Uma questão de escolha



Cap.4: Uma questão de escolha?

Amanheceu. Logo deu para perceber que todos já estavam tomando café da manhã, alegres, pela voz de gralha de Narcisa conversando com minha mãe num volume absurdamente alto.
-Sirius? Está acordado? – Era Andrômeda.
-To sim, Andy.
-Sua mãe mandou você descer. Vem tomar café.
-Estou indo. – Disse eu, ela foi embora. Coloquei uma roupa um pouco mais apresentável do que aquela calça que eu usava para dormir que tinha uns cinco anos. Desci as escadas e só quando cheguei lá embaixo lembrei do vexame que tinha passado na noite passada, com Bellatrix. Eu não fazia o tipo que me arrependia de tentar levar uma doce e inocente donzela descaradamente pra cama, a questão é que... Bellatrix não era uma doce e inocente donzela e o pior: ela era minha prima.
Bom... Se as coisas pesassem pro meu lado era só falar que eu tinha bebido uma cerveja a mais e pronto. Sem contar que a nojentinha não era nenhuma santa!
Não importavam as circunstâncias, olhar pra cara dela agora seria cruel. Muito cruel.

¬Maldito. Maldito seja. Lá estava ele, com aquela expressão de semi-vitorioso. Maldito Sirius Black. Eu não fazia a mínima questão de olhar pra cara dele naquele momento. Pra ser sincera, eu não fazia mais questão nenhuma de olhar na cara dele.
Tinha que ser muito atrevido, não é mesmo Sirius? Não resiste nem mesmo a sua prima?
Ele se sentou na cadeira bem na minha frente. Cafajeste. Não importava o que estava fazendo, não tirava os olhos de mim.


Ah, Bellatrix. Disso sim eu estava gostando. Ficou bem óbvio que eu estava com o controle da situação e eu realmente estava gostando disso. Bella, Bella... Como você deixara isso acontecer, hein? Aposto que você se dava muito mais crédito do que você de fato tinha, não é mesmo?
Que ótimo Bella. Era até patético de se assistir, você desviava o olhar como se sua vida dependesse disso. Porque fugia tanto, minha prima? Eu sabia também o que passava dentro da sua linda cabecinha, não se preocupe não, Bella...
Era realmente divertido dar as cartas... Realmente divertido.

Eu estava descontrolada. Não conseguia nem fingir que aquela situação não me incomodava. Quando todos que estavam na cozinha acabaram e saíram para sala, tive o infortúnio de perceber que só restavam eu e Sirius no cômodo.

-Dormiu bem, Bella? – Ele disse.
-Muito, principalmente porque estava sozinha. – Disse eu.
-Aposto que se tivesse comigo não pensaria mais a mesma coisa.
-Não seja tão arrogante, Sirius.
-Não seja tão medrosa, Bella.
-Eu?
-Você.
-Já disse que me faz rir?
-Não é a única coisa que provoco em você, não é mesmo?


Ela fuzilou-me olhando com aquele olhar que eu adorava...
-Acho que deixamos nossa conversa meio sem terminar, não é mesmo, Bella?
-Não tem mais nada que eu precise dizer pra você, Sirius. Ouvir, muito menos.
-Não precisamos falar nada, Bella. – Disse eu.
-Não insista, priminho...
-Meu quarto... 8hrs... Eu vou estar lá.
-O que te faz pensar que eu estarei também?
-Eu te conheço, Bella!
-Até parece!
-Quer apostar uma grana?
-Você não tem nada melhor pra fazer?
-Estou investindo para eliminar o possível tédio que posso vir a ter no futuro próximo, Bella.
-Me deixa fora disso, então. – Ela saiu da cozinha. Poxa Bella, quer dizer que dava até pra tirar uns galeões da jogada?

Nojento. Cretino. Atrevido. Descarado. Estúpido. Asqueroso. Ridículo. Patético. Como eu detesto você, Sirius Black!
Nem pensar que eu iria chegar perto do quarto daquele pervertido hoje a noite, nem pensar! Tá... Tudo bem, ele foi bem... Bom, não seria de todo mal... Quer dizer, o que eu tenho a perder?
Bellatrix Black! Pare já com isso! É do Sirius que estamos falando, não se esqueça! Cara infeliz... Ele sabia que eu não ia conseguir tirar ele da minha cabeça, por isso ele falou daquele jeito... Que jeito mais fofo...
Ok, ok. Isso não importa. Isso não importa... Bella! Isso não importa!


