Planos infalíveis



Capítulo 27 - Planos infalíveis


Finalmente as férias do natal tinham acabado. Estavam todos de volta a Hogwarts. Quando Lílian penetrou no salão, Hades já estava em pé, esperando por ela. os dois se cumprimentaram e ela sentou-se diante dele, pronta para mais uma lição.

- Onde está seu amigo? - soou a voz cavernosa do dragão - Porque ele nunca mais veio?

Lílian abaixou a cabeça. Desde que começara a namorar Tiago, nunca mais o levara em suas vistas noturnas a Hades, com a desculpa de que a presença dele atrapalharia sua concentração. E agora, depois de ter passado as férias tentando fugir dele, tentando ser indiferente aos seus carinhos... Tinha tanto medo de ficar sozinha com o rapaz que aumentara absurdamente sua magia para impedir que qualquer um a seguisse e temia que essa "explosão" chamasse a atenção de alguém. Tinha tanto trabalho para esconder os poderes que aprendera a usar naquela sala, e por causa de Tiago, como sempre, lá estava ela a fazer uma besteira.

- Você está triste, minha jovem. O que está acontecendo?

- Como pode saber que estou triste? - ela perguntou, tentando mudar de assunto.

A face do dragão se contorceu no que parecia ser um sorriso.

- Isso é parte da lição de hoje. Eu consigo ler a sua aura, por isso sei como se sente. Você provavelmente já desenvolveu esse dom, mas ele ainda não está refinado o suficiente. Acredito que isso passe despercebido, ou você credite à familiaridade que tem com essas auras.

- Você está querendo dizer que não sou só eu que tenho uma aura?

- Claro que não! Todos, até mesmo os trouxas, têm uma aura. Mas a maioria não consegue manifestá-la, como você faz com a sua. Essa é outra das características dos Antigos Magos, por isso eles também eram chamados de elementais. Cada pessoa tem afinidade com um elemento ou com mais de um, isso é regido pelo comportamento dela. A aura depende do elemento predominante de cada um.

- E qual é o meu elemento? - ela voltou a perguntar.

- Como Helena, você não tem um elemento definido, é uma mistura de vários deles.

Lílian assentiu.

- E você disse que eu consigo ler auras familiares, mas eu não me lembro de...

- Como eu disse, você não deve ter notado. Nunca aconteceu de você saber exatamente que alguém se aproximou de você sem, no entanto, vê-la?

- Agora que você disse, eu sempre ganhava quando brincávamos de esconde-esconde porque sabia onde estava todo mundo sem nem mesmo procurar. Petúnia só faltava me matar... É como se eu fosse um "radar mágico" então.

- Mais ou menos. - o dragão respondeu - Mas você me fez dar toda a lição de hoje para fugir ao assunto.

- Que assunto? - a ruiva perguntou inocentemente.

- Porque está triste? Continua tendo visões?

- Eu não me lembro da maioria dos meus sonhos, mas em geral eles estão repletos de sangue e dor. Mas não é por isso que estou assim.

- Então o que é?

- Tiago.

O dragão suspirou.

- Você o ama. Sei disse desde que me apareceram aqui pela primeira vez. Então, qual é o problema?

- Eu não sei se é recíproco. Tenho medo de ser só uma diversão nas mãos dele.

- Você não é. - o dragão disse sinceramente - Mas se tem tantas dúvidas, deveria conversar com ele. Tire uma folga pelo resto da semana, descanse um pouco. Voltamos a nos ver na segunda.

Ela assentiu, levantando-se, mas antes que começasse a subir as escadas que a levavam de volta ao corredor da passagem para Hogwarts, voltou-se para o dragão.

- Como você consegue ter noção do tempo ficando aqui embaixo e tendo dormido durante tanto tempo?

- Minha mente está, de certa forma, conectada com a sua. Digamos que eu veja o mundo através dos seus olhos.

- Mas como?

O dragão respirou fundo.

- Helena me fez sentinela dela. Por isso vivi tanto tempo. Acho que já disse uma vez que ela me comprou à morte. Isso significa que eu seria um companheiro eterno, protegendo-a e, com isso, dividindo parte dos encargos dela. A ligação que eu tinha com ela subsiste com você até que arranjes seu próprio sentinela. É algo complicado de se explicar.

