A vida continua



Não era verdade. Eu sabia que não era verdade. Eu sabia. Eu sabia. Então o que é que doía tanto? Foi como uma facada no estômago, sem brincadeira... Não tinha muito o que dizer, então desaparatei pro meu quarto. Sentei na minha cama e... Sei lá o que eu fiz... Eu tava me sentindo muito mal. Aquilo tinha sido horrível... De verdade. Que merda que a Bellatrix tinha feito eu não sabia, mas tinha funcionado... Eu nem queria que ela me amasse, seja lá o que isso supostamente significaria... Eu não me importava, de verdade. Mas... Ouvir aquilo, daquele jeito, na cara... Foi uma bela de uma facada.

Por mais que eu não o amasse, por mais que eu realmente odiasse Sirius, depois daquilo eu me senti muito mal, mal de verdade. Resolvi que tentaria dormir um pouco, mas eu realmente me sentia horrível. Me sentia, estranhamente, sozinha. Sozinha demais. Não tinha muito que eu pudesse fazer a respeito, a não ser esperar aquilo passar... Afinal de contas, eu não estava sozinha, nunca estivera. Eu não era o tipo de pessoa que era sozinha... Não tinha porque eu me sentir tão mal. Eu não me sentia mal por desapontar os outros, por magoar os outros... Isso era basicamente o que me divertia quando não tinha nada melhor para fazer... E Sirius não era exatamente a pessoa pela qual isso iria mudar.

Fiquei sentado no chão até amanhecer... Aquilo realmente não fazia sentido. Eu sei que tinha sido um tanto quanto insistente, mas... No final das contas, Bellatrix era só mais uma garotinha mimada daquelas que eu conhecia na escola e eu não sentia absolutamente nada por ela. Era só diversão. Tudo que eu precisava faze era encontrar outra garotinha mimada e um pouco menos inteligente para me entreter que esse mal estar iria embora rapidinho. Ótimo. Peguei meu espelho e chamei o Pontas... Ele provavelmente estava dormindo... Infeliz. Pra isso que deveriam servir os amigos, arranjar garotas. Mas se o seu melhor amigo é um vagabundo que dorme até as... Ops, nove horas. Porcaria. Daqui a pouco minha mãe provavelmente iria aparecer me mandando descer para o café da manhã. Para minha surpresa, não estávamos sozinhos.

-Black... Que prazer revê-lo. – A voz arrogante e desagradável de Lucio Malfoy era totalmente dispensável naquele momento. Assim como a voz do maldito Lestrange que estava sentado com minha prima quase em seu colo.
-Malfoy... Lestrange... Um pouco cedo pra fazerem uma visita, não acham?
-Sirius, não seja indelicado. Eles vieram passar uns dias, agora sente-se e tome seu café. Quieto, de preferência. – Disse minha mãe, babando ovo para aqueles nojentos.

-Você quem manda... – Respondeu Sirius com desdém para minha tia. Ele se sentou de qualquer jeito numa cadeira e ficou olhando para mim. – Então, Lestrange. Há quanto tempo... Como foram os últimos 19 anos bajulando o seu querido “Lord das Trevas”?
-Pode rir enquanto quiser, Black. No final, pode ter certeza, não lhe restarão motivos ou forças para continuar rindo.
-Pelo menos na minha casa você podia pegar leve com as ameaças, hein. Sua noiva pode achar que você é mais do que parece, quando na verdade... Não parece nem é nada. – Levantei-me e sai de lá com ele, deixando Sirius falando sozinho.
-Mil perdões... Você conhece meu primo, ele é assim mesmo. Não adianta...
-Gente que nem ele não me atinge... O Lord um dia irá se livrar de todos esses ingratos que tem sangue bom, mas cabeça de trouxa. E habilidades também! O que Snape me conta sobre os feitiços de seu primo, cherrie, é vergonhoso.
-Eu sei, mas... Eu prefiro considerar Sirius como uma parte inexistente da minha família, ele é apenas uma erva daninha. Insignificante e facilmente ignorada.


E lá estava ela com aquele comensal maldito. Era tão insuportável. Eu podia sinceramente odiar Bellatrix, mas vê-la com aquela criatura era de matar. Subi para meu quarto novamente.