Bem que eu queria que ela aparecesse... Queria mesmo. Acho que eu nunca estive tão preocupado em saber se uma guria iria me encontrar ou não... Bom, pode ser porque eu nunca tive dúvida sobre se uma guria gostaria de me encontrar ou não, mas... Isso não vem ao caso, não é mesmo?
O fato é que... Eu fiquei que nem uma criança no natal esperando a noite chegar, e quando eram sete e meia da noite, eu sabia que minha mãe estava de saída, de preferência com Andy e Cissy. Como planejado... Elas vieram a minha porta e disseram que estavam saindo para encontrar os Malfoy, minha mãe... Minha tia... E Narcisa. Ainda não tinha me livrado de Andy, por mais terrível que isso poderia soar.
-Oi, Andy. – Disse eu, descendo para falar com minha prima na sala.
-Ah! Sirius, é você. Olá!
-Elas já foram?
-Quem?
-Mãe, tia, Cissy... – Fiz como se terminasse a frase, mas poderia parecer suspeito, se Andy fosse muito esperta, então tratei de organizar melhor. – e Bellatrix...
-Bella está no quarto dela. Não sei por que ela não foi. Mas mamãe, Úrsula e Narcisa foram sim.
-Pretende passar a noite em casa?
-Eu? Eu não! – Ela sorriu DESCARADAMENTE. – E você?
-Não sei... Que bom que tem planos, o que vai fazer?
-Bom... Eu vou sair com o Tonks...
-Tonks?! – Nossa! Tonks?! Não sabia dessa, Andy. – Ainda está com ele?
-Claro! Você acha que a opinião de minha mãe e de minha irmã realmente importa?
-Que bom. Fico feliz por vocês.
-Verdade?
-Não... Não existe ninguém tão fantástico quanto eu, Andy, lamente por ter nascido minha prima. – Ela riu.
-Bom... Eu, na verdade, já estava de saída... Portanto... Boa noite, priminho. Tomara que arranje algo para fazer – Ela piscou e saiu. Ok...
Perfeito.

Lá estava eu, em meu quarto, mas uma vez tentando pensar em qualquer coisa que não tivesse a ver com Sirius Black. Vejamos... Biscoito! Biscoito não tem nada a ver com Sirius Black... Bom, biscoitos são gostosos... Ok, tem alguma coisa a ver com Sirius Black. Vejamos, então... Tibet... Não tem nada a ver com Sirius Black! Ele nunca esteve no Tibet!
Percebi que ao me concentrar em não pensar nele, tudo sobre o que eu pensava era sobre não pensar nele, logo... Sobre ele.
Quando faltavam quinze minutos para as oito (Não! Eu não estava contando!) um som insuportável não hesitou em atravessar as portas e paredes do meu quarto. Não demorei a perceber que era uma certa música de péssima qualidade que acabou com a minha concentração para conseguir não pensar em Sirius.
A música continuou! Era terrível. Não dava muito mais para agüentar... Não sei se eu levantei e resolvi bater naquela porta por causa da música ou se só estava usando a música como desculpa para ir bater naquela porta.
Não demorei a perceber que não deveria ter mais ninguém em casa, já que, fora aquele som insuportável, não se ouvia vivalma no andar de baixo.


-Que porcaria é essa?! – Sabia! Sabia que ela viria!
-Música, nunca ouviu falar? – Disse eu.
-Respeito a quem está tentando dormir, nunca ouviu falar? – Disse ela.
-Até parece que você estava dormindo às... Ops... Oito horas... Quanta pontualidade priminha. – Ela me empurrou, entrou no meu quarto e desligou a minha vitrola.
-Só vim aqui para desligar esse barulho infeliz.

Ele fechou a porta. Não se atreva Sirius Black!

Ela veio em minha direção quando fechei a porta, parecendo irritada. Que divertido.

Ele tinha um sorriso típico no rosto.

-Deixa-me sair, Sirius! – Disse ela.

-Você não quer sair. – Disse ele.

-Não posso ter tudo que eu quero... – Bella respondeu.

Então finalmente eu conseguira a fazer admitir que ela não queria sair. Não que já não estivesse óbvio, mas...

-Sirius Black, saia da frente agora. – Disse eu.
-Bellatrix Black, tira-me daqui se for capaz. – Aquele indivíduo já estava começando a me irritar.


Ela chegou mais perto, perto o suficiente para que eu pudesse fazer o que quisesse fazer... Para fazer o que eu queria fazer.
Bella sabia então... O que pretendia em distancia tão perigosa?

Não era difícil prever tudo que se passava pela cabeça de Sirius, nenhum pouco difícil. Ele era totalmente transparente quando não tomava mínimo cuidado e eu sei que ele sabia disso.
Se sabia mesmo... Como deixava acontecer?


Ela chegava mais perto. Eu não me dei o trabalho de me mexer. Seu rosto agora estava impressionantemente perto do meu e, ouso dizer, eu não fazia idéia do que fazer.
Ela passou a mão pelo meu rosto e suspirou.