- Hum... certo. Então, até segunda, Hades.

- Até, Lílian.

*****

Susan observou com pesar a ruiva, que lia mais um livro de uma enorme pilha ao lado da cama.

- Lílian, o que deu em você dessa vez? Desde que chegou das férias só sai desse dormitório para as aulas, não fala com ninguém... O Tiago está ficando desesperado.

- Falta três meses para os N.I.E.Ms. Eu tenho que estudar. Ele vai entender.

A morena começou a perder a cabeça.

- Tudo bem que você é um "gênio", Lily, mas eu não acho que você seja capaz de ler de cabeça para baixo. E, mesmo que fosse, você já sabe esses livros de cor! Você está fugindo. Está torcendo para que passem os exames e você possa sair da escola e nunca mais olhar para a cara do Tiago. O que aconteceu afinal?

- Não aconteceu nada, Susan! Você é que está ficando paranóica.

- Certo, se não quer me contar, não conte, fique aí com seu orgulho, sua cabeça dura. Mas você devia decidir de uma vez o que quer com o Tiago. Tem muita garota jogando charme para cima dele agora que você não está por perto. Uma hora, ele vai acabar desistindo de esperar você.

Lílian fechou o livro.

- Se ele desistir, vai provar que nunca realmente gostou de mim. - ela respondeu tristemente.

- Isso é egoísmo, sabia? Quer que ele espere você a vida inteira, mesmo que o trate com toda a indiferença? Eu sei que aconteceu alguma coisa e você está fazendo um drama à toa. Você devia conversar com ele. E depois, bem, faça o que bem entender da vida, eu não vou me intrometer mais.

Susan saiu do dormitório, deixando a ruiva pensativa. Na sala comunal, Tiago a esperava ansioso.

- E então? - ele perguntou.

- O que foi que você fez nas férias para deixar ela tão ressabiada?

- Eu não fiz nada de errado, eu juro!

Sirius aproximou-se, batendo nas costas do amigo.

- Eu acho que sei porque ela está assim. A Lily está com medo que você descarte ela ou algo do tipo agora que conseguiu o que queria.

- O que você conseguiu, Tiago? - Susan perguntou, temendo a resposta que viria.

O garoto suspirou derrotado.

- Nós dormimos juntos.

- Está explicado. - Susan cruzou os braços - Com a sua fama anterior, Tiago, não é à toa que a Lílian está assim.

- Mas eu nunca ia descartar ela, droga! O que ela tem na cabeça? Purê?

- Seja como for, Tiago, você tem que conversar com ela. Não sei como, já que ela está fugindo de você como se a vida dela dependesse disso. Todos sabemos que você realmente gosta dela, mas você vai ter que dar um jeito de fazer isso entrar na cabeça daquela teimosa.

- Eu vou arranjar um jeito. - o moreno afirmou, olhando para a porta que o separava da ruiva - Se aquela poção não tivesse acabado, eu já tinha arrombado aquele quarto há muito tempo.

- Vocês não podem fazer mais? - Susan perguntou.

- Leva quase dois meses para maturar. - Sirius respondeu - Não temos tempo. Além disso, não acho que o Pontas suporte tanto. Do jeito que estamos indo, vamos ter que interná-lo no St. Mungus.

- A Lílian tem mesmo um certo dom para enlouquecer as pessoas que estão ao seu redor. - Susan observou - Bem, é melhor irmos para o almoço.

- Eu podia esperar ela descer para comer alguma coisa. - Tiago disse esperançoso - ela vai ter que descer um dia ou vai morrer de fome.

- Tem um elfo que traz comida para ela. Se ficar, vai ser em vão. - Susan informou.

Com mais um suspiro inconformado, Tiago seguiu Sirius e Susan para fora do salão comunal. Almoçaram e depois seguiram para as aulas, de onde Lílian entrou e saiu acompanhada dos professores, não dando chance alguma ao namorado. Se é que com toda aquela confusão eles ainda eram namorados...