“Such a lonely day
(Um dia tão solitário)
And it’s mine
(E é meu)
The most loneliest day of my life”
(O dia mais solitário da minha vida)

Comecei a me sentir cada vez mais perturbado, não sabia porquê e nem o que fazer a respeito. Ficava repetindo em minha cabeça a cena dela saindo de mãos dadas com aquele imbecil e aquilo me dava vontade de vomitar, sinceramente. Não podia ser. EU não podia estar começando a me apaixonar pela futura Sra. Bellatrix Lestrange. Era ridículo, patético e... Triste. Não podia estar acontecendo. Ela não era ninguém, não era digna de nada!

-Pontas! – Peguei meu espelho.
-Almofadinhas, que há? Que voz horrível, cara.

“Such a lonely day
(Um dia tão solitário)
Should be banned
(Devia ser banido)
It’s a day that I can’t stand”
(É um dia que não posso suportar)

-Pontas, me tira daqui! Faz alguma coisa.
-Que foi?!
-A Bellatrix! Eu... Eu...
-O que foi que aquela vagabunda fez?
-Ela.. Cara... Eu to enlouquecendo!
-Não me diga o que eu acho que vai dizer!
-Por Merlin, Pontas... Talvez eu diga...
-Sirius Black! Pára! Agora, respira. Ela é Bellatrix Lestrange, ela não merece nem que você pense nela assim!
-Não tenho culpa, Pontas! Eu vi ela com aquele nojento e não pude evitar...
-O que você fez?!
-Nada! Mas não sei se vou continuar assim por muito tempo...


“The most loneliest day of my life
(O dia mais solitário da minha vida)
The most loneliest day of my life
(O dia mais solitário da minha vida)
The most loneliest day of my life”
(O dia mais solitário da minha vida)

-Não faz nenhuma besteira por essa guria, Almofadinhas. Cai na real, você não pode ter nada com ela.
-Eu sei! Eu sei, mas... Ficar tão perto dela e não... Pontas, é insuportável!
-Eu sei que é! Mas assim que as férias acabarem você provavelmente vai deixar de vê-la por um bom tempo e vai tudo voltar ao normal, então agüenta firme e não inventa de fazer alguma besteira. Tenho que desligar, foi mal. Agüenta ai... Boa sorte.
-Valeu...

“Such a lonely day
(Um dia tão solitário)
Shouldn’t exist
(Não deveria existir)
It’s the day that I’ll never miss
(É o dia de que nunca sentirei falta)
Such a lonely day
(Um dia tão solitário)
And it’s mine
(E é meu)
The most loneliest day of my life”
(O dia mais solitário da minha vida)

Eu lembrava de seu cheiro, de seu gosto, de sua voz, de sua pele, de sua mão arranhando minhas costas com tanta voracidade, de sua boca, de sua presença e não conseguia deixar de pensar que tudo isso pertencia a Lestrange. Ele não a merecia. Ninguém a merece... Principalmente ele. Ele não sabe como trata-la, nunca saberá! Eu devia fugir dessa casa... E devia leva-la comigo. Não, ela não iria. Ela teria medo. Mas eu sei que não gosta dele, sei que não quer se casar com ele, não pode querer. Tudo que ela disse... Não pode ser totalmente verdade, ela não teria feito o que fez se não tivesse 10% de interesse...

“And if you go
(E se você for)
I wanna go with you
(Eu quero ir com você)
And if you die
(E se você morrer)
I wanna die with you
(Eu quero morrer com você)
Take your hand
(Pegar sua mão)
And walk away”
(E ir embora)

Como ela podia se submeter a uma vida inteira com uma companhia que ela mesma não valorizava?! Isso não era mais só sobre mim, não podia deixa-la fazer isso, não podia deixa-la com ele... Ele... Ele.

“The most loneliest day of my life
(O dia mais solitário da minha vida)
The most loneliest day of my life
(O dia mais solitário da minha vida)
The most loneliest day of my life”
(O dia mais solitário da minha vida)

Mas ela não iria me ouvir. Ela não iria comigo. Ela nem olharia para mim.