-O que eu to fazendo aqui, Sirius? – Eu disse, sem me mexer nenhum pouco.
-Diga-me você, Bella. – Ele disse, aproximando-se, se é que era possível, mais de mim.


-Eu vim diminuir o som Sirius. – Ela disse, sorrindo “inocentemente”, não que a palavra “inocente” combinasse minimamente com Bellatrix.
-O som já está desligado, Bella. – Eu disse.

-Adoraria ir embora, pode me dar licença? – Disse eu.
-Tá confortável aqui, não quero sair não. – Disse ele.


-Sirius, deixa de ser criança, me deixa sair agora!
-Eu que to sendo criança, Bella? – Disse eu. Dei um passo para o lado, saindo de perto dela e da frente da porta.

Ele se mexeu. Ele se mexeu? Sirius tinha cedido muito rápido. Rápido demais. Alguma coisa estava errada, eu fiquei no mesmo lugar.
-E agora, Bella? – Ele disse. – Que desculpa você tem agora?


Bellatrix não se mexeu. Eu me mexi. Aproximei-me, ela ainda imóvel, completamente imóvel.
-Eu não preciso de nenhuma desculpa para estar aqui, se estou ou não é problema meu e o motivo também, Sirius.

-Foi você quem entrou dando desculpas, eu nunca pedi por uma. – Disse ele.
-Com licença... – Disse eu, saindo de perto dele e indo abrir a porta.


-Tão cedo, Bella? – Disse eu, apoiando-me na parede, mantendo aquela mesma distância de Bellatrix.
-Perto de você, nunca é cedo, Sirius. – Disse ela, virando a maçaneta.

-Quer dizer que já sabe que já é tarde demais para começar a ignorar o que eu sei que você já sente por mim? – Disse ele. Mas que bobagem, Sirius. Eu não sentia absolutamente nada por ele.
-E o que vem a ser aquilo que eu devia saber que sentia por você? – Ele desistiu de manter a tal distância segura e foi bruscamente na minha direção.


-Você só não sabe o que é porque você nunca sentiu antes por mais ninguém, Bellinha. Só por mim. – Disse eu, pondo, ligeiramente, minha mão esquerda atrás do pescoço de minha prima.
-Tudo que eu sinto por você é desprezo, Sirius.

Eu senti aquele arrepio que, desde que vira Sirius no dia em que cheguei, já se tornara muito familiar.

Estrategicamente, me aproximei o máximo que pude, e minha mão direita repousou na cintura de minha prima.

-Deixa eu sair, Sirius.

¬-Eu não estou fazendo nada.

-Mas se continuar assim vai me levar a fazer algo de que vou me arrepender muito depois.

-Você, definitivamente, não parece a mim o tipo que se arrepende de alguma coisa, Bella.

Aquele ambiente, aquela antecipação, aquela atmosfera já estavam me irritando profundamente.
-Sirius, faça um favor, se tem algo que queira dizer, ou fazer, o que eu suspeito que tenha, faça de uma vez antes que eu realmente mude de idéia.


Bellatrix me pegou mesmo de surpresa. Em uma fração de segundo senti suas mãos em minha nuca e seus lábios nos meus. Aquilo tinha, com certeza, me pegado de surpresa... Bella não parecia mostrar nenhum sinal de se separar de mim, não tinha nenhum problema com isso.

Sirius correspondeu com uma voracidade atroz. A nossa diferença de altura era mais óbvia do que nunca, conforme ele passava a mão pelas minhas costas e quase me pegava no colo... Não demorou muito para que ele tivesse a infeliz idéia e me empurrasse contra a parede do outro lado... Tudo bem, não foi infeliz ao ponto de eu não deixar ele o fazer, ou de tentar impedi-lo.

As mãos de Bella não soltavam de meu pescoço e empurravam-me cada vez mais para perto dela...

Sirius me puxava para mais perto dela cada vez mais, mesmo quando era impossível ficar mais perto do que estávamos.

-Você é tão melhor sóbrio... – Disse ela quando sua boca finalmente ficou livre de mim.

-Adoraria te ver bêbada pra ter uma opinião também. – Disse ele quando livrou minha boca da dele, o que não durou muito.

-É um convite? – disse ela.
-Uma exigência, Bella. – Disse eu, entrelaçando-me com minha prima mais uma vez.

-Então eu acho que não vou ter muita escolha, não é mesmo? – Disse eu.
-Você nunca teve. – Disse ele, tirando do nada, misteriosamente, uma garrafa de um excelente vinho francês, que suspeito que roubara da ótima adega de minha tia.

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