A tarde se passou sem novidades e, quando a última aula do dia acabou, Pedro se despediu por ter algo muito importante a fazer (e nos últimos tempos ele sempre tinha algo importante a fazer), e, quando todos os alunos saíram da sala de transfiguração, sobraram apenas Tiago, lentamente arrumando seu material, Sirius e Remo, que discutiam sobre a situação.

- Eles precisam de um lugar onde não sejam incomodados, aconchegante, que não possa ser acessado por mais ninguém. Isso descarta todas as salas de aula e dormitórios, exceto por um. - Remo observou - Embora a Lílian durma com as outras garotas na nossa torre, ela tem um dormitório em separado, já que é monitora-chefe.

Finalmente Tiago acabou de arrumar a mochila e seguiu com os amigos para o corredor praticamente vazio.

- Digamos que eu conseguisse arrastar a Lily para uma conversa, como eu abriria o dormitório dela? Com certeza tem uma senha.

- Isso é um ponto a se considerar. - Sirius observou tristemente.

- Eu sei como fazer. - uma voz feminina soou atrás deles.

Os três marotos se viraram e Sirius surpreendeu-se ao reconhecer a garota que estava parada diante deles.

- Quem é você? - Remo foi quem perguntou.

- Hestia Jones, sexto ano, Corvinal.

- Colega da Dearborn. - Tiago completou, olhando para Sirius.

A garota assentiu, aproximando-se.

- Há uma maneira de fazer a sua Lílian abrir o dormitório dela.

- Como?! - Tiago perguntou ansioso.

- Ela é sonâmbula, não é?

- Era. - Remo respondeu - Eu estava na enfermaria antes das férias, quando ela foi se consultar com Madame Pomfrey. As crises acabaram.

- Problemas com a lua, não, Lupin? - a garota sorriu simpática.

- Do que está falando? - o garoto perguntou, receoso.

- Bem, isso torna a questão um pouco mais difícil. - a garota continuou, sem prestar atenção na surpresa dos garotos - Ela vai precisar beber uma poção do sono. Precisamos dela profundamente adormecida.

- Isso não é problema. - Sirius disse - Nós falamos com a Susan.

- Isso está parecendo um complô... - Remo observou.

- E depois que ela estiver dormindo? - Tiago perguntou - Eu ainda não vi no que isso pode ajudar.

- Precisarão entrar no sonho dela e "sugerir" que ela abra o dormitório.

Sirius aproximou-se, batendo de leve na cabeça dela.

- Alô, tem alguém aí? Hestia, como quer que a gente entre no sonho da Lily?

- Telepatia. - ela respondeu simplesmente.

- Com o perdão da palavra, mas acho que você perdeu o juízo. - Remo disse - Onde vamos arranjar um telepata? É uma raridade encontrar um.

- Aqui mesmo em Hogwarts. Existe muita gente na escola escondendo dons raros. - Hetia respondeu - Como sua amiga e Hades.

Remo não entendeu nada, mas Tiago e Sirius empalideceram.

- Vocês sabem do que ela está falando? - Remo perguntou, notando a reação dos amigos.

- Mais tarde, Aluado. - Sirius voltou-se para ela - Não é muito educado ler o pensamentos dos outros, sabia?

Hestia sorriu.

- Não sou eu a telepata. É Marlene. E ela não teve culpa. Ela é muito sensível ao tipo de "invasão mental" que ocorreu com sua amiga. Mas não se preocupe. Ela não vai dizer nada. Mas, e aí, estamos combinados?

Tiago assentiu, aliviado.

- Eu serei eternamente grato a você, Jones.

- Pode me chamar de Hestia. - ela respondeu - E não precisa agradecer. Eu conheci a Lílian no trem ano passado e simpatizei muito com ela. Não gosto de vê-la tão sombria, como nos últimos tempos. Por isso decidi ajudar, e sei que para isso é preciso que vocês se acertem.

- E ele não vai nos decepcionar, não é, Pontas?

- Pode ter certeza que não, Almofadinhas.

- Bem, então vou combinar tudo com a Marlene. Digam depois onde podemos nos encontrar. Até mais tarde! - Hestia despediu-se, sumindo no corredor.

- Então, agora vocês podem me explicar que história é essa de Hades? - Remo voltou a se declarar.

Os dois amigos se entreolharam.