“Such a lonely day
(Um dia tão solitário)
And it’s mine
(E é meu)
It’s a day that I’m glad I survived”
(É o dia que fico feliz por sobreviver)

Tudo que podia fazer... É esquecer.

Lestrange disse que tinha que sair e me deu um beijo de despedida... Não pude deixar de pensar em meu primo. Acho que aquele tinha sido o primeiro beijo que ele me dava em muito tempo... As vezes ele agia como... Do que é que estou falando? Obviamente estou ficando louca. Ele me ama. Ele diz que me ama... Ele nunca faz nada, claro. Mas ele diz que me ama. Nós nos vemos praticamente duas vezes por ano, mas... Quem se importa. Ele me manda umas corujas uma vez ou outra, mas só quando quer alguma coisa... Não é como se Sirius fosse muito diferente.

-Bella. – Era ele.
-O que você quer? – Disse eu, sem olhar para meu primo, sabia que não devia olhar para ele.
-Bella, você tem que estar brincando sobre casar com aquele idiota.
-Não, não estou. Ele pode ser um idiota, mas é um idiota muito bem reconhecido no ministério.
-Quem liga?! Você vai passar sua vida inteira dividindo uma vida com alguém que só tem um nome? Até você merece mais do que isso.
-E o que é que espera que eu faça?
-Quer dizer que, se você pudesse, não casaria com ele?
-Não é uma possibilidade, Sirius.
-Vamos embora.
-O que você disse?
-Vamos embora. – De repente ele começou a andar em minha direção, eu ainda não acreditava no que estava ouvindo. – Vamos embora! Nós dois, vamos sair daqui, agora, sem que ninguém perceba, eles não dão a mínima mesmo. A gente consegue sumir, esquecer dessa porcaria de família toda!
-Você enlouqueceu se pensa que fugiria com você!
-Porque não, Bella?!
-Acho que não consegui ainda deixar claro, eu não gosto de você, Sirius.
-Mentira. Pouco me importa também! Se eu disser que te amo, vem comigo?
-Isso sim é mentira.
-Da mesma forma que é mentira quando o Lestrange diz que te ama, mas nele você acredita.
-É diferente...
-Bella, essa é a sua ultima chance de ser feliz. Se você me disser agora que não quer ficar comigo, eu juro pela minha vida que nunca mais chegarei perto de você, vou deixar esquecer que eu existo. Se você disser sim... Bom, eu não posso dizer que sei o que vai acontecer, porque eu não sei. Mas eu realmente sei que você não vai se arrepender. Se é, de fato, mentira que eu te amo, pode ter certeza que eu não vou conseguir ficar sem te amar por muito tempo, e quando acontecer eu sei que te amarei infinitamente mais do que aquele cara jamais conseguiria. – Sirius só tinha vindo com aquele discursinho barato por que deveria estar morrendo de ciúmes de mim e Lestrange, se não tivesse nos visto aposto que agora estaria com outra menininha mal amada qualquer... Sirius Black não era digno de chances.
-Eu não quero, de forma alguma, o mais sinceramente possível, ficar com você, Sirius. – Seus olhos secretamente marejaram, mas não foi difícil perceber. Será que era verdade?

“Don’t cry to me
(Não chore pra mim)
If you love me
(Se você me ama)
You would be here with me
(Você estaria aqui comigo)
You want me, come find me
(você me quer, venha me encontrar)
Make up your mind”
(Decida-se)

Eu não podia MESMO me deixar levar por aquele teatrozinho que Sirius estava fazendo. E esse joguinho já estava me deixando fora do sério, se ele me amava, teria que provar. Não adiantava ficar chorando pelos cantos. Ele estava esquecendo quem éramos, onde estávamos... Aquilo nunca poderia acontecer. Ele era meu primo! Não dava para saber se ele estava realmente magoado, mas... Era a única forma de acorda-lo.

“Should I let you fall
(Devia ter te deixado cair)
And lose it all?
(E perder tudo)
So maybe you can remember yourself
(Para que você pudesse lembrar de você)
Can’t keep believing
(Não posso continuar acreditando)
We’re only deceiving ourselves
(Só estamos nos enganando)
And I’m sick of the lies
(Estou cansada das mentiras)
And you’re too late”
(E você está atrasado)

Mesmo se eu quisesse, já era tarde de mais. Eu tinha um papel para cumprir naquela família, como uma Black. Eu tinha um papel para cumprir sendo quem eu era. Todo meu futuro já estava desenhado. Mas... Vi uma lágrima sendo escondida por meu primo e ele virou as costas, sem sair dali. Não adianta...

