o contato visual e voltando a apanhar o livro caído ao seu lado.

-Valeu, eu vou chamá-lo lá. - E inesperadamente a garota se debruçou sobre ele e beijou carinhosamente a sua bochecha. - Tchau, Remus.

E, enquanto se afastava, a garota sentiu falhar uma batida em seu coração quando deu um último aceno de longe para o rapaz que deixara para trás, pensando que, talvez, aquela fosse a última vez que se veriam.


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-Você já deixou tudo arrumado? - Sirius perguntou, quando ele e Tonks entraram numa sala de aula vazia no terceiro andar do castelo.

-Já está tudo aqui. Foi o maior trabalho arrumar o meu malão sem que as garotas desconfiassem de alguma coisa.

Tonks arrastou o seu malão para o meio da sala vazia e postou-se ali. Trajava os meus jeans rasgados e a camiseta colorida que usava quando veio parar no passado. Até mesmo os mesmos cabelos vermelho-sangue ela resolvera usar. “Pra ninguém desconfiar de nada... sei lá, é melhor assim mesmo”, ela justificou, dando de ombros.

-Ok, vamos ver se isso vai dar certo. - Sirius murmurou, apanhando o livro antigo. Ele traçou um círculo de luz branca ao redor do local onde Tonks estava parada. “somente por segurança” ele disse à Tonks, de modo que o encantamento só tivesse efeito dentro daquele perímetro. - Tudo pronto?

-Ainda não, Sirius!

A garota saiu de dentro do isolamento mágico e se aproximou do primo.

-O que foi? - Ele indagou, franzindo a testa. - Esqueceu alguma coisa?

-Esqueci disto aqui. - Ela envolveu o pescoço do rapaz num abraço apertado. - É melhor eu me despedir agora, né? Vai que dá certo o feitiço e eu não tenho tempo pra fazer isso...

Sirius ficou comovido. Correspondeu o abraço, uma das mãos acariciando levemente o cabelo vermelho de Tonks.

-Ei, deixa de ser boba! - Ele falou no ouvido dela. - Não é uma despedida, é apenas um “até breve”, afinal, nós vamos nos ver muito ainda, não vamos?

Eles se afastaram, mas Tonks não teve coragem de encarar Sirius.

-Promete pra mim que não vai fazer nenhuma besteira? - Ela falou, enfiando as mãos no bolso do jeans. - Nenhuma besteira grave, do tipo de se meter em algo muito... sinistro, sabe.

-Do que você está falando, Tonks? - Sirius parecia divertido.

-Só promete pra mim! - Ela mordeu o lábio, parecendo muito séria. - Diz que não vai fazer nenhuma coisa grave...

Sirius ergueu o queixo de Tonks, e eles se encararam. - Não sei porque você me pediu, mas se é importante...Eu prometo!

A garota sorriu e abraçou o primo novamente antes de voltar para o círculo traçado por Sirius.

Palavras estranhas foram murmuradas pelo rapaz, enquanto ele andava ao redor do círculo, apontando a varinha em direção à Tonks. Conforme o fluxo do encantamento ia ficando mais intenso, uma pequena esfera dourada se desprendeu da varinha de Sirius e começou a girar ao redor de onde a garota estava. Primeiro, de maneira bem lenta, para logo em seguida começar a girar muito, muito rápido.

Tonks observava, ansiosa, apelando para todos os poderes existentes no universo, para que aquilo desse certo. Assim que a esfera dourada ganhou uma velocidade impossível de ser acompanhada e calculada, várias imagens de tempos e lugares diferentes passavam ao redor dela, como num eterno filme mudo.

Aquilo estava deixando-a zonza, com náuseas. Mal conseguia ver o primo do outro lado da sala. As imagens passavam velozmente diante de seus olhos e quando achou que não fosse mais suportar aquilo, ela mergulhou na escuridão, perdendo os sentidos completamente.


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Notas do Remus: Duas pessoas não precisam estar necessariamente apaixonadas para trocarem um beijo. Mas será que é possível se apaixonar por uma pessoa improvável após um beijo inesperado?Não sei dizer isso ao certo. Talvez eu acabasse me apaixonando por Nymphadora Tonks, se nós tivéssemos convivido por mais tempo, mas após o nosso encontro em frente ao lago, eu nunca mais a vi. Sirius disse que ela teve de voltar às pressas para a Irlanda, por causa de problemas pessoais.
E nós nem tivemos tempo de nos despedir. Mas, talvez, tenha sido melhor assim. Tenho certeza que acabaria me deixando levar outra vez. É, foi melhor assim. Pelo menos tenho uma boa lembrança do momento que nós vivemos na biblioteca de Hogwarts.


~~//~~//~~//~~


N/A: O que aconteceu à Tonks? Ela voltou para o futuro? Como vai ser o reencontro dela com o Remus? Eles vão se reencontrar? Quanto mistério...
Desculpa se demorei um pouco com esse capítulo, ele nem foi lá essas coisas, mas eu estive escrevendo uma song Sirius/Bella (que segundo os comentários ficou bem legal) e deixei essa fic de lado por uns dias.
Ahn, a música desse capítulo é “Um certo alguém” do Lulu Santos. (Não sei porque, esse cara me inspira a escrever esse shipper.)
E devo dizer que fiquei bem impressionada com o número de comentários no último capítulo. =). Obrigado mesmo!

Obrigado à: AnnaRaven, Holly Granger (sabe, eu gostei do seu novo nick), Sally Owens, Sônia Sag, Ana Luiza, Mrs. Radcliffe, Charlotte Ravenclaw, Carolzinha, Hellen, Anna Black, Miguel de Arles (estou hiper feliz por ter você como leitor dessa fic.), Lara_Evans, =Luly, Letícia da Silva, Géia (saudades de vc), Luanna Delacour, Alex Black, Vanessa Wendt Schmidt e Luana Gomes -por terem comentado.

É isso, até o próximo.
Beijokas




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