- Vamos para a torre. - Tiago respondeu - Essa vai ser uma loooonga história...

*****

Susan e Selene caminhavam calmamente pelo corredor. Tinham acabdo de jantar e agora voltavam para a torre. Ou, pelo menos, era o que pretendiam, até Sirius e Remo aparecerem do nada diante delas.

- Susan, nós precisamos da sua ajuda. - o moreno disse antes que as garotas pudessem gritar.

- O que quer que eu faça agora? - ela respondeu um tanto ressabiada, olhando para Selene.

Remo tirou das vestes um pequeno frasquinho e colocou na mão da garota.

- Você tem que fazer a Lílian beber isso. - o monitor disse - É uma poção do sono. Para ajudar Tiago.

As duas garotas estavam surpresas.

- E o que o Tiago vai fazer enquanto a Lily estiver dopada? Dar uma de Princípe da Bela Adormecida? - Susan perguntou, levemente nervosa.

- Vocês têm um plano, não é? - Selene interrompeu a amiga, tirando das mãos dela o frasquinho - A Lily sempre bebe água antes de dormir. Eu vou colocar isso no copo dela.

- Acho bom valer à pena, garotos, ou juro que vou fazer picadinho de vocês. - Susan completou.

- Senhorita Trimble e senhorita Timms. Venham comigo, por favor.

A voz severa da professora McGonagall soou atrás do grupo e as duas garotas viraram-se para ela, assustadas. Não tinham feito nada de errado! A não ser que ela tivesse escutado a conversa que estavam mantendo. Mas porque não chamara também os garotos? Sirius, que parecia ter o mesmo pensamento que elas, deu um passo à frente.

- Professora, o que quer que elas tenham feito errado, nós fizemos pior. Então temos que ir também.

Minerva olhou para o aluno, séria, lutando contra um tênue sorriso que insistia em escapar de seus lábios.

- Elas não fizeram nada de errado, senhor Black. Agora, meninas será que podem me acompanhar?

Sem escolha, as duas se despediram dos marotos, desaparecendo no corredor com a velha professora. Sirius e Remo assistiram em silêncio elas se distanciarem e seguiram pelas escadas. Tiago estava esperando por eles.

*****

Passava da meia-noite. Todas dormiam profundamente no dormitório grifinório, exceto por Susan que, encostada à cabeceira, observava Lílian.

- Porque está demorando tanto? O que quer que eles queriam que acontecesse já devia ter acontecido. Não vejo no quê uma poção do sono pode ajudar a Lily a escutar o Tiago. - ela sussurrou para si mesma.

Como se para responder as dúvidas da morena, Lílian sentou-se na cama. Embora tivesse os olhos abertos, Susan sabia que a amiga ainda dormia. A ruiva levantou-se, vestindo um robe fino e saiu do dormitório silenciosamente. Sem pensar duas vezes, Susan também jogou um robe sobre o pijama e seguiu a amiga. Elas saíram da torre e atravessaram os corredores escuros e silenciosos até chegarem à porta da monitoria, que estava entreaberta. Lílian entrou e Susan imediatamente a seguiu.

Lá dentro Remo, Tiago, Sirius e três garotas, que ela só conhecia de vista, esperavam. Camille e Hestia sorriram para ela, mas Marlene tinha os olhos fechados em completa concentração.

- O que está fazendo aqui, Susan? - Sirius perguntou à meia-voz mexendo num enorme bigode grisalho (provavelmente cortesia de Camille) quando ela se aproximou.

- Eu segui a Lílian. Tive medo que ela tivesse problemas, mas não encontramos ninguém no caminho. - ela respondeu no mesmo tom.

Lílian seguiu até o armário em que os relatórios dos monitores costumavam ser guardados.

- Capixingui. - ela sussurrou.

O armário desapareceu, revelando uma longa escadaria. Tiago despediu-se dos amigos, seguindo para a passagem por onde Lílian já desaparecera. Logo em seguida o armário voltou ao lugar. Os cinco saíram da sala dos monitores, deixando as três corvinais diante da torre delas antes de seguir para seus próprios dormitórios.

- vocês acham que vai dar certo? - Susan perguntou assim que chegaram na sala comunal, àquela hora completamente deserto.