“Don’t cry to me
(Não chore pra mim)
If you love me
(Se você me ama)
You would be here with me
(Você estaria aqui comigo)
You want me, come find me
(você me quer, venha me encontrar)
Make up your mind”
(Decida-se)

Não dava para conviver com alguém como meu primo… Ele não era nada previsível, nunca conseguiria saber o que estava pensando. Num dia poderia dizer que me ama, para no outro dizer que me odeia. Ele não sabia o que queria, muito menos o que estava fazendo. Ele tinha começado com tudo isso! Não era para nos apaixonarmos, eu não me apaixonei. Achei que com sua reputação, Sirius resistiria também. Não adiantava vir chorando para mim mesmo... Vir bancando o coitadinho não me faria mudar de idéia. Esse era seu ramo, seu jogo, até onde eu sei... Tudo isso podia ser uma armação para acabar com minha vida.

“Couldn’t take the blame
(Não podia aceitar a culpa)
Sick with shame
(Doente de vergonha)
Must be exhausting to lose your own game
(Deve ser exaustivo perder seu próprio jogo)
Selfishly hated
(Odiado por si mesmo)
No wonder you’re jaded
(Não é surpresa que esteja esgotado)
You can’t play the victim this time
(Você não pode se fazer de vitima dessa vez)
And you’re too late”
(E você está atrasado)

Quando ele não tivesse interesse, iria me deixar de lado, então de que adianta? Ele continuava de costas para mim... Em silencio. Se ele realmente me amasse teria resistido! Teria feito alguma coisa, teria tentado me convencer de algum jeito... Não desistiria dessa forma.

“Don’t cry to me
(Não chore pra mim)
If you love me
(Se você me ama)
You would be here with me
(Você estaria aqui comigo)
You want me, come find me
(você me quer, venha me encontrar)
Make up your mind”
(Decida-se)

Aquele dia na festa foi um engano, ele já tinha bebido demais... Depois, no seu quarto... Não significou nada! Ele só me quer porque sabe que não pode ter, porque não sou tão fácil assim. Assim que ele conseguisse, mudaria de idéia. Assim que tivesse provado o quão irresistível era, daria uma de suas risadinhas cínicas na minha cara e iria embora...

“You never call me when you’re sober
(Você nunca me liga quando está sóbrio)
You only want it cause it’s over
(Você só quer porque acabou)
It’s over”
(Acabou)

Ele, então, finalmente saiu andando e só olhou para mim de relance. Se me amasse, não teria visto tamanha expressão de ódio e desprezo. De repente comecei a me sentir como se todo o ar de meus pulmões tivessem sido puxados pra fora e se recusassem a voltar. Era como se alguém tivesse tirado algo de mim, algo que eu realmente precisava, e eu não sabia o que era. Não podia ser. Não podia mesmo... Poderia eu ter acabado de fazer a coisa mais idiota possível? Mas... Sirius não era dessa forma. Ele não era ar para mim, não era essencial, não era nada, não era meu. Puxa vida, se estivesse errada...

“How could I have burned paradise?
(Como pude queimar o paraíso?)
How could I?
(Como pude?)
You were never mine”
(Você nunca foi meu)

Chega. Não importa o que ele sentia, eu tinha acabado de tornar impossível... Chega de ouvir o que ele tem a dizer, chega de ouvir o que ele tem pra mentir, chega de ouvir o que ele tem pra chorar...

“So don’t cry to me
(Não chore pra mim)
If you love me
(Se você me ama)
You would be here with me
(Estaria aqui comigo)
Don’t lie to me
(Não minta para mim)
Just get your things
(Só pegue suas coisas…)
I’ve made up your mind”
(Eu decide por você)

Tudo que podia fazer era deixar pra trás... A vida continua.


N/A: Músicas:
Call me when you’re sober – Evanescence (Bellatrix)
Lonely Day – System of a Down (Sirius)

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