- Só vamos saber amanhã. - Remo respondeu, cansado, enquanto subia as escadas para seu dormitório - Boa noite.

- Boa noite. - responderam Sirius e Susan.

Os dois ficaram sozinhos diante da lareira, em silêncio, até Susan decidir quebrá-lo.

- E como vai você e a Camille? Falta três meses para acabarmos Hogwarts e vocês ainda não se acertaram.

- Eu vou dar um jeito. - Sirius respondeu sorrindo - Muito em breve Camille Dearborn estará em meus braços.

A garota riu.

- Como pode ter tanta certeza disso?

- Su, convenhamos, eu sou irresistível. Você não concorda comigo?

- Bem, eu tenho que concordar, visto os resultados que você sempre consegue com a população feminina da escola. Mas com a Dearborn é diferente, você age como uma lesma com ela. Já pensu na possibilidade de alguém ser mais rápido que você? Além disso, se algum dia conseguir ficar com ela, vai ter os mesmos problemas que Tiago. Bem dizia minha Nona: "faça a fama e role na cama".

Sirius riu, mas em seguida ficou pensativo, enquanto a garota levantava-se.

- Bem, se alguém for mais rápido, eu estuporo ele.

Foi a vez da garota rir.

- Isso não é muito justo.

- A vida não é justa. - ele respondeu tristemente.

Susan aproximou-se, beijando a bochecha dele de leve.

- Então, fique aí filosofando que eu vou ir dormir. Boa noite.

- Boa noite, Susan.

*****

Lílian entreabriu os olhos devagarinho. Estava num quarto grande, suntuoso, que ela logo reconheceu como o quarto de monitora-chefe. mas o que estava fazendo ali? Sem se mexer, ela percorreu o quarto com os olhos. Estava tudo na penumbra graças a luz da lua que invadia o quarto através da porta envidraçada de uma pequena sacada. Ela voltou a fechar os olhos e nesse momento sentiu que não estava sozinha no quarto. Sentando-se na cama, ela virou-se para a porta, onde uma sombra se apoiava. Tiago.

- O que está acontecendo aqui? - ela perguntou, visivelmente irritada.

- Olá, Lily. - ele disse com um sorriso, aproximando-se e se sentando na cama, à frente dela.

- Tiago, o que está aprontando dessa vez? - ela perguntou nervosa.

- Eu não estou aprontando nada. Só trouxe você aqui para poder entender o que está acontecendo entre nós dois.

- Não há nada acontecendo entre nós dois. - ela respondeu, encostando-se à cabeceira da cama, levemente emburrada.

- Então você há de convir comigo que isso é estranho. - ele continuou sério - Até pouco tempo atrás éramos namorados e de repente você simplesmente se afasta sem dar uma explicação sequer. Considerando o que tivemos na noite de natal, acho que eu merecia um pouquinho mais de consideração.

Ela respirou fundo e começou a falar sem olhar nos olhos dele.

- Tiago, fazia exatamente um mês e vinte e cinco dias que tínhamos começado a ficar juntos. Depois de tanto brigar e correr de você, eu tive medo... tive medo de que você achasse que tinha sido fácil demais.

- Lily, eu poderia usar muitos adjetivos para qualificar você, mas "fácil" certamente não está na minha lista. Ao contrário, eu não conheço ninguém mais difícil que você!

Ela ergueu a cabeça, corada.

- Mais um motivo para acab...

Ela não chegou a dizer o que acabariam pois Tiago a interrompeu com um beijo, só se afastando quando começou a sufocar sem ar.

- Eu não vou deixar você fazer isso. Primeiro porque eu sei que você não suportaria viver sem mim.

- Você é, definitivamente, a pessoa mais arrogante que eu conheci, conheço e vou conhecer. - ela respondeu, olhando para ele de braços cruzados.

- Segundo porque se alguém tem culpa no que aconteceu àquela noite, essa culpa é minha, já que não foi você quem começou a tirar minha roupa.

- Grande consolo, sem dúvida alguma... - ela continuou, corada e emburrada.

- Terceiro, porque finalmente você está começando a agir menos com essa cabeça dura e mais com o que realmente sente.

- Hades vai dar pulinhos de alegria quando souber que consegui afinal perder a razão. - ela retrucou sarcástica.

- Quarto e mais importante. - Tiago continuou, sem se abalar com os comentários ácidos dela - Porque eu te amo.

Lílian abriu a boca como se fosse retrucar, mas não conseguiu. Era como se todas as dúvidas com as quais tinha se martirizado nas últimas semanas tivessem se tornado ridiculamente mesquinhas. Que estranho poder era aquele que Tiago exercia sobre ela?

Enquanto isso, o rapaz observava o olhar dela, que oscilava entre o choque e a ternura. lentamente, a ruiva se ajoelhou na cama, aproximando-se dele para, em seguida, particamente se jogar nos braços do rapaz.

- Me desculpa, Tiago. Por favor, me desculpa. - ela disse num soluço - Eu sou uma teimosa, fiquei inventando hipóteses absurdas sobre você... Por favor, me desculpa...

Ele sorriu, fazendo cafuné no alto da cabeça dela, enquanto a beijava na testa.

- Você nunca vai precisar que eu a perdoe. Eu amo você demais, Lily.

Ela o abraçou mais forte, erguendo a cabeça, encontrando os lábios dele. Lentamente, Tiago se inclinou sobre o corpo da namorada, fazendo-a se deitar na cama.

*****

Tiago acordou com um raio de sol a brincar sobre o seu rosto. Ele espreguiçou-se preguiçosamente, colcando os óculos após perceber que o lugar ao seu lado estava vazio, notando após uma cuidadosa observação do quarto que as cortinas da sacada ondulavam sernamente. Ele se sentou na cama, vestindo-se para, em seguida, caminhar até as portas envidraçadas. Lílian estava sentada na pequena amurada, o robe entreaberto mexendo-se com a brisa suave da manhã de primavera.

- Bom dia, Lily.

Ela virou-se para ele, dando um sorriso terno.

- Bom dia, Tiago.

Ele aproximou-se, envolvendo a cintura dela com os braços, sentindo o cheiro suave de lavanda que se desprendia do corpo da ruiva. Ela descansou a cabeça no peito dele, ouvindo as batidas leves do coração do rapaz. Tiago sorriu, começando a brincar com o cabelo dela.

- Falta três meses para deixarmos Hogwarts. - ela observou depois de alguns minutos de silêncio - O que vamos fazer depois que sairmos daqui?

- Eu vou ser Auror e você curandeira, como viemos planejando desde o resultado dos N.O.Ms., vamos ficar juntos, ter um time de quadribol de filhos...

Ela riu.

- Um time de quadribol? Você acha que eu tenho cara de quê, Tiago? - ela levantou a cabeça, encontrando os olhos dele - Quando a escola acabar, eu vou ter que voltar para casa, ficar com Petúnia... E acho que ela não vai gostar muito de receber visitas suas.

- Você não precisa ir para a casa de sua irmã. - ele respondeu sério - Pode ficar comigo. Pode casar comigo.

Ela o olhou surpresa. Ele não estava brincando, podia perceber pelo semblante dele.

- Tiago, somos muito novos para casar.

- Lily, seu maior defeito é pensar demais. - ele sorriu - Sem casamento então, pelo menos por enquanto. Mas se você for morar com a sua irmã, eu vou junto, nem que tenha que viver debaixo da capa de invisibilidade.

Foi a vez da ruiva sorrir, levantando-se, sem que ele a soltasse.

- Eu vou pensar no caso. Agora, que tal irmos tomar café?

- Mas, Lily, é muito cedo, além disso, é domingo! Será que não podemos aproveitar o quarto de monitora-chefe mais um pouco? - ele perguntou com um olhar malicioso.

- Sinto muito, Ti, mas eu vou estar muito ocupada agora de manhã. Vou fazer uma mudança, sabe? - ela piscou o olho - Tenho que pegar minhas coisas no dormitório lá da torre para poder me mudar para esse quarto aqui. Será que você não quer ir fazer suas malas também?

- Hum... Essa é uma proposta muito tentadora, senhorita Evans. - ele respondeu com um sorriso - Você tem razão, é melhor irmos tomar café logo, hoje vai ser um dia cheio...

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